
Branco”, “expulsos dos seringais para a cidade”, “ex-seringueiros na periferia de Rio Branco”,
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etc.
Formas de olhar que tornam os seringueiros vítimas, passivos, negando a historicidade
dos sujeitos.
Os termos ou conceitos utilizados caracterizam as versões acadêmicas sobre
as famílias de seringueiros na periferia da cidade de Rio Branco, onde o seringueiro
aparece como o desqualificado para morar na cidade, apenas como força de trabalho,
como mão de obra, enfim, como estatística.
Se na cidade, os seringueiros foram denominados nos termos citados, nos
seringais não foi diferente. Foram nominados pelos proprietários de seringais, ao longo
de mais um século, como os
“analfabetos”, “ignorantes”, os “burros”, homens e mulheres
“sem cultura”, etc. Na cidade de Rio Branco, além dos termos recentes, os seringueiros
foram denominados ao longo do tempo como
“primitivos”, “selvagens”, “arcaicos”,
“atrasados”, e recentemente como “invasores” de terras públicas e particulares, como
“ignorantes” “baderneiros”, “expulsos dos seringais” e “ex-seringueiros na periferia”, etc. No terceiro
capítulo discutimos como foram constituídas nos seringais e nas cidades acreanas as
imagens do seringueiro como
“ignorante” e sem “cultura”. Denominações pejorativas e
preconceituosas construídas pelas classes dominantes do seringalismo.
No Acre a versão ou imagem construída do seringueiro como alguém que
não tem cultura, foi articulada ao longo de mais de um século por setores sociais
vinculados a elite política e letrada.
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Ao longo de minha vida adulta, jamais aceitei os
termos pejorativos nominados, mas não tinha as condições materiais e intelectuais para
refutar a memória projetada no decorrer de mais um século sobre o seringueiro, como
“não ser”.
Como historiador com olhares voltados para a historia social e da cultura,
analisamos como as famílias de migrantes seringueiros constituíram novas experiências
no seu fazerem-se moradores urbanos, nos diversos espaços de disputa da cidade, atento
para as tensões sociais que vivenciaram dentro de um processo social de lutas mais
amplas; enfatizando as lutas de valores que travaram, acompanhado os estranhamentos,
as novas sensibilidades, as intolerâncias que tiveram que enfrentar, enfim, as lutas por
posição no mundo. Nos voltamos para os embates que travaram, afirmando as
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Estes termos foram utilizados pelo autor do primeiro trabalho acadêmico sobre o referido tema,
Fernando Garcia de Oliveira, em sua dissertação de mestrado: “População de baixa renda da cidade de
Rio Branco: situação anterior, processo migratório. Formas de inserção/retribuição no mercado de
trabalho”, Rio de Janeiro, UFRJ, 1978, p.17.
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No capítulo 3 aprofundamos um pouco mais como as elites econômicas e políticas do Acre construíram
a versão do seringueiro como o ser que não tem cultura.
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