
Le Avventure di Pinocchio, a obra prima de Collodi, é a história de um boneco de
madeira feito por Gepeto, um homem velho e pobre. Porém, é feito de um tipo de madeira
mágica que, depois de pronto, começa a se mexer e agir como um menino qualquer.
Desobedece, não ouve os conselhos dos mais velhos, prefere divertir-se em vez de ir à escola, é
ingênuo, mas tem um bom coração. Pinóquio tem uma característica: quando mente seu nariz
cresce. Gepeto se afeiçoa a Pinóquio e o trata como um filho. Quando Pinóquio sai de casa
para ir à escola, envolve-se em diversas aventuras e dificuldades. Finalmente, através de seu
próprio esforço, e com o auxílio da Fada dos Cabelos Azuis, Pinóquio se transforma num
menino de verdade.
Esta história foi escrita no período da Restauração da Itália, ou seja, do recém
formado Reino da Itália, que congregava regiões que apresentavam diferenças profundas e
históricas, diferenças essas de ordem política, administrativa, social, civil e lingüística. Com o
intuito de minimizar essas diferenças, foi implantado um programa de educação, destinado a
todos, e baseada nos moldes da burguesia. Tornava-se imperiosa a questão de estabelecer uma
língua comum a toda a nação, a questão da língua deixou de ser um problema acadêmico e
passou a ser político-administrativo. Entre os inúmeros dialetos falados na Itália
14
, foi
escolhido, pelos adeptos de Manzoni
15
, o dialeto da Toscana como língua oficial, e que
deveria ser ensinado nas escolas. Institui-se então a Lei Casati
16
, a educação deixou de ser
domínio da Igreja, e portanto, elitista
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; “la prima cosa da spiegare alle giovanissime
generazioni italiane è, ora, proprio l’Italia”
18
. Havia uma preocupação de escritores da época
em produzir livros para a infância dentro de modelos éticos que estivessem de acordo com os
interesses da nova nação.
Collodi, porém, escreve para as crianças sem se ater às regras moralístico-religiosas da
época. A infância é um tema central na obra de Collodi que se dedicou a dois ramos da
literatura para crianças: os livros escolares e os livros de lazer. Distinguem-se em sua obra
14
"(…)I dialetti italiani differiscono fra loro (...) tanton che quelli che parlano dialetti diversi possono non essere
in gradi di capirsi reciprocamente.” (LEPSCHY,L. & LEPSCHY,G.. La lingua italiana: Storia, varietà dell’uso,
grammatica. Milano:Bompiani, 1994, p. 10).
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Alessandro Manzoni (1785-1873) considerava o dialeto florentino adequado para ser adotado por todos os
italianos, pois era falado do mesmo modo pelo povo, pela burguesia e pelos literatos. (LANUZZA, S., Storia
della lingua italiana, Roma: Newton Compton, 1994, p. 62)
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Lei que previa dois anos de ensino obrigatório gratuito às crianças, além de regulamentar até o ensino
superior, mas que não previa mecanismos adequados a esse ensino, delegando às comunas essa obrigação, com o
que ficaram prejudicadas as mais pobres. PARAVIA BRUNO MONDADORI EDITORI. Un esempio: la scuola
italiana dall’unità al fascismo. In: <
www.pbmstoria.it/unita/scuola/unesempio.php>. Acesso em 21/ 06/ 2006.
17
A Igreja era do parecer que “non si può credere di poter portare a scuola, coi ‘giovinetti di civil condizione’,
anche ‘gli zotici contadinelli, i garzonetti di bottega, i monelli di strada”. (LANUZZA, S., Storia della lingua
italiana, Roma: Newton Compton, 199, p. 66).
18
TRAVERSETTI, Bruno. Introduzioni a COLLODI. Bari: Laterza, 1993, p. 78.