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demais. Trouxe muitas coisas boas, mas o desenvolvimento
trouxe muitas coisas amargas, ruins pra cidade”
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.
Em sua narrativa Milton Reis completa:
“Pouso Alegre era uma cidade bucólica, tranqüila! Aquele
tempo Congonhal, Senador José Bento e Estiva, eram distritos
de Pouso Alegre. E com tudo isso, Pouso Alegre, só tinha
18.000 habitantes. Veja como a nossa cidade era pequena(...)
Falando sobre o Parque, eu devo lhe dizer que eu o tenho nas
mais gratas recordações daquele Parque! Hoje, onde se situa a
arquidiocese, a sede da arquidiocese, era uma escola onde eu
estudei. A dona Carlina Azevedo, foi onde eu fiz o segundo e o
terceiro ano, porque as primeiras letras foi minha mãe que me
as ensinou! Minha mãe era professora, o segundo e o terceiro
ano
os fiz na dona Carlina Azevedo que era uma grande
educadora e a escola era lá, naquela casa grande, ao lado do
Parque. O recreio nós vínhamos para o Parque onde havia
bancos pra se sentar, onde havia grama e inclusive
passarinhos, o que hoje não os há. Por sinal, devo dizer que a
muito tempo não vejo beija-flor por essas imediações. Essa ave
tão bela que num esvoaçar de asas, ela fica como que parada
não é? Sobre as flores, eu até sobre este propósito, falando
sobre o beija-flor, eu fiz uma trova, segundo a qual, o beija-flor
é: campeão na sua vida de amores, não sofre qualquer sansão,
por tirar o néctar das flores!”
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Nas falas, transparece uma Pouso Alegre que mantêm feições de uma cidade
pequena, como um espaço de convivência harmonioso. Se por um lado, práticas de
solidariedade e “camaradagem” eram recorrentes, atitudes de individualismo e
preconceito também o eram. As mudanças na Praça se revelam como novos
projetos elaborados por outros sujeitos sociais, para os quais, a cidade não se
enquadra nos padrões expostos em leis e opiniões publicadas em jornais,
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Mário César Barbosa Ribeiro nasceu em Pouso Alegre, casado pela segunda vez tem quatro filhos. Sua vida
teve inicio no ano de 1951 numa casa localizada, hoje, na rua Coronel Campos do Amaral (na época região da
Zona de Meretrício, próxima a praça João Pinheiro), onde passou toda a infância e adolescência. Trabalhou
como padeiro, funcionário público, enfermeiro e atualmente dirige uma ONG denominada ARNEPA
(Associação da Raça Negra em Pouso Alegre), voltada a promover eventos, oficinas, palestras e atividades
esportivas de interesse da raça negra em Pouso Alegre. Muitos desses eventos são realizados na praça João
Pinheiro. Entrevista realizada em 05/01/2007.
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Milton Reis é natural de Congonhal (antigo distrito de Pouso Alegre), tem 78 anos. Casado, pai de dois filhos,
formado em Direito pela Universidade do Largo São Francisco, iniciou-se na carreira política, segundo ele
mesmo por “vocação” em 1954, quando eleito Deputado Estadual em Minas Gerais pelo PTB. Anteriormente, se
envolveu na fundação de jornais estudantis dentro de colégios particulares e dirigiu uma agremiação esportiva
que funcionava dentro do Parque Infantil denominada AME(Associação da Mocidade Esportiva). Depois
cumpriu mais 5 mandatos como Deputado Federal pelos partidos PTB e PMDB, sendo perseguido e caçado pelo
AI-5, retornando ao cenário político em 1982. Além disso, publicou poesias de sua autoria o que o levou a uma
cadeira na Academia Mineira de Letras. Foi um dos coordenadores da campanha das “Diretas Já” e da
candidatura de Tancredo Neves a Presidência da República, mantendo hoje, estreitos laços com o atual
Governador Aécio Neves (sobrinho de Tancredo). Entrevista realizada em 13/01/2007.