
Prática da Interdisciplinaridade em Grupos Consolidados 137
é, portanto, poésis, mas toda poésis é criação. A “poesia” restringe o sentido
do termo (LEFEBVRE
5
1967).
No referente à práxis, diz Lefebvre: O termo práxis se usa atualmente em
várias acepções. Ora designa toda atividade social, logo humana (inclusive a técnica,
a poíesis e também o conhecimento teórico). Ora se opõe à teoria e ao conhecimento
puros ou pretensamente tais, o que aproxima a práxis da prática, no sentido corrente,
ora, enfim, designa a atividade propriamente social, isto é, as relações entre os seres
humanos, distinguidos por legítima abstração das relações com a natureza e a matéria
(técnica e poíesis). É este último sentido que tentaremos circunscrever e determinar...
E continua o autor: O conceito de práxis a designa como determinada e,
todavia, aberta sobre o possível, como inesgotável em face da análise. Este conceito
designa, também, práxis como lugar e origem dos conceitos. A práxis, no sentido
preciso, seria, portanto, o “real” humano, com a condição de não ser separado nem
da história e das tendências históricas, nem do possível. Toda práxis se situa em
uma história; é criadora da história. A história total seria, portanto, uma história
da práxis; tenderia para o conhecimento completo (em suas últimas conseqüências)
do desenvolvimento humano (LEFEBVRE
5
1976).
Registre-se, com certo espanto, que essa vigorosa e rica proposta de
refundamentação da dialética, publicada em 1965, tenha produzido tão pouca
influência. Recuperá-la, hoje, tem um sentido também de reparação de uma
flagrante injustiça para com esse filósofo absolutamente original, criativo e
instigante, que foi Henri Lefebvre.
A relativamente pequena influência da tese de Lefebvre talvez se explique
pelo contexto de seu surgimento. Antes de tudo, a tese de Lefebvre deve ser
vista como mais uma proposição num quadro de formidável efervescência
cultural, os anos entre 1960 e 1968, em que surgiram várias perspectivas
metodológicas diferenciadas, todas reclamando-se decorrentes de uma mestra
matriz – o marxismo. Assim, haverá a leitura existencialista da dialética marxista
feita por Sartre; a crítica, de corte Kantiano, realizada por Galvano Della Volpe
do vício hegeliano presente no marxismo; o estruturalismo marxista de
Althusser; a continuidade da Teoria crítica com as obras de Adorno (Dialética
Negativa e Teoria Estética), Marcuse e Habermas; a influência de Lukács sobre
a obra de Lucien Goldmann... Nesse sentido, a tese de Lefebvre, considerada
aqui, teve que partilhar espaço com diversas outras teses, num quadro de tal
excitação e dinamismo, de efetiva criatividade, que não permitiu, na época,
decantação, senão que rivalidades, tensões, conflitos que tinham raízes mais
nas disputas políticas do que na aferição da consistência daquilo que foi
produzido. Quando, com o tempo e as provas que a história impõe, houve
condições para um balanço do que ficaria, efetivamente, daquela produção, o
ciclo de ascensão do movimento de massas – que era o grande dínamo