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3.2 - O survey
A base de dados utilizada para identificação do perfil do “novo operariado” local
compõe informações empíricas obtidas através da realização de um survey
107
com
funcionários das empresas que compõem o “consórcio modular” da Volkswagen em Resende,
cujo objetivo era revelar suas concepções sobre as relações de trabalho, as relações com os
órgãos de representação e a vida fora da fábrica. O cruzamento dos dados de acordo com a
cor/raça
108
dos entrevistados possibilitará uma visão mais geral sobre a diversidade
socioeconômica, das relações trabalhistas e da participação política dos trabalhadores.
No perfil geral
109
, a identificação da cor/raça dos trabalhadores revelou maior
participação para os trabalhadores negros
110
(54%) no interior da fábrica; brancos constituem
36% dos trabalhadores, enquanto que indígenas e amarelos apenas 5%.
A maioria é bastante jovem, sendo 70% entre 20 e 34 anos de idade; tem ensino médio
completo ou está cursando; e, são trabalhadores sem experiência no setor industrial. Dado
interessante revelado é que 54% dos trabalhadores conseguiram emprego por indicação, sendo
107
O survey foi realizado em 2001 e constitui uma subseção da pesquisa “O Global e o Local: os impactos da
implantação do pólo automotivo do Sul Fluminense”, coordenada pelos professores José Ricardo Ramalho e
Marco Aurélio Santana, ambos do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da UFRJ. Foi
aplicado um questionário fechado com 70 perguntas divididas em três partes: dados socioeconômicos, sobre as
relações de trabalho, e, a participação político sindical dos trabalhadores a 10% do total de trabalhadores que
representava na época cerca de 900 operários das empresas que compunham o consórcio modular.
108
É importante sinalizar que a incorporação do fator cor/raça nesse survey demonstra, apenas por sua
introdução, uma mudança no padrão de estudos sobre as questões de trabalho, principalmente no setor industrial,
uma vez que a história contada pelos pesquisadores da formação do movimento sindical brasileiro, por considerar
as relações de classe o único fator que explica o problema das desigualdades no contexto sócio-econômico, tende
a omitir a participação do negro como sujeito do processo de organização dos trabalhadores durante a fase de
constituição da indústria no país. A crise contemporânea nos espaços de produção colocada pelo processo de
reestruturação produtiva constitui um dos principais elementos para a abertura do movimento operário, dos
sindicatos, a demandas que não se restringem somente à luta por melhores salários e condições de trabalho.
Segundo Santana (1998), antigas demandas agora estão sendo parcializadas na luta pela transformação social dos
sindicatos com novas questões que reconhecem a diversidade da classe trabalhadora, tais como cor/raça, gênero e
opção sexual Por outro lado,
Bento (1999) ressalta que
o crescimento da produção de dados estatísticos constatando as
desigualdades raciais em termos de discriminação salarial, segmentação racial no trabalho, taxas de desemprego,
imobilidade social, dentre outros indicadores, estimularam debates no âmbito do movimento sindical, bem como
levaram ao aparecimento de iniciativas institucionais para combater o problema. Para a autora,
a crise de valores e
legitimidade do sindicalismo
– mudanças ocorridas no mundo do trabalho -
proporcionaram a inclusão da discussão acerca da diversidade e dos
direitos humanos
abrindo
oportunidade para
a
institucionalização da luta anti-racista no setor
que
passou a compree
ndê-la
como parte indissociável da conquista
social e promoção da justiça.
109 O relatório final da pesquisa apresentou um perfil dos metalúrgicos dos trabalhadores do chão de fábrica das
oito empresas que formam o consórcio modular, não incluindo os gerentes.
110
A coleta do quesito cor/raça seguiu o procedimento utilizado pelo IBGE com perguntas fechadas em que o
entrevistado se identificava com apenas uma das cinco alternativas de cor/raça (branca, amarela, preta, parda e
indígena).