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encontrados pela autora. Como se vê na tabela 1.1 acima, os intransitivos
existenciais alcançam 99% de ordem VS, seguidos pelos intransitivos não-
existenciais, com 46% de posposição. Apenas os transitivos rejeitam a ordem VS,
com menos de 10% de posposição.
No entanto, a monoargumentalidade não é por si só a restrição para a ordem
VS, uma vez que, no contexto monoargumental, também podem ser encontrados
sujeitos pré-verbais. Além da monoargumentalidade, é preciso levar em
consideração o tipo de argumento e a relação estabelecida com o verbo que o
projeta. Berlinck (1988 apud Spano 2002) verificou que o traço semântico [-agentivo]
do DP sujeito, bem como o tipo de verbo influenciam na definição da ordem. Isso
significa que são os verbos inacusativos os que influenciam favoravelmente a ordem
VS.
Ao realizar um estudo diacrônico com peças de autores brasileiros e
portugueses, Berlinck (1995, apud Spano 2002) refina o tratamento de verbos
monoargumentais, fazendo a distinção entre (a) verbos intransitivos não-ergativos;
(b) verbos intransitivos ergativos (derreter, aquecer, morrer, aparecer, acontecer,
existir, etc.); (c) construções com se-V; (d) construções com verbos de movimento e
(e) construções copulares. Destes tipos de construção, segundo os resultados da
autora, os verbos que apresentam maior índice de ordem VS, com um percentual de
43% do total de ocorrências de posposição, são os chamados verbos intransitivos
ergativos, a que nos referimos aqui como inacusativos
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.
Spano (2002), analisando construções declarativas monoargumentais,
na fala culta das variedades brasileira e européia do português, encontrou uma
acentuada freqüência da ordem VS (68% para o PE e 61% e 52% para as décadas
de 70 e 90 do PB, respectivamente). Uma explicação dada para a alta incidência
desta ordem foi a grande quantidade de construções existenciais encontrada pela
autora em todas as amostras analisadas: seus resultados revelam que cerca de 70%
das ocorrências de posposição são com construções existenciais. Ressalte-se,
entretanto, que a autora incluiu as construções com haver. Outro fator encontrado
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Haegman (1994) estabelece uma distinção entre verbos inacusativos e ergativos, sendo estes considerados
verbos causativos, que projetam seu argumento TEMA na posição de sujeito: The boat sank. Duas razões são
apresentadas para justificar esta distinção. Em primeiro lugar, o verbo SINK pode ser usado como transitivo, em
que ele concede caso acusativo a um de seus argumentos: The enemy sank the boat
. Outra razão diz respeito à
construção com o expletivo there. Enquanto verbos tipicamente inacusativos permitem a construção com there:
There arrived three men, os verbos causativos não ocorrem nessas construções: *There sank three ships last
week.