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desejos e necessidades quanto o que desperta nossos medos interpessoais mais
profundos.
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A diferença entre a pessoa que desenvolve um transtorno de personalidade e a que não
desenvolve é apenas de grau; todos nós temos a possibilidade de desenvolver um transtorno
de personalidade em algum momento de nossa vida, e o transtorno que desenvolveremos, se
for o caso, será baseado em nosso estilo de personalidade. Quando me apóio no que o DSM-
IV descreve como transtorno para falar de um estilo de personalidade, estou entendendo que o
transtorno é o estilo que se cristalizou e, por isso, causa sofrimento, ou, dizendo de outra
maneira, os transtornos não são, por si sós, doenças ou características ontológicas, são
construtos que descrevem estilos com problemas que geram angústias e mal-estares
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. Ao
fazer essa análise da personalidade do cliente, não estou particularmente interessado na
determinação da presença ou da ausência de uma enfermidade, mas, antes, em compreender
um jeito de ser, um estilo de lidar com as relações, de lidar com a vida e com os problemas
existenciais. Nesse processo, procuro antes olhar para a saúde que para a doença, para o que o
cliente traz de criativo mais do que para o que o cliente traz de problemático, visando, assim,
ampliar o sentido de cooperação necessário no processo terapêutico.
Quando priorizo o aspecto saudável e criativo do cliente, não me coloco (e nem o
convido para se colocar) em luta contra algum aspecto de si que deva ser eliminado ou
modificado, mas me coloco (e o convido para se colocar) em aliança com aquilo que nele
ainda não pôde se desenvolver suficientemente e precisa ser desenvolvido. Assim, me coloco
mais claramente numa postura que leva em conta que hoje é mais importante para a
psicoterapia a busca da compreensão do cliente e de sua verdade pessoal. Agindo assim, estou
mais atento ao sentido do sofrimento denunciado que às suas causas, estou mais ocupado em
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My point is that we can quickly and easily learn quite a lot about our clients by simply observing
what is habitually figure for them during their interactions with others. I think of this habitual figure as the
client’s “Interpersonal Gestalt.” In its most general sense, the Interpersonal Gestalt is the way we are organizing
our interpersonal field at any moment: what becomes figure for us out of the many interpersonal possibilities,
and what becomes ground. It involves such things as what role we want to play in the interaction, how we want
to be seen and treated by the other, how we expect to feel during the interaction, and what we secretly long for or
fear from the other person. The Interpersonal Gestalt (IG) follows the same rules as other gestalt formations. Our
interests, needs, expectations, physiology, culture, history and temperament all affect what becomes figure for
us. We tend to notice those things that we want, need or fear. Thus, we are likely to be especially responsive to
interpersonal cues that seem to promise either the fulfillment of our most longed for desires and unmet needs or
those that arouse our deepest interpersonal fears.
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De uma certa maneira, o modo que lido com essa díade estilo-transtorno guarda muitas semelhanças
com o modo como Laura Perls teorizou sobre estilo e caráter. De fato, segundo Pimentel (2003, p. 46) , “Laura
Perls diferenciou, influenciada pelas concepções reichianas, os conceitos de caráter e de estilo. (...) Para ela, o
caráter faz referência à fixação de uma gestalt – ‘alguém ter caráter significa que tem modos muito definidos de
comportar-se, de expressar-se e de funcionar’; enquanto o estilo aponta para a evolução – ‘um modo integrado
de funcionamento, comportamento e expressão’.” Para mim, caráter é estilo cristalizado.