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Deus, através das cenas de Nosferatu (1922)
e Fausto (1926)
23
. Em
Nosferatu, Murnau passa por todos os aspectos das técnicas de luz do
Expressionismo, do claro/escuro à contra luz e à vida orgânica das
sombras.Assim, os filmes de Murnau retratam um mundo que remete à
dialética: entre o terror da vida orgânica das coisas e da vida sublime do
espírito humano.
Deleuze (idem: 85) analisa algumas técnicas de montagem que para
ele tem uma importância vital e que constituem as visões dos cineastas e a
maneira com que estes manejaram a construção de suas narrativas
24
. Para
Deleuze, as montagens vão além do caráter técnico, são elas que se
relacionam com o todo da narrativa, dão sentido ao tempo e espaço fílmico,
projetando na tela e passando ao espectador a impressão da realidade
objetiva. Dentro deste contexto, o cinema assume seu caráter de invenção
moderna, na medida em que as técnicas permitem a conjunção da realidade,
do movimento e da aparência das formas passando a ser a base objetiva
para a compreensão desta arte (METZ, 2002:35).
Colocando as técnicas como meio de construção narrativa de uma
história situada num tempo – espaço imaterial, a descoberta da montagem
paralela e do primeiro plano por Griffith permitem uma expressão direta de
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Friedrich Wilhelm Plumpe, conhecido como F. W. Murnau nasceu em Bielefeld, Alemanha, em 28 de dezembro
de 1889. Figura relevante do Expressionismo no cinema, Murnau revolucionou a criação do filme, ao concebê-lo
como obra dinâmica e ao usar a câmera para interpretar os estados emocionais dos personagens. Por volta de
1910 entrou em contato com as inovações do diretor teatral Max Reinhardt, que muito o influenciaram. Seu
primeiro filme importante foi Nosferatu (1922), que incorpora inovações técnicas e efeitos especiais, como a
imagem em negativo de árvores brancas sobre o céu negro.
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Deleuze tratou em seu livro La imagem - movimiento (1984) de quatro tipos de montagem. São elas:
montagem orgânico-ativa, característica do cinema americano, que deu origem às narrativas; a montagem dialética
do cinema soviético, orgânica ou material; a montagem quantitativo-psíquica da escola francesa e sua ruptura com
o orgânico, e por fim, a montagem intensivo-espiritual do Expressionismo alemão, que une uma vida ainda
orgânica das coisas a uma vida espiritual do ser humano. Deleuze estudou a variedade pratica e teórica dos tipos
de montagens, segundo as concepções orgânica, dialética, extensiva e intensiva da composição das imagens-
movimentos.