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encenações, percebe-se uma mistura muito bem dosada de padrões visuais
característicos dessas culturas.
Conseqüentemente, aqui no Brasil, seu interesse pelas comunidades indígenas
brasileiras se reflete na montagem de
Mistério das Nove Luas
, muito antes da
conscientização sócio-política do elemento indígena que emergiu na década de 1970.
Também aqui, sua aproximação com a cultura afro-brasileira torna-se fonte de
inspiração para a ritualização de seu teatro, seja nos figurinos, que se assemelham
aos de divindades africanas, seja na forte percussão, repleta de instrumentos
musicais encontrados nessas manifestações.
A chegada de Ilo ao Brasil em 1961 se deu graças ao artista plástico Augusto
Rodrigues, que o convidou para ministrar cursos na Escolinha de Arte do Brasil. Uma
vez estabelecido no país, Krugli lecionou ainda no curso de musicoterapia do
Conservatório Brasileiro de Música, entre tantas outras atividades que realizou, como
palestras e oficinas em centenas de cidades do país. Entre o ano de sua chegada e
1970, manteve, juntamente com Pedro Domingues, o Teatro de Ilo e Pedro, uma
companhia de Teatro de bonecos que servirá como balão de ensaio para as
encenações que viriam na década seguinte e que o fariam despontar como diretor. O
repertório daquela época ainda dialogava com a tradição do Teatro de bonecos, em
que os bonecos de luva
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e de fios
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eram destaques. Um espetáculo importante
desse período foi a produção da ópera
El Retablo de Maese Pedro
, de Manuel de
Falla, criado para a Sala Cecília Meirelles, com cenários e direção de Gianni Ratto e
direção musical e regência de Isaac Karabitchevski. De 1970 a 1973, cria e dirige o
Núcleo de Atividades Criativas (NAC) ainda em parceria com Pedro Domingues e com
a musicista Cecília Conde.
Como artista plástico, Ilo Krugli participou por duas vezes consecutivas da
Bienal Internacional de São Paulo, nas edições de 1968 e 1970. Ainda na década de
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Comumente chamado também de fantoche, pode ser classificado como uma manipulação interna,
já que a mão do manipulador se insere numa estrutura maleável, feita de pano, que possui três
extremidades rígidas (mãos e cabeça), podendo ser de madeira, isopor, papier machê, entre outras
possibilidades. Com medidas aproximadas em torno de trinta centímetros, esse tipo de manipulação
tradicionalmente requer um anteparo para que a cena se estabeleça, este chamado de empanada.
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A manipulação de bonecos de fios, habitualmente conhecidos como marionetes, é aquela que se
dá a partir de uma estrutura geralmente de madeira, a qual chamamos de avião, de onde partem os
fios que se prendem a inúmeras partes de um boneco rígido articulado. A movimentação se
estabelece, portanto, a partir da movimentação dos fios, graças à gravidade.