Num primeiro momento, colocamos como problema central da pesquisa
a questão da simbologia e da iconografia na arte Marajoara. Pretendíamos
através dos símbolos e ícones a serem identificados nas representações
pictóricas e através de técnicas de decoração plástica, onde também é
amplamente usada a modelagem, desvendar significados que contribuíssem
para explicar inúmeras questões levantadas desde as primeiras pesquisas na
região. A partir da consulta das diversas publicações de arqueólogos que
escavaram nos sítios-tesos de Marajó desde o século passado, percebemos
que as colocações feitas por esses pesquisadores a respeito dos significados
das representações artísticas eram simplesmente hipóteses e especulações
construídas em cima das evidências coletadas nos sítios, mas que nenhum
estudo mais aprofundado e específico sobre essas representações havia sido
feito. Essa situação é bastante compreensível, uma vez que havia uma grande
quantidade de outras informações empíricas que necessitavam ser
processadas, além da necessidade de se estabelecerem datações.
Percebemos então que nosso trabalho não poderia ficar distanciado da
discussão a respeito dos problemas colocados a partir do resultado das
escavações, uma vez que entendemos que a arte se insere no contexto dos
outros vestígios da cultura do grupo e deve ser fonte fundamental de
informação sobre essa sociedade, assim como o são a constituição óssea, os
padrões alimentares, a localização dos fogões, dos sítios-habitação, dos sítios-
cemitérios, dos resíduos da fauna e flora, enfim, de tudo aquilo que, de alguma
forma nos comunica algo sobre a subsistência e sobrevivência do grupo.
Mesmo utilizando o material já publicado a partir do resultado de
escavações, que traz, via de regra, boas ilustrações e fotos das peças
cerâmicas, sentimos a necessidade de trabalhar de maneira mais próxima com
uma amostra que, ao mesmo tempo em que fosse significativa dentro do
universo das peças conhecidas, nos desse a oportunidade de manuseá-las,
medi-las, observar técnicas, cores, espessuras e texturas, o que seria
impossível com material impresso. Além disso, o fato de termos reproduzido
graficamente os desenhos nos deu a oportunidade de observá-los melhor, de
maneira a reconstituir a maneira como foram feitos originalmente, ou seja,
observar a primazia e continuidade de traços, a ligação entre forma e
decoração, o nível de dificuldade das técnicas, os relevos.
O estudo da coleção Tom Wildi não só satisfez essas condições,
inicialmente necessárias ao bom andamento da pesquisa como teve o mérito
de demonstrar as potencialidades do estudo de uma coleção museológica. Com
relação à escolha e estudo dessa coleção, devemos agradecimentos especiais