2. O INOMINÁVEL: A MORTE
A morte maldita e, ao mesmo tempo, venerada, marca fortemente
Exílio. Palavra difícil de ser explicada e objeto de eterno estudo da Filosofia, num
primeiro momento, pode ser considerada “como falecimento, fato que ocorre na
ordem natural das coisas” (ABBAGNANO, 2000, p. 683), algo já esperado e
indiscutível. Como falecimento, a morte significa o fim e nada se pode fazer, pois “a
morte não é um acontecimento da vida, nã o se vive a morte” (WITTGENSTEIN apud
ABBAGNNO, 2000, p. 683), ou vive-se somente a morte do outro, como em Exílio,
pois a morte da mãe é vivida constantemente pela protagonista.
Além disso, ela é uma ameaça iminente tanto para a protagonista
como para outros personagens
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, pois eles mostram-se “melancólicos e insatisfeitos,
[...] conscientes da crueldade do fim, não encontram outra saída a não ser caminhar
em sua direção, dignamente” (FOGGETTI, 2006, p. 53).
Ainda é possível considerá-la em sua relação específica com a
existência humana, nesse sentido ela pode ser o início ou o fim de um ciclo; ou pode
ser uma possibilidade existencial. As doutrinas, que consideram a morte como o
início de um ciclo, acreditam na imortalidade da alma e que há uma separação entre
alma e corpo e, com ela, “inicia-se o novo ciclo de vida da alma: seja ele
reconhecido como reencarnação da alma em novo corpo, seja uma vida incorpórea”
(ABBAGNANO, 2000, p. 683).
A concepção de morte como fim e início de um ciclo foi defendida
por diversos filósofos. Marco Aurélio (apud ABBAGNANO, 2000, p. 684) acreditava
que “na morte está o repouso do contragolpe dos sentidos, dos movimentos
impulsivos que nos arrastam para cá e para lá”, a morte, para ele, é então o repouso
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Embora não seja interesse deste estudo discutir as outras personagens do romance, não se pode
deixar de exemplificar a presença da morte na Casa Vermelha. Tem-se o conflito vivido pelas duas
moças, a Loira e a Morena. Lésbicas e também exiladas na Casa, sentem a aproximação da morte,
devido ao câncer de que a Loira é vítima. Diante da morte está a Velha que no passado perdeu o
pequeno filho, a quem passou a esperar sentada no quarto da Casa Vermelha. A morte também
rodeia Gabriel, irmão da protagonista, cuja loucura permite que ele não sofra tanto quanto ela as
marcas do passado. O anão, amigo imaginário da protagonista, também encontra a morte no
romance. Ressalta-se ainda mais uma morte, a da Freira, tida pela protagonista como sua mãe, é a
única no romance que morre sem a dor do viver, é levada pela idade, pelas forças que se
dissolveram com o tempo e não como as demais personagens, cujo viver a princípio está apagado
por uma morte psíquica e, depois, pela morte propriamente dita.