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Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Programa de Pós-Graduação em Ciências Sócias
A Fábrica Maria Amália e sua inserção na cidade de Curvelo:
Os caminhos do desenvolvimento de uma indústria têxtil no interior de Minas Gerais.
(1941-1992)
Gladson Macedo de Oliveira
Belo Horizonte
2007
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Gladson Macedo de Oliveira
A Fábrica Maria Amália e sua inserção na cidade de Curvelo:
Os caminhos do desenvolvimento de uma indústria têxtil no interior de Minas Gerais.
(1941-1992)
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Ciências Sociais: Gestão de Cidades, linha de
pesquisa Trabalho e Cidade da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para
obtenção do título de Mestre em Ciências Sociais.
Orientador: Prof. Dr. Tarcísio Rodrigues Botelho
Belo Horizonte
2007
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A Fábrica Maria Amália e sua inserção na cidade de Curvelo:
Os caminhos do desenvolvimento de uma indústria têxtil no interior de Minas Gerais.
(1941-1992)
Gladson Macedo de Oliveira
Dissertação de Mestrado submetida à banca examinadora designada pelo Programa de
Pós-Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Ciências
Sociais.
Belo Horizonte, 28 de fevereiro de 2007.
Prof. Dr. Tarcísio Rodrigues Botelho
Orientador - PUC Minas
Prof. Dr. Mário Cleber Martins Lanna Júnior
FJP
Profa. Dra. Magda de Almeida Neves
PUC Minas
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a Vilma Soares de Macedo,
pelo incentivo incondicional durante toda a minha
caminhada, por sua paciência e principalmente por me
ensinar que nunca podemos desistir.
Obrigado mãe.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu orientador Prof. Dr. Tarcisio Rodrigues Botelho pela paciência e
compreensão para a realização deste trabalho. Agradeço também a todos que de alguma forma
contribuíram para a consolidação da pesquisa, como Regina Célia de Carvalho, Elaine
Mendes de Sá, José Teófilo entre outros anônimos que diretamente ou indiretamente me
ajudaram.
RESUMO
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45), a Indústria Têxtil brasileira teve um
impulso significativo na sua produção, devido à necessidade da substituição dos produtos que
importava dos países que estavam em guerra. Curvelo, cidade situada no centro geográfico de
Minas Gerais, no final do século XIX, despontava como importante pólo produtor de
algodão. Sua consolidação se deu com a implantação da Fábrica Maria Amália em 15 de
setembro de 1941, focada para a produção de tecidos finos. Esta diversificou a economia da
região e sua implantação trouxe crescimento significativo para a cidade, provocando
alterações no dia-a-dia dos curvelanos. Este trabalho pretende resgatar a história da Fábrica
Maria Amália para que se possa perceber como esta influenciou e alterou o dia-a-dia dos
trabalhadores e da cidade de Curvelo. Busca também levantar a história do município, assim
como analisar o impacto da empresa sobre o perfil da cidade e os melhores resultados para os
cidadãos. A dissertação foi dividida em três capítulos. O primeiro capítulo é focado no
crescimento industrial brasileiro e seu setor têxtil, desde sua formação em meados do século
XIX até a década de 1990. O segundo capítulo pretende estudar a indústria têxtil brasileira,
especificamente o caso da Fábrica Maria Amália e sua introdução no município de Curvelo. O
terceiro capítulo busca entender como se deu e se d
ABSTRACT
During the Second World War (1939-45) the Brazilian Textile Industry had a
significant impulse on it´s production, proper to substitu the products that were imported from
countries that had being in war. Curvelo, a city situated in geographical center of Minas
Gerais, in the end of XIX century, was coming out as an important pole producing of cotton.
It´s consolidation happend with the introduction of Maria Amália Factory on setember 15th
1941, focused on the production of fine cloths. It diversified the economi of the region and
it´s implantation brought great developmente to the city, causeing changes in curvelanos day
by day. This paper intend to rescue the history of Maria Amália Factory so we can realize
how this influenced and changed the day by day of workers and the city of Curvelo. Also
searches raiseing the history of the county, as well as analyse the impact of the company on
the profile of the city and the better results to the citizens. The paper was divided in three
chapters. The first chapter is focused on the brazilian industrial growth and it´s textile sector,
since it´s formation in the middle of XIX century until the decade of 1990. The second
chapter intend to study the brazilian textile Industry, specialy the case of Maria Amália
Factory and it´s introdution in the county of Curvelo. The third chapter searches the
understanding of how it happend and the relation whit the Factory and the city of Curvelo. In
the final considerations we present the reasos why the Maria Amália Factory became
conductor of development for the city of Curvelo, as an important culture and social agent of
transformation for a small city of Minas Gerais.
Key-words: work; discoplination; factory; sector textile; work relationships; day by day;
cotton; production; social-culture.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 01 - Organograma: Divisão produtiva da Fábrica Maria Amália .................................80
Gráfico 01 - Algodão no Brasil (1931-1987) ...........................................................................34
Gráfico 02 - Produto Interno Bruto (PIB) Brasileiro................................................................43
Gráfico 03 - Evolução da Inflação Brasileira..........................................................................43
Gráfico 04- Produção Industrial de 1980/92 ...........................................................................44
LISTA DE TABELAS
TABELA 01 - Participação das têxteis na indústria de transformação do Brasil em 1907..26
TABELA 02 - Produção algodoeira de Minas Gerais..........................................................32
TABELA 03 - Algodão no Brasil e Minas Gerais (1937-1944)...........................................33
TABELA 04 - Brasil: Exportação de tecidos de algodão.....................................................35
TABELA 05 - Indústria brasileira do algodão - 1853-1948.................................................37
TABELA 06 - Produto real do setor industrial no segundo governo Vargas (1951-1954)..40
TABELA 07 - Movimentos grevistas no Brasil...................................................................53
TABELA 08 - Porcentagem da população nas principais regiões de Minas Gerais (1872-
1940).....................................................................................................................................71
TABELA 09 - População residente de Curvelo ...................................................................71
TABELA 10 - Indústria de Minas Gerais - 1937 .................................................................72
TABELA 11 - Indicadores do Setor Têxtil (1990-1996) ...................................................108
LISTA DE ABREVIATURAS
Aços Especiais Itabira (ACESITA)
Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG)
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE)
Círculos de Controle de Qualidade (CCQ`s)
Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG)
Companhia Siderúrgica Nacional em Volta Redonda (CSN)
Companhia Vale do Rio Doce (CVRD)
Consolidacao das Leis Trabalhistas (CLT)
Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG)
Educação de Jovens e Adultos (EJA)
Estrada de Ferro Central do Brasil (EFCB)
Faculdade de Ciências Humanas de Curvelo (FACIC)
Instituto Estadual de Florestas (IEF)
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
Just in time (JIT)
Partido Socialista Brasileiro (PSB)
Produto Interno Bruto (PIB)
Serviço de Alimentação da Previdência Social (SAPS)
Total Quality Management - Gestão pela Qualidade Total (TQM)
V & M do BRASIL S.A (Mannesmann)
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...............................................................................................................13
2. INDUSTRIALIZAÇÃO NO BRASIL E SEU SETOR TÊXTIL ...................................19
2.1 Dos primórdios à década de 1930..................................................................................19
2.2. As transformações das décadas de 1930 e 1940...........................................................28
2.3. A evolução da indústria brasileira na segunda metade do século XX..........................39
2.4. As origens da indústria no Brasil e o problema de disciplina fabril.............................48
2.5 A década de 1930 e as transformações no mundo do trabalho......................................57
3. A INDÚSTRIA TÊXTIL E A FÁBRICA MARIA AMÁLIA........................................61
3.1. Evolução histórica do município de Curvelo ...............................................................61
3.2. A relação cidade e fábrica e a reconfiguração do espaço urbano na década de 1940 ..63
3.3. O crescimento urbano e as transformações da relação fábrica/cidade .........................69
4. A FÁBRICA MARIA AMÁLIA E A CIDADE DE CURVELO...................................75
4.1. A Fábrica Maria Amália e suas relações de trabalho ...................................................75
4.2. A crise dos anos 1990 e o fim da Fábrica Maria Amália .............................................105
5. CONCLUSÃO.................................................................................................................117
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................119
ANEXO A – Mapa de Curvelo em 1706...........................................................................124
ANEXO B - Município de Curvelo atualmente (2007).......................................................125
ANEXO C - Industrial Othon Lynch Bezerra de Mello, presidente e idealizador da Fábrica
Maria Amália.......................................................................................................................126
ANEXO D - Iconografia Fábrica, bairro Maria Amália, jardim, Clube Maria Amália, Escola
Maria Amália, José Teófilo, trabalhadores e condições de trabalho...................................127
ANEXO E - Mapa do município de Curvelo ......................................................................138
13
1. INTRODUÇÃO
“Curvelanos!
Curvelo é terra do algodão. Auxilie a fundação de uma fábrica de
tecidos na cidade. É bom negócio para todos”
1
.
A Indústria Têxtil brasileira no decorrer da Segunda Grande Guerra (1939-45) teve um
impulso significativo na sua produção, pois o país precisava substituir a importação dos países
que estavam em guerra. Curvelo, cidade situada no centro geográfico de Minas Gerais, no
final do século XIX despontava como importante pólo produtor de algodão. Neste período
se instalou nos arredores da cidade a fábrica Cachoeira, do grupo Cedro e Cachoeira. O
prefeito Viriato Mascarenhas Gonzaga, já na década de 1940, pretendia transformar a pequena
cidade de então em próspero centro industrial, com a ajuda do governador Benedito
Valladares, que assegurou total apoio do seu governo à implantação de uma fábrica têxtil em
Curvelo. A Fábrica Maria Amália que ocupa uma área de 280.000 m², onde trabalham hoje
1055 funcionários divididos em 16 sessões, operando 24 horas por dia em três turnos diários
de 8 horas, foi fundada em Curvelo em 15 de setembro de 1941. Esta diversificou a economia
da região que se baseava numa gama de produtos agrícolas, pecuária de corte/leite, e na
extração de pedra ardósia, cristal, calcário e areia. A sua implantação trouxe melhoras
significativas para a cidade, dentre as quais a geração de divisas, acesso à tecnologia,
empregos diretos e indiretos, benefícios ligados ao emprego direto (casa, crédito, escola aos
filhos, emprego garantido aos filhos, entre outros), além de interferir no cotidiano curvelano
seja com a nova dinâmica social ou com o som de sua sirene
2
.
O grupo Othon
3
, idealizador da fábrica, implantou uma série de artefatos que visavam
o bem estar dos funcionários, como clube, time de futebol, escola, centro de treinamento,
cooperativa de crédito entre outros que assistiam ao funcionário e sua família. A partir de
1
Fonte: Jornal “A verdade”; 17 de dezembro de 1933; localização: Pré-Projeto de pesquisa; Fábrica Maria
Amália: “Do sonho a realidade”; Museu Vivo de História Local da Faculdade de Ciências Humanas de Curvelo
(FACIC).
2
A fábrica se relacionava diretamente com a cidade e os trabalhadores através de uma sirene. Ela era acionada
quinze e cinco minutos antes, na troca do turno e na hora das refeições para alertar os trabalhadores. Atualmente
ela continua determinando as trocas de turno e as refeições, acrescido de um alarme de hora em hora. A sirene é
escutada em quase toda a cidade, desta forma ela determina de hora em hora que ela está presente na cidade, na
vida dos cidadãos curvelanos e dos trabalhadores.
3
O grupo Othon é composto de hotéis, imobiliárias, indústrias têxteis, indústrias ucareiras e importadora. A
Fábrica na sua administração produzia tecido cru, vendido na sua maioria para estamparias de São Paulo.
Fundada por Othon Lynch Bezerra de Mello em 1905, tem sede no Recife.
14
1990, com a queda das barreiras alfandegárias
4
, a brica Maria Amália não acompanhou a
evolução do setor têxtil e começou a ser expulsa do mercado. Enfrentando graves problemas
financeiros que quase a levaram à falência. Diante das dificuldades, em 1992, ela acabou
sendo vendida para o Labortêxtil S/A
5
.
Resgatar a história da Fábrica Maria Amália se faz importante para que se possa
perceber em sua trajetória como esta influenciou e alterou o cotidiano dos trabalhadores e da
cidade de Curvelo ao longo do tempo. Levantar a história do município de Curvelo também se
faz importante para tal, assim como analisar o impacto da empresa sobre o perfil da cidade e
as conseqüentes melhorias para os cidadãos curvelanos.
A hipótese para tal se concentra na vertente de que a Fábrica Maria Amália alterou as
relações de trabalho na cidade, o ambiente físico e o cotidiano sócio-cultural dos curvelanos.
Curvelo, na década de 1930 e início da década de 1940, era a representação do atraso, a
cidade não apresentava condições satisfatórias de higiene e saúde à sua população, as redes de
abastecimento de água e coleta do esgoto não atendiam à grande maioria da população. O
trabalho era disperso nas várias fazendas de algodão da região e no centro urbano o trabalho
resumia-se ao comércio e às pequenas empresas beneficiadoras de algodão, como
descaroçadeiras e produtoras de óleo vegetal do caroço. A remuneração paga a estes
trabalhadores não atendia às necessidades básicas da população, que padecia com esta
situação. A chegada da Fábrica Maria Amália mudou este cenário, pois a remuneração atendia
a legislação trabalhista do governo de Getúlio Vargas, que implantou o salário mínimo
(1938), ou seja, os trabalhadores da Maria Amália deveriam receber a justa remuneração
mínima por seu trabalho, diferentemente das pequenas empresas e do comércio da cidade que
não cumpriam com suas responsabilidades legais, usando da ineficiência do setor público de
fiscalização e da própria ignorância e honestidade dos trabalhadores que neste período
estavam em processo de êxodo rural. Fica claro que a Fábrica Maria Amália alterou a
dinâmica trabalhista da cidade, pois maiores remunerações aos seus trabalhadores implicava
em melhores condições de vida para a população do município que observava um maior fluxo
de capital no comércio em geral. A cidade modificou-se com a implantação da Fábrica, uma
vez que permitiu mudanças não no campo do trabalho, mas também nos aspectos físico e
4
O governo do presidente Fernando Collor (1990-1992) derrubou as barreiras alfandegárias que protegiam a
indústria nacional, visando aumentar a concorrência e a modernização da mesma. Produtos vindos
principalmente da Ásia concorriam em igualdade com os nacionais. Dentre esses se destacam: brinquedos,
utensílios domésticos, carros e tecidos.
5
A Labortêxtil comprou a fábrica em 1992, com o objetivo de atingir o sudeste e o sul do país. Produz
atualmente material médico/hospitalar (gaze, panos para pré-operatório e pós-operatório), sendo a maioria
exportada. Tem sede em Feira de Santana, Bahia.
15
sócio-cultural. Nos aspectos físicos, notamos uma melhoria nas condições sanitárias da
população, pois nem nos bairros mais abastados da cidade existia sistema de coleta de esgoto
e de água tratada, o bairro Maria Amália, “um bairro operário”, construído para atender os
trabalhadores da empresa este sistema estava disponível. Faz-se notar que a cidade aderiu à
Fábrica, pois o seu crescimento se deu em direção aos muros da empresa a partir de sua
fundação. Nos dias atuais, a planta da empresa se fez circundar pelo município
6
, seja pelo
crescimento natural da cidade ou pela influência que a mesma exerceu sobre o capital
especulativo do setor imobiliário, buscando auferir maiores lucros com imóveis próximos aos
muros da empresa. Há que se destacar também a presença da Fábrica Maria Amália no
aspecto sócio-cultural, pois esta exerceu um forte papel cultural e social para a população de
Curvelo, uma vez que na planta da empresa encontravam-se escola primária, cinema, clube
(onde peças teatrais e bailes eram ofertados a toda a comunidade curvelana mediante convite)
uma loja de tecidos rústicos a preços módicos, posto de combustível, varejão de frutas e
verduras e um jardim para recreação dos trabalhadores e da população local, ou seja,
benefícios raros ou nem encontrados para a realidade da cidade. Portanto, com estes
benefícios à comunidade curvelana fica evidente o importantíssimo papel sócio-cultural
desempenhado pela Fábrica Maria Amália, e sua contribuição para o desenvolvimento do
município, seja através do capital investido na cidade, das mudanças estruturais provocadas
no ambiente ou pela contribuição e integração que este projeto teve e tem com a cidade de
Curvelo.
Para o desenvolvimento da pesquisa, a metodologia qualitativa, com o uso de
documentação oficial e entrevistas orais se fez presente para que pudéssemos reconstruir a
história da fábrica e do município de Curvelo. O objetivo era buscar as influências que a
cidade teve após a instalação da Fábrica Maria Amália, as mudanças que esta ocasionou e
para determinarmos a importância para a população e para o município. No que tange as
entrevistas orais foram feitas 20 entrevistas, onde buscou-se o perfil de dois tipos de
trabalhadores, um que havia trabalhado no período sob a supervisão do grupo Othon e que
saiu antes da empresa ser vendida ao grupo Labortêxtil e outro perfil de trabalhador que
tivesse trabalhado sob a supervisão das duas administrações. Esta divisão se fez necessária,
pois tornaria a avaliação da importância da empresa para os trabalhadores e para o município
mais clara, uma vez que o controle e a disciplinarizaçao do trabalhador não cessa, ou seja, o
modelo defendido pela empresa influencia as respostas e a análise da informação. Sobre a
6
Ver anexo E: mapa do município de Curvelo.
16
documentação histórica, buscou-se resgatar jornais e documentos sobre a década de 1940 que
recontassem a história da implantação da empresa e da situação da cidade. Portanto, atas de
reuniões, jornais, folder, listas de funcionários demitidos e admitidos, organogramas
administrativos ente outros foram utilizados para recontar a história da Fábrica Maria Amália.
Além deste material, a parte iconográfica teve papel relevante por demonstrar as condições da
época, sendo os mesmos, juntamente com o material arquivado recentemente, utilizados para
demonstrarem as mudanças sofridas pela cidade de Curvelo com a implantação da empresa.
Outra fonte importante de pesquisa baseia-se no arquivo histórico do Museu Vivo de História
Local da Faculdade de Ciências Humanas de Curvelo (FACIC), onde se encontram jornais,
projetos de pesquisa da comunidade acadêmica curvelana, iconografia e objetos típicos ou
tradicionais da região, sendo este de organização privilegiada e de fácil acesso,
diferentemente do arquivo da prefeitura municipal de Curvelo, que ainda não está organizado
e encontra-se destinado a uso exclusivo dos órgãos públicos. A parte documental da Fábrica
Maria Amália encontrava-se em processo de arquivamento através da historiadora Regina
Célia Carvalho, juntamente com os alunos do Telecurso 2000, através do processo de
Educação de Jovens e Adultos (EJA), onde o projeto de arquivamento e criação do Memorial
Maria Amália receberia este material. que se destacar que este projeto foi paralisado com
a formatura desta turma e com a saída da historiadora do quadro de funcionários da empresa.
Outra fonte de dados importante para a pesquisa foram os anuários estatísticos, organizados
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), d.74(n)-0.295585(u)-588())2.80439(,)-0.146571( )-250.294(d294(d)-0.2958.74(f)2.80439(i)-2.16436(a)3.74( )-250.294(e)3.74( ) )-247ã9(,)-0.146571( )-251( )-250.29ra pia
17
século XX se fez necessário para podermos entender o processo no qual a Fábrica Maria
Amália entrou, de atraso tecnológico, levando-a ao quase processo de falência no ano de
1992, com a abertura promovida pelo governo Collor aos produtos importados.
O segundo capítulo destina-se a estudar a indústria têxtil brasileira, especificamente o
caso da Fábrica Maria Amália e sua inserção no município de Curvelo. Para tal, fez-se o
estudo do histórico do município para atermos à situação de Curvelo quando da chegada da
Fábrica. Busca-se também entender como se deu e se a relação da Fábrica Maria Amália
com a cidade de Curvelo. Para isto, serão tratadas as questões relativas à implantação da
Fábrica e o processo de reconfiguração físico e cio-cultural do espaço urbano na década de
1940 através do aparato montado para atender às necessidades do trabalhador têxtil, mas que
acabaram beneficiando os curvelanos de um modo geral, assim como o crescimento da
população urbana e as transformações promovidas ao longo da relação fábrica/cidade.
No terceiro capítulo destacamos outro ponto relevante, que encontra-se nos motivos
que levaram o senhor Othon a implantar uma indústria têxtil em Curvelo e como se deu esta
implantação. Relevante neste período e fundamental para compreendermos a dinâmica de
uma indústria têxtil apresenta-se no estudo das relações de trabalho, ou seja, como foi tratada
a questão da disciplina fabril implementada na Maria Amália sob a administração Othon e
Labortêxtil. Outro ponto relevante para o estudo é a elucidação da crise dos anos 1990, para
entendermos o porquê do fim da administração Othon na Fábrica Maria Amália e da sua
venda para o grupo Labortêxtil em 1992, que implementou novos métodos de gestão
empresarial e assegurou a sobrevivência da empresa e de cerca de 1055 empregos diretos.
Finalmente as conclusões, onde apresentamos os motivos pelos quais a Fábrica Maria
Amália tornou-se um importante condutor do desenvolvimento da cidade de Curvelo, assim
como um agente de transformações culturais e sociais, mudando a dinâmica e o cotidiano de
uma pequena cidade do interior de Minas Gerais. Há que se destacar que a empresa volta a ser
o centro das atenções, uma vez que passa por problemas financeiros, ameaçando o emprego
direto de 1055 (um mil e cinqüenta e cinco) trabalhadores. Na atual conjuntura de desemprego
que o Brasil atravessa, a perda destas vagas no mercado de trabalho representaria para a
cidade uma série de problemas, com conseqüências políticas e sociais para boa parte da
sociedade curvelana.
Ao final do trabalho, estão inclusos anexos que buscam, através de material
iconográfico, apresentar a realidade da Fábrica Maria Amália e da sociedade curvelana. O
anexo A apresenta o mapa do município de Curvelo antes de se iniciar o processo de
separação e perda de seus principais Distritos. no anexo B pode-se notar como ficaram os
18
limites após o processo de separação dos distritos. O anexo C apresenta o industrial Othon
Lynch Bezerra de Mello, presidente e idealizador da Fábrica Maria Amália. O anexo D nos
trás o material iconográfico sobre o aparato montado para se atender o trabalhador sob a
administração Othon, além da fachada atual da empresa, fotos aéreas da década de 1940 e dos
trabalhadores e suas condições de trabalho. O anexo E demonstra como a fábrica foi
englobada pela cidade.
19
2. INDUSTRIALIZAÇÃO NO BRASIL E SEU SETOR TÊXTIL
2.1. Dos primórdios à década de 1930
A industrialização do Brasil teve seu início, ainda que embrionário, a partir de 1870,
começando a aumentar, em número e importância, num processo que se intensificou entre os
anos de 1885-1895
7
. Com a Proclamação da República em 1889, a indústria brasileira recebe
um novo incentivo, mesmo que derivante das medidas benéficas à cultura do café. A política
da república de subsidiar a lavoura cafeeira, em vez da indústria, sem dúvida retardou a
industrialização brasileira, mas medidas protecionistas, como no caso da indústria de sacaria
de juta
8
, beneficiaram a indústria têxtil nacional.
O fato de parte do país se voltar para a produção e exportação de café para os
mercados norte-americano e europeu e a política de subsidiar os produtores de café, praticada
pelo governo de Rodrigues Alves (1902-1906), demonstrada principalmente pelo Convênio
de Taubaté (1906), comprovam que a indústria estava em segundo plano. A preferência das
elites brasileiras em manter o país em um sistema agrário exportador e as políticas
implementadas pela esfera governamental brasileira em favor de se manter este sistema,
colocavam o Brasil em uma estrutura econômica baseada em um único viés, determinava a
dependência e deixava o país em uma situação perigosa, pois a sua economia não era
diversificada. Estes fatores impediam o desenvolvimento da indústria nacional e sem o apoio
governamental e das elites cafeeiras (para financiarem este processo) tornava-se difícil
investir na aquisição de novas máquinas e conseqüentemente na implantação de projetos
industriais em solo brasileiro.
Por outro lado, os lucros auferidos com a produção cafeeira e as primeiras crises de
preço, como por exemplo, a de 1886-1897, fizeram com que o cafeicultores reinvestissem
seus lucros, diversificando o seu capital, dando origem a um lento e tímido processo de
formação da indústria nacional, caracterizada quase que exclusivamente por indústrias de
bens de consumo não duráveis. Segundo Hardman e Leonardi:
7
Sobre a história da indústria brasileira, ver Hardman e Leonardi (1982).
8
Sobre a indústria de sacaria de juta e a política de subsídio governamental a este setor, ver: Matos, 1996. O ca
no início do século XX, já despontava como o maior participante na cota de produtos exportados pelo país, o que
obrigava os comissionários de café a cada vez mais importar sacos de juta para ensacar o café para a exportação,
uma vez que os sacos de algodão eram impróprios para o transporte e armazenamento, pois guardavam muita
umidade e estragavam a carga nos porões dos navios, antes do destino final.
20
Os resultados do censo industrial de 1919 nos o uma idéia da estrutura produtiva
da indústria de transformação no Brasil: 30,7% do valor bruto da produção naquele
ano provinha das indústrias alimentícias; 29,3% da têxtil e 6,3% das fábricas de
bebidas e de cigarros. Apenas 1,7% tinha origem na metalurgia e indústrias
mecânicas juntas; 2,0% nas indústrias químicas. Com exceção de certas máquinas
utilizadas no beneficiamento do café, produzidas no Brasil desde o século XIX, e de
algumas poucas ferramentas e equipamentos, a indústria nacional não produzia bens
de capital, só bens de consumo. (HARDMAN; LEONARDI, 1982, p. 57).
A expansão da economia através de produtos para exportação, entre 1850 a 1920,
como café, borracha, açúcar, algodão, fumo, cacau, mate, couro e charque, gerou progresso
econômico geral e, como conseqüência, crescimento do mercado interno. A demanda por
matéria-prima, máquinas e equipamentos aumentou até a crise internacional de 1913, e em
seguida, o início da guerra. Dessa forma, o “choque extremo” de 1913, seguido da guerra,
foram de grande importância para produzir mudança qualitativa nos investimentos industriais
nas décadas de 1920 e 1930, pois a escassez de matérias-primas, máquinas e equipamentos
mostrou a fragilidade do programa de investimento do governo. Até 1912 essa demanda era
quase que totalmente suprida por importações, mas isso sobrecarregava a balança comercial.
A questão da política econômica foi outro estimulante para o período, como podemos
observar:
O Encilhamento é geralmente descrito na historiografia brasileira como o período de
intensa especulação seguido de grave crise no mercado de valores. Esses eventos são
relacionados com a adoção de uma reforma bancária, que levou a maciço aumento
no estoque de moeda e à facilidade de crédito, e com a introdução de normas mais
liberais para formação de sociedades anônimas (SUZIGAN, 2000, p. 49).
Ou seja, a política monetária desse momento teve como resultado o investimento
industrial, facilitando a formação de capital industrial no período de auge da economia de
produtos para exportação.
A Primeira Grande Guerra (1914-1918) foi determinante para a consolidação da
indústria brasileira. O fato de todos os setores de transporte e produção industrial
privilegiarem a guerra, em vez do fluxo normal de bens e mercadorias, causou danos a todos
os outros países não participantes, que perderam com a diminuição do comércio de matérias-
prima e bens máquinofaturados. Países exportadores de matérias-primas, como o Brasil,
sofreram com a diminuição das exportações e não conseguiam comprar bens manufaturados e
maquino-faturados. Como resposta, restou substituir os produtos importados por nacionais,
incentivando o crescimento da indústria nacional. Deve-se dizer que a substituição de
21
importação seria a saída necessária, uma vez que a indústria européia não poderia atender aos
pedidos por seu parque industrial estar totalmente comprometido com a guerra ou em alguns
casos completamente destruído. Por outro lado, o pequeno parque industrial brasileiro não
daria conta de suprir a demanda do próprio mercado interno e que a elevação dos preços
pressionava a balança comercial.
Os anos da Primeira Guerra Mundial constituem um período chave no debate sobre o
desenvolvimento industrial brasileiro. O impacto sobre a indústria de transformação no Brasil
provocou drástica redução nos investimentos, mas o efeito mais importante, segundo Suzigan
(2000), “foi tornar tanto o governo quanto os industriais mias concisos da necessidade de
promover a diversificação e completar o desenvolvimento do setor industrial”, buscando
retirar o Brasil da posição de mero fornecedor de matérias-primas.
Para o setor têxtil, durante a Primeira Guerra Mundial, os investimentos na indústria
de algodão foram fortemente reduzidos. O crescimento da produção durante a guerra foi
conseguido através de capacidade instalada anteriormente. A dificuldade na importação dos
produtos químicos usados no processo produtivo, como anilina, corantes, soda cáustica entre
outros, limitaram ainda mais a produção. Secas prolongadas no Norte e Nordeste do Brasil
prejudicaram a colheita algodoeira em 1915 e 1916, elevando os preços do algodão em 100%,
e a intensa concorrência entre as fábricas nacionais reduziu as margens de lucro. Após o fim
da Guerra, os estoques haviam se acumulado e a crise no setor se agravou, levando o governo
a conceder empréstimos.
Os investimentos na indústria têxtil de algodão aumentaram outra vez a partir de
1921, até alcançarem um recorde nos anos de 1924-1926, apesar de reduzidos em 1927-1929.
Com a crise do café 1930-1931, a maior parte das indústrias têxteis reduziu as operações para
três ou quatro dias e muitas fecharam, recuperando-se somente com o Programa de Ajuda ao
Café, que aumentou a demanda e a proteção alfandegária, beneficiando a indústria têxtil.
Nessa conjuntura inicial do “processo de substituição de importações” no Brasil,
mesmo quando começaram a ser produzidos certas máquinas e equipamentos, a tecnologia, na
imensa maioria dos casos, continuou sendo importada, o que revela toda a fragilidade da base
técnica nacional e o não investimento do governo federal, que ainda baseava-se na política do
Café com Leite, entre Minas Gerais e São Paulo, e na manutenção dos interesses das
Oligarquias rurais.
A Crise de 1929, com a quebra da Bolsa de New York, revelou para o governo
brasileiro toda a fragilidade do sistema econômico e industrial. Este período teve
conseqüências até 1932, com diminuição significativa das exportações do café brasileiro,
22
onde mais uma vez a diversificação do capital e da industrialização brasileira volta à tona,
com a política de substituição de importações, defendida por Getúlio Vargas, que visava
produzir no Brasil os produtos importados pelo país, principalmente os derivados de ferro e
aço, que pesavam significativamente na balança comercial.
Os efeitos da crise do café e da Grande Depressão da década de 1930 sobre a
economia brasileira, para Suzigan (2000), podem ser entendidos como relativos, pelo impacto
sobre a economia e a rápida recuperação da mesma. Alguns pontos são fundamentais para se
entender este período. Entre eles podemos destacar: a política de defesa do café, a mudança
nos preços relativos das importações e a existência da capacidade ociosa na indústria
brasileira.
Quanto a proteção à indústria de transformação, Celso Furtado a atribui
exclusivamente à mudança nos preços relativos em conseqüência da depreciação da
taxa de câmbio. Este foi, de fato, o mais importante fator de proteção, especialmente
em 1931-1935, quando respondeu integralmente pelo enorme aumento no custo real
das importações. (SUZIGAN, 2000, p. 65).
As conseqüências da crise foram sem dúvida prejudiciais para a economia brasileira,
mas serviram para fortalecer e desenvolver a indústria nacional, que diversificou a sua planta
e ganhou em organização política, uma vez que na década de 1930, vários incentivos fiscais e
alfandegários foram criados com o intuito de proteger a frágil indústria nacional.
A ajuda governamental direta à indústria de transformação tornou-se relativamente
importante a partir da Primeira Guerra. O governo passou a estimular
deliberadamente o desenvolvimento de indústrias específicas, embora não o
desenvolvimento industrial em geral. (SUZIGAN, 2000, p. 369).
Um exemplo a ser dado encontra-se na indústria de juta, que segundo Matos (1996),
foi um dos setores industriais que mais se aproveitaram da proteção alfandegária do governo.
Como afirma Suzigan (2000), o governo passou a subsidiar deliberadamente alguns setores da
economia, uma alternativa frente às organizadas indústrias norte americana e européia. Ainda
segundo Suzigan:
... as fontes de proteção mais importantes foram a desvalorização da taxa de mbio
no período como um todo (isto é, 1913-1939) e as restrições não tarifárias às
importações, especialmente durante os anos da guerra e de 1931 em diante.
(SUZIGAN, 2000, p. 263-4).
23
Ou seja, através de incentivos governamentais localizados ou ainda acontecimentos
esporádicos, como a Primeira Guerra Mundial e a Crise de 1929, a indústria nacional
começou a se desenvolver.
Ao analisarmos os investimento destinados à indústria de transformação no Brasil,
verificamos irregularidades, seguindo as tendências do mercado mundial. Para tal podemos
destacar alguns períodos de aumento relativo ou declíneo significativo. Baseado nos estudos
de Suzigan (2000), observamos nove períodos distintos de investimentos do industrial
brasileiro, iniciando-se em meados do século XIX e sendo a análise finalizada em 1939, às
vésperas da Segunda Guerra Mundial.
Com a expansão das exportações de algodão e do café entre (1869-1873), aumenta-se
os investimentos (1º período). O capital acumulado passa a ser reinvestido em outros setores
da economia. Este período destaca-se por promover mudanças políticas na economia, devido
à Guerra do Paraguai (1864-1870), à inflação alta e às proteções aduaneiras, que garantiram
um “boom” de investimentos. Destaca-se na instalação de pequenas fábricas de tecido de
algodão em São Paulo, Bahia, Pernambuco e Minas Gerais.
A política deflacionária após o fim da Guerra do Paraguai reduziu o estoque de moeda
e causou declínio no nível geral de preços (1874-1879). As taxas aduaneiras caíram e o
aumento da competitividade dos importados teve efeitos adversos somente na pequena
indústria; já no setor têxtil houve investimentos (2º período).
A expansão das exportações, a política monetária expansionista e o aumento do
investimento entre (1880-1895), promoveram o desenvolvimento (3º período). As áreas
produtoras de café conduziram ao progresso econômico. As exportações garantiram o
crescimento da renda. As barreiras alfandegárias caíram, mas a depreciação da taxa de câmbio
compensou essa redução. Os investimentos na indústria têxtil de algodão aumentaram
substancialmente neste período. Mais de setenta novas fábricas foram instaladas. A indústria
começa a diversificar sua produção, surgem indústrias nos ramos de cerveja, fósforos,
metalmecânica, papel e moageira.
A crise cafeeira, e a conseqüente queda do investimento entre (1896-1901), levaram o
governo a intervir através de uma política deflacionária, buscando reparar a crise no setor
exportador do café (4º período). Esta crise promoveu uma das mais severas crises econômicas
do país. Somente a indústria têxtil e de moagem tiveram incremento em suas produções
durante este período.
Com a expansão das exportações foram implementadas políticas monetárias e fiscais
expansionista em 1906 que tiveram o seu cume em 1912-1913 (5º período). Políticas de
24
melhoria nas infraestrutura urbana, portuária e ferroviária juntamente com o Programa de
Valorização do Café promoveram um crescimento geral. Um aumento na produção aduaneira
e valorização da taxa de câmbio estimularam o investimento na indústria.
O choque adverso da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) reduziu os investimentos
em importação de máquinas, pois não se conseguia comprar novos equipamentos (6º período).
Além da dificuldade em se comprar equipamento o custo da importação de matéria-prima
aumentou, assim como dos insumos, sendo este aumento a explicação para a redução. Já nos
setores onde as importações foram seriamente prejudicadas, ocorre um processo de
investimento, com base na substituição dos produtos importados ou dos insumos.
O auge da economia agrário-exportadora se deu entre (1919-1929), ou seja, no
imediato pós-guerra, recuperando rapidamente o investimento na indústria (7º período). Entre
1920-1921, o preço do café caiu 45%, o que fez com que se implantasse uma nova política de
valorização do produto, garantindo altas taxas de crescimento da renda real (7,3% ao ano). A
importação de maquinário aumentou, surgindo novas indústrias (a de produtos de borracha,
química, farmacêutica e perfumaria), dando destaque à primeira indústria de cimento do país
(1924-1926). Outro setor da indústria a se desenvolver neste período foi a de óleo de caroço
do algodão, que recebeu grandes investimentos com a construção de sete novas fábricas.
o impacto da crise do café e da Grande Depressão (1930-1932) promoveram uma
crise de superprodução do café, declinando a economia brasileira, que em 1930 teve saldo
negativo de -1,9%, e em 1931 chegou a -3,5%, iniciando a recuperação somente em 1932 (8º
período). O investimento na indústria caiu abruptamente.
A defesa do café e o crescimento do investimento (1933-1939) se deu com a
continuidade da Política de Valorização do Café, a manutenção da taxa de câmbio
desvalorizada e o crescimento dos investimentos (9º período). Estas medidas garantiram o
aumento da produção, primeiramente através da capacidade instalada da indústria nacional até
1933. A partir deste momento, as indústrias que substituíram importações tiveram que investir
na compra de maquinário, o que somou no aumento da produção.
A partir de 1933-1937, quando expirou a restrição de importação de quinas para
alguns setores, principalmente o têxtil (onde os industriais diziam ter um excesso de
concorrência no país) a importação de máquinas aumenta consideravelmente. Porém, em
1939, um novo declínio dos investimentos, ocasionado pela eclosão da Segunda Guerra
Mundial.
25
Complementando a análise, SUZIGAN conclui que o desenvolvimento da indústria de
transformação do Brasil estava intimamente ligado a uma economia agrícola voltada para a
exportação, no fim do século XIX e início do século XX.
As indústrias desenvolvidas nesse período foram, na maioria, complementares ou
subsidiárias da economia de exportação e dependentes do desempenho dessa
economia quanto ao crescimento do mercado interno e quanto às importações de
matérias-primas, combustíveis e maquinaria. (SUZIGAN, 2000, p. 124).
A economia de exportação desenvolvia uma indústria incipiente de ferramentas,
tecidos grosseiros para vestir escravos e trabalhadores nativos livres e para ensacar açúcar,
cacau e algodão, sacos de juta para o café, fumo, caroço de algodão (produtos que não podem
ser enfardados em sacos de algodão), entre outras construídas para dar suporte ao setor agrário
exportador.
Faz-se importante levantar que, durante o período observado, a indústria têxtil se
desenvolveu significativamente por não precisar importar sua matéria-prima. A proteção
governamental através das tarifas aduaneiras e as variações nas taxas de câmbio, somadas aos
preços pagos sobre a matéria-prima importada e o custo do transporte, efetivamente
promoveram proteção.
... as indústrias que se desenvolveram no período foram sobre tudo as que
processavam matérias-primas locais (por exemplo, produtos de algodão); aquelas
para as quais a diferença nos direitos aduaneiros sobre o produto final e sobre os
insumos importados resultava em proteção efetiva... (SUZIGAN, 2000, p.127-128).
Ou seja, quando analisamos os nove pontos levantados, em alguns períodos podemos
observar os investimentos na indústria têxtil ocorrendo mesmo quando a economia agrária
exportadora não apresentava números satisfatórios, o que revela condições favoráveis aos
têxteis, que não ficavam completamente dependentes das taxas cambias e das barreiras
alfandegárias para gerirem os seus negócios.
Stein (1979) vai mais além do que Suzigan e levanta a questão de que a estabilidade da
taxa de câmbio como parte do programa de ajuda ao café foi crucial para o desenvolvimento
da indústria nacional de produtos de algodão. O efeito combinado da proteção tarifária e
estabilização cambial garantiu altos lucros para as fábricas.
26
Segundo Suzigan (2000), a localização também tinha um papel significativo no
nascedouro ou para a manutenção de qualquer empreendimento têxtil da época. Como o autor
demonstra a indústria do Rio de Janeiro sofreu em relação à importação do algodão do
nordeste, que deveria pagar imposto provincial. Outro fator era a questão da força motriz, o
potencial hidráulico do Estado do Rio de Janeiro não atendia às necessidades das indústrias, o
que obrigava os industriais a importarem o carvão mineral, que pagava taxas aduaneiras,
aumentando ainda mais os custos da produção.
Para o autor, em Minas Gerais a situação alterava-
27
do que era produzido pela indústria nacional, um número expressivo para a economia
brasileira, uma vez que a planta industrial brasileira iniciava a sua diversificação.
Para a década de 1930, Suzigan nos ajuda a elucidá-la:
Durante o resto da década de 1930, a produção de produtos xteis de algodão
cresceu a taxas elevadas, particularmente antes de 1937. Esse crescimento foi
baseado em uma utilização mais intensiva da capacidade produtiva existente, com a
maioria das fábricas trabalhando horas extras. O produtor nacional era protegido
contra a concorrência externa pelos elevados direitos de importação, e também pela
desvalorização da taxa de câmbio e pelas restrições impostas ao mercado de câmbio.
O fim da década a indústria de produtos têxteis de algodão estava satisfazendo
inteiramente à demanda interna e também começava a exportar para outros países da
América do Sul. (SUZIGAN, 2000, p. 164-165).
Nesse panorama, podemos observar que a indústria têxtil brasileira entrava de fato na
concorrência mundial. A Segunda Guerra Mundial seria a oportunidade da indústria brasileira
se consolidar, frente às adversidade e à concorrência externa, e se expandir nacionalmente e
internacionalmente.
Fazendo uma análise geral da industrialização do Brasil até a década de 1930, notamos
que o desenvolvimento industrial do Brasil no século XIX pode ser explicado como um
resultado do crescimento da produção industrial induzido pela expansão do setor exportador.
Essa relação entre a expansão do setor exportador e o crescimento industrial continuou no
início do século XX, mas foi sendo gradualmente reduzida. A partir de 1900, o incipiente
setor industrial doméstico estava ele próprio estimulando investimentos em outras
atividades (SUZIGAN, 2000). A Primeira Guerra Mundial acelerou esse processo de
diversificação ao tornar evidente a necessidade de diversificar a estrutura da produção
industrial. A partir da década de 1920, através de incentivos e subsídios governamentais, a
diversificação se intensificou. A Grande Depressão da década de 1930 rompeu a dependência
do setor exportador, e a indústria brasileira iniciou o processo de industrialização substitutiva
de importações.
a origem do desenvolvimento econômico do estado de Minas de Gerais, não se
apresenta como o mostrado no Brasil. O Estado apresenta particularidades que norteiam a
formação de sua indústria.
Minas Gerais ao longo de sua história, desde o esgotamento das reservas auríferas (fim
do século XVIII), ficou em segundo plano no cenário econômico do país. O café, que se
tornou a base das exportações brasileiras a partir de meados do século XIX, fez com que
Minas rompesse o isolamento imposto à província como forma de controle do contrabando do
28
ouro. A interiorização das fazendas de café possibilitou o povoamento e a interligação da
província com as demais. A introdução da cafeicultura em Minas Gerais ocorreu no início do
século XIX. Localizou-se, inicialmente, na Zona da Mata, onde se difundiu rapidamente,
transformando-se na principal atividade da província e agente indutor do povoamento e do
desenvolvimento da infra-estrutura de transportes. Mas economicamente São Paulo assumiu o
primeiro lugar na pauta de exportações.
A maior produção cafeeira concentrava-se no estado de São Paulo, principalmente no
vale do Paraíba, assim como as decisões políticas e econômicas a serem tomadas no país, com
a implantação da República em 1889. Mesmo a capital sendo localizada na cidade do Rio de
Janeiro, as decisões políticas ficavam concentradas a cargo dos barões do café.
Paulatinamente, Minas Gerais perde sua significância econômica e até política no
cenário nacional, enquanto São Paulo prosperava baseada na produção cafeeira, ou seja,
Minas Gerais estagnou-se. A economia que deveria ser o motor da expansão do Estado não
gerava força suficiente para se sustentar. Este deveria ser um alerta a dependência econômica
da produção agrícola, mas os caminhos a serem seguidos seriam os da agricultura no governo
de Benedito Valadares, com o projeto de fomento e ajuda regional, onde as regiões do estado
seriam dinamizadas através da agricultura e dos produtos que cada região melhor podia
promover para o uso industrial.
2.2. As transformações das décadas de 1930 e 1940
Com a Revolução de 1930 e a chegada de Getúlio Vargas ao governo federal, a
industrialização do Brasil ganhou novo incentivo
10
, principalmente a partir de 1937 com o
golpe de estado e a implantação do Plano Nacional Desenvolvimentista, onde a economia
brasileira, principalmente a indústria, teve apoio governamental para o seu desenvolvimento.
Em fevereiro de 1938, Getúlio Vargas traçou as linhas gerais do programa
econômico do Estado Novo na chamada “Carta de São Lourenço”. Este discurso
estabelecia os pontos básicos da política econômica do regime recém-implantado...
(CORSI, 2002, p. 4).
10
Com a chegada de Vargas ao poder em 1930, os industriais conseguiram ocupar postos-chave no governo. O
Banco do Brasil era confiado a Manuel Guilherme da Silveira e o departamento da indústria do Ministério do
Trabalho era confiado a Jorge Street, ambos do setor têxtil da indústria; a partir deste momento, a indústria passa
a contar com outro tipo de proteção.
29
Os principais objetivos desse plano qüinqüenal eram criar indústrias de base, realizar
obras de infra-estrutura e promover o reequipamento das forças armadas.
O governo federal visava tornar o país livre da dependência externa, buscando assim
criar o seu próprio parque industrial, no intuito de aproveitar os abundantes recursos de
matérias-primas do Brasil. A indústria nacional beneficiou-se desse período conseguindo
ampliar-se, mas ganhou verdadeira flexibilidade a partir da Segunda Guerra Mundial, com a
consolidação da sua indústria de base, através, principalmente, da criação da Companhia
Siderúrgica Nacional em Volta Redonda (CSN). Inaugurada em 9 de abril de 1941
11
, ela
possibilitou o surgimento e a consolidação de outros setores anteriormente dependentes da
importação de ferro e aço do exterior.
A implantação da grande siderurgia passou a ocupar um lugar central nas ações do
governo Vargas. Mas como financiar um projeto de tal envergadura, que o setor privado
não demonstrava interesse? Corsi nos ajudam a entender:
O governo Vargas tinha claro que, sem a ajuda externa, seria impossível levar a cabo
seu projeto de desenvolvimento. Por isso, procurou articular a participação do
capital estrangeiro nesse projeto. Tal articulação, naquela conjuntura, vinculava-se a
processos mais amplos de alinhamento político-econômico com os blocos
dominantes em luta. Dada a situação de crise mundial, a vinda de capital estrangeiro
passava por acordos de governo a governo. O Estado Novo procurou manobrar entre
a Alemanha e o EUA, tentando tirar proveito das oportunidades que se abriam no
período. Tentou articular, ao mesmo tempo, a participação de capitais alemães e
norte-americanos no processo de industrialização do país, sem se comprometer
firmemente com qualquer dos dois, mas também sem conseguir efetivamente atraí-
los. (CORSI, 2002, p. 8 e 9).
Com a guerra em cena, o Brasil acabou perdendo o mercado europeu, fazendo com
que se alinhasse com os EUA, mercado em franca ascensão e eqüidistante do conflito
instalado no continente europeu. A missão Aranha (1939), que somente viabilizou o
pagamento das dividas brasileiras, agora voltava à tona com o programa industrializante do
Brasil.
A queda de Paris nas mãos dos alemães mudou o cenário. A perspectiva da Europa
tornar-se um reduto alemão fez com que os americanos vissem o Brasil com outra
perspectiva.
11
Foi criada em 9 de abril de 1941, mas entrou em operação somente no governo do presidente Eurico Gaspar
Dutra em 1946.
30
Objetivando manter o Brasil em sua esfera de influência, os norte-americanos não
abriram linhas de crédito a longo prazo e facilitaram o acesso à tecnologia como
também aceitaram que a empresa a ser criada fosse estatal. (CORSI, 2002, p. 11).
A consolidação do setor siderúrgico assim como a desvinculação da economia agrário-
exportadora de café concretizou-se somente na década de 1940, com o advento da guerra, que
no caso da indústria têxtil, se viu com o mercado interno e da América Latina para abastecer,
possibilitando assim, o seu crescimento e consolidação
12
.
Minas Gerais na década de 1930 não apresentava números animadores. Segundo
Diniz (2002), o censo de 1940 apontou 830 mil mineiros vivendo fora do Estado, o que
correspondia a cerca de 12% da população estadual. A população concentrava-se
predominantemente na zona rural ou em cidades ligadas ao campo, 25% (1,7 milhões de
habitantes) da população mineira encontrava-se nesta situação. no cenário econômico a
situação não se diferenciava:
A situação da economia mineira no final da década de 1930 era de crise
generalizada. Houve redução drástica da produção e das exportações de café, a
atividade econômica mais importante, queda de arrecadação, e crescimento da
dívida pública, que chegou a corresponder à arrecadação de sete anos. (DINIZ,
2002, p. 81).
Para a década de 1940, o quadro não se alterou.
Sintetizando: em 1946 a situação da economia mineira continuava crítica,
especialmente pela indefinição dos rumos. Os resultados da expansão econômica da
década de 1930 e dos primeiros anos da década de 1940 mostraram-se
insignificantes diante da situação geral do Estado, pela sua extensão e pelos
problemas que se acumulavam. A emigração continuava de forma significativa,
refletindo as dificuldades da economia mineira. (SUZIGAN; SZMRECSÁNYI,
2002, p. 87).
Para entender o quadro da economia mineira se faz necessário voltarmos à Crise de
1929. Com o crack da Bolsa de New York, as economias mundial e brasileira sofreram um
grave golpe. O Brasil havia se tornado um agroexportador de café, com a produção sendo
destinada principalmente para o mercado norte americano e em segundo plano para o mercado
europeu, ou seja, o país tornou-se dependente desta relação comercial. A política de
12
Sobre a indústria nacional na década de 1930 e as conseqüências da guerra para a economia brasileira ver
Stein (1979).
31
valorização do café adotada pelo governo brasileiro e as dívidas causadas pela Crise de 1929
levaram Vargas a recuperar o estado de Minas Gerais economicamente, uma vez que este era
o segundo maior exportador de café, ficando atrás somente de São Paulo. Para tal, Vargas
nomeou como interventor de Minas Gerais, Benedito Valadares (1933-1945). Benedito
enfrentava sérios problemas fiscais, tentando contorná-los com o corte de despesas e o
aumento de receita, desenvolvendo o sistema de fiscalização, com a criação da Secretaria das
Finanças em 1935. Houve também a modificação da antiga Secretaria da Agricultura, da qual
se retirou o setor de Viação e Obras Públicas para formar a Secretaria da Agricultura,
Indústria, Comércio e Trabalho, que tinha o caráter
32
importação dessas matérias-primas. No caso do algodão, Dulci afirma que “o incremento do
33
exemplo temos o decreto nº. 16.396, de 27 de fevereiro de 1924, onde o governo federal usou
os poderes conferidos pela lei para conceder amplos incentivos ao cultivo do algodão e as
atividades de descaroçamento e fabricação de subprodutos do algodão. Outra medida
importante aparece no desenvolvimento de pesquisas de melhoramento do algodão, na década
de 1920, com o intuito de melhorar a qualidade, produzindo “um algodão de fibra mais longa,
que pudesse obter melhores preços e maior demanda no mercado internacional”. (SUZIGAN,
2000, p. 340).
Em razão desses incentivos e de melhoria de qualidade, o cultivo do algodão teve
desenvolvimento extraordinário na década de 1930 no Brasil. Em Minas Gerais, o
desenvolvimento não foi o mesmo do país, deve-se observar que a área plantada diminuiu,
mas o rendimento conseguido por hectare teve aumentos, como se pode ver na tabela 03 e no
gráfico 01.
TABELA 03
Algodão no Brasil e Minas Gerais (1937-1944)
Ano Minas Gerais Brasil
Área cultivada
Rendimento
(kg/ha)
Área cultivada Rendimento
(kg/ha)
1937
21.519 530 2.235.872 600
1938 27.391 540 2.350.159 620
1939 45.666 520 - -
1940 57.692 520 2.412.484 648
1941 39.215 510 2.492.594 673
1942 40.059 560 1.931.399 651
1943 21.850 560 2.405.674 688
1944 - - 2.492.617 703
Fonte: IBGE, Anuários Estatísticos de 1939-40 e 1941-46
34
0
500000
1000000
1500000
2000000
2500000
3000000
3500000
4000000
4500000
5000000
193
2
1935
1938
1941
1944
1
947
1
9
5
0
1
9
5
3
195
6
1959
1962
1965
1968
1971
1
974
1
9
7
7
198
0
198
3
1986
Anos
Área Colhida (ha)
Área Colhida/anos
Gráfico 01 - Algodão no Brasil (1931-1987)
Fonte: Estatísticas históricas do Brasil: séries econômicas, demográficas e sociais de 1550 a 1988. 2. ed. rev. e
atual. do v. 3 de Séries estatísticas retrospectivas. Rio de Janeiro: IBGE, 1990
NOTAS:
I — O produto começou a ser pesquisado em 1931.
II — Os dados relativos ao período de 1931 a 1965 se referem a áreas cultivadas.
Curvelo
13
foi uma dessas regiões favorecidas com o apoio do governo federal e do
governo estadual ao incentivarem a cultura do algodão. Região de clima favorável e distante
dos centros produtores de São Paulo e Rio de Janeiro, a cultura se desenvolveu inicialmente
para subsistência, mas depois, pela presença de potencial hidráulico como força motriz
geradora de energia elétrica e um volume suficiente de matéria-prima, a região tornou-se
favorável à implantação de mais uma empresa têxtil, além da Cedro e Cachoeira, no distrito
de Inimutaba.
Desta forma, a Fábrica Maria Amália do Grupo Othon Bezerra de Mello,
beneficiando-se de incentivos
14
advindos da prefeitura municipal e do governo do estado de
Minas Gerais, além da localização e do excedente de produção de algodão da região, instalou-
se na cidade de Curvelo, alterando a dinâmica do município e da região, gerando empregos e
divisas para o município.
que se destacar que a entrada da Companhia Têxtil Othon Bezerra de Mello na
cidade de Curvelo através da Fábrica Maria Amália se deu pela somatória de fatores, alguns
13
Ver mapa anexo A.
14
Os incentivos políticos acerca da implantação da Fábrica Maria Amália na cidade de Curvelo serão tratados no
quarto capítulo.
35
atípicos, que viabilizaram a instalação da empresa. Entre eles, destaco o crescimento da
produção algodoeira e a Segunda Guerra Mundial.
Para Curvelo, o aumento crescente da produção algodoeira na região, assim como do
país naquele período mediante o apoio do governo federal através das leis de incentivo e
aumento da produção para a indústria de óleos vegetais
15
, possibilitou o surgimento da cidade
no cenário estadual como o maior pólo algodoeiro do estado.
A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) foi outro fator atípico que viabilizou a
instalação da empresa. A necessidade de substituição de importações no decorrer da guerra no
cenário nacional, mediante o fato do mercado europeu não poder cumprir seus compromissos
de entrega, contribuiu significativamente para a construção da fábrica.
Com a guerra, um novo mercado abre-se para a indústria têxtil, possibilitando um
aumento nas exportações:
TABELA 04
Brasil: Exportação de tecidos de algodão
Anos Exportações (em quilos)
1938
1939
1940
1941
1942
1943
1944
1945
1946
1947
1948
1949
1950
247 239
1 981 734
3 958 371
9 237 932
25 168 682
26 045 818
20 069 808
24 246 510
14 102 848
16 678 215
5 637 644
4 010 567
1 361 359
Fonte: Steim (1979, p. 194). Dados selecionados do anexo D
A ata da primeira reunião da diretoria da Companhia Têxtil Othon Bezerra de Mello,
com data de 27 de novembro de 1941, nos trás algumas informações úteis para remontarmos a
história da empresa. Segundo a ata aqui estudada, boa parte do maquinário adquirido para a
empresa tem procedência norte americana, e confirma que este já se encontrava na localidade,
15
Ver Suzigan (2000).
Retratando ainda este cenário, Curvelo possuía uma fábrica de Óleo de caroço de Algodão, demonstrando que o
município tinha capacidade de produção, uma vez que este tipo de indústria necessita de enormes quantidades de
algodão para o seu devido funcionamento.
36
mas comenta também que os teares de origem inglesa ainda o haviam chegado ao seu
destino, pois
... a firma Charles Hahlo & Sons, de Manchester, a que se tinha encomendado os
teares, por motivo de força maior não possa entregá-los, e assim a Diretoria está
inclinada a adquirir teares de segunda mão, no país, estando em entendimento
para a aquisição de 200 para início da fabricação.”
16
Através desta ficam evidentes os problemas causados pela Segunda Grande Guerra ao
mercado mundial, definida pelo redator da ata, como “motivo de força maior”, que atrasara a
entrega dos teares. Todavia, isso nos confirma como a guerra foi importante para a instalação
da empresa, e a tabela 04 nos confirma isto através do incremento da exportação de tecidos de
algodão. Demonstrando também que no mercado nacional faltavam os produtos europeus,
gerando e garantindo lucros significativos as empresas nacionais do setor têxtil.
que se somar a esta discussão a evolução no número de empresas, os números da
produção alcançada e os números de trabalhadores empregados a partir do início da Segunda
Grande Guerra. O número de operários e a produção praticamente dobram de 1932 para o fim
da guerra em 1946. Outro ponto que deve ser discutido consiste no crescimento dos três itens
apresentados na tabela 5; empresas, operários e produção. Eles apresentam até 1932
crescimento constante e gradual, mas se partirmos do cenário de 1932-1946 os números
crescem verticalmente, o que demonstra a importância da guerra para a indústria algodoeira
do Brasil neste período.
16
Própria empresa.
37
TABELA 05
Indústria brasileira do algodão - 1853-1948
Anos Empresas Operários Produção
(1 000 m)
1853
1
1866
1
1882
1
1885
1
1905
1909
1
1910
1
1915
1921
1924
1925
1926
1927
1928
1929
1932
1946
1948
8
9
46
48
110
161
137
240
242
244
257
329
354
347
359
355
420
409
424
795
3 600
3 172
39 159
45 942
55 000
82 257
108 960
110 119
114 561
174 619
128 613
123 521
123 470
115 550
234 864
224 252
1 210
3 586
22 000
20 595
242 087
-
-
470 783
552 446
579 779
535 909
539 025
594 313
581 951
477 995
630 738
1 142 151
1 119 738
(1) Estatísticas incompletas.
Fonte: Stein (1979, p. 191)
Faz se necessário chamar a atenção para os anos após a Segunda Grande Guerra. Os
números da tabela 04 mostram que as exportações brasileiras declinaram vertiginosamente
chegando em 1950 aos níveis de 1939; ou seja, quando se dá a volta dos países beligerantes
ao mercado mundial o papel exportador do Brasil se mostra frágil, não suportando a
concorrência estrangeira, o que demonstra mais uma vez que a industrialização do Brasil
neste período se deu completamente atrelada a um “choque externo” e não através de um
projeto ou plano de ação desenvolvido pelas esferas competentes, tanto industriais como
políticas.
38
Com os fatores expostos, o crescimento da produção algodoeira e a Segunda Guerra
Mundial, somado ainda ao fator mercadológico do empreendimento, a Fábrica Maria Amália
começou a ser edificada no ano de 1940, sendo inaugurada em Curvelo em 15 de setembro de
1941.
Com o advento da Segunda Guerra Mundial, observa-se a segunda fase da
administração Valadares. As potências beligerantes buscavam assegurar recursos estratégicos
para a continuação da guerra. O minério de ferro era um destes recursos minerais, assim como
o petróleo e alimentos. Minas possuía uma das maiores reservas de minério de ferro
conhecidas
17
, ou seja, a potência que tivesse o Brasil como aliado estaria assegurando o
fornecimento de aço para a produção de aviões, navios, tanques e armamentos em geral.
Getúlio Vargas soube se aproveitar muito bem deste momento. Através dos “Acordos de
Washington”, o governo dos Estados Unidos garantiu os empréstimos para o projeto e a G
Bretanha cedeu as reservas de minério de ferro, uma vez que as terras eram de propriedade de
grupos ingleses. Criou-se a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) que ficaria responsável
por extrair e transportar o minério de ferro até o porto de Tubarão, no estado do Espírito
Santo. Caberia também a CVRD o término da Estrada de Ferro Vitória-Minas.
Além da implantação da CVRD, Getúlio consegui do governo norte-americano a
construção de um indústria de aço de grande porte, o que proporcionaria as bases do
desenvolvimento econômico e industrial do Brasil; foi instituída a CSN.
Minas, por possuir as maiores reservas de minério do país, logicamente deveria
receber esta indústria, mas o local escolhido foi a cidade de Volta Redonda. Esta perda fez
com que o governo mineiro alterasse os rumos, e a partir deste momento a industrialização
seria a estratégia a ser seguida:
Assim em 1940, enquanto na instância federal eram tomadas as decisões finais
acerca da implantação da usina de Volta Redonda, o governo Valadares promoveu
uma profunda inflexão em sua escala de prioridades econômicas. Da agricultura, as
atenções se voltaram para a indústria. Quase ausente da agenda nos anos 1930,
exceto por medidas isoladas, a indústria tornou-se objeto de uma abordagem mais
sistemática que assumiu os contornos de uma política industrial. (DULCI, 1999, p.
70).
17
Berço da história de Minas Gerais, o quadrilátero ferrífero é a região responsável por toda a riqueza e
prosperidade vividas, durante séculos, por Minas Gerais. No Quadrilátero Ferrífero, encontra-se parte de duas
das mais importantes bacias hidrográficas do Estado de Minas Gerais, a do Rio Doce e a do Rio das Velhas.
Contém reservas de minério de ferro, sendo responsável por 70% da produção brasileira.
39
Portanto Minas Gerais se desenvolve industrialmente, com o apoio do governo do
estado a partir de 1940
18
, o que vem ao encontro da implantação da Fábrica Maria Amália em
1941 em Curvelo. Outra medida importante desse período foi a criação da Cidade Industrial
de Contagem, como resultado dessa nova orientação política. A Cidade Industrial Juventino
Dias, como foi chamada, foi instituída pelos decretos-lei 770, de 20 de março de 1941, e 778,
de 19 de junho de 1941. Todavia, foi implantada em 1946. A instalação da Itaú, no ramo
do cimento, e da Magnesita, no ramo de refratários, funcionou como alavanca para imprimir
confiança e credibilidade ao projeto
19
.
Para que o projeto pudesse ser constituído o governo do Estado doava os terrenos a
empresas interessadas em se instalarem em Minas, somando-se ainda incentivos fiscais para
os empresários. Mas até 1947, somente dez empresas haviam se instalado no distrito
industrial. Dentro as maiores dificuldades para a consolidação do projeto, segundo Diniz,
podemos destacar: as maiores dificuldades alegadas pelas indústrias eram as limitações do
mercado minero, as dificuldades de transporte e a grande distância dos maiores centros
urbanos nacionais”. (DINIZ, 2002, p. 85).
Como podemos observar a situação de Minas Gerais na década de 1940, não se
apresentava favorável. Ainda segundo o autor, o problema de Minas Gerais era atribuído à
falta de acesso ao mar, à estrutura comercial e financeira localizada fora do Estado, à
topografia desfavorável, às deficiências do sistema de transporte e à baixa fertilidade do solo.
Outro fator determinante era a questão deficitária da energia em Minas. Segundo Diniz,
(2002), a falta de energia elétrica e a desconcentração das atividades econômicas impunham a
muitas empresas industriais e de mineração a instalação de seu próprio sistema energético, o
que dificultava e encarecia os investimentos.
2.3. A evolução da indústria brasileira na segunda metade do século XX
O governo de Eurico Gaspar Dutra (1946-1950) apresenta-se como a administração
que levaria o Brasil novamente para os padrões democráticos de governo, após o fim do
Estado Novo (1937-1945). No seu governo, setores da indústria brasileira lograram vantagens
18
Em 1939, Minas Gerais respondia no cenário nacional com 13% das fábricas do país. Mas a produção
industrial não ultrapassava 7%. Este cenário altera-se somente apartir do governo de Milton Campos, com o
Plano de Recuperação Econômica.
19
Para dar sustentabilidade ao projeto, foi construída a hidroelétrica de Gafanhoto, que alimentaria as indústrias
da Cidade Industrial. A usina está situada no rio Pará, a 90 km de Belo Horizonte, e teve sua potência inicial de
10 mil HP.
40
com a Segunda Guerra Mundial que acabara, e ainda teriam a ganhar até a reconstituição do
parque industrial europeu. “A II Guerra Mundial terminara havia a pouco, as principais
economias européias e a economia japonesa estavam bastante destruídas...” (SARETTA,
2002, p. 100). Ou seja, a indústria brasileira experimentava o momento de se consolidar de
fato, tinha mercado disponível e a concorrência estava debilitada. O Brasil, no governo de
Dutra, apresentava as características para completar o seu desenvolvimento industrial.
alguns setores tiveram um acréscimo ao seu desempenho durante a própria guerra:
A II Guerra Mundial repercutiu favoravelmente no sistema produtivo brasileiro,
sobretudo na indústria manufatureira. As dificuldades comerciais inerentes ao
quadro da Guerra possibilitaram a certos ramos do setor industrial, sobretudo o
têxtil, um desempenho extremamente favorável no comércio internacional.
(SARETTA, 2002, p. 103).
Fazendo uma análise da política econômica do governo Dutra, pode-se verificar que
apresentou rigoroso controle sobre os setores importantes da economia e da liberação de
créditos para investimentos. Atribui-se a expansão industrial durante o seu governo à base
construída no período de 1930-1945, tratada por Saretta (2002), como “industrialização
espontânea”, que manteve, portanto, as tendências observadas no passado a favor do
desenvolvimento industrial.
Já para os segundo governo de Vargas o cenário altera-se.
TABELA 06
Produto real do setor industrial no segundo governo Vargas (1951-1954)
Anos Porcentagem
1951 6,4%
1952 5,0
1953 8,7
1954 8,7
Nada lembrava recessão no segundo governo Vargas, mesmo o ano de 1952 quando
houve uma redução. no ano seguinte em 1953 a recuperação do setor industrial se mostra
evidente. A taxa de crescimento da produção industrial na década de 1950 foi de 9,2% ao ano.
Segundo Leopoldi (2002), ao analisarmos o segundo governo de Vargas, pode se observar
que os impasses que os industriais encontraram em 1952-1953, como escassez de divisas,
Fonte: Leopoldi (2002, p. 24)
41
dificuldade de importar equipamentos e matérias-primas e racionamento de energia elétrica,
iam sendo superados.
O plano de governo de Vargas para o segundo mandato pode ser discutido sobre os
seguintes aspectos:
Sua plataforma supunha o incentivo à produção industrial em novo estágio e a
resolução do problema energético, representado essencialmente pelo problema do
petróleo e pela energia elétrica. Essas propostas iriam exigir do governo decisões
concretas sobre o papel do Estado como propulsor do desenvolvimento e como
empresário. (LEOPOLDI, 2002, p. 34).
Durante o segundo governo Vargas foram criadas a Petrobrás e a Eletrobrás. Para tal,
o presidente via no capital externo o caminho para solucionar os problemas das finanças e
técnicos, através da “... aliança com os Estados Unidos, dos quais pretendia obter
o,coi-0..22997(,) cido,o.Bx295585(o)-130.2 o.eo p335nresennolvi85(a)3.74(m)-2.45995(e)3.74(n)-0.295554(t)-2.16558(o)-0..22997(,)61(a)3.74(d)-0.295585(o)-0.295585(s-0..22997(,))-440.406(p)-0.295659()-2295585(oj0.640026(l)-2.16436(e)3.54(t)-2.16558(o)-0.295585(s-0..22997(,)-0.295585(d)-0.295585(o)-0..2299014s)-1.22997(p)-0.2955é)3.74244(t)-2.16436(ó-110.213(p)-0.295526(l)-2.164-0.295585(o)a)3.74244(,)-11.2312(.)da.enertás lSPN-440.406(s)-6529554anuna1.2312(t)-12.1lvexoanáã-12.1703()-440.406(o) an 15.8373-258.873 -2pnnucolV.72 Tm[(R-4.53213(lD.76 Td[(O)16.42496)-0.295585(d)u0.295585(o))-110.212(p-0.295526(lr)2.16558(i)-2.165)-12.1lváuspci-0.295585(d)a-440.4d-110.212(pe-440.408(1.2312(,)-0.3095543(A.76 T808)-0.295703(s)-6.42484i)-2.164852.1643031.3J267.3)-440.406(p)-0.295585(r)2.804-0.295585(s-0.295585(a)3.74(s)-6.42484i-)2.80439(p)-0.295585(r).640026(l)-110.212(p)-10.30dastrem58(a)3.74(b3é.64 Td[(e)3.74(m)-26.42484i)-130.223(f)2.80439(iz0.295585(s)2.4375(ma)3.74244(r)2.80439([(e)3.282(o)-6.42484i-)2295294(r)2.80439(a)3.74244(39(1.2312(t)-130.223(e)-6.26346( 3031.3-256.009 -2-0.294974(n)4(r)2.805(e)3.74(s05(e)3.74(s)-1.229o)-6.23184i-)2.80456(p)-0.294959()-2295585(o-0.29554(r)2.805(e)3.74(s05(e)3.74(s-0.295585(o)-0.6.63289 )-440.406(c)3.74(o)-0..16558(m)-2.45995(o)-0.6.63289 -0.295585(s)-6.23183lV.72 Tm[(-0.6.63289 &)7.54496)o)-6.23184iM0.295535()o)-6.2318,)-0.295585(d)-0.295585(o)-0.6.63288.B)057303(xR-4.53213(lA-440.406(S.52 T385(sI)3.74244(L).336655 -0.6.63288.S)-60.182(P.-1.22998( )A-440.406(s)-6.23183l)-3-6.2659(M0.231.434))-2.16458(a)3.74(n)06(e)3.74(n)-0.295585(a)3.74(e)-6.2659(m)-.147516.507TJ219.015.295585(n)58(2955851E4)-2997495(-0.6.63288.)-3-6.2659(1-2.16436(o)98(295585(o58(c)3.74(o)48(c)3.74(o)4)-3333.16695(8.04]TJ/R7 12 8Tf0.99455.4 323.6.48 542)3.775872(0)5003.16695( )]TJ/R7 12 Tf0.99463.56 318.008.68 7s)-1.2312(,)-0.6.2318,)-0.295585(s)-6.23183lC-4.53213(l)-440.406(o)[(e)3.282(-)2.80432(1)-0.293142(a)3.74244(n)h)3.74244(n)gi378.12(3-258.873 -2S)-60.174(m)-1.22997(i)-2.16574(n)4(r)2.8-0.29497ú-2.46056(p)-0.29497ge8.4654.Bxe-2.1643691.23115igoe303248(M0.231.55(l-0.294974(i)-2.16574(n))-2.164i)31.23115i85(a)3.74(r)4443.16695(8.04]TJ/R7 12 8Tf0.9921.74 )2504.48 5421
42
de 90% dos recursos liberados destinavam-se ao setor público, passando a menos de 20%
após a derrubada do presidente João Goulart.
Dos anos de 1950 até 1970, a economia brasileira entre na sua fase conhecida como
“Fase Expansionista”. Na década de 1950, a concentração industrial inicia-se no Brasil,
surgindo os oligopólios. Já na década de 1970, nos anos iniciais, os grupos internacionais
dominavam os setores produtores de bens de consumo durável e detinham 50% do mercado
de bens de capital. Esta é considerada a fase da industrialização pesada, onde o governo
assumiu setores de elevados requerimentos de capital ou de longos períodos de maturação dos
investimentos, como hidroelétricas, usinas siderúrgicas, produção e refino de petróleo. As
empresas públicas especializaram-se na produção de bens e serviços de uso generalizado, em
apoio ao capital privado.
As empresas de capital nacional tiveram um papel secundário, buscando formas de
convivência com o capital internacional, no setor de transformação, e guardaram para si
setores como o bancário, engenharia de projetos e a construção civil.
Nos anos de 1980, a crise da dívida externa trouxe importantes conseqüências para a
economia brasileira: “a partir de então, a economia brasileira ingressou numa nova fase cujas
características fundamentais foram a geração de significados saldos comerciais, a semi-
estagnação e uma profunda instabilidade macroeconômica”. (CRUZ, 2002,p. 195).
Nos anos de 1980, os investimentos diretos realizados pelas empresas de capital
estrangeiro no Brasil andaram na contramão das tendências mundiais. Enquanto os
investimentos no mundo foram multiplicados por três em termos médios anuais, entre
1976/1980 e 1986/1990, no Brasil sofreram uma queda de 50%. Nas empresas estatais, o
impacto foi maior, pois não conseguiram novas linhas de crédito; por serem detentoras de
vultosos passivos em moeda estrangeira, os bancos credores contigenciavam o acesso aos
recursos.
A crise da dívida nos anos de 1980 impediu o crescimento do Brasil. A interrupção do
fluxo de investimentos e as políticas de ajuste provocaram a fuga maciça de capitais do país.
As multinacionais repatriaram os seus capitais às matrizes, o setor público perdeu sua
capacidade de investimento. A inflação impedia que o capital fosse investido no setor
produtivo, uma vez que os lucros seriam vultosos no setor financeiro, que praticava altas taxas
de juros. O resultado prático pode ser acompanhado nos gráficos 02 e 03 sobre o Produto
Interno Bruto (PIB) Brasileiro e a evolução da inflação brasileira, dando destaque à década de
1980.
43
0
2
4
6
8
10
12
1
9
30
/3
4
35/39
40/44
4
5
/49
5
0
/54
5
5
/
59
60/64
65/69
7
0
/74
7
5
/79
8
0
/
84
85/89
Quinqüênios
Porcentagem
Gráfico 02 - Produto Interno Bruto (PIB) Brasileiro
Fonte: Munhoz (2002, p. 282)
44
Pode-se notar claramente que desde o fim do Milagre Econômico em 1973, com a
crise do petróleo, a economia brasileira entra em uma vertente de declíneo até meados da
década de 1980, enquanto a inflação sobe vertiginosamente a partir de meados da década de
1970. O PIB brasileiro (ver gráfico 02) tem pequena recuperação a partir de 1985, mas o
cume dessa recuperação se equivale ao PIB do Brasil na década de 1930, quando a
industrialização brasileira estava determinantemente conectada ao sistema agrário-exportador
do café para os mercados americano e europeu. Ou seja, o Brasil na década de 1980 estagnou,
a produção industrial (ver gráfico 04), já na década de 1990 os números são negativos,
refletindo a abertura da economia nacional ao mercado internacional.
-10
-5
0
5
10
15
1980 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92
Anos
Variação %
Gráfico 04- Produção Industrial de 1980/92
Fonte: Munhoz (2002, p. 296)
Nos anos de 1990, dando destaque à primeira metade, inaugura-se no Brasil e nos
países latino-americanos uma fase de transformações em suas relações financeiras externas. A
forte presença do setor público na vida econômica e os regimes de proteção cambial das
economias começaram a regredir, deixando o mercado se auto-regular. A privatização foi o
caminho escolhido pelo governo do Brasil para se retirar progressivamente o setor público da
produção de bens e serviços, mas CRUZ (2002) discute a forma como o governo do
presidente Fernando Collor implementou este processo no país. Segundo ele, o processo de
privatização no Brasil está
...desconectado de um modelo global de reestruturação produtiva, informado por
objetivos ficais de curto prazo e apoiado na crença dinamizadora do mercado, parece
estar longe de assegurar resultados... (...) não estão contempladas metas de
45
investimento para reparar o atraso acumulado desde o início dos oitenta e permitir
ampliações futuras... (CRUZ, 2002, p. 199).
Portanto, da forma que os processos de privatizações do Brasil se encaminharam,
assim como o processo de abertura da economia, os resultados práticos não poderiam ser
outros, se não do fechamento de inúmeras empresas, o fim do diversos postos de trabalho e a
queda na produção industrial do país (ver gráfico 04), uma vez que o mercado nacional foi
invadido por produtos mais competitivos e com valores menores que os nacionais.
Minas Gerais na década 1950 apresentava-se com o processo de substituição de
importações, onde a indústria mineira ampliou consideravelmente sua participação na
economia brasileira. Esta mudança se deve ao Governo de Milton Campos (1947-1950), que
colocou em prática o Plano de Recuperação Econômica:
O Plano de Recuperação Econômica e as demais ações do governo Milton Campos
se pautam firmemente pelo ideal de crescimento combinado da indústria e da
agricultura. No ambiente de reconstrução política do pós-guerra (nas esferas interna
e internacional), parecia haver ainda espaço para expandir uma estrutura produtiva
deferenciada em escala regional. ... - uma conjuntura bastante singular, na verdade
para melhorar substancialmente a posição relativa de Minas Gerais no novo estágio
em que ingressava a economia brasileira. (DULCI, 1999, p. 91).
Ainda segundo Dulci, isto não seria o suficiente para o desenvolvimento do estado, no
governo de Milton Campos:
A curto prazo, ou seja, no período 1947-1950, o governo estadual conseguiu atrair
investimentos em moagem e em máquinas agrícolas, como previsto. Empenhou-se,
além disto, no setor de fertilizantes (que estaria a cargo do Estado), ultimando as
pesquisas correspondentes e iniciando a sua produção em pequena escala. Deixou
também estudos prontos para frigoríficos de carne e de pesca. Portanto, foi limitado
o saldo prático do governo Milton Campos no setor industrial. (DULCI,1999, p.
85).
Ou seja, o período do pós-guerra não favoreceu Milton Campos. no Governo de
Juscelino Kubitschek (1951-1955), em um cenário mais favoravel, o Plano de Recuperação
Econômica começou “a dar frutos”, mas o plano se tornou mais específico, atendo-se à
industrialização e ao meio urbano e deixando em segundo plano a agricultura e o campo. Este
foi expresso através do “Binômio Energia e Transporte.” O governo de Juscelino, buscava
resolver a questão de infra-estrutura do estado, que de fato estrangulava o desenvolvimento.
46
Mas o cenário começa a se alterar. Como exemplo, podemos citar a indústria do cimento, na
área privada, o setor com melhores resultados. Em 1947, havia somente duas fábricas em
Minas Gerais; já em 1962, eram sete.
Um fator que contribuiu para essa nova realidade foi o empenho governamental na
expansão da infra-estrutura - sobretudo na área de energia e transportes - cujos resultados se
traduziram na criação, em 1952, da Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG) e no
crescimento da malha rodoviária estadual
23
, com destaque para a inauguração da Fernão Dias,
que liga Belo Horizonte a São Paulo, no fim da década, possível através da criação do
Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG) em 1946
24
. Ainda no ano
de 1952 foi criada a Mannesmann S/A, produtora de tubos de aço sem custura, para atender a
indústria petrolífera.
O panorama de Minas Gerais começava a se alterar, como relata Diniz:
... na segunda metade da decada de 1950, vários projetos estrangeiros vieram para
Minas Gerais, especialmente para a Cidade Industrial de Contagem, que se
transformou no maior núcleo industrial de Minas. ... a estrutura industrial do Estado
começou a ganhar alguns contornos... Em primeiro lugar, com a expansão da
metalurgia e do cimento, iniciava-se a especialização mineira na produção de bens
intermediários... Em segundo lugar, crescia o peso relativo do capital estrangeiro na
incipiente indústria mineira, que as empresas mais importantes estavam sob seu
controle: Belgo (Luxemburgo), Ferro Brasileiro (França), Mannesmann (Alemanha),
ALCAN (Canadá), Cominci (França), RCA Victor (Estados Unidos), Pohlig-Heckel
(Luxemburgo), Sociedade Brasileira de Eletrificação (Itália), Eletro-Solda Autogena
Brasileira (Suiça), Trefilaria da Belgo (Luxemburgo). (DINIZ, 2002, p. 91).
O autor chama a atenção para a grande presença de capitais estrangeiros no Estado,
pois demostra que o capital mineiro não estava respondendo pelo processo de condução do
desenvolvimento econômico de Minas Gerais.
O que podemos observar na estrutura econômica do Estado, a partir do governo de
Kubitschek, foi um aumento significativo na geração de energia elétrica e uma ampliação da
malha rodoviária, dando suporte ao desenvolvimento industrial. Quando se a chegada de
Juscelino no governo federal (1956-1961), nota-se a continuação, em escala superior, das
orientações implementadas no Estado. O Plano de Metas (Cinqüenta anos em cinco) vinha ao
encontro do “Binômio: energia e transporte”, implementado no Estado.
23
O plano de Juscelino Kubitschek era abrir 2.000 km de rodovias e pavimentar 500 km, mas o programa foi
além do previsto e construiu 3.725 km de estradas.
24
A sustentação dos projetos da CEMIG e do DER-MG foram garantidos através de recursos advindos do setor
privado e de fundos do governo federal. Sobre a alocação destes recursos, ver Dulci (1999).
47
Na década de 1960, a ação do Governo cumpriu papel decisivo no processo de
industrialização, ao estabelecer o aparato institucional requerido para desencadear e sustentar
o esforço de modernização da estrutura fabril mineira. No intuito do Estado dar o suporte
necessário ao desenvolvimento de Minas, através de empresários minerios, foi criado em
1962 o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). Este teve um papel decisivo,
dando destaque ao Diagnóstico do Economia Mineira (1968), que sistematizou a análise das
causas do atraso mineiro. A eficiente e ágil ofensiva de atração de investimentos, iniciada no
final da década de 1960, através de incentivos fiscais, encontrou grande ressonância junto a
investidores nacionais e estrangeiros.
Durante o Milagre Econômico (1968-1973), no período da ditadura militar, o
panorama de Minas se altera, como pode ser observar:
...Minas Gerais se apresentou como localização industrial privilegiada. Tinha
disponibilidade de recursos naturais, uma avançada infra-estrutura, especialmente na
energia e nos transportes; uma eficiente indústria de base, e, portanto,
disponibilidade de insumos; proximidade dos grandes mercados e maiores centros
econômicos e políticos do país; incentivos fiscais, um eficiente aparato institucional
de apoio... (DINIZ, 2002, p. 91).
A mudança no cenário, de 1940 para a década de 1970, é aparente. O Estado que não
atendia aos interesses dos industriais, após três décadas passou a apresentar localização
industrial privilegiada.
no início da década de 1970, o Estado experimentou uma grande arrancada
industrial, com a implantação de inúmeros projetos de largo alcance sócio-econômico. O
parque industrial mineiro destacou-se nos setores metal-mecânico, elétrico e de material de
transportes. A produção de aço subiu de 587 mil toneladas em 1960 para 2.059 mil em 1970.
A de cimento passou de 1 milhão de toneladas para 2,5 milhões, no mesmo período. Durante
o período conhecido como Milgre Econômico (1968-1973), Minas apresentava-se como uma
locallidade favoravel à implantação de novos projetos. Isto se confirma, pois “estima-se que
de um total de mais de 7.500 projetos industriais aprovados na década de 1970, Minas Gerais
tenha conseguido aproximadamente 25% dos investimentos programados.” (DINIZ, 2002, p.
94).
Entre 1975 e 1996, o PIB mineiro cresceu 93% em termos reais. Em igual período, o
País registrou um crescimento de 65%. Esse relevante desempenho verificou-se, sobretudo,
no setor de transformação e nos serviços industriais de utilidade pública. Na indústria
48
extrativa mineral, a supremacia mineira durou até 1980, quando o país passou a explorar,
entre outras, as jazidas do complexo Carajás. Entretanto, em 1995, o Estado ainda respondia
por 26% do valor da produção mineral brasileira do setor de metálicos.
2.4.
As origens da indústria no Brasil e o problema de disciplina fabril
Cada fábrica tinha um aspecto fosco e hostil de presídio, com seus guardas de portão
fardados e armados, operários e operárias submetidos a vexatórias revistas e
humilhantes observações, quanto não recebiam ameaças de toda sorte.
(HARDMAN; LEONARDI, 1982, p. 134).
O nascedouro da indústria brasileira pode ser determinado por grandes dificuldades,
seja pela falta de infraestrutura ou pela baixa capacidade técnica da mão-de-obra utilizada.
Segundo Hardman e Leonardi (1982), os motivos para o Brasil não se desenvolver no período
imperial resumem-se em: um sistema de transporte totalmente deficitário e rudimentar; a
técnica ou tecnologia não se desenvolvia dificultada pela escravidão; um grau incipiente de
urbanização; mercado interno restrito e fragmentado; centros urbanos pequenos e distantes
uns dos outros; uma população de três milhões de habitantes, sendo um milhão de escravos no
início do século XIX; e escassez de capitais.
A industrialização brasileira se consolidou de fato no século XX, pós Segunda Guerra
Mundial, ou seja, dois séculos após o início da inglesa (século XVIII). Fator importante a ser
destacado no início da industrialização do Brasil firma-se no atraso da industrialização, o que
pode ser observado na ruralização do país, ou seja, em uma maior concentração populacional
no campo do que na cidade, somada ainda à falta de infra-estrutura, principalmente
rodoviária, e também à questão da força motriz a ser utilizada
25
.
Estes fatores levaram inúmeras indústrias, principalmente as têxteis, a se instalarem
em fazendas, seja pela proximidade da lavoura de algodão; abaixando os custos com
transporte, ou pela presença de quedas d’águas que serviram para movimentar estes
empreendimentos, ou pela concentração de mão-de-obra.
para a construção das fábricas, podemos destacar dois pontos fundamentais para a
implantação de uma indústria, segundo Hardman e Leonardi:
25
Para as primeiras indústrias instaladas no Brasil, a água era fator determinante, seja para mover as máquinas
através de rodas d’águas, seja gerar vapor ou energia elétrica.
49
...podem-se destacar dois elementos decisivos para a localização das fábricas: as
ferrovias (transporte de matérias-primas, máquinas e trabalhadores imigrantes;
transporte dos bens industriais produzidos) e os rios... (fontes de energia elétrica)...
(HARDMAN; LEONARDI 1982, p. 133).
Segundo Domingos Giroletti, em sua obra “Fábrica Convento Disciplina”, a instalação
de indústrias têxteis no interior do Brasil nos séculos XIX e XX buscava solucionar as
questões de transporte, força motriz e um contingente significativo de mão-de-obra
disponível, mas segundo Giroletti o grande problema apresentado por estas fábricas rurais foi
a questão da disciplinarização e controle da mão-de-obra.
Mas o problema detectado se encontrava no trabalhador. Pelo fato da grande maioria
ser da zona rural, suas características trouxeram vários problemas: a falta de estudo, o não
conhecimento do que era uma máquina (o que ocasionava inúmeras quebras) e principalmente
longas jornadas de trabalho. A conseqüência imediata era o abandono dos postos de trabalho,
provocando queda na produção. O resultado aparecia em intensos conflitos. A solução
encontrada, segundo o autor, foi a criação de um regime de trabalho baseado nos moldes dos
conventos, com o estabelecimento de escalas de subordinação, regras rígidas e severas e a
implantação de punições para quem não seguisse as ordens pré-determinadas pela empresa
26
.
o setor têxtil urbano, em uma análise histórica, tem o seu passado marcado por
problemas de disciplina no interior dos muros das fábricas. (WEID, 1986). Há que se observar
que a realidade das fábricas rurais e urbanas são completamente diferentes. No meio urbano a
questão do deslocamento até o emprego, os custos com aluguéis e alimentação são mais
onerosos em relação ao trabalhador rural, ou seja, o custo de vida. Para o trabalhador urbano,
as “vantagens” incorporadas ao trabalho têm um peso mais elevado: armazém com preços
mais accessíveis, o fim do deslocamento até a empresa e a moradia gratuita, sem dúvida
seduziam os trabalhadores.
A idéia central para os industriais baseava-se em controlar, disciplinarizar e evitar o
máximo possível o surgimento de revoltas ou paralisações sindicais. Na prática, ocorria a
domesticação do trabalhador, que por ter inúmeras vantagens acopladas ao seu trabalho não se
envolvia em manifestações e paralisações, com o receio de perder casa, escola para seus filhos
e outros benefícios.
Com o advento dos sindicatos, os industriais se viram obrigados a cederem a algumas
exigências, promovidas por massas extremamente fatigadas pelas condições árduas e
26
O autor ressalta que a diferença entre um quartel militar e as indústrias têxteis nesse período eram mínimas.
50
insalubres de trabalho, mas rapidamente novos meios de controle e vigilância conseguiram
manter a mão-de-obra na linha de produção e em constante harmonia com o patronato.
Com a força que os sindicatos tinham adquirido, os industriais necessitavam descobrir
novas formas de se fazer frente à organização dos trabalhadores. O meio encontrado
constituía-se em unir vantagens à proposta de emprego aos trabalhadores, para que estes se
sentissem à vontade no desempenhar de suas funções e ao mesmo tempo presos ao
compromisso de trabalharem sob um rígido controle e disciplina sem promoverem
paralisações ou greves.
Dentre as vantagens criadas neste período para controlar e disciplinarizar o
trabalhador, destaco a criação de vilas operárias, escolas, clubes, bancos de crédito, acesso de
emprego garantindo aos filhos, entre outros. Chamo a atenção para o seguinte aspecto: todas
estas vantagens foram criadas dentro dos muros das fábricas onde o empresário pudesse
observar, disciplinarizar e controlar seus trabalhadores.
Se observarmos as vantagens que os industriais apresentavam aos trabalhadores,
podemos notar que seria extremamente difícil de encontrar tais vantagens no comércio ou em
outro setor da economia. A proposta que está entre linhas nesta atitude solucionou de certa
maneira os problemas com os sindicatos e as constantes paralisações dos trabalhadores (Sobre
o controle e a disciplinarização, ver Teixeira (1990) e Giroletti (1991).
de se notar que os gastos dos industriais aumentaram consideravelmente com a
criação desses aparatos, mas a constância da produção e o aumento na procura por uma vaga
nessas empresas garantiram melhores lucros e a manutenção de inúmeras fábricas, pois com a
mão-de-obra farta a remuneração paga aos trabalhadores poderia ser menor, assegurando
assim menores gastos e conseqüentemente maiores lucros aos industriais possibilitando
reinvestimentos ou até ampliação da produção. Outro ponto de destaque concentra-se na
diferença do tempo e do espaço (rural X urbano), uma vez que a organização produtiva das
empresas localizadas no interior ou no campo é diferente, a organização sindical presente com
sua força e organização na cidade não se apresenta em igual proporção, por questões práticas,
isolamento físico, menor número de trabalhadores e descumprimento das leis trabalhistas
mais acentuado. O controle disciplinar no campo é mais elevado, pois necessita-se ater o
trabalhador ao processo produtivo, lembrando-se que neste caso os trabalhadores estavam
acostumados a determinar o seu ritmo de trabalho. A grande dificuldade de se instalar
indústrias têxteis ou de outro ramo no interior do país e de Minas Gerais no século XIX, além
das questões de logística, concentrava-se no treinamento e controle da mão-de-obra,
acostumada com um ritmo de trabalho determinado por si mesma e não pelo industrial ou pela
51
máquina. Portanto ao analisarmos as formas de controle, aplicadas para a disciplina fabril no
nascedouro da indústria brasileira, temos de fazer uma análise diferenciada da que foi
aplicada nas cidades e a aplicada no campo, como no caso curvelano, uma cidade do interior
com a agricultura sendo a base da economia e do trabalho.
Ao analisarmos a história do movimento sindical no Brasil e das organizações dos
trabalhadores brasileiros, nota-se que esta pode ser retratada sob vários ângulos. que se
destacar em 1902 a fundação do Partido Socialista Brasileiro (PSB) para atender ao
trabalhador. 1903 foi um ano marcado pela ascensão do movimento operário no Brasil,
onde ocorre uma intensificação das greves, devido ao aparecimento dos primeiros sindicatos e
do fortalecimento dos grupos políticos, principalmente anarquistas. Em contrapartida, o
Estado buscava meios para impedir o crescimento do sindicalismo no país. Para tal, no final
de 1904, o governo de Rodrigues Alves (1902-1906) promulgou uma lei cerceadora da
liberdade de expressão e de organização de classes, reforçando assim o Código Penal. A Lei
Adolfo Gordo (Decreto nº. 1.641, de 7-1-1907), de janeiro de 1913
27
, é outro exemplo, lei que
permitia ao governo brasileiro expulsar estrangeiros envolvidos em greves e perturbações à
ordem. Ou seja, buscava-se isolar o trabalhador brasileiro das idéias vindas do exterior, onde a
indústria e o sindicato eram mais velhos e consolidados.
Com a Proclamação da República em 1889 e o Brasil entrando no cenário das
democracias mundiais, esperavam-se melhoras na relação entre trabalhadores e patrões,
principalmente no reconhecimento e validação dos sindicatos dos trabalhadores, como
representante legal dos interesses dos trabalhadores. Mas o que podemos observar é que as
mudanças não vieram no âmbito que se esperava e os sindicatos não eram reconhecidos como
instituições legais dos trabalhadores, uma vez que o Estado brasileiro era gerido e
administrado sob os interesses dos cafeicultores e da nascente burguesia industrial brasileira,
que fazia uso da máquina administrativa federal para atender interesses próprios, como no
caso das repressões impostas aos líderes sindicais.
Apesar de obrigado a tolerar a existência dos sindicatos operários, o Estado
republicano não os reconhecia como legítimos organismos dos trabalhadores, nem o
direito à livre associação e organização nos locais de trabalho. (...) a repressão
seletiva e localizada, contra as lideranças, era uma constante: prisões, processos
forjados e deportações eram alguns dos métodos mais empregados (HARDMAN;
LEONARDI, 1982, p. 146-147).
27
Hardman e Leonardi (1982, p. 264).
52
A República brasileira teve, desde o seu nascimento, que enfrentar as primeiras
organizações de trabalhadores. O cenário se transforma, a luta deixa de ser pontual, dentro das
fábricas e seus portões e passa para as ruas.
Nas greves, comícios populares, manifestações e revoltas de massa, a presença dos
trabalhadores assalariados urbanos já se fazia notar. Assim a propaganda e luta
política saíram dos teatros e salões, onde se confinaram no Império (sem contar as
permanentes lutas rurais de escravos e camponeses), para gravitar, cada vez mais,
em torno das ruas. (HARDMAN; LEONARDI, 1982, p. 253).
Além do controle ao sindicato, observa-se também um rígido controle dentro das
fábricas e fora dela, impedindo ferreamente a organização do proletariado enquanto classe. “A
vida operária era um misto de superexploração na fábrica, repressão policial nos momentos
decisivos e controle social e ideológico nas ruas e na cidade.” (HARDMAN; LEONARDI,
1982, p. 147). Porém, as condições socioeconômicas oferecidas pelas fábricas urbanas (as
vantagens incorporadas ao trabalho) concentravam a mão-de-obra no espaço urbano, elevando
o número de trabalhadores e conseqüentemente diminuindo a remuneração paga ao
trabalhador.
Com a Primeira Guerra Mundial em cena, o discurso muda e segundo Hardman e
Leonardi (1982), os dirigentes passam em todo o mundo a colaborarem com os empresários
devido às circunstâncias. No Brasil, no entanto, as dificuldades enfrentadas e o aumento no
rítmo de trabalho, buscando suprir a demanda crescente, fizeram com que os trabalhadores
mobilizassem uma greve geral em 1917, e as principais cidades brasileiras foram sacudidas
por greves. Os trabalhadores buscavam assegurar direitos e melhores condições de emprego e
salários. Este movimento mobilizou cerca de setenta mil trabalhadores, que cruzaram os
braços. A greve durou uma semana e foi duramente reprimida pelo governo paulista.
Finalmente chegou-se a um acordo que garantiu 20% de aumento para os trabalhadores.
Já na conjuntura de 1917-1920, observa-se um incremento da imprensa operária e uma
intensificação de greves e manifestações de classe, como pode ser ver na tabela 07.
53
TABELA 07
Movimentos grevistas no Brasil
Período Número de greves
1900-1910 111
1910-1920* 258
1917-1920** Mais de 200
* Exclui-se os anos de 1917 e 1918
** Restrito a São Paulo (capital e interior) e Rio de Janeiro (Descrito Federal)
Fonte: Hardman e Leonardi (1982, p. 261)
Para forçar os empresários a aceitarem as reivindicações trabalhistas, os sindicatos
faziam o uso de vários instrumentos de pressão, como greve parcial ou geral, boicotagem,
sabotagem e manifestações públicas, todas com o propósito de pressionar os empresários a
aceitarem os termos dos trabalhadores.
A década de 1920 mostra certo declínio das atividades mobilizatórias até o final do
governo de Artur Bernardes (1922-1926), marcado pelo estado de sítio e violentíssima
repressão às organizações operárias. Os anos de 1920, apesar de alguns avanços em termos de
legislação social, foram difíceis para o movimento operário, que foi obrigado a enfrentar
grandes desafios. O primeiro deles foi o recrudescimento da repressão por parte do governo.
A justificativa apresentada era a de que o movimento operário era artificialmente controlado
por lideranças estrangeiras radicais que iludiam o trabalhador nacional. Segundo Hardman e
Leonardi (1982), quanto “... às mobilizações, em especial as greves operárias, fica claro um
patamar descendente a partir de 1920, chegando ao nível mais baixo no período de 1924-27.
Já em 1926 alguma atividade reapareceria...” (HARDMAN; LEONARDI, 1982, p. 288).
Todos esses esforços não foram suficientes para produzir uma mudança significativa na vida
material do conjunto da classe trabalhadora no final dos anos 1920. A legislação aprovada
quase nunca era aplicada. Isso ocorria, entre outras razões, porque o movimento operário
encontrava-se ainda limitado e restrito a alguns poucos centros urbanos.
De qualquer forma, os ganhos no período da Primeira República foram
importantíssimos para os trabalhadores brasileiros. Segundo Hardman e Leonardi,
... a regulamentação do trabalho foi uma conquista da classe operária obtida através
de uma árdua luta que se desenrola na Primeira República, principalmente sob a
direção dos sindicatos anarcossindicalistas. (...) As causas da legislação trabalhista e
de previdência social e brasileira estão, pois, nas lutas dos trabalhadores, em escala
nacional e em escala internacional, pelos seus próprios interesses. Essa legislação é
uma conquista, não uma concessão. (HARDMAN ; LEONARDI, 1982, p. 265) .
54
Esses direitos conquistados no período da Primeira República seriam a bases da
questão social no governo Vargas. No governo de Getúlio “... os anarcossindicalistas lutaram
enquanto puderam contra o processo de destruição da antiga estrutura sindical livre e
autônoma que eles haviam auxiliado a classe operária a construir durante a República Velha.”
(HARDMAN; LEONARDI, 1982, p. 289)
28
.
No cenário mineiro, o movimento operário
29
enfrentou dificuldades de organização,
em parte devido ao caráter extremamente descentralizado e disperso da indústria local. em
outros Estados, onde a concentração industrial era menor, o movimento operário se fez
presente ainda no culo XIX, demonstrando que a história do sindicalismo no Brasil esta
marcada por associações independentes e desconexas umas das outras, fragilizando e
limitando o alcance dos sindicatos. Num país de dimensões continentais como o caso do
Brasil, não poderia deixar de ser notado uma desigualdade no crescimento do movimento
operário brasileiro, uma vez que particularidades como as questões de locomoção, isolamento
e até o tipo de serviço desempenhado na indústria, influenciaram o desenvolvimento. Como
exemplo, podemos citar o sindicalismo paulista, de bases industrial e urbano, que não pode
ser comparado com o sindicalismo amazônico, onde a indústria de extração da borracha
nativa era de bases artesanal e rural, dispersos e isolados. Ou seja, o Brasil apresentava
particularidades físicas e regionais que impediam, por mais que a comunicação dos sindicatos
fosse eficiente, de se propagar e irradiar por todo o país. de se destacar o caráter decisivo
da imprensa operária para a propagação das idéias sindicais e suas dificuldades financeiras,
assim como a ausência da plena liberdade de imprensa.
A classe patronal exercia forte controle social sobre a vida dos primeiros trabalhadores
da indústria têxtil. A vigilância e disciplina no interior das unidades de produção eram
rigorosíssimos chegando a criar regras de conduta para as moças.
Este controle pode ser visto no “Regulamento externo (vilas operárias) e interno
(fábrica)” da fábrica Cedro, fundada em 1872, demonstrando como se dava o controle das
instituições no período anterior a 1888.
“É PROIBIDO (externo):
28
O movimento sindical no governo Vargas será tratado no subitem 2.5.
29
Sobre o movimento operário mineiro ver Dutra (1988).
55
Art. 1º. - Consentir ou dar em casa, jogos, batuques ou reuniões imorais, consentir
bebedeiras, desordens, espancamentos e tudo mais que perturbar o sossego público.
Art. 2º. - Invadir quintais ou casas. Subtrair frutas, galinhas, roupas e outro qualquer
objeto. Inquietar ou faltar o respeito às famílias.
Pena para os Arts. 1º e . Multa de Rs. 5$000 10$000 – na reincidência –
Expulsão pela 3º. vez além de usar dos direitos que a lei concede nos casos de
furtos, etc.
Art. 8º. – Fazer algazarras pelar ruas, praças ou casas, perturbarem o sossego público
– principalmente depois das nove horas da noite.
(...)
Art. 10º. – Criar porcos, cabritos ou carneiros soltos nas ruas, devendo ser peiadas as
cabras que amamentarem as crianças.
Art. 11º. Engordar capados soltos nos quintais, conservar servas imundas, que
incomodem os vizinhos.
Art. 12º. Utilizar-se de imóveis, materiais, ferramentas, utensílios, lenhas ou
quaisquer objetos pertencentes à fábrica.
É proibido (na fábrica):
(...)
Art. 12º. Trabalhar assentado ou contra qualquer posição inconveniente...”
(HARDMAN; LEONARDI, 1982, p. 112)
Ou seja, as “... vilas operárias eram realizações dos empresários industriais, nos
terrenos da própria companhia, onde a possibilidade de controle social e ideológico da massa
trabalhadora pelos patrões era bem maior” (HARDMAN; LEONARDI, 1982, p. 154).
Segundo os autores, a vila operária tornava-se o centro nervoso de toda a vida local,
principalmente naqueles núcleos isolados do interior, e a vida nessas vilas era um
prolongamento da rígida disciplina imposta no regime de trabalho fabril. Como afirmam
Hardman e Leonardi (1982), “o controle social sobre as famílias de trabalhadores, nessas vilas
56
operárias, se fazia presente através de escolas para as crianças, creches, armazéns e capelas,
onde se veiculava a ideologia dominante”.
Outra forma de conseguir disciplinar o trabalhador apresentava-se na premiação por
produção. Estimulava-se a produção, a concorrência entre os trabalhadores e sua fidelidade às
ordens da fábrica. Caso o trabalhador participasse de algum movimento grevista, os
benefícios eram cortados, dando-se assim a utilização deste artifício como mais um para
controlar o trabalhador.
as condições de vida dos trabalhadores, por volta de 1900, aproximava-se à de
escravos.
Os primeiros operários trabalhavam treze, quatorze e até quinze horas por dia, não
tendo direito ao descanso semanal remunerado aos domingos, nem direito a férias
anualmente. Quando a luz elétrica foi introduzida em Pernambuco, as jornadas de
trabalho tornaram-se excessivamente longas. (...) trabalhava-se dezessete horas
diárias! (HARDMAN; LEONARDI, 1982, p. 95).
A produtividade era garantida de todas as formas. Como afirmam Hardman e
Leonardi (1982, p. 136), “O aumento da produtividade do trabalho era também alcançado
através da intensificação da cadência das máquinas e da coação extra-econômica e violenta
(castigos corporais, ameaças, dispensas do emprego, multas, rígida disciplina do trabalho
etc.).” O trabalhador não era respeitado, sendo explorado ao máximo. As leis não eram
cumpridas, tornavam-se letra morta, uma vez que não existia fiscalização e o Estado não
dispunha de recursos jurídicos e legais para de fato fazer cumprir a lei, como a lei federal que
regulamentava o trabalho infantil nas fábricas de 1891. A questão sanitária também não era
respeitada, “eram inúmeros os casos de contaminações, mutilações e mortes nas fábricas, em
todos os ramos industriais”. Na época não existia previdência social ou indenizações, no
tocante a isso, o trabalhador estava sozinho, destinado ao acaso e à sorte, e um grande
contingente de mão-de-obra reserva proporcionava baixos salários para os trabalhadores que
conseguiam trabalhar, pois as crises, como a Primeira Guerra Mundial, a Crise de 1929, entre
outros, não permitiam ao trabalhador ter estabilidade no emprego, havendo uma grande
rotatividade da mão-de-obra.
Outra questão era o trabalho feminino e infantil, que contribuíam para o rebaixamento
dos salários:
57
O trabalho feminino tinha um peso significativo na composição da força de trabalho
da época, embora se concentrasse, em sua quase totalidade, nos setores xtil, do
vestuário e toucador. A presença de mulheres e meninas nas fábricas, bem como de
menores em geral, favorecia certos mecanismos de super-exploração, entre eles, o
próprio rebaixamento de salários. (HARDMAN; LEONARDI, 1982, p.140).
O uso da mão-de-obra infantil era tido como opção barata e farta o que reduzia custos,
tornando-se viável empregar tal mão-de-obra. Observa-se que o trabalho realizado pelas
crianças não se diferenciava do realizado pelos adultos.
Ao verificarmos o surgimento da indústria brasileira, notamos que esta enfrentou a
questão da infraestrutura paulatinamente, conseguindo avanços e melhorias, seja esporádica e
de caráter individual, como de amplitude elevada, sendo estas conduzidas pelas esferas
governamentais. O problema da disciplina fabril atingiu o industrial brasileiro logo após a sua
implantação. Com a Proclamação da República e com a criação de uma nova constituição,
esperava-se que o trabalhador fosse melhor assistido pelo Estado, mas observamos que a
realidade não se alterou. No Brasil, registravam-se casos onde toda a família, homens,
mulheres e crianças, trabalhavam quinze horas diárias, das cinco horas da manhã às vinte e
duas horas. Como exemplo temos a fábrica Santa Rosália em Sorocaba (HARDMAN;
LEONARDI, 1982, p. 135). Casos como este demonstram o por que do crescimento do
movimento sindical e anarquista no país. O trabalhador fabril brasileiro conseguira ver suas
reivindicações parcialmente atendidas no governo de Getúlio Vargas, mas em contrapartida o
movimento sindical seria limitado em sua atuação.
2.5. A década de 1930 e as transformações no mundo do trabalho
A década de 1930 é marcada por inúmeras transformações na vida do trabalhador
fabril brasileiro. Nesta década, dá-se a chegada de Getúlio Vargas ao governo federal (1930-
1945). Mas a chegada de Getúlio ao poder, a princípio, não alterou a vida do trabalhador, uma
vez que o “... governo recémes 629 -20( 629 -20( 629 -20( 6)-2.16436(a)3.74(d)-0.295585a)3.74244(s)-1.235(o)-10.3015( )-270.306(e)3.2002380.295585(m)-2.45995( )-130.223(a)]920029-10.1537(c)3.2002380r)3.74244(r)2.80561(nvo)-0.295585( )-80.195(ra)3.74244(s85 0 Td59.1)-2.16436(74(o)-0.295585( )-130.223(d)-.2002380(e)-6.2659( )-10.1525(G)1.2002380(0)-0.295585( )-190.26(é)3..2002380.295585(m)-2.4575(a)-6.2655585(l).80439(i)-2.16436(l)-2.16436(0.1537(c)3920029-10.10.1525(G)1.2002380)3.74(d)-1(m)-2.4575(a(ç)3.74(o)-0.295585.295585( ).20151()3..2002380.295585a)3.742925d)-0.293142isa
58
A relação de Getúlio com os trabalhadores pode ser considerada ambígua, uma vez
que limitou as atividades dos sindicados, mas criou um aparato de mecanismos que buscavam
legitimar e dar apoio ao seu governo.
A Revolução de 1930 colocou na ordem do dia a necessidade de se pôr em prática uma
nova política social no país. A criação do Ministério do Trabalho, menos de um mês depois da
vitória do movimento revolucionário, indicava a disposição do Governo Provisório de alterar
os rumos da política trabalhista, previdenciária e sindical até então adotada pelos governos da
Primeira República.
Para conseguir colocar em prática a nova política social, Vargas seria obrigado a fazer
concessões aos trabalhadores, satisfazendo parcialmente algumas de suas reivindicações. Mas
há de se destacar que os industriais não queriam fazer nenhuma concessão a mais aos
trabalhadores.
Em 1930, o governo federal criou o Ministério do Trabalho e em 1931 regulamentou,
por decreto, a sindicalização das classes patronais e operárias; a Lei da Sindicalização que
vinculava os sindicatos brasileiros ao presidente, onde as organizações sindicais passaram a
ter caráter paraestatal, passou a ser obrigatória a aprovação dos estatutos dos sindicatos
trabalhistas e patronais pelo Ministério do Trabalho. Neste período a greve foi proibida e foi
instituído o imposto sindical. Criaram-se as Juntas de Conciliação e Julgamento e, com a
promulgação da Constituição do Estado Novo, a unicidade sindical. Dentre as medidas ou
beneficios criados por Vargas podemos destacar em 1930 o estabelecimento do Código de
Menores, que limitava o trabalho das crianças a seis horas por dia, com uma hora de descanso.
No campo da organização sindical, o governo declarava explicitamente que concebia
os sindicatos como um instrumento para mediar o conflito entre empregados e patrões. Seu
objetivo era trazer as organizações sindicais para a órbita do novo Ministério do Trabalho, de
forma que elas passassem a ser controladas pelo Estado. Por outro lado, estimulava-se
também a organização e o reconhecimento de sindicatos patronais, na perspectiva de se
construir uma organização social sobre bases corporativas. No que se refere à questão dos
direitos trabalhistas, o regime procurava atender algumas reivindicações históricas do
proletariado, ao mesmo tempo em que construía todo um discurso ideológico sustenta85(l)7.84154(ó)-0.29558585(,)-0.14657r.295585( )]TJ268.718 0 Td[(u)-0.295585(m)-2.4599.16558(r)2.85(o)-0.295505(e)3.74(i)é.16681( )-140.229(s)-1.20561(g)-0.205(e)3.74(i)(s)-1.20561(g)-0.2.16436(r)2.80439(o)-0.295585( )5-100.207(c)3.74niateemndeado Nooa032(i)-2.16436 rsu
59
instituído ainda o seguro em caso de acidente de trabalho, e foram previstas indenizações em
caso de demissão sem justa causa no comércio e na indústria.
Pela nova legislação, adotava-se o princípio da unidade sindical, em que apenas um
sindicato por categoria profissional era reconhecido pelo governo. A sindicalização não era
obrigatória, mas a lei estabelecia que apenas as agremiações reconhecidas pelo governo
poderiam ser beneficiadas pela legislação social. A lei foi recebida como uma séria ameaça à
sobrevivência da liberdade sindical
A estratégia governamental surtiu efeito. Centenas de sindicatos de trabalhadores
tornaram-se legais nos anos de 1933 e 1934 para poder gozar dos benefícios previstos pela
nova lei. A luta sindical, cada vez mais, passou a orientar-se no sentido de ver aplicadas as
leis burladas pelas empresas. Nesse sentido, tornou-se muito importante o papel das Juntas de
Conciliação e Julgamento, criadas pelo governo em 1932 para resolver conflitos trabalhistas.
Esses órgãos foram a base da Justiça do Trabalho, que seria estabelecida pela Constituição de
1934.
Com o intuito de viabilizar o novo modelo de sindicalismo, Getúlio tratou também de
introduzir uma série de novas leis trabalhistas e previdenciárias. Entre as mais importantes,
pode-se destacar: a nova Lei de Férias; o novo Código de Menores; a regulamentação do
trabalho feminino; e o estabelecimento de convenções coletivas de trabalho.
No campo da assistência social, foram criados os Institutos de Aposentadoria e
Pensões, órgãos controlados pelo Estado responsáveis pela extensão de direitos sociais a
categorias nacionais de trabalhadores. Durante a década de 1930, foram criados Institutos de
Aposentadoria e Pensões de várias categorias como industriários, comerciários, bancários,
funcionários públicos etc.
Nos primeiros anos do Estado Novo (1937-1945), foi regulamentado o salário mínimo
(1938) e foi criado, em agosto de 1940, o Serviço de Alimentação da Previdência Social
(SAPS). Em de maio de 1941, foi finalmente inaugurada a Justiça do Trabalho, com base
na Constituição de 1934. Entre junho e dezembro de 1941, iniciou-se, então, a cobrança do
imposto sindical, instrumento importante para a manutenção da tutela estatal sobre as
organizações sindicais. Regulamentou o trabalho dos menores de idade, da mulher e o
trabalho noturno. Fixou a jornada de trabalho em oito horas diárias de serviço e ampliou o
direito à aposentadoria a todos os trabalhadores urbanos.
A orientação trabalhista de seu governo, que em seu ápice instituiu a Consolidacao das
Leis Trabalhistas (CLT), a carteira de trabalho, a estabilidade do emprego depois de dez anos
de serviço (revogada em 1965), o descanso semanal remunerado e o salário-mínimo, marcou
60
um tempo das mudanças sociais célebres, onde os trabalhadores pareciam estar no centro do
cenário político nacional. Mas, como afirmam Hardman e Leonardi (1982), o governo de
Getúlio em relação ao sindicalismo e aos trabalhares pode ser explicado da seguinte forma.
Vargas
... contou principalmente com o fato de a antiga estrutura sindical ter sido por ele
destruída em 1935, após massiva repressão ao movimento operário, o que as classes
dominantes não conseguiram durante os vários governos da Primeira República,
apesar da violência permanente. (HARDMAN; LEONARDI, 1982, p. 200-201).
As vantagens ou beneficios atribuidos ao governo de Getúlio Vargas, conseguiram
estabilizar ao movimento sindical brasileiro e dar ao trabalhador melhorias nas condições de
trabalho e na remuneração salarial. Para se adequar às novas regras do trabalho industrial no
Brasil, os industriais viram os seus gastos aumentarem significativamente, mas podemos
concluir que estabilizaram as disputas entre patrões e trabalhadores durante o governo de
Getúlio Vargas.
61
3. A INDÚSTRIA TÊXTIL E A FÁBRICA MARIA AMÁLIA
3.1.
Evolução histórica do município de Curvelo
Por volta de 1700, viajantes procedentes do Rio de Janeiro e de Piratinga, com destino
à Bahia, fizeram pouso na região onde hoje se encontra Curvelo, antes habitada pelos índios
coroados - ou arrepiados - e os goianás. O povoado inicia-se, a partir de 1706, com o
estabelecimento de portugueses e baianos em sítios de lavoura e de criação de gado. Em 1714,
é fundado o povoado de Santo Antônio da Estrada (nessa época, fazendas e currais
proliferavam na região). Seu fundador foi o padre Antônio Corvelo de Ávila. O povoado é
elevado a freguesia (distrito), em 16 de março de 1720, com o nome de Santo Antônio de
Curvelo. Em 1749 morre o Padre Corvelo
30
. Em 13 de Outubro de 1831, emancipa-se,
desmembrando-se de Sabará, e Curvelo é elevada à categoria de vila. Em 30 de julho de 1832,
em seção solene, instala-se a primeira Câmara de Vereadores. Em 1875, Curvelo foi elevada à
categoria de cidade. A partir dos anos subseqüentes deu-se início à fase da cultura algodoeira
e o início da industrialização do lugarejo, já que a cidade é pioneira na indústria têxtil mineira,
com a fundação da Cedro e Cachoeira, no distrito de Inimutaba, em 1884. Em 13 de
Novembro de 1891, é criada a Comarca de Curvelo.
A cidade encontra-se situada na mesoregião central de Minas Gerais, na microrregião
de Curvelo, com uma área de 3.344,1 Km², distante 160 Km da capital mineira, Belo
Horizonte. Tem localização privilegiada em região servida por importante sistema rodoviário,
onde destacamos a BR-040, que faz a ligação entre Brasília, Belo Horizonte e Rio de Janeiro,
e a BR-135, que faz a ligação de Curvelo com o norte de Minas Gerais, especificamente
Montes Claros, Janaúba e Januária, e daí com a Bahia. Está situada num grande chapadão na
região central do estado, localizado entre as bacias do Rio São Francisco, Rio das Velhas,
Paraopeba, Cipó e Bicudo
31
e o município é cortado por diversos ribeirões que desaguam
nestes rios. Os mais importantes são Maquiné, Picão, Almas, Meleiros e Santo Antônio.
30
A cidade atrai visitantes e devotos na tradicional oitava de São Geraldo, para a Basílica construída pelo Padre
Corvelo, em homenagem a São Geraldo. A festa religiosa acontece de meados de agosto até a última semana do
mês de setembro, sendo acompanhada por romeiros de todo o país.
31
Ver anexo A.
62
A região de Curvelo sempre se destacou na sua história por estar localizada no centro
geográfico do estado
32
, o Coração de Minas, uma vez que este fator contribuía para
transformar a economia da cidade em entreposto comercial, fazendo a ligação do norte e
noroeste do estado com sua região central e, posteriormente, com a capital Belo Horizonte.
Através de suas fazendas circundantes, o comércio de gado e produtos derivados das lavouras
de subsistência crescia, consolidando a cidade em seu papel central da mesoregião do estado.
Em 1836, Antônio Gonçalves da Silva Mascarenhas comprou a fazenda de São
Sebastião, a 9 km de onde hoje está localizada Curvelo. Além das atividades normais de uma
fazenda da região, como culturas tradicionais e gado, observa-se a presença de doze teares de
pau, para produção de vestimentas dos escravos e ensacamento dos produtos da lavoura. A
escolha do local se devia à presença de uma excelente queda d’água e estava localizada no
centro de uma zona produtora de algodão. Em 1884, foi montada na fazenda uma verdadeira
fábrica, com 40 teares e 75 operários (mulheres e crianças escravas), formando a primeira
sociedade anônima do estado de Minas Gerais: a Cia. de Fiação e Tecidos Cedro &
Cachoeira, datada em 30 de dezembro de 1882. Curvelo começava a se destacar como centro
algodoeiro, o que se consolidou de fato com as medidas de incentivo advindas da esfera
federal.
Na cada de 1920, o Governo Federal pôs em prática uma série de medidas que
visavam incentivar e aumentar a indústria de óleos vegetais. O setor de óleo de caroço de
algodão foi o que mais se aproveitou da legislação. Em 1922, o Governo Federal foi
autorizado a conceder isenção de direitos de importação sobre máquinas e equipamentos para
o uso na fabricação de óleos vegetais, incluídas descaroçadeiras e prensas. No início do ano
de 1924, por um decreto (n.º 16.396, de 27 de fevereiro de 1924)
33
o Governo Federal usou os
poderes conferidos pela lei para conceder amplos incentivos ao cultivo do algodão e às
atividades de descaroçamento e fabricação de subprodutos do algodão
34
. Dentre os benefícios
deste decreto, destaco os pontos que se referem à importação de máquinas e equipamentos, ao
transporte gratuito, nas ferrovias e companhias de navegação do governo, de sementes,
inseticidas e fertilizantes e em especial à isenção de todos os impostos federais sobre o
cultivo do algodão e as atividades de descaroçamento e enfardamento”.
Chamo a atenção, pois com este decreto a produção algodoeira da década de 1930 no
país teve um desenvolvimento extraordinário. Diferentemente do cenário mineiro, retratado
32
Ver anexo B.
33
Suzigan (2000, p. 340).
34
Sobre o aumento da indústria de óleos vegetais ver Suzigan (2000, p. 334).
63
no subitem 2.2 “As Transformações das décadas de 1930 e 1940”, onde a área de produção
do algodão diminuiu. Em Curvelo, segundo depoimentos, a produção aumentou, seguindo a
tendência do algodão nacional da década de 1930, até a década de 1940, a partir deste
momento, começou a dar lugar à criação de bovinos da raça zebuína.
Da década de 1940 até os dias atuais, a economia curvelana se diversificou pouco,
mantendo-se forte a criação de gado, mas damos destaque ao crescimento do rebanho leiteiro,
que proporciona hoje ao município o destaque de um dos maiores produtores de leite do
estado de Minas Gerais. Nas décadas de 1980 e 1990, o município manteve-se sempre em
primeiro lugar.
Houve também alteração em sua vegetação original do cerrado, modificada pela
expansão das pastagens e plantação de eucaliptos. Após 1960, tornou-se um dos principais
municípios de Minas Gerais no reflorestamento de eucalipto. Hoje o eucalipto é uma das
maiores fontes de renda e emprego do município, gerando aproximadamente cinco mil
empregos diretos e indiretos nas empresas reflorestadoras, baseadas na região rural de
Curvelo. Curvelo hoje produz (dois terços) das mudas de eucaliptos do Brasil, destinadas
ao reflorestamento, sendo líder na produção e desenvolvimento de tecnologias e maquinários
para este setor.
Segundo o IEF (Instituto Estadual de Florestas), é um dos mais arborizados
municípios do estado, onde predominam espécies florestais como Sibipiruna e Oitti e ocupa
também as primeiras posições na produção agropecuária do país de gado zebu.
Atualmente Curvelo é um município com população, estimada em 2004, de 71.871
habitantes. Como se verá adiante, nos anos 1940, a grande maioria da população de Curvelo
estava situada na zona rural. No passar de trinta anos o quadro se inverteu, supostamente
modificado pelo exôdo rural da população na busca de melhores condições de vida no meio
urbano.
A cidade de Curvelo, assim como seu aspecto físico, social e econômico, se
transformou ao longo, principalmente, do século XX; e um dos fatores que contribuíram para
estas mudanças foi sem dúvida a instalação da Fábrica Maria Amália.
3.2.
A relação cidade e fábrica e a reconfiguração do espaço urbano na década de
1940
Entrevistador: Que lembranças o senhor guarda do tempo em que trabalhou na
Fábrica?
64
Entrevistado: Muitas lembranças, da minha juventude, juntamente com os colegas e
chefes, vendo o quanto a cidade de Curvelo crescia, com o salário que era pago pela
empresa. Com meu trabalho tive condições de casar e criar minha família.
35
A cidade de Curvelo, segundo José Teófilo da Silva (servente de pedreiro em 1940;
operário na construção da fábrica, carpinteiro, ex-líder sindical e presidente do Sindicato dos
Trabalhadores Têxteis de Curvelo), em 1941 era a representação do atraso: sem emprego, ruas
totalmente de terra, sem rede de esgoto e água encanada, com a colheita de algodão sendo a
melhor alternativa de sobrevivência encontrada na cidade. Outros empregos eram
encontrados, mas sempre destinados a funcionários públicos, abastados e pessoas com um
maior grau de instrução escolar. Às pessoas sem instrução restavam os empregos na lavoura
ou de prestação de serviços como carpinteiros, pedreiros e serventes.
Na cidade não se encontravam indústrias ou fábricas, segundo os depoimentos
colhidos. Curvelo era a representação do atraso de uma cidade do interior, sem as mínimas
condições de vida e emprego. Para Vanda de Oliveira Silva, ex-tecelã, fiscal de pano e
passadeira de 1943 até 1973, a vantagem em se trabalhar na fábrica no período de sua
inauguração baseava-se na situação em que a cidade se encontrava, “... a vantagem é porque
aqui nunca teve emprego, foi o primeiro emprego que teve aqui pra salvar a população, foi a
fábrica né”. Quando questionada sobre a importância da fábrica, esta responde que “... foi
uma beleza, Curvelo melhorou demais, nossa Senhora, melhorou Curvelo, melhorou o
comércio, melhorou tudo, melhorou demais a fábrica aqui em Curvelo.” Implantar a Fábrica
Maria Amália, segundo José Teófilo, foi para a cidade de Curvelo o maior acontecimento,
sendo os méritos destinados à figura de Viriato Mascarenhas, prefeito no período.
A Fábrica Maria Amália influenciou e mudou os modos de vida dos curvelanos com a
sua instalação na década de 1940. A cidade neste período tinha como base econômica a
agricultura e a pecuária. A chegada de uma fábrica de tecidos à cidade representava o
progresso, a inovação, a modernidade, a integração de Curvelo com o mundo e o que este
tinha a oferecer.
Relatos de ex-funcionários e de pessoas que ainda trabalham revelaram que a
implantação de uma indústria foi para a época a grande novidade para a cidade e a região.
Várias pessoas se aglomeravam nos portões da fábrica entre as trocas de turno devido ao
35
Fonte: Pré-Projeto de pesquisa; Fábrica Maria Amália: “Do sonho a realidade”; Museu Vivo de História Local
da Faculdade de Ciências Humanas de Curvelo (FACIC). Entrevista feita com Carlos Alves, mecânico de
produção de 1944 até 1994.
65
grande número de trabalhadores (aproximadamente 1700), algo que acontecia somente em
missas e finais de semana na praça principal da cidade. Esta aglomeração devia-se também a
presença de açougue, cinema, igreja, do primeiro sacolão de verduras da cidade e uma loja
que vendia os retalhos da produção.
A Fábrica Maria Amália, ao se instalar na cidade de Curvelo, trouxe consigo novos
métodos e novas formas de se administrar e gerir uma empresa. Se observarmos atentamente a
bibliografia sobre a cidade a respeito da época, pode-se ver que a fábrica, em relação aos
demais empreendimentos instalados no município, se destacava pelo seu porte e por seus
novos métodos de se atender a algumas necessidades do trabalhador da época. Além das
inovações criadas para se atender à população da cidade, encontrava-se também,
exclusivamente para o trabalhador da Fábrica Maria Amália, farmácia, recreio
36
, mercearia,
escola primaria aos filhos, clube, posto de gasolina e posto médico.
As dimensões que a fábrica ocupava, o capital investido e a estrutura montada para
que a mesma entrasse em operação eram desproporcionais em relação ao que a região
curvelana tinha ou conhecia.
Nota-se que na Fábrica Maria Amália o industrial a construiu pesando em ter o seu
trabalhador próximo dos muros da fábrica ou até dentro, para controlar, disciplinar e até
mesmo vigiar. Para tal, a construção da vila operária se fez necessária, onde foram construídas
em torno de 900 casas próximas à fábrica. O nome dado a esta vila operária foi Maria Amália,
assim como o nome da própria fábrica, uma homenagem à esposa do senhor Othon. A
utilização destas casas era condicionada a um pequeno pagamento descontado em folha,
sendo a condução do cotidiano destes trabalhadores livre, ou seja, poder-se-ia entrar e sair a
qualquer hora na vila, sendo a entrada livre a qualquer pessoa.
Para o industrial Othon, a história havia ensinado que para se evitar greves e
movimentos reivindicatórios por melhores salários, o ideal seria criar uma série de aparatos
que atraíssem o trabalhador até a empresa, vantagens que no inconsciente do trabalhador o
fazia pensar antes de se envolver em movimentos sal
66
prejuízo enorme. Pensando nisto, o industrial construía a sua fábrica tentando evitar estes
atrasos.
Sobre este aspecto, para a cidade de Curvelo a construção da fábrica representava a
implantação de mais de mil empregos diretos e com grandes vantagens, pois a empresa
fornecia casa
38
com água e luz gratuita, escola aos filhos, clube para o lazer, cinema, emprego
garantido para os filhos aprendizes, armazém, barbearia e banco de crédito, vários atrativos
que despertavam o interesse do trabalhador curvelano.
Como se pode notar, as vantagens oferecidas pela empresa servem como inibidor de
movimentos organizados, além de criar a imagem que a empresa é a melhor opção de trabalho
e que zela pelo bem estar do trabalhador, “passando despercebido” aos olhos do trabalhador
os modelos de produção que visam retirar o seu domínio sobre a produção e extrair o limite da
sua capacidade de produção, seja em melhor qualidade, seja no tempo necessário para se
produzir determinado produto. Segundo José Teófilo, “o trabalhador da Fábrica Maria tinha
tudo, ninguém seria bobo de perder aquelas vantagens”, além de serem os únicos que
recebiam salário mínimo da cidade. José Teófilo levanta que o trabalho nas lavouras, como
por exemplo, na colheita do algodão, rendia centavos, algo completamente extraordinário, se
comparado à Fábrica Maria Amália.
Como conseqüência da implantação da fábrica, a infra-estrutura do entorno desta foi
alterada: redes de esgoto e água encanada foram criadas, ruas foram abertas e houve
arborização do entorno da fábrica, que buscavam melhorar a aparência da mesma, assim como
os bairros circundantes. Além de desenvolver o local onde se instalou, a fábrica
proporcionava também a integração com a sociedade local, através de festas e eventos que
integravam a empresa ao cotidiano. Como afirmam Juvenal Pereira Soares e Maria
Auxiliadora Ferreira Soares, casal freqüentador da residência dos Othon (Casa Grande), a
empresa patrocinava festas e campeonatos de futebol a toda a sociedade, além de manterem
serviços abertos para toda as pessoas da cidade. Outro fator que despertava a atenção,
principalmente dos homens, era a troca de turmas às 22 horas, onde a concentração de
pessoas, na sua maioria do próprio bairro da empresa, se tornava alta, tornando a portaria da
empresa um novo “ponto de encontros” da cidade, ou seja, a empresa havia se integrado à
cidade e ao cotidiano da mesma.
A Casa Grande
39
era a residência destinada ao uso dos Othon e está localizada dentro
das dependências da fábrica. Já a sua utilização se dava entre uma ou duas vezes por ano. A
38
Sobre vilas operárias e o aparato montado ao trabalhador, ver Teixeira (1990).
39
Anexo D: Casa Grande.
67
Casa Grande apresenta uma capela nas suas dependências onde eram realizadas as cerimônias
comemorativas do Dia do Trabalho, ou seja, o “patrão” recebia os funcionários em sua
residência, ocorrendo casos de trabalhadores que chegaram a almoçar com o senhor Othon.
Segundo Alice Schimidt Duarte, governanta da Casa Grande de 1947 até os dias atuais, o
senhor Othon
(...) trazia todos os dias que ficava aqui quinze funcionários para almoçar com eles.
Tirava um de cada sessão sem avisar, o funcionário ia do jeito que estava. As
pessoas ficavam inibidas, pois estavam sujas de algodão, mas ele não se
incomodava, e todo mundo ia dar um parecer sobre o que estava acontecendo na
Fábrica. Hoje não acontece isso. (Depoimento Verbal)
40
Alice Schimidt continua demonstrando que o Senhor Othon se diferenciava dos
patrões convencionais: “O Senhor Othon era gente fina demais, gente humana, tratava todo
mundo como gente deles mesmo”. Por sua construção requintada, a Casa Grande já hospedou
figuras ilustres da política brasileira, como: os presidentes Juscelino Kubitschek, João Goulart
e Jânio Quadros e outros políticos como Tancredo Neves, Marechal Lott, Renato Azeredo e
Benedito Valadares.
A praça ou jardim
41
construído pela empresa para a recreação dos funcionários pode
ser descrita pela sua exuberância através do depoimento do General Rocha de Oliveira,
operador de caldeira dede 1949.
Então a vila era uma beleza tinha um jardim ai um trem de luxo, o povo da cidade
vinha freqüentar o jardim da Maria Amália que era em frente o campo de futebol
trem de luxo, então era tudo comentado, bela, vão para o jardim da Maria Amália
todo mundo queria ver a beleza que era.(Depoimento Verbal)
42
o cinema
43
era outra atração da Fábrica à comunidade curvelana, ainda segunda
General Rocha
40
Entrevista concedida por Alice Schimidt Duarte, em novembro de 2004.
41
Anexo D: Iconografia Fábrica, bairro Maria Amália, jardim, Clube Maria Amália, Escola Maria Amália, José
Teófilo, trabalhadores e condições de trabalho.
42
Entrevista concedida por General Rocha de Oliveira, ao Museu Vivo de História Local , em novembro de
2000 e 2004.
43
Chamo a atenção para a questão da hora extra no domingo, pois segundo Satiro Alves Martins, supervisor de
turno a partir de 1942 até 1991, aquele trabalhador que fizesse hora extra no domingo, ganhava como
gratificação uma entrada para o cinema.
68
A coisa melhor que tinha era o cinema não tinha recurso, não era aqueles bancão,
sentavam quinze a vinte pessoas e ligava o aparelho trem de luxo, baratinho naquele
tempo sei que o povo da cidade vinha pra Maria Amália assistir junto com os
empregados maior satisfação cabava o cinema o povo ia pro jardim trem de luxo
beleza...(Depoimento Verbal)
44
Sobre a vila operária, José Teófilo nos a descrição do ambiente e das suas
vantagens. Quando se deu a criação da vila
Os trabalhadores tornaram independentes da cidade. Pois a vila tinha farmácia, loja,
açougue, cinema, igreja, armazém clube, campo de futebol, parteira, médico.
Tínhamos de tudo, inclusive remédio de graça. Tinha até música, o JAZZ, baile de
quinze em quinze dias, teatro. Era uma vida de conforto e todos ganhavam bem. O
salário mínimo naquela época valia mais, nhamos uma situação muito boa. Os
bailes eram para os empregados, mas vinha convidados de fora, eu mesmo levei
muitos. (Depoimento Verbal)
45
Além destes benefícios, o bairro contava ainda com uma guarda particular que fazia
a segurança das residências. General Rocha de Oliveira afirma que “não era preciso nem da
gente vir até o centro da cidade”(Depoimento Verbal)
46
. Há que se destacar neste momento a
fala de Satiro Alves Martins, que foi supervisor de turno trabalhando quarenta e nove anos a
partir de 1942, que afirma que
... se não fosse a Fábrica Maria Amália não tinha Curvelo. (...) O crescimento de
Curvelo dependeu muito da Fábrica, quando eu mudei pra aqui só tinha poucas casas
em Curvelo e pegava água em chafariz, depois que mudou pra vila, tinha água, e
isto foi uma vantagem grande.(Depoimento Verbal)
47
As diferenças entre o que a cidade apresentava e as condições de vida do bairro Maria
Amália são evidentes. Na década de 1940, quando se deu a inauguração da Fábrica,
facilmente poderia se ouvir que a empresa e suas instalações poderiam ser consideradas uma
cidade a parte de Curvelo, a sua planta superava o nível de vida da população curvelana.
Chamo a atenção para as fotos aéreas do anexo E, onde podemos notar claramente que a
cidade de Curvelo não estava ligada fisicamente com as instalações da empresa. Mais uma
44
Entrevista concedida por General Rocha de Oliveira, ao Museu Vivo de História Local, em novembro de
2000 e 2004.
45
Entrevista concedida por José Teófilo em março de 2006.
46
Entrevista concedida por General Rocha de Oliveira, ao Museu Vivo de História Local, em novembro de
2000 e 2004.
47
Entrevista concedida por Satiro Alves Martins, ao Museu Vivo de História Local, em novembro de 2000.
69
vez fica evidente que a fábrica se tornava importante no seio da sociedade curvelana, pois o
crescimento da cidade se deu objetivando englobar os limites da Fábrica, seja através da
construção de casas por meios próprios dos funcionários que não foram beneficiados com as
casas cedidas pelo grupo Othon, que o número de casas construídas o era suficiente, ou
por meio da especulação imobiliária que buscava alugar os imóveis aos trabalhadores que
objetivassem residir próximo à empresa.
Sem dúvida a empresa modificou o ambiente da cidade e as relações sociais e até criou
novos locais de integração da população, um novo circuito social fora criado. Tais fatos
demonstram o nível de integração que a empresa alcançou na cidade e com a sua população,
demonstrando que a Fábrica Maria Amália foi e é parte integrante da realidade curvelana.
Esta integração fica mais evidente ainda com a presença da sirene que marca as trocas de
turno e horários de refeições. Como afirma Lopes em sua obra “A tecelagem dos conflitos de
classe”, as chaminés serviam para indicar a dominação, a presença doutrinadora da empresa
sobre os trabalhadores e sobre a cidade de Paulista. A sirene da Fábrica Maria Amália
demonstra similarmente que está presente no cotidiano da cidade, marcando as horas da
cidade e seus acontecimentos.
Assim como Paulista, cidade do interior de Pernambuco, Curvelo, cidade do interior
de Minas, desde sua instalação, acompanha a Fábrica Maria Amália com sua sirene, marcando
e determinando a ritmo da cidade, uma vez que boa parte da cidade pode ouvir o seu toque. A
sirene serve para a empresa determinar aos seus trabalhadores os horários a serem cumpridos.
Independentemente de sua função ser determinada para alertar os seus trabalhadores e os
moradores do bairro da empresa, inevitavelmente esta acaba determinando o ritmo também
para a cidade, como se boa parte da cidade vivesse em função dos horários da empresa, ou se
dependesse do ritmo imposto pela sirene para ajustar os relógios.
Fato interessante a se destacar relaciona-se com o fechamento da fábrica em
1992. Por alguns meses, enquanto a fábrica esteve fechada, durante o processo de compra e
venda por parte de outro grupo empresarial, a sirene não funcionou. Segundo depoimento de
Maria Elizabete de Oliveira, ex-funcionária da tecelagem, assim como nas falas de outros
entrevistados, a falta da sirene fez com que as pessoas ficassem sem um referencial.
3.3.
O crescimento urbano e as transformações da relação fábrica/cidade
As transformações do espaço urbano ao longo das décadas seguintes à implantação da
fábrica em 1941 são visíveis. Curvelo cresceu a sua concentração populacional na área
70
urbana, seja pelo êxodo rural ou pela simples busca de melhores oportunidades. Como se
pode observar, se pegarmos os anos de 1940 e 1991 (um ano antes da troca de administração
da fábrica), é clara e notória a virada nos números da zona rural que detinha a maior
concentração na década de 1940, para a década de 1990, quando verificamos uma virada e um
acréscimo populacional (ver tabela 10), sendo esta consolidação derivante do processo
industrial brasileiro e da melhores condições de vida da sociedade brasileira. Especificamente
no caso curvelano, este é um fator relevante, por ser um município de grandes proporções,
3.292 km², onde o número de residentes no interior tende a ser significativo quando se faz o
levantamento da população total.
Para melhor compreendermos o cenário populacional de Curvelo, primeiro
analisaremos os dados populacionais do Estado, mais precisamente a região central, e depois
nos ateremos aos números de Curvelo. Segundo dados de Wirth (1982), 25% da população
mineira vivia em cidades, em 1940. Este percentual torna-se considerável para a época, se
compararmos com o censo de 1920, onde apenas 11% da população mineira vivia em sedes
urbanas. Ou seja, comparando com o censo de 1940, um acréscimo de 14% demonstra que a
população mineira estava deslocando-se para os centros ditos urbanos para a época, e aqui não
me refiro ao Estado no geral; como foi abordado, a região central de Minas despontava como
forte candidata a receber este fluxo, pois concentrava 43% da mão-de-obra do Estado em
1937 (ver tabela 10) e a construção da Estrada de Ferro Central do Brasil viabilizava o
transporte de pessoas, matéria-prima e produtos acabados.
Na tabela 08 podemos ver no centro de Minas Gerais, incluindo-se nesta análise
Curvelo, uma queda acentuada da população em 1920, com uma ligeira recuperação a
partir de 1940. Isso demonstra que as medidas tomadas por Benedito Valadares surtiram
efeito, ou seja, o incentivo a plantações que dessem sustentação para a implantação de
indústrias em solo mineiro estava gerando os primeiros frutos. O aumento na densidade
populacional do centro do Estado estava igualando com a região Sul confirmando um atrativo
para a população migrar para as cidades centrais do estado, ou simplesmente continuar
estacionada na sua região de origem.
71
TABELA 08
Porcentagem da população nas principais regiões de Minas Gerais (1872-1940)
Zona 1872 1890 1900 1920 1940
Norte 17% 16% 16% 15% 13%
Leste - 4 4 11 15
Centro 26 25 25 16 18
Triângulo 7 6 6 6 7
Oeste 12 12 11 12 12
Sul 19 19 20 21 18
Mata 17 17 18 18 17
Fonte: Wirth (1982, p. 61)
Como Curvelo apresenta-se neste cenário? Se observarmos os dados do crescimento
populacional da cidade, notamos que a implantação de Fábrica Maria Amália, dentro do plano
de expansão do governo Benedito Valadares, foi de fundamental importância para o processo
migratório se observados os dados da tabela 09.
TABELA 09
População residente de Curvelo
Anos Urbana Rural Total
1940 12.423 32.432 44.855
1950 14.156 29.561 43.717
1960 21.772 31.280 53.052
1970 31.134 14.289 45.423
1980 39.809 10.961 50.770
1991 47.987 11.028 59.015
2000 58.697 8.307 67.004
2002 (1) 69.300
Fonte: IBGE, Anuários Estatísticos de 1940, 1950, 1960 e 2002.
(1) Dados preliminares
1939 64.685
Analisando as cadas de 1940 a 1970, pode-se observar claramente como a
implantação de uma indústria no ambiente urbano transforma o meio. Chamo a atenção para
um fator importante nesse período: nos anos de 1948 e 1962, o município perde quatro
72
distritos
48
, sendo o de Felixlândia em 1948 e em 1962 os de Inimutaba, Presidente Juscelino e
Morro da Garça. Nestes momentos, podemos observar um declínio no número total da
população do município, mas a população urbana mantem o seu crescimento de forma
constante.
TABELA 10
Indústria de Minas Gerais - 1937
Região Mão-de-obra Estabelecimentos
Centro 43% 19%
Mata 26 28
Sul 17 31
Total 86% 78%
Fonte: Wirth (1982, p. 94)
Outro dado importante pode ser visto na tabela 10, a princípio podemos ver que parte
significativa dos estabelecimentos industriais estavam concentrados no sul de Minas. Mas a
mão-de-obra estava concentrada, quase que a sua metade, no centro, onde era a “sede também
da indústria de ferro e aço e das usinas têxteis tanto na capital quanto no norte, ao longo da
linha principal da Central do Brasil.(WIRTH, 1982, p. 94). No que tange a Curvelo, a
concentração de mão-de-obra no Centro do Estado pode ser entendida como um fator a mais
de sustentabilidade para a implantação do projeto na cidade, além é claro dos benefícios
auferidos com a Estrada de Ferro Central do Brasil, que permitia, como relatado na citação
acima, o transporte do algodão e de pessoas, assim como o escoamento da produção.
Não podemos deixar de lado os outros fatores que interferiram nestes dados, como a
melhora nas condições de vida e os resultados econômicas conseguidos pelo país neste
período, assim como a ampliação das malhas ferroviária e rodoviária do Estado.
As cidades ao norte de Belo Horizonte desenvolveram-se rapidamente quando a
Central chegou, estimulando a indústria têxtil em Sete Lagoas e Curvelo, que usava
o algodão do norte de Minas, e promovendo a agricultura. (WIRTH, 1982, p. 105).
48
Em 1867, Curvelo sofre a primeira mutilação em seu área, ao perder o território do Curato de Taboleiro
Grande, anexado ao Município de Sete Lagoas. Em 1911, sofre a sua segunda mutilação ao perder o território de
Pirapora, elevado à categoria de cidade. O Município ainda sofreu mais mutilações em seu território em 1923
(Corinto), 1938 (os distritos de Traíras e Santo Antônio da Lagoa, anexados ao município de Cordisburgo pelo
decreto Lei 148 de 17-15-1938), 1948 (Felixlândia) e por último em 1962, quando perdeu os Distritos de
Inimutaba, Morro da Garça e Presidente Juscelino.
73
Mas que se destacar que para a cidade de Curvelo, a Fábrica Maria Amália foi sem
dúvida a base desta transformação.
Como em todo o resto do Brasil, as cidades atraíam os moradores do campo com seu
movimento, seus cinemas, e farmácias, suas escolas e centros de saúde pública e,
acima de tudo, sua oferta de trabalho. (WIRTH, 1982, p. 63).
Ou seja, a cidade de Curvelo desenvolvia-se e passava a ser um pólo algodoeiro
produtor de tecidos crus. A geração de renda e empregos atraía curvelanos residentes no
campo, além de uma melhor condição de vida.
Portanto, a inauguração da Fábrica Maria Amália, em 1941, pode ser entendida como
um dos fatores deste processo migratório. A busca por melhores condições de vida e
oportunidades com certeza foi um dos grandes incentivos. Em Curvelo, é fácil encontrar
famílias que vieram da zona rural para a zona urbana neste período, e os principais motivos
levantados concentram-se na dificuldade de transporte e de vida. A cidade de fato poderia
suprir os anseios destes migrantes.
A oportunidade de se trabalhar em uma empresa têxtil, com boa remuneração e
estabilidade, garantida através do aparato assistencialista, motivou a migração de vários
trabalhadores rurais. Reflexo deste período pode ser observado na quantidade de pessoas em
Curvelo que trabalharam na Fábrica Maria Amália, hoje trabalhadores com idade média de
70 a 50 anos.
O trabalhador recém chegado à cidade via na Fábrica um local potencial para
trabalhar, um trabalho que não requeria estudo, somente força física, no caso dos homens. A
empresa treinava o trabalhador antes de este iniciar as atividades na planta produtiva, o que
garantia padronização, evitando prejuízos e perdas, ou seja, trabalhar na Fábrica Maria
Amália não era “um sonho”, a oportunidade tornava-se viável.
Como levantou José Teófilo, as oportunidades de emprego e renda no município
estavam restritas ao comércio local e à lavoura algodoeira, o que limitava as oportunidades.
Com a instalação da brica este cenário se altera, a economia local se transforma, seja pelo
capital injetado no município ou pelo simples fato da concentração populacional contribuir
com o alavancamento da economia.
A Fábrica Maria Amália criou um novo mercado de trabalho, elevando os salários
pagos, despertando o interesse e forçando o comércio local a seguir a empresa. Um exemplo
desta fala se confirma na loja de retalhos, presente no interior da estrutura produtiva, que
74
vendia retalhos e sobras de panos a preços abaixo do mercado. A presença desta loja de fato
forçou o comércio local a se adequar à nova realidade.
Traçando um paralelo da inauguração até os dias atuais, é preciso notar que no
decorrer de rias décadas a situação da Fábrica Maria Amália se alterou. A sirene ainda
continua marcando presença, mas as funções da fábrica, de grande geradora de empregos e
excelentes remunerações, não se condizem mais. A realidade dos curvelanos alterou-se, a
fábrica deixou de ser a única alternativa de emprego e inovações da cidade. O emprego
diversificou, o eucalipto e a gado bovino deram ao município outro tipo de receita econômica,
além de Curvelo ter se tornado um centro de serviços e comércio, em função de sua
localização geográfica.
Mas é interessante ressaltar que a fábrica volta a ser foco de interesse, e isto pode ser
comprovado com o número de currículos entregues no departamento pessoal. É lógico que a
questão predominante hoje em se escolher a Fábrica Maria Amália não é a mesma. Com a
oferta de emprego cada vez mais declinante e a oferta de mão-de-obra sempre crescente, a
busca por um emprego sólido, que ofereça todos os direitos trabalhistas aos seus 1.055
trabalhadores, que ganham cestas básicas, plano de saúde entre outros benefícios, com certeza
atrai candidatos.
Parte da população curvelana se obrigada a trabalhar na empresa, uma vez que não
se tem alternativas. que se notar também que a empresa controla todos os processos
produtivos, e o processo de terceirização ainda não chegou à empresa, o que garante ao
trabalhador melhores salários, em relação à atual situação dos trabalhadores da indústria no
Brasil.
Portanto o cenário alterou-se, mas a empresa continua influindo, salvo as mudanças
econômicas e mercadológicas atuais, na questão empregatícia. Qualquer empresa, para a
realidade curvelana, que gere 1055 (um mil e cinqüenta e cinco) empregos diretos tem o seu
valor reconhecido para a comunidade do município.
75
4. A FÁBRICA MARIA AMÁLIA E A CIDADE DE CURVELO
4.1. A Fábrica Maria Amália e suas relações de trabalho
O Grupo Othon foi fundado por Othon Lynch Bezerra de Mello
49
, nascido em
Limoeiro, estado de Pernambuco, em 1880 e falecido em Recife, em 1949, aos 69 anos de
idade. Em 1905, aos 25 anos, o Sr. Othon iniciou sua trajetória de empresário de sucesso, com
uma pequena loja de tecidos que, em 1909, recebeu o nome de Othon & Mendes. Em 1925,
ele adquiriu em Pernambuco, a Fábrica de Tecidos Apipucos, mais tarde, o Cotonifício Othon
Bezerra de Mello S.A. Em 1941, a empresa se expande para o sul do país, adquirindo fábricas
de tecidos em Curvelo (MG) e S Aleixo (RJ). Somente em 1943, o Sr. Othon resolveu
diversificar seus negócios fundando a Companhia Açucareira de Stº André do Rio Una. No
final de 1943, fundou a Companhia Brasileira de Novos Hotéis, hoje conhecida como Hotéis
Othon.
O Grupo empresarial Othon Bezerra de Mello possuía uma diversidade de
investimentos na década de 1940, sempre buscando reinvestir o capital acumulado. Esta
diversidade de investimentos se comprova com a composição estrutural do grupo, tendo
participações em ramos, algumas vezes não afins, como a rede de hotéis “Othon Palace”,
imobiliárias, indústrias têxteis, indústrias açucareiras e importadora.
No caso específico da Fábrica Maria Amália, a figura do prefeito Viriato Mascarenhas
Gonzaga foi decisiva para a implantação do projeto, como podemos observar:
Othon Bezerra de Mello ouvira falar de Curvelo, nos idos de 1941. Ele fora
procurado no Rio de Janeiro por Viriato Mascarenhas Gonzaga, seu jovem e ativo
Prefeito, que pretendia transformar a pequena cidade de então em prospero centro
industrial. Curvelo, apesar de pequena, já era então, um importante centro de
produção de algodão da região e o seu dinâmico e operoso prefeito estava decidido a
estimular todo o potencial de seu rincão.
50
Viriato apresentou as vantagens que o município possuía para a implantação de uma
indústria têxtil, como: linha férrea
51
e estrada rodoviária
52
que faziam a ligação da cidade com
49
Ver anexo C.
50
Fonte: Folder comemorativo dos cinqüenta anos de existência da fábrica na cidade de Curvelo.
51
A EFCB (Estrada de Ferro Central do Brasil) chegou a Curvelo em 05/09/1904.
52
A BR 135 faz a ligação de Curvelo e a região central de Minas Gerais com o nordeste, chegando até São Luiz
no Maranhão.
76
a capital do estado; estava situada no centro geográfico de Minas Gerais, o que facilitava o
escoamento da produção para qualquer parte do país, principalmente para o Estado de São
Paulo e para Belo Horizonte; fontes de água; doação do terreno onde seria construída a
brica; potencial hidroelétrico através da usina da Ulha Branca, fundada em 1927 para
atender as necessidades da região; e a grande produção de algodão na época
53
, na região de
Curvelo. Contava também com o apoio político e financeiro do governo estadual na figura do
governador Benedito Valladares, primo de Viriato, que assegurou total apoio à consolidação
do empreendimento, dentro da sua política de expansão industrial.
Sobre o apoio político garantido ao grupo Othon para a implantação do projeto
podemos destacar o texto comemorativo aos cinqüenta anos da empresa na cidade onde se
afirma que “... foi o governador Benedito Valadares, homem de grande visão e sensibilidade
política e social quem convidou Othon Bezerra de Mello a levar para Minas o seu talento
empreendedor, assegurando-lhe desde logo o total apoio do seu governo.”
O apoio promovido pelo governador Valladares resultou na facilitação da compra das
terras em torno do lago da Companhia Luz e Força Ulha Branca, no distrito de Paraúna, que
forneceria energia elétrica para a fábrica e cidades circunvizinhas a Curvelo, como Corinto,
Diamantina, Gouveia e Sete Lagoas. Segundo José Antônio Cardoso; escriturário da Ulha
Branca em Curvelo (funcionário de 1971 até 20 de junho 1978, quando foi transferido para a
CEMIG), o fornecimento era inconstante e insuficiente para atender à demanda a qual a
Fábrica Maria Amália necessitava; para que a mesma pudesse dar o suporte necessário para a
concretização do empreendimento, deveria ampliar a sua capacidade instalada.
O nome: Fábrica Maria Amália, foi uma homenagem à esposa de Othon Bezerra de
Mello. O capital social inicial foi de 5.000:000$000 (cinco mil contos de réis). A fábrica
ocupava uma área de 280.000 m², produzia tecido cru
54
, vendido na sua maioria para
estamparias ou tinturarias da grande São Paulo. Em 1991, produzia anualmente 740 mil
metros lineares de tecidos ou 1.406.000 metros quadrados. Empregava em torno de 1.200
trabalhadores em cinco turnos de produção ininterruptos, vinte e quatro horas por dia,
mudando e transformando o cenário urbano-rural da cidade de Curvelo, além das relações de
trabalho.
53
A produção algodoeira era suficiente para sustentar a Fábrica Maria Amália e a Cedro Cachoeira, ambas
localizadas no município. A quantidade exata da produção de algodão do município não foi encontrada, apenas
comentários. Para os dias atuais, a produção é considerada insignificante, somente para subsistência, que a
lavoura foi trocada pela criação de bovinos, da raça zebuína e pelo cultivo do Eucalipto.
54
As peças produzidas tinham a largura de 2,20 m., 1,65 m. e 1,43 m..
77
Othon Bezerra de Mello foi também um intelectual. Recebeu prêmios literários das
Academias de Letras de Minas Gerais, Pernambuco e Alagoas. Parte interessante deste folder
retrata a vida e o trato do empresário Othon com seus funcionários:
Sempre foi um devotado ao trabalho e reconhecido por seus funcionários como
homem justo e preocupado como o bem-estar social da comunidade na qual atuava.
A justiça raramente era acionada para resolver questões trabalhistas, os
compromissos de direitos e deveres entre empregado e patrão sempre prevaleceram
nas empresas do Grupo Othon.
55
A imagem que temos da indústria têxtil, principalmente a que foi retratada em dezenas
de filmes a respeito da Revolução Industrial e da incipiente industrialização brasileira,
apresenta-se como aquela em que vemos um número acentuado de mulheres e crianças
trabalhando, em jornadas de quatorze ou até dezoito horas diárias, com os chefes de sessão a
todo o momento cobrando e controlando os trabalhadores para que os níveis de produção não
caíssem. Diferentemente desta visão, na Fábrica Maria Amália não eram encontradas crianças
menores de 14 anos, pois a legislação do período não permitia o ingresso de crianças menores
desta idade.
A composição da mão-de-obra da Fábrica Maria Amália era na sua maioria feminina,
sendo que aos homens eram atribuídas as tarefas que exigissem força física
56
. Desta forma, a
presença de homens era notada em determinados setores, sendo a concentração de
mulheres principalmente na fiação e tecelagem. As condições de trabalho não se diferenciam
da realidade a que a indústria têxtil historicamente sempre teve: a de exploradora da mão-de-
obra em ambientes insalubres
57
. Mas pelo fato da empresa ter sua origem no governo Vargas,
as questões trabalhistas sempre foram respeitadas, tendo os trabalhadores todos os seus
recém-adquiridos direitos trabalhistas assegurados, assim como algumas condições de
trabalho.
O ambiente têxtil fabril da Fábrica Maria Amália provinha um avançado sistema de
aspersores
58
e de resfriamento do telhado que, além de evitarem a quebra dos fios na
tecelagem, mantinham a umidade alta no ambiente. Este sistema era inovador para a região e
foi apresentado pela empresa à comunidade como um sistema apropriado para manter a
qualidade do ar para os trabalhadores, respeitando assim a legislação governamental; tornando
55
Fonte: Folder comemorativo dos cinqüenta anos de existência da fábrica na cidade de Curvelo.
56
Relatos dos trabalhadores do período.
57
Sobre condições de trabalho, insalubridade em ambientes fabris e mão-de-obra, ver Giroletti (1991); Matos
(1996); Teixeira (1990); Weid (1986).
58
O nome dado pelos funcionários ao sistema de aspersores era “ventilador de água.” Ver anexo D.
78
menos insalubre o ambiente aos trabalhadores. Chamo a atenção para a criação do sistema de
aspersores e resfriamento do s f2(s)-1.231 o sirese683436(h)-0.29558556(h)58.15215(a)3.7a029(e)3.74(s)-1.22173.74( )-40.1702(a)3.s fsão 26571rã ei0.146090744(s)-13.74(r)-40.170.64 Tç029(e)3.7a0-0.29,95585(7792 )-132.14379c2.80439(i)-12.170320029(r)2.89(i)-12.1703(a)32.14379s32.14379p97(a)3.74(l)-2.16558(.290.146571585(i)-(a)3d)-0.2936(h)-0.295585(a)3558()-132.14379i aa a ae829(e)3.77(f)-7.(a)32.1435(20029(r)2.8á074(r).265)-4071 .1642(t)-2l29(e)3.74(s32.1435(85(a)3.74(d)56(h)78.44415(a)3.7.2659(5585.74(ã)3.74(o(o)-0.29558(s5( 26571)3.74(r)02(s)-1.231ó(0.1702(a)3-40.1702(a)3.s)-1.231Td[( ),95585(r)2.804333(a341)f-2.162299.294974.74(o(o)-0.277574(s32.1435(c029(e)3.79(i)-12.1703-40.1702(a)3.2659(5585(o)-0.2955840.197(f)-7.00f)-7.(s)-1.22997( )-4040.197(f)-7.200.29446239-7.32.1435(4(m)-2.46239(a29(e)3431)-132.1435(u(m)-2.46239)-0.29558536(0.1 )-9( )-40.170278.444193142(e)3.74.294974(e)3.b294974(e)3.744(s)-1i74.295585(g)9.7109313.74(r)t3.s)-1-170ó(i0.146571(s)-1.558(4(s)-1.2299)-0.294363( )-128.1413 o)-0.29)-128.1413 244( )2)-128.14139-40.1702(a)3)2.80439(i.294363( )-128.14139u(i.1702(a)3o)-0.29585(4(s)-1.22995585( )-1704(s)-1.9558z029(e)3.7a0-0.29)3.74(r)2.80439(i)-12.1703(a)28.14139t)-12.1715(o)-0.294363( 5( )-40.1704328.1413920029(r)2.8o)-0.295( )-40.1720029(r)2.89(i)-12.170350]TJ0.17,95585(r)2.804328.141393.74( la8(e)-650]TJ-8771)-0.294363( )-128.1413940.197(f)-7.00f)-7.t)56(h)7f)-6115(a)3.700-0.29c97( )-t3.s)-1.231997( )540.197(f)-7.)-0.294363( )-128.14139po48(e)-6l3.s l.a sê.74( )-400.146571c2.8043 fr la8(e)-650]TJ-p fe740.1770.248(e)-6 -40.1702(a)3c2.8043 f a s6.218297(f)-7.o00-0.29-40.1702(ad97(a)3.74(la8(e)-6)-15)3.7618d97(a)3.74(la8(e)-6)-16.21829c.74( .164d)56(h)52.62915(a)3.7.2659(5585t3.s)-1.231997( )5te
79
ABANHADEIRA Nº 1 ABANHADEIRA Nº 2 AB ANHADEIRA Nº 3 ABANHADEIRA Nº 5 ABANHADEIRA Nº 5
M A Q U I N A D E R O LO
ABANHADEIRA Nº 7ABANHADEIRA Nº 8 ABANHADEIRA Nº 6
21000
21000
22000
23000
24000
25000
26000
26000
27000
27000
31000
32000
3 3 0 0 0
3 4 0 0 0
35000
36000
35000
41000
42000
43000
4 4 0 0 0
50000
6 1 0 0 0
6 1 0 0 0
42000
DE 5
PR 21001
BF 21004
PV 21003
PP 21002
FL 26001
FL 26002
FL 26003
FL 26004
FL 26005
FL 26006
FL 26007
FL 26008
FL 26009
FL 26010
FL 26011
FL 26012
FL 26013
FL 26014
FL 26015
FL 26016
FL 26017
FL 26018
FL 26019
FL 26020
FL 26021
FL 26022
FL 26023
FL 26024
FL 26025
FL 26026
FL 26027
FL 26028
FL 26029
FL 26030
FL 26031
FL 26032
FL 26033
FL 26034
FL 26035
FL 26036
FL 26045
FL 26046
FL 26047
FL 26048
FL 26049
FL 26050
FL 26051
FL 26052
FL 26053
FL 26054
FL 26055
FL 26044
FL 26043
FL 26042
FL 26041
FL 26040
FL 26039
FL 26038
FL 26037
FL 26056
FL 26057
FL 26058
FL 26059
FL 26060
FL 26061
FL 26062
FL 26063
FL 26064
FL 26065
FL 26066
FL 26067
FL 26068
FL 26069
FL 26070
FL 26071
FL 26072
FL 26073
FL 26074
FL 26075
FL 26076
FL 26077
FL 26078
FL 26079
FL 26080
FL 26081
FL 26082
FL 26083
FL 26084
FL 26085
FL 26086
FL 26087
FL 26088
FL 26089
FL 26090
RT 26091
BB 27001
BB 27002
BB 27003
BB 27004
BB 27005
BB 27006
BB 27007
BB 27009
BB 27008
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CD 23031
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M
Q
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0
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TB 42003
TB 42004
SC 43001
SC 43002
SC 43003
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AB 42001
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AB 42003 AB 42004
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C L 6 1 0 0 1 S
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TH 36033
TS 37019
TS 37020 TS 37021 TS 37022
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TS 37054
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TS 37045 TS 37052 TS 37064 TS 37065 TS 37066 TS 37067 TS 37068 TS 37069 TS 37070
TS 37071
C P 6 4 0 0 3
C P 6 4 0 0 2
CP 64001
TS 37058 TS 37058 TS 37058
TS 37058TS 37022TS 37021
TS 37053
TS 37054
27
14
18
29
TS 37052
TS 37058 TS 37058 TS 37058
TS 37058TS 37022TS 37020 TS 37021 TS 37059 TS 37058TS 37058 TS 37058
TS 37058TS 37022TS 37021 TS 37059 TS 37058TS 37058 TS 37058
TS 37043
Planta da Fábrica Maria Amália
Fonte: Fábrica Maria Amália
80
Figura 01 - Organograma: Divisão produtiva da Fábrica Maria Amália
Fonte: próprio autor
Depósito
O depósito é constituído de duas partes, sendo a primeira destinada à estocagem da
matéria-prima, o algodão, que chega em fardos pesando em média de 100 a 120 quilos. A
segunda parte destina-se ao recebimento das sobras da produção, desde os batedores até a
expedição. Qualquer sobra ou produto inadequado à comercialização retorna ao estoque a fim
de ser reaproveitado, e a este processo dá-se o nome de retorno ou reprocesso
60
.
60
A Fábrica Maria Amália tem a menor perda da indústria têxtil do Brasil no processo de Fiação, chegando a 6%
de perda, desde a entrada do algodão nas Cardas até sua saída nas Bobinadeiras.
Gerência
Depósito
Fiação
Tecelagem
Deposito de
algodão
Maçaroqueiras
Filatórios
Bobinadeiras
Batedores
Cardas
Passadores
Acabamento
Alvejamento
Secadeiras
Retorno das
so
bras
Controle de
Qualidade
Urdideiras
Engomadeiras
Teares
Abanhadeiras
Dobradeiras
Embalagem
Expedição
81
Depósito (Legenda 21000)
Fonte: acervo pessoal
Fiação
O grande problema e um dos maiores gargalos da indústria têxtil consiste em dar
resistência ao fio do algodão, para que o mesmo suporte o processo de tecelagem, sem que se
rompa, garantindo assim maior produtividade evitando a parada do tear. Durante o processo
de transformação no setor de fiação, as máquinas trabalham no intuito de reduzir o algodão,
transformando-o em fios resistentes, ao passo que também ocorre o processo de limpeza como
o de sementes do algodão, terra e ciscos presentes, que poderão atrapalhar a produção. Há que
se destacar que até o último processo do filatório, que se consiste nas Bobinadeiras, o algodão
sofre diversos processos de purificação.
O processo de se fazer tecido inicia-se nos Batedores, que são destinados a abrirem o
algodão enfardado. Neste momento o algodão é transformado em rolos para o melhor
beneficiamento, retirando parte das impurezas que a matéria-prima apresenta. As Cardas
recebem os rolos produzidos pelos Batedores; nesta fase os rolos, que se parecem com
mantas, são transformados em fios de espessura aproximada de uma polegada. Nos
Passadores, o algodão passa por dois processos. No primeiro, os fios que vêm das cardas são
82
reduzidos em espessura ganhando mais resistência. No segundo processo, o fio será reduzido
novamente, o que lhe dará resistência suficiente para suportar a tensão ao qual será submetido
nas Maçaroqueiras. Nas Maçaroqueiras o fio novamente será reduzido em um processo onde
este será esticado. Ao final o fio se torna frágil, sendo enrolado nas canelas (no formato de um
cone), formando assim os pavios que serão encaminhados para os Filatórios. No Filatório o
fio terá sua espessura novamente reduzida, mas diferentemente do fio produzido pelas
Maçaroqueiras, este resiste melhor à tensão a que se exposto. Na bobinadeira, o fio
novamente é reduzido e sofre o último processo de limpeza da Fiação, sendo enrolado em
bobinas. Neste último processo, o fio é preparado para ser enviado à Tecelagem. Há que se
ressaltar a quebra de continuidade que existe entre a Fiação e a Tecelagem, uma vez que a
produtividade dos filatórios tem de ser superior à da tecelagem, pois o processo de fazer
tecido requer grandes quantidades de bobinas. A Fiação deve controlar a produtividade para
que não falte e nem sobre produção. Ambas, separadamente, são processos contínuos;
entretanto, há uma quebra do processo quando se passa de uma para outra, altera-se o
processo de produção.
Batedores (Legenda 22000)
Fonte: acervo pessoal
83
Batedores (Legenda 22000)
Fonte: acervo pessoal
Batedores (Legenda 22000)
Fonte: acervo pessoal
84
Batedores (Legenda 23000)
Fonte: acervo pessoal
Cardas (Legenda 23000)
Fonte: acervo pessoal
85
.
Mantas que serão encaminhadas aos Passadores
Fonte: acervo pessoal
Passadores (Legenda 24000)
As mantas são transformadas em fios e passadas para latas.
Fonte: acervo pessoal
86
Maçaroqueiras (Legenda 25000)
Primeira etapa.
Maçaroqueiras (Legenda 25000)
Segunda etapa onde os fios são transferidos para pavios. Pode-se notar a suspensão de partículas no ar.
Fonte: acervo pessoal
87
Filatórios (Legenda 26000)
Fonte: acervo pessoal
Máquinas da Fiação (Legenda 27000)
Fonte: acervo pessoal
Filatórios reduzindo os fios que vieram das Maçaroqueiras
Fonte: acervo pessoal
88
Bobinas sendo enroladas.
Fonte: acervo pessoal
Bobinas prontas para as Urdideiras ou para os teares.
Fonte: acervo pessoal
89
Tecelagem
No processo de urdissagem, as bobinas são passadas pela Urdideira, onde se unem e
aliam os fios. Em média, para a Fábrica Maria Amália, são quinhentas bobinas, mas esta
quantidade depende do artigo a ser fabricado. As bobinas são dispostas de tal forma que são
transferidas para um rolo, cada bobina é um fio da Urdideira. Na Engomadeira, os fios são
engomados, onde a goma (mistura química heterogênea) é aquecida com o vapor vindo de
uma caldeira. A Engomadeira cria uma película ao redor do fio com o objetivo de diminuir o
atrito com a partes mecânicas do tear, aumentando a sua eficiência. Depois deste processo, é
enviado aos teares, para se dar o início do processo de fabricação de tecido. Geralmente são
utilizados dois tipos básicos de goma: goma de fécula de mandioca e gomas sintéticas, a base
de poli-acrilato, carboximetilcelulose e álcool polivinílico (PVA). Os rolos vindos da
Bobinadeira, nos teares recebem o nome de trama. A trama é uma bobina com fios de mesmo
titulo (padrão), porém com torção maior do que os fios que passam pelo processo do urdume.
Nos teares, a trama é trançada com os fios do rolo engomado. Essa junção é feita várias vezes,
dando-se assim o processo de se fazer tecido. Todos os teares seguem a mesma idéia básica
da tecelagem, que é: Abertura da Cala, Inserção da Trama e Batida do pente, sendo a
principal diferença de um tear para o outro a tecnologia da inserção do fio da trama. Os
modelos mais antigos tinham iserção por lançadeiras, uma haste de madeira que lançava a
trama em meio aos fios do rolo, mas neste processo havia o rompimento dos fios
constantemente, paralizando a máquina até que o trabalhador fosse emendá-lo. Além da
quebra constante dos fios da trama, os teares de lançadeira, quando a lança se soltava da
máquina, podiam ferir o tecelão se este estivesse próximo. Atualmente os tipos de inserção de
trama mais comuns são por pinças, projétil, jato-de-ar e jato-de-água que dimuem a quebra
dos fios da trama, pois trabalham com fitas e pinças transversais que diminuem o atrito,
evitando assim o rompimento do fio.
90
Urdideiras (Legenda 31000)
Fonte: acervo pessoal
Fios sendo passados para o rolo.
Fonte: acervo pessoal
91
Rolo que será encaminhado à Engomadeira.
Fonte: acervo pessoal
Engomadeiras (Legenda 32000)
Fonte: acervo pessoal
92
Fios sendo engomados e rolo que será encaminhado à Tecelagem.
Fonte: acervo pessoal
Espuladeiras (Legenda 34000)
Faz a passagem dos fios das bobinas para pavios que serão utilizados em outros processos produtivos.
Fonte: acervo pessoal
93
Teares Ribeiro (Legenda 35000)
Visão geral da Tecelagem.
Fonte: acervo pessoal
Rolo que veio da Engomadeira.
Fonte: acervo pessoal
94
Pinça que faz a trançassem da trama com os fios do rolo.
Fonte: acervo pessoal
Tear no processo de fazer tecido.
Fonte: acervo pessoal
95
Teares Howa (equipados com o sistema de lançadeiras)
(Legenda 36000)
Tecelã fazendo a emenda do fio da trama.
Fonte: acervo pessoal
Braço da lançadeira (em madeira).
Fonte: acervo pessoal
96
Acabamento
O alvejamento consiste no branqueamento e limpeza do pano, de forma mais apurada,
para a obtenção de uma malha ou tecido com bastante nitidez e uniformidade. O tecido de
algodão bruto não é branco por completo, as sujeiras da matéria-prima são um problema para
as fases de alvejamento e tingimento
61
, portanto se faz necessário tratá-lo, buscando-se o
branco ótico e condições para tintura em cores claras. Nestes processos de alvejamento,
seguem-se lavagens com água limpa. O hipoclorito de sódio e o peróxido de hidrogênio são
alguns dos produtos químicos utilizados nesta etapa. Após o processo de alvejamento, o
tecido é encaminhado para as Secadeiras, onde a umidade do processo de alvejamento deve
ser eliminada. Após a secagem, o tecido é encaminhado para as Abanhadeiras, que cortam o
tecido no tamanho desejado. As Dobradeiras, especificamente para a produção da Fábrica
Maria Amália, cortam o tecido novamente no tamanho da gaze, o principal produto da
empresa, finalmente dobrando-o. Após as Dobradeiras a produção destina-se ao setor da
Gazinha, onde esta será esterilizada. Após a esterilização o produto é acondicionado em
embalagens padronizadas destinadas ao consumidor final. O produto acabado fica no estoque
até ser despachado para a comercialização ou para o setor da Gazinha, uma unidade a parte
das instalações destinada ao processo de esterilização do material. o Controle de Qualidade
fica responsável por analisar a qualidade de todos as fases da produção. Caso a produção não
alcance os níveis desejados, o produto volta à fase inicial, percorrendo toda a cadeia produtiva
a fim de corrigir o problema. Destina-se também ao estudo dos números da fábrica,
recolhendo e analisando a produtividade de cada setor específico
62
.
Este organograma descreve a disposição da Fábrica Maria Amália e seus setores
produtivos. Além destes setores, a planta da empresa contava com oficina mecânica,
caldeiraria, carpintaria e tornearia, todos destinados a manutenção e funcionamento da
empresa.
61
A Fábrica Maria Amália nunca foi dotada de um setor de Tingimento. Sob a administração Othon, a produção
era destinada a estamparias de São Paulo. A Labortêxtil não necessita deste processo, uma vez que produz
material médico-hospitalar, não sendo preciso tingir o produto.
62
O caminho físico que o algodão faz dentro da empresa, desde a sua entrada até a expedição, pode ser visto na
planta da fábrica no anexo D: Planta da Fábrica Maria Amália.
97
Enroladeiras (Legenda 41000)
Enroladeira passando o tecido para rolo maior.
Fonte: acervo pessoal
Alvejamento e Abanhadeiras (Legenda 42000)
Detalhe: Máquinas de Alvejamento.
Fonte: acervo pessoal
98
Rolo pronto para ser levado à máquina de Alvejamento
Fonte: acervo pessoal
Detalhe: A Serra corta o rolo no tamanho desejado, dependendo do produto
Fonte: acervo pessoal
99
A Abanhadeira passa o tecido para rolos menores.
Fonte: acervo pessoal
Secadeiras (Legenda 43000)
Podes-se ver o excesso de água sendo retirado do tecido (analisar canto inferior esquerdo).
Fonte: acervo pessoal
100
O tecido passa pelos rolos para que o excesso de água seja retirado.
Fonte: acervo pessoal
101
Expedição (Legenda 50000)
Produto aguardando carregamento.
Fonte: acervo pessoal
102
Caldeiras (Legenda 61000)
Fonte: acervo pessoal
Para o contexto da época, a Fábrica Maria Amália era um modelo a ser seguido, de
organização, de como produzir e respeitar o trabalhador. A disposição da empresa, as
condições de trabalho e a presença de adolescentes somente acima de quatorze anos, revelam
as evoluções que o país havia sofrido, assim como o respeito da legislação trabalhista da
época por parte da empresa.
Ao analisarmos os aspectos de controle dos níveis de produção e disciplinarização da
mão-de-obra, utilizados pela empresa, verificamos o uso de benefícios acoplados ao emprego,
como residência (vila operária), escola aos filhos, creche, clube, banco de crédito, armazém a
baixo custo, farmácia, enfermaria e até um cinema, que faziam o principal papel de controlar
os níveis de produção e disciplinarizar a mão-de-obra, e que foram utilizados na Fábrica
Maria Amália. Como se pode observar:
A Companhia Têxtil Othon Bezerra de Mello, como outras unidades do Grupo
Othon, preocupa-se, também, com o bem-estar de seus funcionários. É por isso que
existe na cidade de Curvelo, como apoio as atividades da Fábrica, o Clube Maria
Amália que promove animados bailes e horas dançantes e oferece aos 800
associados, salões de jogos, bar e restaurante. O Clube foi constituído pela Empresa,
103
mas é sustentado pelos empregados que têm na cidade outra grande paixão: o azul e
branco Esporte Clube Maria Amália, orgulho de Curvelo
63
.
Internamente, a Fábrica Maria Amália possui a Cooperativa de Crédito Mútuo, ou
seja, um Órgão que funciona especialmente para proporcionar empréstimos, em dinheiro, aos
seus funcionários.
A punição para os trabalhadores que infringissem alguma regra ou não alcançasse o
nível de produção ia desde uma simples advertência, como a própria demissão do trabalhador
(o aparato montado ao trabalhador e a sua utilização como meio de controle, serão discutidos
no Capítulo 4). Casos de insubordinação, atraso, brigas, queda de produção ou
descumprimento das tarefas ou funções determinadas, eram tratados nas “gaiolas”
64
. Existiam
duas gaiolas: uma destinada ao controle da produção, anotações de férias e assinatura de
advertências; e outra destinada ao gerente geral de produção, que controlava e fiscalizava a
produção e os funcionários. Casilda Soares de Souza, auxiliar de escritório, trabalhou nas
duas gaiolas de 1960 até 1974. Em suas palavras fica evidente o controle exercido sobre os
trabalhadores.
Era chamado a gaiola os funcionários que tivessem entrado em brigas ou
desentendimentos. Primeiro chamava a atenção, caso repetisse era assinada uma
advertência e por último recebiam uma suspensão de dois dias... também eram
chamados a gaiola os chefes de sessão quando a produção caia, lá eles faziam
reunião e eram cobrados
65.
Os funcionários sofriam uma grande pressão por parte dos chefes, o medo fica
evidente nas palavras de Maria Elizabete Correia de Oliveira, funcionária da tecelagem, que
trabalhou de 1964 até 1971: “... quando alguém era chamado na gaiola, podia saber que coisa
boa não era.... todos tinham medo... se a produção era baixa, ia todo mundo pra lá.”
66
. Esse
método de controle disciplinar (ver Weid (1986); “O controle fabril”.) era respeitado, pois o
medo e os benefícios que a fábrica oferecia não eram encontrados em outros setores da
63
Fonte: Folder comemorativo dos cinqüenta anos de existência da fábrica na cidade de Curvelo
64
As gaiolas eram salas localizadas no setor de fiação e de tecelagem. A parte da frente dessas salas era revestida
por uma tela, permitindo aos chefes observarem os trabalhadores durante a produção. Mas a função dessas salas
não era para observação, pois foram construídas no mesmo nível em que estão as máquinas, mas sim para que os
outros trabalhadores pudessem ver o que ocorria com aqueles que não seguissem as regras.
65
Entrevista concedida por Casilda Soares de Souza, auxiliar de escritório em janeiro de 2007.
66
Entrevista concedida por Maria Elizabete Correia de Oliveira, funcionária da tecelagem em janeiro de 2007.
104
indústria e comércio da cidade, mantendo o trabalhador nas regras e horários estabelecidos
67
pela administração, sob pena de perdê-los.
No caso aqui estudado, a Fábrica Maria Amália, temos de guardar algumas
particularidades. A proximidade com a capital do estado, diferentemente das indústrias que se
instalavam em fazendas, e mão-de-obra farta, têm que ser levadas em conta, porque para o
período estas características nem sempre eram encontradas pelos industriais para a instalação
de uma unidade produtiva.
Estas facilidades demonstram que a fábrica não encontraria problemas que pudessem
atrapalhar o seu processo produtivo continuo e de qualidade. O grupo Othon absorveu as
facilidades encontradas no município curvelano, mas de forma tradicional seguiu as idéias
criadas pelos seus contemporâneos de controle e disciplinarização da mão-de-obra.
O diferencial da administração Othon se encontra no centro de treinamento
68
que
treinava todos os contratados antes de irem para a produção, o que favorecia a empresa que
formava e disciplinarizava o seu trabalhador. Nota-se um diferencial evolutivo, pois não se
esperava mais surgirem os problemas que pudessem aparecer com um trabalhador recém
contratado: os que não se adequassem aos padrões pré-estabelecidos pelo grupo Othon não
seriam contratados, sendo dispensados durante o treinamento. Segundo a empresa, com os
cursos técnicos a administração da Fábrica seria promovida por filhos da cidade, brasileiros,
mineiros, trabalhadores por uma empresa próspera e moderna”, uma vez que logo após sua
fundação, a Companhia Othon Bezerra de Mello era administrada por estrangeiros, fato este
ocasionado pela falta de mão-de-obra qualificada.
Para os dias atuais, esta paisagem alterou-se, uma vez que os sindicatos se
mobilizaram e conseguiram importantes avanços em aspectos como a redução da jornada de
trabalho e a eliminação do emprego de crianças no lugar de adultos. O que notamos
claramente para a atualidade é que a relação do patrão para com o trabalhador alterou-se, as
fórmulas de cobrança ganharam novos formatos e novas configurações.
Com a evolução da economia mundial ao longo do século XX as relações de trabalho,
familiares e até mesmo pessoais entre padrão e trabalhador viram-se obrigadas a sofrerem
adaptações, uma vez que o mercado ultra competitivo, globalizado e dinâmico obrigou a
sociedade e todos os setores da economia a enfrentaram uma corrida pelo menor preço, com
67
Caso o trabalhador atrasasse, este não conseguia entrar para trabalhar, perdendo o dia de produção. A entrada
era liberada se o chefe da sessão correspondente fosse até a portaria e autorizasses a entrada do mesmo.
68
Ver anexo D: Centro de treinamento.
105
qualidade e ao mesmo tempo com a mão-de-obra empregada satisfeita e constantemente
batendo recordes de produção.
4.2. A crise dos anos 1990 e o fim da Fábrica Maria Amália
A indústria brasileira desde o final do século XIX, quando esta foi criada, esteve
vinculada à lavoura do café. Com medidas protecionistas e incentivos governamentais
assegurados (Convênio de Taubaté, Política do Preço Mínimo, entre outras), a política
brasileira garantiu a sobrevivência da aristocracia agrária, assim como a nascente
industrialização, que se aproveitou dessas medidas para conseguir competir com os mercados
europeu e americano, fortes concorrentes. Lembrando-se que a incipiente indústria nacional
advinha dos lucros auferidos com a produção cafeeira, ou seja, do reinvestimento do capital
agrário na indústria urbana e rural, que se lembrar que sem estas medidas, benéficas à
lavoura cafeeira
69
, dificilmente a indústria brasileira sobreviveria à concorrência
internacional.
Com a crise de superprodução e o crack da Bolsa de New York em 1929, a indústria
brasileira entrou no processo de separação do capital “rural-café”, culminando com a Segunda
Guerra Mundial, onde Getúlio Vargas buscou desenvolver o Brasil com o Plano Nacional
Desenvolvimentista, na expectativa de conseguiu desvincular o país da dependência do café
como único viés de exportação e sustentação da economia. Com o processo de substituição de
importação, Getúlio Vargas esperava dinamizar a economia e retirar o Brasil da dependência
do café e do capital estrangeiro.
Após a Segunda Guerra Mundial, e a retomada da democracia no país, que se
destacar o governo de Juscelino Kubitschek, liberal
106
incentivo, por parte da esfera federal, continuaram assegurando a sobrevivência da indústria
nacional. Como exemplos, podemos citar a manutenção da Petrobrás como estatal e única
controladora das operações relativas ao setor energético de combustíveis. Pode se destacar
como um reflexo das políticas anteriores desenvolvidas para a lavoura cafeeira, que criou o
“misticismo” de sustentação com base em proteção governamental, ou seja, a política adotada
para com os cafeicultores seria mantida para com os industriais brasileiros.
Com a Ditadura Militar implantada em 1964, o país passou a ser gerido por outros
interesses políticos e econômicos, mas a proteção aferida a indústria nacional continuou. Sob
o controle rígido e disciplinado dos militares, os rumos da economia foram determinados,
recursos foram destinados a grandes obras como a Usina de Itaipu, a ponte Rio-Niterói, as
usinas nucleares de Angra dos Reis, mas as barreiras alfandegárias para o setor industrial, e
aqui destacamos a indústria têxtil, continuaram até o fim do governo ditatorial nos anos 1980.
Depois de anos de proteção governamental, a estratégia de isolamento comercial,
adotada entre 1950 e 1980, os industriais brasileiros tiveram de se adaptar, mas
conseqüentemente sentiram com maior intensidade os impactos da “globalização”. “O
isolamento comercial do país atrasou sua inserção na economia mundial e, não obstante (...)
provocando impactos negativos sobre os níveis de emprego em diversos setores...”
(SARAIVA, 2001).
Com o retorno da democracia direta, Fernando Collor de Melo tornou-se o primeiro
presidente eleito através do voto popular após a era ditatorial. O discurso neoliberal adotado
pelo governo do então presidente, em 1990-1992, para a economia brasileira preconizava a
abertura incondicional dos mercados, a desestatização e a forte contenção dos gastos públicos.
Medidas que buscavam inserir o país no mercado competitivo internacional.
Este discurso norteou o Brasil, assim como a América Latina de uma forma geral, para
a entrada no mercado mundial competitivo. No caso brasileiro em específico, ficou evidente
que nem a economia e nem o parque industrial brasileiro estavam preparados para o ingresso
nesse mercado globalmente integrado e ultra-competitivo.
Carvalho Neto demonstra este despreparo referindo-se às relações de trabalho num
mundo em mudança:
107
... muitos países em desenvolvimento na América Latina abriram suas economias
quando essas ainda não eram competitivas internacionalmente, o que produziu
muitas falências de empresas, enormes perdas de postos de trabalho e agravamento
na distribuição de renda. Exemplos claros são os setores como o têxtil e o coureiro,
tradicionais empregadores de mão-de-obra no Brasil, que sofreram enorme impacto
de uma abertura de mercado sem critério, feita de forma atabalhoada, que
simplesmente liquidou boa parte das empresas (e do emprego) existentes nesses
setores. (CARVALHO NETO, 2001, p. 47).
Além destas medidas do governo federal, que sem sombra de dúvidas prejudicaram os
industriais brasileiros, somamos a onda de falências e o despreparo dos industriais brasileiros.
Ao analisarmos o obsoleto maquinário do parque industrial brasileiro (em grande parte) nos
anos 1990, alinhado à utilização de mão-de-obra de baixa qualificação técnica, percebe-se que
estes não permitiam à indústria brasileira competir com mercados organizados, com
108
TABELA 11
Indicadores do Setor Têxtil (1990-1996)
Indicador 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996
Número de
empresas
4.938 4.853 4.584 4.436 4.470 4.130 3.817
Número de
empregados
(1.000)
809 703 521 483 501 436 356
Produção de
fios (1.000 t)
1.224 1.233 1.354 1.394 1.377 1.155 1.021
Produção de
tecidos (t)
814 842 949 1.003 1.042 839 850
Produção de
malhas (t)
371 358 405 453 457 414 407
Variação
anual da
produtividade
_ 1,4 1,0 4,7 5,2 5,4 17,7
Fonte: adaptado de Saraiva (2001)
Segundo Saraiva (2001), as organizações industriais que conseguiram sobreviver à
abertura da economia brasileira ao mercado internacional fizeram uso de investimentos
maciços em tecnologia aplicada ao processo produtivo, entre outras palavras equipamentos
mais modernos, e investimentos em tecnologias de gestão, formas mais eficientes de
administrar a estrutura, a tecnologia, os processos e a mão-de-obra, ou seja, reestruturação
produtiva. Saraiva define reestruturação produtiva, como a combinação de dois fatores:
inovações de base tecnológica; aquisição de máquinas modernas e criação de uma nova
maneira como o trabalho é organizado, e flexibilidade; baseada na organização produtiva,
buscando tornar o trabalho mais dinâmico, podendo uma equipe ou plantaforma de produção
serem adaptáveis a vários itens, sem custos extra, dependendo da necessidade do mercado ou
da política empregada pela empresa
70
.
Embora desde o final dos anos 1970 tenha se assistido a tímidas incursões no que se
refere à modernização produtiva, especificamente relacionados à introdução dos Círculos de
Controle de Qualidade (CCQ`s), tal processo não significou uma redefinição das formas de
organização do trabalho ou aquisição de equipamentos nesse primeiro momento.
70
Um exemplo deste processo são as linhas de montagem de automóveis. No nascedouro da indústria
automobilística as linhas de produção conseguiam somente produzir um determinado modelo de carro. Para os
dias atuais a linha de montagem e os trabalhadores conseguem produzir uma variedade de modelos, o que baixa
custos e dinamiza a produção; os equipamentos e o trabalhador se adaptam ao que deve ser produzido.
109
O que observamos é que após a abertura econômica de 1990, com o mercado
globalmente integrado, todos os mecanismos para se compreender a rotina do trabalhador
passaram a ser utilizados, no intuito de aproveitar ao máximo a mão-de-obra. Não basta mais
ter somente trabalhadores de intensa produtividade; criou-se para os tempos atuais a
necessidade de que se tenha engajamento dos trabalhadores para com a empresa, que todos se
sintam como uma “família”, pertencentes àquele ambiente. Ressalvo que a verdadeira
intenção da empresa sustenta-se no incremento da produção, na qualidade e no
comprometimento do trabalhador para com a empresa, mesmo quando este não está dentro
dos limites dos muros da empresa (nos ambientes familiar e pessoal também). A
administração busca integrar o trabalhador, criando um ambiente “familiar, seguro,
descontraído”, mas objetiva alcançar a maior produtividade possível.
Para tanto, o não questionamento da intensificação do trabalho fica a cargo dos
programas de Qualidade Total, como o TQM (Total Quality Management - Gestão pela
Qualidade Total), que criam no trabalhador a cultura de que este deve colaborar com as
normas da empresa. Fazendo isto, o mesmo estará contribuindo também para si próprio, uma
vez que mantém a empresa funcionando e conseqüentemente garante o seu emprego. A troca
interativa faz o papel de atrativo, que na verdade codifica
71
o trabalhador a aceitar uma carga
maior de trabalho, uma vez que é para o bem da empresa no geral. Desse ponto de vista, todos
devem fazer a sua parte sempre na expectativa de estar fazendo o melhor para a empresa e
para ele mesmo, uma vez que os números do desemprego brasileiro vêm aumentando.
Para o bom funcionamento destes programas, o controle do comportamento de cada
um torna-se imprescindível. A participação dos trabalhadores não garante que todos de fato
estejam integrando os programas de cooperação satisfatoriamente. As funções de cada
trabalhador devem ser cumpridas observando as especificações pré-determinadas, sob pena do
programa implantado não fluir como o esperado. Portanto o controle do comportamento
individual deve ser rigoroso e constantemente observado.
Essa nova cultura empresarial afirma a necessidade dos trabalhadores se colocarem de
acordo com os objetivos comuns e de estabelecerem estreitas relações de comunicação e de
cooperação, uns com os outros e com a empresa. Segundo Magda Neves, na reestruturação
produtiva, “o discurso dominante nessa cultura é da cooperação, integração e coordenação,
visando uniformizar e homogeneizar as diferenças referências e as múltiplas codificações”
(NEVES, 1998, p. 334) dos trabalhadores ali empregados. Busca-se o melhor trabalhador,
71
Codificar apresenta-se no sentido de “reprogramar”, ou seja, busca-se a mudança da forma de pensar do
trabalhador através da conscientização.
110
com boa comunicação e cooperação, para que problemas sejam resolvidos rapidamente,
objetivando somente a produção. Ou seja, a produção processará de forma ininterrupta,
trazendo melhores resultados à empresa, deixando à parte problemas religiosos, culturais ou
até pessoais dos próprios membros da sessão produtiva.
A Fábrica Maria Amália não foge deste cenário. A abertura promovida no governo
Collor praticamente levou a empresa à falência em 1992. A constante perda de mercado,
principalmente advindo da importação de panos chineses, e a não restruturação da empresa
tanto na aquisição de novas máquinas como no aperfeiçoamento da administração e da mão-
de-obra, levaram-na a uma situação que somente foi contornada com a venda da Fábrica ao
grupo empresarial Labortêxtil S/A
72
.
Segundo Regina Carvalho Leitão, funcionária responsável pelo Departamento
Pessoal da Labortêxtil, em 1992
... a situação encontrada pela Labortêxtil resumia-se em uma empresa que atuava
com maquinário datado da inauguração, posto que sua fundação se deu em 1941.
Até 1992, não se tem registro da aquisição de novas máquinas, salvo casos de
substituição de equipamento fundamental à produção, como batedores que poderiam
parar toda a produção da empresa em caso de quebra ou manutenção
73.
Ou seja, o funcionamento da empresa, com a abertura econômica promovida em 1990,
nos moldes descritos se tornava inviável.
Outra situação encontrada abrange a área administrativa, que seguindo a linha de
pensamento da aquisição de novas máquinas, não se alterou no decorrer das décadas,
mantendo o mesmo controle rígido e a longa hierarquia administrativa, seguida da complexa e
extensa divisão de funções e cargos. O grande número de funções e cargos dentro da empresa,
trazia conseqüências à administração, dentre elas, a demora na solução de problemas, assim
como a burocratização, fatos que enrijeciam as tomadas de decisão, fazendo com que a
fábrica ficasse lenta, impedindo a retomada da produção no menor tempo possível. O JIT
(Just in time) foi implantado para reduzir estoques e diminuir o tempo da produção, na
tentativa de eliminar perdas e visando aumentar a produtividade. De forma geral este cenário
reflete a acomodação da administração da empresa durante a gestão Othon, o que teve
72
A Labortêxtil comprou a fábrica em 1992, evidenciando atingir o sudeste e o sul do país. Produz atualmente
material médico/hospitalar (gaze, panos para pré-operatório e pós-operatório), sendo a maioria exportada. Tem
sede em Feira de Santana, Bahia.
73
Entrevista concedida por Regina Carvalho Leitão, Departamento Pessoal em setembro de 2003.
111
conseqüências fatais para a Fábrica com a abertura do mercado brasileiro à livre concorrência
mundial no governo Collor.
Para solucionar os problemas advindos do grande atraso tecnológico acumulado pela
antiga administração, o primeiro passo concentrou-se na aquisição de máquinas que
atendessem aos requisitos básicos para a competitividade, com alta produção, baixo
desperdício e pouca utilização de mão-de-obra. Tal maquinaria foi encontrada na antiga
Fábrica da Cachoerinha
74
, em Belo Horizonte. Feita a aquisição, a troca processou-se de
forma imediata, uma vez que o maquinário utilizado na Fábrica Maria Amália gerava alto
custo de manutenção, mão-de-obra elevada por máquina, desperdício e alto consumo de
energia e vapor. Reflexo deste período apresenta-se na caldeira que era movida a lenha, sendo
adquirida uma mais moderna movida por pinche.
A opção por este maquinário se respalda nos critérios acima relacionados e na idade
das máquinas, que tinham em média cinco anos de utilização, ou seja, poder-se-ia utilizar este
equipamento sem uma grande perda em relação a máquinas lançadas em 1992. O atraso
tecnológico se guardaria em menos de uma década, e o custo seria significativamente menor.
Optando em adquirir máquinas novas, o custo seria alto, o que aumentaria o capital investido,
extrapolando a realidade da Labortêxtil para aquele momento.
Feitas as mudanças necessárias no quesito troca de equipamentos, o segundo passo
consiste na reestruturação estratégica, ou seja, no rearanjo da empresa para padrões mais
modernos de administração. Para tal, utilizou-se o trabalho em equipe (cada sessão produtiva
constitui uma equipe) e a redução de níveis hierárquicos, no intuito de diminuir gastos e dar
maior agilidade à empresa. A Fábrica Maria Amália encontra-se, atualmente, dividida em
dezesseis setores produtivos, que vão desde o processamento inicial do algodão, como em
qualquer indústria têxtil, até o setor da Gazinha, onde são produzidos os materiais para bloco
cirúrgico em sistema totalmente asséptico, passando pela administração e expedição.
A grande quantidade de setores provoca dificuldades de comunicação com a
administração, tornando a tomada de decisões lenta. A resposta encontrada baseou-se nas
decisões serem tomadas diretamente com cada chefe de setor, diminuindo o tempo em que a
112
escola passou para a administração municipal. As casas dos operários foram vendidas,
preferencialmente para os próprios funcionários.
Outro ponto a ser destacado encontra-se na contratação de mão-de-obra qualificada.
Os profissionais mais jovens, com pouca experiência, tiveram a preferência para assumirem
em alguns casos a chefia dos setores produtivo, administrativo e de controle da produção. O
que de se destacar nestas funções, é que todas sempre foram exercidas pelos funcionários
mais velhos da empresa. Este processo de ingresso de jovens em funções até então
consideradas de direito aos trabalhadores mais velhos, baseou-se em buscar trabalhadores
mais qualificados para gerenciarem os diversos setores, contrapondo a experiência de antigos
funcionários irredutíveis em aceitar a nova realidade da indústria têxtil e reduzir gastos
salariais. A qualificação assumiu características de “seleção natural” da mão-de-obra, na qual
apenas os mais aptos (ou mais qualificados) devem sobreviver.
Os trabalhadores que não se encaixavam neste perfil foram demitidos ou rebaixados de
cargo. Aos remanescentes foi dada a oportunidade de se requalificarem através de cursos
técnicos ou, para os que não tinham nem o Ensino Fundamental, um curso supletivo
ministrado na própria fábrica no sistema EJA (Educação de Jovens e Adultos), no intuito de
elevar o vel de escolaridade dos trabalhadores, o que conseqüentemente facilitaria as
relações entre chefe e subordinado. No intuito de ter o maior número de trabalhadores
qualificados, a empresa mantém ativo um programa de custeio de parte dos estudos de
trabalhadores que cursem algum curso de graduação, que esteja ligado a alguma área de
atuação da empresa. Ao curso de Administração em Empresas
75
é destinada a maioria dos
recursos.
Outra mudança buscada pela Labortêxtil fundamenta-se no relacionamento da empresa
para com os trabalhadores. A empresa buscou integrar e codificar os trabalhadores da sua
importância para a sobrevivência da mesma, assim como para a manutenção do emprego. Para
tal, fez-se o uso de programas de treinamento da mão-de-obra e cursos motivacionais,
buscando a cooperação e a “doutrinação” dos trabalhadores, tentando mostrar a nova
realidade da indústria brasileira e mundial e o novo cenário de competição ao qual a brica
deveria se preparar.
Como condição rotineira, os programas de treinamento e motivação, além de tentarem
mudar a forma do trabalhador ver a empresa, buscam também controlar e disciplinarizar o
trabalhador da maneira que melhor convir à empresa em questão. Alterar a imagem que o
75
Isto se explica pelo fato da cidade apresentar faculdades geralmente ligadas a área de Ciências Humanas. O
curso de administração é o que mais se aproxima das necessidades da fábrica no momento atual.
113
trabalhador tem da empresa se torna um dos grandes desafios. Para tal, a subjetividade do
trabalhador se torna preponderante, se pensarmos que na realidade os programas de controle e
disciplinarização dos trabalhadores são mecanismos de “exploração disfarçada”, que buscam
a maior produtividade, no menor tempo e com a melhor qualidade, sem que os trabalhadores
questionem a intensificação do trabalho. (NEVES, 1998).
Desde a chegada da Labortêxtil S/A na administração da Fábrica Maria Amália, as
principais transformações ocorridas se processaram em relação aos trabalhadores. A
implantação dos cursos de controle de desperdício e manutenção preventiva geraram grande
resistência por parte dos trabalhadores mais velhos, que se recusavam a utilizar as novas
técnicas. Com o treinamento dos trabalhadores que não foram demitidos e a contratação de
novos funcionários, os programas de desperdício e manutenção preventiva foram
implantados, mas com baixa participação dos trabalhadores que não viam resultados práticos
nas medidas, como a qualidade total, que visava atingir em cada setor a máxima qualidade
possível na produção.
O intuito da administração é de que a longo prazo estes programas sejam incorporados
à rotina dos trabalhadores, mas para tal, palestras e cursos de reciclagem são ministrados aos
trabalhadores, sempre buscando aperfeiçoar e conscientizar os trabalhadores da importância
destes programas e como eles realmente ajudam no incremento da produção da fábrica e
ajudando até mesmo na administração das residências dos próprios trabalhadores.
Outro programa implementado pela empresa estrutura-se na conscientização dos
trabalhadores sobre o tratamento e o controle dado aos rejeitos do processo industrial e sobre
o destino do lixo da fábrica. Na administração anterior à Labortêxtil, os resíduos e o lixo
produzidos pela fábrica eram eliminados sem nenhum tratamento prévio ou seleção. Para
solucionar o problema do resíduo líquido, tanques de decantação foram construídos para
tratamento químico, antes de serem eliminados na rede de esgoto. Para o lixo sólido a solução
ateve-se em pré-seleção do material antes de destiná-lo ao aterro sanitário, onde se descobriu
que boa parte da matéria prima estava sendo desperdiçada durante o processo de produção. A
partir deste ponto, criou-se o programa de controle de desperdício e reaproveitamento do lixo,
onde através de visitas ao aterro sanitário, palestras sobre controle de desperdício e meio
ambiente diminuíram significativamente os números do lixo sólido gerado dentro da fábrica,
somando-se ao controle preventivo feito por cada chefe de sessão nas próprias linhas de
produção.
O supletivo de Ensino para Jovens e Adultos, nos Níveis Fundamental e Médio, foi um
dos projetos mais bem sucedidos da empresa, contando com forte participação dos
114
trabalhadores. A procura atualmente é maior do que o supletivo pode oferecer. Isto se explica
pelo fato de se tentar alcançar a erradicação do analfabetismo dentro da empresa, sendo
exigido dos trabalhadores a longo prazo no mínimo o Ensino Médio para se trabalhar na
fábrica. A seleção de novos admitidos tenta buscar trabalhadores que já tenham o nível
educacional exigido.
A explicação para tal se guarda, segundo administração da fábrica, na facilidade de
comunicação que um trabalhador com um vel de instrução médio proporciona, em
comparação com um de nível fundamental ou sem nenhuma instrução, além de gerar custos
para a empresa. Os cursos de treinamento para se trabalhar na Gazinha
76
demandam, por
exemplo, o mínimo de conhecimento sobre noções de saúde, higiene, limpeza e biologia. Sem
estes princípios, o curso de treinamento ficaria incompleto, lançando para o setor um
trabalhador desqualificado, comprometendo a qualidade da produção, o que
conseqüentemente geraria prejuízos para a empresa.
Do início da administração Labortêxtil para os dias atuais, a empresa concentrou suas
atenções nas atividades diretamente ligadas ao trabalhador. Como reflexo disto, podemos
observar o número de programas implementados pela empresa. A busca do trabalhador
completo, que tenha a melhor produtividade, a melhor qualidade e com os menores tempos,
não cessa. Segundo Magda Neves
Dos operários é requisitado um novo perfil, onde a formação profissional adquire
uma importância cada vez maior. (...) As empresas investem de maneira diferenciada
em treinamentos, procurando implementar cursos de alfabetização, formação básica
em matemática objetivando desenvolver raciocínios lógicos e abstratos, habilidades
técnicas e cursos comportamentais e motivacionais. (NEVES, 1998, p. 332)
Seguindo esta linha de raciocínio, o próximo passo da empresa concentra-se em
ministrar um curso técnico de Tecelagem, Fiação e Alvejamento. O objetivo do curso busca
qualificar os melhores tecelões da empresa. Importante ressaltar que o curso será ministrado
dentro da própria fábrica e não obrigatoriamente assegurará recompensa salarial ou elevação
de cargo aos trabalhadores envolvidos.
Analisando a situação da fábrica, observamos claramente que os programas
implantados, desde 1992, não geraram os resultados esperados, mas serviram de suporte para
tirar a fábrica da situação em que se encontrava. Os resultados das principais mudanças
76
Gazinha: setor onde são produzidos os produtos assépticos em regime de controle sanitário, como gaze, panos
para pré e pós-operatório.
115
podem claramente ser vistos na situação, na qual a empresa hoje se encontra. A
administração tornou-se ágil, eficaz e competente, com a contratação de profissionais
especializados no setor xtil. Praticamente toda a produção, cerca de 90%, é destinada a
exportação. Novos investimentos estão sendo feitos: modernização de alguns setores, criação
de novas linhas, compra de maquinário moderno, reforma de todas as sessões (no aspecto
físico) e contratação de mais trabalhadores.
Estes novos investimentos e o fato da maior parte da produção ser destinada à
exportação demonstram claramente que a Fábrica Maria Amália conseguiu entrar no mercado
competitivo mundial, se adequando às exigências de qualidade, tempo e preço, que o mercado
global exige. A aquisição de máquinas mais modernas e o completo comprometimento dos
trabalhadores remanescentes nas atividades de produção, serão de importância fundamental
para garantir a sobrevivência da empresa.
A reestruturação promovida pela Labortêxtil S/A na Fábrica Maria Amália alterou
completamente a forma da empresa ser gerida. Esta nova administração proporcionou
mudanças em diversas áreas da empresa, dentre as quais destaco a área física, com o
reequipamento ou a modernização de alguns setores até então obsoletos, que geravam
prejuízos. Outra área a ser destacada refere-se aos programas de conscientização e
treinamento da mão-de-obra, que tiveram grande impacto, mesmo estes não tendo atingido o
contexto geral de trabalhadores da empresa.
Com a mudança na administração da empresa, observam-se duas concepções
diferentes de se gerenciar um empreendimento. A fábrica, em linhas gerais, deixou de ter uma
relação pessoal para se tornar uma indústria impessoal, ou seja, antes os funcionários
conheciam o Sr. Othon (o patrão), sempre presente na linha de produção e nas festas
patrocinadas pela empresa. Hoje eles trabalham para um grupo empresarial, a distância entre
empregador e empregado é enorme, tornou-se totalmente impessoal, ninguém conhece o
dono, sabe-se apenas que trabalha para a Labortêxtil S/A.
As mudanças sofridas pela Fábrica Maria Amália foram muitas, mas mudanças de
caráter modernizante que deram à empresa um novo formato, compatível com a nova
realidade na qual o mercado brasileiro e mundial vivem. Sem sombra de dúvidas, os
trabalhadores da fábrica foram os que mais tiveram de se adaptar à nova realidade da indústria
têxtil, uma vez que a cidade de Curvelo não dispõe de um número significativo de empregos
com “carteira assinada”, que ofereçam estabilidade e segurança aos seus funcionários.
A rotina foi alterada, a dinâmica é outra, mas os trabalhadores da Labortêxtil a longo
prazo, como a administração da empresa, serão obrigados a se adaptarem à nova realidade,
116
onde essa nova “cultura empresarial”, baseada na integração dos trabalhadores com a
empresa, se coloque de acordo com objetivos do mercado, estabelecendo estreitas relações de
117
5. CONCLUSÃO
As mudanças provocadas em Curvelo com a chegada da Fábrica Maria Amália em
1941 são evidentes, uma vez que alteraram as relações de trabalho na cidade, o ambiente
físico e o cotidiano sócio-cultural dos curvelanos. Curvelo evoluiu em vários aspectos, que
podem ser justificados como de evolução natural de qualquer município, mas através do relato
dos trabalhadores do período fica evidente como a fábrica promoveu uma melhoria na
remuneração paga ao trabalhador e no atendimento dos direitos dos trabalhadores, além de
implementar medidas que beneficiavam os trabalhadores da empresa como parte da sociedade
curvelana. O trabalho era disperso nas várias fazendas de algodão da região, no centro urbano
o trabalho resumia-se ao comércio e às pequenas empresas beneficiadoras de algodão. A
remuneração paga a estes trabalhadores não atendia às necessidades básicas da população. A
chegada da Fábrica Maria Amália mudou este cenário, pois a remuneração atendia à
legislação trabalhista, diferentemente das pequenas empresas e do comércio da cidade que não
cumpriam com suas responsabilidades legais.
Como se notou, a cidade de Curvelo na década de 1930 e início da década de 1940 era
a representação do atraso, não apresentando condições satisfatórias de higiene e saúde a sua
população, as redes de abastecimento de água e coleta do esgoto não atendiam a grande
maioria da população, até os bairros ou as casas mais abastadas contavam com fossas para a
coleta do esgoto.
que se destacar também a presença da Fábrica Maria Amália no aspecto sócio-
cultural, pois esta exerceu um forte papel cultural e social para a população de Curvelo, uma
vez que na planta da empresa encontrava-se escola primária, cinema, clube (onde peças
teatrais e bailes eram ofertados a toda a comunidade curvelana mediante convite), uma loja de
tecidos rústicos a preços módicos, posto de combustível, varejão de frutas e verduras e um
jardim para recreação dos trabalhadores e da população local, ou seja, benefícios destinados a
toda a comunidade curvelana. Fica evidente o importantíssimo papel sócio-cultural
desempenhado pela Fábrica Maria Amália, e sua contribuição para o desenvolvimento do
município, seja este através do capital investido na cidade, das mudanças estruturais
provocadas no ambiente ou pela contribuição e integração que este projeto teve e tem com a
cidade de Curvelo.
118
Para a realidade atual da cidade e da fábrica é interessante ressaltar que a fábrica volta
a ser foco de interesse dos trabalhadores curvelanos. A questão predominante hoje se encontra
na oferta de emprego cada vez menor, ao passo que a oferta de mão-de-obra excedente cresce,
portanto o trabalhador busca estabilidade no emprego, o que lhe segurança. Outra questão
se guarda no oferecimento de cestas básicas, plano de saúde entre outros benefícios que
completam o aspecto de segurança, diminuindo os gastos do trabalhador.
Mesmo a remuneração sendo baixa (em média um salário mínimo e meio), parte da
população curvelana se obrigada a trabalhar na empresa. Durante a inauguração e sob a
administração Othon, um salário mínimo representava uma situação de conforto e
tranqüilidade aos seus trabalhadores, mas hoje um salário mínimo e meio já não atende ao
mesmo. Para Curvelo, o funcionamento da Fábrica Maria Amália se faz necessário, uma vez
que assegura mil e cinqüenta e cinco empregos diretos, um dos maiores empregadores do
município, ficando somente atrás das empresas de reflorestamento de eucalipto que
empregam em torno de cinco mil trabalhadores diretos e indiretos.
Mais uma vez fica evidente o valor e o reconhecimento que a Fábrica tem e sempre
terá para com os curvelanos, assim como a sua sirene que marca e relembra a cidade que ela
está inserida no seu cotidiano.
119
REFERÊNCIAS
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WIRTH, John D. O fiel da balança: Minas Gerais na Federação Brasileira (1889-1937). Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
124
ANEXO A – Mapa de Curvelo em 1706
Fonte: WIKPÉDIA. Curvelo.
Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Curvelo> Acesso em 23 de março de 2005.
125
126
ANEXO C - Industrial Othon Lynch Bezerra de Mello, presidente e idealizador da
Fábrica Maria Amália
Fonte:
http://www.othonhotels.com/br/.
Acesso em dezembro de 2005
127
ANEXO D - Iconografia Fábrica, bairro Maria Amália, jardim, Clube Maria Amália,
Escola Maria Amália, José Teófilo, trabalhadores e condições de trabalho.
Casa construída na expansão do bairro Maria Amália em 1950.
Na parede podemos ver as iniciais do grupo empresarial Othon Lynch Bezerra de Mello.
Fonte: acervo pessoal
Jardim construído para recreação dos funcionários. Uma das mais belas praças da cidade de Curvelo.
Fonte: acervo pessoal
128
Escola construída para atender os filhos dos funcionários. Fundada em 1948
Fonte: acervo pessoal
Esporte Clube Maria Amália criado para a recreação dos funcionários
Fonte: acervo pessoal
129
Cerimônia de fundação do Clube Maria Amália em 08-02-1944.
Fonte: arquivo histórico do Museu Vivo de História Local da Faculdade de Ciências Humanas de Curvelo
(FACIC)
Fachada da fábrica.
Fonte: acervo pessoal
130
Avenida Othon Bezerra de Melo
Fonte: acervo pessoal
José Teófilo sendo homenageado pela administração da fábrica em 1959.
Fonte: arquivo histórico do Museu Vivo de História Local da Faculdade de Ciências Humanas de Curvelo
(FACIC)
131
Diretoria do Sindicato dos Tecelões em 1962. José Teófilo ao centro tomou
posse da Diretoria em 1957 sendo presidente até 1964.
Fonte: arquivo histórico do Museu Vivo de História Local da Faculdade de Ciências Humanas de Curvelo
(FACIC)
Trabalhadores da fábrica. Ao fundo José Teófilo.
Fonte: arquivo histórico do Museu Vivo de História Local da Faculdade de Ciências Humanas
de Curvelo (FACIC)
132
Trabalhadores da fábrica da década de 1940, trabalhando nas Cardas.
Fonte: arquivo histórico do Museu Vivo de História Local da Faculdade de Ciências Humanas de Curvelo
(FACIC)
Há que se chamar a atenção pela falta de EPI (Equipamentos de Proteção Individual).
Fonte: arquivo histórico do Museu Vivo de História Local da Faculdade de Ciências Humanas
de Curvelo (FACIC)
133
Mulher grávida trabalhando no tear.
Fonte: arquivo histórico do Museu Vivo de História Local da Faculdade de Ciências Humanas de
Curvelo (FACIC)
A foto registra a solene bênção da primeira pedra da fábrica em 15 de setembro de 1941.
Fonte: arquivo histórico do Museu Vivo de História Local da Faculdade de Ciências Humanas de
Curvelo (FACIC)
134
Foto vista aérea em 1942. Chamo a atenção para a proximidade dos trilhos do EFCB.
Fonte: arquivo histórico do Museu Vivo de História Local da Faculdade de Ciências Humanas de
Curvelo (FACIC)
Vista aérea da década de 1940 onde podemos observar no canto superior direito o campo
de futebol do Maria Amália Esporte Clube.
Fonte: arquivo histórico do Museu Vivo de História Local da Faculdade de Ciências Humanas de Curvelo
(FACIC)
135
Foto das instalações internas da fábrica.
Fonte: acervo pessoal
Sistema de aspersores
Conhecido pelos trabalhadores como “ventilador de água”.
Fonte: acervo pessoal
136
Centro de treinamento
Destinado aos trabalhadores sem experiência.
Fonte: acervo pessoal
Casa Grande
Fonte: acervo pessoal
137
Frente da Casa Grande.
Fonte: acervo pessoal
Estilo das casas construídas para o Bairro Maria Amália
Fonte: acervo pessoal
138
ANEXO E - Mapa do município de Curvelo
Fábrica Maria Amália
Bairros
Centro Comercial
Mapa da Cidade
Fonte: Adaptação de: Curvelo - Portal do Sertão. Mapa da Cidade. Disponível em
<http://www.curveloportaldosertao.com.br/mapa/images/images/mapa-curvelo.html> Acesso em 18 de fevereiro
de 2005.
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