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Freud teria usado o modelo de que a psicanálise pura seria como o
ouro e as técnicas psicoterápicas dela advindas poderiam ser considerados
como metais compostos, com pinceladas de ouro.
Infelizmente, lamentou Balint (1994-a) que isto teria levado a uma
situação de inferioridade constitutiva, respaldado por preconceitos dos próprios
psicanalista, os quais se arvoravam na possessão de um bem que, para a sua
concessão, exigiam certo grau de submissão de seus pretendentes, o que por
si só constitui um considerável empecilho para o progresso de uma análise
pessoal destes pretensos candidatos à formação:
“ O fato é que esta valiosa conversão do puro ouro da psicanálise para algum metal
básico ainda não havia sido encontrada, apesar da grande necessidade que o fosse...” (1)
“…não-analistas, de um outro lado, aproximavam-se deste problema com uma
admissão, tanto insincera quanto ambivalente, de inferioridade” (2)
Balint, de modo muito especial, destacou-se em sua preocupação de
que as contribuições psicanalíticas pudessem ganhar um setting ampliado em
relação ao tradicional, procurando desenvolver ferramentas que habilitassem o
médico e outros profissionais, no exercício de uma função psicoterápica,
muitas vezes em contextos grupais e institucionais(1961, 1994, 1995, 1997).
Por exemplo, nesta mesma obra, p.ix:
“ O que se pode dizer sobre psicoterapia? Tem ela um lugar na Medicina? Tem ela
um a base científica em sua metodologia que pode ser ensinada? Se é este o caso, que
métodos são esses e quem os pode ensinar? O nosso livro tenta examinar estas questões, não
teoricamente, mas tendo como base material clínico” (3)
(1) “ The fact is that this valuable alloy between the pure gold of psycho-analysis and some baser metal has
not yet been found, however great need for it may have been…” (op.cit, p. xiii).
(2) “…Non-analysts, on the other hand, approached this problem with an admission, both insincere and
ambivalent, of inferiority.”(op.cit.xiii)
(3) “What are the facts about psychotherapy? Has it a right to a place in Medicine? Have any
psychotherapeutic methods a scientific basis and can they be thaught? If so, what are these methods and who should
teach them? Our book attempts to examine these questions, not theoretically, but on the basis of concrete clinical
material”.