15
econômica, de desenvolvimento da ideologia do trabalho e da produção, e para a construção
do "novo" homem brasileiro. O MTC, desde o momento da fundação, mostrou-se sintonizado
com as proposta do governo estadonivista, em relação ao esporte. De acordo com o estatuto
de 1937, o clube "tem por objetivo promover entre os sócios, a prática de toda sorte de jogos
esportivos, exercícios atléticos, propugnando pelo desenvolvimento físico, racional e
principalmente, da cultura física infantil". (EDIÇÃO CORRELATA, 1937, p. 3, Acervo
MTC). Dessa forma, o clube foi considerado, à época, "uma grande organização" destinada a
manter a disciplina e a ordem entre seus membros e trabalhar em prol da melhoria da raça e
do civismo, como um exemplo esportivo a ser seguido por toda a sociedade mineira.
Vargas concebeu, para o Brasil, um projeto de modernização que visava, sobretudo, a
superar o atraso econômico do país. A indústria era identificada como a principal atividade
econômica, que promoveria o desenvolvimento da nação. O projeto de Vargas, porém,
esbarrava nos interesses do setor agroexportador, o grupo político e econômico dominante, até
o fim da década de 1920. O capital agrário, contudo, era vital economicamente para o
estabelecimento da nova ordem, pautada nas indústrias. Para pôr em prática seu projeto
modernizador, Vargas passou a defender diferentes interesses de diferentes grupos, mas sem
ferir os interesses das elites agrárias tradicionais.
Para Vianna (1978), Vargas, ao assumir o poder, criou as bases para promover "por
cima" o desenvolvimento das atividades das elites. Para tanto, controlou, com vigor, a
movimentação reivindicativa de diferentes grupos sociais. As camadas médias urbanas foram
cooptadas, recrutando-as para as funções públicas. A legislação sindical não chegou a impedir
a organização dos trabalhadores, mas buscou enquadrá-los aos interesses do Estado. Assim,
durante o governo de Vargas, houve, de acordo com Vianna (1978), uma modernização
conservadora, que consistia na intervenção política para induzir a modernização econômica,
implicando, contudo, uma "conservação" do sistema político, embora promovesse rearranjos
nos lugares ocupados pelos diferentes protagonistas. A idéia central do autor não é a de que
tal processo tenha elevado a elite industrial ao poder político, mas sim a de que os interesses
da indústria tenham encontrado apoio e estímulo na nova configuração estatal.
Essa dissertação utiliza o conceito de modernização conservadora de Vianna (1978),
mas estende seu conteúdo para o aspecto cultural desse período histórico. Ao longo da década
de 1930, também, procedeu-se a conservação de valores culturais tradicionais da sociedade
agrária brasileira, ao mesmo tempo em que se procuravam incutir novos valores e atitudes
mais modernas no país, como um todo. A sociedade deveria passar por transformações, para