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Não pertenço a ordem iniciática nenhuma. Creio na
exitência de mundos superiores ao nosso e de habitantes
desses mundos, em experiências de diversos graus de
espiritualidade, subtilizando-se até se chegar a um ente
supremo, que presumivelmente criou este mundo. Pode
ser que haja outros entes, igualmente supremos, que
hajam criado outros universos, e que esses universos
coexistam com o nosso, interpenetradamente ou não. Por
estas razões, e ainda outras, a ordem externa do
ocultismo, ou seja, a Maçonaria evita (exceto a Maçonaria
Anglo-Saxônica) a expressão “Deus” dada as suas
implicações teológicas e populares, e prefere dizer Grande
Arquiteto do Universo’, expressão que deixa em branco o
problema de, se ele é criador, ou simples governador do
mundo. Dadas estas escalas de seres, não creio na
comunicação direta com Deus, mas, segundo a nossa
afinação espiritual, poderemos ir comunicando com seres
cada vez mais altos (PESSOA, op. cit., p.19)
Sendo assim, fica claro que Pessoa investiga muitas seitas para inspirar-se
no que nelas ainda há da religiosidade primitiva do homem e que o Cristianismo
perdeu. Porém, não se torna adepto de nenhuma delas, já que pretende criar uma
nova fé para servir de base ao novo Império que ele anuncia. Como vemos, na
citação acima, o poeta tem uma concepção de Deus muito mais próxima das seitas
como a Maçonaria do que da concepção católica dominante em Portugal. Isso não
quer dizer que Pessoa seja anti-cristão, mas defende, apenas, uma visão peculiar
ligada aos valores pagãos do Cristianismo. O paganismo superior de Pessoa é,
grosso modo, uma religião sem templos, em que o homem deve buscar o Ser tal
qual a concepção platônica. Isto é, rememorar o inteligível para que um dia se possa
chegar ao Ser Verdadeiro. A fé aqui não é um sentimento abstrato, mas algo que
pode ser experimentado concretamente, por meio de rituais instintivos em que os
sentidos predominam sem anulação, porém, sobre o domínio do racional.
Esta breve explicação serve apenas para ter uma base que nos permita
entender melhor o misticismo que aparece na Mensagem. Neste trabalho, não nos
propomos a investigar a questão religiosa em si, mas como parte de uma linguagem
poética. Enfim, parece-nos relevantes os esclarecimentos que fizemos até aqui, ao
tratar das seitas que influenciam o paganismo superior de Pessoa. É por isso que,