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o festival. A experiência na ONG Coopjovem foi muito enriquecedora
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, pois os
alunos estavam, em sua maioria, em situação de risco social
15
. Logo depois, em
2000, outra ONG da Maré, CEASM
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, me convidou para elaborar um curso de
direção, em que os alunos iriam ser capacitados a criar vídeos e poder retratar o
bairro de outra maneira, diferentemente da TV, que só retrata a comunidade
exibindo violência e pobreza. Na aula de roteiro, incentivávamos a interpretação
de texto e as diferenças de linguagem. Assim, comecei a ver que este tipo de
trabalho poderia ajudar, também, na alfabetização
17
.
No período em que coordenei o curso do CEASM, produzimos mais de 12
vídeos e os alunos foram convidados a participar de alguns festivais nacionais. O
Importante não era a realização do vídeo, mas o processo, o crescimento pessoal
dos alunos e o que era debatido enquanto realizavam o vídeo.
Assim, nasceu minha vontade de estudar educação, para entender um
pouco mais esse universo. Em 2001, realizei uma pós-graduação, lato senso, na
UERJ, em dificuldades de aprendizado
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. Neste mesmo ano, conheci a diretora
pedagógica Gisele Cardoso, que também realizava o curso e me convidou para
realizar alguns trabalhos no CIEP
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Dr. Adão Pereira Nunes; desde 2001 realizo
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Recordo que um dia, quando estava chegando à ONG, vejo que todos estão meio tristes e descubro que um
dos alunos esfaqueou o outro na sala de aula. O agressor foi para o juizado. Algum tempo depois, antes de
terminar a oficina, o aluno que esfaqueou o amigo me procurou perto da escola, onde era realizada a oficina, e
disse que tinha pena de perder a oficina. Neste dia, comecei a ver a importância de se produzir vídeo para
aqueles jovens em situação de risco social.
15. Entendendo como a condição de crianças que, por suas circunstâncias de vida, estão expostas à violência,
ao uso de drogas e a um conjunto de experiências relacionadas às privações de ordem afetiva, cultural e
socioeconômica que não favorecem o pleno desenvolvimento.
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Centro de Ações Solidárias da Maré.
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Um dos tópicos era o funcionamento de um microfone. Para eles poderem ter este conhecimento, os alunos
aprenderam antes como o som é formado, para depois aprenderem o funcionamento da eletricidade, até
chegar na bobina e na freqüência, o que os levou a compreender como as rádios AM e FM funcionam e
como um rádio capta e transmite o sinal. Acreditamos que, assim, não só o conhecimento científico foi
transmitido, mas também o político e o social, quando discutimos por que as rádios da comunidade não são
legalizadas e debatemos quem dá a concessão para as rádios funcionarem.
18 Em uma aula do curso de pós-graduação com a professora Abigail Muniz Caraciki, descobri que tinha
dislexia e era hiperativo. Depois da desconfiança da doutora, realizei os exames que comprovaram a dislexia.
Por um lado, foi importante, pois consegui entender vários problemas que tive na infância e algumas
dificuldades na vida adulta. E comecei a perceber melhor minha fascinação pela imagem; até para estudar
preferia o telecurso 2º grau, que gravava e depois assistia. E a minha facilidade de sempre aprender sozinho,
lendo os manuais e livros didáticos.
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Centro Integrado de Ensino Popular - CIEP