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BRUNO FISCHER DIMARCH
O GÓTICO E AS SOMBRAS: COMUNICAÇÃO NÃO COMUNICADA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA
PUC-SP
S
ÃO PAULO
2007
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2
B
RUNO FISCHER DIMARCH
O GÓTICO E AS SOMBRAS: COMUNICAÇÃO NÃO COMUNICADA
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo como exigência
parcial para obtenção de título de
MESTRE em Comunicação e Semiótica,
sob a orientação da Profa Dra Helena
Tânia Katz.
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA
PUC-SP
S
ÃO PAULO
2007
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3
B
RUNO FISCHER DIMARCH
O GÓTICO E AS SOMBRAS: COMUNICAÇÃO NÃO COMUNICADA
BANCA EXAMINADORA
_________________________________
_________________________________
_________________________________
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA
PUC-SP
S
ÃO PAULO
2007
4
Para Família e Amigos
Em memória de Américo, Euclides e Evaldo
5
R
ESUMO
A presente Dissertação se dedica a pensar sobre o Gótico, identificando os
problemas trazidos pela sua equivocada exposição midiática. Para tal, apresenta
uma leitura gótica do Gótico, com o objetivo de fazê-lo ser entendido como parte
de um processo comum a todas as culturas, o refugo da geração da, aqui
nomeada, ‘norma da cultura’.
Essa pesquisa apresenta como corpus teórico a Teoria Geral dos Sistemas,
no desenvolvimento de Jorge de Albuquerque Vieira, propondo uma nova
abordagem do conceito de “sombra coletiva”, de Carl Gustav Jung (1875 – 1961),
a partir da hipótese de que toda cultura projeta a sua sombra (e aqui o termo
cultura se refere somente à cultura ocidental). Essa sombra é a noite alegórica da
moral, da ética e dos costumes dominantes. Elementos reprimidos se organizam
em um sistema de mediação na relação comunicativa do corpo com esse
ambiente, nomeado de ‘Sombras’.
O Gótico é um subsistema das Sombras que encontrou grande dificuldade
de comunicação midiática. Em entrevistas televisivas, “sites” e matérias
jornalísticas em diversos meios de comunicação é possível encontrar associações
do Gótico a uma cultura e estilo de vida subversivo, licencioso, anticristo, necrófilo
etc., refugos da norma da cultura. Esse tipo de exposição midiática prejudicou a
possibilidade de identificação e melhor compreensão, por parte do público, da
cultura gótica.
Todavia, foi a intracomunicação no Gótico que garantiu a sua permanência
e evolução, fora da luz midiática. Nas Sombras, esse processo apontou para uma
relativa distinção de outros subsistemas e uma especialização das suas
informações internas.
Além da pesquisa bibliográfica, foram realizadas entrevistas e uma
pesquisa documental de imagens em diferentes mídias.
Palavras chave: gótico, sombras, sistema, subcultura, comunicação, norma
da cultura.
6
A
BSTRACT
The present Dissertation devotes to think about the Gothic, identifying the
problems brought by the mistaken media exposition. For this purpose, it is
presented a gothic reading of the Goth, so that it can be understood as a part of an
usual process to all cultures, as a refuge of the generation of the, named here,
“culture norm”.
This research present as the theoretical corpus the General Systems
Theory, in the development of Jorge de Albuquerque Vieira, proposing a new
approach of the concept of “collective shadow” proposed by Carl Gustav Jung
(1875-1961), from the hypothesis that every culture projects its shadow (the term
culture refers only to western culture in this dissertation). This shadow is the
allegoric night of moral, ethics and dominant customs. The repressed elements are
organized in a system of mediation in the communicative relation of body with
environment, named “Shadows”.
Goth is a subsystem of Shadows, which found a great difficult in media
communication. Through broadcasted interviews, sites and journalistic subjects in
several means of communication, it is possible to find Goth associations with a
culture and life style that are subversive, licentious, antichrist, necrophile etc. That
kind of mediatic exposition, injured public identification in relation to Gothic culture.
Although, the Goth intracommunication ensured its permanence and
evolution, retreated from mediatic light. In the Shadows, this process points
towards a relative distinction of the other subsystems and a specialization of its
internal information.
Besides the bibliographic research, interviews and an image documentary
research in different media means were held.
Key words: Goth, shadows, system, subculture, communication, culture
norm.
7
A
GRADECIMENTOS
Essa dissertação tem a ver com duas mulheres. A primeira entrou em
minha vida para me encantar pelas Artes do Corpo e me seduzir a estudar
ciências cognitivas. Vendo meu interesse, apresentou-me ao CEC (Centro de
Estudos do Corpo), onde entrei em contato com o segundo princípio feminino.
Lenira Rengel mostrou-me o caminho; Helena Katz guiou meus passos. Se fui
laureado com a possibilidade de mergulhar no mundo acadêmico, devo esse
presente a essas duas grandes mulheres.
À Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, ficam meus mais
sinceros agradecimentos e congratulações pela iniciativa do Programa Bolsa
Mestrado, e a confiança depositada nos professores da rede pública.
Na coxia, a família torcia e pouco reclamava de minha falta de tempo. Esse
apoio me deu muita força, principalmente nos momentos de extremo cansaço.
Dois geminianos quase “viraram góticos” de tanto que me acompanharam na noite
trevosa de São Paulo; César e Diego, foi muito bom ter vocês comigo. Minha
conexão soteropolitana, Camila, foi responsável por entrevistas e pesquisas na
“terrinha”, além do incansável apoio nas fases finais do mestrado.
O que seria de uma formação acadêmica sem os Mestres, pessoas que
constituirão minha memória como incríveis pensadores e adoráveis seres
humanos? Obrigado Jorge de Albuquerque Vieira, Christine Greiner, José Luiz
Aidar Prado, Cecília Almeida Salles e Lucrecia D’Alessio Ferrara.
E, claro, um agradecimento especial aos góticos, góticas e colaboradores:
Henrique Kipper, Flávia Flanshaid, Lord A:., Frater Raven Sethiano‘.’, Noturno,
Frater Noturno, Christian Anúbis, Marcos Langsuyar, KPTA, Fernando Erlanz,
Rodrigo Helfenstein, Lexpedra, Marília Jardim, Andressa Nakashima, Leonardo da
Silva, Lucian Sanct, Robson Sinistro, Carol Lohac, Jairo “Neogothz”, Marleide
Rocha, Flávia Tonolli, Bianca Jordão e pessoal da comunidade Góticos no Brasil.
Por fim, agradeço à alquímica escritora gótica, Heloisa Prieto, por
interessar-se por esse trabalho e ter aceitado o convite para compor esta banca
de mestrado.
8
Í
NDICE DE ILUSTRAÇÕES
Abertura – Ensaio fotográfico por Sasha e Luciano Bortolotti – Revista
Cool, ano 9, edição 5...............................................................................
página 015
01 – André Vianco e fã no evento Theatro dos Vampiros – arquivo
pessoal.....................................................................................................
página 020
02 – Ankh – <
http://nudnik.ru/entry/2293> ..............................................
página 026
03 – Johnny, the homicidal maniac – BADDELEY, 2005:157 ................
página 026
04 – Símbolo da Camarilla –
<
http://vampire.childofchaos.com/Kindred/sects.php>............................
página 028
05 – Símbolo de Gárgulas – <www.vampirocomalma.blogger.com.br>.
página 028
06 – Princípio alquímico mortificatio – PRIETO, 2007: 31.......................
página 029
07 – Siouxsie Sioux – <www.vamp.org/Siouxsie/Images>......................
página 050
08 – “O Nome da Perdição” – matéria da Revista Spin –
<
http://ic1.deviantart.com/fs7/i/2005/166/0/f/style_goth_by_jesiha.jpg>..
página 055
09 – Capa do álbum “For Madmen Only” – UK Decay –
<http://recordcollectorsoftheworldunite.com/artists/ukdecay>……..........
página 061
10 – Capa do álbum “Bela Lugosi’s Dead” – Bauhaus
<www.wiels.nl/blog >...............................................................................
página 062
11 – Anne Sudworth – MERCER, 1996.................................................. página 062
9
12 – Imagem da grife Queen of Goth – <
www.queenofgoth.co.uk>.......
página 063
13 – Capa do álbum “Love Under Will” – Blood Roses –
<
www.deathrock.com>............................................................................
página 065
14 – Cena do videoclip “Where The Wild Roses Grown” –
<
http://www.kylie.com.br/index2.php?pag=videoclipes/videoclipes
&video=roses>.........................................................................................
página 067
15 – Imagem disponível em <
www.gothiccastle.net>.............................
página 067
16 – Imagem disponível em <
www.gothiccastle.net>.............................
página 067
17 – Imagem disponível em <www.allianceangst.com>......................... página 067
18 – Imagem disponível em <www.allianceangst.com>......................... página 067
19 – Imagem disponível em <www.evanescence2304.blogger.com.br> página 067
20 – Imagem disponível em <www.evanescence2304.blogger.com.br> página 067
21 – Imagem disponível em <
www.darkfairies.co.uk>............................
página 068
22 – Francesca Nicoli da banda Ataraxia – <
www.ataraxia.net>............
página 068
23 – Góticos na Bélgica – <
www.gardenal.org/ressacamoral/2006/06>
página 070
24 – Robh Ruppel ilustra Ravenloft – <
www.robhruppel.com>...............
página 073
25 – Robh Ruppel ilustra Ravenloft – <www.robhruppel.com>...............
página 074
10
26 – Personagem Morte por Luciana “Sara Liu” Abrão –
<
www.carcasse.com> .............................................................................
página 076
27 – Garota gótica em desenho manga –
<www.grafika.art.pl/?page=user&nick=reiu>...........................................
página 076
28 – Colar gótico wicca – <www.mercadolivre.com.br>..........................
página 081
29 – Fonte: <
www.darkfairies.co.uk>.......................................................
página 082
30 – Fonte: <
www.darkfairies.co.uk>.......................................................
página 082
31 – Legacy Ankh – <http://strigoivii.com/legacyankh>........................... página 083
32 – Gótica com moicano –
<http://bob.bob.bofh.org/~giolla/goth/whitby/index.html>.........................
página 084
33 – Performance gótica de Íris no Theatro dos Vampiros – revista
Trip: ano 17 edição 124...........................................................................
página 086
34 – Participantes do evento Reflections of Darkness 3 – arquivo
pessoal.....................................................................................................
página 088
35 – Flyer do evento Goth Kats...............................................................
página 088
36 – Laura “Mistress” McCutchan – MERCER, 1996..............................
página 089
37 – Casal gótico – <www.darklight.co.za>.............................................
página 090
38 – Góticos com traços de feminilidade –
<http://www.cs.unm.edu/~aaron/images/largeImages/newmexico/
11
Goth_SmallGroup.jpg
>............................................................................ página 090
39 – Imagem disponível em <www.allianceangst.com>..........................
página 090
40 – Garota em cemitério no Whitby Goth Festival 2006 –
<www.georgeledger.co.uk>.....................................................................
página 090
41 – Casal gótico – <www.goth-city-radio.com/goth-city/index.php>......
página 090
42 – Corset gótico – <
www.mercadolivre.com.br>..................................
página 091
43 – Saia gótica de vinil – <
www.mercadolivre.com.br>.........................
página 091
44 – Performance de sadomasoquismo na Thorns Gothic Rave 8 –
arquivo pessoal........................................................................................
página 092
45 a 48 – Imagens do evento 69 Fetish for Fun – <www.visuh.net>.......
página 093
49 – Sátira ao estereótipo gótico –
<http://desciclo.pedia.ws/wiki/G%C3%B3tico>........................................
página 097
50 – Sandman e Morte – GAIMAN e McKEAN, 2003..............................
página 100
51 – Peter Murphy do Bauhaus...............................................................
página 100
52 – The Cure – <www.kampanilla.com/2006/10/17/cure-the>...............
página 100
53 – Morte em estilo vitoriano – GAIMAN, 2006......................................
página 101
54 – Bianca Jordão como Morte – Revista Mtv: ano 5, edição 56...........
página 102
55 e 56 – Flyer de evento organizado pelo Projeto Mortuosos............... página 103
12
57 – Edward Mãos de Tesoura – <
www.art.com>...................................
página 105
58 – Propaganda Pepsi Twist – revista Bizz: ano 18, edição 211 –
<www.zoeirapepsitwist.com.br>..............................................................
página 107
59 – Propaganda linha Capricho de O Boticário – revista Capricho: ano
54, edição 152.........................................................................................
página 108
60 – Oroboros – <
http://verewig.zaadz.com/photos>............................. página 111
Fechamento – Ensaio fotográfico por Sasha e Luciano Bortolotti –
Revista Cool, ano 9, edição 5..................................................................
página 114
13
S
UMÁRIO
Resumo................................................................................................... página 005
Abstract..................................................................................................
página 006
Agradecimentos.....................................................................................
página 007
Índice de Ilustrações.............................................................................
página 008
Introdução..............................................................................................
página 016
Capítulo 1 – As Sombras e o Gótico....................................................
página 018
1. Sombras............................................................................
página 022
1.1 Ankh................................................................................
página 025
1.2 Fausto.............................................................................
página 030
1.3 Nas Sombras modernas.................................................
página 036
Capítulo 2 – Emergência do Gótico.....................................................
página 041
2.1 Jovens nas Sombras......................................................
página 042
2.2 Emergência.....................................................................
página 047
Capítulo 3 – Gótico................................................................................
página 054
3.1 Obscuridade.................................................................... página 059
14
3.2 Literatura Gótica............................................................. página 069
3.3 Magia e Paganismo........................................................ página 077
3.3.1 Vampyrismo................................................. página 083
3.3.2 Satanismo....................................................
página 084
3.4 Feminilidade....................................................................
página 085
3.5 Fetichismo.......................................................................
página 091
3.6 Ironia...............................................................................
página 094
Capítulo 4 – Oroboros ..........................................................................
página 099
4.1 Sandman.........................................................................
página 099
4.2 Edward............................................................................
página 103
4.3 Mediação e Comunicação..............................................
página 107
4.4 Conclusão.......................................................................
página 111
Bibiografia.............................................................................................. página 115
Discografia............................................................................................. página 120
Filmografia............................................................................................. página 120
Revistas.................................................................................................. página 122
Sites........................................................................................................ página 122
Anexos.................................................................................................... página 126
15
16
Introdução
Durante a noite, eventos que dormem à luz do dia despertam para as
sombras. As ruas da cidade tornam-se ambientes de segurança duvidosa, não se
pode prever os acontecimentos que se desenrolarão no escuro.
A noite abriga os excessos do homem, seus instintos mais primitivos vêm à
tona. Este é o palco do proibido, do ilícito e do recriminável. Seus personagens
são seres em busca de diversão, bebida, sexo, violência e droga, prostitutas,
marginais, travestis, garotos de programa, ladrões e viciados, pessoas que
despem as máscaras das normas de moral e boa conduta em busca de algo mais.
Esse retrato é uma alegoria à sombra na cultura humana, uma figura
caricatural da Quimera que vive dentro de cada indivíduo. Em A República, Platão
desenha o ser humano como parte homem racional, parte animal (um leão e uma
quimera instável polimorfa), confinados a um. Para que permaneça o equilíbrio,
tanto homem quanto animal devem ser alimentados. Se o homem não se
alimenta, morre; se o animal não se alimenta ele devora o homem. Logo, o animal
é o mais forte e será predominante no espírito se não for bem cuidado.
O que acontece muitas vezes é a repressão dos aspectos animais do ser
na busca de um sujeito plenamente racional. E o reprimido não abandona o
homem, permanece em estado latente como parte do inconsciente psicológico.
Esse estado Carl Gustav Jung (1875 – 1961) chamou “sombra”.
E esta sombra pode, metaforicamente, ganhar vida própria, ser o estado
predominante do ser sem que seja assim percebida. É o caso do monstro Hyde
1
,
do escritor Robert Louis Stevenson (2000) ou de Tyler Durden, do Clube da Luta
de Chuck Palahnuik (2000). Não pretendo com isso afirmar que a sombra é o mal
do homem, pois ela guarda também grande potencial. Aqueles aspectos
reprimidos sobre nossas capacidades fazem também parte da sombra pessoal.
Aptidões do corpo deixam de ser exploradas quando reprimidas, gerando a crença
de sermos incapazes.
1
Alterego do Dr. Jeckyll na obra O Médico e o Monstro, publicada em 1886. Ao ingerir uma
substância por ele desenvolvida, libera sua parte animal, monstruosa e reprimida.
17
Ampliemos o foco do sujeito para a cultura. Seria possível pensar sobre
uma sombra coletiva, ou seja, seria possível identificar uma coleção de elementos
que fossem socialmente reprimidos? A presente dissertação partirá desse
questionamento inicial propondo a hipótese de que existe, sim, um processo de
geração de uma norma na cultura que projeta a sua sombra (e aqui o termo
cultura se refere somente à cultura ocidental). Essa sombra é a noite alegórica da
moral, da ética e dos costumes dominantes, o refugo da norma.
Nessa noite há uma ordem específica, caracterizada pelas maneiras como
os elementos reprimidos organizam-se. Sombras formam agregados, muitas
vezes coesos e coerentes que, então, se tornam passíveis de identificação.
Transformam-se em sistemas compostos por imagens, comportamentos,
indivíduos, estilos e organizações próprias que são, na maioria das vezes,
reconhecidos somente por alguns de seus aspectos. Quando isso se dá, a eles é
associada uma rubrica: punks, darks, góticos, satanistas, skinheads, clubbers,
indies e metaleiros.
Muitos desses sistemas são categorizados como marginais, violentos e
perigosos pela norma repressora. Mas o fato é que se consolidam com certa
autonomia e distinção, com suas formatações de regras e conexões.
Dentre os habitantes das sombras citados, o objeto dessa pesquisa
escolheu o Gótico, um dentre outros sistemas que agregam elementos reprimidos.
Os indivíduos são conhecidos por góticos (as), e sua coletividade como subcultura
gótica. O termo “subcultura”, próprio da Sociologia, já aponta indícios para o
entendimento do Gótico como uma sombra coletiva da cultura, à semelhança do
que sucede com a sombra individual.
Para tanto, será apresentada uma ótica preliminar do Gótico, composta de
índices suficientes para que se possa observá-lo em suas sombras. Logo, aqui
não se planeja organizar um mapeamento do Gótico que busque de alguma forma
esclarecê-lo ou delineá-lo. O objetivo da dissertação é investigar a hipótese
proposta: a de que o Gótico nasce como refugo da geração de uma norma da
cultura.
18
C
APÍTULO 1. AS SOMBRAS E O GÓTICO
Um ramo de chamas frias
Paira sobre sua cabeça
Aquilo que você não poderia queimar
Suas sombras estão pairando sobre sua cabeça
A sombra nunca está lá
Explode tudo novamente
Tones on Tail (1984)
Durante anos o Brasil careceu de material sobre a subcultura gótica. O
cenário desenvolveu-se sem muita clareza sobre o que era esta subcultura, este
estilo, esta identidade que se mostrou (ou foi mostrada) em larga escala nos anos
1980, sem conseguir decidir se tratava-se de um estilo ou de um modo de pensar
o mundo.
O nome “gótico” era pouco comum no país, sendo mais conhecido o “dark”.
Consagrado nos anos 1980, o “dark” foi gradativamente perdendo a força na
década seguinte. Apesar do visual e das preferências musicais semelhantes, os
darks não são a versão brasileira dos góticos (europeus e norte-americanos)
2
. Os
darks tinham uma atitude mais agressiva, muito próxima do estilo punk. Sua
temática era constituída de características próprias em composições musicais (na
sonoridade e nas letras) e vestimenta. O visual dark mostrava elementos góticos e
punks, privilegiando a cor preta, braceletes com spikes (espinhos) e rebites,
roupas de couro e camiseta, ou calça e camisa tradicionais (sempre na cor preta).
Os temas de suas canções gravitavam sobre a distopia, uma perspectiva trágica
do presente e do futuro, a artificialidade dos cenários urbanos, a dor do espírito.
Muitas conexões e intersecções podem ser feitas entre o dark e o gótico,
mas eles não são a mesma identidade com nomes diferentes ou parte uma da
2
Recentemente, vivi uma situação que comprovou tais diferenças. Ao contar a Paulo Bloise sobre
o projeto de pesquisa com os góticos, ele logo se animou e disse que freqüentava a casa Carbono
14, e citou uma série de bandas que gostava de ouvir nesse local. Pensava serem bandas góticas,
mas eram, na verdade, bandas darks, e só percebi isso quando citou o nome Cabine C, e
excetuando-se este, não pude reconhecer mais nenhum. Bloise, de fato, falou de bandas que, nos
anos 80, eram visualmente muito semelhantes às góticas contemporâneas.
19
outra. Os darks, que atravessaram os anos 1990, defendem (atualmente) sua
distinção e não permitem serem categorizados como góticos.
A maior divulgação e popularização do termo “gótico” no Brasil ocorreu na
segunda metade da década de 90. A cena gótica começou a se estruturar e
expandir, a rubrica “gótico” passou a ser mais usada como meio de auto-
identificação. Mas aqueles que tentaram, nessa época, se aprofundar na busca do
que é ser gótico e as raízes da subcultura, encontrariam pouca informação. O que
havia, em português, eram materiais referentes aos darks, que apareciam
pontualmente em revistas de rock. A principal fonte de informação eram os
próprios darks; e o livro que parecia trazer referências aos góticos era o livro de
Helena Wendel Abramo (1994), Cenas Juvenis: punks e darks no espetáculo
urbano. Este competente e premiado trabalho foi exaustivamente citado como
referência aos góticos que entendiam que “dark” seria apenas um nome diferente
para “gótico”.
Esse entendimento de ambos como iguais não foi exclusivo dos anos 1990.
Já no século XXI, na revista Bizz (março de 2007), Daniela Arrais comenta “que
nos anos 80 toda mídia chamava os góticos de ‘darks’” (quando de fato os darks
eram darks e não góticos). Jairo Lavia faz a mesma referência em matéria para a
revista digital Paradoxo (em Anexos).
Um dos aspectos mais interessantes da busca de raízes góticas foi a
identificação de elementos característicos da temática da literatura brasileira nesta
subcultura. Álvares de Azevedo, Cruz e Souza, Augusto dos Anjos e, recente e
timidamente, André Vianco (Figura 1) foram apropriados pelos góticos do país,
junto a referências da literatura mundial (como será observado no capítulo 3.2).
Esse processo está relacionado à forte mobilização na cena gótica acerca da
literatura, seja tanto em termos de produção como de apreciação (em saraus,
fanzines, grupos de e-mail e sites
3
).
Atualmente é possível aprofundar-se com maior facilidade na busca da
subcultura e do modo de ser gótico. Em 2005 é publicada a primeira (e até o
3
Muitos deles costumam relacionar-se, com divulgação de um site em outro site ou de uma lista de
discussão em outras listas de discussão. Acompanhando-as, é observável que e-mails de
divulgação (de novidades ou atualizações) são disparados para diversas listas simultaneamente.
20
momento única) tradução de um livro sobre o assunto em português
4
; diversos
sites especializados são criados no país, mídias de grande circulação e audiência
passam a publicar matérias referentes a essa subcultura; fanzines góticos são
impressos ou disponibilizados nos meios digitais.
Figura 1 – André Vianco (à direita) e fã no Theatro dos Vampiros.
Contudo, a maior possibilidade de acesso não pôde garantir clareza: fontes
diferentes contradizem-se, informações superficiais e visões pessoais se misturam
com pesquisas aprofundadas e artigos de qualidade. Comunidades no Orkut e
listas digitais são palco de grande discussão em busca de “verdades sólidas”
sobre diversos aspectos da subcultura e do seu modo de pensar o mundo
5
.
Rodrigo Helfenstein é conhecido no Brasil por seus diversos artigos sobre o
Gótico publicados na Revista Valhalla. Em sua coluna Sex, Drugs and Drum
Machines [Sexo, Drogas e Baterias Eletrônicas] cita que “a possibilidade de
apresentar um panorama histórico do Gótico é tarefa complicada, tendo em vista
4
Goth Chic de Gavin Baddeley (2005).
5
Na comunidade “Góticos no Brasil”, uma internauta gótica pediu, em junho de 2007, mais
informações sobre as divisões das identidades góticas e suas principais características para usar
em trabalho de antropologia para a faculdade.A ela sugeriram que fosse aos encontros góticos,
pois qualquer descrição que lhe oferecessem seria falha ou, no mínimo, incompleta.
21
que não existe uma linha contínua de acontecimentos, e sim uma série de
conexões, desvios e influências que fazem dessa história um emaranhado” (2004,
edição 25).
Motivado por essa dificuldade em lançar luz sobre o Gótico, emergem os
primeiros embriões da hipótese das Sombras. A proposta de investigar o Gótico
através de suas Sombras tem por meta assumir sua opacidade, sua ambivalência
e sua mobilidade.
O trabalho nesse ambiente é descrito nos aspectos lunares por Sallie
Nichols (2000: 314):
À diferença do Sol, que é brilhante, merecedor de confiança e quente,
a Lua é pálida, inconstante e fria. No entanto, pela sua iluminação podemos
ver sombras até então desconhecidas. Ao passo que à luz do Sol os objetos
se destacam, nítidos, como entidades separadas de formas agudamente
definidas, sob o brilho pálido da Lua essas categorias feitas pelo homem se
dissolvem, oferecendo-nos uma nova experiência de nós mesmos e do nosso
mundo. (destaque meu)
Essa imagem inspirou a dissertação e sua hipótese central porque dialoga
com o próprio imaginário gótico
6
. Afinal, há uma grande identificação associada à
noite, à escuridão, à introspecção, ao inconsciente, ao feminino, ao pálido e ao
frio.
Neste capítulo será abordada a hipótese das Sombras como fonte de
energia para a emergência e permanência do Gótico. No decorrer do texto, o
termo “Gótico”, sempre que grafado em maiúsculo, se refere a um sistema, no
sentido proposto por Mario Bunge na sua Teoria Geral dos Sistemas (VIEIRA,
2006), ou seja, um agregado formado pelos elementos que compõem o
imaginário, a subcultura, o estilo e a identidade gótica
7
.
6
Helfenstein (idem) cria uma imagem diferente, mas igualmente compatível com o imaginário
gótico: “(...) seguimos perdidos por uma rota sem saída, ou sem fim, se preferirem. O que tentamos
então é, ao menos, iluminar (à luz de velas) o caminho”.
7
“Um sistema pode ser conceituado como um agregado de elementos que são relacionados entre
si ao ponto da partilha de propriedades” (Idem, ibidem: 88)
22
1. Sombras
De repente, enquanto eu observava o eclipse que agora chegava ao fim, as
sombras pareceram bem mais importantes e dignas de atenção.
Roberto Casati (2001: 9)
Uma das mais comuns associações à sombra na cultura ocidental é o mal.
Deus é a luz que libertará a alma humana do pecado, a razão é a luz que libertará
o espírito humano da ignorância. As sombras são inimigas da luz, o mal a ser
combatido.
O filósofo e psicólogo cognitivista Roberto Casati aponta algumas
associações relativas às sombras pela maneira qual são percebidas:
(...) as sombras são um exemplo perturbador de entidades menores:
são uma diminuição dos objetos que as projetam. São chatas, incorpóreas e
sem qualidade, sem cor. O perfil delas encerra um interior indistinto. Mas,
principalmente, são ausência, coisas negativas. Uma sombra é falta de luz.
Ora, as coisas negativas são bizarras (...) Seu incerto ser confunde a mente e
nos inquieta. Como se não bastasse, as sombras andaram desde sempre
envoltas na suspeita e no medo. São entidades estranhas, não sabemos
muito a seu respeito, apenas que não soa boa companhia.
(CASATI, 2001:
11-12)
De acordo com a psicanálise junguiana, as sombras emergem e se
constituem de elementos reprimidos. Através da moral, das normas de conduta
sociais e religiosas, parte do comportamento humano é categorizado como bom –
e com isso valorizado e premiado; outra parte é tida como errada, ruim, perigosa –
e, logo, recriminada.
No livro IX de A República, Platão (2000) condena os impulsos bestiais do
ser humano:
23
Entre os prazeres e os desejos não necessários, alguns parecem-me
ilegítimos. Creio que sejam inatos em cada um de nós, mas, reprimidos pelas
leis e pelos desejos melhores, com a ajuda da razão, podem ser totalmente
extirpados em alguns ou ficarem só em pequeno número e enfraquecidos, ao
passo que nos outros [homens tirânicos] subsistem mais fortes e em maior
número. (...) há em cada um de nós, mesmo nos que parecem totalmente
disciplinados, uma espécie de desejos terríveis, selvagens, sem leis, e isso é
posto em relevo pelos sonhos.
As religiões cristãs ensinam que comportamentos de ódio, violência e
excessos (pecados) devem ser vigiados e punidos. As Sombras cristãs têm
existência na forma dos excessos da carne, no comportamento selvagem e ani-
mal, presentes no ser humano e na descrença em Deus e Sua Luz. Nas Sombras
cristãs, inclusive, existe uma entidade poderosa, chamado de príncipe das trevas:
Lúcifer.
Esse é um exemplo das Sombras enquanto aspectos reprimidos. No
entanto, de acordo com Connie Zweig e Jeremiah Abrams
8
, “tudo o que tem
substância, lança uma sombra” (2005: 27). Com essa afirmação, o volume de
Sombras imagináveis aumenta drasticamente. Este aumento remete a uma
dificuldade em identificá-las. As Sombras fogem à Luz, mudam de forma,
projetam-se às costas do buscador.
O “portador da Luz” geralmente está relacionado com a figura masculina,
com o homem da razão, com o sujeito pleno do iluminismo. Eis a importância do
elemento feminino no trabalho com as Sombras, nas Sombras.
O elemento masculino vê as coisas à brilhante luz do dia: isto é isto e
aquilo é aquilo. O elemento feminino equivale a ver as coisas à luz da lua: elas
ficam difusas, não são tão distintas umas das outras. Toda essa questão de
sombra é muito sutil e complexa, não é tão simples quanto parece ser a do
bem e do mal.
(STANFORD, John A. in ZWEIG e ABRAMS, 2005: 43)
8
Ao Encontro da Sombra: O potencial oculto do lado escuro da natureza humana. A obra é uma
reunião de artigos sobre diversos desdobramentos do conceito de “sombra” na Psicanálise
junguiana, com organização e textos de Zweig e Abrams (2005).
24
Na cultura ocidental, existe, como norma o elemento masculino, a
sociedade patriarcal, o Deus Pai. E o elemento feminino não é somente neces-
sário no trabalho com/nas Sombras, ele é elemento das Sombras! Outros
elementos que as compõem são: o marginal, o imoral, o perverso, o obscuro, o
maldito, o violento, o animalesco, o profano, o proibido, o bizarro, o pornográfico, o
mórbido, o degenerado, o subversivo, o criminoso, o ilícito,... Essa lista poderia se
estender muito, pois estes são apenas alguns exemplos de Sombras na cultura
ocidental.
Sob uma ótica diferente, teremos sombras outras. Um satanista
9
, enquanto
singularidade, agrega em si um estado de sombras diferente dos mais gerais. Se
para uma maioria Satã é o ser das trevas, para o satanista ele é, inversamente,
sua luz. Sendo sombra, tendo existência nos aspectos reprimidos, para o adorador
de Satã a adoração à Cristo é sua “sombra pessoal”.
É importante ressaltar que a hipótese não propõe os góticos como
indivíduos “puramente de Sombras” ou como os únicos a estarem relacionados
com elas. De acordo com a psicanálise junguiana, as sombras têm sua existência
no inconsciente psicológico de todo ser enquanto singularidade.
Outro fator importante a ser destacado a respeito das Sombras é o seu
entendimento enquanto movimento. Só haveria sombras estáticas se tudo que as
projeta (objeto e luminosidade) também o fossem, assim como todo o ambiente.
Contudo, a realidade estática é uma impossibilidade (especialmente em níveis
baixos de descrição
10
). À luz do sol, um objeto estático (ainda que só
aparentemente) projeta uma sombra que muda de espaço, como no caso de um
relógio de sol. À noite, a chama de uma vela, tocha ou fogueira lança uma dança
de sombras. Mesmo na noite elétrica, quando passamos pelos postes da rua,
vemos nossas sombras mudarem de tamanho, aparecerem e desaparecerem de
todos os lados, sem nunca nos abandonar.
9
Satanistas são, em grande parte dos casos, adoradores de Satã e anticristos. Contudo, existem
satanistas que trabalham com sistemas elaborados, códigos de conduta, a supremacia da vontade
sobre a submissão. A Igreja de Satã, fundada por Anton Szandor Lavey em 1966, foi a primeira
organização religiosa satânica reconhecida.
10
Como nos processos de cognição observados através de aparelhos eletrônicos no cérebro.
25
O conceito de Sombras sempre aparecerá no plural. Se uma sombra
mantém existência, ela é signo de sombra e também do(s) objeto(s) de origem.
Observando somente a sombra, podemos criar uma rede de conexões a diversas
possibilidades da(s) origem(s) de sua(s) projeção(ões). Quanto mais projeções
encontram-se num mesmo contexto, mais as sombras se fundem, se confundem e
aumentam as possibilidades de associações. Usar o termo “Sombra” para
conceituar os diversos aspectos reprimidos de uma cultura parece simplificar a
multiplicidade de elementos e a complexidade de suas relações. Portanto, o
conceito sempre aparecerá no plural “Sombras”.
A seguir, serão apresentados dois casos diferentes sobre a passagem da
Luz para as Sombras. O primeiro aponta indícios sobre como o ankh ou crux
ansata é ressignificado de símbolo sagrado para signo profano e oculto. O
segundo investiga a obra Fausto, de Johann Wolfgang von Goethe (1749 – 1832),
sob a ótica de Marshall Berman (1989)
11
, buscando elementos que evoluíram para
estados de Sombras na modernidade.
O objetivo destes estudos é consolidar a hipótese das Sombras, oferecendo
ambientação para o estudo do Gótico.
1.1. Ankh
Um dos principais signos góticos é o ankh ou crux ansata (Figura 2). Ele já
foi usado de maneira tão exaustiva que algumas vezes seu uso chega a ser
motivo de sátira. Na Figura 3, Jhonen Vasquez (BADDELEY, 2005: 157) mostra o
protagonista de seu HQ, Johnny, the Homicidal Maniac [Johnny, o Maníaco
Homicida] e a “originalidade” de sua identidade. Essa redundância no uso do ankh
desencadeou um processo de busca de signos outros para a construção de um
visual pelos góticos.
Ainda assim, não foi abandonado e ainda é muito usado pelos mesmos. Na
Galeria do Rock, na cidade de São Paulo, é comum encontrar ankh´s à venda em
11
Tudo que é sólido se dissolve no ar.
26
lojas de camisetas e acessórios. Como as diversas lojas costumam oferecer os
mesmos modelos de ankh, há uma busca por outros diferentes daqueles
encontrados na galeria.
Figura 2Ankh ou Crux Ansata.
Figura 3Johnny, the Homicidal Maniac.
27
O surgimento do ankh aponta para o antigo Egito. Os fenícios usavam uma
forma de cruz, já definida como símbolo místico, conhecida como “cruz tau”.
O desenvolvimento importante que se seguiu foi o acréscimo de uma
alça ao topo da Cruz em Tau. Isto formou a cruz geralmente chamada de Cruz
Egípcia, porque se tornou um símbolo muito importante dos rituais egípcios.
Estes a denominavam Crux Ansata, ou Cruz da Vida, símbolo, para eles, da
imortalidade, ou da continuidade da vida
. (LEWIS, 1988: 124).
O nome ankh significa vida, e este, ao contrário do que alguns ocultistas
afirmam, coexistiu com a cruz que possui a parte superior vertical (Idem, Ibidem:
127). Contudo, quando o catolicismo se torna a religião dominante, utiliza-se
somente desta última, como signo de Cristo (crucificado). Com isso, o ankh e
outras cruzes diversas (cruz de malta, cruz celta, cruz fenícia) passam a ser
considerados símbolos profanos, em oposição à sagrada cruz cristã. A Cruz da
Vida é, então, subvertida em Cruz das Trevas.
Secreta ou discretamente, a cruz sobrevive e permanece no tempo. Seu
principal uso e modo de perpetuação se deram no âmbito do ocultismo. O ankh foi
usado como signo de poder, magia, estudo ou expressão dos ideais de certas
linhas de estudo, princípios místicos, ordens secretas e tradições esotéricas.
O cinema, em especial dos filmes de horror, buscou no Ocultismo
12
e no
antigo Egito signos que pudessem incrementar suas produções. Em A noiva de
Frankenstein (1935) por exemplo, o cabelo da protagonista foi baseado em
Nefertiti, esposa de Akhenaton e rainha do Egito (influenciando paródias de filmes
de horror no cinema, em séries televisivas e desenhos animados). David Bowie e
Catherine Deneuve aparecem usando ankh em seus dorsos no filme Fome de
Viver
13
(1983). A justificativa de seu uso tem como base a origem da personagem
12
Subsistema das Sombras que agrega diversas vertentes, escolas, práticas e filosofias relacio-
nadas à magia, ao sobrenatural e à elevação espiritual.
13
Na trilha sonora aparece uma das primeiras e mais conhecidas músicas góticas, “Bela Lugosis’s
Dead” tocada pelo pioneiro Bauhaus. O nome da banda faz referência à escola alemã de mesmo
nome, sendo antes chamada Bauhaus 1919, homenagem ao ano de sua fundação.
28
vampírica, que caminha entre os vivos desde o antigo Egito
14
. Para manter-se
viva, Miriam Blaylock (Deneuve), oferece longevidade a suas vítimas em troca de
seu sangue, mas elas envelhecem aceleradamente após a vampira ter tirado
muito sangue delas.
O ankh é símbolo de imortalidade, aparecendo na mão de deuses egípcios
representando que estão vivos (ainda que no outro mundo) (LEWIS, 1979). A
imortalidade vampírica ganhou mesmo signo. Na quarta capa do livro de RPG
(Roleplaying Game) Vampiro: a máscara (HAGEN, 1994), há a imagem de uma
rosa envolta em uma corrente e um ankh. Existem duas variações deste símbolo
no universo de Vampiro: uma representa uma das organizações vampíricas
chamada “Camarilla” (Figura 4) e outra os “Gárgulas” (Figura 5), sendo o ankh
tradicional usado para representar os “Caitiff”
15
. Os jogos de RPG do sistema
storyteller, do qual este faz parte, oferecem um mundo recheado de elementos
das Sombras, com proposições que apontam vampiros existindo desde Caim (o
personagem bíblico que é castigado após cometer fratricídio) e um mundo
espiritual povoado de lobisomens.
Figura 4
Figura 5
Uma das maiores afinidades do imaginário gótico é o vampirismo, assunto
aprofundado adiante. O ankh, signo das Sombras, é utilizado pelo Gótico. Se sua
função foi se opor às religiões cristãs, assumir o ocultismo, mostrar identificação
14
Ver FAQ 44 em Anexos.
15
“Vampiros seduzidos e abandonados por seus senhores (...) sem clã e indesejáveis, eles são o
resultado de noites impensadas, afeições, Abraços [modo pelo qual um ser é transformado em
vampiro] causados pelo frenesi e erros injustificáveis” (Vários autores, 1999: 54)
29
como vampiros, eleger um símbolo como emblema, ou outra meta específica (ou
nenhuma meta prévia), o importante aqui é entendê-lo na relação do Gótico com
as Sombras.
A identificação desse signo como gótico chega a causar situações
exageradas por parte de alguns. O rosacruz Fillipe Romano
16
conta que foi parado
por um gótico que questionou seu uso do ankh. Fillipe não é gótico, portanto, não
estava trajando uma indumentária característica, e esse foi o ponto de implicância.
O gótico disse que este não poderia usar o ankh, por se tratar de um símbolo da
subcultura. Após diversas tentativas de explicar que este é um símbolo muito
usado pelos rosacruzes, desistiu e seguiu seu caminho
17
.
Recentemente, o ankh surge em uma encarnação híbrida com a cruz cristã,
na Figura 6, feita por Janaina Tokitaka, sobre o princípio alquímico mortificatio, ela
aparece ao lado de um corvo, símbolo da morte que inspirou o poema de Edgar
Allan Poe e o filme sobre o mesmo.
16
Fillipe participou durante um ano de oficinas teatrais que coordenei/ ministrei. Seu relato foi feito
em fevereiro de 2007.
17
Esse tipo de postura costuma aparecer em wannabe’s (neófitos) da subcultura. Para melhor
entendimento desse termo ver F.A.Q. Gótico, pergunta 53, em Anexos.
30
1.2. Fausto
Mas, vem, depois, confuso confessar
Que o homem de bem, na aspiração que, obscura, o anima,
Da trilha certa se acha sempre a par.
Johann Wolfgang Von Goethe (1981: 38).
O Fausto, de Goethe, apresenta algumas das principais Sombras que
atravessam o tempo e permanecem reprimidas na cultura ocidental contemporâ-
nea.
Marshall Berman (1986) divide a obra em três fases, chamadas
“metamorfoses”. São elas “o sonhador”, “o amante” e “o fomentador”. Nas duas
primeiras, Fausto é um homem em Sombras
18
. Ambicioso por conhecimento, ele
entrega-se a estudos que vão da ciência ao ocultismo e vive a angústia de não ter
alcançado a profundidade e amplitude cobiçadas.
Fausto chega a buscar na morte o fim da angústia, mas ao soar dos sinos
anima-se a sair de seus aposentos e se juntar aos conhecidos da cidade. Lá, a
realidade parece mover-se numa marcha que não sai do lugar. Essa constatação
fá-lo retroceder ao estado de crise. Sua mente volta a divagar sobre os atritos da
tradição, do cotidiano, do sagrado, do oculto, do transcendente, do profano.
Essa aparente salvação no domingo de Páscoa para a Luz, libera, como
observa Berman (ibidem: 50 e 51), suas energias da infância reprimidas pela vida
adulta. E sua liberação será o “portal de entrada” de suas Sombras
19
.
Surge em seu aposento a sombra terrível de um cão e transmuta-se na
figura elegante de Mefistófeles
20
. O demônio atravessa o tempo como a mais
profunda Sombra e Goethe dá à sua persona toda complexidade dos aspectos
reprimidos de Fausto. Mefistófeles apresenta-se como animal assustador,
18
“Embora tenha assumido muitas formas, a figura de Fausto tem sido sempre, praticamente, o
‘garotão cabeludo’, isto é, um intelectual não conformista, um marginal e um caráter suspeito
(BERMAN, 1986: 43)
19
Em termos junguianos, o contato e reconhecimento da sombra pessoal.
20
Essa figura inspirou diversos artistas como o húngaro Franz List que compôs peças reunidas sob
o nome de “Valsas de Mefisto”, nome que foi usado por uma conhecida banda gótica norte-
americana, a Mephisto Waltz.
31
imponente, grande, assim como cavalheiro, dotado de grande conhecimento
intelectual, de um raciocínio atento e cínico, com poderes que vão além dos livros
e da alquimia. Ele é potencialmente tudo que Fausto não é ou não se deixa ser.
A negociação da alma à sombra é um dos mitos humanos mais obscuros, é
o pacto sem volta. Mesmo que siga a viver, suas energias vitais serão da sombra
e se desistir da vida, a sombra terá todo o eu para si.
Moonspell, banda de heavy metal gótico de Portugal, retrata essa
passagem, através do ponto de vista do demônio, na música Mephisto:
Como loucos alguns se enforcam
Numa árvore remotamente morta
Alguns discutem, ao mesmo tempo
Para ninguém ouvir
Variações no vazio
Grandes temas de vanglória
E como alguns se tornam feras em estranhas performances
Trajando fantasias que são metáforas
Rindo, eu alimento você
Com jogos, truques e filosofias sem sentido
Por cujas respostas você morreria
Em sua fome por acreditar
Como isso Me diverte
E faz-Me maravilhar
Por quanto tempo foi Meu
Porque agora realmente Me inflama
Como se ignorância fosse meu desejo secreto... Mephisto
Sou um anjo que veste vermelho
Passeio sobre ti, gravando asa de fogo
32
Eu aprendi a voar
Não se lembra?
Enquanto você não desce
De sua árvore remotamente morta
Eu posso ensiná-lo prodígios, se você me der sua alma
Maravilhas e sonhos selvagens podem ser seus
Eu posso ensiná-lo como aço transforma-se em ouro
E como a vida pode envelhecer tanto
Mas eu sou um demônio que veste vermelho
E não espero que entenderá... Mephisto
(Ribeiro: 2006)
É, então, feito o acordo: Fausto torna-se o sonhador que, graças aos
poderes das sombras demoníacas, pode realizar tudo que há ao alcance da mente
consciente!
Os caminhos percorridos por Fausto apontam Sombras antigas, “sempre
em lento movimento” (CASATI, 2001: 26) que permanecem em nossa cultura
21
.
Sua meta não é materialista, diferentemente de outras versões de Fausto, ele
almeja a humanidade, viver e estar em situações, experienciar as dores da
existência sem limites de realização (como sua idade, sua velocidade de
locomoção e seu vínculo com a vida que construíra).
Antes do aparecimento de Mefistófeles, Fausto invoca o Espírito da Terra
que sugere a ele não querer ser Übermensch (“super-homem”), e sim, lutar para
ser Mensch (homem). Isto Fausto será, homem até em seus aspectos reprimidos,
suas Sombras. Personificadas em Mefistófeles, o lado sombrio do herói trágico é
sua fonte de poder, criatividade, movimento dinâmico, e, de acordo com o próprio
demônio, divindade.
O Gótico agrega muito dos paradoxos entre divino e profano, espiritualismo
e materialismo, destruição e criação. Nas palavras de Berman: “Aceite a destruti-
21
Observando que esse movimento inclui mudança de estados, evolução e não Sombras tais
quais, exatamente as mesmas, do tempo de Goethe.
33
vidade como elemento integrante da sua participação na criatividade divina, e
você poderá lançar fora toda culpa e agir livremente. Nada de sentir-se inibido
pelo frio da dúvida moral”(Ibidem:55).
Fausto agora parece dotado de um vigor que o deixa trinta anos mais
jovem, gozando de boa aparência e renovado entusiasmo. Deixa para trás seus
livros e sua busca de conhecimento, veste-se elegantemente e invoca poderes
sexuais e sedutores (sempre incentivado por Mefistófeles). Segunda metamorfose:
“o amante”.
Apesar disso não busca os excessos do prazer, mas apaixona-se por
aquela que representa tudo aquilo que até pouco tempo ele o era. Margarida,
mesmo em posição social diferente e mais ligada à Igreja, estava presa em seu
mundo, sua pequena e devota cidade, seu humilde aposento. Em seu íntimo ela
quer transcender esse mundo e Fausto provoca, com ajuda do demônio, a
consciência dessa vontade.
Uma desenfreada explosão e Margarida passa do estado de ingênua e
inocente para a inteligente cúmplice de Fausto e de suas paixões e amor. Mas sua
sombra pessoal não é o refinado Mefistófeles, e sim, um animal selvagem que
esconde sua natureza dos olhares da tradicional e religiosa cidade. Ela canaliza
todas as suas esperanças, necessidades e ansiedades no seu libertador, Fausto,
que, intimidado, abandona a cidade.
“Seu primeiro movimento o conduz a uma ‘floresta e caverna’, onde ele
medita solitário, imerso em embevecimento lírico, em meio à riqueza, à beleza e à
prodigalidade da Natureza” (BERMAN, Ibidem: 63). Essa paisagem permeia
tendências do imaginário gótico, com índices conectados à transcendência, ao
romantismo gótico, ao paganismo e à bruxaria (capítulo 3.3).
Pensando que nada mais Margarida poderia lhe dar, segue com
Mefistófeles a um orgiástico Sabá de Feiticeiras. “Ali desfruta mulheres
incomparavelmente mais experientes e despojadas; estranhas e maravilhosas
conversações que valem por verdadeiras viagens. (...) com isso, o leitor ou o
espectador, como o próprio Fausto, se diverte” (Ibidem: 63).
34
Mas enquanto o célebre momento gótico ocorre, o mundo de Margarida
depara-se com sua sombra animal e seu caso com Fausto. A cidade identifica sua
própria sombra (i.e. Margarida) e concentra suas energias em reprimi-la, em
eliminá-la!
Sabendo disso, Fausto e sua sombra pessoal voltam à cidade. Ocorre um
espetáculo de caos em que todos se voltam contra Margarida, em que morrem a
mãe e o irmão desta (pelas discretas mãos de Mefistófeles) que a amaldiçoam
antes de seu fim e, finalmente, em que sua gravidez é descoberta.
Margarida busca refúgio no sagrado, mas este opera de maneira
complemente distinta de Fausto. Se os sinos o salvaram da morte, é para ela que
eles a encaminham. Um momento “expressionista em sua escura e desolada
intensidade” (Ibidem: 64)
22
.Subindo às alturas ao som do coro de anjos, Margarida
é contemplada à salvação.
Fausto, então, se entrega a um mundo fantástico, com aventuras que
atravessam o tempo e o espaço. Apaixona-se por Helena de Tróia, busca-a no
tempo, perde-a com o toque, tenta criar a vida na figura de Homúnculo, mas este
se desfaz nas águas do mar ao fugir de seu criador.
Berman não se detém a esta parte da segunda metade de Fausto, trazendo
a atenção para o momento da terceira metamorfose: “o fomentador”.
O tédio predomina no espírito de Fausto e nem Mefistófeles consegue
inspirá-lo a novas aventuras. Contemplando a natureza, o protagonista primeiro
exalta sua força, mas depois se incomoda com seu potencial desperdiçado. Num
momento, enche-se de luz e concentra seu pensamento no projeto: ao divagar
sobre o caos e desorganização da natureza, decide torná-la útil em sua totalidade.
Ao prestar serviços a um rei, recebe deste o direito a comandar terras e aqueles
que nelas vivem. Junto ao demônio busca ordenação e dominação da natureza.
Mas Mefistófeles e seus poderes não são mais tão importantes – em primeiro
plano está a razão!
22
Nesse trecho Berman ressalta que Goethe critica a “visão gótica de mundo”, mas não referindo-
se ao Gótico e sim ao “ideal de vida e ação, de luta heróica na direção do paraíso”, ou seja,
daquele pensamento característico do gótico medieval.
35
A metamorfose de Fausto no “fomentador” é a expressão máxima da
modernidade. Afinal, nas palavras de Zygmunt Bauman: “podemos pensar a
modernidade como um tempo em que se reflete a ordem” (BAUMAN, 1999:11).
Goethe retrata toda irracionalidade por de traz do projeto fáustico. O
protagonista não mede esforços, ele sabe que o progresso só será conseguido ao
custo de suor e sangue. E as barreiras que surgirem devem ser derrubadas e
transpostas.
O casal Filemo e Báucia são os únicos que não acompanham a evolução
acelerada comandada por Fausto. Em suas terras deveria existir uma torre
segundo o projeto fáustico, mas o velho casal não quer deixar suas propriedades,
nem por outra nem por riquezas. Eles são um resquício do mundo antigo que não
quer mudar por não haver razão para mudar. Nenhuma das ofertas de Fausto lhes
é cara, diferentemente da importância de sua ligação com a terra onde passaram
toda uma vida.
Mefistófeles, agora mais próximo de um general, administrador ou
executivo, recebe a tarefa de conseguir aquelas terras custe o que custar. E assim
é feito. As chamas consomem o passado e o caminho é aberto ao progresso. “Isso
é um estilo de maldade caracteristicamente moderno: indireto, impessoal, mediado
por complexas organizações e funções institucionais” (Berman, Ibidem: 77). É
Fausto que incita a maldade, executada por Mefistófeles e seus homens, mas
sente-se culpado ao perceber que a criação do novo implica na destruição do
antigo num ato de violência.
O velho mundo de Fausto incomoda-o. Ele o reprime, entrega às Sombras
e, recusando encará-las, as teme. Os sinos que colocaram Fausto em contato
com sua infância, que adiaram sua morte, que lhe ofereceram a oportunidade de
estar próximo à sua sombra (Mefistófeles), agora lhe causam medo. Sua ira se
volta contra eles que, uma vez condenaram Margarida à morte, causaram o
assassinato de Filemo e Báucia. Negando sua própria maldade, Fausto desfere
36
insultos a Mefistófeles, ao tempo que é atormentado pelos fantasmas de suas
sombras
23
.
Ao final, o próprio Fausto torna-se uma barreira ao progresso, ele bane os
espectros da Necessidade, da Pobreza e da Culpa, mas não consegue o mesmo
com a Ansiedade, e ela o cega. A ele declara, esse espectro de mulher, que
sempre esteve cego. Mas a ansiedade é o motor de Fausto que o levou ao grande
progresso. Se for hora de sucumbir, deixará um novo, ordenado e dinâmico
mundo às gerações futuras.
O demônio exige a alma de Fausto, mas é devolvido às Sombras junto com
sua magia e fantasias. O protagonista ascende à luz divina graças a sua intenção
de fazer o bem, de colocar o progresso como um presente aos homens do futuro.
1.3. Nas Sombras modernas
O Fausto anuncia as Sombras que atravessaram a modernidade nas duas
primeiras metamorfoses. A modernidade é o tempo de busca da ordem, do
controle e da razão, também um tempo que deve ser dinâmico e superar a si
mesmo (a ansiedade decorrente acompanha Fausto até a desencarnação).
“Tudo que é sólido desmancha no ar” declara Karl Marx (in BERMAN:
ibidem e HALL: 2005). E quanto mais avança a modernidade mais veloz e
dinâmica se torna a afirmação. Os vestígios do passado são eliminados por
Fausto em sua última metamorfose e em seu lugar ergue-se a torre. Dela é
possível vigiar as ameaças do passado e vislumbrar as possibilidades do futuro!
A razão moderna é o holofote que irradia a Luz, tão forte, inquestionável e
cotidiana que lançará um contingente proporcionalmente poderoso e volumoso de
Sombras. O descartado demônio estará impregnado de misticismo, magia,
aspectos instintivos, violentos e sexuais do ser humano. A razão reprime aquilo de
que as Sombras se alimentam, o poder das luzes aumenta o reino das trevas.
23
E que reação não seria melhor ao demônio que se dirigir para fora do aposento, elegantemente,
com sorriso nos lábios. A sombra pessoal ri da hipocrisia: “Rindo, eu alimento você/ Com jogos,
truques e filosofias sem sentido/ Por cujas respostas você morreria/ Em sua fome por acreditar”.
(op. cit.)
37
Na modernidade, muitos conversam com Mefistófeles. Se a Fausto
ofereceu os prazeres das orgias, oferecerá também ao Marquês de Sade (1740 –
1814) e às prostitutas do Romantismo. Se ele ofereceu a embriaguez, assim o fará
a Baudelaire (1821 – 1867) e seus paraísos artificiais (assim como a diversos
movimentos juvenis a partir do século XX). Se lhe ofereceu Margarida, oferecerá
aos romancistas pálidas donzelas inalcançáveis. As fantasias e o fantástico foi
dado a Fausto, que voou, resgatou Helena no passado, e ousou brincar de Deus
criando Homúnculo.
Ao ser buscado, Mefistófeles ofereceu as Sombras à Edgar Allan Poe (1809
– 1849), aos romancistas (que reinventaram a Idade das Trevas), aos inventores
fantásticos como o de Mary Shelley
24
(1797 – 1851), às fantasias de horror de H.
P. Lovecraft
25
(1890 – 1973), Stephen King
26
e Chris Carter
27
.
Diversas serão as manifestações artísticas relacionadas às Sombras. São
criações que se alimentam das delas e são assim reconhecidas. O Marquês, por
exemplo, difunde suas idéias e experiências, mas isso não o torna aceito
enquanto norma, é ainda uma oposição à moral e à norma mítica (LORDE, Audre
in ZWIEG e ABRAMS, 2005: 234).
A formação católica orienta sobre os cuidados que se deve ter com o
demônio. Ele é caótico e se manifesta de diferentes formas para enganar-nos.
Pode disfarçar-se de anjo para manipular fiéis aos seus propósitos. Essa
confusão, a multiplicidade de formas que foge à identificação clara, é a moderna
característica do demônio.
Para Bauman (1999), a busca da ordem na modernidade ocorre
principalmente na luta contra a ambivalência
28
. É característico das Sombras (e
24
Na famosa obra Frankenstein de 1816.
25
Nos diversos títulos publicados pelo autor, há uma profusão de fantasia, horror e elementos da
ficção científica. Destaque para o conto O Chamado de Cthulhu de 1926.
26
A produção literária de King é vasta e muitas de suas obras foram adaptadas para o cinema. O
autor é um dos maiores expoentes do horror moderno.
27
A série televisiva, Arquivo X, de Chris Carter é uma fusão entre histórias de horror, conspiração
policial e ficção científica.
28
“A ambivalência, possibilidade de conferir a um objeto ou evento mais de uma categoria, é uma
desordem específica da linguagem, uma falha da função nomeadora (segregadora) que a
linguagem deve desempenhar.” (BAUMAN,ibidem: 09).
38
das sombras) ser ambivalente, parecer uma diversidade de formas, poder mostrar-
se como uma, outra, todas e nenhuma concretamente.
[Essa guerra moderna] Varia com o tempo, dependendo da
disponibilidade de força adequada à tarefa de controlar o volume de
ambivalência existente e também da presença ou ausência de consciência de
que a redução da ambivalência é uma questão de descobrir e aplicar a
tecnologia adequada – uma questão administrativa. Os dois fatores
combinam-se para fazer dos tempos modernos uma era de guerra
particularmente dolorosa e implacável contra a ambivalência. (idem, ibidem:
11)
Como Goethe anuncia na última metamorfose de Fausto, a luz da razão
pode buscar meios radicais para atingir seus fins. Bauman aponta o caso do
“discurso da jardinagem” como meio para a ordem através do homogêneo. Em
citação de 1930 de W. R. Daré (futuro ministro nazista), o autor exemplifica a
lógica deste discurso:
Aquele que deixa as plantas no jardim abandonadas logo verá com
surpresa que o jardim está tomado de ervas daninhas e que mesmo a
característica básica das plantas mudou. Se, portanto, o jardim deve continuar
sendo o terreno de cultivo das plantas, se, em outras palavras, deve se elevar
acima do reinado agreste das forças naturais, então a vontade conformadora
de um jardineiro é necessária, de um jardineiro que, criando condições
adequadas para o cultivo ou mantendo afastadas as influências perigosas, ou
ambas as coisas, cuidadosamente cultiva o que precisa ser cultivado e
impiedosamente elimina as ervas daninhas que privariam as melhores plantas
de nutrição, ar, luz, sol ... Estamos portanto percebendo que questões de
cultivo não são triviais para o pensamento político, que devem estar ao
contrário no centro de todas as considerações ... Devemos mesmo afirmar que
um povo só pode alcançar o equilíbrio espiritual e moral se um bem concebido
plano de cultivo ocupa o centro mesmo da sua cultura ... (Idem, Ibidem: 36)
39
O nazismo lutou contra a ambivalência através de um fortalecimento da
identidade nacional e, principalmente, do anti-semitismo. Afinal, o judeu era a
expressão maior da ambivalência (acima do cigano e do homossexual): nascendo
e vivendo na Alemanha, ele era e não era alemão. Além disso, havia a luta pela
raça ariana pura e homogênea, da qual o judeu não poderia fazer parte.
Sua condição era a do casal de velhinhos, uma barreira frente ao
progresso, à conclusão do projeto. O judeu seria a “erva daninha” a ser “removida
do jardim”.
Mefistófeles riu de Fausto quando este o culpou pelo assassinato do
casal
29
. Ele não havia percebido que seu projeto de desenvolvimento não levou
em consideração aquilo que já tinha existência. Seu projeto para o futuro de
humanidade era tão altruísta quanto egoísta. “Na visão de Goethe, o mais fundo
horror do desenvolvimento fáustico decorre de seus objetivos mais elevados e de
suas conquistas mais autênticas” (BERMAN, ibidem: 82).
A ansiedade em vencer essa luta caracteriza-se pelo desenvolvimento de
novas tecnologias, defende novos discursos, a especialização científica busca
maior autoridade. “A ordem tornou-se uma questão de poder e o poder uma
questão de vontade, força e cálculo” (COLLINS in BAUMAN, 1999:13).
O desfecho das promessas de emancipação através da razão foram ou
cumpridas ao excesso ou não foram concretizadas (SANTOS, 1996). O esforço
em eliminar a ambivalência resultou na emergência de maior volume e
complexidade de ambivalência (BAUMAN, 1999). E disso o demônio há de ter rido
também.
Por fim, a modernidade seguiu seu curso no dinamismo fáustico, ansiosa
em estar num constante movimento de construção e desenvolvimento, o que inclui
abandono, exclusão e destruição. Projetando-se sempre para o futuro, Fausto não
quis seu mundo para si, e sim, para gerações futuras.
29
“Em geral, é a sombra que ri das piadas” (ZWEIG e ABRAMS, 2005: 17). Aquele que é a sombra
de Fausto, ri de sua hipocrisia, loucura ou inocência.
40
Bauman (2002) descreve uma “modernidade dura”, onde as lógicas,
discursos e tecnologias só seriam destruídos para a construção de uma estrutura
mais sólida que a anterior. O socialismo, por exemplo, propunha uma estrutura
nova e mais sólida que a vigente, o capitalismo.
O repúdio e destronamento do passado, e, antes e acima de tudo, da
”tradição” (...) seria feito não para acabar de uma vez por todas com os sólidos
(...), mas para limpar a área para novos e aperfeiçoados sólidos (...),de solidez
duradoura, solidez em que se pudesse confiar e que tornaria o mundo
previsível e, portanto, administrável. (BAUMAN, Ibidem: 9-10)
Essa fase seguiu e transformou o seu estado de sólido para uma
“modernidade líquida”. Para Giddens (2002), a velocidade do dinamismo moderno
estaria muito avançada, com “mecanismos de desencaixe” melhores e mais
acessíveis, ou seja, o poder de destruição, abandono, adesão e construção
estariam disponíveis em maior volume, variando apenas em níveis de acesso (de
acordo com as possibilidades do local e da classe social, por exemplo).
Essa mudança não elimina o poder de grandes instituições nem erradica a
busca de ordem e controle. É observável o poder detido por instituições religiosas.
Contudo ele é dividido entre um número crescente de religiões, igrejas e
assembléias (diferentemente da antiga supremacia de igreja católica). Na questão
do controle, existem diversos modelos de seguro, vida, carro, casa,... que
apontam para uma colonização do futuro, além do desenvolvimento acelerado de
protetores de informação digital como anti-vírus e firewalls, circuitos fechados de
televisão em condomínios, escolas, empresas e vias públicas, enquanto meios de
vigiar e controlar, objetivando maior ordem e segurança.
Com essa nova configuração de dinamicidade e distribuição de poder, a luz
moderna entra para ordem do fluxo, da fluidez:
Os fluidos (...) não fixam espaço nem prendem o tempo (...) os fluidos
não se atêm muito a qualquer forma e estão constantemente prontos (e
propensos) a mudá-la; assim, para eles, o que conta é o tempo, mais do que o
41
espaço que lhes toca ocupar; espaço que, afinal, preenchem somente por um
tempo. (BAUMAN, ibidem: 8)
Nas Sombras, Ordens secretas perpetuam sua tradição no tempo. Seu
conhecimento e seus ensinamentos foram decodificados em signos dos quais
somente seus membros saberiam seus significados, interpretações, lógicas e
tradução. Foi o caso do ankh, da cabala (e suas interpretações e usos), do
pentagrama, de rituais antigos, de sistemas mágicos e filosofias místicas.
O Gótico, na contemporaneidade, relaciona-se com a lógica da tradição e
da substância, esquivando do fluxo e efemeridade moderna como veremos
adiante.
Antes de prosseguir nas relações do Gótico e das Sombras, vale ressaltar
que as Sombras (e o Gótico) não estão isolados, impenetráveis e imutáveis.
Afinal, segundo a Teoria Geral dos Sistemas, não existem sistemas fechados na
natureza. Logo, elementos da modernidade, da moral e da norma mítica também
tendem a estar nas Sombras (ainda que sutis ou camuflados), assim como
elementos característicos que compõem as Sombras também se replicam em
diversos outros sistemas.
CAPÍTULO 2. EMERGÊNCIA DO GÓTICO
Muitos autores já trataram da emergência do Gótico, com destaque para o
trabalho de Mick Mercer (1988 e 1994). Há na internet duas fontes de informação
confiáveis e bem apresentadas sobre o assunto nos sites Scathe Daemon e The
Maozoleum (o primeiro em inglês e o segundo em português).
Portanto, não se faz necessário apresentar aqui novamente uma história do
Gótico. Ao invés de repeti-la, será proposta uma cartografia, ou seja, índices serão
apontados objetivando criar possibilidades de entendimento da relação do Gótico
com as Sombras.
42
Antonio Bivar (2006), em seu estudo sobre o Punk, lançado em 1992,
oferece algumas pistas das Sombras no contexto da juventude. Partindo delas,
torna-se possível tratar de algumas imagens do Gótico e sua emergência
30
.
2.1. Jovens nas Sombras
ERA O DEMÔNIO QUE ESTAVA À SOLTA e estava tipo assim ferroando as jovens
carnes inocentes, e era o mundo dos adultos que podia assumir a responsabilidade por
isso com suas guerras, bombas e besteiras.
Anthony Burgess (2004: 43)
Povoados de um imaginário sombrio, os existencialistas
31
criticavam o
sentido da vida ou a ausência deste sentido. Marcados pelo contato com duas
grandes guerras, viam na existência um absurdo ou uma ironia.
O Existencialismo estava permeado de elementos das Sombras que
incomodaram a moral da época:
Fosse moda ou filosofia, as boas famílias da época queriam que seus
filhos fossem tudo, menos existencialistas. Tudo que é rebelde tem um não-
se-quê de excessivo. Excesso de pessimismo, excesso de álcool, excesso de
droga. Quando não excesso de violência. E promiscuidade (amor por demais
livre). E falta de dinheiro. Sim, porque se o cara pensa ou sonha muito, ele
não ganha dinheiro. Assim pensa a família. (BIVAR, 2006: 9-10)
Também contou com um visual próprio chamado “new look” [novo visual],
em atrito com a alta costura. Veremos em outros índices a indumentária sendo
utilizada como acessório para atingir a distinção. Abramo (1995), com relação à
indumentária juvenil (assim como suas atitudes públicas,) propõe um aspecto de
30
Afinal, “que o gótico está intrinsecamente ligado ao punk, quanto a isso não há dúvidas”
(HELFENSTEIN, 2004: edição 25)
31
Ligados a Filosofia e a Literatura, os existencialistas surgem no final do século XIX e atravessam
o século XX rumo à contemporaneidade. Muitos são os expoentes do Existencialismo, destacando
Soren Kierkegaard (1813 – 1855), Jean-Paul Sartre (1905 – 1980) e Simone de Beauvoir (1908 –
!986).
43
espetáculo urbano nesse processo. O comportamento jovem enquanto espetáculo
público evidenciaria seu caráter político.
Beatniks, adiante no tempo, trariam como emblema seu gosto pelo escuro e
pela roupa preta. Eram ligados à esquerda política em países de direita. “A
postura beat tinha muito de existencialista. Jovens letrados da classe média baixa
e alta querendo tudo que fugisse aos rigores escola-família-vida doméstica”
(BIVAR, Ibidem: 14)
Muitos deles viajam sem destino, buscam elementos de outras culturas, o
ocultismo, o espiritismo, a magia (branca e negra), a ufologia, a yoga, os “paraísos
artificiais” e o erotismo.
Diferenciando-se desta boemia literária que ouvia jazz, os roqueiros não
estavam fortemente preocupados com as letras e sim com a ação (ao som de
rock’n’roll). O visual escuro permanece como principal.
Nos anos 60, o “movimento hippie não só assimilou as idéias, a cultura e os
sonhos dos beatniks, mas também incorporou o outro lado dos anos 50, o
rock’n’roll (agora tratado como música pop). E acrescentou um terceiro dado,
então novíssimo: o LSD” (idem, ibidem: 21). Nesse período a predominante cor
preta cai em desuso, dando lugar a um imenso colorido. As cores e o LSD
ganharam o título de “psicodélico”.
Dessa hibridação emergem bandas, movimentos e novas formas de rock. O
rock progressivo de Yes, Pink Floyd, Rick Wakeman e outros foram pioneiros num
rock super-técnico, com megaproduções em shows e gravações. Andy Warhol, o
Pop Art e o Velvet Underground, contaminados por um espírito reacionário,
ascendem para um “reacionário chique”
32
. Tanto o rock progressivo quanto a pop
art “venderam” seus elementos das Sombras ao mundo, tornando-se conhecidos e
caros. A Imprensa
33
exalta-os em larga escala, eles estavam em revistas,
televisão, jornal, cartazes e rádio. Com isso, distanciando-se mais e mais do
Hippie.
32
A proposição de resistência aos padrões da norma da cultura feita por esses grupos apresentava
um aspecto e organização burguesas, mais elegantes do que o movimento hippie.
33
Para este estudo especificamente, o uso do termo “Imprensa” será usado como referência aos
meios de comunicação de grande alcance, seja por audiência, distribuição ou popularidade de
larga escala.
44
Um outro duro golpe desferido contra o movimento hippie, além de ver seus
principais representantes enriquecendo e abandonando o estilo para um mais
elegante, foi a nomeação de Charles Manson e seus seguidores como hippies. A
mesma Imprensa que ergueu o rock progressivo (e também o glam rock) busca
criar uma imagem marginal dos hippies. Charles Manson e seus seguidores
assassinaram Sharon Tate (1943 – 1969) e amigos
34
, esboçando o lado mais
cruel e irracional das Sombras. Foi, então, associando certos elementos das
Sombras aos hippies
35
que a Imprensa atingiu sua meta.
Esse processo se repetirá muitas vezes. Ao trazer elementos das Sombras
à Luz para dar-lhes visibilidade, identifica-os no papel de inimigo
36
.
No “rock chique” havia também a vertente conhecida como glam rock
(abreviação de glamour rock). Os artistas (aparecendo em maior número em
carreiras solo e não em conjuntos) dessa vertente apresentavam uma grande
preocupação com seu visual. Eles apresentavam-se como personagens, eram
performers. Seus álbuns conceituais assemelhavam-se a filmes.
O Glam Rock é também espaço para o rock homo e bissexual. Nele, Lou
Reed e David Bowie escancaram suas vidas particulares reforçando essa
característica
37
.
A reação ao rock setentista ocorre através de jovens de classe média e
baixa. Estes esboçavam um visual agressivo, repleto de adaptações que eles
próprios realizavam. Por sua baixa renda, adquiriam roupas baratas, em geral
compradas em bazares de paróquias. Essa indumentária de segunda mão tinha o
problema de ter rasgos e ser maior ou menor que o manequim do comprador.
Com isso, eram feitas muitas adaptações, costurando emblemas em furos,
34
O grupo formado por Manson (que acreditava ser Jesus Cristo), conhecido como “Família
Manson”, formou uma comunidade ao estilo hippie em Spahn Ranch. Sua intenção era assassinar
pessoas brancas e desaparecer para que a comunidade negra fosse acusada pelos crimes, dando,
desse modo, início a uma guerra. Contudo, Linda Kasabian, uma das integrantes da comunidade,
denuncia Manson e seu grupo.
35
O Hippie é um subsistema das Sombras, mas não agrega todos ou quaisquer elementos das
Sombras, como os aspectos violentos do caso Manson.
36
Visibilidade que costuma vir acompanhada de rótulos como imorais, irracionais, subversivos,
satanistas, depravados.
37
“Lou casa-se com um travesti chamado Rachel(...). Questionado pela revista Playboy de como
conhecera Angie, então sua mulher, Bowie responde: ‘Nós estávamos saindo com o mesmo
homem’”. (Idem, Ibidem: 29)
45
colocando alfinetes para remendar, criando rasgos, cortando mangas e golas.
Esse novo visual emerge de uma maneira criativa de lidar com a falta de dinheiro,
e acaba por tornar-se o estado característico daqueles jovens. Calças e camisas
apertadas, roupas grandes demais, rasgadas, tênis detonados, passam a ser
procurados até por aqueles que têm condições de adquirir outro tipo de
indumentária, pois esta passou a ser a imagem dos jovens que se identificam com
esse movimento.
Eles trabalham com o mínimo, suas músicas são simples e diretas, algumas
com apenas pouquíssimos acordes; as bandas eram compostas por poucos
integrantes, tocando com equipamento precário; a sonoridade agressiva e rápida
não apresenta preocupações com erudição ou afinação rigorosa. Eram formas de
se opor ao virtuosismo e às superproduções do rock, especialmente do
progressivo.
“Punk” era um adjetivo pejorativo, usado como ofensa aos marginais da
sociedade.
Punk geralmente era aquela gente que “não prestava”, criaturas
marginalizadas que serviam de inspiração à letras das músicas de Lou [Reed]:
drogados, sadomasoquistas, assaltantes mirins, travestis, prostitutos
adolescentes, suicidas, sonhadores, enfim, estrelinhas cadentes de certa
barra pesada de Nova Iorque, gentinha com a irresistível (para a época) aura
de santidade maldita. (Idem, Ibidem: 40)
O adjetivo será o substantivo pelo qual serão chamados (inicialmente) os
jovens ingleses
38
descritos acima. O movimento punk ou, o subsistema Punk,
emerge nas Sombras. A cor preta volta ao destaque (junto a cores chocantes), por
influências diversas como o minimalismo, a blank generation, a revisitação ao Beat
e ao Existencialismo. Malcolm McLaren, por muitos considerado o “pai do Punk”,
após tempo em contato com os New York Dolls, nos E.U.A., muda o nome e as
38
Americanos reivindicam a emergência do Punk para si, pois os E.U.A. organizou os elementos
deste antes da Inglaterra (i.e.. antes do movimento ser nomeado). De acordo com Bivar, esta
disputa perde legitimidade posto que os elementos eram existentes em vários locais ao mesmo
tempo, de modo que o Punk poderia ter emergido até em São Paulo.
46
roupas de sua loja: as roupas e acessórios apresentam um misto de couro com
elementos sadomasoquistas, tendo a cor preta como básica.
McLaren também vendia discos. Alguns jovens freqüentadores de sua loja
(recém batizada “SEX”) formaram o famoso grupo Sex Pistols, empresariados pelo
próprio Malcolm. Surgiram diversas oportunidades de apresentação e a Imprensa,
após assisti-los, transformou-os em notícia, destacando sua agressividade. O
Punk contamina jovens em larga escala e rápida velocidade. Emergem mais e
mais bandas, mais e mais punks. Muitos se organizam em gangs e turmas.
Do it yourself [faça você mesmo] era a máxima do Punk. Jovens constroem
sua próprias maneiras de ser punk. Roupas modificadas com incrementos de
símbolos, emblemas, manchas, mensagens, correntes, spikes [espinhos de
metal]. Cabelos pintados, cortes não convencionais, brincos e piercings aparecem
num espetáculo que se dá na agressiva (e muitas vezes exagerada) imagem dos
punks.
O Punk é reificado e altamente comercializado. As matérias sobre Punk
vendem muito bem e as gravadoras buscam bandas para lançar no mercado. A
expansão ocorre de maneira explosiva.
No Punk, a ordem é o confronto, contra o que quer que se possa ser contra.
Ele é a força juvenil de resistência a realidades utópicas e a celebração do
desconforto e clima dos bairros pobres. E, apesar do que muitos pretendiam, o
Punk evitava reconhecer-se como movimento político. Ainda que o fosse, não
havia intencionalidade em sê-lo. Temas incômodos das Sombras eram exibidos
em espetáculos punk e assim construíam o que muitos deles chamam de “atitude
anarquista”.
Mais que nunca o público faz parte do show, num fogo cruzado de
visual confrontando visual, o estilo punk. Temas como a Gestapo, a suástica,
a Cruz de Malta, o crucifixo de ponta cabeça, Karl Marx – o punk é contra o
Centro, contra a Direita, contra a Esquerda. (Idem, Ibidem: 60)
47
2.2. Emergência
Eu não sou um idiota
Alguém que usa as palavras
Para protestar, para contestar
Mas para me satisfazer
Poesie Noire (1988)
Antes de entrar no assunto principal deste capítulo, é importante abordar o
uso do termo “gótico”. Tanto revistas quanto livros e sites, tendem a apresentar o
termo como se este fosse suspenso do contexto empregado, ou seja, como se
cada vez que uma informação fosse associada a “gótico” estivesse fazendo
referência ao mesmo sistema.
A revista Smack! (2005) voltada para meninas entre 12 e 17 anos, em
matéria sobre a identidade gótica, apresenta uma construção histórica do Gótico
partindo do gótico medieval, passando pelo Romantismo até os dias de hoje.
Nessa construção, sempre que o termo “gótico” aparece como denominação de
algo (período histórico, movimento artístico, subcultura etc.) esse algo é entendido
como uma diferente manifestação do mesmo sistema. Destaco alguns trechos da
matéria que ilustram essa constatação: “Faça silêncio profundo e saiba como as
meninas góticas encaram a vida. Elas se encontraram em um movimento muito
antigo, que começou no início da Idade Média e se manifestou como um novo
estilo de arte”. Na página seguinte reforça: “Como na Idade Média, os góticos do
século 21 são extremamente sensíveis e sofrem com tudo” (RUSSO, 2005: 36-
37). Em destaque no rodapé da página encontramos os seguintes agradeci-
mentos: “Gesse Alves Pereira, pesquisador e diretor de arte, João Carrascosa
escritor e doutor em comunicação e Márcia Lígia Guidin, doutora em literatura”.
Fica claro que buscavam comunicar confiabilidade através dos especialistas,
enquanto colocavam os nomes das redatoras responsáveis pela matéria (Noelly
Russo e Lili Maruyama) discretos, em um canto da página.
48
O livro Goth Chic: um guia para a cultura dark
39
, primeira tradução de um
livro sobre o Gótico para português (e única até o momento), carrega o mesmo
princípio. São apresentadas conexões em uma narrativa que pode induzir o
entendimento do Gótico como uma recorrente histórica linear. O mesmo ocorre em
sites sobre o sistema, como em www.profeciasnet.com.br ou (mais sutilmente) em
www.gothiccastle.net.
“Gótico”, na Idade Média, era um adjetivo relacionado aos Godos, povo
bárbaro de comportamento grosseiro e agressivo. Suas características são,
portanto, sintetizadas neste adjetivo, que virá a ser usado (com forte conotação
pejorativa) como nome de um período da Idade Média.
Em Bizâncio (968 d.C.) havia uma manifestação cênica chamada
gothikon
40
, na qual “homens usando máscaras terríveis e vestidos com peles de
animais representavam (...) um tipo de pantomima cultual, acompanhada de
gestos selvagens e gritos bárbaros” (BERTHOLD, 2004: 181). Esta manifestação
reflete a maneira pela qual o termo “gótico” era empregado.
Já no Romance Gótico, o termo se relacionou com aspectos bizarros e
fantásticos. Havia neste também o uso de cenários medievais em histórias que
criariam seu próprio olhar sobre a Idade Média. Horace Walpole (1717 – 1797),
Clara Reeve (1729 – 1807), Ann Radcliffe (1764 – 1823), Bram Stoker (1847 –
1912), R. L. Stevenson, C. R. Maturin (1782 – 1824), Mary Shelley, entre outros
trouxeram elementos das Sombras para suas construções literárias.
Observaremos, contudo, que as relações destes com as Sombras são distintas da
maneira com a qual o Gótico o faz. A partir do Romance Gótico, o uso do termo
passa a fazer referência ao bizarro, ao horror, ao sombrio e ao fantástico.
O artista glam, David Bowie, em 1974 classificou seu álbum Diamond Dogs
como gótico (HELFENSTEIN, 2004: edição 25). Em sua capa temos Bowie e duas
mulheres meio humanos, meio cachorros, num desenho estranhamente bizarro,
mostrando, na versão proibida pela censura, os genitais animais.
39
BADDELEY, 2005.
40
O gothikon é uma celebração “de origem gótica, subseqüentemente latinizada, com insertos
greco-romanos no estilo de cerimônias da corte bizantinas, o gothikon é provavelmente mais uma
prova da mescla de elementos pagãos e cristãos, que pode ser repetidamente observado no teatro
primitivo do Ocidente” (BERTHOLD, 2004: 182).
49
O rótulo “gótico” foi empregado por diversos artistas de rock entre a
segunda metade dos anos 1970 a 80. Muitos deles reivindicam serem os primeiros
a usá-lo. Por exemplo, havia uma piada feita com o vocalista da banda Sex Gang
Children, chamado de “goblin gótico”, e os fãs da banda foram conseqüentemente
chamados de “góticos”. UK Decay diz também ter usado o nome (e como piada
também) em uma entrevista à revista Sounds para nomear o tipo de linha que
seguiam (na época, haviam lançado o álbum Black Cat [Gato Preto] baseado no
conto de mesmo nome de Edgar Allan Poe) dentro do rock.
Essa disputa sobre quem foi o primeiro a usar o termo ocorreu
principalmente porque o Gótico se tornou uma grande moda nos anos 1980.
Livros, filmes, desenhos animados, histórias em quadrinhos e roupas foram
fortemente relacionados com o Gótico, na época. Mas a moda passou. O Gótico
permaneceu, discreto em suas Sombras, seu underground.
O indeterminado processo de nomeação da subcultura foi tão confuso,
rápido e simultâneo quanto sua emergência. Por mais que seja apresentada uma
narrativa, a leitura de novas referências sobre o assunto pode trazer diferentes
implicações. Baddeley amplia a emergência para os aspectos característicos de
seu país, os E.U.A., e Mercer faz um recorte mais europeu. Cada autor apresen-
tará de maneira diversa a história do Gótico
41
.
Uma das primeiras referências ao Gótico está na juventude do final da
década de 1970 e início de 80. A força jovem tinha como principal vertente o Punk,
mas nem todo jovem estava afim com este. Mesmo entre os punks, alguns
seguiram uma linha menos agressiva, com um foco que não se voltava para a
crítica social. A lógica do it yourself foi usada na busca de elementos com os quais
prefeririam identificar-se.
Muitos mudaram a postura de anarquia para ironia. Ao invés da lógica de
destruir os modelos existentes, característica do Punk, outros jovens (punks ou
não) ironizavam aspectos da cultura vigente, característica mais relacionada à
postura existencialista. Essa postura compreendia desde o social ao pessoal, em
41
Apresento essa constatação não como uma crítica ao trabalho desses autores nesse sentido,
mas como uma observação relevante. Se a pesquisa ocorresse na Alemanha teríamos um outro
olhar e construção histórica do Gótico, diferentemente dos autores supracitados.
50
uma atitude de descrédito, de visão decadente da sociedade, de denúncia da
hipocrisia salpicada de humor (tanto ácido quanto bufônico).
Na música, o ritmo caracteristicamente punk ganha um aspecto mais tribal.
Algumas bandas desaceleram as frenéticas batidas, e mais adiante no tempo
muitos substituem o baterista por baterias eletrônicas. A atmosfera sonora e as
apresentações das bandas carregam um clima cada vez mais distinto do punk.
Um grupo de punks conhecido como The Bromley Contingent [O
Contingente de Bromley] tinha como local de reunião o apartamento de Siouxsie
Sioux
42
(Figura 7). Eles foram os principais expoentes quanto ao visual no
movimento. As garotas do contingente eram conhecidas por “Cat-Women”
[Mulheres-Gato],
Com maquilagem carregada nos olhos, com desenho preto e grosso
puxado para cima, nos cantos; garotas em minivestidos de malha de algodão;
ou vestidos por apenas uma camisa de homem bem larga e gravata; cabelos
quase raspados e descoloridos (ou coloridos por cores loucas: o rosa-choque,
o verde-bílis, o vermelho-hemorragia, o azul-capri, o azul-pavão, o roxo-
batata). Ou o preto total e reluzente. (BIVAR, ibidem: 48)
Figura 7
42
Nome que assume como referência à tribo norte-americana em 1979, seu nome verdadeiro é
Susan Ballion.
51
O Punk perde muito dessa preocupação visual, enquanto o Gótico (desde
os primórdios) a incorpora e amplia. Observando a banda Siouxsie and the
Banshees é possível identificar as batidas tribais (e sua evolução para batidas
com sonoridades mais pop) e o visual que perpassa o Punk e o Gótico. Siouxsie
Sioux na Inglaterra e Anja Huwe (X-Mal Deutschland) na Alemanha foram os
principais expoentes visuais femininos do Gótico nos anos 1980
43
.
Inicialmente, as primeiras bandas góticas inglesas eram tidas como punks.
Robert Smith, conhecido por sua banda The Cure, foi também integrante do
Siouxsie and the Banshees, declarou em 1992 para a revista Propaganda: “A
primeira safra de bandas punks tinha se enfraquecido e uma nova leva surgiu em
1979 e 1980. Esses novos grupos eram mais sombrios e melancólicos – e menos
anárquicos” (in BADDELEY, 2005)
Em Londres, uma casa de shows reuniu os principais expoentes do Gótico
primordial. Seu nome é Batcave
44
.O clima era mais obscuro, diferenciando da
colorida moda vigente do New Romantic e do New Wave. Com tendências que
hibridaram o glam rock (especialmente de Bowie) com elementos do horror e do
sombrio. Com isso, este lugar foi um centro de convergência dos jovens e bandas
afins com a proposta da Batcave. As principais bandas da emergência do Gótico
tocavam na casa, ao vivo e em discotecagens. A casa não foi estruturada com
foco na emergente cena gótica, mas a afinidade das tendências do imaginário fê-
la ser o espaço gótico mais conhecido até a atualidade.
Depoimentos de freqüentadores da casa
45
oferecem uma imagem
importante: era um local divertido! A obscuridade presente não era tensa,
carregada de signos mórbidos agressivos, mas um divertimento sombrio.
Essa fusão visual do glam com o obscuro foi um divisor de águas que
caracterizou fortemente o Gótico. E junto vieram a androgenia e a grande
43
Apesar de Siouxsie mostrar um repúdio contra esse status de imagem exaustivamente copiada
tanto no Punk quanto no Gótico, além da negação dela e dos banshees dos rótulos de banda punk
e, mais enfaticamente, de banda gótica. (BADDELEY, ibidem: 215)
44
“Batcaverna” ou caverna do morcego, faz referência ao local secreto do herói de Histórias em
Quadrinhos da Detective Comics, Batman.
45
No site de Pete Scathe www.scathe.demon.co.uk
52
preocupação com roupas, maquiagem e acessórios. A música “Boys” [Garotos] do
Bauhaus (também freqüentador da Batcave) descreve como se maquilam os
rapazes (com delineadores e rouge) antes de ir à diversão:
Parecendo tão bem
Rouge e delineador
Coisas que extravaso
Assim como Nancy
46
(MURPHY, 1979)
O aspecto sombrio do Gótico aparecia de diversas maneiras. Poderia vir
com uma profunda imersão melancólica e introspectiva, ou apresentava-se
pessimista, distópico, desiludido ou mesmo como ironia (com ou sem preocupação
crítica) e humor negro.
Essa cartografia indicial aponta a emergência do Gótico com base na
Inglaterra. Nos E.U.A., há índices diferentes desta emergência. Nesse país há
uma grande ligação com os filmes de terror, principalmente àqueles classificados
como “splatter”, caracterizados por muito sangue, sexo e pouca preocupação com
a elaboração da argumentação, entre eles O Massacre da Serra Elétrica (1974),
Sexta-Feira 13 (1980) e Colheita Maldita (1984). Havia também as sátiras de
clássicos do horror cinematográfico americano, como Família Adams
47
e Os
Monstros
48
. Dois irmãos permearam o imaginário dos norte-americanos, o escritor
Howard Phillips Lovecraft e o serial killer Edward Gein (1906 – 1984)
49
. E o índice
mais importante decorre do rock de horror que acompanha a história do rock nos
46
A música é inteiramente construída com rimas infantis numa tonalidade afeminada. “Features so
fine/ Rouge and eyeline/ Things I fancy/ Just like Nancy”.
47
Série da TV estadunidense do produtor David Lery e o cartunista Charles Adams, veiculada na
emissora NBC , estreou em 1964.
48
Mesmo ano de estréia da anterior, é veiculada pela emissora concorrente, a ABC, produzida por
Irving Paley e dirigida por Norman Abbott e David Alexander. A principal diferença entre as
Famílias Monstro e Adams é a classe social, sendo a primeira uma família de classe média e a
outra uma excêntrica família rica.
49
Gein matou mulheres, criou “roupas” de mulheres, “decorou” sua casa com suas peles e guardou
genitais em uma caixa. Essa história verídica inspirou filmes de terror e suspense como o já citado
Massacre da Serra Elétrica (no personagem Leatherface) e Silêncio dos Inocentes (1991).
53
E.U.A. desde os anos 1950 e tem como seu principal expoente (a partir dos anos
70) o Death Rock.
O Death Rock traz elementos do Punk, dos filmes de terror e do humor
negro. É difícil determinar se o Death Rock se consolidou antes ou junto com o
Gótico, mas foi aquele que mais se aproximou deste em termos de modo de
relação com as Sombras. Algumas bandas podem ser citadas como referência,
Misfitis, Christian Death, 45 Grave e Super Heroines. Atualmente alguns
consideram o Death Rock filiado ao Gótico enquanto outros o consideram
autônomo com relação ao último
50
.
Um importante pensamento referente ao Gótico desde sua emergência foi
desenvolvido por Paul Hodkinson (2002) em seu livro Goth: identity, style and
subculture [Gótico: identidade, estilo e subcultura]. Com o tempo, os góticos e a
subcultura gótica estavam cada vez mais distantes do Punk
51
. Eles tornaram-se
distintos inclusive de outras tendências pós-punk.
Apesar da aparente simplicidade de elementos no Gótico, as conexões
estabelecidas com as Sombras são muitas vezes desconexas, quando compara-
das a vertentes diferentes (subsistemas) do sistema. Ao mesmo tempo, não é
qualquer relação com as Sombras aceita pelos diversos góticos (ainda que
pareçam próximas). O século XXI é marcado por uma disputa sangüínea referente
ao heavy metal gótico. Há uma linha de pensamento predominante entre os
góticos que afirma “metal é metal, gótico é gótico”; outra, procura, apesar das
diferenças, caminhar de maneira paralela (ou junta) com ambos; e uma outra
proclama o heavy metal gótico como uma evolução do Gótico. E esse é apenas
um exemplo visível da luta por relativa distinção e substância.
50
Para este estudo dois fatores destacam o Death Rock como diverso ao Gótico, sua
agressividade e seu caráter mais masculino.
51
Hodkinson pesquisou e desenvolveu seu trabalho com base na cena gótica britânica, portanto, a
referência de antecedência é a cena punk.
54
C
APÍTULO 3. GÓTICO
Por toda parte, um zoológico de Frankensteins, Mortícias, Dráculas, Cruelas
Cruéis, Siouxsies e Karloffinhos se espremiam em papos cabeça sobre teorias científicas,
óvnis, literatura dark, filmes de Tim Burton e outras profundidades cataclísmicas.
Arthur “Dentinho” Veríssimo (2004)
No capítulo anterior foram apontadas pistas da emergência de subsistemas
(Existencialismo, Beat, Hippie, Glam, Punk, Death Rock e o Gótico), contemplando
um eixo comum: a relação destes com as Sombras. O Gótico, último subsistema
referido, percorreu um processo de emergência pouco claro, tanto pela falta de
informação (muitas vezes decorrente de carência de registros históricos), como
pelo excesso de informação (como no caso da nomeação da subcultura, dos
diversos pontos de vista ou da simultaneidade de acontecimentos).
Nunca fora escrito um “manifesto gótico” bem elaborado esclarecendo o
que é o Gótico, e muitos que se aventuraram em levá-lo à Luz foram
surpreendidos pela ambivalência e pelo caos de seu subsistema
52
.
No desativado site Neogothz, havia uma página dedicada a uma
categorização das diversas vertentes do Gótico, com um texto simples e algumas
imagens ilustrativas. Contudo, as explicações não eram condizentes com o
subsistema. No dia 17 de junho de 2006, o responsável pelo site postou na
comunidade Góticos do Brasil:
aliás, há muito tempo atrás eu tinha um site com mesmo nome
[Neogothz]... bem polêmico por sinal... Aliás, ele não existe mais, eu
FINALMENTE revi meus conceitos e mudei meu jeito de pensar... Não sou o
mesmo daquela época :-) (...) Bruno, realmente o mundo é pequeno
hehehehe... lembro que muita gente ficou indignada comigo quando eu fechei
o site sem dar satisfação e coloquei apenas "NEOGOTHZ ESTÁ MORTO" :-)
(...) Aliás, eu fechei o neogothz.com e fiz o www.darkrock.net... No entanto,
52
Como é o caso do terrível “O Manifesto Gótico” escrito por Desedéruim (nome que preservou o
anonimato de quem o elaborou) publicado no site
www.profeciasnet.com.br, incoerente,
tendencioso a uma visão pessoal com pouca ou nenhuma pesquisa sobre o assunto (vide Anexos).
55
esse último é mais voltado exclusivamente para a cena rock/metal finlandesa
:-)
Figura 8
56
Na mesma comunidade, outro internauta disponibilizou imagem da revista
Spin contento uma matéria bem humorada sobre as principais vertentes do Gótico
sob uma ótica estadunidense (Figura 8). Com humor mais exagerado, alguns
disponibilizam listas com mais de 100 vertentes da identidade gótica
53
.
O esforço da dissertação é apresentar o Gótico sem iluminá-lo em demasia.
Ao mesmo tempo, alguma luz é necessária para investigar quais elementos e
relações tendem a caracterizá-lo. Essa luz (lunar) será a Teoria Geral dos
Sistemas
54
.
Todo sistema
55
é constituído de três parâmetros básicos ou fundamentais:
permanência, meio ambiente e autonomia. O primeiro, refere-se ao conceito
ontológico que todas as coisas tendem a permanecer. O Gótico permanece desde
os anos 1980, aproximadamente, e tende a permanecer por muito tempo. Isso
decorrente do fato deste estar em ambientes favoráveis e em relações que lhe
possibilitam autonomia. Helfenstein (2005: edição 28) identifica numa terceira
geração de bandas góticas como época de maior fortalecimento da cena, longe da
Imprensa e em organização de caráter underground.
Pela ótica do estudo subcultural desenvolvido por Paul Hodkinson (op. cit.),
a autonomia é possível junto a uma consistente e relativa distinção (em relação a
outras subculturas especialmente), a um sentimento de identidade (reconheci-
mento e participação) e ao comprometimento.
Dependendo da natureza do grupo em questão, subculturas são
passíveis de dar conta de uma considerável proporção do tempo livre,
padrões de amizade, rotas de compra, coleção de artigos, hábitos de saídas
[going-outs] e até uso de internet (...) até aqueles góticos que relutam em
localizar-se explicitamente como membros, a subcultura costuma dominar
seus estilos de vida na prática. (Idem, ibidem: 31)
53
www.geocities.com/gothicunity/gothtypes.html
54
Concebida por Maria Bunge, aparecerá em consonância com seu desenvolvimento na
elaboração de Jorge de Albuquerque Vieira (2000, 2006). É da natureza desta teoria uma
abrangência que flexibiliza sua aplicação a objetos distintos, uma que vez que define um sistema
como “um agregado de elementos que são relacionados entre si ao ponto da partilha de
propriedades” (idem, 2006: 88).
55
Nesse caso, a teoria se aplica ao estudo tanto do Gótico como da Sombra, uma vez que um
subsistema é também um sistema.
57
Um fator decisivo indicado pelo autor é a auto-sustentação do Gótico. A
satisfação dos parâmetros sistêmicos básicos se deve muito ao fato dos góticos
serem, eles próprios, os alicerces do sistema. As diversas festas, encontros, sites,
comunidades digitais e listas de discussão são concebidas, realizadas e
propagadas por góticos entusiasmados e/ou comprometidos com a subcultura.
Henrique Kipper
56
é um excelente exemplo. Quando o indaguei sobre como
começou a organizar encontros góticos, respondeu que queria uma boa noite
gótica, visto que na época as opções eram poucas e insatisfatórias. Começou a
organizar e promover encontros e hoje é um dos responsáveis pelos encontros
Theatro dos Vampiros e Gotham City, que gravitam em torno de duas temáticas
diferentes, contemplando assim públicos góticos de vertentes mais específicas.
Além disso, é responsável pelo site The Maozoleum, um dos mais (senão o mais)
importantes sobre a subcultura gótica (e vampyrica como veremos adiante).
A autonomia e o ambiente favorável à permanência do Gótico possibilita a
Hodkinson afirmar que a subcultura é mais notável “por sua substância do que por
sua efemeralidade” (ibidem: 33).
Todo sistema está em constante movimento, portanto, sua permanência no
tempo não é estática, mas evolutiva
57
. Tal evolução compreende alguns
parâmetros: “composição, conectividade, estrutura, integralidade, funcionalidade e
organização, todos eles permeados e regidos pelo parâmetro mais fugidio e talvez
mais importante, a complexidade” (VIEIRA, ibidem: 89).
A composição refere-se ao conjunto de elementos das Sombras (ou outro)
que venham a agregar o Gótico (em sua diversidade e quantidade). O parâmetro
conectividade esboça os modos pelos quais os elementos apresentam em
conectar entre si e entre outros sistemas (ambiente). A estrutura refere-se à
quantidade de conexões em instantes de tempo. Integralidade é a capacidade de
56
Kipper, Lord A:. e Flávia Flanshaid são importantes nomes da cena gótica paulista. São
responsáveis por eventos na cidade e divulgam importantes artigos e referências sobre o Gótico
(como a tradução de trechos do estudo de Hodkinson e resenha de livros relacionados à
subcultura) em seu site
www.themaozoleum.com.
57
A idéia de movimento na comunicação encontra referência na Semiótica de Peirce, na
“amplitude da sua noção de signo, que já carrega a semente do movimento – uma vez que se faz
sobre a noção de cadeia, de continuidade” (KATZ, 2005: 22).
58
desenvolvimento de subsistemas. As diversas propriedades do sistema e seus
subsistemas referem-se a seu parâmetro funcionalidade e a apresentação dos
diversos parâmetros refere-se a sua organização. Parte de todos os parâmetros,
intrínseca a estes e seu referencial evolutivo é a complexidade do sistema.
Para ilustrar um panorama do Gótico, serão apresentadas algumas das
principais tendências do sistema. Isso implica em destacar os principais elementos
que o compõem e maneiras pelas quais tendem a se organizar. Essas tendências
aparecem em letras de música, nos temas dos encontros, na indumentária e
mesmo no cotidiano dos góticos.
Aqui será apresentado o principal quadro da relação do Gótico com as
Sombras. Todas as tendências aqui trabalhadas oferecem uma gama de
elementos reprimidos que formaram um sistema que cria estados diferentes de
composição. A magia, por exemplo, ganha novo estado de apresentação quando
trabalhada pela banda Inkubus Sukkubus, que se utiliza princípios da tradição
mágica em músicas que agregam signos sonoros da música gótica com signos de
música folk européia. Na música “Dark Mother” [Mãe Obscura], há elementos do
imaginário pagão combinados com a atmosfera gótica:
Nossa mãe obscura Rainha da Noite
Pela porta da Morte guie-nos à luz
Pela dor liberte-nos
Nossa mãe obscura Rainha da Noite
Permita-nos renascer novamente
Agora a Morte veio, e a Morte beijou
Canção graciosa da Morte está névoa adentro
Os sonhos de juventude trazem um sorriso cínico
Mas meu amor não há de morrer
59
3.1. Obscuridade
Dê me um ninho de existência mórbida
Ataraxia (1999)
Para o gótico27
58
ser gótico é “ser obscuro, saber viver com melancolia,
basicamente isso”. Nem todos os góticos responderiam com tal ênfase na
obscuridade, posto que muitas vezes é nela que reside o grande estereótipo
gótico. É muito comum ao gótico ouvir de outsiders
59
: “Góticos dormem em
cemitérios, não é? Vocês são satanistas! Vocês bebem sangue mesmo?”
Visando esclarecer associações como estas, superficiais, estigmatizantes e
muitas vezes perigosas para o Gótico, Flávia Flanshaid e Henrique Kipper
disponibilizaram em seu site (o já citado The Maozoleum) perguntas e respostas
sobre a subcultura e identidade gótica
60
. É uma importante contribuição para a
cena brasileira e, por trazer linguagem informal, proporciona um fácil acesso à
informação, especialmente (mas não só) para outsiders.
Todavia, mesmo com todos os problemas e estereótipos decorrentes, “mais
obviamente talvez, o estilo gótico revolve sobre uma ênfase geral em artefatos,
aparências e música apropriadamente considerada obscura, sombria e, às vezes,
macabra” (HODKINSON, ibidem: 41).
Alguns realmente não esboçam preocupação com essa tendência e usam-
na para reafirmar sua condição gótica. Observemos o início do texto que o fanzine
A Guilda
61
apresenta em seu manifesto de abertura:
Saudações obscurantistas. A GUILDA sai do ventre das trevas para se
manifestar no mundo decadente dos vivos. O coletivo que compõe a mesma
58
Nas citações das entrevistas é referido “gótico X” ou “gótica X”, sendo X a idade do entrevistado.
Ver também em Anexos.
59
Os termos outsider [estranho, intruso] e insider [íntimo] têm como base o original em Hodkinson
(2002), por seu prefixo delinear àqueles que são parte do sistema (in/dentro) e os que estão à
parte dele (out/fora).
60
Este se encontra na sessão Anexos. Sempre que for citado aparecerá como FAQ X, sendo X o
número da pergunta.
61
O fanzine encontra-se em Anexos e está disponível no site www.platiquenoir.com.
60
vem por meio deste manifesto apresentar suas propostas de operação e
divulgação da subcultura gótica no estado do Ceará, nas suas mais variadas
manifestações sócio-culturais, tais como música, literatura, cinema, teatro,
ocultismo, moda, quadrinhos, pintura, História, estética, modificação corporal e
escultura. (destaque meu)
Essa tendência à obscuridade é um dos maiores indicadores a diversas
outras tendências do Gótico. Na literatura, por exemplo, encontraremos diversas
referências obscuras como Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo, ou Drácula,
de Bram Stoker (página 48). A magia e o espiritismo carregam aspectos sombrios
consigo, muitas vezes explorados em filmes (como em Os Outros (2001) e Bruxa
de Blair (1999), com destaque para a segunda parte
62
). Relembrando, a Batcave
era uma mistura do Glam com filmes de horror.
Na capa do álbum For Madmen Only [Apenas para Loucos] do UK Decay
63
,
(Figura 9) lançado em 1981, observamos um desenho expressionista, com corpos
bizarros, nus e deformados, contando com um contraponto feminino de duas
imagens no lado esquerdo, uma sorrindo com um ar de prazer e outra, mais
autoritária, apoiando uma de suas mãos sobre a primeira e a outra mão
empunhando uma espada. De acordo com Abbo, vocalista da banda em turnê na
época de lançamento do álbum: “Hoje nossas letras abordam, de alguma forma,
temas como sexo, morte e misticismo – ‘gótico’ é como descrevemos esse estilo
na Inglaterra...” (in BADDELEY, ibidem: 199).
A tendência à obscuridade está relacionada também à conexão do Gótico
com o Expressionismo. Esse movimento estético/artístico aparece muitas vezes
associado ao Gótico, tanto por seu caráter sombrio quanto na deformação estética
como expressão de sentimentos humanos.
Mais do que na pintura, as relações estão mais próximas ao cinema. Em
encontros góticos é comum exibirem em telões filmes de horror como O Gabinete
do Dr. Caligari (1920), Nosferatu (1922) e O Gato Preto (1934). Rozz Williams das
bandas Christian Death e Electric Hellfire Club participou da trilha sonora de
62
A Bruxa de Blair 2: o livro das sombras (2000).
63
http://recordcollectorsoftheworldunite.com/artists/ukdecay/ukdecay.html
61
Nosferatu: The Gothic Industrial Mix [A Mixagem Gótico Industrial] (2001), uma
versão do filme de Murnau de 1922 recheado de músicas góticas e industriais. Em
1999 a banda gótica Killing Process compôs sua própria “trilha sonora” para o
filme, Symphony of Terror [Sinfonia do Terror], que era executada ao vivo
enquanto o vídeo do filme era exibido na tela
64
. Bernard Albrecht, guitarrista do
Joy Division, descreveu o filme da seguinte forma: “a atmosfera é realmente
maléfica, mas você se sente à vontade dentro dela” (in BADDELEY, ibidem: 191).
Figura 9
O Joy Division, na figura de Ian Curtis, introduz no Gótico o horror
psicológico, com temas depressivos, demônios internos e crises existenciais. O
nome “Divisão da Alegria” faz referência a uma área onde oficiais nazistas tinham
relações sexuais com prisioneiras judias. Curtis, após profunda crise de
depressão, comete suicídio, deixando ao Gótico, a música de maior repercussão
para a banda, Love Will Tear Us Apart [Amor Nos Separará]
65
.
64
Em outubro de 2006, a banda Terminatryx também criou sua versão para performance ao vivo
com o filme Nosferatu, apresentada no South African Horror Fest [Festival de Horror Sul-Africano].
65
Música composta com inspiração em sua grande decepção amorosa.
62
Figura 10
O primeiro single de sucesso do Bauhaus, Bela Lugosi’s Dead, traz
diversas imagens do ator e, em sua capa (Figura 10), cena do filme The Sorrows
of Satan [A Tristeza de Satã] (1925) (do qual Bela Lugosi não participou), do
cinema mudo de horror em preto e branco.
Lugosi teve destaque em seu papel como
Conde Drácula, no ano de 1931, deixando
como marca o sotaque característico deste
vampiro no Cinema
66
.
O modo como a maquiagem foi utilizada
no cinema expressionista teve sua influência
no visual gótico (Figura 11). Afinal “maquiar-se
também serve para isso: aumentando o
excesso de uma parte levemente na sombra,
dá-se ao rosto impressão de uma profundidade maior” (CASATI, ibidem: 15).
Nick Cave and the Bad Seeds, uma das
principais referências do Gótico norte-americano, tem
seu nome baseado no filme Tara Maldita [Bad Seed no
original] (1956). Afinal, não só o Expressionismo foi
fonte de elementos para o Gótico, mas diversos filmes
outros que se relacionam a aspectos obscuros, como O
Exorcista (1973), Entrevista com o Vampiro (1994), O
Corvo (1994), Halloween (1978), A Lenda do Cavaleiro
Sem-Cabeça (1999) e outros filmes de Tim Burton e as
diversas produções de horror da Hammer Films. Há
também séries televisivas como Além da Imaginação
(Twilight Zone: CBS, 1959), A Quinta Dimensão (The
Outer Limits: ABC, 1963), Contos do Além (Tales from
the Crypt: HBO, 1989), Arquivo X (Fox, 1993) Charmed
[Encantadas] (Warner Bros., 1998), Supernatural [Sobrenatural] (Warner Bros.,
Figura 11
66
O ator é romeno e aprendeu suas falas em inglês foneticamente, o sotaque característico de sua
nacionalidade foi usado por outros atores que viriam a interpretar o conde.
63
2005), Carnivalle (HBO, 2005), Ghost Whisperer [Sussurrante Fantasma] (Sony,
2005).
A morte é também um dos temas mais recorrentes do Gótico. Muito do
fenótipo gótico está relacionado com a palidez de um cadáver ou vampiro. É usual
que a ambientação do imaginário gótico seja o cemitério (Figura 12). Esse cenário,
contudo, é determinante na construção do estereótipo gótico como o de
freqüentadores de cemitérios. Muitos, no entanto, nunca foram ao cemitério,
tratado como local de encontro ou festa. Alguns até chegam a invadi-lo uma ou
duas vezes, à noite (escassos ultrapassam esse número) por curiosidade ou para
uma reunião gótica. Nos sites, blogs e fotologs há uma grande incidência de
imagens e artigos sobre arte cemiterial
67
.
Figura 12 – Queen of Goth, moda gótica
Por outro lado, sempre há àqueles que levam o imaginário “ao pé da letra”.
Foi o caso de um casal de jovens na cidade de Franca, interior de São Paulo, que
roubou um caixão do cemitério, pois queria um para usá-lo como cama e as
funerárias não os comercializam sem atestado de óbito. Eles invadiram o
67
Vide www.spectrumgothic.com.br/gothic/acervo_cemiterial.htm, www.gothiccastle.net, e
www.beatrix.pro.br/cultobsc/artecemetry.htm.
64
Cemitério da Saudade, região central da cidade de Franca, violaram o túmulo,
limparam o caixão, deitaram-se nele e beberam vinho no crânio da falecida (no dia
11 de novembro de 2006).
Rapidamente, a Imprensa atacou não somente o casal de jovens, mas
todos os góticos. No Portal de Notícias Globo, a matéria destaca: “Gótico tenta
roubar caixão de cemitério para usar como cama”
68
; no portal Cosmo On-Line:
“Gótico furta caixão para dormir dentro”
69
. Sonia Abraão traz o casal para seu
programa de televisão, “A Tarde é Sua”, e fervorosamente ministra um agressivo
sermão. Calmamente, eles defendem seu ponto de vista e seus motivos, se
arrependendo somente da ofensa e desrespeito à família da falecida. O Gótico
pode apresentar estados de relação com as Sombras que podem incomodar até
os mais radicais góticos. A apresentadora, em uma política e inesperada atitude,
dá voz a outros góticos em seu programa. Temos, então, um esclarecimento de
diversos pontos sobre o Gótico, especialmente sobre a inexistente necessidade
dos insiders serem freqüentadores de cemitérios.
Nos primórdios do Gótico havia uma forte inclinação para a morte vista sob
uma ótica romântica. Muitas músicas que tocavam na Batcave carregam esses
traços em suas músicas
70
.
68
http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,AA1365087-5605,00.html
69
http://www.cosmo.com.br/cidades/franca/integra.asp?id=178000. Muitos góticos e participantes
de outras subculturas se manifestaram no site, vejamos um depoimento:
“não estou aqui pra defender ninguém muito menos julgar, eu só gostaria deixar bem claro que
nem todo mundo que gosta/anda/se veste/prefere/usa roupas pretas são góticos, pois existem
vários estilos musicais e estilos de vida que usam tal tipo de roupa e nem por isso são góticos. O
que mais me estressa é que a SOCIEDADE depois desse acontecimento além de rotular todos os
que usam preto de góticos, também irão achar que os mesmo são bandidos/loucos como esse tal
de J.P.D. [abreviação do nome do violador]
Ele na verdade é um "Zé Ruela, Poser" que estava tentando chamar a atenção e existem vários
meios de se obter um caixão, seria muito mais fácil e simples c ele tivesse pedido a alguma
serralheria que o fabricasse o artefato, bom esse é meu ponto de vista, Não sou gótico, ando de
preto e nem por isso sou bandido, LIBERDADE DE EXPRESSÂO A TODOS, E FIM AOS
RÓTULOS DE UMA SOCIEDADE BURGUESIA QUE NEM MESMO SABE SE IDENTIFICAR”.
70
Mas nem todos apreciavam tal inclinação, como é o caso de Robert Smith: “(...) a música era
terrível. Todo aquele negócio de morte romântica! Qualquer um que já viveu a morte de perto pode
dizer que ela não tem nada de romântica” (in BADDELEY, ibidem: 205, 206).
65
Há aqueles que se relacionam com o arquétipo da morte de um modo
divertido e descontraído, como numa dança macabra
71
. Caveiras costumam fazer
parte desse contexto, aparecendo em roupas, acessórios e artefatos góticos. Duas
caveiras, aparentemente dançando, aparecem
comicamente na capa do EP “Love Under Will”
[Amor Sob Vontade] da banda Blood Roses, cujo
nome aparece ao lado do olho de Hórus
72
e junto
a um ankh (Figura 13). Em uma exposição de
objetos de madeira com desenhos pirográficos no
Theatro dos Vampiros, havia caixões em
miniatura com temas góticos na tampa
comercializados como “porta-trecos”.
Já os góticos Q23 e Q35
73
acreditam numa
relação contemplativa no arquétipo da morte: “O gótico contempla a morte e nela
enxerga atributos positivos que a sociedade não enxerga” (Anexos). Num foco
psicanalítico, há realmente algo de positivo nessa postura:
Figura 13
Meditações sobre a morte, cadáveres e nascimento podem ser úteis
para lidarmos com o lado escuro biológico, pois eliminam a fantasia mórbida,
despertam-nos para nossa própria mortalidade e nos recordam que a mutação
– a morte bem como a vida – é uma constante universal. (EICHMAN, William
Carl in ZWEIG e ABRAMS, ibidem: 157)
O visual dos góticos carregou e ainda carrega muito do tema em roupas e
acessórios. Sobre 1983, Marc Almond da banda Soft Cell relata que:
71
A Dança Macabra emergiu na Idade Média como uma festa dedicada ao tema da morte, com
pessoas das diversas camadas sociais dançando e festejando em uma alegoria que se dirigia ao
cemitério, continuando a celebração neste local. A dança pode ser observada na tradição cultural
mexicana contemporânea, porém sem dirigir a festa ao cemitério.
72
Símbolo egípcio que aparece muitas vezes relacionado à Magia, ao Paganismo e ao Gótico.
73
Em Anexos, segue o questionário elaborado por Camila Oliveira Querino e as respostas obtidas
no encontro Nordeste Gothic Reunion em 2006. Sempre que for citado algum destes entrevistados
a referência será a letra “Q” seguida da idade do gótico(a).
66
A moda daquele ano era o gótico – roupas pretas, batom preto, renda
preta, cabelo preto – você podia incluir qualquer coisa desde que fosse preta.
Rostos pálidos, bijuterias imitando ossos, qualquer coisa que lembrasse morte
estava na ordem do dia. (artigo “ Cronologia – o uso moderno do termo Goth”
in
www.themaozoleum.com)
Atualmente, permanece integrante do imaginário o arquétipo da morte.
Vejamos como a letra da música Six Feet Under [A Sete Palmos] do Plastique Noir
(
www.plastiquenoir.com) (2006) carrega hibridações deste com aspectos existen-
cialistas, melâncólicos e românticos:
Hoje é um belo dia
Para morrer ao seu lado
Por favor, não me peça para ficar
Porque este é um caminho sem volta
Eu escrevi uma carta de suicídio
A vida é injusta e a morte
Pode ser melhor
A morte apresenta discreta e timidamente uma relação entre o Gótico e a
necrofilia, mas este elemento das Sombras parece causar mais incômodo do que
aceitação entre os góticos.
Edgar Allan Poe, em seu poema Annabel Lee (escrito em 1849), esboça
traços necrofílicos. Após declarar todo seu amor à falecida amada, ele fecha o
poema: “E assim ’stou deitado toda noite ao lado/ Do meu anjo, meu anjo, meu
sonho e meu fado/ No sepulcro ao pé do mar/ Ao pé do murmúrio do mar”
74
. Este
foi musicalizado pelas bandas Ataraxia e Cruxshadows. H.P. Lovecraft, no conto
The Loved Dead [A Morte Amada] (1923), também mostra suas inclinações a esse
mórbido imaginário e seu irmão, Edward Gein, chega a guardar vaginas em uma
caixa e criar roupas com peles de mulheres por ele assassinadas.
74
http://www.spectrumgothic.com.br/literatura/autores/allan/annabel.htm
67
No video-clip da música “Where the Wild Roses Grow” [Onde Crescem as
Rosas Silvestres], Nick Cave tem uma relação necrofílica com Kylie Minougue,
sendo a letra da música uma narrativa de sedução e assassinato (Figura 14).
Há também diversas imagens em sites góticos que mostram uma certa
necrofilia. Vejamos algumas imagens coletadas nos sites Gothic Castle (Figuras
15 e 16), Alliance & Angst Projekt (Figuras 17 e 18) e no blog
www.evanescence2304.blogger.com.br (Figuras 19 e 20).
Figura 14
Figura 15
Figura 16
Figura 17
Figura 19
Figura 20
Figura 18
68
Em um artigo de humor negro intitulado “Necrofilia para Iniciantes”, abaixo
da imagem de góticos em um bar segue a sátira: “Se você quer entrar de cabeça
em necrofilia por que não começar tentando com um gótico?”
75
.
Todavia, nem todo elemento no Gótico é obscuro. Em muitos momentos
aparecem contrapontos quase ou totalmente opostos à obscuridade, mas que
ainda assim mantém coerência com o sistema. Isto porque as tendências não
convergem obrigatoriamente em todos os pontos, pois há estados onde a relação
tem considerável distância. A coerência também costuma ocorrer pela relação
com as Sombras e nem todo elemento desta é obscuro.
Na Figura 21 temos, em imagem concebida pelo fotógrafo gótico Stéphane
Lord
76
, uma figura angelical. A banda Ataraxia (Figura 22) apresenta, muitas
vezes, um visual que destoa do Gótico, pois este está intrinsecamente relacionado
a tendências que vão da Literatura à Magia e o Paganismo.
Figura 21
Figura 22 – Francesca Nicoli
75
http://www.neonbubble.com/article/necrophilia-for-beginners
76
Lord é um artista conhecido entre os góticos, suas imagens circulam em blogs e fotologs na
internet. Diversas obras suas compõe o livro The 21
st
Century Goth de Mick Mercer (2002).
69
3.2. Literatura Gótica
A Literatura, desde a emergência do Gótico, foi uma importante fonte de
informação, especialmente nas obras ligadas às Sombras. Todavia, uma vez mais
vale sublinhar que o Gótico não é resultado da evolução do Romance Gótico (ou
do Expressionismo e Decadentismo), mas que há um permanente estado de
relações entre eles, principalmente por apresentarem comunicação nas Sombras.
Três góticos entrevistados por Querino no 1º Nordeste Gothic Reunion
[Reunião Gótica Nordeste], em Salvador, (Q22, Q23 e Q35) reconhecem na
Literatura um primeiro contato com o Gótico, e todos os quatro entrevistados
citaram Álvares de Azevedo como referência literária (vide Anexos).
Antes de prosseguir o estudo de relações, é importante apresentar a
Literatura Gótica.
Em seu amplo estudo sobre a literatura gótica, Davis Punter
caracteriza-a como uma forma literária que, presente sobretudo na literatura
de língua inglesa e nascida no início da revolução industrial, não se prende a
um determinado período histórico, mas onde quer que surja ( e seu papel na
literatura romântica inglesa e norte-americana foi preponderante) marca-se
pelo irrealismo, por uma certa ênfase na descrição terrificante, uma insistência
nas ambientações arcaicas, no uso conspícuo do sobrenatural; na presença
de personagens extremamente estereotipadas e na tentativa de desdobrar e
aperfeiçoar as técnicas do suspense literário. (MENEZES, 1994: 48)
As narrativas góticas dominam o “mercado da narrativa” e gozam de grande
popularidade no fim do século XVIII, influenciando os românticos do início do
século XIX, marca que aparece em Wordsworth, Blake, Coleridge, Shelley, Byron
e Keats. Tomemos um exemplo:
dentro de Coleridge havia um estranho território da memória e do
sonho, de pássaros estranhos, navios fantasmas, mares árticos, cavernas, os
70
sons de instrumentos não-terrestres e de figuras assombradas, movendo-se
por um cenário onde a magia reinava num mundo além do controle da razão.
(EVANS in MENEZES, ibidem:49
)
O estudo de Philadelpho Menezes (idem: 53-61) ressalta algumas cisões do
Romantismo inglês frente à revolução industrial, em direção ao irracional, ao
intuitivo, ao fantástico e à ambigüidade – sendo notável no modo como o terror é
apresentado, como uma deformação da realidade pelo narrador que conduz o
leitor à incerteza.
Menezes indica que o gótico romântico, como o grotesco renascentista,
tinha natureza popular, mesmo com escritores reconhecidos. Ambos
apresentavam uma postura crítica “a temas tabus como o sexo, o passado e a
hierarquia da ordem natural ou social”, sendo que “a ruptura com os tabus no
grotesco renascentista se dá pela sátira que desautoriza o tabu” (Idem, Ibidem:
53), com a diferença de que tal quebra no gótico romântico tem como conse-
qüência punições trágicas.
De volta ao Gótico, tem-se, por
um lado, aqueles góticos que se
relacionam com a sátira e com a ironia,
com o grotesco dos excessos, a quebra
do padrão estético vigente, que pode ser
observado no fenótipo de alguns (Figura
23). Por outro lado, há os tipicamente
românticos que, apesar de estarem ou
viverem à sombra do Gótico, encerram
em seu comportamento um sentimento de culpa e decadência. E o que parece
permear ambos é o anti-realismo e grande valorização estética.
Figura 23 – góticos na Bélgica
Talvez por herança do Glam, talvez por sua ligação com o Romantismo, o
Gótico comunica fantasia, recriação estética do real, um caráter performático que
salta aos olhos de outsiders. É o espetáculo juvenil, caminhando como
personagens que se libertaram da ficção dos livros e desenhos para propor viver
71
uma realidade, ou comunicar uma proposta de um utópico estado da realidade
somente possível na imaginação. Por isso mesmo encontraremos góticos
vampyros (capítulo 3.3.1), magos e feiticeiros (convivendo com góticos céticos que
enxergam exagero em tais vertentes). Essa ruptura com o racional, com os
padrões da realidade permite uma fuga do presente no presente. Outra
ambivalência nas Sombras.
Na introdução do livro “Páginas de Sombra”, Braulio Tavares (2003) aponta
um subgenêro que chamou “ciência gótica”:
Tensão permanente entre racional e irracional (...) são histórias que
têm um pé na ficção científica, utilizando muitos dos seus aparatos exteriores
(cenários, personagens, artefatos) mas que se recusam a lidar com a lógica, a
verossimilhança e a plausibilidade científica que os adeptos de ficção
científica hard tanto valorizam. Na ciência gótica, a parafernália tecnológica e
a pseudo-racionalização materialista estão a serviço de situações bizarras,
grotescas, impressionantes. (idem, ibidem: 15)
Fausto fez seus experimentos, mas quem deu o toque gótico e abriu as
portas do horror moderno foi Mary Shelley. A ciência utilizada pelo Dr.
Frankenstein está longe de ser realista, lembrando que a obra emerge de dias de
contação de histórias de horror no Lago Léman. Nessa atmosfera estava ela, seu
futuro marido Percy Bysshe Shelley (1792 – 1822), Lord Byron (1788 – 1824) e
John William Polidori (1795 -1821), autor do romance “O Vampiro” (apresentando
o arquétipo moderno deste que viria influenciar Bram Stoker e Annie Rice).
Nesses dias (1815), confinados pelo mau tempo, os quatro escreveram estórias,
incentivados por Byron.
Os filmes B de horror apresentam muito da ciência gótica, com destaque
para “os cientistas loucos criados no cinema por atores como Peter Cushing,
Vicent Price, Boris Karloff e tantos outros [que] serviram muitas vezes como
reencarnações popularescas do mito do Dr. Fausto”, difundindo a ficção científica
como catástrofes decorrentes de experimentos ambiciosos (idem, ibidem: 16). E a
última grande encarnação da ciência gótica áudio-visual, Arquivo X. Dois agentes
72
do FBI deparam-se com os mais fantásticos acontecimentos numa sombria
atmosfera, permeada pelo atrito entre ceticismo científico da agente Scully e as
provocações sobrenaturais e paranormais do agente Mulder.
Aqui, será proposta uma ampliação do conceito de “literatura gótica” para
um de “literatura relacionada ao Gótico”. Portanto, obras existentes que foram e
ainda são conectadas ao sistema, pois muitos títulos afins são posteriores à
emergência do Gótico. A esta, chamar-se-á “Literatura Gótica”, grafada em
maiúscula por referência ao Gótico e para diferenciá-la do uso feito pela Literatura
em nível acadêmico sobre a rubrica.
Incluiremos nas tendências literárias, além das referências já citadas, a
poesia romântica e o mal do século. Charles Baudelaire, um poeta íntimo das
Sombras, tem ao menos uma importante referência, As Flores do Mal (2001). Num
grau menos expressivo, há também a obra Paraísos Artificiais (2001), originado do
poema em prosa Do Vinho e do Haxixe. Anterior às Flores, Baudelaire exalta o
vinho, ao tempo que relega ao ópio e ao haxixe uma classificação de meios débeis
de sensação de transcendência, de “vislumbrar o Olimpo”. Uma interessante
coincidência, visto que os góticos tendem a ser apreciadores da bebida
dionisíaca
77
. Menos coincidente, no entanto, é a relação do vinho com os rituais
pagãos, com o misticismo e com o vampirismo.
E a literatura foi fonte de informação que, em sua constante relação com as
Sombras, contemplou diversos arquétipos de vampiros. Drácula, de Bram Stoker
(1998), está no cume do subsistema e é uma das referências imediatas. Na
Inglaterra, a baía de Whitby é local do maior evento gótico do globo. O Whitby
Goth Festival [Festival Gótico de Whitby] é lá realizado por ser o cenário central da
trama de Drácula.
Annie Rice cria personagens que muito diferem do conde. Seus vampiros
são mais sensuais do que sexuais, mais românticos que bestiais, suas
preferências quanto ao gênero da vítima importam menos do que os atrativos do
espírito. Enquanto o conde Drácula só busca o sexo oposto, os vampiros de Rice
77
Um dos principais atrativos da Thorns Gothic Rave [Espinhos Rave Gótica] foi o vinho
gratuitamente distribuído.
73
pouco parecem preocupados com o gênero. Mas ambos são cúmplices de uma
vertente de auto-identidade conhecida como “vitorian gohts” [góticos vitorianos].
Estes tendem a vestirem-se com roupas típicas do período vitoriano em toda
indumentária ou parte dela. A maior parte deles se vestem e maquiam como
vampiros.
A popularidade de Rice e do visual característico de seus vampiros está
intrinsecamente relacionada à adaptação de um de seus romances para o cinema,
Entrevista com o Vampiro (1994). Filme de cabeceira para os góticos dos anos
1990, mas não tão bem visto no século XXI (por ser uma referência clichê de
wannabes). Posteriormente, com um orçamento menor e um elenco de menor
porte foi lançado A Rainha dos Condenados (2002), um pop purri de três livros da
autora.
No Brasil, André Vianco corajosamente se projeta na literatura de horror
com vampiros na Terra de Santa Cruz. Infelizmente, o autor é menos quisto pelos
góticos do país do que haveria de se supor. Há, na cena gótica brasileira, uma
forte inclinação de focar a cena européia. Com o olhar para aquela cena, muito da
produção brasileira no subsistema ou a ele associada perde força.
Este quadro parece estar sendo revertido nos últimos anos, mesmo por
novos insiders, num movimento de resgate à memória nacional e apoio das
bandas do país. Teremos este ano (2007) a banda cearense Plastique Noir
representando o Brasil num dos maiores eventos góticos, o Wave Gotik Treffen
[Onda Gótica de Treffen] em Leipzig, Alemanha.
Seres das Sombras ressurgem nos livros de RPG.
Estes têm grande relação com o Gótico, num estado de
comunicação muito próximo. Em sites, blogs e fotologs de
góticos é possível encontrar imagens de ilustrações de
livros de RPG
78
. Na ambientação de Ravenloft [Ninho do
Corvo], parte do famoso sistema de jogo “Advanced
Dungeons &Dragons”, o artista Robh Ruppel concebeu
imagens [Figuras 24 e 25] que circulam na internet, como
Figura 24
78
Circulam também imagens extraídas de jogos de RPG e terror para videogames.
74
nos casos da crescente moda de criar apresentações de imagens referentes ao
imaginário, com trilha sonora gótica no site You Tube (
www.youtube.com). No livro
de ilustrações do universo AD&D, “Os Mundos da Magia” (GOUVEIA, 1994), as
ilustrações de Ruppel aparecem junto ao seguinte texto:
Nos arredores do cemitério, o luar desperta antigas maldições. O grito
dá lugar ao gemido profano... e a noite fica ainda menos segura. O terror
agora vive dentro de você, como uma sombra negra a seguir-lhe os passos. A
neblina arrebata-o tão profundamente que penetra em sua pele fria,
enregelada. Você foi seduzido. Agora e para sempre, você é parte de
RAVENLOFT (Idem, Ibidem: 89)
Essa somatória de clichês da literatura de
horror esboça aspectos com os quais os góticos se
relacionam ao imaginário obscuro do RPG na
Literatura Gótica.
A principal referência do Gótico nos livros de
RPG encontra-se na vasta produção da White Wolf
Game Studio. Ela é responsável pelo sistema
storyteller [contador de história], ambientado quase
exclusivamente no mundo Punk-Gótico.
Primeiramente, eram os autores (destaque
para Mark Rein-Hagen) que buscavam no Punk e
principalmente no Gótico inspiração para seu universo. Os cenários e os
personagens estavam intrinsecamente ligados aos elementos das Sombras e o
modo como os subsistemas citados os organizavam. Com o passar do tempo, as
conexões ocorreram e também os góticos se apropriaram do modo como a White
Wolf organizou os elementos sistêmicos. Assim, cada vez há mais dificuldade em
identificar qual sistema está a contaminar o outro. É bastante comum encontrar
góticos em encontros de RPG, como também é comum encontrar rpgistas em
eventos góticos.
Figura 25
75
O fotolog carioca “Cria da Noite” dedica-se a publicar imagens que alguns
fazem de si mesmos vestidos de vampiros, magos e lobisomens seguidas de ficha
técnica descritiva da personagem que representam (
www.fotolog.com/criadanoite).
A maior incidência de personagens está no arquétipo do vampiro com
indumentária característica da subcultura gótica.
O universo vampírico na White Wolf é o mais próximo do Gótico. Este foi
fonte para os filmes com referências no subsistema e baseados no RPG, “Anjos
da Noite” (2003) e “Anjos da Noite – a evolução” (2006).
A afinidade dos góticos com a literatura pode ser também observada em
saraus. Através da internet, principal ferramenta de comunicação dos góticos do
século XXI, encontros literários são organizados. Existem diversas listas de
discussão que engendram direta ou indiretamente nesse contexto, como Post
Scriptum, Teen Gothz, Noites Alternativas, GothicBook, Artglam Gothic e, com
foco específico no horror, Tinta Rubra (todos no Yahoo! grupos).
E não são somente discussões e apreciações sobre Literatura Gótica
ocorrem entre os insiders, mas produções também. Os mais jovens são aqueles
que tendem a publicar um maior volume de poemas e contos. O site de moda e
produtos góticos e pagãos da loja Profecias
79
recentemente abriu espaço para
poemas no link “Templo de Poemas”, com composições inéditas de brasileiros.
Outros sites apresentam poemas escritos pelos góticos do país:
www.paginagotica.com, www.poemas-goticos-topo.weblogger.terra.com.br,
poemasgoticos.zip.net, www.poeta_gotico.kit.net/poemas-goticos.html,
www.sombriasescrituras.com.
Como exemplo dessa produção, segue abaixo o poema “Sonâmbulo” de
autoria de gótica18:
Perdido nas noites soturnas
Apenas seus passos,
E sua sinfonia solitária
Ecoam no murmúrio lamentoso dos espectros bruxuleantes
79
www.profeciasnet.com.br
76
Erguidos nas fagulhas sibilantes da chama do Breu
Seria esse o sonho predito?
Um promessa de um reino projetado
Sobre as ruínas de um castelo jamais visto
Seria este o destino indubitável e perene?
Sua ascensão e tomada de seu poderio
Não mais foi que uma cópia fantasiosa da realidade
Acordai e vedes a luz
Que os círios jamais puderam iluminar
Retornai à nebulosidade sóbria
Que o sono etéreo jamais prostrara a vossos pés
Quando desejos oníricos despertarem
Com a lamúria de mais um pesar
Regressará eternamente
Ao espelho partido do infinito
O HQ também pertence à essa tendência. Uma das primeiras referências
de herói sombrio encontra-se no personagem Batman, um ser noturno, nascido da
tragédia, que constrói seu mundo na escuridão de uma caverna. As referências do
Gótico nas diversas produções artísticas aparecem tanto na revista mensal,
quanto em séries especiais como Asilo Arkham, de Dave McKean, ou nas versões
cinematográficas, com destaque para as de Tim Burton.
Outras se encontram nos HQ’s Spawn da Image
Comics, em Darkness da Top Cow e na linha Vertigo da
DC Comics temos Preacher e Sandman (que será
aprofundado no capítulo 4.1). Este
último é o que mais diretamente
incorpora elementos do Gótico em
sua construção, com destaque para
a personagem Morte (figura 26), que
conta com uma minissérie exclusiva
e uma versão em mangá.
Figura 27
Figura 26
77
O mangá também tem conquistado a simpatia dos góticos e aparece em
diversas imagens em sites na internet, muitos inclusive de autoria dos próprios
góticos (Figura 27). “Mangá significa ‘história em quadrinhos’ em japonês, e é
resultado da união dos ideogramas man (humor, algo que não é sério), e
(imagem, desenho)” (SATO, 2007: 58). Como extensão, os animês também
ganharam espaço em eventos góticos como foi o caso das exibições realizadas na
Thorns Gothic Rave 8. Os animês são versões animadas dos desenhos
japoneses.
3.3. Magia e Paganismo
Alguns elementos das Sombras estão há muito tempo reprimidos. Ainda
que gozem de certa popularidade e sejam atrativos em livros, jogos, filmes, HQ’s e
séries televisivas, na prática tanto a Magia quanto o Paganismo
80
permanecem
como subsistemas das Sombras. Àqueles ligados a tais práticas, tradições e
culturas estão distantes da norma e muitas vezes são alvo de preconceito,
perseguição ou zombaria.
Antes de Fausto, as bruxas foram perseguidas e levadas à fogueira,
tradições mágicas, místicas e esotéricas tiveram de encontrar métodos eficazes
de sobrevivência para não perecerem. Informações foram decodificadas em
signos que só seriam identificados por alguém que soubesse fazer a operação de
tradução. Estes foram incorporados disfarçadamente ao Cristianismo e, alguns
ocultistas proclamam, foram transformados em jogo
81
.
Com esse policiamento cristão, praticantes de magia e pagãos outros
fugiram dos olhos das cidades ou esconderam-se dentro delas. Encontros
secretos passaram a ocorrer e um conhecimento composto de elementos das
Sombras é transmitido e perpetuado, até o estado dessas reuniões formarem
ordens e sociedades secretas.
80
Sistema que aqui engloba o recente Neo-Paganismo.
81
Uma das especulações sobre a origem do Tarô foi a decodificação dos princípios herméticos
(relacionados à Thot, Mercúrio ou Hermes Trimegistus) em jogo, para que assim pudesse
sobreviver no tempo (NICHOLS, 2000, GODO, 2005 e PRIETA, 2007)
78
Em suas viagens longe da cidade, Fausto sobe montanhas, adentra
florestas, penetra a natureza selvagem (“virgem”) e lá encontra uma outra espécie
de magia, a bruxaria. Afinal, Fausto já conhecera magia anteriormente, era um
ocultista e tinha contato com conhecimentos que a poucos eram acessíveis.
Ao final, como sabemos, Fausto abandona a magia e a relega à existência
nas Sombras em nome de nova Luz, não a cristã da idade média mas a razão
moderna.
Teria o sujeito moderno modificado suas associações ao que é reprimido e
que é norma? Por prazeroso que possa ser apreciar as ilusões e fantasias sobre
magia, o “homem moderno padrão” parece creditar mínima importância a
conhecimentos e práticas mágicas. Ao menos, não reconhece valor destas à Luz.
Nas Sombras, contudo, há um grande número de pagãos e praticantes de
magia. Abrahão (1995), em seu livro “Curso de Magia” (prefaciado por Rita Lee),
descreve um grande número de sistemas mágicos praticados em nossos dias,
significativo para assustar muitos que nunca tiveram contato com a Magia ou com
magos, ou até mesmo quem no máximo conhece o Wicca
82
e os sistemas
mágicos de tradição africana
83
. Apesar de, como falam alguns iniciados
84
, as
ordens secretas terem modificado seus estados para ordens discretas, muitas
ainda permanecem recolhidas às profundezas.
Na década de 1950, nos Estados Unidos, um artista destaca-se por
apresentar um rock’n’roll com temas de horror. Screamin’ Jay Hawkins distinguiu-
se dos artistas de rock de seu tempo, trazendo elementos inovadores à cena:
82
A Wicca é uma Religião neopagã, iniciática, sacerdotal, com base de práticas na Bruxaria
Européia, sendo, inclusive, chamada atualmente de “Bruxaria Moderna”. Suas práticas estão
diretamente relacionadas aos ciclos Solar e Lunar, e demais mudanças naturais. Foi desenvolvida
na década de 50/60 a partir de estudos de um senhor inglês chamado Gerald Brosseau Gardner
que interessado no ocultismo e na Bruxaria, começou a fazer pesquisas e buscar formas de
praticar as religiosidades baseadas nesses sistemas. Gardner iniciou o processo de arrecadação
de informação sobre os antigos cultos pagãos desde muito cedo, através de suas andanças pela
Ásia e Europa. Naquele tempo as Leis contra a Bruxaria ainda eram vigentes na Inglaterra”.
http://www.oldreligion.com.br/novo/conteudo/lista.asp?Qs_idAssunto=1
83
“Sistemas mágicos” é a rubrica usada por J.R.R. Abrahão para referir-se às diversas práticas,
tradições e conhecimentos relacionados à magia. Sistemas como a Wicca, Candomblé,
Quimbanda e Umbanda são muito populares e apresentam um grande contingente de adeptos.
84
Indivíduos que passaram por ritual de iniciação à determinada tradição, ordem ou sociedade.
79
Em um vaudeville rock’n’roll, ele interpretava um escandaloso
curandeiro que viajava de vilarejo em vilarejo em um carro fúnebre, energia
para suas performances de um caixão em chamas, apavorava a platéia com
efeitos pirotécnicos e acalmava seu amigo inseparável, Henry, um crânio que
adorava fumar cigarros (BADDELEY, ibidem:163)
“I Put a Spell on You” [Eu Coloquei um Feitiço em Você], de 1956 foi um
dos primeiros marcos da ligação do Rock com temas da magia e do sobrenatural.
Esta música de Hawkins foi regravada por intérpretes que vão de Nina Simone,
Diamanda Gala, Nick Cave até Marilyn Manson.
A Imprensa da época atacava veementemente as bandas que se
enveredassem por estes caminhos ou bania qualquer forma de divulgação em
rádio, televisão, revista ou jornal. A própria cultura negra era vítima desse
processo, o rhythm and blues, a dança, o vodu e os aspectos tribais que foram
base do Rock, principalmente em Hawkins que, além de negro, condensou
diversos elementos da cultura indígena norte-americana (pois, após ser
abandonado pela mãe, foi criado por uma tribo nativa)
85
.
De uma forma geral, com incidência maior nas práticas tradicionais, a
cultura negra pode ser vista como subsistema das Sombras. Os Rolling Stones
compuseram “Simpathy for the Devil” (1968) inspirados nos elementos dessa
cultura que vão da rítmica e instrumentos musicais característicos. A banda
cultuava fama de desordeiros e satanistas e aproveitava essa imagem para dar
seus toques de zombaria e humor negro. A música “Paint it Black” [Pinte-o Preto]
(1966) foi regravada pelas bandas góticas Mephisto Waltz e Inkubus Sukkubus,
mostrando conexões nas Sombras (entre os Stones e o Gótico, no caso)
Na Grã-Bretanha de 1960, havia sua própria leitura do rock de horror em
Screaming Lord Stuch, que utilizou elementos de Hawkins como levantar-se do
85
“A óbvia influência da música negra fez com que os racistas brancos vociferassem que a
juventude corria o risco de ser considerada corrompida pela ‘música da selva’, cujo ritmo estranho
poderia encorajar a promiscuidade e a rebeldia. Eles não estavam inteiramente errados. Mesmo
aqueles dispostos a tolerar uma versão higienizada (i.e. branca) do rock’n’roll – como os executivos
das gravadoras e os disk-jockeys dos rádios – uma linha foi traçada. Assim, canções de amor
açucaradas eram estimuladas, o que certamente não acontecia com temas mais sombriamente
sexuais. Porém, havia artistas que ousavam desafiar esses tabus e aqueles que tratavam de
assuntos relacionados com a morte” (BADDELEY, idem: 162).
80
caixão e ao som de um cover de “I Put a Spell on You”. Sua marca maior foi o
single “Jack the Ripper” [Jack o Estripador] e suas performances como o
assassino: “Ele colocava uma cartola, brandia uma faca e perseguia um membro
da banda vestido de prostituta vitoriana” (BADDELEY, ibidem: 164), sendo alguns
deles hoje nomes renomados como Jeff Beck, Jimmy Page e Ritchie Blackmore.
Stuch foi atacado pelo jornal inglês especializado em música Melody Maker e
banido pela BBC.
Duas entidades espirituais foram inspiração para o imaginário gótico,
Íncubos e Súcubos. Abrahão define estes como vampiros sexuais em forma
masculina e feminina “que sugam vitalidade, à força, de seres vivos [sendo que]
muitas seitas de Magia Negra fazem uso deste tipo de Entidade, embora não
exclusivamente delas (Quimbanda, etc.)” (Idem, Ibidem: 67). Eles estão ligados a
mitologias druídicas celtas e foram nomeados demônios pelo cristianismo. A
banda alemã X-Mal Deutschland tem como uma de suas principais músicas
“Incubus Succubus” sobre as entidades.
No verão de 1989, estudantes de design gráfico juntam-se para formar a
banda Inkubus Sukkubus, cujo nome original era grafado com “c” ao invés de “k”,
troca feita em 1995 por razões numerológicas. A iniciativa de criar a banda foi um
interesse compartilhado em paganismo, bruxaria e vampirismo, um “veículo no
qual a celebração da experiência Pagã pudesse ser expressa” (in
www.inkubussukkubus.com). O Inkubus tocou com grandes nomes do Gótico e
participou de diversas coletâneas de músicas góticas. Suas performances são
marcadas por uso de instrumentos celtas como o bodhran junto a batidas
eletrônicas e samplers
86
. Eles são um dos mais expressivos pontos nodais do
Gótico com o Paganismo participando de eventos específicos de ambos
subsistemas.
Nas listas de discussão do Yahoo! grupos citadas no capítulo anterior, há
referências de paganismo, ocultismo, magia e vampirismo. Com isso, muitos
aproveitam para divulgar eventos, lojas virtuais, produtos e instituições. Na cidade
86
Sons coletados ou criados digitalmente, geralmente disparados eletronicamente através de
programação digital, muito usados em performances ao vivo.
81
de São Paulo, ocorre mensalmente o evento Pagãos no Trianon, com convite
enviado para as listas:
Pedimos licença à moderação para a divulgação deste convite.
28º PNT-SP (Pagãos no Trianon /Pega no Tranco São Paulo)
O PNT-SP é um encontro imperdível de Pagãos no Trianon, unidos
para celebrar a vida. Lá é partilhado tudo o que há de bom, como comidas,
bebidas, conhecimento, apresentações artísticas, amizade, diversão, cultura,
lazer... Gostamos de fazer do terceiro domingo do mês um dia agradável e
divertido para todos! O objetivo do encontro é unirmos pessoas de diversas
vertentes do Paganismo ou que se familiarizem com este Caminho!
Também aparecem nestas listas, divulgação da Igreja Gnóstica, da Ordem
Aurum Solis e do portal Guardiões da Luz. Binha Martins
87
se utiliza
freqüentemente dessas ferramentas hipermidiáticas, mostrando seus produtos,
eventos que organiza e atualizações de seu site, Grande Arte
88
. Logo na entrada
do site, Martins apresenta seu foco em Bruxaria (Wicca como destaque) e
Paganismo, assim como a relação destes com o Gótico. Na seção de links, há
espaço com referências à Cultura Gótica, a jornais, revistas e fanzines (muitos
relacionados ao Gótico) e RPG.
Muitos produtos comercializados na cena
gótica trazem temática de magia ou paganismo como
símbolos celtas, pentagramas, temas ciganos, tarô,
adagas rituais. Digitando a palavra “gótico” no site de
vendas Mercado Livre são listados produtos que
retratam essa conexão (Figura 28).
Aleister Crowley (1875 – 1947) também foi
fonte de inspiração de como o já citado álbum do
87
Participante da cena gótica, é praticante de Wicca desde 2000. Já chegou a divulgar seu site,
Grande Arte, em espaços caracteristicamente góticos como o Madame Satã, no bairro do Bexiga e
o Gotham Pub, no bairro de Pinheiros, em São Paulo.
Figura 28 – produto
descrito como “colar
gótico wicca”.
88
www.grandearte.art.br
82
Blood Roses, “Love Under Will”. “Amor sob Vontade”, assim como “Faze o que
queres há de ser tudo da Lei”, são máximas da Lei de Telema desenvolvida por
Crowley, o mago conhecido como “A Grande Besta”
89
.
O volume de conexões entre o Gótico e o Paganismo é de tal proporção
que o livro Hex Files: the goth bible [Arquivos Enfeitiçados: a bíblia gótica] de
Mercer (1996) traz o Paganismo como um dos quatro destaques na capa e dedica
sessões inteiras ao assunto.
A moda gótica incorpora em si forte influência deste. Vestidos, camisas e
batas compõem o visual e paisagens da natureza aparecem nas ambientações
góticas, remetendo ocasionalmente àquela ideal natureza virgem (onde
descansou o fatigado Fausto). Essas paisagens tendem a ser os ambientes mais
claros e iluminados em imagens e fotos que circulam na subcultura. Stéphane
Lord é responsável por um contingente de imagens que habilmente dialogam com
essa tendência do Gótico (Figuras 29 e 30).
Figura 29
Figura 30
89
O Líber Al vel Legis ou Livro da Lei foi concebido em 1904 e é um marco no cenário ocultista
mundial, divulgando a religião thelêmica concebida por Crowley. “Thelema é uma palavra grega
que significa vontade. A Religião Thelêmica pode ser entendida como aquela que fará com que
seu seguidor identifique, conheça e, então, passe a seguir a sua própria vontade pessoal”.
RAPOSO, Carlos in
http://www.artemagicka.com/artigos/thelema.htm.
83
3.3.1. Vampyros
Na década de 70 nos E.U.A. emergem as primeiras formas da subcultura
vampyrica, através de um coven
90
de neopagãos chamado “Sahjaza”. Esta cena
se organiza originalmente através de fanzines que circulavam entre neopagãos,
modistas e “proto-góticos”. A cena começa a se estruturar originalmente em Los
Angeles e Nova Iorque, ganhando força e visibilidade na década de
90. Emergente do Paganismo, os adeptos mostram um fenótipo vampírico sem
serem sanguessugas e repudiando o parasitismo, tendo inclusive a proibição da
ingestão de sangue como parte de seu código de conduta, batizado The Black Veil
[O Véu Negro].
A subcultura, apesar de distinta, caminha bem próxima do Gótico. No Brasil,
o responsável pela divulgação e liderança do Vampyrismo é Lord A:. que, junto a
Henrique Kipper e Flávia Flanshaid, organiza o Theatro dos Vampiros (evento
gótico já citado). Esse evento representa um ponto nodal importante entre o
Gótico e o Vampyrismo, sendo que nem todos os participantes com fenótipo
vampírico são vampyros, muitos se interessam somente pelo visual ou outros
aspectos da subcultura. São praticantes de certos rituais de tendências neopagãs
e estudam o respectivo sistema mágico proposto. Por exemplo, ao invés de utilizar
sangue como fluído vital para suas práticas, eles desenvolvem um trabalho com a
energia prânica
91
.
A relação dos subsistemas (Gótico e
Vampyrismo) não se restringe aos eventos. A banda
Cruxshadows nasceu da subcultura vampyrica para,
posteriormente, ser cultuada pelos góticos. Os
vampyros criaram um ankh que, ao mesmo tempo que
remete ao Gótico, apresenta um design (Figura 31) e
um nome (legacy ankh) específicos.
Figura 31
90
Reunião de praticantes de magia.
91
Conceito que se refere à energia presente em tudo na realidade, um fluído divino universal.
84
3.3.2. Satanismo
Uma associação comumente referenciada ao Gótico é o Satanismo. Os
aspectos obscuros tendem a parecer, tanto para outsiders quanto para wannabes,
como uma certa afinidade com Satã. Dizer que o Gótico é ou não satanista é
demasiado reducionista, tendo em vista a complexidade das relações.
O subsistema é basicamente laico, apesar da proximidade com o
Paganismo existem vertentes como os “Góticos para Cristo”
92
. É na relação com
as Sombras que essa ligação (Gótico e Satanismo) fica mais clara. Há um impulso
de provocação no Gótico
93
, Siouxsie Sioux usava uma suástica nazista em seus
shows; bandas subiam nos palcos com visual e até performances eróticas e sado-
masoquistas; homens esboçavam androgenia muitas vezes próximos do
travestido; mulheres raspavam seus cabelos ou usavam moicanos
94
(Figura 32) e
ambos adornavam-se com muitos piercings e
tatuagens. Não só o visual era composto de
traços provocativos, como os temas das
músicas, das produções literárias e dos
eventos também o eram. O diabo foi, muitas
vezes, convidado a participar destes, seja
agressivamente, com humor ou ironia. No
Brasil, a banda Pecadores (na vertente gótico-
industrial) formada por um ex-padre e um ex-
pastor, mistura profanação do Cristianismo com temas demoníacos, como forma
de protesto contra instituições religiosas.
Figura 32
Não só como tema o demônio tem sua participação, pois existem pratican-
tes de Satanismo no Gótico. O Frater Raven Sethiano é assumidamente satanista.
Já participou de bandas da cena gótica carioca, na qual têm seu próprio projeto
92
A comunidade do Orkut de mesmo nome contempla 1.965 membros (na data de 09 de julho de
2007) e conta com internautas muito participativos.
93
Uma recorrente do Punk (página 46).
94
Cabelo raspado com fios somente na faixa central da cabeça.
85
musical, é também responsável pelo fanzine Rio After Midnight [Rio Depois da
Meia Noite] dedicado ao Gótico e ao Satanismo. A Lei de Telema de Crowley
aparece também como base deste último.
Como sistema, o Satanismo tem uma projeção pequena no Gótico,
encontrando um maior contingente de adeptos no Black Metal e outras vertentes
do Heavy Metal Extremo.
3.4. Feminilidade
De acordo com Hodkinson (ibidem: 48), o Gótico está mais ligado e
associado à Feminilidade, numa aparência de ambigüidade sexual “expressa com
roupas, maquiagem e música da cena”. No livro “Tantra, o Culto da Feminilidade”
(LYSEBETH, 1994), o autor desenvolve a tese de a Feminilidade ter sido
reprimida desde a invasão ariana no Oriente, predominando então a estrutura
patriarcal. O princípio masculino se faz presente nas diversas instituições do
Ocidente, mesmo em ocasiões em que a superioridade de indivíduos é do sexo
feminino.
A Feminilidade é, portanto, um subsistema reprimido das Sombras e pode
ser observada nas associações que existem com o princípio feminino. Se, no seu
oposto há o Deus Pai, o Grande Disco Solar e sua luz, no feminino há a Deusa
Mãe, A Dama da Lua, Luna e sua luz lunar. Helena Cursino
95
, em palestra sobre a
Lua e suas associações
96
, contou sobre a relação da Feminilidade, da Magia e do
Paganismo. A mulher esteve ligada ao sedentarismo, uma vez que era o homem
responsável pela caça. Na caverna, e depois na cabana, ela preparava a comida e
cuidava do lar, fazendo sua própria forma de magia, uma “magia do cotidiano” que
tem como associações o caldeirão, a vassoura, o tear, o cálice, a colher de pau e,
relacionada à colheita, a foice. A Lua representava os ciclos (dia e noite, marés,
colheita e menstruação) e tinha importante papel nos partos. Com isso, marca o
nascimento e a morte. Aspectos femininos e lunares encontram-se na intuição, na
95
Pesquisadora e psicóloga junguiana, foi mestra da Loja Rosacruz Santana, AMORC no ano
Rosacruz 3359 (março de 2006 a março de 2007).
96
Realizada no dia 31 de outubro na Loja Rosacruz Santana, AMORC.
86
imaginação, na abstração, no sonho, no inconsciente, na introspecção, na
ambivalência, no caos (Shiva), no obscuro (Hecate) e no subterrâneo (Perséfone).
Ainda, o princípio feminino relaciona-se à embriaguez, à arte e ao ritual. Por fim,
na Astrologia a Lua representa os aspectos emocional, afetivo e instintivo (i.e.
instintos de sobrevivência e sexuais).
No Gótico, uma das expressões da Feminilidade encontra-se no
Paganismo. A Deusa era (e ainda é) reverenciada nos ciclos das estações
(solstícios e equinócios). Para os antigos, essa era a celebração da colheita. O dia
31 de outubro, famoso Halloween ou Dia das Bruxas, é celebrado no Paganismo
como Samhain, sendo na Wicca um dos sabbaths (datas importantes desse
subsistema celebradas na forma de rituais), mais importantes por marcar o ano
novo wiccano. Essa data é tema importante no Gótico tanto em composições
musicais, literatura, cinema, visual e imaginário como em eventos realizados no
dia ou em dias próximos.
Outro é a presença de
performances de dança em eventos
góticos (dança cigana, dança indiana,
dança do ventre) (Figura 33). Os
grupos de dança são geralmente
compostos exclusivamente por
mulheres. O mais famoso, em São
Paulo, é o Anúbis Eventos, Dança do
Ventre & Cultura Gótica
97
, dos DJ’s e
organizadores de eventos Christian
Anúbis e Michele Manson,
responsável pelas festas Egyptian
Celebration [Celebração Egípcia]
(anual) e Convenção das Bruxas
(mensal).
97
“No início a idéia era fazer uma festa (Egyptian Celebration) para lançar o Grupo Anúbis Dança
do Ventre, que se diferenciava por se apresentar com músicas góticas e suas tendências em
festas e casas voltadas para esse público” (entrevista realizada em 2006 com Anúbis via e-mail).
Figura 33
87
Anterior à presença marcante do Paganismo, o Gótico já esboçava traços
de Feminilidade. Quando do início de sua distinção com o Punk, carrega como
diferença principal os aspectos do princípio feminino anteriormente explicitados
por Cursino (página 85). Pode-se dizer, então, que o principal rompimento com o
Punk está na dissociação de diversos aspectos masculinos para a associação de
outros, femininos.
A maquiagem e seus variados estilos são populares tanto para homens
quanto para mulheres (HODKINSON, ibidem: 48). Mas não só na maquiagem,
como em diversos outros aspectos, a Feminilidade é presente em ambos os
sexos. No Brasil, há uma crescente produção de kilts (saias), produto que está
sendo largamente apropriado por homens. No final dos anos 1970 e início dos
1980, a cena gótica estava muito ligada (além da citada cena vampyrica) à cena
GLS
98
, pois qualquer um poderia apresentar um visual andrógeno ou feminino
independentemente da opção sexual. Mesmo que grande parte dos freqüentado-
res da cena gótica tenda ao comportamento heterossexual, não é incomum ver
indivíduos, casais ou até poligâmicos homossexuais. E esse contato entre ambos
tende a ser harmonioso.
Todavia, headbangers
99
e wannabes que freqüentam a cena apontam uma
grande desaprovação do homossexualismo (i.e. masculino). Com isso, num
movimento crescente, as cenas das quais estes são freqüentadores se distanciam
do Gótico, voltando-se mais para o Heavy Metal e o polêmico Gothic Metal
100
,
que apresenta e organiza seus elementos de modo distinto. A Feminilidade, por
exemplo, é restrita às figuras femininas e a temas das músicas, a ironia e o humor
negro praticamente inexistem, e o princípio masculino é claramente predominante.
Ainda no caso do Gothic Metal, um grande atrativo a esta cena é a
feminilidade das freqüentadoras. Nas diversas vertentes do Heavy Metal, a
98
Sigla para gays, lésbicas e simpatizantes. A cena gótica brasileira também teve muita relação
com esta, igualmente parte do sistema das Sombras, sendo que alguns chegaram a abandonar o
Gótico para participar somente da GLS, enquanto outros freqüentam ambas.
99
Termo referente aos indivíduos que se auto-identificam com o Heavy Metal.
100
Em uma das primeiras pesquisas de campo numa casa noturna que procurava trazer tanto
elementos do Gótico quanto do Gothic Metal, um dos freqüentadores, em entrevista informal,
respondeu sobre sua auto-identificação como gótico: “Gótico!? Por acaso eu tenho cara de
bicha?”.
88
feminilidade, mesmo nas mulheres, é muito rara. Quando iniciei a pesquisa
acadêmica na PUC, deparei-me com uma garota que parecia ser gótica (seu
nome não será mencionado a seu pedido), contudo ela não é simpatizante do
subsistema. De acordo com ela, esse tipo de associação ocorre por ela apresentar
um visual feminino e “produzido”, mais comum no Gótico, uma vez que no Heavy
Metal esse cuidado com a imagem é quantitativa e qualitativamente escasso.
A cena Gothic Metal se fortaleceu em São Paulo com a forte presença de
headbangers em busca de garotas com a feminilidade e “charme” gótico. Os flyers
dos eventos reforçam essa ligação, pois tendem a apresentar imagens góticas
atraentes e sedutoras, assim como dizeres sobre a presença de garotas góticas
(Figura 34). Alguns eventos chegam a promover concurso de beleza, atraindo um
grande público masculino. Este, altamente ligado ao Heavy Metal, pode ser
observado na predominância de garotos com camisetas de bandas do subsistema
em contra-ponto a garotas com visual gótico (Figura 35).
Figura 34
Figura 35
89
Muitas músicas românticas pop da década de 80 foram apropriadas pelos
góticos principalmente por seu caráter feminino (Idem, Ibidem: 57). No Gótico
ocorreram muitas hibridações entre este romantismo, a obscuridade e humor
negro, como fez Tim Burton no filme A Noiva Cadáver (2005), “a animação gótica
em stop-motion” (SALEM, 2005: 66). Bruno dos Santos
101
mostra em seu poema
uma composição envolvendo os dois primeiros:
Amor Obscuro
Eu sou a alma que te guia, sou a sombra que transforma seus desejos em
realidade
Não sinta medo, deixe seu espírito vagar sem rumo.
Todos têm um caminho para traçar, e nosso destino é caminhar juntos pela
eternidade.
Sou mais um que caminha nas trevas, no mundo dos vivos fui julgado, traído.
Eu não confiava mais em ninguém além dos animais.
Um anjo da noite, com o olhar marcante apareceu em minha vida.
Mesmo caminhando pela escuridão, sei que minha alma descansará em paz
Você curou todas minhas mágoas me livrou da dor eterna.
Agora devo ficar ao seu lado pela eternidade e te proteger.
Posso dormir sem medo, posso amar com toda força de minha alma.
Figura 36
Um outro ponto interessante é a
importância e contingente de mulheres e
imagens suas no Gótico. Com uma rápida
pesquisa em sites ou mesmo no Google
imagens
102
dificilmente aparecerão figuras
masculinas (e mesmo estas tendem a
aparecer feminilizadas). Laura “Mistress”
McCutchan (Figura 36), uma nova iorquina
101
No site www.profeciasnet.com.br
102
www.google.com
90
dedicada ao Gótico, é responsável por um dos sites mais visitados pelos góticos
(com destaque para E.U.A., Canadá, Austrália, África do Sul, Reino Unido e
países escandinavos), chamado “Morbid Outlook” [Perspectiva Mórbida]. Em
entrevista para Mick Mercer (2002) sobre a predominância feminina na internet,
argumenta que as “mulheres dominam a rede de um modo não evidente em
outras cenas” e aponta: “considerando que uma grande parte do estilo Gótico é a
moda, é mais fácil encontrar mulheres Góticas vestindo-o que homens Góticos”
(ibidem: 248).
Adiante, algumas imagens do fenótipo gótico e sua relação com a
Feminilidade.
Figura 37
Figura 38
Figura 39
Figura 40
Figura 41
91
3.5. Fetichismo
Voe Anjo erótico, Anjo do desejo
Conduza-nos à tentação, nos deixe altos
Inkubus Sukkubus (2004)
No Punk, a loja SEX inicia sua nova diretriz apontando para uma
estruturação do visual rock comercializado em seu estabelecimento baseado no
sado-masoquismo. Posteriormente, o Gótico organiza diferentemente essa
relação, distinguindo-se de seu antecessor.
A moda gótica deve muito à cena sado-
masoquista, pois comporta diversos elementos
dela apropriados. E Hodkinson (ibidem: 51) alerta
que adornos e vestimentas mais sexuais nos
góticos estão mais relacionados com suas
qualidades estéticas do que pela sua conotação
sexual. É o caso das saias, tops, calças e botas
de vinil, cintas-ligas, gargantilhas, certos tipos de
piercings e tatuagens, tiaras com cifres de diabo,
espartilhos (Figuras 42 e 43).
Figura 42
Contrariando Hodkinson, muitas vezes o
fetichismo sado-masoquista aparece na cena gótica, com
todo um trabalho temático voltado para essa subcultura.
Na oitava edição da Thorns Gothic Rave, houve uma
performance de sado-masoquismo com direito a
mordidas, velas e muito sangue (Figura 44). A festa do
Projeto Mortuosos (22 de abril de 2006) ocorreu dentro
de um night club na Rua Augusta em normal
Fi
g
ura 43
92
funcionamento, com garotas de programa trabalhando enquanto um repertório
gótico era tocado na pista
103
. A banda Umbra Et Imago, em suas performances,
chega a praticas sexo oral no palco (com garotas seminuas usando roupas
fetichistas).
No início da década de 80, muitas
subculturas convergiam em espaços comuns,
posto que suas anatomias e distinções eram
ainda sutis. Foi o caso das cenas góticas,
industriais
104
, vampyricas, fetichistas,
alternativas e GLS. Ainda que contassem com
distinção relativa em certos núcleos, a maioria
tinha como referência as mesmas casas
noturnas. Atualmente ainda existem locais que
engendram mais de uma cena, como é o caso
de regiões onde o número de adeptos de cada
um dos subsistemas é relativamente pequeno.
O Fetichismo ainda apresenta pontos
nodais com o Gótico. O visual gótico é parte do Fetichismo em seu subsistema
autônomo (famoso na forma do “fetiche por garotas góticas”), enquanto aparecem
no Gótico inovações visuais e performáticas baseadas na cena fetichista.
Figura 44 – as marcas no gótico
são sangramentos dos ferimentos
causados na performance.
Em São Paulo é organizado a 69 Fetish For Fun, freqüentada pelos góticos
da capital (Figuras 45 a 48). Vejamos a descrição da festa em sua comunidade no
Orkut:
Concebido por um grupo de pessoas reconhecidamente envolvidas
com as vanguardas, o projeto 69 FETISH FOR FUN inspira-se nos moldes da
cultura fetishista mundial, em suas mais diversas vertentes, sempre
acompanhando as várias fantasias que habitam o imaginário humano,
deslocando-se entre o retrô extremo e o ultra moderno conceitual. As estéticas
103
Exceto quando algum grupo de freqüentadores (ousiders) pagava por um striptease, nesse
momento o som gótico parava e dava início à música funk carioca.
104
A vertente industrial do Gótico tende a ser tomada como a subcultura industrial ou Rivethead.
Maiores detalhes no artigo de Anya EBM, “Industrial” em Anexos.
93
mixadas criam um verdadeiro teatro do absurdo, onde o que importa são as
diversas personagens e suas deliciosas fantasias e fetiches, surgidas da
literatura, do teatro, do cinema, da história, da virtualidade, do cotidiano... Um
cabaré robótico, erótico, sensual, envolvendo as práticas sadomasoquistas
leves, artes corporais, performances fetichistas, comportamentais e culturais,
acompanhadas de muito látex, vinil, pvc, lycra, couro... Diversão e informação
além da imaginação!
Figura 46
Figura 45
Figura 47
Figura 48
94
Um apontamento salutar feito por Hodkinson (ibidem:52) refere-se ao fato
da indumentária gótico-fetichista não causar o mesmo impacto em ambas cenas
que causaria em ambientes outros. O mesmo fenótipo se envolve em outro
processo comunicativo quando em contextos diversos. Em outras palavras, o que
comunica um(a) gótico(a) com visual fetichista no Egypt Celebration está
relacionado com o modo como este se expressa no Gótico, sua maneira de
construir sua auto-identidade gótica; o(a) mesmo(a) em um shopping center tende
a comunicar mais a auto-identidade em si e a diferença desta com as mais usuais
do ambiente, além de proporcionar uma série de reações como espanto,
incômodo, desaprovação, agressividade, e outras que dificilmente ocorreriam em
ambiente especificamente gótico.
3.6. Ironia
É uma tendência no Gótico o uso de ironia. Muitas vezes é usada como
força de oposição à cultura dominante, como provocação e mesmo como inversão
de valores éticos e estéticos. A obscuridade aparece em situações diversas de
modo irônico em relação a moralismos hipócritas. O Cristianismo é um dos
grandes alvos. O Pecadores (página 84) joga com informações deste criando
ironias e denúncias a discriminação, pedofilia, mentiras e exploração. Há aqueles
que trazem a ironia no próprio fenótipo. Na Thorns Gothic Rave (2001), uma gótica
vestia da cintura para cima um hábito de freira junto à minissaia e botas de vinil,
algema nas coxas, cinta-liga e meia arrastão, levada por um “padre” que a
arrastava por uma corrente presa ao pescoço.
Relembremos que a rubrica “gótico” em seus primórdios era carregada de
ironia e humor. “O nome da subcultura gótica foi dado como uma metáfora ou uma
piada” (KIPPER in ARRAIS, 2007: 31). Esse caráter auto-irônico é muito presente
no Gótico. No início desse estudo, capítulo 1.1 (página 26), temos uma imagem de
ironia do personagem Johnny e sua auto-identidade, num HQ “de gótico para
góticos”.
95
No Brasil, o destaque neste aspecto recai sobre as “Meninas Góthikas”. O
designer gráfico Nagash, paulista de 21 anos, conta que
depois de assistir uma maratona de não-sei-quantas horas de
desenho, estava no computador e comecei a fazer desenho delas [Meninas
Superpoderosas] no Photoshop. Quase instintivamente, peguei aquelas
personagens “clubbers” e perverti para góticas. (2002: 49)
Cada personagem é uma ironia às vertentes e ao comportamento gótico. O
trabalho é preciso na sátira, um humor que denuncia clichês, destacando as
principais características do subsistema em seus diversos aspectos.
Seguem alguns personagens na seqüência e os demais em Anexos.
:: Trevoso Loco ::
música
The Sisters of Mercy
filme
The Crow
hobbie
Passear no Cemitério
ídolos
Ian Curtis
Defensor e militante do verdadeiro estilo gótico, hoje em dia vulgarizado e violentado por insignificantes
posers e reles fãns de Manson em geral. TrevaeDojo luta para que tudo volte a ser como no tempo dele, onde
os góticos encontravam-se sempre e apenas no cemitério, ouviam somente o verdadeiro som gótico dos anos
80, bebiam sangue e lamentavam sua própria existência - sim, parece que um dia foi assim...
TrevosoLoco alega nunca ter usado roupas outras senão pretas, ostenta com orgulho suas cicatrizes de surras
de SkinHeads e tem certeza que ninguem no mundo é mais gótico que ele...
a maior parte das pessoas o conhece a menos de um ano.
:: CursedSun ::
música
Marilyn Manson
filme
Interview with the Vampire
hobbie
Maquiagem Extravagante
ídolos
Twiggy Ramirez
Novata, típica Mansonite - tiete do Marylin Manson .Começou a se interessar por gotiquices
recentemente, porém, quando alguém pergunta ela se diz uma "aprendiz das artes profanas". Não
possui opinião formada sobre coisas muito complicadas e nem o gosto apurado das outras. Às
vezes se divide entre incorporar o estilo de suas amigas ou ser ela mesma.
Cursee gosta de sair à noite para poder usar roupas extravagantes e abusar da criatividade em
acessórios improvisados. Gosta muito de dançar mas nunca sabe de quem são as músicas. Para
ela, estas bandas são praticamente mágicas, que só existem na pista...
Sempre saiu com meninos, mas atualmente se envolve também com meninas ou alguma outra
coisa interessante entre ambos...
Fonte : www.carcasse.com/gothikgirls/pt/chars.htm
96
O processo de auto-ironia é presente também na identificação de indivíduos
com a rubrica “gótico(a)”. Raro quando um(a) insider se auto-refere como
gótico(a), mesmo entre aqueles que se dedicam quase integralmente à subcultura.
Nesse contexto, muitos são os que apresentam uma postura cínica e irônica
quanto a sua auto-identidade gótica.
No site Desciclopédia (
http://desciclo.pedia.ws), há uma extensa auto-ironia
gótica. Seguindo a proposta do site, os assuntos são apresentados em um formato
pretensamente sério, como na parodiada Wikipedia (www.wikipedia.org):
Os góticos (também carinhosamente conhecidos por
goticuzinhos)
são criaturas da noite saltitantes que, por alguma decepção na vida, optaram
por ser estranhos e diferentes, (mostrando toda sua grande individualidade
como outros milhares de góticos) querendo assombrar a sociedade que já vive
assombrada por ladrões, bandidos, políticos e programas de TV de domingo.
Góticos são pessoas que tem uma relação muita aberta,
principalmente com os mortos. Vão ao
cemitério e praticam sexo com outros
mortos sem se preocupar com sociedade e pelas doenças infecto-contagiosas
que podem ser transmitidas através de vermes e bigatos HIV+, além de
roubarem caixões de forma sádica.
Vivem em depressão constante porque foi o único artifício que
acharam para se relacionar com os
humanos. A depressão segue sempre o
cotidiano do gótico, que a utiliza para conseguir atenção digna de uma
novela
mexicana, servindo de pena, trapaça e até mesmo uma cantada, pois góticos
acham atraente pessoas deprimidas de sexo oposto ou do mesmo sexo
(
bissexuais). Góticos acreditam no sonho de escrever poesias e poemas,
porém a maioria é composta por analfabetos, o que gera grande dificuldade
em compor frases sem erros gramaticais.
Vestem-se de preto e usam sobretudo em qualquer ocasião como
aniversários, batismos, mesas brancas, rituais de amarração e sessões de
descarrego. O ato de vestir preto consiste em uma técnica muito usada por
modelos e artistas de televisão; a velha tese do "preto combina com tudo" ou
aquele que “Preto emagrece”. Esta tese contraria aqueles que dizem que
97
góticos se vestem de preto para parecer que estão de luto ou que são
vampiros
105
.
Figura 49 - O site http://desciclo.pedia.ws/wiki/G%C3%B3tico
apresenta uma série de imagens satirizando o Gótico.
105
http://desciclo.pedia.ws/wiki/G%C3%B3tico
98
Vladimir Safatle (2005) aponta que esse processo permite uma maior
flexibilização de escolhas e consumos. Numa postura cínica e auto-irônica, o
insider vivencia sua personalidade gótica ao mesmo tempo que a nega. Assim,
não fecha sua dedicação e comprometimento exclusivamente à subcultura, suas
possibilidades de gozo estão sempre abertas a novas oportunidades através da
não rigidez de sua identificação. Parecer sem precisar ser, aproveitar sem se
comprometer.
O supereu freudiano repressor é agora aquele que carrega o imperativo do
gozo: goze de todas as formas, não perca oportunidades! E as patologias
decorrentes dessa nova configuração do supereu são a ansiedade (prevista há
muito por Goethe) e a depressão. “Enquanto a ansiedade é exigência do desejo
em atravessar de maneira cada vez mais rápida escolhas de objeto, a depressão
é exatamente a impossibilidade de vincular-se a uma relação de objeto” (idem,
ibidem: 135).
Andrew Eldritch é um dos principais expoentes da ironia no Gótico,
começando com o nome de sua banda, Sisters of Mercy [Irmãs da Misericórdia]:
“uma balanceada irônica entre freiras e prostitutas, o que parece uma perfeita
metáfora para uma banda de rock” (ELDRITCH in HELFENSTEIN, 2002: 58).
Afirma também, “para nós, a única crença é o cinismo” (idem). O auto-intitulado
arrogante líder do Sisters of Mercy mantém sua postura e leva-a a extremos. A
banda é uma das precursoras do Gothic Rock, sua sonoridade foi e ainda é a base
de muitos conjuntos (bateria eletrônica, baixo intenso e vocal grave são alguns
dos elementos exaustivamente replicados). É do Sisters que emerge (após um
grande desentendimento) The Mission, outro ícone do rock gótico oitentista. Ainda
assim Eldritch afirma: “Nunca fui gótico. Existem músicas dos Carpenters muito
mais góticas do que qualquer coisa que já escrevi” (idem, ibidem: 59). Ele chega a
colocar uma cláusula no contrato da banda que proíbe associá-la à palavra
“gótico”. Por fim, segue um trecho da matéria de Rodrigo Helfenstein (ibidem)
sobre a banda publicada na Revista Valhalla (edição 14):
99
Eldritch adotou um novo visual, cabelos loiros e curtos além de roupas
mais coloridas. Porém, a arrogância e cinismo continuam o mesmo. A história
mais recente é de um show em Portugal. Eldritch teria ficado irritado ao ver a
banda de abertura toda vestida de preto, com um visual gótico. Fez todos
mudarem de roupas, mas mesmo assim acabou por barrar a banda. E quando
viu o público, a casa cheia de góticos à caráter, simplesmente cancelou o
show.
CAPÍTULO 4. OROBOROS
Este é o último capítulo da dissertação, dedicado a conclusões, geralmente.
Contudo, aqui será proposta uma possibilidade de reinício, um pensamento sobre
o modo gótico de pensar o mundo, e sobre a subcultura gótica, ao invés de um
fechamento propriamente dito.
Comecemos pela observação de dois casos. Estes breves relatos são aqui
trazidos como exemplos de apropriação dos elementos do Gótico em produções
artísticas concebidas por outsiders.
4.1. Sandman
Sandman é o personagem da Vertigo (divisão de HQ’s para maiores da
Detective Comics) que habita o Sonhar, também conhecido pelos nomes
Morpheus e Lorde Sonho. São seus irmãos as entidades Destino, Morte,
Desespero, Desejo, Destruição e Delírio, que juntos a Sandman são os Perpétuos.
Seus criadores são Neil Gaiman e Mike Dringenberg, com a presença marcante
de Dave McKean na arte das capas.
A temática do HQ gravita sobre elementos das Sombras e suas imagens
estão largamente ligadas ao Gótico. “A imagem de Sandman na capa [edição n
o
1]
foi inspirada em Peter Murphy, o ex-vocalista do Bauhaus e modelo da fita Maxell,
pois quando o desenhista Mike Dringenberg viu os esboços originais para o
personagem disse que ‘ele parece exatamente com Peter Murphy’” (GAIMAN in
100
MCKEAN, 2002). E não só a este faz referência, mas também ao cabelo do
vocalista do The Cure, Robert Smith (Figuras 50 a 52).
Figura 51
Figura 52
O grande destaque dos
Perpétuos é a personagens Morte: uma garota gótica cheia de humor. O tema da
morte é, como já foi explicitado, um dos principais do Gótico e a personagem terá
como características de personalidade o modo como este subsistema tende a
apresentá-la.
Figura 50
Quando descritos na novela Estação das Brumas, os Perpétuos são
descritos em detalhes diversos referentes à aparência, sombra, personalidade,
simbolismos etc., mas para a “garota gótica” há apenas o texto: “E há Morte”
(GAIMAN: 2006). E qual seria o símbolo usado por tão misterioso personagem,
senão o já gótico, ankh?
Eu costumava ligar para Dave a fim de falar sobre as capas. Às vezes
eu queria algo específico. Falamos um bocado sobre a Morte. Dave viu o
101
esboço original que Mike Dringenberg fez dela e não ficou nada surpreso
quando nossa garçonete naquela noite parecia ser uma verdadeira sósia do
personagem que Mike havia desenhado, com ank e tudo.(GAIMAN: 2002)
A trajetória do ankh da Luz para as Sombras, passa pelo misticismo,
ocultismo, vampirismo (e vampyrismo), ao Gótico e, finalmente, ao HQ Sandman.
E a Morte contribuiu para uma difusão do visual gótico feminino e do ankh como
pingente integrante da indumentária característica.
No já citado Estação
das Brumas, o Sonhar
ganha temática vitoriana em
alguns momentos e suas
imagens dialogam com essa
vertente no Gótico. Então a
carismática Morte surge
numa bela indumentária
vitoriana punk-gótica (Figura
53).
Bianca Jordão, da
banda de rock Leela, usa
freqüentemente um
pingente em forma de ankh
no peito. Ao ser indagada
(entrevista por e-mail) sobre
uma possível relação desse
uso com o Gótico, confirmou
sua afinidade com bandas
oitentintas, imaginário gótico
e roupas escuras.
Entretanto, o ankh está mais
ligado a seu gosto por HQ’s
Figura 53
102
e sua empatia com a personagem Morte. Um mês após a entrevista, Jordão
participa da seção “Eu queria ser” da revista Mtv (2006) (Figura 54).
Sandman é um HQ de
grande complexidade
narrativa com impecáveis
trabalhos artísticos, chegando
a ganhar o prêmio Howard
Philips Lovecraft
106
. A ironia é
freqüente e está presente em
diversos contextos que vão do
diabo a mitologias diversas.
Morte é irônica em relação a
si e ao modo como é pensada
pelos seres humanos.
Nos primórdios do HQ
as referências ao Gótico eram
mais diretas, tornando-se
discretas na medida em que a
subcultura perde popularidade
e quase desaparece da
Imprensa. Nas capas das
edições n
o
2 e 4 pode ser lido “Die gotilche Schrift” [A escrita gótica], com uma
Figura 54
106
“(...) em 1991 eu estava presente na 13ª Convenção Mundial de Fantasia (World Fantasy
Convention), em Tucson, no Arizona. Foi com um prazer diabólico que assisti a Neil ganhar o
desejadíssimo prêmio Howard Philips Lovecraft, reservado ao Melhor Conto do Ano... e ele foi
premiado por uma edição de Sandman, uma história em quadrinhos. Foi um prazer diabólico
mesmo, pode apostar, porque todos aqueles escritores, artistas e críticos metidos a besta estavam
ali esperando a vitória de um conto em formato tradicional. Quase engasgaram com seus canapés
quando aquele azarão, aquele autor de gibis, acabou levando o que seria um diamante do
tamanho do Ritz. Muitos bufaram com desprezo. Diversos pareciam ofendidos. Vários recordes de
indignação foram quebrados. E tantos outros gritaram reclamando marmelada. Os enfurecidos
ficaram injuriados ao saber que o resultado fora decidido por um júri acima de qualquer suspeita,
composto por especialistas incorruptíveis e nada dispostos a fazerem vistas grossas à excelência.
Assim, as Grandes Eminências Pardas que coordenaram a FantasyCon se reuniram por trás de
seu véu de mistério noturno e reescreveram as regras, para que – graças aos céus – nunca mais
uma ‘história em quadrinhos’ fosse indicada ao prêmio e tivesse qualquer chance de dar uma surra
inesquecível nos outros concorrentes” (ELLISON in GAIMAN: 2006)
103
imagem de Lúcifer baseada em David Bowie na n
o
4. Sandman, mesmo sem os
referenciais explícitos ao Gótico, é muito bem acolhido pelos insiders. O flyer
elaborado para a festa do Projeto Mortuosos (capítulo 3.5, página 91) traz
imagens do HQ concebidas por Dave McKean, indicando uma presente relação do
Gótico com esse universo (Figuras 55 e 56).
Figura 55
Figura 56
4.2. Edward
A década de 1990 é presenteada pela bela obra de Tim Burton “Edward
Mãos de Tesoura”. Fã de filmes de horror como os clássicos Frankenstein, de
1931, Drácula, o Príncipe das Trevas e A Mosca da Cabeça Branca, de 1958, teve
como primeiros trabalhos os curtas Vincent (1982) e Frankenweenie (1984) (sendo
o primeiro uma homenagem ao seu ídolo Vincent Price).
Burton é o maior expoente do Gótico no cinema de grandes produções dos
Estados Unidos. Em 1988, em seu primeiro sucesso, Os Fantasmas se Divertem,
Winona Ryder faz o papel de uma garota gótica enquanto Michael Keaton
104
interpreta um fantasma no melhor estilo death rock, em uma história de humor e
ironia sobre a morte e a pós-vida. Keaton reaparece em Batman numa Gotham
City recheada de imaginário gótico.
A trilha sonora é elemento importantíssimo e acompanhará Burton em seus
mais diversos trabalhos. Danny Elfman foi integrante do Oingo Boingo, banda pop
dos anos 80 da qual Burton era fã. Seu primeiro trabalho a convite do diretor foi
criação da trilha de Pee-Wee’s Big Adventure [Grande Aventura de Pee-Wee]
(1985). O ponto nodal máximo de sua música com o Gótico está na gravação de
“Face to Face” [Face a Face], junto a Siouxsie and The Banshees para o filme
Batman, o Retorno.
Uma fábula moderna é concebida por Burton, num misto de Homúnculo,
Pinóquio e o monstro de Frankenstein. “Edward era um homem artificial de bom
coração, com tesouras no lugar das mãos, (...) apartado do convívio com humanos
por ter uma anatomia diferente e, também, por ser fisicamente incapaz de tocar
seus semelhantes” (TORELLI, 2001: 5). Para este papel é chamado Johnny Depp,
compondo um time que muitas vezes voltará a se reunir (ele, Burton e Elfman).
O primeiro contato de Edward com uma “pessoa normal” ocorre em seu
ambiente: um casarão obscuro que pode ser avistado ao longe por situar-se no
topo da colina, num estilo que remete aos castelos de Drácula ou Frankenstein,
cercado por um alto muro e grande portão de ferro. Uma vendedora de produtos
Avon toma fôlego e se lança à casa em busca de um cliente. O portão de ferro
envolto em plantas está entreaberto e, ao transpô-lo, depara-se com um
contrastante cenário, por trás dos sombrios muros que cercam a casa existe um
jardim, colorido, bem cuidado, com diversos temas inocentes e infantis. Saindo do
canteiro central de forma circular, figura geométrica associada a Deus (NICHOLS,
2000: 53-56), há uma mão. “A Mão de Deus”, de Auguste Rodin, traz Criador e
Criação juntos, ligados a ponto de um se perder no outro. No filme, diferentemente
da obra de Rodin, a mão parece ter liberado sua criação (privando-a,
ironicamente, de suas mãos).
Dentro da casa há pouca luz e um grande vazio. No ponto mais alto,
escondido na sombra do telhado e atrás de uma cortina de luz solar que invade
105
pelo vão no teto, está Edward. Ele veste roupa preta de couro com cintos e fivelas,
tem rosto pálido e um penteado que uma vez mais remete a Robert Smith e Peter
Murphy. Sua face tem traços andrógenos nos lábios pintados e na ausência de
sobrancelha. Em torno dos olhos uma sombra em forma de círculo apresenta em
seu traçado a impressão de tristeza
107
, além de diversas cicatrizes de corte no
rosto.
Quando levado ao “mundo normal”, depara-se com um visual limpo. Casas
e carros colorido pastel e um ritmo aparentemente mecânico de vida. Como um
meio para integrar Edward a esta realidade, ele é vestido com roupas básicas
(standard). Por um descuido ao manipular seu suspensório, neste é feito um
remendo com alfinetes, fazendo com que o protagonista fique parecido com os
primeiros góticos, num visual que ainda tinha muito de punk (camisa branca, calça
preta em tamanhos maiores que o manequim de Edward, suspensório com
alfinetes e todo o visual gótico do couro preto que aparece e de seu rosto e
cabelo) (Figura 57).
Figura 57
Tim Burton busca em seu filme
afirmar a relevância eterna dos contos
de fada (TORELLI, ibidem: 4-5).
Edward encarna aspectos de Pinóquio
à Fera. Desta última referência vem
seu amor por uma jovem (uma
encarnação da Bela), assim como a ira
do jovem que não aceita perdê-la para
uma “criatura”. Um dos pontos altos do
filme ocorre no natal. Edward esculpe
um anjo no gelo, representando como
vê a jovem, enquanto ela dança de
vestido branco sob os flocos que caem
do alto. Essa imagem traz diversos
temas que ecoam no Gótico. A jovem
107
referência a filmes expressionistas como O Cabinete do Dr. Caligari.
106
de branco, em sua dança, representando a pureza e o poder elevado feminino, a
musa, a pálida donzela do romantismo, intocável e admirável. Essas possíveis
associações reforçam o contraste com o anti-herói em sua roupa negra, sua
artificialidade, seu aspecto demoníaco (reforçado por uma personagem devota
cristã) e o modo como este remete ao poeta romântico que não toca sua musa,
mas a traz em sua obra.
Burton traz em seu anti-herói o seu caráter de herói, de “mais que humano”,
dialogando com a mitologia grega onde este é filho de humano com deuses e, por
isso mesmo, é eterna vítima de tragédias. O diretor também inverte os valores de
sagrado e profano
108
. Tanto na cena do anjo de gelo quanto no local onde fica seu
casarão, Edward está em cima, mais próximo do alto. O alto é uma posição
hierárquica elevada, associada ao divino e aos maiores poderes. O protagonista
representa, no filme, a criança (dada a fala do policial) e a inocência. Abaixo dele
está a cidade e as pessoas apresentando aspectos impuros, com vícios e malícia.
O herói não se mostra interessado nas mesmas coisas que o “povo de baixo”; ele
se prende sempre a detalhes dos quais estes não se detêm e neles gasta tempo
em contemplação
109
. E esse é o desfecho responsável pela emergência da jovem
angelical. Ele a contempla, mas não nos traços que o “povo de baixo” reconhece,
e sim nos traços que o seu olhar puro encontra identificação. E a jovem desperta
em si esses traços angelicais de pureza quando ela os encontra em Edward.
O filme caminha para um final semelhante de A Bela e a Fera. Contudo,
após matar seu arquiinimigo, Edward não se torna um príncipe nem é acolhido
pela cidade. A jovem o declara morto para protegê-lo da turba e para evitar que
alguém mais volte e perturbe ainda mais a inocência do herói. Ela o abandona
após declarar seu amor. Ambos vivem com a memória um do outro, num desfecho
característico de um herói trágico.
108
Visto que essa é uma tendência do Gótico que explora as tensões entre ambos. Ataraxia, por
exemplo, define sua sonoridade por “uma mistura inusitada de sagrado e profano, atmosférico e
experimental, música contemporânea e antiga” (
www.ataraxia.net). Burton utiliza esse jogo
também em “A Noiva Cadáver”, trazendo um colorido mundo dos mortos em contraste ao
acinzentado mundo dos vivos.
109
A atitude de contemplação é parte do imaginário de muitos góticos, como é o caso da própria
descrição da banda Ataraxia em seu site oficial quanto em descrições sobre o ser gótico (ver
gótica18 em Anexos).
107
O amor impossível ou perdido seguido de eterna dor é parte do arcabouço
de temas no Gótico, tanto em composições específicas do subsistema quanto em
referências para as quais este aponta.
4.3. Mediação e Comunicação
Nos dois casos acima podemos observar as relações que caracterizam o
Gótico como um sistema diferenciado do sistema maior do qual faz parte, as
Sombras. São notáveis, por exemplo, quais filmes de Burton estão relacionados a
este por apresentarem elementos das Sombras organizados de determinada
maneira (não rígida, mas singular).
Outros casos aparecem em mídias voltadas para a propaganda. Na Figura
58, há uma referência direta ao Gótico (contudo mais próxima do Gothic Metal do
que deste) na propaganda do refrigerante Pepsi Twist na revista Bizz (2007), com
a banda Evanescence e o Gótico como matérias de capa. Já na revista Capricho
(2007), a referência é sutil, aparecendo somente nas imagens da personagem
“perfumista, a maga dos perfumes” da empresa O Boticário, produzido pela Área
de Projetos Especiais do Núcleo Jovem da Editora Abril (Figura 59).
Figura 58
108
Figura 59
Durante todo o trabalho, o Gótico é proposto como um subsistema que
engendra a identidade, o imaginário, o estilo e a subcultura gótica. Mas falta ainda
destacar alguns aspectos sobre a existência desse subsistema. Para tanto segue
um ensaio para um futuro pensamento mais aprofundado.
Tanto ele como as Sombras estão relacionados à comunicação. O corpo na
relação com o ambiente é a possibilidade única de existência destes sistemas, na
ação comunicativa entre as informações do ambiente e aquelas existentes no
corpo. Logo, são sistemas existentes na mediação.
Com relação às informações é importante sublinhar que elas estão em
constante movimento, configurando-se em estados de informação. Assim sendo, o
corpo em relação comunicativa não apresenta informações estáticas, estocadas
em alguma parte do cérebro. “As várias qualidades de informação que um corpo
produz e abriga não são compartimentadas ou estanques, mas se comunicam e
109
se relacionam” (KATZ: 2005: 39). O pensamento, a cognição, a memória e a
percepção são sempre ações.
As informações que compõem o Gótico estão sempre em movimento
comunicativo, modificando suas formas de existência. De maneira mais clara, elas
podem ser apreciadas e reconhecidas na forma de flyers, fanzines, sites,
indumentária, acessórios e produção literária características do subsistema. Todos
estes criados na relação entre o corpo (e o modo como as informações são/estão
corpo) e as informações de seu ambiente imediato. Sendo que, nessa abordagem,
o corpo é pensado não como isolado e separado do ambiente, mas como co-
evolutivo desse.
Os diversos contextos
110
são fatores importantes na relação comunicativa.
“O semioticista Thomas Sebeok (1991) salienta que o contexto onde tudo
acontece [relação corpo/ambiente] é muito importante e que o ‘onde’ tudo ocorre
nunca é passivo” (KATZ e GREINER in GREINER: 2005, 129. Destaque meu). No
século XXI, a internet é grande fonte de informações, ainda que conte com
excessos de referências, com qualidade muitas vezes duvidosa. Ela possibilita
conexões com indivíduos para além dos locais de acesso (na cidade, no estado ou
país), criando vínculos e aumentando o comprometimento e dedicação à
subcultura. Além disso, “em uma subcultura demasiada obscura para o rádio ou
cobertura da mídia musical impressa, eventos subculturais foram igualmente
importantes como uma fonte de conhecimento sobre e familiaridade com a música
gótica” (HODKINSON, idem: 97). Não só com a música, mas com o
comportamento, a moda, a dança e participantes da cena. Nos eventos, assim
como em espaços de troca freqüentados pelos góticos (como a Galeria do Rock
em São Paulo), é possível encontrar fontes de informação sobre o Gótico como
futuros eventos, tendências da moda, incrementos no imaginário, etc. assim como
iniciar ou aprimorar relacionamentos de amizade e namoro.
110
Adotanto a definição de Sebeok sobre “contexto como o reconhecimnento que um organismo
faz das condições e maneiras de usar efetivamente as mensagens. Contexto inclui, portanto,
sistema cognitivo (mente), mensagens que fluem paralelamente, a memória de mensagens prévias
que foram processadas ou experienciadas e, sem dúvida, a antecipação de futuras mensagens
que ainda serão trazidas à ação mas já existem como possibilidade” (KATZ e GREINER in
GREINER: 2005, 130).
110
Quando em contato com informações elementares que se agregam no
sistema, seja no ciberespaço, seja nos outros espaços de troca, a mediação
ocorre de modo que as informações se corpoconectivam
111
, ou seja, de modo que
elas se tornem corpo, modificando seu estado (LAKOFF & JOHNSON, 1999;
KATZ & GREINER, ibidem: 130).
No Gótico, existem diversas relações de poder. Indivíduos que demonstrem
maior conhecimento, número de contatos ou maior tempo na subcultura são
aqueles que esboçam uma hierarquia mais elevada. Hodkinson (ibidem) chama
esse jogo de poder interno ao subsistema de “capital subcultural”. Através do
comprometimento, da dedicação, do reconhecimento, da popularidade, da
liberdade de inovação e outros tantos fatores, os indivíduos se envolvem em
relações de poder. E esta tem também como possibilidade de existência a
mediação com o corpo.
Para desenvolver mais profundamente a hipótese do sistema na mediação,
ou mais corretamente, do sistema que é mediação, todo um arcabouço teórico é
necessário, tratando-se esta de uma questão teórica de alta complexidade.
O primeiro movimento desse estudo foi a investigação das possibilidades
de existência de uma identidade gótica. Através das Ciências Cognitivas e do
Evolucionismo foi levantada a hipótese do “corpo gótico”, sendo a teoria do
corpomídia (KATZ: 2005) a base teórica imediata. Seriam, então, investigadas as
relações existentes na materialidade da construção do modo gótico de pensar o
mundo no corpo.
Contudo, essa hipótese cresceu em complexidade e passou a pedir por um
movimento anterior. A dissertação tornou-se esse movimento anterior. Antes de
buscar a construção do modo gótico de ser foi necessário aprender a pensar o
Gótico.
Para alcançar a hipótese do corpo gótico foi preciso buscar um pensamento
sobre a subcultura, o imaginário, o estilo e a identidade gótica que possibilitasse
111
Este termo é uma adaptação para a língua portuguesa feita por José Roberto Aguilar para o
termo embodied, “que significa mente/corpo trazidos juntos, envolvidos num contexto biológico,
psicológico e cultural” (RENGEL:2006).
111
um diálogo com as teorias da comunicação e da cognição relacionadas à hipótese
aqui apresentada. Esta é a razão primordial e essencial para o uso da Teoria
Geral dos Sistemas.
Os motivos ligados à proposta do sistema Sombras vêm da idéia de trazer
um pensamento sobre o Gótico “de uma maneira gótica”. O primeiro despertar
para as Sombras se deu com o estudo sobre a carta Lua no tarô de Salie Nichols
(2000); posteriormente, com a teoria junguiana da sombra; e, finalmente, com a
abordagem de Roberto Casati (2001) sobre as sombras na ciência e na filosofia.
4.4. Conclusão
Figura 60 – Oroboros
Desde o final do século XX, um crescente número de subculturas emergem,
expandem-se, retraem, permanecem ou deixam de existir. Há uma relação comum
entre elas, relação esta que conecta o Gótico a períodos anteriores e a outros
sistemas como o Punk, o Beat, o Existencialismo, o Clubber e o Heavy Metal: as
Sombras.
As diversas tentativas de autores de mostrar o Gótico como uma recorrente
histórica linear aponta para elementos das Sombras em diversos contextos e,
através deles, constrói uma narrativa. Contudo, é na estruturação e organização
que ele se difere de outras referências.
Menos sutil do que pode parecer, essa diferenciação é fundamental para a
formulação do Gótico em suas especificidades. Ocorre, por também ser
subsistema das Sombras, que seja confundido com outros. É o caso de associar o
Gótico ao Satanismo ou ao Punk. Cada um é formado por características próprias
112
e deve-se cuidar para que um não seja tomado pelo outro. Seria o caso, por
exemplo, de afirmar que os góticos carregam uma postura agressiva, praticando
atos de vandalismo e violência tal como certas vertentes do Punk.
Tiros em Columbine, documentário de Michael Moore, mostra claramente
esse tipo de associação. Quando a Imprensa oferece argumentos para o ocorrido
na cidade, aponta como causa as músicas de heavy metal, a subcultura gótica e,
com maior incidência, Marilyn Manson. O polêmico superstar
112
foi identificado
como o representante de todos os aspectos malévolos da cultura estadunidense.
Ironicamente, Manson foi muito coerente sobre a questão de Columbine,
mostrando postura madura e compreensiva, verdadeira sombra de uma Imprensa
agressiva, estigmatizadora e prepotente (em apontar com autoridade as possíveis
causas do incidente).
Aqui foi apresentado um pensamento sobre o imaginário, o estilo e a
subcultura góticas. Para tal, foi buscada uma ótica diferenciada para questões da
cultura.
Trata-se de um singelo movimento inicial, a primeira volta de Oroboros
dentro desse pensamento. Oroboros é a serpente devorando a si mesma num
continuum infinitum. A conclusão de agora é um momento, um estado de
Oroboros, que devorará a este, se renovando, trazendo nova pele.
Mesmo sendo uma pesquisa desenvolvida com foco em sua continuidade,
manteve seu foco nas possíveis aberturas que oferece nas Sombras e no Gótico.
As informações apresentadas sobre o Gótico são, na maior parte dos
casos, a camada superficial do sistema. Tanto estas quanto outras que aqui não
foram apresentadas oferecem grandes linhas de aprofundamento. Mas, por ser
um sistema lunar, familiarizar-se com ele pode levar tempo. No comentário de
Helena Katz com relação à Semiótica, podemos encontrar pistas para o contato
com o Gótico:
O primeiro contato com a semiótica peirciana quase sempre, fica muito
mais facilitada quando se dá por explicação oral com quem teve boa
112
Inclusive entre os góticos que travam discussões sobre este ser ou não uma referência gótica.
113
formação. Semiótica funciona melhor quando começa sendo explicada ao
vivo, permitindo que as muitas dúvidas que habitualmente assomam sejam
imediatamente compartilhadas. Face à impossibilidade de dar conta desta
necessidade aqui, a sugestão que ofereço a você leitor, é não desanimar.
Com semiótica a gente pratica a técnica osmose: vai encostando nela, lendo e
relendo, repetindo e retomando, encostando nela de formas variadas, até
brotar a familiaridade que anuncia a chegada do sentido. (KATZ, 2005: 24)
Elementos reprimidos engendram enorme potencial criativo. As Sombras
carregam e podem revelar muito do que a humanidade tende a esconder de si
mesma. Na fáustica busca do Übermensch; o diálogo com as Sombras é essencial
no encontro com o ser Mensch. Como concluíram Jeremiah Abrams e Connie
Zweig (2005), esse estado de estar aberto para tal contato é a chave (o ankh
primordial) de uma existência menos hipócrita frente a nossa própria humanidade
e um passo a mais em direção à solidariedade (BAUMAN: 1999).
Não convém subestimar o poder das sombras.
Roberto Casati (2001: 32)
114
115
B
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<www.carcasse.com>. Acesso em 18 de jul. 2007.
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<www.scathe.demon.co.uk>. Acesso em 18 jul. 2007SPECTRUM: Portal Brasileiro
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jul. 2007.
126
ANEXOS
ÍNDICE
Revista Paradoxo..................................................................
página 127
Entrevistas............................................................................
página 130
As Meninas Gothikas............................................................
página 151
Industrial...............................................................................
página 155
O Manifesto Gótico...............................................................
página 158
FAQ Gótico...........................................................................
página 160
127
Goticismo e sua história
Conheça um pouco mais sobre o movimento
por Jairo Lavia
O sentido etimológico e histórico da palavra “gótico” tem sua origem ligada a duas vertentes. A
primeira relativa aos Godos, uma tribo de germânicos que invadiu o império romano no século
III, posteriormente convertida ao cristianismo. A segunda refere-se a um estilo de arte
medieval presente entre os séculos XIII e XV, marcante no que se refere principalmente à
arquitetura, sendo famosas as catedrais de Notre-Dame e Charters, na França, e de
Westminster e Lincoln, na Inglaterra.
O cerne do movimento dark se encontra no pós-Punk inglês do final dos anos 1970, como uma
nova subcultura juvenil que se articula dentro do rock numa inversão de valores ancorada no
“do it yourself”. Como ressalta a socióloga
Helena Wendel Abramo em seu livro Cenas
Juvenis - Punks e Darks no Espetáculo
Urbano: “O nome dark foi posteriormente
assumido por uma tribo mais jovem, já na
segunda metade dos anos 1980, que se
vestia quase exclusivamente de negro, e
que se considerava ‘filiada’ ao som e ao
estilo do rock paulista. Dessa forma, o
título passou a identificar,
retrospectivamente, o grupo original, e
servindo para designar, de certo modo,
tanto a sua produção musical quanto
algumas das bandas inglesas que eram referência para o grupo tais como The Cure, Joy
Division, Siouxsie and the Banshees e The Sisters of Mercy”.
No campo literário, está estritamente ligada aos autores e poetas que exaltavam uma
atmosfera sombria e transcendental em cenários medievais, personagens anti-heróis e
sentimentos de mal estar, profunda melancolia, morbidez e solidão do ultra-romantismo ou
“mal do século”. Entre seus expoentes nomes como Lord Byron, Charles Baudelaire, Alfred
Musset, Edgar Alan Poe além dos brasileiros Álvares de Azevedo e Casemiro de Abreu. Como
adjetivo, passou a denominar a renovação musical do pós-Punk que se culminou com o gothic
rock, um rótulo que passou a sinalizar um novo estilo musical alternativo no final dos anos
1970, acompanhado do surgimento de uma tribo dark sendo a música, modo de vestir,
expressão facial, gesticulação e postura de corpo os seus elementos centralizadores.
128
Música
Considera-se o quarteto inglês Bauhaus o precursor do gênero. O primeiro single da banda,
Bela Lugosi is Dead
, de 1979, é pontuado pelo baixo muito presente, distorções de guitarra e
bateria marcial. Como front man seu vocalista Peter Murphy, de voz soturna e fantasmagórica,
delira entre pesadelos e temas como morte, vampiros, morcegos e rituais pagãos.
Com base no seu visual e na sua música depressiva, uma primeira leva de bandas foi rotulada
como gótica. Entre as quais, Siouxsie & the Banshees, da musa Siouxsie Sioux; The Cure, dos
cabelos desgrenhados de Robert Smith; The Sisters of Mercy além de Joy Division, do vocalista
Ian Curtis, o suicida que deixou como legado a melancolia em letras como Love will Tear us
Apart, uma das mais belas e tristes canções sobre o amor. “Nos anos 1980 que a morte será o
tema mais recorrente nas canções pop, sendo igualmente comuns temas como melancolia,
desespero, abandono, decepções amorosas e falta de perspectivas”, afirma a estudiosa Beatrix
Algrave.
Da casa noturna Bat Cave, em Londres, a onda comportamental dark se espalhou para outros
cantos do mundo. E também pelo Brasil afora, mas, sem dúvida se concentrando em São Paulo
e, conseqüentemente em casas noturnas como Madame Satã, Retrô, depois no Treibhaus e
atualmente em lugares como o Salamandra, Soda Pop, Tribe House, After Dark entre outras.
De meados dos anos 1990 para cá, o gothic rock buscou abrigo em outros gêneros e
subgêneros como o new metal, heavy metal melódico e o doom metal em bandas como
Cradle of
Filth, Type O Negative, Nightwish, Lacrimosa, Tristania, Whithin Temptation e Das Ich. Principalmente no
que diz respeito aos vocais, ora guturais e pesados, ora delicadamente femininos, o visual e
letras lírico-depressivas que exaltam a melancolia e o romantismo adolescente. “É uma certa
forma de atrair o público e essas bandas deram uma levantada no espírito gótico”, opina a
técnica em eletrônica Valquiria Gonzaga.
Carlos “Moonlight” é mais radical: “O dito ‘som gótico morreu em 1989, nada de realmente
criativo surgiu, se resumindo a bandas eletrônicas que muitas vezes se perdem no techno e
suas vertentes, em retalhos das maravilhosas bandas dos 80 e nesse desprezível heavy metal
choroso, obvio e repugnante que pelo visto parece agradar principalmente aos metaleiros que
gostam de se vestir bem”. E finaliza sobre as pessoas que curtem esse tipo de som e se dizem
góticos: “Está mais para genérico barato e inócuo, no entanto, elas podem começar a partir de
tais porcarias e depois apreciar outras como Sisters of Mercy ou Jesus and Mary Chain. Mesmo
assim se ainda preferirem essas bandas padrão MTV, que vão para o inferno”.
[26/04/2005]
Rozz - São Paulo - 24/05/2005 ~ 03:25
Citação: De meados dos anos 1990 para cá, o gothic rock buscou abrigo em outros gêneros e subgêneros como o
new metal, heavy metal melódico e o doom metal em bandas como Cradle of Filth, Type O Negative, Nightwish,
Lacrimosa, Tristania, Whithin Temptation e Das Ich. Principalmente no que diz respeito aos vocais, ora guturais e
pesados, ora delicadamente femininos, o visual e letras lírico-depressivas que exaltam a melancolia e o
romantismo adolescente. “É uma certa forma de atrair o público e essas bandas deram uma levantada no espírito
gótico”, opina a técnica em eletrônica Valquiria Gonzaga. Ahhhhhhh! O que é isso?! Minha Nossa! Onde que o pós-
punk buscou abrigo em bandas de metal?! Quando isso aconteceu?! Isso não existe, o "metal gótico" não passa de
uma vertente do metal! Nada mais que isso. Citação: "... e nesse desprezível heavy metal choroso, obvio e
repugnante que pelo visto parece agradar principalmente aos metaleiros que gostam de se vestir bem”. Concordo
com o cara que disse isso...! Mas, só essa parte. Não acredito que desde 1989 deixou-se de surgir bandas de boa
qualidade no estilo gótico (não metal gótico)... Apesar de eu, Rozz, curtir em maior parte as bandas lançadas nos
anos 80. Mas, essa matéria não muda em nada se comparada a outras... Sempre são incompletas, e sempre tem
um tonto que não sabe nem quando está com fome... Mas... O que eu posso fazer?! Nothing. Até mais.
129
Luciano - sao jose sc - 27/05/2005 ~ 18:06
Quem escreveu isso não sabe bulhufas do assunto.
Kipper - São Paulo - 30/05/2005 ~ 19:04
Artigo completamente mal informado. O articulista devia pesquisar mais antes de escrever sobre o assunto.
Neo - Porto Alegre - 12/06/2005 ~ 10:26
Na boa... matéria tosca e sem argumentos respeitáveis... tem uma hora que até afirmam que o Ian Curtis foi
vocalista do The Sisters of Mercy... eu não sabia disso :P ... "The Sisters of Mercy e Joy Division, do vocalista Ian
Curtis"... ou deve-se aprender melhor ao uso do "e" e da "," :)
Jairo Lavia - Da Redação - 12/06/2005 ~ 18:08
O texto é claro: “De meados dos anos 1990 para cá, o gothic rock buscou abrigo em outros gêneros e subgêneros
como o new metal, heavy metal melódico e o doom metal em bandas como...” (Aqui eu poderia citar dezenas de
bandas ditas “gothic rock” que se abrigaram em outro gêneros). Aliás, não existe gênero gótico, isso foi cunhado
pela mídia e os fãs para denominar algumas bandas pós-punk. Eu nenhum momento eu disse que o pós-punk
buscou abrigo em bandas de metal. Em outro trecho eu digo claramente: “Com base no seu visual e na sua música
depressiva, uma primeira leva de bandas foi rotulada como gótica. Entre as quais, Siouxsie & the Banshees, da
musa Siouxsie Sioux; The Cure, dos cabelos desgrenhados de Robert Smith; The Sisters of Mercy além de Joy
Division, do vocalista Ian Curtis...” Em nenhum momento eu disse um absurdo de que Ian Curtis era vocalista do
Sisters. Agora, não dá para agradar a todos. Ou goste ou não do texto. Freqüento a cena alternativa e casas
noturnas “góticas” há pelo menos doze anos, e começo a acreditar que essa geração de hoje gosta mesmo é de
dançar melancolicamente virada contra a parede – pobres defensores de um movimento morto.
Angela Prallini - São Paulo - 10/07/2005 ~ 13:05
Sinceramente, acho que antes das pessoas tecerem críticas agressivas e vazias deveriam ao menos se dar ao
trabalho de ler o texto com atenção. Nota-se que houve essa falha por parte da maioria dos que comentaram. Para
dizer que o artigo está ruim ou mal feito teriam que no mínimo apontar a causa de tal afirmação e quais seriam os
erros cometidos. Enfim, é a crítica pela crítica, vazia e sem sentido. É um artigo curto portanto não aborda o tema
prufundamente, mas apresenta em poucas linhas o que se pode considerar um panorama geral. Com exceção da
obra de Helena Wendel Abramo não conheço outros trabalhos nacionais sobre este assunto, mas quem souber
inglês e quiser aprofundar pode consultar os livros: "Gothic Rock Black Book", "Gothic Rock", "The Hex Files - The
Goth Bible" ou "21st Century Goth"; todos de autoria de Mick Mercer. O último retrata a "cena gótica" atual, da
década de 1990 para cá.
edu - New York - 03/08/2005 ~ 15:04
...acho o texto mal escrito...coisa de amador...e de qualquer maneira, os melhores livros pra se entender essa
passagem sao as biografias das bandas e artistas da epoca...como ...In the reptile house, with Sisters Of Mercy
and Bauhaus....(nao lembro o nome do autor) ..."Dark Entries, Bauhaus and Beyond...(Ian Shirley)..."Siouxsie &
the Banshees, the authorized biography...(Mark Paytress) ..."Gothic" (Richard Davenport-Hines)....a poucos meses
atraz a revista Uncut tbm lancou um edicao especial com nada menos que TODAS as entrevistas e criticas de
albuns do "New Music Express"..dos artistas mais expressivos do periodo de 1976 a 1992, (TODAS as entrevistas
com Cure, Bauhaus, S.O.M, The Birthday Party....realmente um "must have" se alguem tem qualquer interesse
jornalistico, nesse assunto....os livros de Mick Mercer falam sobre a musica mais sao mais voltados para a
estetica...
Luciano - são josé sc - 01/11/2005 ~ 17:04
Cradle of Filth é gótico? Nossa... Isso mostra o quanto a pessoa sabe das coisas. Como já dito, o artigo está muito
mal argumentado. E em poucas palavras, poderia ser mais expressivo do que está sendo. Abraços.
130
Gótica 17
Como teve os primeiros contatos com o universo gótico?
Por sempre gostar deste tipo de música e desde pequena já tinha amigos góticos.
Há quanto tempo está participando da subcultura gótica?
Acho que desde os 12 anos.
O que é ser gótico?
Ser gótico é ser você mesmo, com um ar um pouco mórbido, mas eu sou uma gótica que
além de ser mórbida eu curto a vida até o último, ser gótico é ter seus próprios atos e
pensamentos.
As informações sobre o Gótico são de fácil acesso?
São de fácil acesso, pois hoje em dia existem reuniões e livros, que falam sobre isso, só a
pessoa saber procurar e não ler qualquer coisa.
De onde vem suas influências góticas (música, filmes, livros, RPG,...)?
Minha influência vem um pouco da música, mas vem mais do estilo de vida e pensamento.
Você possui alguma fonte segura de informação sobre o Gótico?
Nenhuma fonte é cem por cento segura. Nós que temos que diferenciar uma das outras,
pois correm muitos boatos falando que góticos são marginais, mas nem todos são assim.
Existe uma forte tradição oral de transmissão de conhecimento sobre o Gótico na cena
paulista? Qual a sua opinião sobre isso?
Existe aquela tradição que todos os góticos têm que se vestir de preto, e serem totalmente
mórbidos, mas normalmente nas tradições mais antigas, que hoje não se faz mais, todos os
góticos têm que ser discretos.
O que você acha sobre “falsos góticos” e “verdadeiros góticos”?
Falsos góticos são aqueles que se vestem de preto para fazer baderna na rua, não
pensam e nem agem como góticos, e se você perguntar uma destas perguntas para eles, eles vão
falar que ser gótico é um estilo de música satânica que só faz o mal.
Já os góticos verdadeiros, alguns praticam algum tipo de "magia", e sabem que fazer
baderna na rua não faz nosso tipo.
Normalmente, nos encontramos em cemitérios, ou em lugares escuros, só à luz do luar.
Como é visto o material gótico produzido em território nacional?
Entre os góticos é visto de uma ótima maneira, mas entre as outras pessoas como um
satanismo puro, ou até mesmo como se fossemos loucos.
Como os góticos comunicam entre si?
Por internet, ou como minha turma que se comunica por poesia, cartas, ou como
antigamente, passando recados uns pelos outros.
131
Qual é o papel da internet para um gótico do século XXI?
A internet ajuda muito, pois conheço góticos por bate-papo, e nunca nos vimos
pessoalmente, mostrando que tem vários jeitos para ser gótico.
Você concorda que muito do Gótico está sendo fortemente assimilado por sistemas não-
góticos?
Sim, alguns góticos levam isso para vida deles, por alguém rotular algo que não é nosso e
acabam sempre assumindo responsabilidades por isso.
Qual a sua opinião sobre os jovens do Gótico?
Eu penso que jovens que já são góticos há algum tempo, sabem levar a vida muito bem,
como eu, mas jovens que estão entrando agora não sabem nem metade do que é uma vida.
Espaço para livre opinião e peculiaridades.
Para sempre...
Pare e sinta o ar da morte
Que passa por seu corpo
Te abraça com força
Como se fosse levar-te
Sinta o cheiro das flores,
Flores negras e mórbidas
Por não estarem à sua volta,
Mas sonham um dia estar!
Olhe tudo à sua volta,
E veja o quanto você está morto
Frio de sentimentos quentes
Mas quente em vontade de voltar.
Pare e veja!
Que você nunca vai voltar,
E vai sempre estar no mesmo lugar
Frio e mórbido, como sempre foi.
Gótico 32
Como teve os primeiros contatos com o universo gótico?
Através da música clássica.
Há quanto tempo está participando da subcultura gótica?
Há cerca de cinco anos que me envolvi com o meio e com pessoas que se identificam com
essa filosofia de vida.
O que é ser gótico?
Ser gótico é aceitar o mundo sem suas multifacetas que visam encobrir as lamúrias sob um
véu espesso, sendo que na verdade ele é mais tênue que o laço que ata a vida e a morte. Ser
132
gótico não é unicamente a contemplação ao mórbido, e sim ao infinito, que é o verdadeiro Éden, o
qual estamos fadados... É a tentativa de descobrir qual infinito merecemos e nos aguarda.
As informações sobre o Gótico são de fácil acesso?
A internet viabilizou muitas coisas, tornando-se assim muito fácil obter informações à
respeito.
De onde vem suas influências góticas (música, filmes, livros, RPG,...)?
Particularmente literária e musical.
Você possui alguma fonte segura de informação sobre o Gótico?
Não há fonte mais segura que as experiências pelas quais passamos, e que nos ajudam a
ter concepções sobre determinadas questões.
Existe uma forte tradição oral de transmissão de conhecimento sobre o Gótico na cena
paulista? Qual a sua opinião sobre isso?
São Paulo é uma cidade indiscutivelmente propícia à difusão da cultura gótica, pela
atmosfera excessivamente urbana e que propicia a melancolia e reflexão... E o movimento, por
ainda ser pequeno, e tendo em vista a massa populacional, une apreciadores do Gótico, que dessa
forma passam informações uns para os outros.
O que você acha sobre “falsos góticos” e “verdadeiros góticos” ?
Pseudogóticos são logo desmascarados por não conseguirem se manter por muito tempo
defendendo determinadas opiniões, assim como acontece com todos os pseudos espalhados pelo
mundo, independentemente da bandeira que levantam, e os góticos que conseguem perpetuar sua
ideologia certamente passarão isso adiante, através de gerações novas que certamente virão, e
que não estão livres de modificações.
Quais são os principais locais de encontro góticos que você freqüenta?
Não costumo ir a encontros góticos, apenas a shows com o estilo musical.
Existe uma forte imitação da cena gótica européia e norte-americana no Brasil. Você
concorda? Existem adaptações feitas ou busca-se um máximo de fidelidade?
Qualquer similaridade certamente não é mera coincidência, pois a Europa, com suas
suntuosas catedrais góticas, com a atmosfera, o clima, os pensamentos da época, a musicalidade,
dentre diversos fatores, ergueram a gênese do movimento. É inegável que qualquer que fosse o
local onde a cultura viesse a emergir, se basearia nos costumes e tradições europeus e norte-
americanos.
Como é visto o material gótico produzido em território nacional?
Ainda há a supervalorização de materiais estrangeiros, mas a produção nacional tem se
tornado cada vez mais competitiva com o mercado europeu e americano, pela qualidade que vem
atingindo.
133
Como os góticos comunicam entre si?
Muitos deles se conhecem através de locais em comum que costumam freqüentar, mas a
internet vem ajudando bastante a promover encontros entre pessoas que se identificam com o
movimento.
Qual é o papel da internet para um gótico do século XXI?
Crucial, ao tempo que viabiliza o acesso a materiais distintos, particularmente musicais, e
promovendo encontros entre pessoas que gostam do Gótico.
Você concorda que muito do Gótico está sendo fortemente assimilado por sistemas não-
góticos?
Sim, sem dúvida, porque é um movimento suntuoso, glamuroso, e que chama a atenção
pela excentricidade...E dessa forma vira alvo constante de "adaptações" comerciais.
Qual a sua opinião sobre os jovens do Gótico?
São pessoas absolutamente normais, que adotam o Gótico como estilo de vida, e que de
forma alguma devem ser vistas sob uma perspectiva de rebeldia ou marginalidade pela massa que
absorve toda indústria cultural, sem analisar aquilo que consome, produzindo cada vez mais lixo
ideológico e cultural.
Espaço para livre opinião e peculiaridades.
Sonâmbulo
Perdido nas noites soturnas
Apenas seus passos,
E sua sinfonia solitária
Ecoam no murmúrio lamentoso dos espectros bruxuleantes
Erguidos nas fagulhas sibilantes da chama do Breu
Seria esse o sonho predito?
Um promessa de um reino projetado
Sobre as ruínas de um castelo jamais visto
Seria esse o destino indubitável e perene?
Sua ascensão e tomada de seu poderio
Não mais foram que uma cópia fantasiosa da realidade
A
cordai e vedes a luz
Que os círios jamais puderam iluminar
Retornai à nebulosidade sóbria
Que o sono etéreo jamais prostrara a vossos pés
Quando desejos oníricos despertarem
Com a lamúria de mais um pesar
Regressará eternamente
Ao espelho partido do infinito.
Gótica 20
Como teve os primeiros contatos com o universo gótico?
Na maioria das vezes consumindo álcool *risos*. Freqüentava bastante a noite dark no
centro, e os bares dos arredores da PUC *já que estudava ali do lado*.
Há quanto tempo está participando da subcultura gótica?
134
Desde o colegial... 4, 5 anos.
O que é ser gótico?
Complicado dizer isso. Pra mim, gótico é da arte gótica, da idade média. Como diria uma
amiga minha, “não sou católica para ser gótica”. Mas, o que chamam de “gótico” hoje em dia,
nomeando o movimento dark/underground, é exatamente o contrário: a maioria das pessoas são
ateístas ou até mesmo anti-cristo, etc etc etc. Mas por outro lado, é interessante tomar esse nome
para o movimento, pois algumas das características da arte gótica são incorporadas no visual e no
modo de vida das pessoas: a miscelânea de estilos (renda *ultra clássico* com spikes *ultra
metal*???), o sombrio, o custom, a grandiosidade, e por ai vai.
As informações sobre o Gótico são de fácil acesso?
Como não se trata de um movimento “estabelecido” (acredito eu), como o punk, por
exemplo, que tem manifesto e tudo, fica difícil definir, que dirá encontrar informações. É por isso
que o movimento, como um todo, é dividido em diversos sub núcleos, e por aí vai. Desse modo,
não há uma informação segura a respeito, mas essa também é a graça...
De onde vem suas influências góticas (música, filmes, livros, RPG,...)?
Como romântica incontestável *pode não parecer, mas eu nasci no séc XIX auahiauhai*,
minhas influencias vem diretamente e em linha reta da literatura. Quando comecei a ter contato
com os românticos, foi rolando o interesse por esse universo. Também gosto dos libertinos do séc
XVIII *eles sim agitavam!!!*. Andei com a galera de RPG um tempo, mas ODEIO RPG... menos os
de Play Station...
Você possui alguma fonte segura de informação sobre o Gótico?
Como eu disse acima, enquanto movimento que não possui um manifesto, dificilmente
haverá informações seguras... Já até li na internet que ser gótico é beber sangue, adorar vampiros
e dormir no cemitério auahiuhiu.
Existe uma forte tradição oral de transmissão de conhecimento sobre o Gótico na cena
paulista? Qual a sua opinião sobre isso?
A minha opinião é que enquanto subcultura, existem “sub-panelinhas”, cada uma com uma
fortíssima tradição oral, obviamente. Mas é meio isso, cada um na sua, cada um com suas
crenças. Eu nunca fiz parte de um “grupinho”... fico transitando entre vários...
O que você acha sobre “falsos góticos” e “verdadeiros góticos” ?
Complicado. Quem se diz verdadeiro, normalmente, é o mais falso... Acho que existe, na
real, personalidade,verdadeira e falsa. Não adianta se pintar de branco, vestir um sobretudo em
pleno verão e ir dar um rolê na 24 de Maio, naquele sol infernal e dizer “é porque eu sou gótico”.
Se sua forma de vestir, as coisas que você faz, os lugares aonde você vai, etc etc etc, não são
uma necessidade do seu ser, mas sim uma “pressaozinha”, então isso é ser uma FALSA PESSOA,
independente de ser gótico, punk, emo, axé, ou coroinha da igreja.
Quais são os principais locais de encontro góticos que você freqüenta?
Já freqüentei bastante o Madame Satã, mas não fico só nisso, porque, como amante da
música eletrônica, gosto muito de transitar por essa cena também. Sai um tempo no Atari... apesar
de ser rotulada de balada “emo”, a casa é (era rs) muito divertida. Também freqüentei muitos
135
lugares para ver bandas, Tribe House, aquele lugar em Moema que eu sempre esqueço o nome...
Hoje frequento bastante o Vegas e a D-Edge, mais uma vez, pela música e não pelas pessoas.
Existe uma forte imitação da cena gótica européia e norte-americana no Brasil. Você
concorda? Existem adaptações feitas ou busca-se um máximo de fidelidade?
Concordo e “desconcordo” *risos*. É claro que para quase todos os movimentos artísticos,
a fonte é a Europa *estados unidos BEM MENOS na minha opinião...*
Mas ao mesmo tempo, muitos movimentos surgiram aqui, tendo como base o movimento
na Europa, e depois viraram outra coisa totalmente diferente, por exemplo, modernismo. Acho que
com o “gotico” não é diferente. O mais importante é que tenham pessoas fazendo coisas legais e
únicas aqui. Por exemplo, os caras do Reviolence (
www.reviolence.com.br escuta os mp3 dos
caras que eles são destruidores). Eles estão em vias de lançar o primeiro CD aqui, mas já foram,
se não me engano, incluídos numa coletânea de metal na Alemanha. Outro cara destruidor é um
“manga-ka” brasileiro, com quem tive a honra de estudar em 2003, chamado Dc-chan (Davison
Carvalho
http://dchan.deviantart.com ), que nunca lançou um fanzine exclusivamente dele aqui,
mas agora vende seus mangas no Japão e é um ídolo local. Mesma coisa o pessoal de
performance que faz umas coisas mais darks, e estão indo para tudo quanto é lugar mostrar seus
trabalhos. Algumas pessoas mais fracas da cabeça *risos* tendem a copiar, mas quem copia, não
se dá ao trabalho de ir até as “raízes” para isso, mas produz sua copia recortando um pouco de
cada coisa que vê...
Como é visto o material gótico produzido em território nacional?
Rs... Então, como eu estava dizendo, alguns artistas já são internacionalmente
reconhecidos... eu serei a próxima!!! *risos e mais risos*
Como os góticos comunicam entre si?
Acho que a maioria usa as cordas vocais e e-mail. Menos os nostálgicos da idade média.
Esses estão no telefone de lata ainda... *risos de novo*
Qual é o papel da internet para um gótico do século XXI?
O mesmo que é para todo mundo... Se deliciar no google que divulga imagens como
ninguém... espiar os outros no orkut *agora não dá mais, ele deixa o cookie de quem visitou seu
profile nas ultimas horas... dammit!* e também falar muita coisa errada e sem sentido. Acho que
esse lance é parecido com o que acontece com a Wicca... quanta informação inútil, eu mesma que
não sou wiccana reconheço, imagine quem é de verdade!! A mesma coisa com os góticos... A era
da informação tem muitas desvantagens.
Você concorda que muito do Gótico está sendo fortemente assimilado por sistemas não-
góticos?
SIM! E os culpados são as pessoas geniais que fizeram os filmes Matrix, Sin City, Blade
Runner, etc etc etc... Porque eles vendem milhões em bilheteria, o que faz com que as marcas
comecem a fazer roupas dark e despejar nas araras... e todo o mundo compra de baciada... o
paraíso das lojas C&A no inverno: sobretudos com golas de pele, blusinhas com renda e ilhoses,
corpetes decotados... Já vi até cantor de forró com cinto de rebite e pulseirinha de spikes... Aí fica
aquela loucura... a pessoa com marca de biquíni, uma prancha de surf no quarto, adora newage,
odeia rock, é hare krishna mas nas horas vagas vai pra 24 de maio vestido de preto e pintado de
branco. Acontece. Falta a televisão ensinar pras pessoas que elas precisam ter um estilo próprio,
ao invés de ensinar a customizar a calça jeans para que fique “igualzinha a que fulano usa no filme
tal”.
Qual a sua opinião sobre os jovens do Gótico?
136
Resumindo tudo o que eu disse, dou o maior apoio, contando que seja uma iniciativa de
estilo, de atitude e, principalmente, de vontade própria. Não adianta entrar num movimento para
virar o bacana e talz. Porque o preconceito que ainda existe não compensa isso. Só da pra levar
adiante uma coisa que você realmente necessita, senão, vira esses artistas que bombam na mídia,
que já foram hippies quando era moda, já usaram roupa oriental, country, e agora, usam as darks
porque ta na moda... o futuro: como podemos perceber, é o black... não o dark, o black! *risos*.
Espaço para livre opinião e peculiaridades.
VAMP ROXXX!! Eu tinha uns cinco seis anos, acho, mas adorava Vamp... até pedi pra
minha avó fazer uma capa igual a da Natasha pra mim... De cetim, preta e vermelha... eu ficava
hooooras rodopiando com ela na sala... uma vez até tentei dormir com ela, escondido, mas minha
mãe viu e mandou tirar auahiau... Mas é obvio que aquilo é o pastiche do pastiche, nada a ver com
nada... igual essa última que teve também, “O Beijo do Vampiro”... novela das sete é sempre
nonsense, a Vamp não saiu do padrão.
Mais nada a declarar!
Gótico 27
Como teve os primeiros contatos com o universo gótico?
Quando fui à primeira vez no morcegovia (agora madame satã ).
Há quanto tempo está participando da subcultura gótica?
Uns 11 anos.
O que é ser gótico?
É ser obscuro, saber conviver com a melancolia, basicamente é isso.
As informações sobre o Gótico são de fácil acesso?
Sim hoje em dia com internet tudo fica de facíl acesso.
De onde vem suas influências góticas (música, filmes, livros, RPG,...)?
Musicas e filmes.
Você possui alguma fonte segura de informação sobre o Gótico?
Segura não.
Existe uma forte tradição oral de transmissão de conhecimento sobre o Gótico na cena
paulista? Qual a sua opinião sobre isso?
Sim.
O que você acha sobre “falsos góticos” e “verdadeiros góticos” ?
Depende do ponto de vista, falsos góticos pra mim são aqueles que cada hora é uma
coisa, um dia é metaleiro, um dia é emo um dia é gotico e por aí vai, verdadeiro sei lá são aqueles
que você conhece há muito tempo e é sempre a mesma coisa..rs mais isso de verdadeiro ou falso
é tudo bobeira...
137
Quais são os principais locais de encontro góticos que você freqüenta?
As festas do site darkdimensions www.darkdimensions.com.br.
Existe uma forte imitação da cena gótica européia e norte-americana no Brasil. Você
concorda? Existem adaptações feitas ou busca-se um máximo de fidelidade?
Existem adaptações feitas ou busca-se um máximo de fidelidade?
I
mitar competentes é sempre bom , a escola européia é bom em quase tudo, no estilo gótico não é
diferente.
Como é visto o material gótico produzido em território nacional?
De qualidade só falta mais apoio de todos do movimento.
Como os góticos comunicam entre si?
Não há comunicação, acho agora que tem mais eventos góticos o pessoal esta se
conhecendo melhor...
Qual é o papel da internet para um gótico do século XXI?
Deixá-lo bem mais informado de tudo que acontece aqui no Brasil e principalmente no
mundo.
Você concorda que muito do Gótico está sendo fortemente assimilado por sistemas não-
góticos?
Com certeza, mas isso faz parte.
Qual a sua opinião sobre os jovens do Gótico?
Estão no caminho certo, só alguns que precisam ser menos radicais.
Espaço para livre opinião e peculiaridades.
Desculpe as respostas algumas um pouco secas é que eu estou no trabalho, mas foi um
prazer participar.
Gótico 30
Como teve os primeiros contatos com o universo gótico?
Desde a minha infância a "religião" já fazia parte da minha vida e foi uma transição a cada
instante de sentimentos e de valores perdidos...
Conte um pouco sobre essa transição!
Todo o amor pela alma humana foi se perdendo com o tempo, todas as mentiras da nossa
"história religiosa" foi me induzindo e conseqüentemente me tornando uma alma cada dia mais
fria...
As portas se abriam a cada descoberta...
E todo o contexto que foi imposto pelas palavras dos homens...
Foi perdendo seu valor.
138
E como esta mudança o levou ao universo gótico?
Bem, o gótico tem uma expressão fria, serena e racional... E eu sempre me identifiquei
com esses valores. Apesar ter trabalhos também agressivos dentro do assunto religioso... Sem
esquecer de diálogos e contatos em um simples sonho... Onde o mundo espiritual me deixa muito
eufórico e às vezes depressivo... A morte, a tristeza o simples fato de você estar sozinho, o amor
pela escuridão onde não caberia mais ninguém naquele momento, só você e seus pensamentos...
O gótico é bastante solitário.
É um estado único.
E isso me faz meditar fechar os olhos e sentir e ouvir coisas que não se entende em um
outro estado...
O que é ser gótico?
Vai muito alem de um estilo musical ou estilo visual...
Ser gótico é estado de frieza para com a própria vida e para o mundo atual, sempre com os
pensamentos na próxima fase da vida...
Ser gótico é ser calculista, racional, desprezível...
E com muito romantismo, claro...
Acha possível associar o gótico aos princípios lunar e feminino?
Qual seria a restrição? É possível sim!
Como é a cena gótica em Salvador?
É uma tendência a crescer.
Muitos vivem escondidos. Trancados nos seus próprios ideais, mas já estão se reunindo
com mais freqüência nos últimos anos.
Quais são os pontos de encontro e eventos góticos de Salvador?
Veja bem, tem alguns eventos como o dartronick, bela lugosi, dark side e algumas
exposições, mais a freqüência ainda deixa a desejar.
É uma tendência em processo de transição por aqui. Tem muito a crescer apesar
acontecer esse evento e está cada vez mais forte e mais organizado.
Qual a freqüência?
Digamos que no máximo a cada 15 dias acontece um evento do gênero, tipo bandas, dias
e alguns encontros isolados... Mas pra esse ano [2007] a cena parece que vai realmente mostra a
sua força!
É o que esperamos a cada dia...
Com relação à indumentária, como os góticos se adaptam à alta temperatura da cidade?
Essa é uma negativa para com a estrela maior... Mas é tudo adaptável, tecidos mais frios
resolvem este tipo de conflito. O ser humano tem um grande poder de se auto-adaptar aos
ambientes.
O ser gótico não tem a obrigação de viver com a pele escura o tempo todo, é um estado
que é o psicológico e o conhecimento ainda fala mais alto do que uma simples indumentária...
139
Qual seria este conhecimento caracteristicamente gótico?
Acredito que esse conhecimento não fica só resumido ao gótico... A [nome da banda] tem
um trabalho que deixa muita gente com duvidas a respeito do nosso estilo. Eles não conseguem
decifrar para por um rotulo... Ou simplesmente ouvir e entender as mensagens passada pela
banda.
Quem seriam "eles"?
Produtores de eventos, jornalistas e até mesmo membro de outras bandas...
E quanto aos freqüentadores da cena gótica de salvador, seriam góticos em sua maioria?
Acredito que sim, porque é um seguimento que se a pessoa não tiver nenhuma simpatia no
mínimo ela não estaria lá, e aqui tem que ter coragem e muita ousadia para assumir uma postura
gótica...
Mas tem bastante curiosos buscando informações e querendo conhecer e ver o que está
acontecendo.
O que você pensa sobre isso?
É um sinal que a cena está crescendo e eles estão começando a sair do anonimato...
Isso não é ruim.
Quais são os espaços onde se reúnem? Sei que existem eventos e shows, há algum outro
ponto de encontro como uma loja ou parque?
Existe a praça do campo grande que é uma referencia nos fins de semana. Mas é uma
idéia para se amadurecer. A freqüência vem aumentado...
Como é visto o material gótico produzido em território nacional?
Ainda é um pouco tímido, mas vejo com bastante atenção...
Seu emprego tem relação com o gótico?
Sou designer digital, não há uma relação direta... Mas tento levar o máximo do estado
gótico para todas as partes do meu dia a dia...
Como as pessoas de seu convívio que não são góticas tendem a reagir à sua identidade?
Na maioria das vezes com ironia...
Muitas vezes não levam a serio...
Você tem alguma opinião sobre o gótico, em qualquer aspecto, que gostaria de deixar?
É importante dizer que desde a antiguidade, desde a suas arquiteturas, o gótico sempre foi
ligado ao ocultismo e seria de bom proveito se todos nós buscássemos mais informação sobre este
tipo de assunto, pois a vida depois da morte me interessa muito, até mesmo o contato com
entidades ou coisas parecidas, certo que isso é proveniente de dons, mas todos temos um cabe a
nós descobrir o qual e explorar... E usá-lo da melhor maneira possível!
140
Gótico 32
Como teve os primeiros contatos com o universo gótico?
Durante a década de 80 os góticos estavam sempre na mídia, e sempre eram comentados,
quem tinha interesse por música e comportamento, como eu.
Há quanto tempo está participando da subcultura gótica?
Apesar do meu interesse pelo assunto vir desde o final da década de 80, considero que só
comecei realmente a participar da subcultura por volta de 1995 quando comecei a freqüentar
constantemente as casas do estilo que na época ainda existiam no ABC e em S. Paulo.
O que é ser gótico?
Esse é um termo complexo de ser discutido, já que nunca houve um consenso do que
seria realmente o gótico (obviamente falando, a subcultura moderna, já que gótico é um termo
usado para várias estéticas, artísticas, arquitetônicas e literárias, muito diferentes entre si).
Acho que a maneira mais simples de definir um gótico é que é uma pessoa identificada
com certos aspectos culturais (vestimenta, música, literatura) desenvolvidos no final dos anos 70 /
começo dos 80 na Inglaterra, caracterizados pela atração pelo sombrio. Essa é uma definição bem
rápida e que não leva em conta a passagem do tempo e os desdobramentos da subcultura.
As informações sobre o Gótico são de fácil acesso?
No momento atual, para quem tem acesso à internet, sim, de tal maneira que se tornam
até confusas
.
De onde vem suas influências góticas (música, filmes, livros, RPG,...)?
Minhas influências góticas vem diretamente da música dos anos 80 (Sisters of Mercy, The
Cure, Siouxsie and the Banshees) e do visual que as pessoas que gostavam destas bandas
usavam na época.
Com o tempo, passei a gostar de outras coisas que remetem ao movimento (como a
literatura de Neil Gaiman e Anne Rice), mas não posso dizer que seja uma influência primária.
Você possui alguma fonte segura de informação sobre o Gótico?
Como não há uma definição prática do que seja o gótico, não há como dizer que exista
uma fonte segura sobre ele. O que é necessário é ler o material disponível e sempre ter uma
atitude crítica em relação a ele, mas sempre levando em consideração que todas as experiências
são válidas e devem ser respeitadas.
Existe uma forte tradição oral de transmissão de conhecimento sobre o Gótico na cena
paulista? Qual a sua opinião sobre isso?
Essa tradição é obra da situação periférica de S. Paulo em relação aos centros onde a
subcultura gótica foi desenvolvida, todos no primeiro mundo, e ao difícil acesso à material
importado na década de 80. Com a explosão da internet no final dos anos 90 essa situação
mudou.
O que você acha sobre “falsos góticos” e “verdadeiros góticos” ?
Essa é uma visão de quem acredita que só o seu conhecimento é verdadeiro. No entanto,
na nossa época de informação ampla, é difícil de manter uma atitude destas por muito tempo.
141
Quais são os principais locais de encontro góticos que você freqüenta?
Baladas góticas, mas como o movimento está numa fase de incertezas, é difícil de apontar
um lugar específico atualmente.
Existe uma forte imitação da cena gótica européia e norte-americana no Brasil. Você
concorda? Existem adaptações feitas ou busca-se um máximo de fidelidade?
A cena em si, sendo importada, sempre tenta ser fiel à original, no entanto, com o tempo
há quem busque dar um toque nacional. No entanto, por não ter raízes na nossa cultura, as
adaptações tendem a parecer forçadas.
Como é visto o material gótico produzido em território nacional?
O maior problema do material gótico nacional é a falta de um meio de circulação mais
amplo. Por um lado a falta de divulgação atrapalha as iniciativas, por outro a falta de um público
crítico leva à publicação de materiais com baixo nível de qualidade.
Como os góticos comunicam entre si?
Hoje em dia o meio principal sem sombra de dúvida é a internet.
Qual é o papel da internet para um gótico do século XXI?
Meio de comunicação, de relacionamentos e de referência, apesar do excesso de material
sem uma visão crítica às vezes ser prejudicial.
Você concorda que muito do Gótico está sendo fortemente assimilado por sistemas não-
góticos?
Em geral, movimentos deste tipo costumam ter aspectos (principalmente visuais) adotados
por outros movimentos e pela indústria da moda. No entanto, isso não quer dizer que há a
aceitação da figura do gótico, muito pelo contrário.
Qual a sua opinião sobre os jovens do Gótico?
A juventude hoje em dia é pautada cada vez mais por aspectos superficiais, e os jovens
góticos não são diferentes, com poucas exceções.
Espaço para livre opinião e peculiaridades.
Este estudo é interessante, já que há uma grande falta de análise crítica do já extenso
movimento gótico em S. Paulo. No entanto, é preciso atentar para que a visão seja a mais ampla
possível, sem ser influenciada pelo viés de um grupo ou outro.
Gótico 37
Como teve os primeiros contatos com o universo gótico?
Como meados dos anos 80 eu morava no interior do Rio Grande do Sul, não tinha muita
informação. Mas tinha o suficiente para em 1988 criar um personagem coadjuvante chamado Dark
em uma tira de quadrinhos que eu fazia.
Quando mudei para São Paulo, em fevereiro de 1990, logo me levaram a um clube gótico
alternativo e atração foi imediata.
Há quanto tempo está participando da subcultura gótica?
142
Em São Paulo, desde 1990.
O que é ser gótico?
O que é "ser" eu não sei, mas Gótico é uma subcultura urbana que se tornou auto
consciente nos anos 80 e que entre suas características estáveis desde então tem a ligação a
símbolos psicologicamente femininos e obscuros. (Lunares, enfim). Ser Gótico tem a ver com ter
afinidade por esta represen-tação de mundo. Provavelmente esta representação de mundo
obscura/ lunar/feminina surgiu para compensar/fugir de uma cultura oficial que tem se tornado
cada vez mais positivista/apolinea/pragmatica,
As informações sobre o Gótico são de fácil acesso?
Felizmente hoje, DENTRO da subcultura (2006) é muito mais fácil conseguir informação do
que quando comecei a freqüentar a cena (1990). Mas, ao mesmo tempo, existe também muita
informação distorcida que vem de FORA da subcultura. Mesmo dentro da subcultura existem
pequenos grupos que acreditam que a informação não deve ser difundida facilmente, o que me
parece um grande equivoco e facilita que as distorções e descaracterizações se difundam.
De onde vem suas influências góticas (música, filmes, livros, RPG,...)?
Ao longo dos anos fui descobrindo que quase tudo que gosto cabia ou tinha expressão no
conjunto simbólico Gótico. Mesmo profissionalmente (sou Ilustrador e quadrinhista profissional )
desenvolvo estéticas que tem a ver com o universo Gótico. Na área de literatura, cinema e música
também.
Você possui alguma fonte segura de informação sobre o Gótico?
Há varias fontes como, por exemplo:
a) pessoas que viveram na cena um pouco antes de mim, ou seja, o período do final dos
anos 80;
b) todo o período que vivenciei desde 1990;
c) livros publicados em outros paises que relatam as cenas locais desses paises: não é
nenhuma surpresa ler nesses livros coisas que a gente esta cansado de saber: gótico é gótico em
qualquer lugar do mundo.
Existe uma forte tradição oral de transmissão de conhecimento sobre o Gótico na cena
paulista? Qual a sua opinião sobre isso?
Me parece que a transmissão oral de informação no Brasil foi muito frágil para resistir a
violência da mídia de massa. Por isso é importante que existam também fontes escritas de fácil
acesso registrando a historia e os fatos e conceitos básicos. Porem, mesmo quando aconteceu um
onolitismo mediático recentemente em torno do Gothic-Metal, todo um setor do publico
simplesmen-te se afastou da cena: preferiram se afastar a aceitar o que era evidentemente errado.
Isso me parece demonstrar que mesmo não existindo uma tradição oral organizada,
conceitos claros de significado são difundidos talvez de forma não consciente ou racionalmente
elaborada. Alias, como em qualquer outra cultura :-)
O que você acha sobre “falsos góticos” e “verdadeiros góticos” ?
Não entendi a pergunta.
Quais são os principais locais de encontro góticos que você freqüenta?
143
Como organizador sou um pouco suspeito para falar, pois começamos a organizar eventos
exatamente por não termos onde nos encontrar. Alem do nosso evento, felizmente hoje já existem
alguns outros em que o pessoal pode ficar a vontade.
Existe uma forte imitação da cena gótica européia e norte-americana no Brasil. Você
concorda? Existem adaptações feitas ou busca-se um máximo de fidelidade?
Creio que é equivocado considerar o Gótico "verdadeiro" como o "Europeu". Pois a
subcultura Gótica se desenvolveu em vários continentes e paises, e em cada um desenvolveu um
"tempero" próprio, mas mantendo as características do "prato clássico.". Assim, temos Góticos
Paulistas, Cariocas, Paranaenses, Californianos, New Yorquinos, da Lousianas, Portugueses,
Alemães, Ingleses, na Indonesia, etc. etc..
Com certeza todos eles tem muito mais em comum entre si do que seus compatriotas não
góticos que moram na casa ao lado. Por isso Paul Hodkinson chama a subcultura Gótica de
"subcultura translocal".
Como é visto o material gótico produzido em território nacional?
Em termos musicais, temos bandas tão boas como em qualquer outro pais. Na área de
publicações especializadas, lojas e comércio especializado estamos ainda engatinhando.
Como os góticos comunicam entre si?
A Popularização da Internet no final dos anos 90 deu fôlego para uma renovação da sub-
cultura Gótica. No Brasil temos grande parte da informação subcultural e as agendas locais
transmitidas pelos Sites especializados. Mesmo quem tem pouco acesso acaba sabendo das
coisas por ai. Eventualmente, algum amigo imprime material para os "sem-net".
Qual é o papel da internet para um gótico do século XXI?
A popularização da Internet no final dos anos 90 deu um novo fôlego a transmissão de
informação subcultural e a reorganização da subcultura gótica em bases paradoxalmente mais
sólidas do que anteriormente: principalmente no Brasil, a continuidade da cena antes da Internet
dependia de eventos que não conseguiam tem continuidade devido a problemas econômicos .
Agora esse problema foi transcendido. Pela primeira vez temos bases de informações que não
serão perdidas de um ou todos os clubes fecharem por algum período. (o que acaba acontecendo
periodicamente...)
Você concorda que muito do Gótico está sendo fortemente assimilado por sistemas não-
góticos?
Em 16 anos na cena já vi "O Gotico" entrar e sair de moda na mídia de massa várias
vezes. Sempre acontece a mesma coisa: aparece um gótico em alguma novela ou filme etc e muita
gente entra na cena em um período curto, inchando-a. Depois de um tempo a moda passa e a
entrada e saída de integrantes volta ao ritmo normal. Mas creio que muita gente boa acaba
entrando na cena devido a moda (do percentual que fica ). A mídia de massa vai sempre estar
emitindo estereótipos distorcidos e caricaturais de tudo e também do Gótico: cabe a mídia
subcultural Gótica produzir e reproduzir um imaginário mais consistente e coerente com a sua
historia e significados.
Qual a sua opinião sobre os jovens do Gótico?
São importantes para a renovação da cena, agregando novidades a ela.
144
Gótico 42
Como teve os primeiros contatos com o universo gótico?
Foi nos idos de 1979 quando me encontrei com a cena punk nas páginas de uma revista
Pop-Rock que trazia matérias sobre som e skate.
Há quanto tempo está participando da subcultura gótica?
De 1979 pra cá, sempre estive ligado de uma forma ou outra a cena gótica; aliás, quase
todo punk-velho sempre foi meio goth-punk. Eu, particularmente, só não me assumi logo como
gótico nos anos 80 por causa do machismo que dominava o meu ser. Achava que ao me assumir
como um gótico seria o mesmo que dizer: “olha, eu sou homossexual, viu!”. Daí só fui me assumir
quando me vi totalmente livre do câncer [machismo] na virada do milênio [1999/2000].
O que é ser gótico?
O gótico é tão abrangente que não existe uma única definição; ou seja, não dá pra colocar
o gótico numa caixinha de fósforos dizendo, “o gótico é isso ou aquilo”, mas sim um conjunto de
idéias, ideais, pensamentos, atitudes, indumentária [visual]. Existe toda uma cultura, e porque
também não dizer 'contracultura'; influências dos Beatnicks, do Punk, entre outros... Cada um pode
pensar o gótico de várias formas; eu penso o gótico como um estilo de vida, jeito de ser! Amo o
mórbido, o melancólico, a sensualidade, o prazer, e tudo o mais que vem a reboque, e nisso tudo
eu construo a minha visão própria do gótico.
As informações sobre o Gótico são de fácil acesso?
Bem, na minha opinião, o gótico não chega a ser um movimento, a exemplo do punk que
possui todo um conceito ideológico libertário; muito embora o gótico também seja libertário, prefiro
utilizar a expressão “cena gótica”. Alguns ditos góticos não são muito favoráveis à difusão de
informações e materiais sobre a cena; eu diria que é o lado mais elitizado, o lado mais 'boy' do
gótico. Enquanto, nós, góticos que chegamos até o mesmo através do punk – somos mais abertos
a divulgação das idéias e ideais – sabe como é né, aquela coisa meio panfletária do punk...
[risos...]
Você possui alguma fonte segura de informação sobre o Gótico?
Temos o clã INTERNATIONAL GOTH SOCIETY inc. como fonte segura do gótico, livre do
elitismo babaca, do sensacionalismo e da deturpação da mídia e de gravadoras que só pensam
em engordar suas contas bancárias. Além disso, também existem bons sites, confiáveis, como The
Maozoleum, Goth Brasil, Opus Nocturn & Spectrum Gothic.
Existe uma forte tradição oral de transmissão de conhecimento sobre o Gótico na cena
paulista? Qual a sua opinião sobre isso?
Penso que precisa ser assim. Assim como nas sociedades secretas, deve ser também no
gótico! É pra isso que estamos trabalhando junto ao clã, para fazermos do gótico uma filosofia,
tanto ideológica, bem como mística; afinal, iniciático o gótico sempre foi!! Vejo isso como
necessário para livrar a nossa cultura e cena de embalistas e oportunistas de plantão.
O que você acha sobre “falsos góticos” e “verdadeiros góticos” ?
Temos algumas restrições; contudo, não somos policiais do pensamento alheio... Não me
preocupo com isto; se alguém é embalista só o tempo dirá; já fui muito radical neste aspecto, hoje
vivo a minha vida – não tenho tempo à perder com essas questões que não levam a nada. Fofócas
undergrounds eu deixo pra 'new generation' que perde tempo com essas coisas...
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Quais são os principais locais de encontro góticos que você freqüenta?
Atualmente não existem locais específicos de encontros góticos aqui no R.J., excetos as
festas [noites] com 70% do conteúdo voltado para o mesmo, e que são: Tributos ao Crepúsculo de
Cubatão, Goth Box, Kabaret Vampire, Dark Zone, Teatro dos Horrores, DDK, Rio After Midnight &
CDV–C nvenção dos Vampiros.
o
Existe uma forte imitação da cena gótica européia e norte-americana no Brasil. Você
concorda? Existem adaptações feitas ou busca-se um máximo de fidelidade?
Não acredito que haja grandes influências do gótico americano, até porque não acredito
que este país seja exemplo de algo interessante como o nosso mundo [gótico]. O que existem são
algumas boas bandas, que por ironias do acaso são americanas, que mais parecem européias e
que muito apreciamos... Agora, em relação à Europa sim, principalmente Alemanha e Inglaterra. O
gótico é uma cultura universal – só não admito a influência dos U.S.A. [Fuck The U.S.A. - I Hate
U.S.A.]
Como é visto o material gótico produzido em território nacional?
Ainda existe um certo preconceito. No geral, o material gringo[som] é mais valorizado. Eu,
particularmente, valorizo ambos igualmente!
Como os góticos comunicam entre si?
Correio físico e eletrônico.
Qual é o papel da internet para um gótico do século XXI?
Agiliza todo o trabalho. Se não fosse a internet, talvez você teria escrito o seu livro sem
jamais tomar conhecimento da minha existência...
Você concorda que muito do Gótico está sendo fortemente assimilado por sistemas não-
góticos?
Sim. E citarei um exemplo vigente: Essa coisa de classificar as bandas de metal que se
utilizam de vocais femininos como 'gothic'. Pôrra, não sou um gótico anti-metal! Respeito e admiro
pra caralho o metal [Old School] em todas as suas vertentes. Já a New School do metal, admiro
pouca coisa... e até algumas bandas com vocalizações femininas; realmente têm uma sonorização
muito agradável – já a classificação como 'gothic' fica além da minha compreensão... “metal é
metal”, e “gótico é gótico”; o que passar disso é 'salada sonora', deturpação e/ou oportunismo, com
raríssimas exceções...
Qual a sua opinião sobre os jovens do Gótico?
Estão no caminho certo, só alguns que precisam ser menos radicais.
Espaço para livre opinião e peculiaridades.
O gótico como um todo, tanto no brasil como em qualquer parte do mundo não tem líderes.
Agora, o clã INTERNATIONAL GOTH SOCIETY inc., este sim, tem uma liderança que chamamos
de coordenadores. No Rio de Janeiro são: W. Schiller, P. Tiamat, L. Tiamat, N. Karla e Lord Raven
Sethiano'.' Sim, todos os novos góticos que demonstram real interesse pela cena são bem
recebidos e recebem todo o nosso apoio para trilhar na senda gótica normalmente como um dos
nossos. Agimos como uma espécie de irmandade gótica!
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Q22 – Entrevista realizada e elaborada por Camila Oliveira Querino no Nordeste
Gothic Reunion 2006.
Qual a relação da arte com o gótico?
Dentro do gótico temos arte através da arquitetura, pintura e literatura, portanto é
impossível não associarmos o gótico com a arte.
Como é o acesso a materiais de difusão?
Internet e fanzines.
Na sua opinião a internet e tudo o que ela disponibiliza é um avanço ou um retrocesso para
a subcultura gótica?
Um avanço, contato com pessoas de diversos lugares, para que eu tenha uma
base das características dos góticos em diferentes regiões até do planeta. É importante
também para unir e levantar o movimento.
De que maneira ocorrem encontros góticos hoje?
Através de eventos que eu organizo, como o Darktronic, shows de bandas góticas,
em praças... Etc.
Qual a relação do gótico com a morbidez?
A relação é a obscuridade.
Como foi o seu primeiro contato com o gótico?
Através da Literatura e, sumariamente, um interesse particular que eu sempre tive.
Como está o cenário da subcultura gótica em Salvador?
Está crescendo, se compararmos com um tempo atrás.
A respeito da difusão ela é passada de maneira distorcida para a sociedade?Em quais
aspectos?
Há uma associação demoníaca e confusa. O preconceito existe e eles nem mesmo
sabem classificar nada.
Como você definiria o gótico?
É um estilo de vida particular. Uma inclinação e predestinação.
Qual a relação do gótico com a religiosidade?
Não existe relação, independentemente do que eles pensam. A grande maioria é
ateu.
O que você pensa a respeito de eventos específicos realizados no Nordeste?
Agora estão acontecendo. Posso destacar Salvador e Fortaleza, que está tentando
se aliar a nós.
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A identidade gótica é baseada na cena européia e americana ou existe já uma
característica brasileira?
Muito mais européia do que americana.Alias é inevitável, pois lá é o berço de tudo
isso que tomamos hoje como gótico.
Quais dificuldades de caracterização?
A caracterização feita com roupas de inverno comumente.Isso significa que
sabemos o ano inteiro, pois nem temos inverno!
Referências e moldes que te influenciaram?
Literatura e Roupas.
O Gótico é filosofia ou estilo de vida?
Um pouco dos dois. É meu lifestyle, e sou feliz dessa maneira.
O que você pensa a respeito dos pseudogóticos?
Não tardo muito eles abandonam a cena. São completamente midiáticos.
Referências musicais e literárias.
Musicais Literárias
Joy Division Álvares de Azevedo
Sisters of Mercy Oscar Wylde
Bauhaus Lord Byron
The Cure Edgar Allan Poe
Siouxsie and the Banshess Anne Rice
Q23 e Q35 – Entrevista realizada e elaborada por Camila Oliveira Querino no
Nordeste Gothic Reunion 2006.
Qual a relação da arte com o gótico?
Absoluta. Todo contexto gótico está baseado nas artes plásticas, poesia, música e
caracterização mórbida.
Como é o acesso a materiais de difusão?
No nordeste a difusão é fraca, ainda mais se levadas em consideração capitais como São
Paulo e européias, mas já existem encontros, como essa Darkhonic, que foi propulsora ao tempo
que divulga bandas góticas, que, de certa forma, são menosprezadas em eventos de Heavy Metal.
Na sua opinião a internet e tudo o que ela disponibiliza é um avanço ou um retrocesso para
a subcultura gótica?
Um avanço, pois disponibiliza materiais que dificilmente teríamos acesso e promove
bandas. A nossa, por exemplo, já é bem conhecida na Japão e em Portugal.
De que maneira ocorrem encontros góticos hoje?
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Em Salvador, promovemos encontros através de sites de relacionamento em locais como o
Jardim da Saudade (cemitério) e em parques, à noite.
Qual a relação do gótico com a morbidez?
Contemplativa. O gótico contempla a morte, e nela enxerga atributos positivos que a
sociedade não enxerga.
Como foi o seu primeiro contato com o gótico?
A partir do Eletrogothic e da Literatura.
Como está o cenário da subcultura gótica em Salvador?
Crescendo em pequenas proporções, mas já tem destaque na cena nordestina.
A respeito da difusão ela é passada de maneira distorcida para a sociedade?Em quais
aspectos?
Sim.Há o preconceito de que somos malévolos e fazem sempre relações com o Satanismo.
Como você definiria o gótico?
É um estado de espírito de elevação. Através do Gótico, há elevação cultural e pessoal a
partir do momento que realmente é internalizado. É ser plenamente consciente, Idealizador,
sensível, elegante, voluptuoso.
Qual a relação do gótico com a religiosidade?
A busca pela ascensão do espírito.
O que você pensa a respeito de eventos específicos realizados no Nordeste?
Necessárias. A reunião se faz necessária para que haja um fortalecimento e
enriquecimento dessa subcultura no estado.
A identidade gótica é baseada na cena européia e americana ou existe já uma
característica brasileira?
Sim. Basicamente européia para nós. Enfatizamos o cenário Inglês.
Quais dificuldades de caracterização?
É difícil em decorrência do clima e das vestimentas típicas da região. Não só pelo calor,
mas pela dificuldade de encontrar trajes góticos e darks. A identificação com o visual é essencial
nos eventos específicos.
Referências e moldes que te influenciaram?
Poesia, já que muitas das nossas músicas são poesias de autores que admiramos, em
particular os brasileiros do século XIX e Florbela Espanca, de Portugal.
O Gótico é filosofia ou estilo de vida?
Filosofia. O estilo não carrega conteúdo ideológico por si só. É superficial. A filosofia
conduz o estilo, e não o contrário.
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O que você pensa a respeito dos pseudogóticos?
Medíocres e sem opinião conceitual. Carregam ideologias vazias quando carregam... Não
tem interesse na coletividade da cena e não têm interesse em fortalecê-la, buscam na subcultura
somente a excentricidade.
Referências musicais e literárias.
Musicais Literárias
Joy Division Álvares de Azevedo
Sisters of Mercy Casimiro de Abreu
Bauhaus Florbela Espanca
Lacrimosa Manuel Bandeira
Fernando Pessoa
Augusto dos Anjos
Q25 – Entrevista realizada e elaborada por Camila Oliveira Querino no Nordeste
Gothic Reunion 2006.
Qual a relação da arte com o gótico?
Mais literária.Prega o livre pensamento.
Como é o acesso a materiais de difusão?
Divulgação vasta, principalmente através da música. Todos os anos dezenas de
bandas surgem com o intuito de elevar nossa subcultura. Mas a vanguarda oitentista é
implacável.
Na sua opinião a internet e tudo o que ela disponibiliza é um avanço ou um retrocesso para
a subcultura gótica?
Ambivalente. Há pessoas que se interessam realmente, e outras apenas se
caracterizam.
A respeito da difusão ela é passada de maneira distorcida para a sociedade?Em quais
aspectos?
As pessoas costumam confundir um movimento com outro, atrelando o Gótico com o
movimento do Heavy Metal, e as pessoas precisam entender que existe uma linha que separa
esses dois estilos que eu vejo como distintos, mas não posso negar que existe um ecletismo
evidente.
Como você definiria o gótico?
Um modo de vida absorvido que é assimilado por determinados indivíduos. Eu acredito
em predestinação e não existem pessoas que ‘viram’ góticos, e sim, aquelas que descobrem
esse maravilhoso e sombrio mundo dentro de si mesmas.
O que você pensa a respeito de eventos específicos realizados no Nordeste?
Necessita de fortalecimento. Infelizmente, contamos com uma enorme falta de apoio e,
em eventos como esse, temos literalmente que pagar para tocar. Não podemos ainda sonhar
com retorno financeiro, mas ainda assim estamos satisfeitos, pois dentro de nossas
possibilidades estamos dando o impulso no crescimento da subcultura. E aquele que
realmente se sente parte dela adoraria ver uma cena forte e auto-suficiente, pois temos
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necessidades de nos expressar exatamente da maneira que queremos e esse é o momento e
o lugar.
A identidade gótica é baseada na cena européia e americana ou existe já uma
característica brasileira?
Em partes. A maioria das pessoas que realmente vivem o gótico oitentista assimila
bem a cena Européia.
Quais dificuldades de caracterização?
O clima não favorece, por isso nossa indumentária é composta de tecidos leves e
temos a preocupação com os eventos caracterizados como os demais.
Referências e moldes que te influenciaram?
Minha origem é Death/Black, e fugi daquilo pela cultura da violência, um cenário
extremista desprovido de união.
O Gótico é filosofia ou estilo de vida?
Filosofia. Nem todos podem entender e se dizerem parte dela.
O que você pensa a respeito dos pseudogóticos?
Alma imersa em delícias jamais será maculada.
Referências musicais e literárias.
Musicais Literárias
Joy Divisiou Álvares de Azevedo
Sisters of Mercy William Blake
Bauhaus Nicolas Gogol
Cabine C Edgar Allan Poe
Kafka Lord Byron
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:: Poison ::
música
Diary of Dreams
cinema
Nosferatu, Metropolis
hobbies
Ler, Meditar, Dormir
ídolos
Charles Baudelaire, Chris Lee
Sempre foi a menina inteligente da turma, mas sua enorme preguiça a impede de concluir seus
estudos ou de tomar algum rumo na vida.
Ultra-Romântica, estuda magia e vampirismo, devora livros de poesia e sonha morrer jovem, de
preferência de tuberculose. Melancólica ao extremo, evita contato com a maioria das pessoas e não
é muito assídua dos clubs noturnos. Ultrapassando a barreira da suavidade, as coisas se tornam
caóticas demais para que ela possa se interessar.
Elegante, culta e equilibrada são os adjetivos usualmente empregados para descrever esta garota
que passa o dia sem ver a luz do sol. Admirada por muitos, usa a imagem que passa aos outros
como um refúgio para alimentar seu ego inflado.
:: WhipCunt ::
música
Wumpscut, Vomito Negro
filme
Rock Horror Picture Show
hobbie
Dançar, Beber
ídolos
David Bowe, Rozz Willians
Apesar da maquiagem carregada e dos vestidos longos estarem agora no passado, ela ainda se
considera uma gothika legítima, muito mais que a geração de hoje, da qual ela tem resalvas...
Atualmente, se encontra muito mais envolvida com o meio clubber e fetichista - adepta do sado-
masoquismo, considera-se uma dominadora. Iniciou recentemente uma pesada relação SM com Zille
- o que a deixa muito feliz, e rende a Zille belos hematomas.
Whipcunt gosta de dançar techno pesado e vai acumulando piercings e tatoos por todo o corpo. De
personalidade difícil e radical, possui uma grande tendência para se embriagar e arrumar confusão.
Não gosta de homens, e esta sempre medindo forças com eles.
Suas origens goths se fazem presentes, apesar de tudo. Sejam em suas roupas pretas, sejam em
suas amizades, ou em toda a bagagem de ídolos e cultura que ela carrega consigo.
:: CursedSun ::
música
Marilyn Manson
filme
Interview with the Vampire
hobbie
Maquiagem Estravagante
ídolos
Twiggy Ramirez
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Novata, típica Mansonite - tiete do Marylin Manson .Começou a se interessar por gotiquices
recentemente, porém, quando alguém pergunta ela se diz uma "aprendiz das artes profanas". Não
possui opinião formada sobre coisas muito complicadas e nem o gosto apurado das outras. Às vezes
se divide entre incorporar o estilo de suas amigas ou ser ela mesma.
Cursee gosta de sair à noite para poder usar roupas extravagantes e abusar da criatividade em
acessórios improvisados. Gosta muito de dançar mas nunca sabe de quem são as músicas. Para ela,
estas bandas são praticamente mágicas, que só existem na pista...
Sempre saiu com meninos, mas atualmente se envolve também com meninas ou alguma outra coisa
interessante entre ambos...
:: Trevoso Loco ::
música
The Sisters of Mercy
filme
The Crow
hobbie
Passear no Cemitério
ídolos
Ian Curtis
Defensor e militante do verdadeiro estilo gótico, hoje em dia vulgarizado e violentado por insignificantes
posers e reles fãns de Manson em geral. TrevaeDojo luta para que tudo volte a ser como no tempo dele, onde
os góticos encontravam-se sempre e apenas no cemitério, ouviam somente o verdadeiro som gótico dos anos
80, bebiam sangue e lamentavam sua própria existência - sim, parece que um dia foi assim...
TrevosoLoco alega nunca ter usado roupas outras senão pretas, ostenta com orgulho suas cicatrizes de surras
de SkinHeads e tem certeza que ninguem no mundo é mais gótico que ele...
a maior parte das pessoas o conhece a menos de um ano.
:: Zille ::
música
Animal
filme
Suspiria, Inferno
hobbie
Assustar as Pessoas
ídolos
Adam Ant e A.C. Swinburn
Zille e Whipcunt possuem muito em comum, e isso é o que as impede de se matarem. Ambas
desdenham do neo-goth e tendem a vagar por aí murmurando sobre " O modo como era antes ".
Ambas amam roupas fetichistas, e Zille especificamente adora ser a escrava sexual e vítima
disposta de Whipcunt.
Elas podem ser encontradas frequentemente nas dungeons de clubes underground, chocando quem
passar por perto. Zille e Whipcunt também amam tatuagens e acumulam piercings - elas tendem a
tinir " quando caminham juntas.
Quando Zille está longe de Whipcunt, ela se dedica a escrever longas e mal-humoradas poesias,
fabricar Absinto caseiro, e fazer suas novas roupas de fetiche. Quando estão juntas, elas saem para
os clubes, assustam as pessoas normais, têm brigas explosivas, e também sexo explosivo.
: bio escrita pela Zille de verdade
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:: Dr. Van Hellchwald ::
música
Death in June
filme
Dr Caligari Kabinet
hobbie
Caçar Tenebras
ídolos
St. Peter Murphy
Rumores dizem que um dia Hellchwald já foi um gótico sorumbático, e vagava pelas brumas da
noite na companhia de seu casaco e um sombrero no velho estilo da escola chapeleira do McCoy...
Mas nada é certo sobre seu passado, exceto que se graduou na Universidade de Estudos Tenebrosos
da Penha e tornou-se o maior caçador de Mixiricas em atividade.
Sua vocação de caçador aflorou com o caso Marilyn Manson, que causou grande equivoco na mídia e
exigia uma resposta radical pelo bem dos valores tenebrosos.
Mas a Ira de Van Hellchwald somente despertou verdadeiramente quando este tomou conhecimento
dos meios de jogadores de RPG e ouvites de BlackMetal, e consequentemente, da quantidade de
Mixiricas que estes injetavam na comunidade gótica.
Desde então, nosso Dr. possui uma missão, e não vai economizar caretas para lutar por tudo aquilo
em que acredita...
:: Barbie ::
música
Theatre of Tragedy
filme
Bram Stocker's Dracula
hobbie
Trepar
ídolos
Floria Sigismund
Estereótipo encarnado da vampirinha sexy, Barbie muitas vezes encontra-se envolvida em intrigas e
boatos sem ao menos sair de casa. Muito visada pelo público gótico masculino não-gay, suas
aparições em raves, festas ou convenções de rpg são documentadas de imediato em seus diversos
fan-clubes na internet...
Por outro lado, Barbie desperta a ira de grande parte das meninas góticas. Poison em particular, que
não poupa seu veneno quando precisa impedir que seus escolhidos sejam infeitiçados pela
vampirinha...
Apesar de todo o alarde, Barbie continua na dela. Possui grande interesse por moda, roupas e
maquiagem e é referencial para CursedSun e outras Mansonites.
No fundo sua grande meta é desmistificar sua imagem, uma vez que a maior parte das pessoas faz
julgamentos preconceituosos sobre sua personalidade baseando-se apenas em sua aparência.
:: Vincent Price ::
música
Devil Doll
filme
The Nightmare Before Christmas
hobbie
Atuar, Pintar, Fazer Poesia, Matar
ídolos
Shakespeare
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Culto e elegante, o jovem Vincent Price logo se destacou no cinema de horror. Junto ao diretor
Roger Corman, protagonizou diversas adaptações da obra de Edgar Allan Poe que levaram
injustamente a alcunha de 'trash' pela crítica - oque o fez dedicar-se à arte da assassinar críticos de
cinema das mais diversas e criativas maneiras.
Devido ao seu ar soturno e esquizitão, Vincent acabou estereotipado como vilão e não conseguiu
mais se livrar deste tipo de papel - fato que lhe inspirou o gosto por matar também produtores,
cineastas e coordenadores de elenco...
Já no fim de sua carreira, foi resgatado do ostracismo por Tim Burton, e durante as filmagens de
Edward Scissorhands ele realizou a mais gótica de suas façanhas, que foi morrer.
:: Rebekah ::
música
Front Line Assembly
filme
BrainDead
hobbie
abusar de sua criatividade
ídolos
Les
Nunca chame Rebekah de gótica! Apesar de teoricamente preencher todos os requisitos, na
verdade ela é a rainha mãe de um novo e original estilo de vida: o GAWTH!
Sem falsa modéstia, Rebekah se orgulha muito da idéia, e sua maior missão é a busca por novos
seguidores - e também finalizar a Bíblia GAWTH em CDROM, e vende-la através do site.
Os milhares de adeptos do movimento GAWTH fazem coisas inusitadas : frequentam cemitérios, se
vestem de preto, carregam Ankhs, escutam música depressiva, cultuam bandas POP dos anos 80 e
literatura mórbida medieval...
Mas espere, seria o GAWTH exatamente como o velho estereótipo gótico?
Rebekah diz que não! Sua cena veta o uso de palavrões ou linguagem explícita, além de atitudes
políticamente incorretas como o uso drogas e homosexualismo! Sua filosofia prega que as crianças
podem se tornam GAWTH e se divertir um bocado sem receio para os pais...
:: Pain ::
banda
parece gostar de Premature Ejaculation
filme
não parece gostar de tv
hobbie
usar unhas postiças
ídolos
seria Bastet? ou talvez o Garfield...
O gatinho de WhipCunt. na verdade, a única criatura do sexo masculino com a qual a menina se
relaciona. não que a relação dos dois seja muito saudável, pois ela judia do pobre animal. Pain
parece não ter muitos preconceitos, pois acostumou-se com pessoas estranhas, músicas estranhas e
atitudes muitíssimo estranhas. não que ele reaja muito...
Na verdade, pouco se sabe sobre o que se passa na cabeça de Pain. seria ele realmente um gato
masoquista? ele liga mesmo para alguma coisa?
155
Industrial
Por Anya EBM
Contexto Histórico para o Aparecimento da Visão da Contra Cultura Industrial.
O pós-guerra deixou órfã uma geração de alemães culpados e estigmatizados pela guerra;
eram estes filhos, netos e mesmo participantes ativos do Regime Nazista ou sobreviventes do
internato em campos Soviéticos. Alguns europeus (especialmente leste europeus) jogados em
desgraça contra seus antigos companheiros do ocidente, em uma Europa dividida ideológica e
fisicamente. Essas pessoas, foram jogadas, no lado ocidental a uma cultura e influências
diametralmente opostas à disciplinaridade e tradição alemã antes de 1945, sendo que o choque
cultural da suprema "liberdade" absoluta concedida pelos americanos, serviu como meio de
distanciamento da cultura e identidade leste-européias.
Com o advento das drogas recreativas, a Guerra Fria, a culpa pelo programa de extermínio
do Dritte Reich, o sexo livre, as novas e maravilhosas armas nucleares e a completa ausência de
unidade nacional, nasceu o conceito Industrial, na Europa, especialmente na Alemanha e países
ocupados; assim como na Bélgica.
A música em si nasceu da mesma rejeição à música pop nos anos 70, que originou o
movimento Punk. A cena industrial, no início, compartilhava com a cena punk praticamente todo o
visual e estética, os clubes e as pessoas; no final era a mensagem que realmente fez a diferença,
sendo mais assustadora, visceral, e devastadora; muito mais focada em performance e a
expressão de sentidos (ou seja, mais focada à mensagem e a sua divulgação em si).
A música Industrial como termo, nasceu da performance do Throbbing Gristle, cujo líder,
Genesis P. Orrige, concebeu a idéia geral de um gênero musical baseado não no rock and roll de
raízes africanas (sim, o rock and roll tem raízes basicamente afro), mas em algo moderno, que ele
considerava música para os "escravos" das máquinas e fábricas. Outra banda inglesa, o Cabaret
Voltaire começou algo parecido, só que com muito mais música, em oposição à apenas mensagem
e performance artística.
A próxima, e permanente leva do Industrial, começou nos Estados Unidos, onde o Skinny
Puppy, (liderado pelo Bill Leeb) começou a experimentar com eletrônicos estranhos e teve,
indubitavelmente, a maior e mais duradoura influência no industrial até hoje. Sua música deu
origem ao industrial metal, ao harsh industrial, ao noise, e ao powernoise. Suas letras eram (e
continuam sendo) uma eterna crítica tipicamente urbana e de certo modo, "comunista" com uma
visão de mundo decadentista e infernal, mandando mensagens sobre o decadentismo e a podridão
humanas. Enquanto isso, na Europa, nascia o Front 242, que criou o EBM, ou Industrial Dance, ou
Electronic Body Music, cujo conceito e idéia original era levar aquilo pra pista, e criar uma junção
156
da estética sessentista/setentista (principalmente do BDSM
*
do Cabaret Voltaire e do militarismo
de Gristle) com a música menos crua e minimalista do Skinny Puppy e outras bandas similares, pra
que o industrial fosse mais acessível, e a mensagem passada mais facilmente. Em meados de
oitenta, surgiram bandas com estéticas decandentistas e militares, com a aproximação do fim da
União Soviética, a temática da Guerra Nuclear e do final da Humanidade teve o seu auge; e
começaram a se usar as primeiras masks em performances, e em discotecagens pela Europa e
Estados Unidos, e a "mensagem" foi encontrando outros meios de ser passada, mesmo com a
violência de certos grupos denominados "grupos de elite" que se auto-intitulavam rivetheads e
"industriais" no Leste Europeu. A banda Einsturzende Neubauten e o Nitzer Ebb começaram a
trabalhar no Industrial Noise, enquanto nos Estados Unidos, o Ministry fazia uma revolução
absoluta no Industrial, retirando alguns elementos de Noise e adicionando elementos de rock,
metal e new wave, que influenciou bandas como NIN, Prodigy e outras denominadas de Industrial-
"metal" (harsh industrial).
Essa nova onda gerou inúmeros novos gêneros, como o coldwave, synthcore e torture
tech. O gênero industrial nunca atraiu pessoas em demasia, mesmo porque os seus membros, por
terem uma visão de mundo fixa e uma música de sonoridade agressiva demais e uma temática
limitadíssima apenas a pessoas que tinham certo conhecimento histórico e de conjecturas
históricas. O Industrial viu seu auge e popularização no final dos anos 90, quando algumas
bandas, inspirando-se na escola do Front 242, resolveram criar um novo braço do EBM, apesar de
que a maioria dos rivetheads europeus se opõe à mistura industrial com o rock e às distorções
vocais excessivas, o dito Terror EBM, por fugir quase completamente de certa estética industrial,
sendo, por muitos considerado um gênero "filho bastardo" do Industrial, mas inegavelmente parte
da cena.
O industrial, na sua essência, não é apenas música eletrônica; o tecno, o trance, e tantos
outros subgêneros também o são. O industrial é uma marca de raízes bem fortes e bem
regulamentadas, que existe há mais de 30 anos, com uma temática bem definida e integrantes
bem delineados. O industrial sempre será uma música rebelde, e sua temática sempre será de
denúncia contra os males humanos e a destruição da humanidade, contra o niilismo, e qualquer e
todo tipo de opressão.
O rivethead
O rivethead passou por inúmeras transformações desde o seu surgimento em idos de 70 e
poucos, com o advento da música industrial. Pode-se traçar uma linha geral de um rivethead como
*
BDSM é a sigla para bondage, dominação e sado-masoquismo. As práticas de BDSM são, em geral, sexuais
contendo dor, submissão, humilhação, incômodo, castigo, imobilização, restrição física.
157
aquele que participa ativamente da cena Industrial. Geralmente (mas não por via de regra),
rivetheads costumam ser inteiramente dedicados e envolvidos com a cena, seja como DJs,
teóricos, ou mesmo membros, que sempre foram e continuam extremamente elitistas; motivo este
que tem tanta inimizade com o cybergoth, que se apropriou de sua estética e os colocou a luz
mesmo estando claro que eram duas culturas muito diferentes.
A estética do Rivethead vem se aprimorando nos últimos tempos. O goggle e a gas mask
são acessórios que virtualmente todos atualmente portam, tendo sua origem pelos pais fundadores
da música industrial; (e hoje incorporado, infelizmente por góticos e semelhantes, que sequer
sabem seu significado ou história ou origem) e é fundamentada na influência do Cabaret Voltarie e
Soft Cell (couro, BDSM) e na estética musical, que criaram sozinhos e baseados em performances,
o militarismo é sempre muito presente, assim como, mais recentemente, a estética cyberpunk
(literatura, ler. Gibson, Huxley, etc), com implantes e cabelos sintéticos (apensar do rivethead mais
conservador ser um tanto contra esse tipo de mudança estética e visual).
A visão de mundo e a temática continuam iguais, mesmo no gênero "bastardo" do Terror
EBM: decadentismo, guerra, perigo nuclear, homem versus máquina, podridão humana, choque,
etc. O visual também tem sido muito influenciado pelo contexto histórico atual global (guerra do
Iraque, terrorismo, etc; ouvir. Skinny Puppy, Panzer Ag, Feindflug, Grendel) assim como o da
america do sul (o sentimento de isolamento e o preconceito aos terceiro mundistas; ouvir
Amduscia, Hocico, Dulce Liquido e bandas americanas) e o europeu (algumas bandas ainda
retomam o conceito de guerra e discutem, além do futuro decadentista, o passado que, pra alguns,
como Revisionismo histórico, passou a ser incerto: Laibach [crítica ao nacional socialismo],
Spetsnaz, etc)
Contexto Atual
Com o surgimento dos cybergoths e sua reivindicação como tribo urbana, o Rivethead vem
tentando se desvincular da então amiga cultura gótica, principalmente na Europa e Estados
Unidos, mas é preciso tomar muitíssimo cuidado nos países onde o Industrial é emergente, como o
Brasil, que tem uma tendência irritante de misturar conceitos e tribos que por definição não se
misturam (ver o gothic metal).
Há uma tendência para a popularização do Industrial, com o surgimento de braços novos
do Industrial como o Rythmic Noise, Aggrotech, Experimental, Acid EBM, TBM, IDM, minimal e etc,
mas a contra cultura continua segregadora, e provavelmente continuará assim, pois a partir do
momento que deixar de ser, ela morre, em seu próprio conceito e visão de mundo.
Texto postado por Mazohist na comunidade “Góticos no Brasil”, segundo semestre de
2006.
158
O Manifesto Gótico
Em princípio cabe-nos esclarecer que o movimento gótico não tem nada de
“contracultura”, pelo contrário, é um movimento que se sustenta numa plataforma
de conhecimentos extremamente ampla.
Não basta vestir uma roupa preta e se dizer gótico, é necessário entender o que
significa gótico e, neste sentido, não é possível entender o gótico sem
conhecimentos sobre História, literatura, Cinema, Música, Sociologia, Música, etc.
Os góticos não são adeptos do consumismo ingênuo, mas são pessoas
sofisticadas e elegantes, possuem senso crítico e um visual totalmente produzido.
Góticos são seres sociáveis que escolhem seus amigos pelo que eles são e não
por aquilo que eles possuem; não medem as pessoas dos pés à cabeça antes de
se aproximarem para fazer novas amizades.
Os góticos não pretendem transformar a sociedade ou destruí-la com bombas,
não estão satisfeitos com a ordem social estabelecida, mas querem seu espaço
no contexto.
Os góticos odeiam qualquer forma de discriminação, aceitam as diferenças
individuais com naturalidade e recebem bem todos que se aproximam,
independentemente de seus valores, crenças, situação econômica ou orientação
sexual.
O movimento gótico caracteriza-se como um movimento de inclusão social e não
de exclusão, se você sofre problemas com seu grupo de referência, conheça uma
tribo gótica e faça uma comparação. Não fique surpreso se você for muito bem
recebido, afinal, você estará em contato com pessoas pluralistas, inteligentes e de
mente aberta.
Góticos não veneram satã ou cultuam o mal, mas não se engane, não é uma boa
159
política ter inimigos góticos.
Os góticos conhecem segredos de magia, quando você menos espera, pode
acabar passado mal e sequer vai conseguir entender o porquê.
Os góticos não acreditam na violência e detestam os ignorantes e idiotas que
vivem destruindo o patrimônio público.
As festas góticas acontecem em locais simples, góticos não precisam de luxo para
sentirem-se felizes, todavia, ressalta-se que uma festa gótica é muito mais
sofisticada do que qualquer outro evento, contemplando performances, desfiles de
moda, exposições de arte, música ao vivo, grupos de RPG, etc.
Os góticos não moram nos túmulos dos cemitérios ou nos porões das Igrejas da
Cidade, apenas são fascinados pela arte, pela paz e pela beleza arquitetônica
desses lugares.
No dia-a-dia os góticos são como as outras pessoas, trabalham estudam e lutam
por uma sociedade mais justa e condições melhores de vida.
Você não precisa ser iniciado num ritual de magia negra, se transformar em
vampiro ou beber sangue de animais para fazer amizade com os góticos.
Se você é baixo ou alto, magro ou gordo, feio ou bonito, fechado ou extrovertido,
pobre ou rico, hetero ou homossexual ou se simplesmente está com o saco cheio
do seu atual ciclo de amizades, permita-se conhecer o movimento gótico.
Seja você quem for, entre os góticos você será respeitado e tratado como um ser
humano de verdade e, com certeza, você vivenciará fortes emoções junto de uma
galera muito louca.
By Desedérium
Fonte: www.profeciasnet.com.br
160
F.A.Q. GÓTICO
(55 perguntas recorrentes sobre a Sub-Cultura Gótica)
por Flavia Flanshaid e Kipper
Este FAQ busca apenas passar as informações mais básicas de forma bem-humorada e informal.
Depois, cada questão poder ser aprofundada em outros lugares.
Uma dica importante: não procure tentar entender ou aprender tudo sobre o que quer que seja de
uma vez só ou em pouco tempo: ninguém jamais aprendeu ou aprende assim, pois qualquer
aprendizado È um processo afetivo que exige pausas e retomadas.
01.O que significa a palavra Gótico?
A palavra Gótico já teve inúmeros significados nos últimos 2000 anos, alguns destes significados
relacionados entre si, outros não. Neste FAQ estamos abordando apenas a
Sub-Cultura urbana
que surgiu na Inglaterra no começo dos anos 1980 e se desenvolveu e se espalhou pelo mundo
todo até hoje.
02.Por que essa Sub-Cultura recebeu o nome Gótico?
Na passagem dos anos 70 para os anos 80 este rotulo foi usado inicialmente como adjetivo, ironia
ou brincadeira para definir um estilo (música, visual, comportamento) que surgiu na Inglaterra.
Após 1983 o nome pegou completamente, e denomina até hoje a Sub-Cultura mundial que ai se
originou.
03. Mas o Nome Gótico não foi dado por causa daqueles bárbaros (Goticos, Visigoticos,
Ostrogoticos, etc) que invadiram o Império Romano nos séculos IV e V?
Não. Ao longo dos séculos as palavras Goth e Gothic, em Inglês, desenvolveram vários outros
significados.
04. Já sei: Então o nome Gótico foi dado a esse movimento por causa das catedrais Góticas
do século XI a XIV?
Não diretamente. Nem essas catedrais eram chamadas de Góticas quando foram construídas. Elas
foram chamadas de “Góticas” muito tempo depois, pelos Renascentistas e Iluministas,
pejorativamente, para criticar a Ideologia Católica da Idade Média, a qual se opunham.
05. Então as Catedrais Góticas não foram construídas pelos Godos (Goticos)?
Não. Elas foram construídas muitos séculos depois que os Godos já tinham
se diluído na cultura Européia. Essas catedrais expressam a ideologia e estética da Igreja Católica
161
na Época.
06. Qual o significado de “Goth ” em Inglês ?
O adjetivo “Goth ” em Inglês carrega sentidos que lembram: vitoriano,
sombrio, misterioso, fantasmal, onírico, macabro, amedrontador, etc.
07. Então tudo que é vitoriano, sombrio, misterioso, fantasmal, onírico, etc. é Gótico ?
Sim, mas não no sentido exato que foi usado para designar o movimento estético e a Sub-cultura
que surgiu em 1980. Lembre-se que o uso foi metafórico e também irônico.
08. Como a palavra Goth adquiriu este sentido em Inglês?
No século XVIII para o XIX existiu um movimento literário chamado Romantismo e outro chamado
Romance Gótico que estabeleceram a imagem de Gótico como sombrio, fantasmagórico,
misterioso.
09. Isso aconteceu por que as Catedrais Góticas são Sombrias?
As catedrais góticas não são Sombrias. Arquitetonicamente, elas são caracterizadas por grandes
janelas cobertas de vitrais coloridos. As paredes se resumem quase que as molduras das janelas.
A estrutura geral é leve.
10. Por que diabos elas foram então chamadas de “Góticas“?
Pela “Oposição” dos movimentos filosóficos e artísticos que vieram depois, para criticá-las.
11 . Então por que os Românticos usaram “Gótico” como algo bom ?
Por que já tinha se passado mais de um século, e os Românticos resolveram
criticar aqueles que tinham criticado o fim da Idade Média. Assim, o que
era um nome pejorativo passou a ser o nome “legal“ de uma estética.
12. Caraca! Isso tudo influenciou o movimento que surgiu nos anos 1980?
Não diretamente. Ainda estamos falando do sentido da palavra. Muitas coisas influenciaram
também. Existem as influências diretas, as influências do contexto, as referências indiretas, a
reapropriação de conceitos...
13. Quais são as influências diretas?
Musicalmente, vamos considerar influências diretas aquelas desde meados dos anos 60 em
diante. Levando em conta os estilos musicais e entrevistas podemos citar os movimentos: o
Krautrock, o Glam, o Proto-Punk, e o Beat. Entre os artistas que influenciaram diretamente, de
1965 a 1975 temos: David Bowie, Nico, Velvet Underground, The Doors, Lou Reed, Iggy Pop &
162
The Stooges, John Cale, Roxy Music, Brian Eno, Cabaret Voltaire, Patty Smith, T-Rex, New York
Dolls, Kraftwerk, Throbbing Gristle, Pere Ubu, Suicide, Leonard Cohen, Johnny Cash, etc.
14. Mas o Gótico é apenas um estilo Musical?
Não. … uma Sub-Cultura completa. Sem dúvida a música é um eixo importante. Mas, como em
qualquer Cultura, outros elementos são constituintes também.
15. O que é uma Sub-Cultura?
… uma cultura paralela a Cultura oficial, que não combate a cultura oficial, mas também não a
aceita. Uma Sub-Cultura busca construir um universo a parte, que faça sentido para seus
membros, com Música, Pintura, Literatura, Roupas, Eventos, Festas, Lojas, Trabalho, Relações
Humanas, Comportamento, etc. Para saber mais clique aqui!
16. E como é a Literatura da Sub-Cultura Gótica?
Não existe Literatura “da” Sub-Cultura Gótica, existem vários estilos literários mais apreciados
nesta Sub-Cultura, entre eles, o Romance Gótico (Walpole, Mary Shelley, etc), Romantismo
(W.Blake, Keats, Byron, E.A.Poe, etc) a poesia Simbolista/Decadentista (Baudelaire, T.S.Elliot,
Rimbaud, Oscar Wilde, etc) o romance Existencialista (Camus, Sartre, etc), Literatura Beat
(Gisnberg, Burroughs), etc.
17. Mas meu professor de Literatura disse que existe Literatura Gótica, ele
não sabe disso?
Ele está certo, apenas está se referindo a uma tendência ou movimento específico dentro da
Literatura, e não especificamente a Sub-Cultura Gótica de que falamos aqui.
18. A Literatura Gótica influenciou o movimento dos anos 1980?
Não diretamente, mas sem dúvida esse movimento fez releituras ou sátiras da Literatura Gótica.
Essa Literatura também serviu de tema para Movimentos Artísticos anteriores, que influenciaram o
movimento estético dos anos 1980, como por exemplo o Expressionismo.
19. E como posso saber que estes movimentos artísticos influenciaram diretamente a Sub-
Cultura Gótica?
Por que eles são citados diretamente pelas bandas ou tem suas estéticas usadas por elas.
Encontramos citações tanto diretas quanto de estilo nas capas de álbuns, nas músicas e nas
letras.
Alguns exemplos:
- o nome e o logotipo da banda Bauhaus são os mesmos da escola artística (pintura e arquitetura)
163
além, Bauhaus, da qual podemos citar alguns artistas como Paul Klee, Kandinsky, Gropius, etc.
- A música “Killing an Arab” do The Cure é baseada no romance “O Estrangeiro”, (do existencialista
francês Albert Camus). O Bauhaus tem uma música com o nome do teatrólogo surrealista francês
Antonin Artaud (“teatro da crueldade”) e outra com o nome do ator do cinema expressionista Bela
Lugosi.
- musicalmente, temos muita influência da música desenvolvida pelo modernismo, com conceitos
como o minimalismo, música étnica, musica eletrônica, não–música, etc, etc. Se você procurar,
encontrar· muitos outros exemplos. Maiores informações sobre música erudita contemporânea.
20- Quem foi Bela Lugosi?
Bela Lugosi (1882-1956) foi um famoso ator de origem húngara que participou de inúmeros filmes,
mas foi imortalizado (hmmm....) como o Drácula canastrão produzido por Tod Browning (“Drácula”,
1932).
A música “Bela Lugosi is Dead” (1979) da banda gótica Inglesa Bauhaus se refere a ele, e é
considerada por muitos o “hino gótico”.
21. O Expressionismo e o Cinema Expressionista tem a ver com o Gotico?
Tanto a estética dos filmes como a da pintura Expressionista tem sido bastante usada pelos
Góticos desde os anos 1980. Ex: filmes como “O Gabinete do Dr. Caligari”, “Metropolis” “Nosferatu”
e “Drácula” (1932), entre muitos outros. O cinema de terror “B” também é uma fonte inesgotável de
inspiração para o humor Gótico.
22. Os Góticos só vestem preto? Eu tenho que vestir preto para ser Gótico?
Você não precisa vestir só preto e nem os Góticos vestem apenas preto. Mas buscam um grande
contraste e superposição de estilos diversos. O importante é o efeito dramático. Geralmente isto é
conseguido usando alguma peça de tom escuro.
23. O Gótico verdadeiro È apenas o dos anos 80?
Não. A Sub-Cultura e o gênero musical surgiram e se caracterizaram nos anos 80, mas
continuaram a crescer e a se desenvolver mundialmente nos anos 90 e continuam até hoje.
24. Então por que dizem que o Gótico dos anos 80 acabou nos anos 90?
Porque em 1 de janeiro de 1991, os anos 80 acabaram e começaram os anos 90, assim, os álbuns
lançados a partir desta data não poderiam jamais ser considerados como anos 80 por uma questão
cronológica...rs. Porém, muitas bandas góticas dos anos 80 continuaram em atividade nos anos 90
e muitas outras surgiram nos anos 90 tanto com novas propostas quanto inspiradas nas bandas
dos anos 80 e isso acontece até os dias de hoje, logo, o Gótico não só nunca acabou como não
houve nenhum período onde ele tenha deixado de existir. Apenas a informação das cenas Góticas
164
dos Estados Unidos e da Europa deixou de chegar aqui, até o público brasileiro, como chegava até
o começo dos anos 90.
25. Quais são as principais bandas dos anos 80?
Bauhaus, Siouxsie and The Banshees, Cocteau Twins, Dead Can dance, The Cure, Joy Division,
The Damned, X-Mal Deutschland, Echo and The Bunnymen, The Smiths, Sisters of Mercy, The
Mission, Einsturzende Neubauten, Alien Sex Fiend, Nick Cave, Opera Multi Steel, Poesie Noire,
Clan of Xymox, The Fields Of The Nephillin, The Jesus and Mary Chain, Depeche Mode, Mecano,
Front 242, Trisomie 21, Malaria, Christian Death, Sex Gang Children, Mephisto Walz, UK Decay,
Killing Joke, Black Tape For a Blue Girl, Kirlian Kamera, etc.
26. Quais são as principais bandas dos anos 90?
Switchblade Simphony, London After Midnight, Wolfsheim, Nosferatu, Inkubus Sukkubus, Faith and
The Muse, Sopor Aeternus, The Cruxshadows, Love Spirals Downwards, Ikon, Bella Morte,
Cranes, Miranda Sex Garden, La Floa Maldita, Rosetta Stone, Lycia, Sunshine Blind, Seraphin
Shock, Project Pitchfork, The Merry Thoughts, Das Ich, Shadow Project, Diary of Dreams,
Collection D’Arnell Andrea, Lacrimosa, L’Ame Imortelle, In Strict Confidence, Faith and Disease,
Paralysed Age, Manuskript, Libitina, Two Witches, Abney Park, Deep Eynde, Spahn Rach,
De/Vision, Beborn Beton, Wumpscut, Apoptygma Berzerk, VNV Nation, etc
27. Quais as principais bandas recentes (século 21)?
Diva Destruction, BlutEngel, The Vanishing, The Ghost of Lemora, Collide, Ego Likeness, Audra,
Hatesex, Frank The Baptist, Elusive, The Creatures*, Dresden Dolls, Cinema Strange, The Last
Days of Jesus, The 69 Eyes, Rasputina, The Screaming Banshees Aircrew, Scary Bitches,
Zombina & The Skeletones, Darvoset, Black Ice, The Birthday Massacre, Diorama, QNTAL, Helium
Vola, Katzenjammer Kabaret, Klimt 1918, Placebo, Elusive, Welle Erdball, Tragic Black, Devilish
Presley, Human Disease, Scarlet Remains, Carfax Abbey, Anders Manga, Shadow Reichenstein,
Eisbrecher, Android Lust, Voltaire, etc
(boa parte das bandas dos anos 90 que continua em atividade hoje, e algumas dos 80’s também).
28. Existem bandas brasileiras em atividade hoje?
Sim. Exemplos: Elegia, Tears of Blood, Scarlet Leaves, Zigurate, The Forest, Strangeways, Banda
Invisivel, Dead Roses Garden, Maldita, Vesuvia, NecrÛpolis, Closer, Downward Path, Crippled
Ballerinas, A Industrya, Pecadores, Digital Terror, Sunseth Midnight, Seduced by Suicide, Dancing
in Tears, X-Devotion etc
29. Mas então o Gothic Metal não foi a evolução do gótico nos anos 1990?
165
Nããaãããããaãão!!!! A falta de informação ocorrida na cena Gótica brasileira nos anos 90, gerou
um espaço propício para a proliferação da idéia de que o Gótico havia acabado e que o Gothic
Metal seria a “evolução” do Gótico. Idéia essa muito interessante para as gravadoras e produtoras
interessadas em comercializar esse “rótulo”. A partir daí, qualquer banda de Metal que tivesse
vocal feminino lírico ou teclado ou letras “trevosas-du-maaal” passou a ser comercializada sob o
rótulo Gothic Metal, sendo que muitas vezes isso era imposto as bandas pelas gravadoras como
condição para a gravação.
30. Góticos são deprimidos?
Não. Depressão é uma doença, um distúrbio bioquímico do organismo que pode ser gerado ou não
por distúrbios emocionais e, como qualquer doença, deve receber tratamento médico e
psicológico. Góticos apenas não fogem dos aspectos e momentos doloridos ou mais tristes da
vida, pois consideram que estes são partes integrantes da vida, assim como o ano tem tanto
inverno como verão. Você pode dizer que os Góticos são Melancólicos e Saudosistas, esses
termos são mais apropriados (não que saibamos exatamente do que temos saudade, mas
devemos ter perdido algo muito legal... :-).
31. Melancolia é tristeza?
Não. Tristeza È algo muito chato, apesar de fazer parte da vida. Já Melancolia é algo mais
interessante! Posso ser melancolicamente triste, ou melancolicamente alegre, ter prazeres
melancolicamente, rir melancolicamente ou chorar melancolicamente. A base da Melancolia é a
presença constante da consciência de que a vida e cada experiência vivida está fadada ao
fim.(mas não é por isso que vamos deixar de aproveitar todos os bons momentos, não é mesmo?)
32. Góticos cometem o suicídio?
Claro que não, senão não existiriam mais Góticos :)
33. Góticos tem religiâo?
Só aos domingos ! =)
Brincadeira. Os Góticos podem ter a religião que eles bem entenderem, ou nenhuma, mas essa é
uma escolha pessoal, não tendo nada a ver com a sub-cultura Gótica. … evidente que pessoas
ligadas a religiões muito conservadoras e que seguem suas regras ao pé da letra podem ter
problemas com alguns elementos da poesia, da música, do comportamento, do visual, e do
discurso da sub-cultura gótica, que vão contra algumas regras tradicionais ou conservadoras.
34. Góticos são etnicamente brancos?
Não. Góticos costumam usar maquiagem de teatro, cinema antigo, cabaré ou circo, para expressar
dramaticidade e/ou androginia.
166
35. Mas por que querem expressar isso?
Como a sub-cultura Gótica/Darkwave existe em um contexto de “fuga e crítica” a sociedade
Industrial-Positivista, essa sub-cultura adotou vários elementos estéticos considerados “antigos” de
grupos considerados “underground” ou “decadentes” ou “pervertidos” ou ”artísticos” no passado.
Ex: a estética de teatro, cinema expressionista ou noir, circo, vaudeville, etc.
36. O Gótico surgiu do Punk?
Não apenas do Punk. O Punk teve o efeito de dar notoriedade a muitos artistas, mas muitas
influências diretas do Gótico e da Darkwave são anteriores ao Punk 1976- 77. Se o Gótico tivesse
simplesmente surgido do Punk, a maioria de suas características principais teriam surgido do nada.
O
Glam-Rock, o New-Romantic e o KrautRock, por exemplo, também tiveram grande influência
na formação do Gótico.
37. Que outros estilos musicais e sub-culturas influenciaram e influenciam de alguma forma
a música da Sub-Cultura Gótica?
Algumas dúvidas sobre isso podem ser esclarecidas aqui.
38. O que é Pós-Punk?
Não vamos entrar em detalhes da historia do Pos-Punk aqui. Do ponto de vista do Gótico, basta
saber que de 1979 a 1983, entre as muitas bandas que eram consideradas Pos-Punk apenas
algumas eram ao mesmo tempo consideradas Góticas. Assim, nem tudo o que é Pos-Punk È
Gótico!!!
39. Ah! Entendi! Então nem tudo o que é Pos-Punk È Gótico! Mas e o que é Gótico é Pós-
Punk?
Nâãããããão!!! Talvez apenas bem no começo, quando, afinal, praticamente TUDO era Pos-Punk e
a Sub-Cultura Gótica ainda não havia se definido. Hoje a Sub-Cultura Gótica abraça vários outros
estilos.
40. Qual a diferença entre Gótico e DeathRock?
Sabe aqueles casais que vivem resmungando e brigando o dia inteiro por décadas a fio, mas que
não tem coragem para se separar, nem para admitir que se amam? … um caso desses. A
diferença é de grau, alguns elementos são mais explorados no Deathrock e outros mais no Gótico.
Musicalmente o Death-Rock costuma trabalhar com tendências mais próximas ao punk, apesar de
algumas bandas trabalharem com rock e eletrônico, mas sempre de forma mais minimalista.
Tematicamente, o Death-Rock tende mais para o humor, horror e ironia. Não que o Gótico não
trabalhe também com estes traços, mas de forma menos acentuada. A temática Gótica costuma
167
ser um pouco mais “trágica”, mas ao mesmo tempo irônica: temos certeza que vamos sofrer e
morrer, mas nem por isso deixamos de celebrar a paixão.
41. Góticos têm que gostar de freqüentar cemitérios?
Não, não existe nenhuma lei que diga que você tem que ir ao cemitério ou gostar de cemitérios
para ser Gótico. Mas como na sub-cultura Gótica/Darkwave a temática da fugacidade da vida, da
morte como algo que está presente o tempo inteiro dando significado a existência, do carpe diem,
etc, a atração pelos cemitérios é bastante comum, seja para refletir sobre o sentido da vida ou para
zombar da morte. Enquanto podemos…
Além disso, muitos Góticos (e não-Góticos também) apreciam a Arte Tumular (esculturas, pinturas
e arquiteturas características dos cemitérios). Maiores informações sobre Arte Tumular em
cemitérios de São Paulo:
<http://portal.prefeitura.sp.gov.br/empresas_autarquias/servico_funerario/arte_tumular/0001>
42. O que é Carpe Diem?
Ditado e estilo de vida: em Latin: “aproveita o dia” (de hoje) pois a morte pode chegar já amanhã. A
versão mais usada pelos Góticos é “Carpe Noctem” (aproveita a noite) no mesmo sentido que a
outra expressão.
43. Porque os góticos usam crucifixo?
O uso de um crucifixo por alguém vestido e maquiado como um gótico já é algo de deixar as
velhinhas da missa das 6 da manhã‚ com os cabelos mais em pé que os nossos (e sem laquê nem
sabonete seco...rs). O uso de crucifixos surgiu em parte pela temática de sofrimento (paixão) e
sacrifício do cristianismo e em parte pela intenção herética de colocar símbolos religiosos em
contextos esdrúxulos.
44. Porque os góticos usam Ankh?
Este símbolo se tornou popular entre os Góticos sendo relacionado ao Vampirismo depois do filme
“The Hunger” (Fome de Viver, 1983). Neste filme, David Bowie e Catherine Deneuve representam
um casal de vampiros. No início há uma cena em que a dupla está á espreita de suas presas numa
casa noturna ao som de “Bela Lugosis’s Dead”, tocada pelo próprio Bauhaus, com seu vocalista
Peter Murphy cantando atrás de grades. O detalhe é que este casal de vampiros não tem caninos
proeminentes: usam colares cujos pingentes são Ankhs egípcios com pontas afiadas que servem
para cortar as veias de suas vítimas. A vampira ancestral está viva desde o antigo Egito, o que
justifica a apropriação deste antigo símbolo religioso egípcio (o Ankh) em um novo contexto. O
filme discute questões existenciais sobre a vida e a morte.
Posteriormente, em 1989, Neil Gaiman usou o visual da Sub-Cultura Gótica para seus
personagens da premiada série de quadrinhos “Sandman”. A personagem Morte (Death), por
168
exemplo, é uma simpática e irônica garota Gótica que usa um grande Ankh. Esta série de
quadrinhos popularizou ainda mais o uso do Ankh.
45. Os góticos são satanistas?
A subcultura Gótica/Darkwave não tem ligação com nenhuma religião ou anti-religião organizada.
Aliás, no Gótico, quase tudo é pessoal e desorganizado... Aliás, é exatamente por isso que
estamos fazendo esse FAQ.
46. Os góticos cultuam a morte?
Só aquela da HQ Sandman, que é a maior gatinha! Mas falando sério, essa HQ é bem legal e tem
a ver com a questão da Morte na Sub-Cultura Gótica e Darkwave. Afinal, a morte é o alto preço da
vida. (ver perguntas 39 e 40)
47. Os góticos são homossexuais ou bissexuais?
Só os que são. Mas não podemos esquecer que quando a Sub-Cultura surgiu, ainda nos anos
1980, a sociedade era muito mais conservadora e machista do que hoje. Imagine um bando de
rapazes usando maquiagem e esmalte e pregando que homens podem ter sentimentos
historicamente definidos como femininos?
O fato da estética Gótica/Darkwave/Death-Rock ter adotado a Androginia ou a maquiagem Teatral
fez com que ela acabasse sendo inicialmente um refugio para indivíduos de todas as 2328 opções
sexuais existentes, até mesmo para as mais depravadas de todas, como a castidade.
Então, se você vai freqüentar a Sub-Cultura e a cena Gótica, precisa saber que vai encontrar
pessoas de todas as orientações sexuais e que tolerância faz parte de nossa história e tradição.
Mas evidentemente, seria um absurdo alguém ser obrigado a ter uma orientação sexual ou outra
para fazer parte dessa cena.
48. Vejo muito visual S&M na cena Gótica. Os Góticos são sadomasoquistas?
Novamente, são os que são. Os Góticos são fetichistas, gostam de insinuar, de brincar de faz-de-
conta, porém apenas alguns Góticos são realmente S&M, sendo isso uma opção pessoal. Esse
visual está presente na cena desde o início, nos anos 80.
49. O que significa androginia?
Androginia significa ter uma determinada aparência tal que seu sexo não possa ser definido a
primeira vista. Assim, você pode encontrar uma mulher que você não consegue identificar se
é homem ou mulher, ou um homem que você não consegue identificar o sexo. Androginia é uma
opção estética, e não uma opção sexual. … muito difícil conseguir parecer totalmente andrógino,
169
(poucos nascem naturalmente assim). A maioria se contenta em adotar elementos estéticos do
sexo oposto por diversão e/ou fetichismo.
50. Para ser um gótico verdadeiro eu preciso usar o visual gótico o tempo todo???
Não. Não mesmo. Sim, tenho certeza. Pois é.
Além disso precisamos entender que qualquer Cultura e Sub-Cultura tem sua indumentária
cotidiana e a indumentária “de festa”. Como em qualquer evento social, nas festas as pessoas
usam a “indumentária cultural” mais completa e especial. Em outras palavras, você não precisa
usar sobretudo de lã e maquiagem teatral sob um sol de 40 graus e nem pedir demissão do seu
trabalho porque lá as pessoas não entendem muito bem o seu visual...rs.
Todavia a indumentária é um elemento cultural importante em qualquer Sub-Cultura.
51. Para ser Gótico eu preciso ser Vampiro? Se eu sou Vampiro eu sou Gótico?
Nem uma coisa nem outra. Existe a Sub-Cultura Gótica/Darkwave que aborda, às vezes, também
temas vampíricos, entre muitos outros. Existe, paralelamente , uma cena Vampyrica . Assim:
A ) você pode ser Gótico
B ) você pode ser Vampyrico
C ) você pode ser ambos
Em qualquer um dos três casos, as pessoas freqüentam ambas as cenas, se
assim o desejarem.
52. O que é “Mixirica” ?
Mixirica é uma gíria já antiga na cena Gótica brasileira, que pode ser usada tanto de forma
carinhosa como pejorativa. “Mixirica” significa “exagerar” ou ser “afetado” no comportamento,
linguajar ou visual Gótico. Pode querer dizer que algo é “estereotipadamente gótico”, tanto para o
bem como para o mal.
Afinal todo mundo tem seu momento mais “mixiricoso” e isso sempre é muito divertido.
53. O que é Wannabe?
Wannabe singnifica “ querer ser” em Inglês. Significa alguém novo em uma
cena, que ainda está aprendendo sobre ela, mas ainda não sabe muito. Dependendo da pessoa
que usa o termo, pode ser usado no sentido positivo ou como crítica (o que, infelizmente, é mais
comum).
54. Quais os símbolos mais recorrentes na Sub-Cultura Gótica?
Observando a produção artística relacionada à Sub-Cultura Gótica desde seu começo até hoje,
alguns símbolos e imagens são recorrentes:
170
Lua
Prata
Agua
noite
outono e inverno
sensualidade
decadência
Expressionismo
feminilidade (no caso das mulheres) e Anima (parte feminina no homem)
onÌrico
Surrealismo
DionisÌaco
Intuição
Androginia
Drama
Emoção
anti-racionalismo
anti-mecanicismo
anti-positivismo
serpente
vampiro
bruxa, feiticeira, magia
ennui, spleen
horror com humor
obscuridade
paixão
existencialismo
anjos caÌdos
urbanidade problemática/ cidades vazias
romantismo
seasonal, cÌclico
hedonismo
55- Agora que eu já li tudo isso eu sei tudo sobre o que é Gótico?
Não, seus problemas acabaram de começar. Aprender é aumentar a complexidade de nossas
dúvidas e torná-las mais interessantes e menos banais.
171
De qualquer forma, seja bem vindo ao clube das incertezas!
Se depois de beber uma boa taça de vinho com gelo sob o refrescante luar você já tiver relaxado e
desejar pesquisar mais sobre algumas das questões aqui citadas, talvez você encontre algo do seu
interesse nas seguintes seções de nosso site.
Cabaret Noir
Dark-O-Pedia
Bat-Caverna
Carpe Noctem ! :-)
Kipper, 35 anos, frequenta a cena Gótica paulista desde 1990;
Flávia Flanshaid, 30 anos , frequenta a cena Gótica paulista desde 1994.
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