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Outra observação sobre um certo atraso, outra justificativa para a publicação
deste livro: quem já ouviu falar de Lingüística (isso se vê na imprensa e às
vezes em departamentos avançados) supõe que ela se resume à arbitrariedade
do signo, às relações paradigmáticas e sintagmáticas (quando a coisa é
sofisticada, menciona-se outra dupla saussuriana, sincronia e diacronia).
Freqüentemente, as introduções à Lingüística - disciplina obrigatória nos
cursos de Letras - não ultrapassam essa leitura mais ou menos festiva de
Saussure, feita em algum manual, ou em apostila, que ninguém é de ferro.
Assim, este livro se justifica plenamente, e por uma só razão, [...]: sua
capacidade de produzir uma certa ruptura.” (POSSENTI, 2001, p.12.).
Em 2002, um ano após a Introdução à Lingüística: domínios de fronteiras,
vol.1, vem à lume o livro de divulgação científica, Introdução à Lingüística I, objetos
teóricos. Nessa obra, Fiorin parece dialogar com Possenti quando faz uma alusão velada
ao Estruturalismo saussuriano ao afirmar que: “ (...) Muitas vezes deixam-se de lado as
críticas feitas, ao longo da história da Lingüística, a determinadas concepções, pois o
curso de Introdução quer, antes de mais nada, que o aluno adquira uma visão de
conjunto dos modos como a ciência da linguagem trata o fenômeno lingüístico.”
(FIORIN, 2002, p.8). No segundo tomo dessa mesma obra, publicado em 2003, Fiorin é
mais explícito em seu posicionamento :
Não se adere ao discurso científico pela fé, mas pelo conhecimento. Como a
ciência não chega à verdade, progride sempre, é sempre mutável. Ao afirmar
que muitas vezes se tem uma concepção religiosa de ciência, estamos
dizendo que há freqüentemente uma mitificação, que não deixa de ser uma
mistificação, de certas teorias, levando a crer que elas são a verdade,
enquanto outras são o erro, e, por isso, merecem ser anatemizadas. Criticam-
se teorias por elas não explicarem o que não pretendem explicar. Ora,
batemo-nos fortemente contra isso, é preciso que o aluno saiba que a
contradição é inerente ao fazer científico. (FIORIN, 2003, p.8).
Ao que tudo indica, Fiorin pertence ao primeiro grupo - que reconhece a
importância de Saussure - e Possenti, para quem os postulados saussurianos estão
totalmente ultrapassados, ao segundo. Enquanto os integrantes do primeiro grupo
erguem muralhas separando o lingüista genebrino de seus contemporâneos e de seus
antecessores, os do segundo não cogitam a existência de pontos em comum, construindo
a muralha um pouco mais à frente, separando Saussure de seus sucessores. Tanto num
caso como no outro ocorrem grandes perdas.
Tal qual as demais ciências, a Lingüística caracterizou-se por levantar fronteiras,
pois houve uma especialização extrema, na medida em que cada disciplina, corrente ou
abordagem se fecha em si mesma.
Diante dessa situação, concordamos com Morin (2001) quando questiona a super