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temporalização
103
, contingência
104
, falta
105
, desejo
106
, existência
107
, consciência
108
, homem
109
,
para-si
110
. Cumpre, então, examinar algumas dessas associações e identificações com vistas a
melhor compreender o conceito de liberdade. É o que se fará ao longo deste capítulo.
A liberdade é minuciosamente analisada por Sartre na quarta parte de “O Ser e o
Nada”. Essa parte é intitulada “Ter, fazer e ser” e compõe-se de dois capítulos: o primeiro tem
como título “Ser e fazer: a liberdade” e o segundo, “Fazer e ter”. Iremos aqui nos deter sobre
o primeiro capítulo, cujo título já antecipa que, para Sartre, a liberdade é resultante da
conjugação do ser e do fazer. Daí ser indispensável proceder-se a uma análise ontológica da
ação, com a qual, justamente, Sartre inicia o referido capítulo.
Buscando um conceito de ato, Sartre propõe que:
agir é modificar a figura do mundo, é dispor de meios com vistas a um fim, é produzir um
complexo instrumental e organizado de tal ordem que, por uma série de encadeamentos e
conexões, a modificação efetuada em um dos elos acarrete modificações em toda a série
e, para finalizar, produza um resultado previsto.
111
Sartre considera que a intencionalidade é elemento indispensável do conceito de ação
e afirma não haver ação onde não houver adequação do resultado à intenção. Como condição
da ação, aponta Sartre, está “(...) o reconhecimento de um ‘desideratum’, ou seja, de uma falta
103
“Assim, liberdade, escolha, nadificação e temporalização constituem uma única e mesma coisa” (Ibid., p.574;
ed. franc., p.510).
104
“A contingência de Adão identifica-se com sua liberdade, pois este Adão real está rodeado por uma infinidade
de Adãos possíveis” (Ibid., p.576; ed. franc., p.512). Por outro lado, Sartre observa que “a liberdade não é pura e
simplesmente a contingência na medida em que se volta rumo a seu ser para iluminá-lo à luz de seu fim; é
perpétua fuga à contingência, é interiorização, nadificação e subjetivação da contingência, a qual, assim
modificada, penetra integralmente na gratuidade da escolha” ( Ibid., p.590; ed. franc., p.524).
105
“A liberdade identifica-se com a falta, pois é o modo de ser concreto da falta de ser” (Ibid., p.691; ed. franc.,
p.610).
106
“A liberdade é precisamente o ser que se faz falta de ser. Mas, uma vez que o desejo, conforme
estabelecemos, é idêntico à falta de ser, a liberdade só poderia surgir como ser que se faz desejo de ser (...)”
(Ibid, pp.694-695; ed. franc., p.613).
107
“A liberdade, sendo assimilável à minha existência, é fundamento dos fins que tentarei alcançar, seja pela
vontade, seja por esforços passionais” (Ibid., p.549; ed. franc., p.488).
108
“Angústia, desamparo, responsabilidade, seja em surdina, seja em plena força, constituem, com efeito, a
qualidade de nossa consciência, na medida em que esta é pura e simples liberdade” (Ibid, p.572; ed. franc.,
p.508).
109
“A liberdade não é um ser: é o ser do homem” (Ibid., p.545; ed. franc., p. 485).
110
“Mostramos que a liberdade se identifica com o ser do para-si” (Ibid., p.559; ed. franc., p497).
111
Ibid., p.536; ed.franc., p.477.