
Uma das duas primeiras escritoras francesas de
nosso século, Mme. de Staël,
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atribui à facilidade do
divórcio entre os alemães a introdução, nas famílias, de uma
sorte de anarquia que nada deixa subsistir em sua verdade
nem em sua força.
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A ilustre escritora, a cujo talento rendemos sempre a
mais profunda homenagem, escrevendo essas linhas abstraiu
sem dúvida da anarquia de outra espécie, e até certo ponto
muito mais perigosa, que lavra pelo centro das famílias de
sua nação, a despeito da doutrina dos grandes pensadores,
Montesquieu, Rousseau, Voltaire e Diderot, combatida
depois pelos dois eminentes espíritos, Condorcet e Sieyès,
cujas vozes foram sufocadas pelos três fortes órgãos do
século XVIII, Mirabeau, Danton e Robespierre.
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Os alemães, baseando a sua felicidade doméstica na
moral esclarecida das mulheres, antes que em um jugo
imposto pela lei, as subtraem, em geral, ao conhecimento de
estratagemas que certas mulheres do Sul
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sabem com raro
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Germaine Necker, Baronesa Staël-Holstein, conhecida como Madame de Staël
(1776-1817) é tida como a introdutora do romantismo na França. A sua obra mais
citada, Sobre a Alemanha, foi publicada em 1810.
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No original, o parágrafo vem em itálico a partir de "uma sorte", sugerindo uma
citação, não literal, de Madame de Suël.
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Mencionados diversas vezes no Opúsculo, Montesquieu (1689-1755), Rousseau
(1712-1778), Voltaire (1694-1778), Diderot (1713-1784), Condorcet (1743-1794),
Sieyès (1748-1836), Mirabeau (1749-1791), Danton (1759-1794) e Robespierre (1758-
1794), se evidenciam, por um lado, a erudição de Nísia Floresta (exemplo pertinente,
aliás, como comprovação pessoal de sua tese sobre a igualdade intelectual entre os
dois sexos), mostram também, em muitos aspectos, a fonte do seu pensamento.
Sobretudo, todavia, são citados porque a lembrança dos enciclopedistas, liberais e
revolucionários franceses era uma provocação à prática social e política do tempo da
autora.
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Mulheres do Sul" e "homens do Sul": da França, contrapostos aos "do Norte": da
Alemanha.