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Egreja é d’Elle...” (Ibid., p. 279).
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Por último, contra a alegação de que o dogma seria uma
“inovação”, argumenta-se, novamente, que proclamar não significava inventar:
A Egreja nada inventa: o thesouro das invenções está encerrado na Sagrada
Escriptura e na tradicção... O que ella faz é PROCLAMAR que tal verdade existe
verdadeiramente, embora tenha passado um tanto despercebida.
É deste modo que o Papa Pio IX proclamou a INFALLIBILIDADE do Papa, em
1870, para reagir contra a revolta de Luthero, que procurára rebaixar a autoridade do
chefe da Egreja (Ibid., p. 280, grifo no original).
O Pe. Júlio Maria procura ainda comprovar o primado de São Pedro, percorrendo os
textos do Novo Testamento em que Jesus teria investido aquele apóstolo – tido como o
primeiro de uma seqüência ininterrupta de papas – como chefe da sua Igreja. Assim, como
observamos no capítulo anterior, a única e verdadeira Igreja seria aquela edificada sobre o
fundamento de Pedro: “Todos querem conhecer a Egreja verdadeira: Ella é summamente
conhecível: Procurem Pedro... Pedro é a pedra fundamental da Egreja de Christo; e
encontrando Pedro estarão em frente do edifício construido pelo proprio Christo” (Ibid., p.
306).
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Merece destaque, em O Christo, o Papa e a Egreja, a presença da imagem do papa
mártir, difundida especialmente durante o papado de Pio IX (MATOS, 1996). Num paralelo
entre Cristo e o pontífice, este último é apresentado como “o martyr de todos os séculos,
flagellado pelos impios, coroado de espinhos pelos maçons, cuspido pelos protestantes,
vendido pelos apostatas, blasphemado pelos espiritas, carregando a cruz pesada sob os apupos
dos libertinos, communistas, divorcistas, sexualistas, etc.” (DE LOMBAERDE, 1940, p. 22).
Os protestantes figurariam entre os principais “algozes” dos sucessores de São Pedro: Leão X,
testemunha do advento da Reforma Protestante, “vê apparecerem as primeiras ameaças, e a
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Também abordada em Balburdia Protestante, a questão dos “maus papas” suscitou uma discussão sobre a
historiografia sobre o papado. Segundo o Pe. Júlio Maria, “a luta de mentiras e de calumnias contra os Papas”
teve início com as Centúrias de Magdeburgo: “Os chamados Centuriadores de Magdeburgo (1559) moveram
uma campanha de destruição contra a Egreja (...); embora corrigidos, estes escriptos nos seculos seguintes, foram
entretanto copiados por muitos historiadores” (DE LOMBAERDE, 1938, p. 141, grifo no original).
Especialmente criticada foi a versão portuguesa da História Universal de Cesar Cantú: “O original é uma obra
sincera, de valor, de sciencia solida e de admiraveis conhecimentos historicos. Tal obra, infelizmente, foi
adulterada, falsificada e arruinada pelo odio protestante. O traductor e reformador de Cesar Cantú, o sr. Antonio
Ennes, era um protestante fanático, que não trepidou em reproduzir tudo o que o odio protestante inventá-ra
contra o Papado” (Ibid., p. 142). Entre os “maus papas”, são citados Estevão VI, João XI, João XII, Bento IX,
Alexandre VI, Xisto IV e InocêncioVIII. Em linhas gerais, Júlio Maria procura restabelecer “a verdade” sobre
eles ao mesmo tempo em que destaca a santidade da maioria dos pontífices, contrastando-a com as vidas dos
“chefes” do protestantismo.
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Outras questões relacionadas a Pedro e ao papado foram respondidas em Luz nas Trevas, em que o autor busca
provar que aquele apóstolo foi o 1º Bispo de Roma e que o papa é “vigário de Cristo e sucessor e São Pedro”.
Em ambas os casos, ele faz referência à obra A Igreja, a Reforma e a Civilização, do Pe. Leonel Franca, cuja
primeira de suas três divisões, intitulada “A Igreja Católica”, versava sobre o primado de Pedro (capítulo I), a
perpetuidade da mesma (capítulo II) e o magistério infalível (capítulo III).