
volvimento a freqüentarem, exclusivamente, atendimentos clínicos, sem possibilidades, 
muitas vezes, da inserção da escola na vida desses sujeitos.
A escola é um signicante da infância, uma instituição social que compõe a vida in-
fantil, na qual os pequeninos, desde muito cedo, encontram-se inseridos.  Ninguém pen-
sa em infância sem escola, constituindo-se, essa última, em espaço privilegiado para o 
ser criança. A família de Francisco, no desejo de que ele freqüentasse atendimentos de 
caráter pedagógico e escolar, procurou na cidade onde reside uma escola que aceitasse 
a responsabilidade sobre o processo de escolarização do menino. Não encontraram. Ao 
analisarmos as relações entre educação e autismo este fato é recorrente.  Apesar de 
Itard em sua experiência com Victor ter privilegiado a dimensão pedagógica, na maioria 
das histórias dos sujeitos com autismo, essa não é a realidade encontrada. 
Pesquisas apontam para a ausência e a precariedade de serviços destinados a pres-
tarem algum tipo de atendimento ao indivíduo com autismo (OLIVEIRA, 2002; VASQUES 
2002), sendo esta realidade agravada quando consideramos o atendimento educacional. 
O estudo realizado por Oliveira (2002)
4
 mostra que das oito instituições pesquisadas que 
se destinam a prestar atendimento aos sujeitos com  diagnóstico de autismo, somente 
uma desenvolve uma abordagem pedagógica, priorizando a dimensão educacional. As 
outras sete, se caracterizam por terem uma abordagem eminentemente clínica de com-
preensão e intervenção junto às peculiaridades dos sujeitos com autismo.
Francisco passou a freqüentar uma escola de educação infantil que fora fundada 
pelos próprios pais. Desde então, apesar de ter freqüentado diferentes escolas, sempre 
esteve inserido e pertencente a esta cadeia de signicantes que compreende a escola. A 
cadeia de signicantes, referida aqui, remete ao conceito lacaniano, no qual um signican-
te é o lugar que o sujeito ocupa na cultura (BLEICHMAR, 1992), nesse caso, o lugar que 
esse lho ocupa no imaginário desses pais e consequentemente, no meio em que está/
será inserido – a escola. O campo imaginário que recobre o sujeito – e que foi recebido 
daqueles que o constituíram (nesse caso, os pais) formaram a rede de inserções escola-
res e, mais especicamente, a escola na qual relatamos o caso. Esse campo imaginário é 
de suma importância, pois ele cria no sujeito e no seu entorno, o campo da “possibilidade”. 
A crença no desenvolvimento cognitivo, social e afetivo, através da vivência escolar apon-
tada pelos pais e concretizada nas várias modalidades de inserção, cria para Francisco 
uma brecha de crença no âmbito especíco dessa escola, ou seja, a de que Francisco 
“pode”, “será capaz”, “será beneciado”, com sua permanência e contato com outros de 
sua  idade. A formação da identidade  de Francisco, seu papel  e reconhecimento entre 
iguais, serão constituídos também pelo mergulhamento dele em uma situação vivencial, 
de estímulos constantes entre pares (colegas) e ímpares (relação com os professores), tal 
qual ocorrem com outros colegas/alunos que não apresentam o transtorno.
Em estudo realizado sobre as relações entre os transtornos globais do desenvol-
vimento (TGD)
5
 e o desenvolvimento  infantil, Vasques (2002)  conclui  que a inserção 
escolar é um fator diferencial no desenvolvimento global desses sujeitos. 
Importante ressaltar  que,  mesmo  neste  momento histórico  em que  há  grandes 
dúvidas sobre a existência de uma estrutura singular do Transtorno Autista, em oposi-
4 Cabe destacar que essa pesquisa foi realizada na região metropolitana de Porto Alegre. Não temos ainda um estudo que contemple 
um recorte da realidade Santa-mariense. Porém, os prossionais da área diariamente encontram diculdades no desenvolvimento de um 
trabalho junto a essa população devido à escassez e a precariedade de serviços oferecidos no âmbito municipal. 
5 A autora em seu estudo se detém mais especicamente na questão da psicose infantil que pertence a grande categoria nosográca dos 
transtornos globais do desenvolvimento infantil (TGD)