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Seguindo esse entendimento, a narrativa dalcidiana tem por
ambição oferecer ao público leitor uma “visão total”
23
da realidade: a
“historicidade”
24
, os detalhes descritivos dos personagens e a
ordenação do tempo e dos espaços interiores buscam transmitir uma
compreensão não só do passado, mas também do modo como esse
passado influenciou, ou influencia, o período contemporâneo.
São impressões de um mundo basicamente desconhecido,
impregnado da natureza e da essência de um povo e uma classe, que
estimulam, sem dúvida, investigações a respeito de matérias e objetos
da nossa história. Linha do Parque constitui-se nessa perspectiva em
modelo adequado desse panorama historiográfico marcado pela
preeminência do social e do cultural proposto pela “história nova”
25
; ou
23
Segundo Jacques Le Goff, os historiadores Lucien Febvre e Marc Bloch,
fundadores da revista Annales d’Histoire Economique et Sociale, lançada em 1929,
proclamavam a ambição de uma história “total” ou “global”. Por isso – escreve Le
Goff – “a aspiração dos historiadores à totalidade histórica pode e deve adquirir
formas diferentes que, também elas, evoluem com o tempo”. No quadro da história
medieval, o historiador francês procurou demonstrar como se realiza a construção
de uma história “total”, por meio de objetivos “globalizantes”, tais como: a pobreza,
a marginalidade, a idéia de trabalho etc. (LE GOFF, 2003, p. 46). Assim, o que se
compreende dessa noção de “história total”, na visão do romancista ou do
historiador, é o seu desejo de olhar a realidade econômica e social e saber analisá-
la. Isto é, com certeza, um das essências do trabalho histórico, que deve,
simultaneamente, conhecer o funcionamento ativo dessas estruturas, as
desigualdades e o caráter suportável ou insuportável das contradições sociais,
associando tudo isso ao aspecto psicológico que também é muito importante e deve
ser apresentado juntamente à análise desse processo.
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Conforme Le Goff, “historicidade” aplica-se à noção de sociedade histórica (ao
contrário de “sociedade sem história”); aplica-se ainda à noção de historicidade da
história dos movimentos sociais, “que liga uma prática interpretativa a uma práxis
social” (LE GOFF, 2003, p. 19).
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Segundo Peter Burke, a expressão “nova história” surgiu na França com a
publicação da coleção de ensaios produzidos pelo historiador Jacques Le Goff.
“Nesse caso está claro que a nova história é uma história made in France, o país da
nouvelle vague e do nouveau roman, sem mencionar a nouvelle cuisine. Mais
exatamente, é a história associada à chamada École des Annales, agrupada em
torno da revista Annales d’Histoire Economique et Sociale, mais tarde denominada
Annales: Économies, Societés, Civilisations, e ainda depois, Annales: Histoire,
Sciences Sociales. O historiador norte-americano considera que uma definição
categórica a respeito da “nova história” não é facilmente elaborada; no entanto
considera que é basicamente “a história escrita como uma reação deliberada contra
o ‘paradigma tradicional’. De acordo com esse paradigma a história diz respeito