
No Olho da Rua - Dinâmicas da Arte Urbana em Maceió SEÇÃO 2 – Maceió: Referenciais Históricos,
Urbanísticos e Artísticos
No Olho da Rua - Dinâmicas da Arte Urbana em Maceió
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Nas décadas seguintes do século XX a situação não se modifica significativamente,
observando-se, como se colocou, certa mudança apenas a partir da efervescência cultural
observada na década de 1980. Mas a desproporção escultura/ pintura parece ter permanecido
como um traço da arte local. Um levantamento elaborado em 1979 constata a pouquíssima
quantidade de artistas alagoanos dedicados à escultura
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, apenas seis nomes citados, aí
incluídos os artistas populares. Outro aspecto a ser comentado é a inexistência, até essa
década, de movimentos artísticos que agregassem os artistas locais em torno de propostas
comuns, diferentemente do que acontecia na literatura e do impacto que o movimento
regionalista produziu, também nas artes visuais, em outros estados do Nordeste, em especial
Pernambuco e Bahia. Segundo o crítico alagoano Romeu Loureiro, não se pode falar, assim,
em uma “escola” artística alagoana:
“De saída, cumpre-nos registrar o fato de que não existe uma Escola
Alagoana – ou seja, uma reunião de mestres pintores e escultores que se
distingam, por um espírito particular, em relação aos artistas de outros
estados do Brasil e que possam ser considerados como criadores de uma arte
marcada, de alguma forma, pelo que os franceses chamam de le goût du
terroir e que nós poderíamos traduzir, muito livremente, por “o cheiro da
terra”; com defeitos e qualidades que lhes sejam próprios, com uma
linguagem plástica e uma iconografia, senão privativas, ao menos bem
peculiares.” (LOUREIRO, 1989, 15)
Ao se comentar a influência dos dois principais movimentos do início do século XX,
Modernismo e Regionalismo, é interessante destacar que foi um escritor identificado com o
regionalismo que produziu os trabalhos artísticos mais próximos das pesquisas visuais
iniciadas pelas vanguardas européias, ou seja, no espírito do modernismo. Ironicamente, até
nas artes visuais um literato se coloca como “vanguarda”. Trata-se aqui, de Jorge de Lima
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,
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“Sem contar com um número razoável de representantes, deixaram trabalhos, alguns dos quais expostos no
Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, Calheiros Gomes (“Artista na infância”- museu do IGHA), Manoel
Messias de Gusmão (“Churchill”- museu do IGHA), e Leonardo Viana, aluno, no início de carreira, de Lourenço
Peixoto, que o Preparou para a Escola de Belas Artes no Rio de Janeiro. Morreu cedo e ficou mais conhecido no
sul. No museu do IGHA encontram-se “Cabeça de espanhol” e busto de “Demócrito Gracindo”. Atualmente se
dedicam à escultura, entre nós, João Lisboa, natural de Pão de Açúcar, autor de monumentos em várias cidades
interioranas, como o Jumento de Santana de Ipanema,; e seu filho, Campos de Lisboa, autor das hermas de Jorge
de Lima e de Graciliano Ramos, encomenda da Prefeitura municipal de Maceió, para os novos viadutos dos
mesmos nomes. Zezito Guedes possui atelier em Arapiraca. Utiliza-se do ferro, da pedra e da madeira para criar
dentro de uma concepção popular. No município de Boca da Mata, o primitivo Mane da Marinheira está
trocando o roçado pela confecção de animais em madeira. No museu Théo Brandão estão reunidas algumas de
suas interessantes peças. Antonio Pedro, em Penedo, é um conhecido santeiro.”
Fonte: LAGES, Solange, DANTAS, Carmen Lúcia, DANTAS, Abílio, CHALITA, Pierre - Alagoas, Roteiro
cultural e turístico. Maceió, Recife Gráfica e Editora, 1979.
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É verdade que este artista sempre praticou a pintura, mas a literatura sobressaía-se como seu meio expressivo
por excelência. Ele próprio afirma: “Já disse e repito: minha pintura, deficiente, imperfeita, autodidata é tão-
somente um complemento de minha poesia.” (LIMA, 1958, 79)