
O narrador, seja em primeira pessoa
147
ou em terceira
148
, acopla recursos narrativos
para possibilitar a existência de suas criaturas de papel com o fim exclusivo de conquistar a
credibilidade do leitor.
O personagem é o ser que figura na história e nela se envolve ativa ou passivamente.
Segundo D’ Onofrio “as personagens constituem os suportes vivos da ação e os veículos das
idéias que povoam uma narrativa
149
”. Os personagens podem ser humanos ou não. Eles são
dotados de características éticas, sociais, religiosas, políticas, profissionais, culturais, étnicas,
etc. Os personagens, quanto à sua atuação no enredo, são classificados como principais e
secundários. O personagem principal produz os fatos mais importantes. Os personagens
secundários desempenham pequenos papéis em relação ao personagem principal. Em algumas
narrativas, é possível classificar os personagens em protagonistas e antagonistas. O
personagem protagonista
150
deseja algo que ao antagonista cabe impedir. O personagem
antagonista
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dificulta, impede, ou tenta destruir o que o personagem protagonista deseja. Em
relação à composição, há personagens planas (seguem dentro do enredo, um comportamento
plano, linear e não mudam) e personagens não planas chamadas de redondas ( são as que
mudam de comportamento, evoluem, apresentam a surpresa). Foster, In: Brait, diz que
as personagens planas são construídas ao redor de uma única idéia ou
qualidade. Geralmente, são definidas em poucas palavras [...] as
personagens classificadas como redondas, por sua vez são aquelas
definidas por sua complexidade, apresentando várias qualidades ou
tendências, surpreendendo o leitor [...]
152
.
Pelo fato de toda narrativa pressupor uma sucessão de eventos, o tempo passa a ser um
componente essencial dessa categoria. Na história em quadrinhos “a própria ordem da leitura
das imagens uma após a outra gera o conceito de tempo, de sucessão, de um antes e um
147
A condução da narrativa em primeira pessoa implica, necessariamente, a sua condição de personagem
envolvido com os ‘acontecimentos’, que estão sendo narrados. Por esse processo, os recursos selecionados pelo
escritor para descrever, definir, construir seres fictícios que dão a impressão de vida, chegam diretamente ao
leitor através de um personagem. In: Brait, op. cit p. 60.
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A condução da narrativa em terceira pessoa implica quando o narrador é considerado uma câmera, capaz de
descortinar as formas que vão materializando o personagem. Esse recurso é muito antigo, é um artifício, uma
manifestação quase espontânea da tentativa de criar uma história que deve ganhar a credibilidade do leitor. “Era
uma vez...”. In: Brait., op.cit., p.60
149
D’ONOFRIO, Salvatore. O Texto Literário. São Paulo: Duas cidades. 1983. p.58.
150
protagonista é aquela personagem que ganha o primeiro plano na narrativa. In: Brait. Op., cit., p. 89.
151
antagonista é o opositor, o protagonista às avessas. In: Brait, Beth.op., cit., p.86
152
FORSTER . In: BRAIT, Beth. Op., cit., p. 41.