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TAÍS VARGAS LIMA
ESTUDO DAS REPRESENTAÇÕES RUPESTRES
DO RIO GRANDE DO SUL / BRASIL
Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em História, Faculdade de
Filosofia e Ciências Humanas da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul,
como requisito parcial e último à obtenção do
grau de Doutor, Área de concentração em
Arqueologia, Linha de Pesquisa:
Representações Rupestres, Cultura Material e
Sociedade.
Orientador: Prof. Dr. Denis vialou
Co-Orientador Prof. Dr. Arno Alvarez Kern
PORTO ALEGRE
2005
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Dedico o meu trabalho de tese aos
meus pais – avós maternos Odorial
Siqueira do Santos (vô Boliva) e Alvarina
Duarte Fontoura (in memorian), que ainda
me ensinam que o amor e a compreensão
humana é o melhor caminho para a paz, a
harmonia e o respeito ao próximo. A eles
o meu eterno amor e consideração.
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AGRADECIMENTOS
Este trabalho é uma produção em conjunto com várias pessoas que
contribuíram com as atividades de pesquisa que se realizaram em território Uruguaio
e no estado do Rio Grande do Sul do Brasil.
Ao professor Denis Vialou agradeço-lhe ainda a confiança, pela possibilidade
da minha participação nas pesquisas em que coordena junto à professora Agueda
Vialou entre 2002, 2003 e 2004 no estado do Mato Grosso.
Aos professores Arno Alvarez Kern, Klaus Hilbert e Pedro Ignácio Shmitz,
agradeço a cordialidade e o diálogo que tivemos durante a confecção deste trabalho.
Agradeço especialmente a Carla e ao David funcionários da secretaria do
Pós-Graduação da PUCRGS sempre prestativos, sempre antes de tudo amigos,
corretos e eficientes os meus parabéns e o meu obrigado.
Também agradeço ao professor Paiva Touren, pelas traduções e pela
paciência que sempre teve comigo.
A Pró-Reitoria da URCAMP na pessoa do professor Mario Aldemar Thompson
Flores, pelas inúmeras oportunidades de saídas a campo.
Agradeço também com admiração a professora Virgínia Brancato de Brum.
Ao pessoal do Núcleo de Ensino e Pesquisas Arqueológicas da Universidade
da Região da Campanha, campo e laboratório, a Iáli Vargas Lima que contribui para
com os estudos das gravuras e placas rupestres do Uruguai, o meu obrigado.
Ao diretor Mario Trindade do Museu de História Natural de Salto no Uruguay
pela gentileza em que nos cedeu o material necessário para nossa pesquisa tanto
em laboratório como em campo, nosso agradecimento.
Ao Cláudio Bortolaz do Museu Guido Borgomanero de Mata que também
auxiliou nas pesquisa em campo, agradecemos a sua contribuição.
Na vida temos muitos encontros fazemos amigos, mas foi Eliseu Merlugo a
pessoa a que quem eu devo um enorme apreço e consideração.
À Rosa Velho, agradeço a imensa paciência e eficiência no seu trabalho da
elaboração da minha tese, meu muito obrigado.
RESUMO
Esta tese enfoca a interação-ação dos seres humanos no encontro com a natureza e
a definição de “território rupestre” e como este reflete sobre a própria sociedade. A
cultura interfere no ambiente tanto quanto o ambiente a modifica. Enfoca-se mais
especificamente o estudo da região sul do Brasil em conjunto com as
representações rupestres referentes ao noroeste Uruguai e da Argentina. Nosso
objeto de estudo apresenta-se através de uma visão de conjunto dos sítios rupestres
localizados no Rio Grande do Sul estudados ou conhecidos até 2004. Estes novos
sítios são caracterizados como RS TO 06 – Chacrinha e RS TO O7 DeDavid
município de Mata, do sito RS I 17 – Cerro do Letreiro em Alegrete, sítio RS I 18 –
Cerro do Bugio – Rosário do Sul e Sitio Cerro da Panela em Quarai, bem como, a
confirmação da arte rupestre no sítio Morro das Pedras em Torres. Esta tese
apresenta o dispositivo parietal através da cópia e da fotografia. Tipologias rupestres
foram construídas. Foi feita uma referência sobre a arte mobiliar, quando realizamos
um trabalho de pesquisa em Santo Domingo e em Dayman no Uruguai. A produção
e interpretação da arte rupestre são percebidas através da escolha do espaço e do
suporte. Assim como a imagem provoca nos seres humanos um ”pensar” sobre o
representar, os aspectos comunicativos também podem ser analisados sob o crivo
de uma linguagem, tratando-se da representação visual. Enfim, a Educação
Patrimonial é abordada como uma pedagogia alternativa, para recuperação de uma
memória social dos bens culturais e responde sobre o porquê conservar as obras
artísticas pré-históricas.
Palavras-chave: Arqueologia – Arte rupestre – Pré-história.
ABSTRACT
This theses focuses interaction of human being with nature and rhe definition of
“território rupestres” (rock art terrritory) and how it reflects on society itself. Culture
interferes with the enviroment and vice-versa. This these focuses in detail’s rock art
from south Brazil and northwest Uruguay and Argentina. Our objetc investigates rock
art sites in Rio Grande do Sul studied up to 2004. The new sites are: TS TO 06 –
Chacrinha e RS TO 07 – DeDavid, Mata; RS I 17- Cerro do Letreiro, Alegrete; RS I
18 – Cerro do Bugio, Rosário do Sul e Cerro da Panela, Quarai as well as the
confirmation of rock art in site Morro das Pedras, Torres. This theses presents panels
of rock art through copy and fotogray. Tipologies of rock art made. References on
mobile art fron Santo Domingo e Dayman in Uruguay werw made. As the image
makes human beings to think on rerepresenting, comunicative aspects can also be
analised as a language, for they are a visual representation. Finally, Patrimonial
Education is focused as an alternative pedagogy to recuperate social memory of
cultural assets and tell why preserve pre-historic art.
Key-words: Archeology – Rock art – Pre-historic.
RESUMÉ
Cette thèse étudie l’interaction-action des êtres humnains avec la nature et la
definition de “territoire d’art rupestre” et comme il reflète sur la societè. La culture
interfère avec l’endroit et vice-versa. Cette thèse étudie en detail l’art rupestre de la
région sud du Brésil et nort-ouest de “Uruguauy et de l’Argentine. Notre but fait des
recherches systématiques sites de l’art rupestre en Rio Grande do Sul étudiés
jusqua’a 2004. Les nouveaux sites sont: RS TO 06 - Chacrinha et RS TO 07 -
DeDavid, Mata; RS I 17 - Cerro do Letreiro, Alegrete; RS I 18 - Cerro do Bugio,
Rosário do Sul et Cerro da Panela, Quarai, ainsi comme la confirmation de l’art
rupestre dans le site Morro das Pedras, Torres. Cette thèse présente panneaux d’art
rupestre par releve e par photografhie. Typologies sont faites. Références sur lárt
mobilier de Santo Domingo et Dayman em Uruguay sont faites. Ainsi comme l’image
fait les êtres humains penser sur les réprésentations, aspects de communication
penvent aussi être analysés comme langage, car ils sont réprésentations visuelles.
Finalement, l’Éducation Patrimoniale est traitée comme une pédagogie alternative
par récupérer la mémoire sociale de la richese culturale et dire porquoi présérver l’art
de la pré-histoire.
Mot-Sclés : Archeologie, L’art rupestre, Pré-histoire, L’Education Patrimoniale.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Datações para os sítios com registros rupestres no Rio Grande do Sul ....29
Quadro 2 - Novos sítios rupestres no Rio Grande do Sul .................................................. 59
Quadro 3 - Descrição dos sítios rupestres do Rio Grande do Sul ..................................104
Quadro 4 - Categorias Geométricas .....................................................................................113
Quadro 5 - Categorias Representativas ou Naturalistas ..................................................114
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Mapa de Localização dos quatro municípios pesquisados com
representações rupestres no Rio Grande do Sul .......................................... 61
Figura 2 - Carta - 1. Vinte Tiros – MI 2974/3 - 2. Mata – MI 2964/1 – Mata ............... 65
Figura 3 - Bloco rochoso sítio de DeDavid – Mata.......................................................... 66
Figura 4 - Painel rupestre 1 DeDavid – Mata................................................................... 66
Figura 5 - Painel rupestre 2 DeDavid – Mata................................................................... 67
Figura 6 - Abrigo da Chacrinha – Mata ............................................................................. 67
Figura 7 - Abrigo da Chacrinha – Mata ............................................................................. 67
Figura 8 - Carta 2 - São Francisco de Assis – MI 2962/4 - Alegrete............................ 68
Figura 9 - Área circulada apresenta o Abrigo do Cerro do Letreiro – Alegrete .......... 69
Figura 10 - Paredão rochoso de arenito – Cerro do Letreiro......................................... 69
Figura 11 - O auxiliar de topografia da Prefeitura Municipal de Manoel Viana Sr.
Valdomiro (quem indicou o sítio rupestre – Cerro do Letreiro) ................ 69
Figura 12 - Paredão rochoso com linha de linhas de fraturas – Cerro do Letreiro ....70
Figura 13 - Painel rupestre 1 – Cerro do Letreiro............................................................ 70
Figura 14 - Painel rupestre 2 – Cerro do Letreiro............................................................ 70
Figura 15 - Painel com “tridigito” e um traço abaixo – Cerro do Letreiro..................... 70
Figura 16 - Conjunto de “tridígitos” – Cerro do Letreiro.................................................. 71
Figura 17 - Painel demonstrando o conjunto dos “tridígitos” – Cerro do Letreiro ...... 71
Figura 18 - Base do paredão com muitos traços retilíneos paralelos – Cerro do
Letreiro............................................................................................................... 71
Figura 19 - Traços retilíneos – Cerro do Letreiro ............................................................ 71
Figura 20 - Carta 3 – Guará MI 2979/4 – Rosário do Sul .............................................. 72
Figura 21 - Área circulada apresenta abrigo rochoso com representações rupestres –
Cerro do Bugio ................................................................................................. 73
Figura 22 - Vista do fundo do abrigo 1 – Cerro do Bugio............................................... 73
Figura 23 - Vista do fundo do abrigo 2 – Cerro do Bugio............................................... 73
Figura 24 - Painel 1 – Cerro do Bugio............................................................................... 73
Figura 25 - Painel 2 – Cerro do Bugio............................................................................... 73
Figura 26 - Apresentação das áreas escavadas realizadas por Maria Elena Shor –
(lado “esquerdo” da foto apresenta os “poços testes” - Cerro do Bugio. 74
Figura 27 - Croqui 2 - Retirado da publicação de Ribeiro 1984 – Quarai ................... 75
Figura 28 - Apresentação do Sítio Cerro da Panela (ao fundo destaca-se o cerro cujo
nome recebeu o sítio....................................................................................... 75
Figura 29 - Bloco rochoso com gravuras rupestres em “três faces” ............................ 76
Figura 30 - Áreas com escamações da bloco e nelas as representações.................. 76
Figura 31 - Face Oeste do bloco – Cerro da Panela ...................................................... 77
Figura 32 - Gravura com sulcos retos paralelos que se cruzam .................................. 77
Figura 33 - Bloco quebrado por vandalismo (apresenta traços paralelos – havia um
arame embaixo como se tivesse sido puxado)........................................... 77
Figura 34 - Bloco quebrado com sulcos............................................................................ 77
Figura 35 - Carta 5 – Três Cachoeiras – SH 11 X C – MI 2956/8 – Torres ................ 79
Figura 36 - Paisagem que encobre o sítio RS 100 – Morro das Pedras – Torres..... 80
Figura 37 - Painel “G” – Face Oeste Morro das Pedras................................................. 80
Figura 38 - Painel “ H” – Face Oeste Morro das Pedras................................................ 80
Figura 39 - Painel “J1” – Face Oeste Morro das Pedras................................................ 81
Figura 40 - RS TO 06 DeDavid e RS TO 07 – Chacrinha.............................................. 84
Figura 41 - RS I 17 – Cerro do Letreiro............................................................................. 86
Figura 42 - RS I 18 – Cerro do Bugio................................................................................ 87
Figura 43 - Cerro da Panela................................................................................................ 88
Figura 44 - RS 100 – Morro das Pedras ........................................................................... 89
Figura 45 - Placa gravada encontrada no Rio Grande do Sul ...................................... 92
Figura 46 - Mapa de Localização das placas rupestres na região do Rio Grande do
Sul e no noroeste do Uruguai ........................................................................ 95
Figura 47 - Forma das placas............................................................................................. 96
Figura 48 - Matéria-Prima.................................................................................................... 97
Figura 49 - Técnica de confecção dos gravados............................................................. 98
Figura 50 - Forma dos sulcos gravados............................................................................ 99
Figura 51 - Estado de representação das placas e sulcos............................................ 99
Figura 52 - Tipologia .......................................................................................................... 101
Figura 53 - Categoria geométrica ou naturalista ........................................................... 101
Figura 54 - Faces das placas............................................................................................ 102
Figura 55 - Quantificação dos suportes com inscrições rupestres............................. 105
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................... 15
2 REPRESENTAÇÕES RUPESTRES E CONTEXTO REGIONAL NA AMÉRICA
MERIDIONAL ATLÂNTICA............................................................................................. 19
2.1 Território Rupestre: Domínio da Representação no Ambiente............................... 19
2.2 A Determinação e a Problemática das ‘Grandes Regiões Rupestres’ no Brasil . 22
2.3 A Tradição Rupestre Meridional e sua Distribuição Espacial ................................. 25
2.3.1 Uma reflexão sobre as paleopaisagens sul-rio-grandense do Brasil e os
contextos rupestres: questão das datações........................................................... 26
2.3.2 Histórico e Processos de pesquisa sobre as gravuras rupestres....................... 30
2.3.3 Aspectos comparativos rupestres com outros contextos rupestres do sul do
Brasil: a percepção estilísticas para as representações rupestres ................... 38
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E CONCEITUAIS PARA O ESTUDO
DAS REPRESENTAÇÕES RUPESTRES NO RIO GRANDE DO SUL – BRASIL56
3.1 Plano de Trabalho para o Dispositivo Parietal: Aspectos Teóricos e Conceituais ....56
3.2 Análise dos Conjuntos Rupestres: do Plano Diretor, à Cópia da Gravura, à
Fotografia......................................................................................................................... 60
3.3 Caracterização de Novos Sítios Meridionais e seus Contextos............................. 62
3.3.1 Sítios RS TO 06 – DeDavid e RS TO 07 – Chacrinha – Mata ............................ 62
3.3.2 Sítio RS I 17 – Cerro do Letreiro– Alegrete............................................................ 68
3.3.3 Sítio RS I 18 – Cerro do Bugio – Rosário do Sul................................................... 72
3.3.4 Sítio Cerro da Panela – Quarai ................................................................................ 74
3.3.5 Confirmação das representações rupestres do Sítio RS 100 Morro das Pedras
– Torres........................................................................................................................ 78
3.4 Caracterização Tipológica e Quantitativa das Representações: Questão das
Classificação das Formas............................................................................................. 83
4 ARTE MOBILIAR NO NOROESTE DO URUGUAI E NO RIO GRANDE DO
SUL/BRASIL: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ANALÍTICAS.................................. 90
4.1 Análise e Classificação Tipológica das Placas Gravadas de Salto – Sítio
Bañadero.......................................................................................................................... 96
5 PRODUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES RUPESTRES E INTERPRETAÇÃO .. 103
5.1 Implicações sobre Escolhas de Espaços: A Questão dos Suportes Rochosos 103
5.2 As Imagens Rupestres: O Pensar Humano através de Representações........... 106
5.4 Signos Comunicativos: Enfoque para Descrição de uma Linguagem ................ 110
6 PROGRAMA DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO, CONSERVAÇÃO E
VALORIZAÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES RUPESTRES.................................... 120
6.1 Patrimônio Arqueológico: Educação e Conservação............................................. 120
6.2 Valorização das Representações Rupestres: por Uma Pedagogia Alternativa. 121
6.3 Apreendendo uma Memória Social: Projeto Piloto em Escolas – Aplicação no
Ensino Fundamental das Séries Iniciais ................................................................... 129
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 140
REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 147
ANEXOS .............................................................................................................162
ANEXO I – Descrições e Classificações dos sítios rupestres Meridionais do Rio
Grande do Sul (1969 a 1998)..................................................................... 163
ANEXO II – Plano de Trabalho para os dispositivos Parietais............................. 200
A – Elaboração dos Planos Diretores.............................................................................. 201
1- RS TO 07 – Abrigo da Chacrinha – Painel 1- Mata/RS........................................... 202
2- RS TO 07 – Abrigo da Chacrinha – Painel 2- Mata/RS........................................... 204
3- RS I 17 – Cerro do Letreiro – Painel 1 A – Alegrete/RS.......................................... 206
4- RS I 17 – Cerro do Letreiro – Painel 2 – B-C-D – Alegrete/RS.............................. 207
5- RS I 18 – Cerro do Bugio – Rosário do Sul/RS ........................................................ 210
6- Cerro da Panela – Painel 1 – Quaraí/RS ................................................................... 212
7- Cerro da Panela – Painel 2 – Quaraí/RS ................................................................... 215
8- Cerro da Panela – Painel 3 – Quaraí/RS ................................................................... 217
B- Cópia das Gravuras ...................................................................................................... 219
9- RS TO 06 – Bloco DeDavid – Painel 1 – Mata/RS................................................... 220
10- RS TO 06 – Bloco DeDavid – Painel 2 – Mata/RS................................................. 222
ANEXO III – Tabulação dos Signos Rupestres......................................................... 223
1- RS TO 07 – Abrigo da Chacrinha – Mata /RS........................................................... 224
2- RS I 17 – Cerro do Letreiro – Alegrete/RS ................................................................ 227
3- RS I 18 – Cerro do Bugio – Rosário do Sul/RS ........................................................ 230
4- Cerro da Panela – Quaraí/RS...................................................................................... 232
ANEXO IV – Quadros Tipológicos das Gravuras Rupestres ................................ 235
1- Tipologia das Gravuras dos Sítios de Mata RS ........................................................ 236
2- Tipologia das Gravuras do Sítio RS I 17 Cerro do Letreiro – Alegrete ................. 238
3- Tipologia das Gravuras do Sítio RS 18 Cerro do Bugio – Rosário do Sul............ 240
4- Tipologia das Gravuras do Sítio Cerro da Panela – Quarai.................................... 242
ANEXO V – Estudo das Placas Gravadas de Salto Grande do Uruguai............ 244
1- Dados de Identificação.................................................................................................. 245
2- Quadro do estudo da Arte Mobiliar de Salto – Sítio Bañadero –Uruguai ............248
3- Ilustrações da Arte Mobiliar – “Placas Rupestres”.................................................... 250
15
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho versa sobre o estudo das representações rupestres da América
Meridional Atlântica, àquelas do sul do Brasil mais especificamente ao estado do Rio
Grande do Sul.
Os procedimentos de trabalho configuraram através de um levantamento
bibliográfico intensivo onde foram percorridas várias trilhas entre várias ciências
sociais e também naturais foram sendo utilizadas, sob o ponto de vista, à contribuir
para uma análise criteriosa de nosso objeto de estudo as representações rupestres.
Apesar de não podermos significar o que nos apresenta hoje, pois o tempo e as
sociedades que as criaram nos deixaram somente seus signos nos suportes
rochosos. Partimos, primeiramente do pressuposto de que é impossível
determinarmos significações para as representações rupestres, mas podemos tentar
compreender ainda que o espaço e tempo não nos ajudem o “paradoxo do uno e
dos múltiplos dados pré-históricos”, de curta, média e longa duração, ou seja um
mundo de realidades históricas do passado”, constituído por muitas ações sobre a
matéria, ou seja suas atividades sejam elas econômica ou simbólicas. Ações estas
vinculadas apropriação e conhecimento da natureza pelas muitas possibilidades que
ela oferece para “imitar” suas formas, característica esta que só nós humanos
adquirimos, capacidades de formar ‘formas’ de abstrações simbólicas desta própria
natureza, com condições inerentes de aprender e apreendê-las ao representar.
A relevância e o objetivo deste trabalho é dar continuidade a um programa de
estudos sobre arte pré-histórica no Estado Rio Grande do Sul, que num primeiro
16
momento objetivou à conclusão da dissertação de mestrado sob a orientação
acadêmica do prof. Dr. Arno Alvarez Kern, na Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul, intitulada "Gravuras Rupestres no Estado do Rio Grande do Sul:
Processos de Documentação e Salvamento para sua Preservação e Valorização”.
Neste programa anterior nos municípios de Mata e de Torres foram evidenciados
cinco novos sítios no estado.
Neste trabalho as representações até então descritas ou classificadas entre
as décadas de 60 e 90 sob a direção dos arqueólogos Pedro Augusto Mentz Ribeiro,
José Joaquim Justiano Proenza Brochado. P. Pedro Ignácio Schmitz e Taís Vargas
Lima são foram incluídas às representações já conhecidas às novas ocorrências
encontradas no município de Mata, assim como, as representações que foram
encontradas em Torres (litoral riograndense) já conhecidas desde década de 70,
bem como as novas em Alegrete, Rosário do Sul e Quarai.
Seguindo estas linhas de pesquisa já iniciadas, voltamos nesta tese, ao
estudo de novos dados registrados no estado riograndense com representações
rupestres. Trata-se de novas manifestações encontradas nos municípios de Mata e
também em Alegrete e em Rosário do sul. Em Rosário do Sul as representações já
haviam sido identificadas pelo Instituto Anchietano de Pesquisa através do
arqueólogo Ignácio Schmitz juntamente com a Professora Maria helena Shor, mas,
não foi cadastrado e infelizmente os dados levantados nas escavações coordenado
pela Professora Maria Elena não foram encontrados no Instituto. Segundo a
arqueóloga havia sido encontrado uma pré-ponta de projétil entre vários outros
indícios de ocupação como estrutura de combustão e lascamentos, mas estes se
perderam.
Os problemas que se colocaram neste trabalho são de ordem a facilitar a
inteligibilidade teórica e metodológica, ou de outra forma, a realização de operações
intelectivas de ordenação e sentido, selecionado, hierarquizado, comparativo na
intenção de unir as informações. Os comportamentos humanos são múltiplos e
variados ainda mais quando se trata da montagem de um “quadro de referência
conceitual tendendo não reduzi-los mas sim, representá-los de forma fiel como nos
apresentam.
17
Nesta tese inicialmente é referido o estudo das representações rupestres
através do ‘domínio’ das imagens nos suportes rochosos entre as paleopaisgens em
constante mudanças ao longo do tempo. A imagem tem forças e formas que atuam
através e sobre os sentidos humanos, que equivalem não somente o prazer de
puramente de fazê-la, mas, mas da necessidade de percebê-las, tocá-las agir sobre
elas em suas mentes e também atuar no mundo físico - exterior.
Foram levantados dados informativos sobre as tradições rupestres Brasil mais
especificamente, nos estados do Paraná, Santa Catarina, e áreas adjacentes como
Argentina e Uruguai, afim de compreender as descrições e classificações, bem
como, os aspectos comparativos entre estas representações dentro deste contexto
regional. Também abordamos as questões sobre a problemática das datações.
Poderiam estas pertencer a um passado maior de 5.000 A.P. colocando-as em um
passado ainda mais remoto?
É determinada uma organização geral entre os estudos anteriores com novos
dados que também serão acrescentados nesta tese. Nosso interesse recai na
análise de uma ordem que começa através de um plano de trabalho como aporte
metodológico, num segundo momento sobre o dispositivo parietal dando ênfase a
questão da Tradição Meridional no Rio Grande do Sul, que segundo André Prous
ainda vamos associá-la a determinada Tradição Meridional Geométrica.
Seguindo uma ordem de observações são descritas as áreas e regiões onde
se inserem os sítios. As manifestações rupestres riograndense estendem-se numa
faixa de leste para oeste pela escarpa do planalto meridional fazendo um arco para
o sul, são evidências culturais encontradas até o momento no Estado, isto é,
gravuras esculpidas na rocha, remanescentes deixados intencionalmente pelos
homens pré-históricos, em paredões rochosos alguns levemente inclinados, de
abrigos sob rocha ou grutas, em blocos em campo aberto ou ainda em blocos
inseridos dentro de abrigos.
A descrição da representação no suporte e suas dimensões e orientação com
referência ao painel tem por base a proposta do Professor Dr. Denis Vialou que
denominou plano diretor, ou seja, antes do decalque ou da fotografia deve-se
proceder “em um esboço”, ou seja uma análise cuidadosa dos painéis, dos motivos,
18
através de uma planilha a fim de detectar detalhes, formas das pintura ou gravuras
no dispositivo parietal em conformidade a com orientação aos espaços e as
técnicas.
Em dezesseis municípios foram evidenciadas trinta e quatro sítios
arqueológicos com arte rupestre. Por arte rupestre, entende-se um termo já
consagrado na literatura brasileira, como diz André Prous se referir a arte diferente
conceito de arte rupestre do mundo capitalista moderno. Devemos considerar uma
simples aproximação lembrando que arte tem a mesma raiz que artesão “arte é
savoir faire, o conhecimento das regras que permitem realizar uma obra
perfeitamente adequada a sua finalidade” (PROUS, 1992, p. 510).
Pode-se perceber que as gravuras variaram nas formas, nas técnicas, isto é nas
incisões em U ou V que remetem a tipos diferentes de raspagem ou de picotagem, na
profundidade e no tamanho das gravuras. Em dois dos sítios do Estado foram
encontrados vestígios de colorações nos sulcos, porém, não aparecem pinturas nos
suportes rochosos, muito difundidas para o norte. Esta não verificação de pinturas pode
ser causa de inúmeros fatores como a ação antrópica ou intempéries.
Em um terceiro momento do nosso trabalho é abordada a arte mobiliar ou
“placas rupestres” encontradas tanto as que foram encontradas no Rio Grande do
Sul quanto as que foram encontradas no noroeste do Uruguai. Este assunto ainda
remete a uma orientação analítica sobre como proceder com os vestígios mobiliares,
ver lista de análise.
Partindo da escolha do espaço frente a um suporte, a escolha de um tipo de
representar seja geométrico ou naturalista. Estas produções do pensar humano com
funções específicas, comunicam uma forma de linguagem que nos escapa o
significado, mas seu significante continua a existir.
Será abordada no último Capítulo, uma reflexão pedagógica sobre a
preservação das manifestações rupestres no Estado, que estão sendo consumidas
hora por barragens, estradas ou ainda vandalismos, o que é comum em quase todo
o Brasil, Estas ações pedagógicas contribuem para a formação de uma consciência
cívica de valor com o nosso passado.
19
2 REPRESENTAÇÕES RUPESTRES E CONTEXTO REGIONAL NA AMÉRICA
MERIDIONAL ATLÂNTICA
2.1 Território Rupestre: Domínio da Representação no Ambiente
Frente ao contexto de um novo mundo contrastante com um “velho mundo”, já
à tempo habitado e conhecido começa surgir o “novo”. A América, inseri-se neste
contexto de uma forma geograficamente marcada pela integração de seu território
do norte para o sul. O modo de vida referente as populações humanas e de animais
que começam a adentrar o continente vão paulatinamente acompanhando os
territórios e se equivalendo do que este agora, começava a lhe oferecer. O modo de
vida entre as montanhas do norte, as Serras Madres e Central do México, bem
como, os Andes da América (localização mais ocidental) do sul fazem com que
adaptações à estes territórios acontecessem ao longo processo de povoamento.
Por quase todo o território da América encontram-se “obras” rupestres,
pintadas ou gravadas (esculpidas), cuja maioria data de antes da conquista
européia. Muitas delas são pouco conhecidas, seus autores desconhecidos, bem
como, a data exata em que foram executadas. Entretanto depois de alguns anos
desenvolveram-se pesquisas sistemáticas que nos permitem conhecer melhor a arte
parietal de certas regiões e a situar em um contexto cultural (MONZON, 1987).
Os primeiros trabalhos sobre a arte rupestre da América do Sul não datam
mais do que trinta anos. Os primeiros viajantes mencionam a existência de
desenhos sobre os rochedos, e outros tratam simplesmente de descrevê-las. Á
20
falta de informação e fontes bibliográficas com muita disparidade para os
trabalhos comparativos. A bibliografia da arte rupestre na América do Sul é,
portanto, muito vasta, heterogênea e difícil de reunir em sua integralidade
(VIALOU, 2000).
Vialou afirma que:
o visual é de tal forma corrente e banal nas nossas sociedades modernas
que somos tentados a pensar que o homem sempre viveu com imagens.
Isso somente é verdade para os últimos homens pré-históricos, o Homo
sapiens sapiens, o homem moderno. Diz o autor que as raízes
antropológicas das representações gráficas não mergulham profundamente
na pré-história da humanidade, mas não foram elas as fontes de sua
modernidade? Fazer essa pergunta é reconhecer que existe entre o homem
e suas criações gráficas e plásticas profundas ligações de origem
longínqua. É preciso tentar cercar as origens difusas do simbolismo tendo
que abordar a natureza material e as significações da imagem no curso dos
tempos pré-históricos. A materialidade das imagens pré-históricas, que
resulta da vontade de inscrevê-las sobre e dentro dos suportes resistentes,
é marcada pelas escolhas técnicas e estilísticas efetuadas pelos primeiros
artistas. Aparece claramente que entre a imagem e seu suporte natural,
mineral ou animal existe uma estreita dependência: a imagem eclode na
natureza (VIALOU, 1983, p. 587)
1
.
Gaspar explica que,
caçadores, pescadores e horticultores deixaram nas paredes de grutas,
abrigos, blocos lajes e costões belas marcas de sua presença; já no Brasil
Colônia tanto os europeus expressaram suas crenças religiosas nesses
suportes como os africanos e seus descendentes mantiveram a sua forte
tradição existente em seu continente. Acrescenta ainda que, as sinalizações
são pertinentes ao grupo que as realizou e seus contemporâneos e que
muitas vezes esses ‘grafismos’ fazem referência ao território, às práticas e
às condutas de seus autores, bem como indicam locais importantes e forte
apelo emocional, sendo que o hábito de perpetuar mensagens em pedras e
paredões tem longa duração e diferentes significados (GASPAR, 2003, p.
8).
1
No original: “Lê visuel est tellement ourant e banal nos societés modernes que l’on serait tente de penser
que l’homem a toujours vecu avec dês images; il n em est rien ou plutôt ce n’est vrai que pour lê denier
venu dês hommes préhistoriques. Homo sapiens sapiens, l’homem moderne. Lês racines
antropologiques dês representations grafiques ne plongent pás profondement dans la préshistoire de
l’humanité, mais ne furent-elles pás nourrcieres de as modernité? Poser cette question, c’est reconnaitrê
qu’il existe entre l’homem et sés creations graphiques et plastiques de profonds liens et des origines
lointaines. Il faut donc tenter de cener lês origines diffuses du symbolisme avant d’aborder la nature
matérielle et lês significations de l’image au caur dês temps préhitoriques. La matérialité dês images
préhistoriques. La matérialité des imagens préhistorique, qui resulte de la volonté de les inscrire sur et
dans des supports résistants, est marquee par des choix tecniques et stylistiques effectués par les
premiers artistes. Il apparaít clarirement qu’entre l’image et son support naturel, mineral ou animal, existe
une étroite dépendeance: l’image de la prehistoire eclôt dans la nature!” (VIALOU, 1983, p. 587).
21
Diferente de outras representações corporais e vestimentárias, de acordo com
Vialou
2
as representações rupestres ou parietais foram feitas para durarem. Estas,
porque têm esta imobilidade monumental específica em relação às outras
formas simbólicas (ou artísticas), marcam os territórios das sociedades que
as engendraram. Mas sobre esse ponto, as representações rupestres se
diferenciam radicalmente das representações parietais subterrâneas: na
realidade, as representações rupestres são as únicas diretamente
acessíveis aos homens, circulando livremente, imediatamente visíveis, que
se trate de pinturas ou de gravuras em sítios habitats ou pinturas e gravuras
em sítios isolados. As representações rupestres coabitam com os homens
nas paisagens onde se encontram; as representações parietais
permanecem em separado, para sempre.
A imobilidade e a visibilidade das representações rupestres, segundo o
autor, fazem impressões notáveis que podemos qualificar de simbólicas,
pois testemunham escolha correspondente a atividades individuais e/ou
coletivas distintas ou independentes de atividades ergonômicas e
econômicas quotidianas. As escolhas são múltiplas e, quando se repetem
com uma certa freqüência, são características: escolha da técnica de
expressão, por exemplo, o desenho a traço, a pintura, a gravura em incisão
ou a gravura em percussão; escolha do sítio e do local das imagens
denotando por exemplo ligações explícitas com caracteres físicos maiores
das paisagens, como os cursos d’água, os promontórios, orientações
2
No original: Inscrites sur (ou dans) de supports résistants, les représentations pariétales souterraines
et rupestres en plein air ont été faites pour durer... Les représentations pariétales et rupestre, parce
qu’elles ont cette immobilité monumentale spécifique par rapport aux autres formes symboliques (ou
astistiques), marquent les territoires des sociétés qui les ont engendrées. Mais sur ce point, les
représentations pariétales souterraines: Em effet, les représentations rupestres sont seules à être
directement accessibles aux hommes, circulant librement, à être immédiatement visibles,qu’il
s’agisse de peintures ou de graures dans des sites isoles. Les représentationsrupestres cohabitent
avec les hommes dans les paysages ou ils se trouvent; les représentations pariétales restent à
l’écart, pour toujours. L’immobilité et la visibilité des représentations rupestres em font des
empreintes remarquables que l’on peut qualifier de symboliques, car elles témoignent de choix
correpondant à des activités individualles et/ou colletives distinctes ou indépendendantes d’activités
ergonomiques er économiques quotidiennes. Les choix sont multiples et, quand ils se répètent avec
une certaine fréquence, sont caractéritiques:choix de la technique d’expression, par exemple le
dessin au trait, la peiture, la gravure en incision ou la gravures em incision ou la gravure em
percussion; choix de la technique d’expression, par exemple des liens explicites avec des
caracteres physiques majeurs des paysages, tels des cours d’eau, des promontoires, des
promontoires, des orientations astronomiques. Le choix thématiques résultent manifestement d’une
élaboration psychique et sociale propre à ceux qui les ont produits: ils reflètent les rêves, les
croyances, les mythes, dans lesquels les groupes et les individus reconnaissent une histoire
commune, un vécu présent et/ou historique... Em fait, même lorsque leurs limites restent floues, les
territoires marqués par l’art rupestre sont reconnaissables à leurs caractères propres induits par les
choix et les modes d’expression de ceux qui ont conçu er réalisé les representations. Le territorie
rupestre correspond à um vécu culturel d’odre symbolique sur um space limite et pedant um certain
temps. Lorsque d’importants changements interviennent dans l’organisation et la conception de la
symbolique rupestre et dans les modes technostylistiques d’expression, ils témoignent de nouvelles
phases, au sein d’un même ensemble culturel. Quand les données rupestres sont radicalement
différentes, sur les plans des choix thématiques, desconstructions symboliques, des techniques et
styles, il est clair qu’on a affaire à des ensembles culturels distincts, contemporains. En d’autres
termes, les images rupestres portent l’empreinte intime de ceux qui les ont engendrées à une
époque donnée et sur um territoire que leur seule présence suffit à déterminer (VIALOU, 2000, p.
382-384).
22
astronômicas. As escolhas temáticas resultam de uma elaboração psíquica
e social própria aos que as produziram: refletem sonhos, crenças, mitos nas
quais os grupos e os indivíduos reconhecem uma história comum, uma vida
presente e/ou histórica. Na verdade, mesmo que seus limites sejam
elásticos, os territórios marcados pela arte rupestre são reconhecíveis por
seus caracteres próprios induzidos pela escolha e pelos modos de
expressão daqueles que conceberam e realizaram as representações. O
território rupestre corresponde a uma vida cultural de ordem simbólica sobre
um espaço limitado e durante um certo tempo. Quando importantes
mudanças intervieram na organização e na concepção do simbólico
rupestre e nos modos tecnoestilísticos de expressão, testemunharam novas
fases num mesmo conjunto cultural. Quando os dados rupestres são
radicalmente diferentes, sobre o plano das escolhas temáticas, das
construções simbólicas, das técnicas e estilos, é claro que se trata de
culturas distintas, contemporâneas ou sucessivas. Em outros termos, as
imagens rupestres portam impressões íntimas daqueles que as
engendraram em determinada época e território que sua única presença é
suficiente para determinar (VIALOU, 2000, p. 382-384).
Os territórios rupestres são realizadas não somente para durarem mas
circulam por um lado livremente apesar da imobilidade demarcando impressões e
de outra forma correspondem a atividades individuais e coletivas. Ligam-se as
paisagens e suas escolhas temáticas são expressões de modos de organizações
simbólicas e podem ainda diferenciar-se, isto é, escolhas temáticas diferentes
podem tratar de “culturas” distintas.
2.2 A Determinação e a Problemática das ‘Grandes Regiões Rupestres’ no Brasil
As direções de pesquisas no Brasil para a compreensão da arte rupestre
foram determinadas a partir de grandes unidades regionais ou tradições regionais.
Do sul para o norte são descritas oito tradições, algumas das quais aparecem
concomitantemente nos mesmos sítios ou painéis (PROUS, 1993). A seguir
apresento três destas tradições.
Descrevemos sumariamente as ‘tradições’ e as características ‘temáticas’
definidas para as manifestações rupestres encontradas a partir da região sul: Para
um conjunto denominado “tradição Litorânea Catarinense”, foram definidos 14
temas, dois biomorfos e doze geométricos. No estado de Santa Catarina em 27
sítios foram também identificados com manifestações de arte rupestre. Algumas das
23
ilhas onde destacam-se as gravuras rupestres encontram-se distantes até 15
quilômetros do continente e com distancias entre si de 20 e 15 Km, orientando-se
para o alto-mar. As perfurações feitas no arenito estão em baixo relevo ou com
variações na profundidade de até 3 centímetros. Os traços têm até 4 centímetros.
Recentemente uma tese elaborada por Fabiana Comerlato, sobre as
representações rupestres do litoral de Santa Catarina foi dada ênfase na
continuação, organização espacial das representações rupestres através de escalas
distintas: do nível micro (sito), ao semi-micro (costão/ilha) até o nível macro (litoral).
Desta maneira a autora privilegiou as análises das representações rupestres na
perspectiva de verificar suas relações espaciais, entre gravuras, entre sítios e entre
ilhas ou áreas (costões). Estes dados apontaram uma unidade estrutural em que se
permitiu afirmar que existiu no litoral médio catarinense um código visual de grupos
fortemente entrelaçados ao ambiente marítimo. Admitiu-se a existência de uma
Ilha do Campeche- SC
Ilha dos Corais - SC
24
gramática rupestre em que existem amplas recorrências de tipos geométricos e a
impressão de características individuais (motivos) de baixa expressividade numérica
no conjunto, mas que, ao mesmo passo, conferem singularidade dos sítios. Ao final
diz a autora podemos atribuir a existência de um território rupestre, sem entrar no
mérito de quem seriam seus possíveis autores. A partir da análise de níveis
espaciais distintos reconheceu-se um sistema de representação rupestre circunscrito
no litoral central catarinense, em especial em ambientes insulares.
A tradição geométrica”- em 07 sítios arqueológicos foram encontradas
manifestações de arte rupestre, e situam-se em um conjunto heterogêneo, com uma
extensão que começa no planalto de Santa Catarina, atravessa o Paraná, São
Paulo, Goiás e Mato Grosso, descrevendo um arco para oeste (PROUS, 1993, p.
515). Para este conjunto há uma subdivisão entre manifestações setentrional e
meridionais. As gravuras desta área apresentam também ‘manifestações
meridionais’ (subtradição Morro do Avencal), o tema principal é a forma ‘tridáctilo’ e
triângulos com pontos, seguido de outras formas como rastros de pés humanos,
felídeos, isolados ou agrupados, há ainda formas curvas e depressões cupuliformes.
A
A) Sítio Morro do Avencal, SC - (ROHR, 1971)
B) Triângulo em rosto (PIAZZA, 1966)
C) Morro dos Índios – Município de São Joaquim
(BLAYER, 1912)
A
B
C
25
2.3 A Tradição Rupestre Meridional e a sua Distribuição Espacial
No Estado do Rio Grande do Sul em 16 municípios foram evidenciados 34
sítios arqueológicos com arte rupestre, que se estendem numa faixa de leste para
oeste, pela escarpa do Planalto Meridional. Estas evidências culturais encontradas
são gravuras feitas no arenito, sobretudo por raspagem, picoteamento seguido de
polimento. A profundidade dos sulcos é muito variada em alguns casos não chega a
atingir um centímetro, enquanto que a largura varia entre 0,2 e 2,5 cm. A maior parte
dessas sinalações encontram-se em blocos isolados, havendo também evidências
em abrigos e grutas em paredões rochosos ou tetos de abrigos ou grutas encobertos
pela vegetação ou não, em blocos em campo aberto ou ainda em blocos inseridos
dentro de abrigos.
A unidade destas gravuras destes sítios foi denominada “tradição meridional,
cujos temas parecem estar divididos em formas geométricas (traços retos ou curvos,
paralelos ou isolados que se cruzam ou não), formas caracterizadas como tridáctilos
ou pegadas de felídeos, e ainda uma única representação figurativa (quadrúpede).
Prous (1993) observa que estes estilos talvez possam ser correlacionados mais
tarde com a ‘tradição Geométrica’ (parte meridional). As gravuras, variam nas suas
formas, profundidades e tamanhos, sendo que, em alguns sítios foram também
encontrados vestígios de colorações nos sulcos, porém, não aparecem pinturas nos
suportes rochosos, muito difundidas para o norte, o que conforme Prous,
enquanto a maioria dos grafismos do Brasil Central e do Nordeste são
pintados, percebe-se que a maior parte dos sítios meridionais e amazônicos
são decorados com gravuras (eventualmente coloridas). O desaparecimento
da pintura talvez se deva a razões climáticas nas regiões úmidas mas é
certo que os grandes conjuntos pintados apresentam geralmente temas
bem diferentes daquele em relevo; haveria tradições que se exprimiriam
principalmente pela pintura e outras pela gravura; esta últimas descrevem
um grande arco que começa no sul do país e sobe pelo norte, passando
pelo oeste (PROUS, 1994, p. 81).
O povoamento do passado riograndense está diretamente ligado às questões
ambientais. Ocupando o interior do estado as sociedades procuraram ambientes que
acreditamos não somente diferentes, mas mais ‘brandos’ para ocupação visando a
subsistência por um lado, bem como exprimir suas manifestações simbólicas.
26
2.3.1 Uma reflexão sobre as paleopaisagens sul-rio-grandense do Brasil e os
contextos rupestres: questão das datações
A região platina oriental possui, de maneira esquemática, quatro grandes
tipos de paisagens geográficas: 1) a planície litorânea à leste, com uma vegetação
florestal atlântica nas encostas do planalto sul-brasileiro e, mais rarefeita ao sul; 2) o
pampa, com vegetação de gramíneas e raros bosques, nos extensos campos do sul;
3) o Planalto Sul Brasileiro, ao norte, com florestas subtropicais de pinheiros
“araucárias”; 4) os vales úmidos cobertos de floresta subtropical nas encostas leste e
sul do planalto. Abrange os atuais territórios do Uruguai, do Paraguai, do nordeste
da Argentina, e dos territórios brasileiros nas fronteiras com esses países
3
.
Inserido neste contexto esta o estado do Rio Grande do Sul
4
, que segundo
Leite e Klein apresentam uma
ampla variedade de tipos de relevo (planalto, planícies, serras e
depressões), conseqüente, sobretudo, da grande variedade de formações
geológicas e da complexidade de atuação dos agentes morfogenéticos,
imprime à região fisionomia bastante peculiar e exerce ponderável influência
na compartimentação do clima e da vegetação (LEITE e KLEIN, 1990, p.
113).
Conforme Prous,
as comunidades humanas tanto podem encontrar-se em meios abertos, que
facilitam os contatos com os vizinhos, a difusão física e cultural, quanto
meios fechados, facilitando um isolamento, por vezes voluntário (zonas de
refúgio). Relevo, hidrografia e, até certo ponto, a densidade da vegetação
são os fatores predominantes (PROUS, 1992, p. 36).
Kern afirma com propriedade que,
3
Dados retirados do Projeto Integrado Pró-Prata. Projeto Internacional de Pesquisas Interdisciplinares
da região Platina Oriental. Coordenado pelo Prof. Arno Alvarez Kern, 1995.
4
Houve, neste estado a formação de litoral amplo, baixo e retilinizado, com extensas restingas. Neste
amplo ambiente lagunar, inserem-se a planície marinha, a planície lagunar e a planície alúvio-coluvial
na porção mais interior, limitada por áreas planálticas. O planalto sul-rio-grandense localiza-se na
porção centro-meridional do Estado do Rio Grande do Sul e corresponde à área de ocorrência do
escudo sul-rio-grandense.
27
a análise do relevo do Rio Grande do Sul nos mostra igualmente a
importância da Depressão Central para o povoamento pré-histórico.
Dividindo o estado ao meio, ela serve de via de ligação entre a planície
costeira e o interior, mas também assinala a transição entre a zona serrana
ao norte e as planícies e coxilhas ao sul (...) do ponto de vista arqueológico
é uma zona fronteiriça de contatos culturais (KERN, 1991, p. 20).
A complexidade da estrutura geológica, moldada em rochas pré-cambrianas,
caracteriza uma paisagem de relevos intensamente dissecados e áreas de topo
fracamente dissecadas. Os relevos mais elevados, com altitudes em torno de 400
metros, apresentam-se dissecados em colinas, ocorrendo áreas de topo plano,
constituindo remanescentes de antiga superfície de aplanamento. Os setores
intensamente dissecados entre as cotas 100 e 200 metros balizam toda a unidade e
isolam os relevos elevados. Ocorrem relevos residuais tipo pontões e morros
testemunhos. Nas porções meridionais da Bacia Sedimentar do Paraná ocorrem o
Planalto das Araucárias e a campanha Gaúcha. O planalto das araucárias ocupa
parte dos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Seu limite com a
depressão do sudeste Catarinense e a planície costeira se faz através de
escarpamentos abruptos e com a depressão central gaúcha, através de
escarpamento conhecido por ‘região serrana’. O relevo mais dissecado ocorre em
rochas efusivas básicas e os relevos mais conservados em rochas efusivas ácidas
da Formação Serra Geral. O planalto da campanha gaúcha, de relevo relativamente
plano, foi esculpido em rochas efusivas básicas da formação serra geral e
secundariamente em arenitos da formação Botucatu, pertencentes ao grupo São
Bento.
A depressão central gaúcha localizada nas bordas leste e sul de patamares
do extenso domínio morfoestrutural da bacia sedimentar do Paraná, posiciona-se
nas terminações sul e sudeste do domínio da bacia de coberturas sedimentares do
Paraná. Representa uma superfície de coalescência das depressões do rio Jacuí
5
e
dos rios Ibicuí-Negro, formada de relevos convexos (coxilhas), por vezes planos,
rampeados em colúvios e relevos residuais, com a ocorrência generalizada de linhas
5
De acordo com Prous (1992, p. 37) “o vale do Jacuí corresponde à primeira brecha aberta na
barreira montanhosa do litoral sul. Permitiu a penetração de pautas culturais marítimas terra
adentro, como as típicas escultura de pedra (zoólitos) dos sambaquis. Por outro lado, o vale do
Jacuí marca o limite entre as culturas meridionais das planícies influenciadas pelas tradições
pampeanas (cuja temática rupestre se estende até ele) e as culturas do planalto sul brasileiro”.
28
de pedra compostas de couraça ferruginosa, arenitos e quartzos leitosos semi-
angulosos, recobertas por gerações de colúvios. As áreas de drenagem indecisa
porém encharcadas formam os ‘banhados’ a sul e sudeste da depressão dos rios
Ibicuí - Rio Negro (IBGE, 1996).
Também inserido ao contexto está o território da República Oriental do
Uruguai, situa-se a margem esquerda do Rio da Prata e margem esquerda do Rio
Uruguai, e tem como países limítrofes a República Argentina e a República
Federativa do Brasil. Situado aproximadamente entre os paralelos 30° e 35° latitude
sul e os meridianos 53° e 58° de longitude oeste. Área territorial é de 318.413 Kms
2
.
A área terrestre é 176.215 (
+
/
-
64 Km
2
) e soma total de 175.016 Departamentos. A
altitude média é 116,70 mts. e a máxima tendo como referência é Cerro Catedral em
Sierra Carapé com 513,66 mts.
Vinte e seis sítios localizados
6
pesquisados até 1998 com representações
rupestres no Rio Grande do Sul encontram-se distribuídos entre três paisagens que
compõem a morfologia do Rio Grande do Sul: à leste 1 destes sítios foi encontrado
na planície litorânea, à oeste e sudoeste 21 circundam a escarpa do planalto
Meridional e encontram-se também no planalto escalonado e à sul 4 sítios
‘dispersam-se’ pela peneplanácie da borda da Bacia do Paraná entre coxilhas e
colinas com relevos de cuestas e morros testemunho atingindo uma média de até
200 metros acima do nível do mar.
As Datações pelo Método do C14
7
, tendo em vista os somente 6 sítios
rupestres datados no estado. A seguir apresentamos um resumo das datações
obtidas em ordem cronológica:
6
A maioria destes sítios ‘distribuem-se’ pela a escarpa da Serra Geral que, de acordo com Kern
“inflete-se para o oeste e sudoeste, acompanhando a depressão Central [...] é cortada por vales e
rios como o Jacuí, Taquari e Caí, que escavaram profundamente a escarpa da serra geral,
originando vales encaixados e profundos, que se abrem para a Depressão Central, e Planaltos em
forma de Cuestas” (KERN, 1991, p. 18).
7
Estas datações foram resumidas a partir das publicações de Ribeiro (1974) e Brochado & Schmitz
(1976).
29
N° Sítio Datação Número de
laboratório
Posição
Estratigráfica
1 Pedra Grande A.D. 1633 – 1637 SI-1002 Superfície
2 Pedra Grande A.D. 1305-1385
*1245-1375
SI-1002 C2, 30-40cm
3 Virador I
A.D.1320 (630 ± 205
anos)
SI-1201 50-60cm
4 Bom Jardim Velho
A.D.1205 (745 ± 115
anos)
SI-1198 7-10cm
5 Pedra Grande A.D. 1110 –1190
*1145-1225
SI-1003 C2,60-70cm
6 Linha Sétima A.D. 950-1140
*965-1155
SI-1196 30-40 cm
7 Canhemborá A.D. 750-820
*765-855
SI-1000 C5, 40-50 cm
8 Pedra Grande 900-790 a.C.
*1075-965 a.C.
SI-1004 C10, 70-80cm
9 Canhemborá 1080-910 a.C.
*1345-1135 a.C.
SI-1001 C5, 60-70 cm
10 Bom Jardim Velho
5655 ± 140 anos
(3705 a.C.)
SI-1199 43-45cm
Quadro 1 - Datações para os sítios com registros rupestres no Rio Grande do Sul
Cabe ressaltar que as datas com o símbolo* são correções MASCA, Applied
Science Center for Archaelogy (RALPH, MICHAEL & HAN, 1973, in BROCHADO &
SCHMITZ, 1976, p. 121). Conforme Brochado & Scmitz (1976, p. 121) as C14:
datações radiocarbônicas foram executadas pelo Radiation Biology Laboratory da
Smithsonian Institution.
Com relação ao quadro das datações podemos refletir sobre as cambiantes
mudanças da temperatura que devem ter oferecido condições aos grupos de
manifestarem suas “obras” rupestres o que conforme Kern,
entre 7.000 e 6.000 antes do presente, as transformações climáticas
tornam-se muito importantes. As altas temperaturas continuam e aumentam
em volume as precipitações pluviais, tendem ao recuo da corrente fria das
Falklands e a invasão progressiva das massas de ar tropical Atlântico no sul
do Brasil. Enfim, durante o holoceno inicial, dois grandes grupos de
caçadores–coletoras se desenvolvem e ocupam espaços, no interior do
território gaúcho, em ambientes diferentes. O grupo mais antigo se
estabelece nas zonas de campo e nas fímbrias das florestas das vertentes
do Planalto Meridional, expandindo-se em direção ao sul. Através do pampa
uruguaio e argentino, mantém contatos com grupos similares que se
estendem até a Patagônia. Outro grupo de caçadores se instala no interior
das florestas subtropicais do planalto gaúcho e de suas vertentes,
procurando os vales quentes e úmidos. Seus sítios arqueológicos são
30
encontrados ao longo dos vales do Paraná e de seus afluentes, em uma
área que se estende, em direção ao norte, até os limites com a zona
tropical. Quando o holoceno inicial chega ao seu fim e se instalam as
condições ambientais quentes e úmidas do ótimo climático (6.000 anos
A.P.) sobre a planície costeira os sambaquis testemunham um outro modo
de vida, pescador-coletor marinho, ao lado do Oceano (KERN, 1997, p. 97-
98).
2.3.2 Histórico e Processos de pesquisa sobre as gravuras rupestres
Frente ao histórico dos trabalhos e nos processos de pesquisas que se
iniciaram ao termo de três décadas atrás, pelos pesquisadores Pedro Augusto Mentz
Ribeiro, José Joaquim Proenza Brochado e Pedro Ignácio Schmitz, quando
começaram a serem estudadas e publicadas as primeiras informações sobre as
‘artes rupestres’ encontradas em diversos municípios do estado do Rio Grande do
Sul é importante ressaltar que, tanto as descrições como as classificatórias dos
motivos rupestres e as atribuições de estilos, variaram entre os investigadores. (Ver
Anexo I).
Na totalidade das publicações sobre a arte rupestre no Estado do Rio Grande
do Sul são reconhecidas algumas prospecções exaustivas e minuciosas em alguns
sítios
9
. Estas prospecções sistemáticas permitiram conhecer os povoamentos pré-
históricos suas relações com os ambientes, os modos de aprovisionamento e de
exploração de recursos, as empresas culturais sobre os territórios habitados e
percorridos. Foram também testadas pelos autores, inúmeras possibilidades
comparativas entre outros sítios com as mesmas evidências de arte rupestre através
das gravuras e artefatos encontrados nas escavações ou em áreas de entorno,
como também, através de datações absolutas, que foram somando-se ao longo dos
anos.
Numa faixa de leste para oeste, estendendo-se pela escarpa do planalto
meridional do Rio Grande do Sul em dezesseis municípios, inúmeros sítios
arqueológicos rupestres foram registrados. Estas evidências culturais do passado
encontradas até o momento no estado são gravuras esculpidas na rocha,
9
Dos vinte e dois sítios arqueológicos rupestres que foram localizados e pesquisados no estado até
1998, 40 % foram escavados
8
, 30 % das gravuras foram classificadas e 70 % foram descritas.
31
remanescentes deixados intencionalmente pelos homens pré-históricos, em paredes
ou tetos de abrigos ou grutas, sobre paredes ao ar livre, em blocos em campo aberto
ou ainda em blocos inseridos dentro-de abrigos
10
.
Estas gravuras variam na forma, na profundidade e no tamanho e em dois
dos sítios do estado foram encontrados vestígios de colorações nos sulcos, porém,
não aparecem pinturas nos suportes rochosos, muito difundidas para o norte. Esta
não verificação de pinturas pode ser causa de inúmeros fatores como a ação
antrópica ou intempéries
11
. São imagens representadas através sulcos feitos no
arenito e/ou no basalto. A técnica de confecção mais freqüente é por picoteamento
num primeiro momento seguido pela raspagem ou polimento ou ainda, por rotação.
No geral as profundidades dos sulcos variam de 0,1 mm e até 30 cm
aproximadamente, a largura dos sulcos também variam entre 0,2 mm e 25 cm ou
mais e o comprimento entre 1 cm e 70 cm aproximadamente. A maior parte dessas
gravuras neste contexto são encontradas em blocos isolados ou agrupados,
havendo também evidências em abrigos, “paredões” e grutas.
Entre as abordagens metodológicas que foram desenvolvidas para estas
manifestações rupestres numa primeira instância pelos pesquisadores pioneiros,
ainda que, em dado momento cada autor tenha usado um ou outro critério, foi
possível apreender os níveis operacionais que foram estabelecidos para estas
representações em tempos passados
13
:
10
Conforme Brochado (1976, p. 94) desde o início da década de 30 algumas agrupações de
petroglifos localizados em São Pedro do Sul, Abrigo da Pedra Grande, chamado então de
Ribeirão, já haviam sido fotografados por Vicentino Prestes de Almeida. E ainda conforme o autor,
em 1936, Antônio Serrano publicou estas fotografias, que foram reproduzidas por Anibal Mattos.
As mesmas foram publicadas outra vez por J. Tupí Caldas, que tentou “traduzir” alguns motivos.
Mas é no final da década de 60 e início da década de 70 que muitos sítios arqueológicos com
gravuras e pinturas rupestres no Brasil, destacando-se o sul do país, foram localizados,
registrados e pesquisados. De acordo com Prous (1992, p. 509) “foi após 1964 que os primeiros
levantamentos sistemáticos foram realizados, particularmente nos Estados do Sul (Rhor e Piazza
em Santa Catarina, Mentz Ribeiro no Rio Grande do Sul, Aytai em São Paulo e Blasi no Paraná”.
11
Conforme Prous (1994, p. 81) “enquanto a maioria dos grafismos do Brasil Central e do Nordeste
são pintados, percebe-se que a maior parte dos sítios meridionais e amazônicos são decorados
com gravuras (eventualmente coloridas). O desaparecimento da pintura talvez se deva a razões
climáticas nas regiões úmidas mas é certo que os grandes conjuntos pintados apresentam
geralmente temas bem diferentes daquele em relevo; haveria tradições que se exprimiriam
principalmente pela pintura e outras pela gravura; esta últimas descrevem um grande arco que
começa no sul do país e sobe pelo norte, passando pelo oeste (PROUS, 1994, p. 81).
13
Estes dados são referentes ao estudo e documentação da arte rupestre por Ribeiro: (1969-70; 1972a;
1972b; 1974; 1975; 1978; 1984; 1989; RIBEIRO et al., 1973; BROCHADO & SCHMITZ, 1976; 1982).
32
O primeiro nível é de ordem descritivo onde incluíram-se os seguintes
trabalhos:
1. descrição do ambiente da área onde estão inseridos os sítios;
2. localização e acesso a área;
3. limpeza da área ou do suporte;
4. cópia em papel encerado ou em plástico;
5. marcação das gravuras com giz para fotografia;
6. registro das evidências em fichas.
O segundo é referente ao levantamento quantitativo e qualitativo dos
suportes e das incisões rupestres nestes:
1. medições dos suportes e das gravuras;
2. estudo das formas e técnicas para a confecção dos sulcos.
O terceiro é de caráter prospectivo no sítio onde são encontradas gravuras:
1. determinação dos conjuntos materiais encontrados nas escavações ou em
área de entorno;
2. datação.
O quarto é classificatório:
1. descrição visual dos motivos rupestres e posição temporal;
2. determinação de tipologia;
3. atribuições estilísticas e associação à Tradições Culturais.
O quinto é comparativo:
1. com outros sítios do Estado, outros países mais especificamente com a
Argentina e o Uruguai e com outros Estados da região sul do Brasil.
As representações rupestres encontradas na planície litorânea, borda do
planalto meridional e na região da campanha do Estado rio-grandense constituem-se
de gravuras feitas no arenito e no basalto. A técnica de confecção mais freqüente é
33
por picoteamento num primeiro momento seguido pela raspagem ou polimento ou
ainda, por rotação.
No geral as profundidades dos sulcos variam de 0,1 mm e até 30 cm
aproximadamente, a largura dos sulcos também variam entre 0,2 mm e 25 cm ou
mais e o comprimento entre 1cm e 70cm aproximadamente.
Observamos também que, as dimensões e técnicas de confecção das
gravuras são arbitrárias, pois, as condições de intempéries e esfoliações, por
exemplo, podem alterar completamente as dimensões e formas dos sulcos através
do ‘desgaste’, da ‘quebra’ ou ainda no ‘aprofundamento’.
A maior parte dessas gravuras neste território são encontradas em blocos
isolados ou agrupados, havendo também evidências em abrigos, “paredões” e
grutas. (Ver descrição no capítulo 4, mais especificamente no 4.1. no que se refere a
questão dos suportes rochosos).
Conforme Brochado,
desde o início da década de 30 algumas agrupações de gravuras
localizadas em São Pedro do Sul, Abrigo da Pedra Grande, chamado então
de Ribeirão, já haviam sido fotografados por Vicentino Prestes de Almeida.
E ainda conforme o autor, em 1936, Antônio Serrano publicou estas
fotografias, que foram reproduzidas por Anibal Mattos. As mesma foram
publicadas outra vez por J. Tupí Caldas, que tentou “traduzir” alguns
motivos (BROCHADO, 1976, p. 94).
Mas é no final da década de 60 e início da década de 70 que muitos sítios
arqueológicos com gravuras e pinturas rupestres no Brasil, destacando-se o sul do
país, foram localizados, registrados e pesquisados.
De acordo com Prous (1992, p. 509) “foi após 1964 que os primeiros
levantamentos sistemáticos foram realizados, particularmente nos Estados do Sul
(Rhor e Piazza em Santa Catarina, Mentz Ribeiro no Rio Grande do Sul, Aytai em
São Paulo e Blasi no Paraná”.
A primeira pesquisa realizada sobre a arte rupestre no Estado foi
desenvolvida por Pedro Mentz Ribeiro, por indicação do Padre João Alfredo Rhor
34
que, ao pesquisar para o seu trabalho sobre os “Petroglifos da Ilha de Santa
Catarina e Ilhas Adjacentes” descobriu em uma revista Alemã “Südamerikanische
Felszeichnungen” publicada em 1907 por Theodor Koch-Groümberg, sítios com arte
rupestre localizados no vale do Caí. Nesta publicação está descrito o seguinte:
Devo a amabilidade de sr. Guilherme von Steinen o desenho anexo (fig. 10)
que êle copiou no ano de 1888 (in loco). Reproduz uma inscrição rupestre
que se encontra no Rio Grande do Sul, entre as colônias alemãs de São
sebastião do Caí e Novo Hamburgo. O lugar chama-se Virador e consiste
numa rocha arenítica fortemente projetada para frente que corôa um morro
gramado, o qual se eleva aos poucos num campo plano. A julgar pelos
numerosos sulcos alisadores retos que cobrem a parte inferior da parede da
rocha projetada em toda a sua extensão parecem terem acampado, no
local, índios, freqüentemente. Ao lado encontram-se algumas figuras de
caráter mais decorativo que parecem ter origem da união casual ou talvez
intencional de alguns sulcos afiadores. Ainda hoje êste teto natural de rocha
oferece abrigo à homens e animais contra o vento e tempo inclemente.
Poucos anos depois, escreve August Kunert, pastor protestante, na colônia
alemã do Forromeco, no Rio Grande do Sul, à respeito das inscrições
rupestres do Virador, o seguinte: ‘ As figuras na rocha são obscenas, e
precisamente estas são gravadas com mais esforço que as representações
de pinheiros e linhas zigue-zagueadas’. Para ver obscenidades nesses
sinais inofensivos já requer uma fantasia um tanto extraordinária (RIBEIRO,
1969-70, p. 115).
Estes sítios foram localizados e pesquisados no município de São Sebastião
do Caí em junho de 1969 por Ribeiro. São três abrigos sob-rocha que foram
registrados como RS-C-12: Virador I, II e III.
Em um registro arqueológico do ano de 1967 de Schmitz e outros, é também
identificado e pesquisado um sítio localizado no interior Torres com arte rupestre. O
sítio foi denominado RS 100 - Morro das Pedras. Conforme está descrito na ficha de
registro: “nas colunas de basalto que cercam o montículo existem ranhuras que
Miguel Bombim interpretou como gravações rupestres. Os motivos são
geometrizantes: quadriculados; pequenos traços paralelos, dispostos em angulo em
relação com um outro maior horizontal; e orbiculares”.
Estas gravações de acordo com os autores já haviam sido fotografadas em
1965 por Bobim, dentre os quais figuras em blocos representando zoomorfos não
foram encontradas posteriormente.
35
Ainda em 1967, membros do Museu do Colégio Mauá, de Santa Cruz do Sul,
entre eles, o pesquisador Pedro Mentz Ribeiro, encontraram na encosta sul de um
morro, no município de Vera Cruz, na localidade de Dona Josefa, um conjunto de 5
blocos com petroglifos (pedras sobrepostas de arenito e parcialmente arenito
metamorfizado, de tamanhos variáveis e aproximados) (RIBEIRO et al., 1973). Entre
1968 e 1971 aquelas mesmas pessoas do Museu localizaram no município de
Venâncio Aires, em duas propriedades, três blocos com petroglifos. Estes blocos
foram encontrados na encosta sul e sudoeste do cerro que empresta o nome à
região, ou seja, Cerro do Baú, em locais mais ou menos planos, todos em rocha
arenítica e em ordem decrescente de posição no morro.
Novos achados foram descobertos em dezembro de 1969 no município de
Santa Cruz na linha Antão. Em dois locais foram localizados “morteiros” ou blocos de
pedras em arenito resistente. Estavam na posição horizontal e parcialmente cobertos
de terra. Foram inicialmente um bloco só porém partido em 4 partes por
procuradores de tesouros (RIBEIRO et al., 1973).
Em 1969 é localizado e pesquisado, no município de Montenegro, o sítio
arqueológico RS TQ 14: Morro do Sobrado. É um pedra de arenito coberto de
inscrições rupestres, encontrada dentro de uma floresta latifoliada tropical na
encosta de um morro arredondado (RIBEIRO, 1972a).
Em Venâncio Aires é encontrado novamente em maio de 1970, na localidade
do Cerro dos Bois, outro bloco de arenito com petroglifos em uma mata virgem numa
encosta de morro voltada para leste. Nas proximidades da localidade de 500 a 100
m foram encontrados dois zoólitos (RIBEIRO et al., 1973).
Em setembro e outubro de 1970 em Santa Cruz do Sul foram também
localizados em um vale em forma de “V” dois sítios arqueológicos com petroglifos.
Estes sítios encontram-se na encosta norte e foram denominados Linha Araçá I e II.
O primeiro grupo de gravuras encontra-se em um bloco dentro de uma sanga —
tributária do arroio Castelhano, afluente do Taquari. O outro grupo foi encontrado em
um “paredão” do lado oeste do vale, dentro de uma mata virgem com uma altura 30
m acima do nível do primeiro grupo. Ainda entre setembro de 1970 e março de 1971,
foi registrado e escavado por Ribeiro (1972b), no município São Sebastião do Caí,
36
na região denominada Bom Jardim Velho e distante seis quilômetros a nordeste do
Virador I, outro abrigo com uma gravura na parede. Segundo o autor é um abrigo
sob rocha de formação arenítica, com forma de um semicírculo com a parte central
voltada para o nordeste, e bem em frente existe um ribeiro que forma uma queda de
água que 3 km abaixo, deságua no rio Cadeia, principal afluente do rio Caí.
Em julho de 1971 no Município de Taquara, Distrito de Moquém em uma roça
de cana de açúcar foi encontrado um em bloco de rocha basáltica com petroglifos. A
pedra foi localizada na encosta leste do morro (RIBEIRO et al., 1973). Neste mesmo
ano e mês é localizado em um abrigo sob rocha de formação arenítica no município
de Portão na localidade de Macaco Branco com uma gravura na parede. Já em
novembro de 1971 é localizado nos arredores de Santa Cruz do Sul, no Bairro Arroio
Grande, um bloco de arenito com inscrições rupestres no patamar de um morro.
Em junho de 1973 no distrito de Cerro Alegre, município de Santa Cruz do
Sul, são encontrados petróglifos na face superior e plana de um pequeno bloco de
arenito (RIBEIRO, 1974).
Já Em 1974 foi publicado por Pedro Mentz Ribeiro a primeira esquematização
sobre a arte rupestre da região sul do Brasil. Neste trabalho o autor descreve através
de informação verbal da Profa. Maria Elena Abrahão Schor, algumas gravuras
rupestres encontradas em um abrigo sob rocha na Serra do Caverá, município de
Rosário do Sul. Conforme Ribeiro esta prospecção produziu os mesmos resultados
encontrados no vale do rio Caí, em Bom Jardim Velho, Macaco Branco e Virador,
isto é, “material de caçadores especializados” com pontas-de-projétil, raspadores,
facas, lascas sem e com sinais de utilização. etc.
Em 1978 Ribeiro publica o achado de uma pedra gravada em uma área de
cultivo próximo ao rio Pardo. E ainda no mesmo ano é publicado novamente por
Ribeiro uma outra síntese a respeito Arte Rupestre no sul do Brasil.
Entre a década de 60 e 70 os pesquisadores, José Proenza Brochado do
Gabinete de Arqueologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul em Porto
Alegre e Pedro Ignácio Schmitz, do Instituto Anchietano de Pesquisas em São
Leopoldo, apresentaram outras evidências e estudos sobre gravuras rupestres,
37
localizadas na encosta do planalto Meridional voltada para o sul, entre o Jacuí e o
Ibicuí-Mirim.
Foram quatro sítios arqueológicos encontrados em Nova Palma (Canhemborá
e Linha Sétima), Sobradinho (gruta Lajeado dos Dourados) e São Pedro do Sul
(Pedra Grande) e que foram escavados. As gravuras destes sítios também foram
copiadas, medidas e classificadas segundo um critério quantitativo e qualitativo.
Cabe destacar também que, em relatórios de Pesquisa sobre o Projeto Alto
Ibicuí, desenvolvido e coordenado entre 1977 e 1982 pelo arqueólogo Irmão
Guilherme Naue, são identificadas algumas fotografias de alguns blocos com
inscrições rupestres no município de Mata.
Na década de 80 outras gravuras são descobertas entre maio setembro e
dezembro de 1982 no município de Quaraí por Ribeiro e Soloviy Fénis na localidade
Areal. Também são republicados em 1982 os sítios arqueológicos já pesquisados
por Brochado e Schmitz em 1976, com outras evidências de arte rupestre e uma
“classificação de conjuntos”.
Mais quatro abrigos são localizados e pesquisados na região de Montenegro,
por Ribeiro et al. (1989), com arte rupestre.
No Início da década 90 foi descoberto um abrigo sob rocha no Município de
Ivorá pelo P. Daniel Cargnin. Este abrigo foi pesquisado em 1992 por Taís Vargas
Lima e Cláudio Baptista Carle, do Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas da
PUCRS em 1992 e cadastrado como: Abrigo do Barreiro - RS 452-1.
Porém, somente em 1993 é que este sítio foi escavado e as gravuras foram
copiadas totalmente e classificadas segundo o padrão proposto por Schmitz e
Brochado (1982) (LIMA e BROCHADO, 1994).
Alguns dos sítios arqueológicos já identificados, mas não estudados, são
‘redescobertos’ e pesquisados entre 1992 e 2005. Entre eles destacam-se o abrigo e
blocos com gravuras rupestres no município de Mata e os blocos também com
gravuras no município de Torres e que também são objeto de estudo desta tese.
38
2.3.3 Aspectos comparativos rupestres com outros contextos rupestres do sul
do Brasil: a percepção estilísticas para as representações rupestres
No início de suas publicações sobre a arte rupestre do Estado Pedro Mentz
Ribeiro realizou escavações e comparações entre as gravuras descobertas por ele
com a arte rupestre encontrada ao norte, no Estado Santa Catarina, na localidade de
Ribeirão do Ouro, proximidades de Brusque, onde através de um desenho de um
livro do Museu do Homem do Sambaqui e pertencente a antiga coleção Bornhausen,
estavam descritos os seguintes gravados: tridáctilos, pontos e letras “V” (mais
comum). O autor reconheceu certas semelhanças entre as gravuras encontradas
neste sítio com as do Virador e também com as do Morro do Sobrado, por exemplo.
Mas apesar da bibliografia consultada as maiores semelhanças entre as
gravuras conhecidas no Estado foi com Argentina que, segundo Ribeiro:
a Dr. Ana Maria Lorandi de Gieco (1966), em seu trabalho de classificação
da arte rupestre coloca no tipo C, representados em sítios Ampajango e
Campana, os sinais tridáctilos [....] remanescentes de culturas inferiores que
viveram no Noroeste argentino pertencente a área cultural andina. Também
em outros sítios desta área aparecem sinais tridáctilos [...]. Outras
semelhanças são também observadas entre as gravuras do Virador e as
gravuras apresentadas pelo Dr. Menghin (1957), referentes a Patagônia: em
Chubut (Lago Viedma), Santa Cruz (Estancia San Miguel ), sendo que no
Lago Argentino e Rio Negro Estância San Ramon encontram-se: letras “U”
inversas porém pintadas de vermelho. Em Catamarca no noroeste da
Argentina (Laguna Blanca) são descritos os seguintes sinais: pegadas de
avestruz (conforme Menghin), letra “U” invertidas inclusive com um traço
vertical em seu interior, letras “V” em várias posições e quadrados
concêntricos com um ponto central e pontos esparsos (RIBEIRO, 1969, p.
70).
A respeito da publicação de Schobinger (1962-1963), em Chocón Chico, junto
ao Rio Limay, Ribeiro, diz encontrar o conjunto que mais se aproxima com os
inscrições por ele registradas, são: tridáctilos, losângulos contíguos, letras “X” em
série, traços maiores com pequenas oblíquas convergentes, traços maiores cortados
obliquamente por dois menores, traço maior com oblíquas convergentes e paralelas,
menores, nas extremidades (figura humana estilizada), letras “Y”, pequenas
depressões elipsoidais (pegadas de vicunhas), traços menos significativos. Também,
39
por informações do Dr. Schobinger, o autor diz que existem, nas províncias de San
Juan e norte de Mendonza, sinais comparáveis aos tridáctilos.
Os tridáctilos segundo Ribeiro (1972a, p. 8), aparecem em todo o território
argentino, inclusive no noroeste, não somente em petroglifos como também em
pinturas rupestres:
Por informação verbal de Schobinger, que estudou alguns sítios nas
províncias de San Juan e Mendonza, lá existem tridáctilos semelhantes por
nós estudados. Porém faço ressalva quanto à técnica de confecção, que
ignoramos. Por exemplo, os petroglifos de San Buenaventura, Córdoba,
possuem os tridáctilos, a técnica é o picoteamento (RIBEIRO, 1972, p. 8).
Outros quatro sítios com petroglifos: Laje de Pedra, Canhemborá, Virador e
Morro do Sobrado, pertenceriam a mesma tradição provinda da Patagônia na
Argentina. O autor ainda aponta para duas hipóteses para a explicação desta
migração. Por um lado a pressão inca para o sul e êstes - araucanos - teriam
pressionado o grupo caçador para o nordeste, ou pela escassez de alimentos que os
teriam trazido para o nosso Estado. Menghin (1957), citado por Ribeiro,
escreve sobre as fortes influências desde o noroeste argentino (período
clássico teuelchense) onde receberiam a cerâmica. Alguns poderiam ter
ficado outros migrado frente a esta pressão e também poderia ter havido
mais de uma migração:uma no período pré-cerâmico teuelchense e outra no
período médio ou clássico daquele povo, ou no terceiro período — já com
influências incaicas e araucanas (MENGHIN, 1957 apud RIBEIRO, 1972a,
p. 8).
As razões que levaram o autor a supor uma migração desse grupo, ainda em
seu período pré-cerâmico, é que na escavação realizada por ele, no abrigo sob
rocha do Virador não foi encontrada cerâmica desconhecida e em outros sítios com
petróglifos nos testes da mesma forma.
A possibilidade de terem migrado posteriormente, no segundo período
teuelchense, ou clássico, é a semelhança existente entre a cerâmica
“muitas vezes gravada” (Menghin 1957) teuelchense e a cerâmica da fase
Ibirapuitã (Miller 1969). Esta última cerâmica é estranha às tradições já
estudadas no Rio Grande do Sul; possui cerâmica gravada; dista 150 Km,
aproximadamente, dos petroglifos da Laje de Pedra (São Pedro do Sul);
para um grupo que migrasse desde o sul ou sudoeste, o rio Ibicuí e seu vale
seriam uma das melhores vias de penetração em território rio-grandense;
40
pelo material lítico associado, a esta fase, nitidamente de caçadores e
coletores” (RIBEIRO, 1972a, p. 8).
De acordo com Ribeiro (1972b) a gravura encontrada na parede do abrigo
Bom Jardim Velho foi associada a camada I pré-cerâmica, conforme os seguintes
motivos: o maior abrigo desta fase, o RS-S 358 — Toca Grande, possui petroglifos
que pertencem ao mesmo grupo e ao mesmo estilo de “pisadas”, da Patagônia,
Argentina associado ao material de caçadores (teuelchense) (MENGHIN, 1957;
SCHOBINGER, 1962/1963).
Ribeiro (1973; 1974) define para os sítios com gravuras rupestres no Estado
três estilos ou fases — I, II e III, sendo que o primeiro (I) foi subdividido em mais
outros três (A, B e C). Os estilos foram atribuídos pelo pesquisador a caçadores
especializados, com pontas de projétil e com vinculações para o sul do continente,
especialmente na Patagônia — Argentina, apenas com exceção do estilo III. O
subtipo III segundo o autor se parece as pinturas para norte do Paraná e Minas
Gerais.
Os motivos rupestres do estilo ou fase IA (RIBEIRO, 1974) foram descritos
como:
1. tridáctilos;
2. tridáctilos em seqüência dando a idéia de movimento;
3. paralelas cortadas por transversais (“escadas” ou um gradeado);
4. traço com oblíquas menores e paralelas entre si (“espinha de peixe” ou
“árvore estilizada”);
5. linhas zigue –zague;
6. letras “V” e “E”;
7. vulvas;
8. série de pontos em seqüência formando uma linha reta ou sinuosa;
9. losângulos concêntricos;
41
10. quatro traços convergentes seguidos de dois outros maiores, também
convergentes;
11. círculo com uma série de raios (no Morro do Sobrado o raiado – oito raios
– não possui linha circundante periférica;
12. linha paralelas ou trapézio isósceles em cujo interior existem linhas
paralelas entre si que se entrecruzam formando um traçado;
13. triângulos;
14. triângulo com um traço do vértice superior até a base, dividindo-o ao meio;
15. traços isolados.
Os sítios que representam o estilo IA são: (Abrigo sob rocha) — Laje de
Pedra, Virador, Bom jardim Velho, Macaco Branco, Morro do Sobrado, as gravuras
encontra-se nas paredes internas. As gravuras da Toca Grande encontram-se num
bloco no interior do abrigo, na face vertical. Nos blocos as gravuras de Móquem
Cerro dos Bois, Arroio Grande Cerro Alegre e Dona Josefa, Cerro da Panela
encontram-se na posição horizontal. A posição da Linha Araçá II é vertical e da do
Cerro dos Bois é ignorada. Todos os blocos possuem menos de 5x3,5mm.
(RIBEIRO, 1974, p. 12).
Os motivos rupestres do estilo ou fase IB (RIBEIRO, 1974):
1. paralelas, cortadas por traço(s);
2. traços isolados;
1. sulcos alisadores;
2. depressões polidas.
Os sítios que representam o estilo IB são: Linha Araçá I e Cerro do Baú II e
III, sendo que, as gravuras encontram-se na posição horizontal (RIBEIRO, 1974).
Os motivos rupestres do estilo ou fase IC / II são:
1. pegadas de felinos (4 pontos em semi-círculo, mais ou menos
equidistantes entre si e com as mesmas dimensões e com um ponto,
maior do que outros, colocado no meio e pouco abaixo;
42
2. pegadas de felinos em seqüência;
3. círculo ou elipses com ponto ou sulco central;
4. tridáctilo;
5. linha sinuosa (“serpente”);
6. pegada de anta (?).
Os sítios são (abrigos sob rocha) Canhemborá, parcialmente os do Virador e
as gravuras encontram-se nas paredes internas.
Os motivos rupestres do estilo ou fase III são:
1. Pequeno animal.
O sítio é o Cerro do Baú I (bloco) é levemente inclinado.
As dimensões destas gravuras quanto ao comprimento é variável podendo
atingir 7,5cm, a largura varia de 0,2 mm a 18 mm, a profundidade 1 mm à 20 mm.
(RIBEIRO, 1974).
Ribeiro diz que,
todos os estilos pertenceriam a grupos de caçadores especializados com
pontas-de-projétil. O estilo IA e IB seriam fases diferentes de uma mesma
tradição cultural; o estilo I e II seriam fases diferentes de uma mesma
tradição cultural, porém com subtradições ou, pelo menos, fases diferentes
(poderia tê-lo denominado (ao II, de I C) estes (IA, IB, e II) tem nítidas
vinculações com a Patagônia Argentina [...]. Na República da Argentina,
estudos realizados revelaram o grupo de caçadores coletores (Tehuelchese)
como autores do ‘estilo de pisadas’ (Menghin, 1957). A fase Itapuí encontra
as maiores semelhanças com o material proveniente da Patagônia
Argentina (Período IV da seqüência do estreito de Magalhães) (RIBEIRO,
1974, 13-14).
De acordo com Ribeiro,
podemos deduzir que existem tradições ou, pelo menos, fases de petroglifos
no sul do Brasil. Os petroglifos do litoral catarinense e os do Rio Grande do
Sul foram três tradições distintas ou, no mínimo (...) duas subtradições no
Estado do Rio Grande formam, com uma única exceção (Cerro do Baú I),
uma única tradição (RIBEIRO, 1978, p. 21).
43
Por fim, Ribeiro (1991) divide os motivos rupestres em quatro grupos
conforme a classificação proposta por Gradin (1978): abstratos geométricos,
representados por triângulos, retângulos, círculos com perfuração central, letras V,
X, E, etc.; representativos esquematizados biomorfos, tais como “pegada de
ave”, “pegada de felino”, “vulvas”, etc.; abstratos puntiformes, representados por
séries de pontos em linha reta, curva e combinados; e abstratos geométricos
combinados, a exemplo de círculos com raios, elipse com três paralelas em seu
interior, linhas curvas e quebradas combinadas.
Brochado e Schmitz (1976) colocam os petroglifos estudados por eles numa
seqüência cronológica a respeito da diacrônia (estratigrafia vertical) e em estilos
diferentes conforme as seguintes características: técnica, motivos, dimensões, local
onde são encontrados e posição temporal. Foram estabelecidos assim para quatro
dos sítios pesquisados pelos autores três estilos (A, B e C).
O primeiro e mais antigo o estilo A é encontrado no Abrigo da Pedra
Grande, debaixo de gravações do estilo B; na gruta de Canhemborá; na
gruta do Lajeado dos Dourados. O estilo B por sua vez é encontrado na
Pedra Grande está debaixo de gravações do estilo C e superposto a
gravações do estilo A; no abrigo da Linha Sétima, talvez também na gruta
do lajeado dos Dourados. O estilo C é encontrado no abrigo da Pedra
Grande, superposto a gravações do estilo B (BROCHADO e SCHMITZ,
1976, p. 128).
Os motivos do estilo A são descritos como (RIBEIRO, 1991):
1. Pegadas de Felinos;
2. Pisadas de Aves com três dedos que formam rastros subindo pelas
paredes;
3. Círculos ou elípses com perfurações ou sulco central (símbolo sexual
feminino);
4. Sulcos retilíneos verticais paralelos (símbolos fálicos)
5. Sulcos ondulantes (serpentes) e meandros.
44
A técnica observada foi o picoteamento e raspagem predominante e
polimento e as dimensões dos sulcos com largura de 2 cm, diâmetros de 6 à 14 cm
e profundidade de 1 cm a 25 cm no geral.
Os motivos do estilo B são descritos como (Ibid):
1. Pisadas de Aves com três dedos ou em forma de âncora, não formando
rastros;
2. Sulcos curvilíneos em forma de U;
3. Sulcos retilíneos verticais e paralelos alinhados que podem estar ou não
cortados por um ou mais sulcos horizontais, às vezes formando grades,
espinha de peixe
4. Perfurações, em geral médias e picoteadas, alinhadas, à vezes
desenhando figuras lineares, sulcos retilíneos entrecruzados (estrelas) e
perfurações das quais irradiam sulcos (sol).
A técnica predominante o polimento e raramente picoteamento com larguras
que variam entre 10 e 15 mm, diâmetros de 5 mm até 1 cm e com profundidades de
5mm a 25mm no geral.
Os motivos do estilo C são descritos como (RIBEIRO, 1991):
1. Pisadas de aves com três ou cincos dedos;
2. Sulcos retilíneos verticais e paralelos cortados por outros horizontais,
freqüentemente formando grades, muitas vezes emolduradas por um
sulco;
3. Perfurações pequenas alinhadas desenhando figuras lineares ou
perfurações pequenas agrupadas e emolduradas por sulcos;
A técnica é o polimento com larguras de 2 até 25 mm, com diâmetros de 2 a 5
mm e profundidades de 2 mm até 5 cm no geral.
Em face das evidências encontradas por Schmitz e Brochado (1976; 1982) os
autores propõem a difusão de uma tradição cultural, desde o sul da Patagônia até o
centro do Rio Grande do Sul, através da observação da semelhança tanto nas
técnicas, quanto nas dimensões e motivos rupestres de ambas as regiões.
45
Os motivos das gravuras do Abrigo do Barreiro, classificadas no mesmo
sistema de Brochado de Schmitz (1982), foram atribuídas ao mesmo estilo B
9
, por
Lima e Brochado (1994), com as seguintes gravuras identificadas para este estilo:
1. “pisadas de aves” de três dedos;
2. sulcos curvilíneos também em forma de U ;
3. sulcos retilíneos que se encontram ou se cortam (“grades” ou “espinha de
Peixe”);
4. perfurações com sucos entrecruzados em seu interior.
Porém, também se encontram neste painel, o estilo A, de acordo com as
seguintes gravuras:
1. depressões acompanhada de três ou quatro perfurações (“pegadas de
felinos”)
2. símbolos sexuais femininos;
3. sulcos ondulantes (meandros).
O estilo C também é identificado, através das seguintes gravuras:
1. sulcos retilíneos formando grades emoldurados por perfurações;
2. perfurações pequenas e alinhadas ou ainda perfurações emolduradas por
sulcos maiores.
No geral, até o momento, na atribuição dos estilos para as gravuras deste
Estado são objetivados o reconhecimento das formas, a relação das freqüências
destas e as técnicas de produção. Supõe-se que algumas gravuras sejam
‘representativas’, ‘índices’, de determinados “órgãos humanos” – como os sexuais,
assim como também os “rastros” de determinados animais – aves ou mamíferos. A
inferência da questão espacial, a verificação da temporalidade, a conexão entre
outros elementos da cultura material encontrados nas escavações destes sítios
9
Este estilo foi identificado e classificado para os abrigos da Pedra Grande e da Linha Sétima por
Schmitz e Brochado (1982, p. 38).
46
assim como o aspecto cultural são parâmetros que necessitam ser repensados para
o conjunto destas evidências rupestres.
Ao descrever as duas propostas sobre o ‘manejo das informações coletadas’
por Ribeiro (1974) e Brochado e Schmitz (1976) a respeito das gravuras rupestres
do Estado, isto é, para a questão da abordagem do estilo, Consens e Seda (1990)
alertam como muita propriedade para o uso de critérios sobre as técnicas de coleta
assim como também para polifuncionalidade e uma plurissemantização dos termos
tradição, estilo e fase aplicados na arte rupestre.
No entanto ressaltamos que, não pretendemos nesta tese, apresentar críticas,
mas esclarecer, com os dados aqui levantados e os demais estudos e pesquisas
realizadas no Estado sobre a arte rupestre até o momento.
De acordo com Kern
tanto o investigador como o objeto de sua investigação estão inseridos no
contexto da sociedade atual, da qual sofrem influências pois dela fazem
parte” [...] “todas as descrições e invenções de fases, facies, tradições,
formações sociais, culturas, seqüências cronológicas – mesmo as mais
objetivas e diagnósticas possíveis – não são ‘dados’ objetivos como o são
os artefatos in situ ou os documentos de um arquivo. São os produtos de
um ato de reflexão e de imaginação científica (KERN, 1996, p. 11-12).
Por outro lado, na operacionalidade dos dados muitas vezes “não se dão as
regras que permitem estabelecer a comunicação enquanto que científica”
(CONSENS e SEDA, 1990, p. 44).
Frente a estas questões, quem se inicia no estudo da arte rupestre e precisa
posicionar-se, encontra um número muito grande de problemas, relacionados ora ao
uso das ‘etiquetas’ e se não usamos incorremos em outro erro; ora a tradução dos
conceitos já estabelecidos e prioridades como a técnica, o espaço, ou a morfologia,
aumentando, por um lado, a roda da polivanlência e da plurissemantização e por
outro a ‘incompatibilidade’
10
.
- Pesquisa realizada a partir em 1994 (LIMA, 1998).
10
Ver o texto sobre “Fases, Estilos e Tradições na Arte Rupestre do Brasil: A Icomunicabilidade
Científica” (CONSENS e SEDA, 1990).
47
- Foi organizado e analisado os dados coletados sobre as gravuras dos sítios
em Mata e Torres a partir de 1994 através um modelo teórico tipológico e estatístico
pois, de acordo com Kern (1996, p. 15) “a organização tipológica pode nos levar à
formas de organização social, aos estilos ou às culturas”. Porém o autor também
acrescenta que esta atividade é um nível básico de inferências.
Martin afirma que, o conceito de estilo
é, ainda fracamente problemático, pois [...] nem sempre corresponde ao
próprio conceito da definição. O vocábulo não tem sido feliz, porque
demasiado arraigado na conceituação dos estilos artísticos claramente
definidos, quando aplicado ao registro rupestre, não se configuram com a
nitidez nem os limites consagrados e aceitos da História da Arte (MARTIN,
1996, p. 217).
De outra forma, para Pessis,
no plano da tradição, trabalha-se a um nível geral, no qual há perda da
identidade do “corpus” gráfico; ao contrário, no plano da formulação do nível
estilístico, salientam-se as diferenças o que abre um espaço para uma
diversificação sempre crescente (PESSIS, 1992, p. 53).
Para Guidon (1980) estilo pode ser definido pelo “um conjunto temático e pela
técnica”.
Sendo assim, estabelecemos uma alternativa para aproximar nossas gravuras
das outras já estudadas a partir de três elementos, a fim de identificar possíveis
estilos:
1. A proximidade destas gravuras com outras gravuras.
2. O grau de semelhanças entre as gravuras, tanto na morfologia quanto na
técnica.
3. Método aplicado para análise.
As gravuras dos sítios de Mata estão ‘muito próximas’ dos sítios da Pedra
Grande, 70 km aproximadamente e dos demais sítios pesquisados por Schmitz e
48
Brochado (1976), como, Canhemborá, Linha Sétima e Lajeado dos Dourados e do
Abrigo do Barreiro pesquisado por Lima e brochado (1994).
Na análise das gravuras destes sítios podemos observar que existem
semelhanças na forma e nas técnicas destas gravuras. O método aplicado por
Schmitz e Brochado (1976; 1982) é fundamentado numa proposta tipológica e
estatística, na qual também nos baseamos. Entretanto, encontramos algumas
dificuldades para estabelecer uma relação segura entre os estilos propostos pelos
autores, pois do total dos sítios investigados em Mata não nos foi possível
estabelecer uma diacrônia devido às poucas sobreposições observadas entre os
tipos.
Contudo, inferimos que, estas gravuras pertençam ao estilo B conforme a
proposta de Schmitz e Brochado (1976), pois neste estilo são descrito as seguintes
gravuras: pisadas de aves com três dedos ou em forma de âncora, não formando
rastros; sulcos curvilíneos em forma de U; sulcos retilíneos verticais e paralelos
alinhados que podem estar ou não cortados por um ou mais sulcos horizontais, às
vezes formando grades, espinha de peixe; perfurações, em geral médias e
picoteadas, alinhadas, à vezes desenhando figuras lineares, sulcos retilíneos
entrecruzados (estrelas) e perfurações das quais irradiam sulcos (sol). Estas
gravuras podem corresponder aos tipos 1, 2, 4, 5, 6, 8, 9, 11, 12 e 13 (Ver tópico
3.3. – Tipologia das Gravuras de Mata).
Mas, o estilo A (mais antigo), também identificada pelos autores, onde
aparecem além das pegadas de felinos, os sulcos ondulantes e meandros, por
exemplo, vamos encontrar somente o segundo deste estilo proposto, os sulcos
ondulantes (tipo 16), no sítio RS TO 03- Shütz 2 em Mata. E por isso, teríamos
então, além do estilo B, o estilo A, neste sítio de Mata, pois também são
evidenciados os tipos 2, 4 e o 12, por exemplo, descritos anteriormente.
Com isso os problemas de correlação entre estes estilos são diversos e sob
os mais variados ângulos, pois, por um lado, podemos perceber que em um sítio ou
em vários sítios se pode encontrar até dois estilos propostos pelos autores e há
ainda o problema da não verificação da sobreposição.
49
Na idéia da determinação dos estilos pode acontecer também que, este
método somente seja válido, por exemplo, para os sítios em que foram propostos.
Mas, por outro lado, partindo da hipótese que a gravura do “estilo A”, por
exemplo, encontrada no bloco do sítio RS TO 03 (Schütz 2) – Painel b e as gravuras
do “estilo B” encontradas em outro bloco do sítio RS TO 02 Abrigo do Bach – Painel
e, por exemplo, poderia ser indicativo de que a gravura do primeiro suporte é mais
antiga que as gravuras do segundo, dando assim, uma idéia de diacrônia, ou ainda
de mobilidade no espaço deste grupo, um nomadismo.
A respeito das gravuras encontradas em Torres, tivemos dois problemas para
a correlação. Primeiro quanto a distância e o ambiente em relação aos outros sítios
apresenta significativa diferença, o segundo é que não encontramos muita
semelhança entre as gravuras deste sítio com outras gravuras no Estado assim
como para o norte, Santa Catarina e Paraná, principalmente no que diz respeito aos
zoormorfos.
Contudo, poderíamos inferir que, estas gravuras poderiam pertencer ao estilo
proposto por Ribeiro (1974) como estilo ou fase III - um pequeno animal encontrado
no Cerro do Baú (bloco), mas teríamos outros problemas e que de certa forma estão
vinculados as demais correlações que já citamos anteriormente. Se, na correlação
entre este estilo, estamos apontando para uma mesma cultura como a Tradição
Umbu, por exemplo, entre o Cerro do Baú I e o sítio Morro das Pedras, com uma
distância de 500 km aproximadamente no sentido leste oeste, o estilo em questão
poderia ser indicativo de uma produção isolada culturalmente e em locais
determinados? Outro problema é se este sítio trata-se realmente de um sambaqui, e
por estar muito próximo ao litoral, poderia ser correlacionado aos sítios com arte
rupestre do litoral de Santa Catarina, por exemplo, apesar das diferenças nas
representações rupestres?
Sobre os sítios do litoral de Santa Catarina, Prous afirma que:
[...] pode-se supor que cada sítio rupestre poderia ter pertencido a um grupo
tribal estabelecido no continente. Sem dúvida se tratava de construtores de
50
sambaqui, gigantescos montes de conchas que atingiam até 30 metros de
altura na região, datados de 4.000 e 2.000 BP (PROUS, 1994, p. 88-89)
11
.
Ainda conforme o autor,
as gravuras polidas no granito, têm ainda 3 centímetros de profundidade
12
apesar da erosão. Quatorze temas são determinados: dois tipos de
antropomorfos (raros e esquematizados) e 12 geométrico. Geralmente, um
mesmo sítio não apresenta mais que 4 a 6 desses temas, e alguns existem
apenas nos sítios setentrionais e outros exclusivamente aos meridional, e as
ilhas centrais forma a transição. Esta tradição, geograficamente bem
delimitada, não apresenta nenhuma relação com os outros conjuntos
rupestres conhecidos no interior. Nossos trabalhos mostram o isolamento
dos construtores de sambaquis até por volta de 2.000 BP (PROUS, 1994, p.
88-89)
13
.
Sendo assim, uma vez que, não encontramos uma correlação segura entre os
estilos ou ‘temas’ existentes, que caminho devemos traçar?
Esta pergunta poderia ser respondida com a formulação de outro estilo ou
‘tema’, mas quando alguns autores se empenham na busca de um “ponto de
encaixe entre tanta diferença” e ainda colocam que “é suficiente nomear o
desconhecido para integrá-lo ao mundo da realidade do pesquisador. Porém, não no
mundo da ciência” (CONSENS, 1987 in CONSENS e SEDA, 1990, p. 51-52) é
importante considerarmos primeiramente a “logicidade das proposições” (CONSENS
e SEDA, 1990, p. 52).
Sob outro ângulo, no que diz respeito à propriedade das analogias
etnográficas, Taçon diz que:
11
No original: “[...] on peut supposer que chaque site rupestre pouvait appartenir à un groupe tribal
établi sur le coninent”. (PROUS, 1994, p. 88) Sans doutes’agis-saint-il des constructeurs de
sambaquis, gigantesqua mas de coquilles Qui atteignent jusqu à 30 m de hauteur dans la régions,
datés entre 4.000 et 2.000 BP.
12
Conforme pode ser verificado no quadro 3 – anexo 2, sobre sítio Morro das Pedras, no painel v a
profundidade da gravura é de 1 centímetro.
13
No original: “Les gravures polies dans le granit, ont encore 3 cm de profondeur malgré l’érosion due
aux embruns. Nous avons déterminé l’existence de 14 thèmes seulement: deux types
d’anthropomorphes (rares et schématiques) et 12 géométriques. Généralement, un mêmem sites
septentrionaux alors que d’autres sont exclusivement méridionaux, les îles centrales assurant la
transition thématique. Cette tradition, géographiquement très bien délimitée, ne présente aucun
rapport avec les autres ensembles rupestres reconnus à l’intéreur des terres. Nos travaux ont d’
ailleurs montré l’isolement des constructeurs de sambaquis jusque vers 2.000 BP” (PROUS, 1994,
88-89).
51
a analogia acrescenta uma perspectiva etnográfica aos dados
arqueológicos e oferece modelos que podem ser apropriados ao
entendimento dos dados arqueológicos. Ocasionalmente uma analogia dará
a única explicação sobre os dados particularmente incompreensíveis. Elas
deveriam cuidadosamente ser consideradas e, onde for possível baseadas
nas culturas historicamente relacionadas com os povos pré-históricos em
estudo. Esta ‘abordagem histórica direta’ (Nichoson, 1976) é a forma mais
direta de dedução analógica e supõe práticas observadas [...]. Quando um
grupo de pessoas não tem partes sobreviventes, analogias deveriam ser
baseadas em culturas que exploram o mesmo ambiente de maneira
semelhante [...]. Em outras palavras, a cultura em estudo e a cultura da qual
a analogia é tirada deveriam habitar meios ecológicos similares e terem um
meio se subsistência similar. Esta analogia ‘paralela’ não pode ser usada
para focalizar específicos
14
, mas é útil para interpretar processos ou modos
de operação de classes de dados. [...] As analogias não deveriam ser
utilizadas por si mesma. Seu uso mais produtivo é para a sugestão de
hipóteses que podem ser aceitadas ou rejeitadas por outros meios. É
necessário sempre tornar claro quando uma analogia está sendo tirada e
quando qualquer forma de interpretação está sendo feita. É mais importante
não confundir analogias ou interpretações com dados factuais (TAÇON
1992, p. 14-15)
15
.
Em outras palavras Hoder também adverte que:
para um rigoroso uso da analogia devemos considerar o grau exato de
semelhança entre a fonte e o assunto. [...] esta virtude de adaptar deve ser
estendida para incluir o contexto ou ambiente dos atributos primários
comparados. A abordagem contextual é limitada pelas similaridades entre
as coisas comparadas [...] Outra estratégia no argumento por analogia é
identificar regularidades interculturais no relacionamento entre as variáveis
(HODER, 1982, p. 210)
16
.
14
O grifo é nosso.
15
No original: “Analogy adds na ethografic perspectiva to prehsitoric data and provides models that
may be appopriate for the understanding of archaeological data. Occasionally na analogy will
provide the only meaningful explanation about particularly incomprehensible data. Analogies should
not be drawn at randon, however. They should be carefully considered and, wherecer possible,
based on a culture or cultures historically related to the prehistoric people under study. This ‘direct
historicla approach (Nicholson 1976) is the most strainghforward form of analogical deduction and
assumes the observed practice is a development. (...) When a group of people has no surviving
counterparts, analogies shoud be based on cultures that exploit similar environments and de at a
similar ecological environments and be at a similar subiste level. This ‘parallel’ analogy cannot be
used to focus on specifics but is useful in interpreting processes or modes of operation of classes
os data. Analogies can even be drawn fron diverse cultures if the class of data examined relates to
ecological and subsitence variables in a known manner. Wherever possible, analogies should not
be used on theri own. Their most fruitful use is for the suggestion of hypotheses that can be
accepted or rejected by other means. As well, it is necessary to always make it clear when na
analogy is being undertaken. It is most important not to confuse analogies or interpretations with
factual data” (TAÇON, 1998, p. 15).
16
No original:“(...) for a rigorous use of analogy is to consider the precise degree of similarity between
source and subjetc. (...) The contextual approach may amount to more than incersing the number of
similarities between the things being compared.(...) Another strategy in argument by analogy is to
identify cross-cultural regularities in the relationship between variables” (HODER, 1982, p. 210).
52
Conforme Layton,
o conhecimento da iconografia, estilo e contexto capacita membros da
comunidade a ‘lerem’ a arte rupestre e assim identificarem quais figuras
individuais representam, que classe de assunto é representado e onde é
relevante suprir lendas associadas (LAYTON, 1992, p. 7)
17
.
Como exemplo do que foi exposto acima Tindale (1987):
registrou que as pegadas humanas gravadas em Port Helldland (Austrália)
eram aparentemente construídas como a representar indivíduos específicos,
enquanto variações de pegadas de animais eram vistas como diagnóstico
de espécies (TINDALE, 1987 apud LAYTON, 1992, p. 7)
18
.
De outra forma Taçon (1988) também citado por Layton (1992, p. 7) “mostrou
em convincentes detalhes que os elementos da forma corporal e a colocação de
nadadeiras revela a identidade da espécie na arte rupestre de Arnhem Land
Ocidental (Austrália)”
19
. Layton (1992, p. 7) também acrescenta que “a organização
geral da forma na arte rupestre dá pistas estilísticas”
20
.
Através de um trabalho comparativo entre a pintura corporal, pintura sobre
peles de animais e a pintura rupestre geométrica da região de Coxim, MS por
Soares ([s.d.], p. 28), foi evidenciado a semelhança entre esta pintura e à
representações da pintura corporal ou identidade clânica Bororo por ocasião do
funeral, permitindo segundo o autor, uma possível ligação com ritos funerários
conhecidos etnograficamente.
Conforme Soares
por um lado, há uma possibilidade que a pintura corporal tenha sido
recebida culturalmente por outros grupos que habitavam os abrigos sob
17
No original: “Knowledge of iconography, style and context enables members of the community to
‘read’ rock and thus identify what individual figures represent, what class of subject is depicted and
(where relevant) to supply associated legends” (LAYTON, 1998, p. 7).
18
“Tindale (1987) records that engraved human footprints at Port Hedland were apparently construed
as representing specific individuals, while variation in animal footiprints was regarded as diagnostic
of especies.” (LAYTON, 1998, p. 7).
19
“Taçon (1998) has shown in convincing detail that elements of body shape and the placement of
fins eveal the identity of fish species in the rock art of western Arnhem Land” (LAYTON, 1998, p. 7)
20
No original: “The general organisation of form in rock art yields stylistic clues” (LAYTON, 1998, p. 8).
53
rocha, como o mito ‘ a mulher aturuarodo e o monstro Butoriko’, onde relata
a luta de um mostro que ocupa uma caverna e que devora os índios Bororo
(...). Há uma possibilidade da pintura corporal, assim como certas peças
cerâmicas privativas de certos clãs, serem uma herança cultural de quando
o grupo não formava a unidade atual (SOARES, [s.d.], p. 34-35).
Através esse parâmetro Hoder (1982, p. 211) diz que “embora cada contexto
cultural seja único, é criado historicamente através de regras difundidas”
21
.
Frente a estas colocações podemos entender que as gravuras de Mata assim
como as gravuras encontradas no Morro das Pedras e também as demais, são “(...)
símbolos materiais carregados de valor (...) são modelos de e para o
comportamento. Por causa da carga de valores, a característica dos símbolos
materiais não são escolhidos arbitrariamente”
22
(HODER, 1982, p. 213). E, ainda
pode de certa forma e como ritual, ser mais como um desempenho do que
um abstrato código de linguagem. Pode simular, chocar ou perturbar; não é
um componente passivo da ação social. A ambigüidade pode ser usada
para efeito emotivo, tal como pode o caráter irreal, ideal (HODER, 1982, p.
214).
Mas, por outro lado, sem mais recursos para uma inferência segura e objetiva
sobre uma possível ligação a respeito destas gravuras com grupos contemporâneos,
através dos recursos da etnografia, por exemplo, não podemos especificar um
contexto social e cultural.
Cabe ainda salientar que as publicações sobre a arte rupestre apresentadas
pelos pesquisadores Pedro Mentz Ribeiro, José Proenza Brochado e Pedro Ignácio
Schmitz apresentaram também, na sua totalidade, comparações com a arte rupestre
encontrada na República da Argentina.
Os trabalhos arqueológicos realizados na Argentina sobre a arte rupestre são
conhecidos desde o século XVIII mas é a partir do início do século XIX que os
21
No original: “Although each cultural context is unique, it is created historically through the use of
widespread rules” (HODER, 1982, p. 211).
22
No original: “(...) material symbols are value-laden. (...) are models of, models of and behaviour.
Because of the value-laden, qualitative characteristic of material symbols, they are not chosen
arbitrarily” (HODER, 1982, p. 213).
54
trabalhos são realizados por Osvaldo F. A. Menghin especialmente na Patagônia
entre os anos de 1951 a 1959 (SCHOBINGER e GRADIN, 1985).
Ao todo Menghin descreveu sete estilos de arte rupestre na Patagônia. O
mais antigo e vinculado a indústria Toldense é o estilo de negativos de mãos
executado mediante a aplicação de pintura ao redor do contorno natural da
extremidade apoiada sobre uma superfície rochosa com 9.000 A.D. O estilo de
negativos inclui motivos simples integrados por uma série de pontos, linhas retas e
circulares e ainda traço de pés e patas de animais [...] O terceiro estilo da Patagônia
se caracteriza pela técnica do gravado executado por percussão ou incisão,
especialmente em rocha a céu aberto. Os motivos característicos são os rastros de
ñandú (avestruz) e felino. Aparecem também imagens esquemáticas de guanacos e
pumas, de lagartos vistos de cima e pequenas figuras antropomorfas, signos
lineares e circulares ou sinuosos. [...] Esta técnica de gravado segundo os autores
“teve uma grande difusão no território Argentino desde o nordeste até a Patagônia,
especialmente ao sul onde teria havido um desenvolvimento que se estenderia
desde 2000 A.D. [...] Foram verificados por Menghin 1957 duas grandes
concentrações de gravuras, uma ao norte na província de Neuquém outra ao sul,
província de Santa Cruz. O autor observou também que a primeira apresenta fortes
influências da região de Cuyo, como também da transadina Chilena, já a segunda
constitui uma modalidade com características próprias que foi denominada por
Menghin como “Estilo de Pisadas e também aparecem na Bolívia norte-oriental Este
estilo foi vinculado a arte rupestre encontrada no estado riograndese.
(SCHOBINGER e GRADIN, 1985, p. 35).
Segundo Prous,
pode-se então imaginar que as populações ou as influências culturais de
origem Meridional (Patagônia) teriam subido para o norte, indo a leste, pela
borda do planalto Meridional do Rio Grande do Sul, onde se encontra a
maior concentração de sítios. A oeste, essas influências teriam seguido as
principais vias fluviais do Rio da Prata (Paraná, Paraguai e Uruguai ),
atingindo o curso superior de alguns afluentes dos rios amazonienses
(Xingu, Araguaia, Tapajós e Momoré), deixando traços em sítios distribuídos
55
em sete concentrações. É provável que o progresso das pesquisas permita
preencher os vazios entre essas regiões (PROUS, 1994, p. 82-83)
23
.
Estas rotas demonstram não simplesmente ‘rotas de mobilidade’ de
ocupações de espaço mas rotas de mobilidades simbólicas estilísticas que estende-
se de um extremo ao outro. As concentrações dos sítios reconhecidos denotam a
singularidade das representações demonstrando um trajeto ou então um a difusão
seguindo pelas vias fluviais.
23
No original: On peut donc imager que de populations ou des influences culturelles d’ origine
méridionale (patagone) seraient remontées vers le nord, venant buter à l’est contre le rebord du
plateau méridional dans l’Etat de de Rio Grande do Sul, o`se trouve la plus grande concentration
de sites. A l’ouest, ces influences auraient suivi les pricipales voies fluviales du Rio de la Plata (rios
Paraná, Paraguay et Urugauay), atteignant le cours supérieur des quelques affluents des rios
amazoniens (Xingu, Araguaia, Tapajós et Mamoré), laissant des traces de leur passage dans une
vingtaine d’autres sites éparpillés en 7 “concentrations”. Il est probable que le progrès que des
recherches permettra de combler les “vides” entre ces régions”.
56
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E CONCEITUAIS PARA O ESTUDO
DAS REPRESENTAÇÕES RUPESTRES
3.1 Plano de Trabalho para o Dispositivo Parietal: Aspectos Teóricos e Conceituais
Por ‘dispositivo parietal’ estamos nos referindo a um conjunto de gravuras
rupestres dispostos sob um suporte rochoso, seja geologicamente em arenito ou
basalto. Neste tópico trataremos de novos sítios arqueológicos localizados através
de informações de moradores dos locais, seguindo por um lado, às pesquisas no
município de Mata e município de Torres (LIMA, 1994), e retomamos os sítios
rupestres redescobertos nos municípios Rosário do Sul e Quaraí e descoberto em
Alegrete, com interesse na compreensão de um novo aporte metodológico para a
análise, descrição e classificação destes registros rupestres.
Os estudos iniciaram desde 1992 em Mata com a participação do Padre
Daniel Cargnin, Cláudio Bortolaz e do Irmão Guilherme Naue, pesquisadores que
evidenciaram estes registros. Em quatro anos de pesquisa foram realizadas sete
expedições para o reconhecimento e a documentação da arte rupestre nos
municípios de Mata e de Torres.
O primeiro reconhecimento em julho de 1993 foi desenvolvido em Mata,
quando na companhia do Padre Daniel Cargnin, foram levantados em três
propriedades, um “paredão” com inscrições rupestres, um abrigo-sob-rocha com
gravuras e cinco blocos com inscrições rupestres. O segundo reconhecimento foi
desenvolvido em abril de 1995 em Torres no sítio arqueológico denominado Morro
57
das Pedras - RS 100, quando durante três dias foi prospectado uma área de
aproximadamente um hectar, a fim localizar um conjunto de ‘matacões’ com
inscrições rupestres. Este trabalho contou com a participação de Álvaro Luís
Marcolin, Angélica Boff, Taís Vargas Lima e Claúdio Baptista Carle e também a
presença do Prof. Dr. Arno Alvarez Kern.
Foram encontrados aproximadamente vinte e um blocos com gravuras
rupestres, nesta pesquisa, as quais foram copiadas em plástico com canetas de
retroprojetor. Também foram anotadas as distâncias entre os blocos e suas
dimensões.
Em março de 1997 os sítios arqueológicos com gravuras rupestres em Mata
foram cadastrados por Claúdio Carle e Taís Lima como RS TO 01 – Paredão do
Moura; RS TO 02 - Abrigo do Bach; RS TO 03 - Schütz 1 e 2 e RS TO 05 – Schütz
3. Em agosto do mesmo ano foram realizadas cópias das gravuras dos sítios de
Mata, documentação fotográfica e localização com GPS.
Em janeiro de 1998 foi desenvolvida uma nova pesquisa no sítio arqueológico
Morro das Pedras em Torres. Estiveram presentes Álvaro Luís Marcolin, Adão
Houaek Neto e Antônio Luís. Encontramos neste trabalho mais um ‘bloco’, com um
painel (s). Os demais painéis com gravuras que já haviam sido “descobertos” foram
novamente copiados e medidos, assim como as distâncias entre os blocos e
localização com GPS. Cabe salientar que o Padre Ignácio Schmitz até o momento
não considera os traços encontrados nestes blocos como representações rupestres
(mais adiante no tópico 2.3.5. serão discutidas a veracidade destas representações.
Ainda neste mesmo período, foi realizado em Mata uma nova verificação dos dados
já coletados em campo como, a verificação das dimensões das gravuras
(comprimento, largura e profundidade) e o levantamento da área de entorno. No
total, somaram-se cinco sítios arqueológicos que foram pesquisados e estudados
para a construção desta dissertação, sendo que, não realizamos nenhum corte
estratigráfico.
Desde então, em conjunto com nossas atividades de trabalhos e estudos,
verificamos a necessidade da realização de salvamentos arqueológicos, pois, as
gravuras nos sítios em questão, vem sofrendo gradativa perturbação pela ação das
58
intempéries e principalmente pela ação antrópica. Pessoas sem conhecimento
técnico vem mutilando durante anos os vestígios, um dos importantes bens
arqueológicos do Estado. Recentemente a ação de destruição tem sido mais
intensiva, pois o número de curiosos e depredadores tem aumentado mais
especificamente em Mata.
Os monumentos arqueológicos brasileiros estão sobre a guarda e proteção do
Poder Público, sendo considerados bens patrimoniais da União, determinada pela
Lei 3924/61. Essa mesma lei determina que ficam proibidos em todo o território
nacional a destruição ou mutilação desses monumentos para qualquer fim, antes de
serem devidamente pesquisados.
Um dos nossos objetivos prioritários deste trabalho foi assegurar o
levantamento, o reconhecimento e a preservação dos sítios arqueológicos com arte
rupestre objetivando a valorização de seu potencial científico, cultural e educacional.
A proposta de arqueologia de salvamento, tem por base, o pressuposto legal acima
referido, e se fixa na condição emergencial apresentada.
Tivemos o apoio e a contribuição da Prefeitura de Mata através do Sr. Rui
Prestes Gabriel – Prefeito Municipal, que cedeu um automóvel para nós nos
deslocarmos até os sítios e do guia sempre presente em nossas atividades de
pesquisa em campo Claúdio Salla Bortolaz (Secretário do Museu Paleontológico e
Arqueológico de Mata). Também tivemos a permissão do Sr. Fredolin Shütz (sítios
RS TO 03 - Shütz 1 e 2, RS TO 05 – Shütz 3), e do Sr. Airton Garcez Moura
(Paredão do Moura e Abrigo do Balc) e do Sr. Rosalino Peres (sítio Morro das
Pedras – RS 100) para realizarmos as pesquisas em suas propriedades.
O envolvimento da comunidade nestas atividades contribuiu e favoreceu à
pesquisa, mas não assegurou a preservação da arte rupestre como no caso de
Torres, por exemplo, onde vários blocos já foram levados deste sítio e a depredação
de dois dos blocos pesquisados em Mata no Abrigo do Balc.
Em Alegrete foi encontrado um novo sítio arqueológico através da informação
de um morador local cujo na propriedade do Sr. Gastão Medeiros. Este sítio foi
registrado como RS I 17 – Cerro do Letreiro. Em Rosário do Sul um sítio
59
arqueológico pesquisado a vinte anos atrás com inscrições rupestres, pela equipe do
Padre Schmitz foi novamente visitado juntamente com a Sra. Maria Helena Shor que
havia escavado o sítio
24
. Em Quaraí o sítio arqueológico Cerro da Panela com
gravuras rupestres, pesquisado e publicado anteriormente pelo Prof. Mentz Ribeiro
foi re-estudado do ponto de vista descritivo e classificatório.
A seguir serão descritas e analisadas as gravuras rupestres de quatro sítios
arqueológicos divididas entre quatro municípios no Estado do Rio Grande do Sul, e
com as respectivas coordenadas e altitudes (Ver o tópico 2.2. com a localização dos
sítios): (Ver página 61- Figura 1. Localização dos novos municípios com
representações rupestre).
Nº
Município Sítio Arqueológico com Arte
Rupestre
Coordenadas Zona Altitude
1. Mata RS TO 06 de David 6734390 N 752119 L 21 237
2. Mata RS TO 07 Chacrinha 1 6730289 N 752521 L 21 168
3. Alegrete RS I 17 Cerro do Letreiro 6714632 N 672419 L 21 140
4. Rosário do Sul RS I 18 Cerro do Bugio 6639026 N 670452 L 21 246
Quadro 2 - Novos sítios rupestres no Rio Grande do Sul
Para a regulamentação de nossa pesquisa nestes sítios encaminhamos a 12ª.
Coordenadoria Regional – IPHAN, um projeto intitulado: “Projeto de estudo das
representações rupestres de Mata, Ivorá, São Pedro Sul, Alegrete, Rosário do Sul e
Quaraí”.
24
Este sítio não foi registrado no IPHAN e o material da pesquisa não foi encontrado no Instituto de
São Leopoldo. Conforme informação pessoal do Padre Schmitz pode ter acontecido do material ter
sido descartado por falta de relevância. Mas conforme informação da Sra. Maria Elena Shor foi
encontrado entre resíduos lascamentos na escavação realizada por ela uma ponta de projétil. Nos
procedemos no registro deste sítio que ficou denominado como RS I 18 - Cerro do Bugio.
60
3.2 Análise dos Conjuntos Rupestres: do Plano Diretor, à Cópia da Gravura, à
Fotografia
Sistematizamos em três etapas de pesquisa a estrutura dos dados coletados
em campo, em conjunto com os trabalhos em laboratório. Procuramos seguir as
propostas metodológicas de Guidon (1982; 1985), Schmitz e Brochado (1982; 1976),
Pessis (1982a; 1982; 1983), Consens (1986; 1990), Prous (1992), Martin (1996);
Beber (1994) e principalmente Vialou (1981; 1983; 1984; 1986; 1994; 2000; 2003;
2004), para o estudo da arte rupestre. Estas etapas correspondem a uma seqüência
de operações, análises e problemas que foram ampliando-se e reestruturando-se,
conforme o prosseguimento das pesquisas e dos registros rupestres.
Nesta etapa do trabalho procedemos no levantamento dos dados por níveis
de apreensão das representações rupestres. Trata-se da formulação de um plano
diretor (ver Anexo II) numa primeira instância um tipo de “esboço” do cenário, onde
os signos rupestres se dispõem em um suporte rochoso vertical ou horizontal, tendo
como referência um eixo métrico para situá-los no espacialmente. As dimensões dos
traços gravados, dos painéis, linhas de fraturas, condições de intemperismo. Parte
de uma análise didática, trata-se da descrição do cenário – cena por cena, isto é,
análise dos signos, dos espaços do suporte. Neste procede-se na tabulação dos
signos rupestres, isto é, a “contagem” em números dos signos rupestres (Ver Anexo
III – Tabulação dos Signos Rupestres 1: RSI07 – Abrigo Chacrinha-Mata; 2: RSI17 –
Cerro do Letreiro-Alegrete; 3: RSI18 – Cerro do Bugio – Rosário do Sul; 4: Cerro da
Panela – Quarai).
Num segundo momento procede-se na cópia (relevé) dos signos dispostos no
painel através de um plástico transparente e com canetas pilot. No processo da
cópia das gravuras de um abrigo vertical, por exemplo, o plástico muitas vezes
escorrega ou então a mão e sua subjetividade reproduzem em um “nível de
superfície” traços distorcidos dando uma outra configuração da realidade que se
apresenta. Isto fica mais claro quando se experimenta realizar entre duas ou mais
pessoas a cópia das representações. Entre o primeiro e o segundo momento pode-
se ser utilizada a fotografia para o registro. Neste trabalho damos ênfase ao estudo
do plano diretor A representação visual através deste aporte metodológico contribui
61
para em laboratório verificar as possibilidades de distorções das imagens. Neste
trabalho só será apresentada uma cópia realizada (ou relevé) em Mata no Sítio
RSI06 DeDavid.
Figura 1 - Mapa de Localização dos quatro municípios pesquisados com
representações rupestres no Rio Grande do Sul
24
Município e Sítios do Rio Grande do Sul:
1- Mata: Abrigo da Chacrinha e Bloco DeDavid
2- Alegrete: Cerro do Letreiro
3- Rosário do Sul: Cerro do Bugio
4- Quaraí: Cerro da Panela
24
A referência a estes sítios corresponde ao projeto arqueológico que encaminhamos ao IPHAN para
liberação das áreas de pesquisa objeto de estudo da tese de doutorado.
4
2
3
1
62
3.3 Caracterização de Novos Sítios Meridionais e seus Contextos
3.3.1 Sítios RS TO 06 – Chacrinha, RS TO 07 – DeDavid – Mata/RS
No trabalho que desenvolvemos entre 1994 e 1998 sobre as gravuras de
quatro sítios arqueológicos em Mata RS TO 01 – Abrigo do Moura, RS TO 02
Paredão do Balc, RS TO 03 Blocos do Shültz 1e 2 e RS TO 05 Bloco do Shültz, os
painéis foram literalmente copiados, quantificadas e organizados, a partir de dois
conjuntos que denominados A e B. Apesar dos problemas que reconhecemos
através das outras pesquisas realizadas, como o foi, no sítio RS 452-1 Abrigo do
Barreiro (LIMA e BROCHADO, 1992), sobre a ‘segmentação das gravuras’ nos
painéis e a ‘organização por semelhança’ para a criação de quadros tipológicos,
continuamos neste mesmo padrão de análise, para esta manifestação cultural.
No entanto, procuramos seguir as perspectivas, para as fontes de dados,
apresentadas por Pessis (1982a) sobre o “registro central, anexo e exterior”
25
e
ainda as duas perspectivas complementares que são a “macrocenográfica e a
microcenográfica
26
”. Segundo Pessis (1982a, p. 18) “agrupar as informações por
fontes de origem, reveste uma importância particular no estudo dos ‘corpus’
rupestres, pois isso permite estabelecer mais facilmente o grau de fiabilidade dos
dados, bem como das conclusões”.
Estas categorias lógicas, conforme autora, tratam da cenografia geral e da
maneira como são ajustados os constituintes das representações materiais.
Enfatizamos nesta análise ‘as relações de ordem e de freqüência das gravuras’
“aquilo que na literatura designa freqüentemente sob os termos de signo e figura
geométrica” (PESSIS, 1982a, p. 22).
25
“O registro central, onde figura exclusivamente aquilo que mostram os painéis rupestres, e de onde
vêm as informações sobre o tipo de sítio e a distribuição dos grafismos; o registro anexo, do qual
fazem parte os dados complementares relativos a técnica de realização, natureza do suporte, tipo
de sítio e posicionamento topográfico e registro exterior, constituído pelos dados geográfico,
arqueológicos e etnográficos” (PESSIS, 1982a, p. 18).
26
“A perspectiva macrocenográfica, onde cada uma das representações rupestres é considerada em
seu conjunto e a perspectiva microcenográfica, interessa a consideração do elemento, onde
dispõe-se para cada representação, de dois tipos de unidades de estudos, aos quais
correspondem respectivamente o conjunto do painel e os elementos que ele compreende”
(PESSIS, 1982a, p. 18).
63
Tendo como referência estas categorias, definimos como “conjuntos” os
agrupamentos de painéis conforme a proximidade e o grau de semelhanças ou
diferenças entre as gravuras na morfologia e também conforme o suporte. Estes
elementos seguiram uma ordem seqüencial, que segundo Pessis (1992, p. 55), a
preparação da documentação visual, deve dar conta do sítio no contexto do
panorama da região, e dentro do sítio, os painéis devem ser precisamente
posicionados em relação ao conjunto, e que permita situar cada um dos elementos
de interesse num contexto maior: assim um grafismo em relação ao seu conjunto, o
conjunto de grafismo em relação ao painel de levantamento, este painel em relação
à totalidade do sítio e, finalmente, o sítio em relação ao contexto do lugar.
Não temos e não tivemos por proposta, inferir possíveis significados para os
conjuntos dos painéis ou mais particularmente para as gravuras, isto é, para a
interpretação do mostrado,
compreende-se que toda a realidade sensível à vista do observador e pode
ser percebido seja de maneira direta, seja por intermédio de reproduções
mais ou menos fiéis, como as de fotografia e do cinema, ou de figurações
mais ou menos estilizadas, como as da gravura e da pintura ou ainda do
mostrado sugerido e o do não mostrado (PESSIS, 1982a, p. 20).
O estudo dos conjuntos, painéis e figuras da arte rupestre, constituíram
nossas ‘categorias de entrada’, ‘pontos de partida’, ou seja, estabelecemos um
primeiro nível e assim como Guidon (1982), procuramos manter, através deste
procedimento as ‘unidades’ tais como foram concebidas pelos homens pré-
históricos. Os painéis foram estudados segundo as características de cada suporte
ou ainda conforme a orientação destes nos suportes. As gravuras copiadas em
campo foram reduzidas a partir de uma escala de 1:10cm em papel milimetrado e
depois em papel vegetal. Optamos por este sistema de redução devido as
convenções que utilizamos em campo para determinar as profundidades de cada
gravura e a ‘segmentação’, e as sobreposições destas, através de diferentes cores
de canetas.
Os painéis e figuras (gravuras), correspondem a uma forma, a um espaço
‘pensado’, ‘organizado’ e produzido segundo um padrão cultural, apesar de ‘não
reconhecido’. Este padrão pode ser entendido como “um conjunto de mecanismos
64
simbólicos para o controle do comportamento [...] sistemas de significados criados
historicamente” (GEERTZ, 1989, p. 64).
Seguindo também uma perspectiva “diacrônica” através da proposta de Consens
(1990) procuramos identificar nos painéis, a exemplo das indicações estabelecidas, as
sobreposições e a justaposições. Cabe ressaltar que, também ampliamos nossa
pesquisa, quando inserimos os dados arqueológicos coletados e analisados pelo
arqueólogo Irmão Guilherme Naue através de relatórios técnicos (1977-1982) em Mata.
Assim como também através da pesquisa registrada em cadastro do sítio Morro das
Pedras de 1967 em Torres e as informações coletadas neste mesmo sítio por Arno
Kern em 1975 sobre quatorze painéis copiados pelo autor e equipe
27
.
Com base nos trabalhos de Celis (1992) e Consens (1986) adaptamos
modalidades de fichas para o registro das variáveis e para a construção do bancos e
dados, contendo as seguintes informações:
1. Dados com Identificação geral (o mesmo para todos os sítios);
2. Classificação por tipo de suporte (‘Paredão’ (1), Abrigo (2), Blocos (3);
dimensões dos suportes (comprimento, largura, espessura e profundidade);
orientação do painel no suporte; conjuntos de painéis - A, B e C, painéis - a, b, c, d,
e.. etc; numeração das figuras nos painéis em ordem numérica; a dimensão de cada
gravura nos painéis (comprimento, largura e profundidade); as técnicas de
confecção (picoteamento, raspagem ou polimento); verificação da posição das
gravuras (sobreposição, justaposição); categorias (geométricas ou naturalistas) e a
tipologia. Foi construída uma tabela tipológica de análise e classificação das
gravuras a partir dos trabalhos de Schmitz e Brochado (1982), Lima e Brochado
(1994) e Beber (40-77:1994). E ainda, realizamos uma comparação entre as gravura
pesquisadas neste trabalho com as demais gravuras encontradas no Estado e o
desenvolvimento de relatórios técnicos para os órgãos Federais (Instituto de
Patrimônio Artístico Nacional) e Educacionais (Universidade da região da Campanha
- URCAMP).
27
Assim como também através da pesquisa registrada em cadastro do sítio Morro das Pedras de
1967 em Torres e as informações coletadas neste mesmo sítio por Arno Kern em 1975 sobre
quatorze painéis copiados pelo autor e equipe.
65
Figura 2 - Carta - 1. Vinte Tiros – MI 2974/3 - 2. Mata – MI 2964/1 – Mata
- Sítio TO 06 – DeDavid – trata-se de um bloco rochoso com as seguintes
medidas 5 metros de comprimento x 3 metros de largura com inscrições rupestres
na sua base superior. Este bloco encontra-se dentro de uma mata nativa e à beira
de um córrego. Apresentam um total de 237 gravuras como círculos com traços no
meio, muitas formas em “estrelas” traços que parecem cortar o bloco em duas áreas
Há traços ainda que se cruzam em forma de grades, são traços retilíneos, trigiditos.
Muitas das gravuras encontram-se agrupadas nas concavidades da base como que
formam pequenos painéis. Este sítio assemelha—se muito com o sítio do Moura que
fica distante aproximadamente 20 km pelas formas e técnicas das gravuras. Neste
sítio realizamos a cópia das gravuras através de um plástico transparente. (ver
Anexo II – Item B – Cópia das Gravuras do RSTO06 DeDavid).
RS TO 07
RS TO 02
RS TO 01
RS TO 05
RS TO 03
RS TO 06
66
Figura 3 - Bloco rochoso do Sítio de DeDavid - Mata
Figura 4 - Painel rupestre 1 DeDavid - Mata
67
Figura 5 - Painel rupestre 2 DeDavid - Mata
- Sítio TO 07 – Chacrinha – trata-se de um paredão rochoso em declive muito
acentuado em uma meia encosta medindo da linha d’água aproximadamente 4 metros
por 10 metros de comprimento. Nele encontra-se uma concavidade onde sua parede
vertical muitos traços se cortam em forma de “grades”; outros traços comuns na base
rochosa distribuem-se na altura próximo ao chão traços retilíneos paralelos. No total das
gravuras 56 tipos puderam ser identificadas. (Ver Anexo II - 1.2 Painel 1 e 2).
Figura 6 - Abrigo da Chacrinha
Figura 7 - Abrigo da Chacrinha
68
3.3.2 Sítio RS I 17 – Cerro do Letreiro - Alegrete/RS
É abrigo rochoso com aproximadamente 4 metros de altura com relação a
linha d’água por 13 metros de comprimento. As representações são gravuras pouco
profundas que dispõe-se em uma parede vertical deste abrigo. Na sua base existem
muitos traços retilíneos paralelos com profundidade entre 1cm e 3cm. Este sítio
assemelha-se muito ao sitio da Pedra Grande, localizado no município de São Pedro
do Sul e também pelas “pegadas de felinos” ao sito de Canhemborá. (Ver Anexo II
RSI17 – Cerro do Letreiro – Painel 1A; 2B, 2C e 2D).
Figura 8 - Carta 2 – São Francisco de Assis – MI 2962/4 - Alegrete
RS I-17 - Cerro do Letreiro
69
Figura 9 - Área circulada apresenta o Abrigo Cerro do Letreiro - Alegrete
Figura 10 - Paredão rochoso de arenito – Cerro do Letreiro
Figura 11 - O auxiliar de
topografia da Prefeitura
Municipal de Manoel
V
iana Sr. Valdomiro
(quem indicou o sítio
rupestre – Cerro do
Letreiro)
70
Figura 12 - Paredão rochoso com linhas de fraturas – Cerro do Letreiro
Figura 15 - Painel com “tridigito” e um traço abaixo – Cerro do Letreiro
Linha de Fratura
da Rocha
Estilo pisadas
Figura 14 - Painel rupestre 2 – Cerro do
Letreiro
Figura 13 - Painel rupestre 1 – Cerro do
Letreiro
71
Figura 16 - Conjunto de “tridigitos” – Cerro do Letreiro
Figura 17 - Painel demonstrando o conjunto dos “tridigitos” – Cerro do Letreiro
Figura 18 - Base do paredão com muitos traços retilíneos paralelos –
Cerro do Letreiro
Figura 19 - Traços retilíneos – Cerro do Letreiro
72
3.3.3 Sítio RS I 18 – Cerro do Bugio – Rosário do Sul
É um abrigo rochoso na encosta de morro (Cerro do Bugio) com
aproximadamente 18 metros de altura da base até sua linha d’água. As
representações dispõe-se na base deste abrigo em uma de suas concavidades. (Ver
Anexo II – P5 – RSI18 – Cerro do Bugio).
Figura 20 - Carta 2- Guará – MI 2979/4 – Rosário do Sul
RS I - 18 - Cerro do Bugio
73
Figura 21 - A área circulada apresenta o abrigo rochoso com representações rupestres
Cerro do Bugio
Figura 25 - Painel 2 – Cerro do
Bugio
Figura 22 - Vista do fundo do abrigo 1 –
Cerro do Bu
g
io
Figura 23 - Vista do fundo abrigo 2 –
Cerro do Bugio
Figura 24 - Painel 1 – Cerro do
Bugio
74
Figura 26 - Apresentação das áreas escavadas realizadas por
Maria Elena Shor (lado “esquerdo” da foto apresenta os “poços testes”) – Cerro do Bugio
3.3.4 Sítio Cerro da Panela – Quarai
É um bloco rochoso de arenito Botucatu que destaca-se em meio a uma área
em processo de arenização. (Ver Anexo II – P6 Painel 1, 2 e 3).
75
Figura 28 - Apresentação do Sítio Cerro da Panela (ao fundo destaca-se o cerro cujo nome
recebeu o sítio
Cerro da
Panela
Figura 27 - Croqui 2 - Retirado da publicação de Ribeiro, 1984 - Quaraí
76
Figura 29 - Bloco rochoso com gravuras rupestres em “três faces
Figura 30 - Áreas com escamações do bloco e nelas as representações
77
Figura 32 - Gravura com sulcos retos
paralelos que se cruzam
Figura 33 - Bloco quebrado por
vandalismo (apresenta traços paralelos -
havia um arame embaixo como se tivesse
sido puxado.
Figura 31 - Face Oeste do bloco –
Cerro da Panela
Figura 34 - Bloco quebrado
com sulcos
78
3.3.5 Confirmação das representações rupestres do Sítio RS 100 Morro das
Pedras - Torres
Neste sítio foram realizadas duas escavações registradas em 1967 por Pedro
Ignácio Schmitz, José Proenza Brochado, Miguel Bombim e Ítala Becker (LIMA
1994). Este sítio arqueológico apresenta atualmente as mesmas características
como foi descrito há quarenta anos atrás e em ótimo estado de conservação. Como
o próprio nome indica é uma elevação, um monte, com uma distribuição de blocos
de pequenas a médias proporções, semi enterrados com representações distintas
em suas faces. Conforme a descrição do registro de 1967 o sítio é um montículo de
forma elípitica medindo aproximadamente 150 x 60m e 9,5m largura, rodeado de N-
NE a S-W por um verdadeiro muro de pedras (afloramento basáltico) que começa,
que começa entre as pequenas e separadas (5 cm). A N – NE, são muito altas ao
SE e médias a W. Na direção de ESSE se estende uma ponta de grandes pedras
(aproximadamente 1 metro de altura).
Realizamos em 1995 a primeira pesquisa (Taís Lima, Cláudio Carle, Álvaro
Marcolim, Angélica Gomes) neste sítio e contamos um total de 24 blocos, que
numeramos em ordem alfabética. Possivelmente uma das escavações, o poço – 2,
pode estar localizado entre os blocos c, d e com gravuras rupestres, pois trata-se
atualmente de um poço profundo com água concentrada dentro. Na primeira
pesquisa que realizamos em abril de 1995 já tínhamos verificado a existência deste
poço. Outra evidência encontrada, também nesta pesquisa de 1995, na superfície do
sítio foi de um uma peça lítica um “quebra coquinho” com forma “oval” medindo 10
centímetros de comprimento por 4 centímetros de largura, com uma depressão
polida no centro das duas faces, com 5mm de profundidade e com um peso de 100
gramas aproximadamente.
Kern descreve que:
o povoamento do território que hoje é o município de Torres, teve início há
milhares de anos, após a última era glacial ter chegado ao fim. [...]. A
planície costeira do litoral norte [...] essituada entre os vales dos rios
Mampituba (ao norte), Tramandaí (ao sul e oceano Atlântico (a leste) e as
encostas do Planalto Meridional brasileiro (a oeste) (KERN, 1995, p. 121-
122).
79
Em 1999 nova pesquisa foi realizada pela equipe do CEPA da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul através do Prof. Dr. Klaus Hilbert,
Gislene Monticelli, Junior Dominique e Fernando Marques. Nesta pesquisa foram
registrados alguns dos painéis que já havíamos identificado.
Carta - Três Cachoeiras - SHIIXC - MI2956/8 - Torres
Figura 35 - Carta 5 - Três Cachoeiras – SH 11XC – MI 2956/8 - Torres
Cerro da Panela
80
RS 100 – Morro das Pedras
Figura 36 - Paisagem que encobre o sítio RS 100 - Morro das Pedras - Torres
Figura 37 - Painel “G” – Face Oeste – Morro das Pedras
Figura 38 - Painel “H” – Face Oeste – Morro das Pedras
81
Figura 39 - Painel “J1” – Face Oeste – Morro das Pedras
A partir de aproximadamente 4.000 anos, isto é,
período correspondente ao Ótimo Climático diminuíram as precipitações, as
temperaturas baixaram e mar recuou dando origem as lagoas do Quadros,
Itapeva, Barros e a imensa laguna dos Patos. As primeiras sociedades
adaptaram-se em um ‘mosaico de paisagem’ que ainda hoje apresenta a
floresta ao lado do campo, das lagoas e dos rios. Uma paisagem rica em
alimentos e com abundante matéria prima (KERN, 1995, p. 126-127).
Segundo Kern,
para o interior do município de Torres, inúmeros sítios arqueológicos nos
mostram outros grupos que ali se instalaram, quase sempre nos campos.
São caçadores e coletores que rumam do sul para o norte, oriundos das
imensas planícies da Patagônia e do Pampa (KERN, 1995, p. 128).
É interessante ressaltar um achado na Depressão Central do Estado por
Ribeiro et al. (1973) em Venâncio Aires no sítio Cerro dos Bois a 500 metros de um
bloco de arenito com inscrições rupestres, de dois zoolitos, que segundo os autores,
tratam-se de pombos em basalto cinza (ver no primeiro capítulo).
Estes zoolitos são esculturas polidas muito encontradas em sambaquis e que
conforme Kern (1995, p. 129) provavelmente serviam para rituais.
82
Poderia haver alguma correspondência entre a arte rupestre encontrada na
escarpa do planalto e as esculturas e, por conseguinte, com os grupos de
pescadores –coletores “sambaquinos”
28
?
Não temos uma resposta segura para esta questão, mas segundo Kern,
os sítios de Torres, parece ter sido um destes centros de produção e
utilização destas esculturas predominantemente zoomorfas. Apenas o sítio
Paradeiro de Torres, dez esculturas zoomorfas colecionadas indicam o alto
grau técnico alcançado. Peixes, aves indeterminadas, uma coruja, e
possivelmente um tatu e um boto são exemplares que indicam a riqueza
cultural (KERN, 1991, p. 176).
Ainda conforme o autor (1994, p. 59) “possivelmente, devido aos seus
aspectos estéticos, muitas dessas esculturas foram levadas para bem longe dos
sítios arqueológicos onde habitaram os artífices que as produziram e onde se
encontram os restos materiais dessa cultura dos sambaquis”.
Os grupos sambaquianos, de acordo com Kern,
parecem ter desaparecido ou se aculturado, quando as migrações dos
grupos horticultores invadiram a planície litorânea, ao longo dos dois últimos
milênios, vindo tanto do planalto como dos vales centrais do Rio Grande do
Sul (KERN, 1994, p. 62).
No entanto, Ribeiro salienta que todas as manifestação de arte rupestre no
Estado está associada à Tradição Umbu, e por sua vez, viviam em estágio de
bando
29
, e ainda segundo o autor esta tradição
foi a única que ocupou todos os tipos de meio ambiente: a planície litorânea
norte e sul, o planalto leste oeste, a encosta do planalto, a planície do sul –
sudoeste e a Serra do Sudeste [...] através de dados obtidos até o presente
momento, é a planície sul - sudoeste e, principalmente, na encosta do
planalto onde obtivemos a maior quantidade e os maiores sítios
arqueológicos, quer de campo aberto, quer em locais cobertos.
28
Conforme Kern (1995, p. 129).
29
Alguns autores apresentaram um panorama geral do modo de vida das sociedades de caçadores,
coletores e pescadores. Dentre eles destaca-se Service (1971:18) que, com base na comparação
de culturas em contextos diferentes como por exemplo os “Bosquimanes” da Africa do Sul, os
“Australianos”, os “Argentinianos” e “Californianos, autor buscou explicar e delimitar a lógica interna
destas sociedades, ou seja, a estrutura social.
83
Coincidentemente é onde ocorreu a maioria das manifestações de arte
rupestre (RIBEIRO, 1991, p. 104-106).
Contudo, para chegarmos a uma possível conclusão sobre a autoria destas
gravuras faz-se necessário ainda, um maior levantamento sobre os dados
cronológicos e com isso novas escavações nos sítios, assim como comparações
posteriores quanto aos vestígios encontrados.
Assim como o cultural o aspecto cronológico da arte rupestre é muito
reivindicado entre os pesquisadores.
Nesta discussão insere-se outra questão também difícil de responder que é a
respeito da contemporaneidade entre os sítios descritos anteriormente, ou seja,
todos los yacimentos que aprecem en un mapa de distribuição son rigurosamente
contemporáneos?” (ORTON, 1990, p. 29). Ou ainda, conforme Trigger (1978, p. 31)
“é difícil determinar a contemporaneidade exata dos sítios e o período do ano em
que cada sítio era habitado”.
Ribeiro observa que:
existem diferenças entre alguns sítios indicando-nos fases diferentes. Isto
significa que os referidos materiais não foram confeccionados numa mesma
época ou, ainda, pelos mesmos homens. [...] Mesmo que se encontre, numa
escavação, num determinado nível datado, um fragmento da parede do
abrigo com petroglifos, podemos dizer que os mesmos têm aquela idade ou
mais. Não sabemos quando o homem pré-histórico os produziu e, ainda, por
quanto tempo eles estiveram na parede até desprenderem-se. Outra
situação é quanto existem, na parede signos abaixo do nível onde se
encontram ou são mais antigos. Da mesma maneira quando são localizados
objetos para fazer incisões, matéria corante ou peças com vestígios de
pintura, não nos é possível vinculá-las, temporalmente, com o existente nas
paredes (RIBEIRO, 1991, p. 123).
3.4 Caracterização Tipológica e Quantitativa das Representações: Questão da
Classificação das Formas
Foram definidas quatro tipologias para os cinco sítios rupestres. Estas
tipologias foram formuladas a partir da descrição das formas gravuras nos painéis.
84
A. - Tipologia para o conjunto das gravuras dos sítios - RS TO 06 – DeDavid e
RS TO 07 – Chacrinha (Ver Anexo IV Tipologia das Gravuras dos Sítios de
Mata RSTO06/07).
1. Traços retilíneos simples;
2. Traços retilíneos paralelos duplos simples e conjunto de até seis;
3. Traços retilíneos que se encontram “com forma de T” ou de cruz
perpendicularmente;
4. Traços retilíneos que se cruzam, com dois sulcos perpendiculares paralelos;
5. Traços com formas de V ou traços que se encontram;
6. Traços de até 3 traços que convergem para um ponto – “forma de tridígito”;
7. Traços de até treze traços convergentes para um ponto – “forma de estrela”;
8. Traços que se cruzam perpendicularmente e aleatoriamente (formas
geométricas abstratas retangulares);
9. Traços que se cruzam perpendicularmente – forma de grade;
10. Formas de estrelas com formas de grades e círculos;
11. Formas ondulantes simples – “meia lua” e com um sulco central;
12. Formas circulares com um furo;
13. Forma de pente – “E”.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Figura 40 - RS TO 06 – DeDavid e RS TO 07 – Chacrinha
85
No conjunto dos 2 painéis entre os 2 sítios somaram um total de 13 tipos
subdivididos entre 56 sub-tipos no Chacrinha – 237 sub-tipos no DeDavid
totalizando 293 sub-tipos. Obtivemos no conjunto os seguintes resultados:
predominância alta dos tipos 1, 2, 8 e 9; média dos tipos 3, 4, 6, 7 e 9 e baixa dos
tipos 5, 10,11, 12 e 13.
B. - Tipologia das gravuras do sítio - RS I 17 – Cerro do Letreiro (Ver Anexo IV
2 Tipologia RSI17)
1. Traços retilíneos simples;
2. Traços retilíneos paralelos duplos e em conjunto de até vinte e três traços;
4. Traços de até 3 traços que convergem para um ponto – “forma de tridígitos”;
5. Traços em forma de V;
6. Depressões que formam círculos - “pisadas de felinos”;
7. Traços retilíneos que se encontram “com forma de T” perpendicularmente ou
que se cruzam;
8. Traço em forma de X;
9. Depressão com formas com traços geométricos no interior;
10. Traços curvilíneos com até três traços perpendiculares;
11. Traços que se cruzam em forma de “grades”.
86
0
5
10
15
20
25
30
35
40
1234567891011
Figura 41 - – RS I 17 – Cerro do Letreiro
Neste sítio obtivemos 1 painel num total de 11 tipos subdivididos no total de
101 sub-tipos. A predominância alta dos tipos 2,4 e 5, média dos tipos 1, 5, 6 e 7
baixa dos tipos 8, 9,10,11.
C. - Tipologia das gravuras do sítio - RS I 18 Cerro do Bugio (Ver Anexo IV – 3
Tipologia RSI18 – Cerro do Bugio)
1. Traços retilíneos simples;
2. Traços retilíneos paralelos duplos simples ou em conjunto de até vinte e
sete traços;
3. Traços retilíneos com formas de ‘”T”, que se cruzam em forma de cruz ou
que se cruzam perpendicularmente – forma de “grade”;
4. Traços com formas de “Y”;
5. Traços em forma de “V”;
6. Traços de até 3 traços que convergem para um ponto – “forma de tridígito”;
7. Formas circulares ou retangulares;
8. Depressões que formam círculos - “pisadas de felinos”;
9. Traços que tendem a se encontrar – “forma de estrela”;
10. Traços curvilíneos com até três traços perpendiculares.
87
0
5
10
15
20
25
12345678910
Figura 42 - RS I 18 – Cerro do Bugio
Neste sítio obtivemos 1 painel um total de 10 tipos sub-divididos no total de
64 sub-tipos. A predominância alta dos tipos 2, 3 e 6; média dos tipos 4 e 7 e baixa
dos tipos 1, 5, 8, 9 e 10.
D. - Tipologia das gravuras do sítio - Cerro da Panela (Ver Anexo IV - 4
Tipologia Cerro da Panela)
1. Traços retilíneos simples;
2. Traços retilíneos paralelos duplos e em conjunto de até oito traços;
3. Traços retilíneos que se encontram “com forma de T” perpendicularmente ou
que se cruzam em forma de cruz;
4. Traços retilíneos com campos em forma de círculos;
5. Formas geométricas – de sulco retilíneo e forma de meia lua.
88
N
est
e
síti
o
obt
ive
mo
s 3 painéis e no conjunto um total de 5 tipos que se subdividiram entre 36 sub-tipos.
A predominância alta do tipo 2, média dos tipos 1 e 3 e baixa dos tipos 4 e 5.
E. - Para o Sítio Morro das Pedras em Torres foi construída a seguinte tipologia:
1. Traços retilíneos e curvilíneos paralelos;
2. Traços retilíneos paralelos associados;
3. Formas elípticas com traços retilíneos paralelos em seu interior;
4. Traços retilíneos paralelos verticais unidos no ápice e na base;
5. Formas elípticas com traços retos ou curvos no centro na horizontal e vertical;
6. Traços em forma de “V” cruzados por outros sulcos retilíneos paralelos;
7. Formas elípticas com um traço no meio - “possíveis peixes”;
8. “Zoomorfos” (crustáceos);
9. Forma curvilínea e retilínea que se encontram em ângulos variados.
0
5
10
15
20
25
12345
Fi
g
ura 43 - Cerro da Panela
89
0
2
4
6
8
10
12
123456789
Figura 44 - RS 100 Morro das Pedras
Neste sítio obtivemos (pertencentes ao um conjunto C, LIMA, 1994) 24
painéis e no conjunto um total de 9 tipos que se subdividiram entre 44 sub-tipos. A
predominância alta do tipo 2, 3 e 6 média dos tipos 4, 5 e 8 e baixa dos tipos 1, 7 e
9.
90
4 ARTE MOBILIAR NO NOROESTE DO URUGUAI E NO RIO GRANDE DO
SUL/BRASIL: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ANALÍTICAS
Em território Uruguaio Consens (1985, p. 65) reconhece o potencial de duas
áreas a medida em forem intensificadas a pesquisa sobre a investigação da arte
rupestre, à sudoeste e as serras a leste do país. No Departamento de Salto - região
centro oeste do Uruguai em uma vasta área de aproximadamente 80 quilômetros
estão sendo encontrados inúmeros afloramentos rochosos com gravuras rupestres.
A pesquisa está sendo coordenada pelo Sr. Mário Trindade diretor do Museu
História Natural de Salto, e pelos professores Leonel Cabrera da Universidade da
Republica em Montevidéu e Jorge Rodrigues do Conselho Nacional de Investigação
Científicas e Técnicas da Argentina
30
(Ver Anexo V).
30
Em maio de 2003 quando realizamos a primeira visita ao Museu conhecemos na companhia do Sr.
Mário Trindade, alguns afloramentos rochosos com gravuras rupestres na localidade de Santo
Domingo. Neste mesmo local estiveram o Prof. Denis Vialou e a Profa. Agueda Vialou em missão
pela UNESCO ao Uruguai em 1990. Nesta visita fizemos uma filmagem destas gravuras. Uma
pequena parte deste afloramento foi escavada e na superfície ainda são encontrados “in situ”
inúmeros resíduos lascados. A cópia destas gravuras já foi realizada e encontra-se no acervo do
Museu para ser estudado. Em julho do mesmo ano, estivemos durante quatro dias em campo para
realizarmos o estudo das gravuras rupestres de outros afloramentos rochosos na Cuesta de
Dayman – que fica a aproximadamente 70 quilômetro de Salto
30
. O local situa-se, no sentido leste
de Salto, em uma fazenda denominada “El Parisal
30
”. Nesta fazenda foram localizados inúmeros
“focos” de afloramentos com gravuras rupestres. Entre estes afloramentos que estão sendo
cadastrados como sítio, destaca-se o sítio arqueológico CD8g01, cuja distância da sede da fazenda
até o local é 14 quilômetros. Este sítio encontrava-se sendo prospectado pela equipe do Prof.
Leonel Cabrera. Trata-se de um agrupamento de blocos rochosos de arenito que se estende-se por
30 metros fazendo um arco no sentido leste – nordeste. Nesta fazenda percorremos
aproximadamente quatro afloramentos rochosos que apresentavam manifestações rupestres. A
técnica de expressão destas gravuras é picoteamento seguindo pelo raspado. Realizamos a cópia
das gravuras de somente três destes afloramentos.
91
Nos sítios por vezes são encontradas representações mobiliares. Destacamos
neste trabalho as placas gravadas no banhadero de Salto Grande no Uruguai e a
placa encontrada por Ribeiro no município de Venâncio Aires no Rio Grande do Sul.
A imobilidade das obras rupestres se opõe à mobilidade dos objetos, submetidos
aos deslocamentos dos humanos, as seus contatos e trocas. Conforme Kern
(informação pessoal) “os objetos viajam muito mais do que os homens” isto poderia
ser a explicação da placa encontrada em território riograndese.
No Rio Grande do Sul a peça encontrada por Ribeiro,
em arenito na superfície de um terreno de cultivo perto do curso médio do
Rio Pardo, nas seguintes coordenadas geográficas 29° 40’ de latitude sul e
52° 48’ de longitude oeste, pesa 233 gramas e tem as seguintes medidas
123 x 93 x 18 mm. Em ambos ‘rostos’ foram gravados motivos abstratos
retilíneos, mediante incisões por fricção e que, de acordo com ele, se trata
de uma peça cerimonial, onde são observados nos dois lados da peça os
seguintes sulcos (RIBEIRO, 1978, p. 149):
No lado A – traços paralelos entre si, vertical e horizontal que cobrem a
superfície da peça. Formam “4 conjuntos” separados um do outro, pois, os traços
verticais em número de 11 e 12, são cortados por 1 horizontal e limitados por outras
duas; uma adenda é de que os traços horizontais foram praticados de uma
extremidade até a outra da peça e os verticais o foram dentro dos limites de 2
horizontais. Os “conjuntos” de uma das extremidades da pedra não são muito nítidos
(pouca profundidade dos sulcos resultante do alisamento posterior) (RIBEIRO,
1974). No lado B - Foi observado três traços horizontais e quatro verticais, paralelos
entre si, cortando toda a superfície da pedra; ainda, uma série de pequenos traços
paralelos entre si, convergentes, porém não se encontrando no centro, formando
uma espécie de “raiado” em círculo. Não foi constatada sobreposição. O bordo
periférico apresenta pequenos entalhes formando um “denteado”; a distância entre
um sulco e outro varia de 1 a 5mm; os sulcos são mais largos e com a mesma
profundidade dos sulcos das faces. Os sulcos possuem 1 e 2 mm de largura,
predominando 1 mm; profundidade entre 0,5 e 2 mm, predominando 0,5mm (2 mm é
raro). A forma da peça é ovóide com seção transversal e longitudinal levemente
biconvexa (RIBEIRO, 1974).
92
Figura 45 - Placa gravada encontrada no Rio Grande do Sul
Conforme o autor pelo retoque da borda, a peça recorda, as placas gravadas
na Patagônia e especialmente as da região do Salto Grande no Rio Uruguai Médio.
A peça foi preparada por alisamento antes e depois da confecção dos sulcos, em
ambas as faces a provável causa, segundo ele, foi o intuito de aplaná-la devido à
existência de irregularidades numa das faces que, mesmo assim, permaneceram
perceptíveis.
É a primeira peça deste tipo registrada na arqueologia brasileira. A área de
dispersão é o sul, em especial a região de Salto Grande, no rio Uruguai e Patagônia
Argentina, as que mais se assemelharam com esta são provenientes de Bañadero
Salto Grande, Uruguai (são as de número 2600 e 2603 da coleção do Museu
Municipal de História Natural, Salto, Uruguai) especialmente a última. Esta
comparação refere-se aos motivos, a técnica de confecção, forma e matéria-prima,
nesta ordem de importância quando em Cerro del Tigre I, onde foram encontradas 7
placas de arenito cinza e vermelha em coleta superficial (RODRÍGUES, 1969 in
RIBEIRO, 1974).
Ribeiro conclui que, a Pedra Gravada
93
teria as mesmas funções, o mesmo significado dos petroglifos, acrescida
ainda à de talismã. São os churingas dos indígenas australianos e
tasmanianos. Representariam os antepassados, animais seres humanos ou
plantas, dos quais eles descendem e pelos quais são protegidos. As
características tecnomorfológicas da pedra (inteira) lhe tiram qualquer
possibilidade utilitária; sua raridade e a vinculação que acreditamos existir
com os petroglifos levamos a atribuir-lhe uma função cerimonial (RIBEIRO,
1991, p. 120)
33
.
De outra forma Jorge Femenias estudou 117 placas gravadas do noroeste
do Uruguai e noroeste da Argentina
34
. Segundo o autor, entre os diferentes
materiais obtidos como resultado dos trabalhos arqueológicos em Salto Grande
por distintos organismos e instituições, certas peças denominadas “Pedras
Gravadas”, “Placas Lavradas” ou “Placas Esculpidas” foram encontradas. Trata-
se de líticos de formas retangulares, ovais, esféricas e ‘alargadas’ de seção
circular com distintos motivos geométricos gravados em uma das faces, ou na
maioria de casos, em toda a superfície de uma peça. Com base, no seu estudo
de 117 exemplares procedentes de diferentes coleções do Uruguai e Argentina,
que possibilitaram observar que suas formas e superfícies foram acondicionadas
antes de efetuar as gravações. As matérias primas empregadas em elaboração
destes exemplares são fundamentalmente basaltos e arenitos locais. Para a
realização das gravações se utilizou outro lítico de maior dureza. De acordo com
a técnica empregada para realizar as gravações, foram distinguidos quatro tipos
fundamentais: 1) sulco fino (entre 0 e 2 mm); 2) sulco largo (mais de 2 mm); 3)
com cavidades alinhadas (entre 3 e 8 mm); 4) sulco largo e fino combinados entre
si e com cavidades.
É destacado, pelo autor que existe uma marca relacionada entre os diferentes
tipos de técnica e os motivos decorativos. Algumas destas peças apresentam, em
33
Segundo Ribeiro (1974, p. 152-153) o que reforça a suposição da vinculação a caçadores
especializados da Tradição Umbu é a técnica utilizada, o alisamento, o tipo de rocha escolhido -
arenito, a área de dispersão das gravuras e das pedras (placas) gravadas (zona de campo ou
contígua à mesma) e a situação do achado (pequena elevação junto a um pouco expressivo curso
d’água). As datações absolutas em sítios com petroglifos, no Estado do Rio Grande do Sul, variam
entre 5655 ± 140 até 745 ± 115 anos A.P. (RIBEIRO, 1972b), sendo esta, portanto, a cronologia
atribuída à pedra gravada pelo autor (RIBEIRO, 1978, p. 153).
34
Este resumo desenvolvido entre outubro-novembro de 1985 no museu nacional de História Natural
de Montevidéo, sob o título “Estado Atual de Investigação Arqueológica em e Uruguai, pretendeu
reunir o mais significativo das Investigações dos últimos anos realizados por distintos
investigadores de temas integrantes que participam de distintos projetos arqueológicos rio Uruguai
Médio e rio Negro Médio.
94
sua parte central, uma cavidade maior que chega a borrar os motivos gravados, e
que aparentemente havia sido feito posteriormente. Tais características evidenciam
uma utilização das “pedras gravadas”, mas não é possível determinar qual foi
exatamente a sua função. Somente teremos referenciais de uma peça em a qual é
cavidade central forma parte da decoração. A primeira notícia sobre estas peças foi
dada a conhecer pelo professor Samuel Lafone Quevedo em 1908. Das 117 peças
das que se tem feito referência, 110 procedem de Salto Grande, e somente sete dos
pontos ficam ao norte e oeste desta dita região.
O material correspondente ao lado argentino de Salto Grande (Provincia de
Entre Rios) foi encontrado uma jarra vidrada média nos sítios Los Sauces, Casa do
Tigre, Cerro Espinoso e Cerro Norte, Mocoretá e na localidade de La Paz. Em sua
totalidade o material é recolhido da superfície mas tem-se referências pessoais de
achados realizados em escavação.
O material correspondente ao lado Uruguaio de Salto Grande é o mais
abundante e a maior parte do mesmo provém de um sítio denominado “Bañadero”.
Felizmente, dito sítio apresentava materiais culturais estratificados, o qual permitiu
estabelecer a relação contextual e cronológica das peças. A relação contextual foi
publicada pelo Dr. Antônio Austral em uma publicação de 1967, que distinguiu das
unidades industriais e possivelmente uma terceira que corresponde a distintos
extratos.
Uma unidade pré-cerâmica na qual aparecem pedras gravadas, seguidas de
uma unidade cerâmica na qual não se tem encontrado tais peças. Ambas unidades
estariam precedidas de outra unidade pré-cerâmica na qual apareciam pontas líticas
pedunculadas, mas não pedras gravadas.
Pelo momento, e estar com os trabalhos de laboratório efetuados, não são
visualizados diferentes significados em os materiais líticos. Falta sem dúvida o
estudo detalhado da tipologia com o que esta apreciação profissional pode variar.
Em o que pertence a relação cronológica a dados obtidos pela Missão de
Resgate Arqueológico de Salto Grande mediante C14, datam estes materiais a uns
4660 anos (+- 270 anos) antes do presente.
95
Em território Uruguaio, fora da região de Salto Grande, se tem encontrado
peças individuais em jazigo situado mais além do norte e o mesmo tempo
Departamento de Salto, esta é, em Espinillar e Constituição em Artigas a saber,
Boycuá, Bella União, Passo deLeón do rio Cuareim e entre os arroios Yacaré,
Curucú e Três Cruces.
Figura 46 - Mapa de Localização das placas rupestres na região do Rio Grande do Sul e
no noroeste do Uruguai
Locais Com
ocorrência de
placas rupestres
96
4.1 Análise e Classificação Tipológica das Placas Gravadas de Salto – Sítio
Bañadero
A partir do acervo do Museu de História Natural de Salto Grande foram
estudadas 56 placas rupestres que encontravam-se sem análise no Museu. Para
análise classificatória do material foram elaborados onze itens analíticos. Estas
placas foram copiadas em plástico transparente com canetas de retroprojetor e
depois recopiadas em papel vegetal com caneta nanquim. A seguir apresentamos os
resultados estatísticos das análises: (Ver Anexo V – 1 - Dados de Identificação; 2 -
Quadro de Estudo das Placas Rupestres de Salto Grande; 3 - Ilustração da Arte
Mobiliar).
1. Formas das Placas:
1.1. Elipsóide
1.2. Retangulares
1.3. Ovais
1.4. Cilíndricas
12
12,5
13
13,5
14
14,5
15
15,5
1.1. 1.2. 1.3. 1.4.
Figura 47 - Formas das placas
Nesta figura observa-se que as formas elipsóides e cilíndricas predominam
sobre as formas retangulares e ovais.
97
2. Matéria-Prima:
2.1. Arenito
2.2. Basalto
0
10
20
30
40
50
60
2.1. 2.2.
Figura 48 - Matéria-Prima
A escolha predominante da matéria é pelo arenito com uma baixa procura
pelo basalto.
3. Medida das Placas:
3.1. Largura Completa
3.2. Largura Incompleta
3.3. Comprimento Completo
3.4. Comprimento Incompleto
3.5. Espessura Completa
3.6. Espessura Incompleta
Entre as placas a largura completa apresenta-se um mínimo de 4,8 e máximo
10 cm a largura incompleta a apresenta um mínimo de 3,2 cm e máxima de 11 cm;
o comprimento completo apresenta um mínimo de 6,4 cm e máxima de 13,7 cm e o
comprimento incompleto apresenta um mínimo de 1,9 cm e máxima de 16 cm; a
98
espessura completa apresenta um mínimo de 1,8 cm e máxima de 5,5 cm; a
espessura incompleta apresenta um mínimo de 2 cm e máxima de 3,7 cm.
4. Técnica de Confecção de gravados:
4.1. Picoteado
4.2. Raspado
4.3. Picoteado com raspado
0
10
20
30
40
4.1. 4.2. 4.3.
Figura 49 - Técnica de confecção dos gravados
A predominância da expressão técnica é o raspado seguido pelo picoteado
com raspado e picoteado.
5. Formas dos sulcos gravados:
5.1. Forma em V
5.2. Forma em U
99
0
10
20
30
40
50
5.1. 5.2.
Figura 50 - Formas dos sulcos gravados
A predominância da forma do sulco é o U seguido pelo V.
6. Estado de preservação das placas e sulcos:
6.1. Erosionado
6.2. Desgastado
6.2.1. – 25%
6.2.2. – 50%
6.2.3. – 75%
6.3. Fraturado
0
10
20
30
40
50
60
6.1. 6.2. 6.2.1. 6.2.2. 6.2.3. 6.3.
Figura 51 - Estado de preservação das placas e sulcos
100
O estado de preservação das peças apresenta com maior incidência é o
desgastado, seguido pelo fraturamento e a erosão.
7. Profundidade dos Sulcos
7.1. Máxima
7.2. Mínima
A profundidade máxima e mínima dos sulcos variam entre 0,4 e 0,1.
8. Tipologia:
8.1. Linhas retas paralelas
8.2. Pontilhados retos paralelos
8.3. Linhas e pontilhados retos paralelos
8.3. Linhas sinuosas paralelas
8.4. Linhas e pontilhados sinuosos paralelos
8.5. Linhas em frizo retas sinuosas
8.6. Pontilhados em frizo sinuosos
8.7. Linhas gregas
8.8. Gradeado finos
8.9. Gradeado grosso (sulcos profundos)
8.10. Pontilhados retos paralelos “cortados”
8.11. Pontilhados dispersos
8.12. Placa lisa
8.13. Linha reta que circula o cilíndrico
8.14. Círculos (pontilhados)
8.15. Gregas “quadrados”
101
0
2
4
6
8
10
12
14
8
.1.
8
.2.
8
.3.
8
.4.
8
.5.
8
.6
.
8
.7.
8
.
8.
8
.9.
8
.10.
8.11.
8.12.
8.13.
8.14.
8.15
.
Figura 52 - Tipologia
Os motivos com uma predominância alta são os tipos 8.2., 8.7. e 8.10., com
uma predominância média são 8.1., 8.8. e 8.9. o demais são 8.3., 8.4., 8.5., 8.6,
8.11., 8.12., 8.13., 8.14., 8.15.
9. Categoria:
9.1. Geométrico
9.2. Figurativo
0
10
20
30
40
50
60
9.1. 9.2.
Figura 53 – Categoria geométrica ou naturalista
102
A predominância é da forma geométrica sobre a figurativa.
10. Faces das Placas:
10.1. Uma face
10.2. Duas faces
0
10
20
30
40
10.1. 10.2.
Figura 54 - Face das placas
11. Intemperismo – do total das placas estudadas 7.14% apresentam-se
intemperizadas
A análise destas peças fundamenta-se nos seguintes resultados à
predominância da escolha do suporte que é o arenito. A superfície de todas peças é
preparada antes do ‘desenho’ por alisamento. Destacam-se as formas em elipses.
Estas placas estão bastante desgastadas e a técnica que predomina é o raspado e
na forma de U. A categoria representativa é a geométrica e são mais abundantes as
placas com duas faces ‘desenhadas’.
103
5 PRODUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES RUPESTRES E INTERPRETAÇÃO
5.1 Implicações sobre Escolhas de Espaços: a Questão dos Suportes Rochosos
Procuramos apresentar através de um quadro de referência a distribuição total
dos sítios rupestres localizados no Rio Grande do Rio Grande do Sul no interesse em
destacar principalmente os suportes físicos que serviram de “apoio” para a expressão
das manifestações artísticas dos grupos pré-históricos. Também tivemos o interesse em
quantificar o total das gravuras distribuídas no estado somando, tanto aquelas que
foram somente descritas por Pedro Mentz Ribeiro quanto as que foram classificadas por
José Proenza Brochado, Ignácio Schmitz e Taís V. Lima.
Nº Sítio
Arqueológico
Município Ano do
Registro
Autores Suporte Quant. Quant. de
gravuras
1 RS T 14: Morro
do Sobrado
Montenegro 1972 a RIBEIRO, Pedro A. M Abrigo 1 25
2 RS TQ 70
Edmundo
Diesel
Montenegro 1989 RIBEIRO, Pedro A. M Abrigos sob
rocha
1 10
3 RS TQ 71 Adão
da Silva
Montenegro 1989 RIBEIRO, Pedro A. M Abrigos sob
rocha
1 5
5 RS TQ 72
Waldemar
Haustein
Montenegro 1989 RIBEIRO, Pedro A. M &
NAUE
Abrigos sob
rocha
1 25
6 RS TQ 54 Andre
Pereira
Montenegro 1989 Abrigos sob
rocha
1 10
7 Virador I, II, II São Sebastião
do Caí
1969-70 RIBEIRO, Pedro A. M Abrigo sob
rocha
3 19
8 RS C 14 – Bom
Jardim Velho
São Sebastião
do Caí
1972 b RIBEIRO, Pedro A. M Abrigo sob
rocha
1 1
9 Moquém Taquara 1973 RIBEIRO, Pedro A. M
et al.
Bloco 1 2
10 Macaco Branco Portão 1973 RIBEIRO, Pedro A. M
et al.
Abrigo sob
rocha
1 1
11 Cerro dos Bois Venâncio Aires 1973 RIBEIRO, Pedro A. M
et al.
Paredão
voltado para
leste
1 3
104
Cont....
Nº Sítio
Arqueológico
Município Ano do
Registro
Autores Suporte Quant. Quant. de
gravuras
12 Cerro do Baú I Venânico Aires 1973 RIBEIRO, Pedro A. M
et al.
Blocos 1 1
13 Cerro do Baú I I Venânico Aires 1973 RIBEIRO, Pedro A. M
et al.
Blocos 1 4
14 Cerro do Baú III Venânico Aires 1973 RIBEIRO, Pedro A. M
et al.
Blocos 1 4
15 Linha Araçá I e
II
Santa Cruz do
Sul
1973 RIBEIRO, Pedro A. M
et al.
Paredão
encosta
norte
1 10
16 Linha Araçá II Santa Cruz do
Sul
1973 RIBEIRO, Pedro A. M
et al.
Paredão
encosta
oeste
1 6
17 Arroio Grande Santa Cruz do
Sul
1973 RIBEIRO, Pedro A. M
et al.
Patamar de
morro
(Paredão?)
1 8
18 Cerro Alegre Santa Cruz do
Sul
1973 RIBEIRO, Pedro A. M
et al.
Bloco com
declive
1 7
19 Dona Josefa
Vera Cruz 1973 RIBEIRO, Pedro A. M
et al.
Encosta sul
do morro
(Bloco)
1 7
20-
A
Cerro da Panela Quaraí 1984 RIBEIRO, Pedro A. M. Bloco
Rochoso
1 10
20-
B
Cerro da Panela Quaraí 1984 LIMA, Taís Vargas Bloco
Rochoso
1 36
21 RS MJ 15 –
Gruta de
Canhemborá
Sobradinho 1989 Brochado & Schmitz Gruta 1 150
22 RS MJ 53 A, B e
C Abrigo da
Linha Sétima
Nova Palma 1989 Brochado & Schmitz Abrigo 3 263
23 RS MJ 102 –
Gruta Lageado
dos Dourados
Nova Palma 1989 Brochado & Schmitz Gruta 1 204
24 RS MJ 07 –
Abrigo da
Pedra Grande
São Pedro do
Sul
1989 Brochado & Schmitz Abrigo 1 1927
25 RS 451- 452 –
Abrigo do
Barreiro
Ivorá 1992 LIMA, Taís V. &
CARLE, Cláudio B.
Abrigo sob
rocha
1 338
26 RS TO 01 –
Paredão do
Moura
Mata 1992-94 LIMA, Taís V Paredão
voltado para
o norte
1
24
27 RS TO 02 –
Abrigo do Balc
Mata 1992-94 LIMA, Taís V Abrigo sob
rocha com
blocos
1
Abrigo
2
blocos
157
28 RS TO 03 –
Shütz 1 e 2
Mata 1992-94 LIMA, Taís V Blocos 2 8
29 RS TO 05 –
Shütz 3
Mata 1992-94 LIMA, Taís V Bloco 1 47
30 RS TO 06 –
Chacrinha
Mata 1992-94 LIMA, Taís V Paredão 1 56
31 RS TO 07 –
DeDavid
Mata 1992-94 LIMA, Taís V Bloco 1 57
32 RS I 17 – Cerro
do Letreiro
Alegrete 2003-04 LIMA, Taís V Paredão
encosta leste
1 99
33 RS I 18 Cerro
do Bugio
Rosário do Sul 2003-04 LIMA, Taís V & SHOR,
Maria Elena
Abrigo sob
rocha
1 64
34 Santo Antônio
da Patrulha
2002 Dias et al. Bloco 1 1
Quadro 3 - Descrição dos sítios rupestres do Rio Grande do Sul
105
Estes “suportes de apoio” dividiram-se entre 14 abrigos sob rocha, 5
paredões, 1 gruta e 38 blocos. No total das gravuras somaram 3.589 signos.
0
10
20
30
40
Abrigos sob
rocha
Paredões Gruta Blocos
Figura 55 - Quantificação dos suportes com inscrições rupestres
Este dado natural – sobre o item suporte – serve para o conhecimento das
representações pré-históricas, nas suas variações morfológicas e estruturais muito
diversas. Os ‘planos’ ou ‘áreas’ escolhidas para a representação são muitas vezes
‘preparadas’, por exemplo, por alisamento como é caso observado em dois blocos
do sítio RS TO 02 – Abrigo do Balc. Estes receberam este tipo de técnica ou melhor
o alisamento antes da confecção das representações, o que não é observado nas
paredes deste abrigo nem em outros paredões que situam-se próximo deste abrigo
do Balc ou seja o Abrigo do Moura que fica distante 700 metros a leste
aproximadamente e nele há dois painéis. Um dois painéis e situa-se numa parede
vertical na altura do solo ou lado oeste situa-se também na altura do solo em uma
concavidade. Os tipos são as gravuras isoladas ou agrupadas em traços retilíneos
em que distribuem-se espaças até dois metros sem a constatação desta forma de
tratamento. O que se observa é que existe uma predominância de ‘preparação de
blocos’ para a confecção das gravuras.
Neste contexto do Rio Grande do Sul destaca-se que a maioria das
representações rupestres são encontradas em blocos de pequeno a médio porte.
106
5.2 As Imagens Rupestres: O Pensar Humano através de Representações
O que “lemos” quando nos deparamos com as manifestações rupestres,
quando as classificamos suas ‘formas’. Schmitz et al. (1997, p. 19-20) ao tratar das
gravuras de Serranópolis – Goiás diz que “são na maior parte das vezes, meros
rabiscos. Não foram feitos ao acaso, em qualquer lugar: eles preenchem pequenos
afloramentos de arenito no meio do quartzito (também chamado arenito silicificado
ou metamorfoseado), eles se constituem em frizos e ocupam os espaços disponiveis
de arenito mole junto ao espaço habitado da maior parte dos abrigos. E questiona,
seriam meros rabiscos para distração? Resultado de um compulsão opressiva de
riscar e rabiscar de grafiteiros incontidos? Fariam parte de um ritual? Seriam
principalmente destinadas a tornar o ambiente doméstico, identificá-lo para os
membros do próprio grupo e de outros que, por acaso, ali passassem?”. São
perguntas que nos instigam a pensar se teriam ainda funções para o grupo ou para
o indivíduo? complementaríamos.
O pensamento simbólico faz parte do ser humano; é anterior a linguagem e à
razão discursiva. As imagens, os símbolos, os mitos não são criações irresponsáveis
do psiquismo, mas correspondem a uma necessidade e preenchem a função de
revelar as modalidades mais secretas do ser. E estas estão envolvidas antes de tudo
na natureza.
A arte nas palavras de Vialou e Mohen:
nasceu do domínio ancestral do corte na pedra, do osso, do marfim ou da
madeira, bem como o conhecimento imemorial do ambiente vegetal e
faúnico. Os gestos do escultor se enraízam nos gestos do cortador de
utensílios e de armas. A parede calcária ou de arenito de um abrigo, pintada
ou gravada é desde sempre a parede tranqüilizante e protetora da morada
do caçador [....]. A simplicidade de execução das gravuras, em incisão ou
em percussão, com instrumentos de pedra idênticos na maioria das
industrias pré-históricas como cinzéis e os picões explicam a uniformidade
aparente, tão mais perceptível quanto são semelhantes em todo parte os
suportes escolhidos. Da mesma forma, a escultura responde por toda parte
aos limites exercidos pelos materiais e pelos instrumentos utilizados:
107
pedras, marfim, galhadas de cervos, osso (VIALOU e MOHEN, 2004, p.
18)
31
.
Temos dois gestos técnicos que se destacam entre as obras rupestres:
- Picotagem: É gesto que tende ao movimento de perfuração do suporte
rochoso. Normalmente se aplica em suportes mais duros ou seguindo uma “linha” –
ou um “traço” para formação de um signo. A textura nas quais estes movimentos são
confeccionados, por vezes são de origem magmáticas ou ígneas.
- Raspagem: é gesto que fricciona sobre um suporte rochoso os movimentos
verticais ou horizontes causando ‘desbastamento’ da rocha. Estes movimentos sobre
sob a rocha são diferenciados pela textura, podendo, por exemplos ser aplicada em
rochas sedimentares que são de textura menos dura.
31
No original: “Considere dans sés generalités tecniques et thématiques, l’art préhistorique laisse
transparaître une uniformité, qui s’estend sur trente millénaires, avec néanmoins d’incessants
décalages entre les cultures jusqu’à des périodes récents. Contrairement aux oeuvres historiques,
dont les plus anciennes sont intimement liées au développement des monuments et des Villes, l’art
préhistorique est avant tout um art dans la natureza. Il est né d’une maîîtrise ancestrale de la taille
de la Pierre, de l’os, de l’ivoire ou du bois, ainsi que de la connaissance immémoriale de
l’environnrmment vegetal et faunique. Les gestes du sculpteur s’enracinent dans xeux du tailleur
d’outils et d’armes. Lê parroi calcaire ou gréseuse d’um abri, peinte ou gravée, est depuis toujours
la paroi rassurante er protectrice de l’ahitat du chasseur. [....] La simplicité d’exécution des
gravures, incisées ou percutées, avec des instruments de Pierre identiques dans la plupart des
industries préhistoriques, comme les burins ou les pies, rend compte de leur uniformité apparente,
d’autant plus sensible que les supports choisis sont partout semblables. De même, la sculture
répond partout aux contraintes exercées par les matériaux et les instruments utilisés: pierres,
ivoires, ramures,os (VIALOU e MOHEN, 2004, p. 18).
108
Entre os gestos técnicos e os instrumentos que picotam ou raspam traduzem-
se em signos que comunicam uma forma de escolha para a confecção do gravado e
formam novos signos de acordo com cada cultura conforme suas escolhas
temáticas. Fazem parte de tipo de “comunicação não-verbal” – os gestos das mãos e
a postura do corpo, por exemplo – são mais ou menos comparáveis em número à
configurações de sinais dos animais. O ser humano usa em média cerca de 150 a
200 desses ‘típicos’ gestos enquanto comunica. Se a cada configuração
corresponder um ‘significado’ diferente, é fácil verificar a variedade a ser transmitida
dessa forma é bastante limitada (EPSTEIN, 1991). Não somente os suportes em
blocos os que mais são procurados para a expressão das representações no
contexto riograndense os gestos em traços simples paralelos por, exemplo,
individuais ou em grupo também os são. São formas que talvez expressem o
significado de dar acabamento a instrumentos numa suposição o que seria um
terceira forma significa de pensar sobre os atos humanos.
Vialou ao se referir
a análise comparativa dos dispositivos parietais [....] conduz a reconhecer a
função da identidade primordial das imagens da pré-história. De uma época
a outra, de uma região a outra e de um sítio a outro transparece um efeito
de originalidade radical de construções simbólicas elaboradas pelos pré-
históricos a partir das escolhas temáticas, de suas combinações e de suas
localizações no seio dos dispositivos. A presença ou a ausência de um tema
animal, sua raridade ou sua abundância é suficiente para distinguir um sítio
109
de outro, mesmo que sejam culturalmente muito próximos. Por exemplo as
grutas ornamentadas magdalenianas no coração do Périgord. A polimorfia
das imagens humanas representa também, bem entendido, um caráter
discriminante, revelador às vezes de diferenças entre os sítios as
pertinências culturais na escala regional e/ou durante um período
determinado. Por sua variedade tipológica, os signos geométricos
radicalizam a semântica própria de cada conjunto. É assim por exemplo que
as grutas magdalenianas cantábricas (Altamira entre outras) possuem
grandes desenhos quadrangulares com divisões e signos pintados reunidos,
ignorados nas grutas magdalenianas do Périgord, antigas como Lascaux ou
mais recentes como Font-de-Gaume. Em Lascaux, os signos em “brasão,”
signos barbelados são específicos como o são os signos tectiformes de
Font-de-Gaume e três outras grutas vizinhas. Em definitivo, a análise
comparativa dos sítios e de séries mobiliares pré-históricas mostra que as
imagens investidas de sentido, que elas perenizam através das gerações
graças a sua inscrição nos suportes que desafiam o tempo dos homens.
Essas imagens são às vezes criação e memória de significações nas quais
se identificam e se reconhecem diferentes as sociedades que as
produziram. Eis quase quarenta mil anos que a imagem é mediação de
sentido entre os homens. Nela se encarnam o pensamento e o sonho, o
presente no futuro (VIALOU, 2000, p. 84-85)
32
.
As construções simbólicas, análise comparativa dos sítios e séries mobiliares
pré-históricas desafiam não só o tempo quanto às possíveis significações que estas
engendram. A criação e a memória ficaram cristalizadas na memória das sociedades
do passado que as produziram.
32
No original: “L’analyse comparative des dispositif pariétaux, c’esta-à-dire de la disposition organissée
des ensembles de représentations dans um site (grotte, abri ou rocher), celle des séquences de
représentations appartenant à des ensembles mobiliares homogènes (objets, armes, aprures...) conduit
à reconnaître la fonction identitaire primordiale des images de préhistorie. D’une époque à une autre,
d’une région à une autre et d’um site à um autre tranparaît em effet l’originalitéradicale des cosntructions
symboliques élaborées par les préhistoriques à partir des choix thématiques, de leurs localisations au
sein des dispositifs. La présence ou l’absence d’um thème animalier, as rareté ou son abondance
suffisent à distinguer um site d’um autre, même lorsqu’ils sont culturarellement très proches. Par
exemplo des grottes ornées magdaléniennes au couer du Périgord. La polymorphie des imagens
humaines represente aussi, bien entendu, um caractere discriminant, rélateur à la fois des
différences entre les sites et des appartenances culturelles à l’échelle régionale et/ou pendant une
période déterminnée. Par leur variété typolilogique, les signes geométriques radicalisent la
sémantiques propre de chaque ensemble. C’est ainsi par exemple que les grottes magdalléniennes
cantabriques (Altamira parmi d’autres) possèdent de grands siennes quadrangularaires cloisonnés
et des signes peints em accolade, icnorés dans les orottes magdaléniennes du Périgord, anciennes
comme Lascaux ou plus récentes comme Font-de Gaüme. Dans Lascaux, des signes em “blason”,
des signes barbelés sont spécifiques tout comme le sont des signes “tectiformes” dans Font-de-
Gaume et tris autres grottes voisines. Em definitive, l’analyse comparative des sites et des séries
mobilières préhistoriques montre que les images sont investies de sens, qu’elles pérennisent à
travers lê Générations grace à leur inscription dans des supports défiant lê temps des hommes.
Ces images sont à la fois création et mémoire de significations dans lesquelles s’identifient et se
reconnaissent différentes les sociétés qui les ont produites. Voici près de quarante Mille ans que
l’image est médiation de sens entre les hommes. Em elle, s’incarnent la pensée et lê revê, lê
présent dans lê futur (VIALOU, 2000, p. 84-85).
110
5.3 Signos Comunicativos: Enfoque para Descrição de uma Linguagem
Aborda-se a possibilidade das gravuras rupestres — uma imagem visual,
apresentarem diferentes conteúdos de cunho comunicativo.
As populações do passado ‘sem escrita’, segundo Lévi-Strauss
são movidos por uma necessidade ou um desejo de compreender o mundo
que os envolve, a sua natureza e a sociedade em que vivem. [...] para
atingirem este objetivo, agem por meios intelectuais, exatamente como faz
um filósofo ou até, em certa medida, como pode fazer e fará um cientista
(LÉVI-STRAUSS, 1978, p. 30-31).
Segundo Ferrara
toda representação é uma imagem um simulacro do mundo a partir de um
sistema de signos, ou seja, em última ou em primeira instância, toda
representação é gesto que codifica o universo, do que se infere que o objeto
mais presente e, ao mesmo tempo, mais exigente de todo o processo de
comunicação é se não imperfeito, certamente parcial [...] uma ação
interpretante sobre o modo de representação de uma linguagem é,
necessariamente, uma relação entre a face do objeto realmente
representada, a expectativa não exaurida dessa representação e os demais e
eventuais modos ou possibilidades de representação (FERRARA, 1988, p. 7).
Diferente de outras culturas materiais a arte rupestre é composta de signos
específicos.
Aceitando-se essas expressões como gráfico-icônicas, de cunho
comunicativo, não se pode deixar de notar, que as mesmas não estão
ordenadas, organizadas ou mesmo pensadas, como uma linguagem
estruturada, e até como uma pré-linguagem (NETTO, 1995, p. 67).
Podemos perceber diferentes signos, partindo do pressuposto de que existe
uma relação casual de conteúdo nas categorias as quais são estabelecidas para
arte rupestre, ou seja, forma de seus ‘signos’.
Os signos de diz Vialou e Mohen
111
são desenhos geométricos simples (pontos ou traços) ou complexos
(círculos ou quadriláteros com divisórias). Constituem outra constante
universal da arte pré-histórica rupestre móvel. Aparecem em proporções
muito variáveis: tanto constituem a única forma de iconografia, quanto são
ausentes. Assim, a arte do paleolítico superior depois a arte mesolítica na
Europa ocidental consta de representações abstratas sobre pedras
redondas achatadas (galets de rio notadamente, enquanto as
representações animais e humanas são muito raras. Os signos
testemunham a evolução sobre a abstração, através das simbolizações
codificadas de que as escritas foram (avatares) as últimas transformações
em qualquer região no mundo (VIALOU e MOHEN, 2004, p. 19)
33
A definição ‘geométrica’ remete a pensarmos ou descrevermos um “tipo de
matemática” ou então traços ou formas aparentando com caracteres latinos
elaboradas a partir de abstrações nas mentes da sociedades do passado. Parecem
nada nos dizer já que estas sociedades já não existem mais. Mas ainda há a
possibilidade do recurso etnográfico que embora seja um pouco distante no tempo e
talvez no espaço nos faz refletir sobre as significações destes. Junta-se a esta
categorização a questão naturalista, pisadas de aves, felinos, símbolos sexuais
assim por diante. A seguir apresento dois quadros com estas subdivisões:
33
No original: Les signes, c’est-à-dire des dessins géometriques simples (points, tirets) ou complexes
(cercles ou quadrilatèr cloisonnés), constituet une autre constante universelle de l’art préhistorique,
rupestre et mobilier. Ils apparai sent dans des prportions três variables: Tantôt ils constitutent la
suele forme de l’iconographie, tantôt elssont totalment absents. Ainsi, l’art epipaléolitique puis l’art
mésolitique em Europe occidentale comptent de représentations abstraites sur galets de rivière
notamment, alors que les représentations animales et humaines sont três rare. Les signes
témoignent de la montée vers l’abstraction, à travers des symbolisations codifiées de les écritures
furent les ultimes avatars, dans quelques régions du monde” (VIAOLU, 2004, p. 19).
112
Sítio RS TO 05 – Shütlz 3
– Mata
Quadrado
Abrigo do Balc - Mata
Grade
Sítio Virador – São
Sebastião do Caí
Losango contíguos
Sítio RS TO 05 – Shütz 3-
Mata
Traços ondulantes
Sítio Lajeado dos
Dourados - Sobradinho
Traço ondulante
Sítio RS 100 - Torres
Elípise
113
cont...
Sítio Virador – São
Sebastião do Caí
Traço cruzados –
forma de X
Sítio Morro do Sobrado -
Montenegro
Traços em forma de E
Dona Josefa – Vera Cruz
Triângulo
Quadro 4 - Categorias Geométricas
Sítio de Canhemborá –
Nova Palma
Pegadas de Felinos
Sítio Pedra Grande –
São Pedro do Sul
Pisadas de Aves
Sítio Pedra Grande –
São Pedro do Sul
Mão
114
cont...
Sítio Abrigo do Barreiro
- Ivorá
Figura Humana
Sítio Macaco Branco –
Portão
Símbolo Feminino
Sítio Cerro do Baú I-
Venâncio Aires
Animal quadrupede
Sítio RS 100 Morro da
Pedras – Torres
Zoomorfo
´
Sítio Virador – São
Sebastião do Caí
Árvore
Sítio Morro do Sobrado-
Montenegro
Estrela
Quadro 5 - Categorias Representativas ou Naturalistas
115
Patterson-Rudolph (1993, p. 11) ao estudar os petroglifos de Rio Grande
(EUA) afirma que “os índios americanos se referem tradicionalmente a suas artes
como “escritos em rochas” [...]. Há firme crença que as imagens de destinam-se a
transmitir informação, ou seja, não entendida pelos povos contemporâneos”
34
. O
conhecimento comum” desses registros seriam então atos de comunicação visual,
ou seja, são símbolos usados como metáforas dentro de parâmetros de uma
mitologia.
35
Patterson-Rudolph afirma que,
os sistemas de símbolos indígenas, podem ser estruturados de algumas
maneiras: 1) Não são lidos sucessivamente, de maneira linear, como no
sistemas alfabético; 2) Diferem de maneira progressiva por interagirem,
sendo o significado dependente desta interação [....] as pessoas usam,
informam como percebem o mundo. As metáforas Pueblos refletem a
aliança com a terra, diferente da percepção hierárquica do ocidente. Estão
agrupadas em experiências da vida real que são encontradas na natureza.
Esse contraste de metáforas é importante para entender se uma pessoa de
uma cultura está tentando interpretar as imagens visuais de metáforas de
outras culturas (PATTERSON-RUDOLPH, 1993, p. 11).
Sobre questão da ambigüidade da imagem visual Hoder (1982, p. 213) afirma
que “(...) itens materiais e a organização do mundo construído geralmente significa
coisas muito diferentes para pessoas diferentes. Eles podem geralmente ser
reinterpretados à vontade e suas implicações reavaliadas”
36
.
Segundo Da Matta (1987, p. 135) “a metáfora que é, realmente, um dos
ingredientes básicos do totemismo, é uma forma fundamental de constituição lógica
(e social)”. Por outro lado, “a metonímia é semelhante a metáfora, a diferença é que
apenas parte da metáfora que é usada para representar o todo”. (...). “As atividades
animais são usadas como metáforas porque são conhecimento comum”. “Trilhas de
animais encontradas em petroglifos são metonímias do próprio animal como uma
34
No original: “american indians have traditionally referred to their art as rock writings (...) in the same
sense they refer to any writing system. There is a firm belief that images are intended to transmit
information that is important, whether or not it can still be read or understodd by contemporary
people” (PATTERSON-RUDOLPH, 1993, p. 11).
35
Cabe ressaltar que, realizamos sobre o texto da autora um síntese para expormos os dados que
consideramos relevantes.
36
No original: “Spoken messages tend to avoid ambiguity in many circmstances. While certain
material items and the organisations of the constructed word offen mean very different things to
different peolple. They can offen be re-interpreted at will and their implications reassessed”.
(HODER, 1982, p. 213).
116
metáfora. Os animais são metáforas usadas para representar pessoas, enquanto
suas trilhas são metáforas ideais para expressar as atividades, viagem, batalhas ou
outras condições das vidas dos povos”. Como exemplo, autora descreve a ‘trilha do
leão da montanha’;
um painel mostra um petroglifo Pueblo usando a mesma a mesma trilha. Na
vida real isso indica presa/predador. Ambas as trilhas vão na mesma
direção, o leão atrás do cervo; o cervo fugindo do leão. O petroglifo
presa/predador emprega a repetição do símbolo para sugerir a seqüência
de eventos. A marca do leão é colocada em frente da do cervo e por
simples dedução conclui-se que o leão pegou o cervo. Mas a investigação
posterior trás outra conclusão. Um corte na trilha seguido de uma pegada de
cervo significa que o cervo transpôs um obstáculo que o leão não pôde
transpor. A presa escapou. [...].O conceito perseguir/fugir é conhecido
interculturalmente por todos os caçadores. O relacionamento
predador/presa em símbolos é usado pelos índios como metáfora para
perigo e inimigo. [...] em um outro painel é relatado que a variação do
tamanho da pegada indica o adulto e sua cria, metaforicamente. [...]
Trajetos de pássaros também são metonímias e cada espécie é identificável
por sua trilha, portadora de um conjunto de atributos. Esses atributos são
conhecimentos comuns entre as tribos Pueblo. Diferentes pássaros
desempenham papéis na mitologia e na iconografia religiosa. Pássaros com
atributos de atrair chuva são distinguidos dos que prestam informação ou
proteção ao homem. Em um nível, diferentes pássaros fazem parte do
drama humano, provocando o equilíbrio do universo. Em outro nível, os
pássaros podem representar aspectos da alma humana, mais bem
ilustrados como metáforas (PATTERSON-RUDOLPH, 1993).
Dumarest citado por Paterson afirma que
o povo Keresan usa diferentes desenhos para representar o corvo, águia, o
peru, o corredor e a serpente. As características do corvo distinguem-se
pela quarta guarra traseira. Os atributos do corvo incluem competição com o
homem por alimento, mas às vezes são inteligentes aliados do homem para
propósitos religiosos. [...] Trilhas de peru distinguem-se por terem somente
três dedos. Perus dependem da liderança de um macho mais velho, para
cuidar do bando e levar à comida e à água. São generosos. [...] Trilhas de
perus são comumente usadas nos petroglifos de Rio Grande para indicar a
direção do lugar de mútuo interesse, dependendo do contexto do painel
(DUMAREST, 1919, p. 167, apud PATERSON, 1993, p. 24-25).
A Garra de águia representam a força de um pássaro cujo domínio é um
ponto mais alto do céu, e cuja habilidade na caça é modelo. A águia é de
maior importância na iconografia religiosa. São as penas de águia que eles
usam nos ritos de cura, na ornamentação cerimonial e nos fetiches
sagrados. [...] O pássaro corredor, também chamado galo chaparral, tem
suas trilhas na iconografia Eastenr Pueblo e Zuni associados com coragem
e com proteção contra os inimigos. A interpretação desse petroglifo é
compatível com atividades rituais Zuni, que usam penas de pássaro
corredor em formação em X dentro de seus mocassins ou nos cabelos para
117
enfatizar a habilidade de deter e de confundir o inimigo. As trilhas de
animais e de pássaros são geralmente metonímias para clãs e dependendo
do contexto de outros símbolos no painel podem ser interpretados como
atributos metafóricos aplicados tanto a pessoas quanto a clãs (DUMAREST
apud PATERSON, 1993, p. 24-25).
Segundo Schmitz (1997, p. 19) “entre gravuras e pinturas existem formas e
conteúdos diferenciados, as pisadas, por exemplo, são elementos comuns de
conteúdo”.
Poderíamos supor uma realidade semelhante a metonímia descrita por
Paterson para as gravuras encontradas, por exemplo, em Canhemborá
denominadas como pegadas de felíneos ou ainda para as possíveis ‘pisadas de
aves’ encontradas, por exemplo, na Pedra Grande, assim como, para as demais
gravuras encontradas em outros sítios do estado.
Mas de outra forma Netto afirma que,
no caso da arte rupestre [...], embora formule-se prováveis significados para
estes signos, estes não passam de pura especulação, com alguns autores
afirmando que estas representações não seriam signos, já que não
possuiriam significado (NETTO, 1995-96, p. 72).
Por outro lado, considerando a seguinte afirmação de Da Matta
consegue-se, pois numa sociedade onde todos são da mesma espécie, pois
todos são homens, criar uma diferenciação social que permitirá a união de
todos num plano muito mais profundo, junção da sociedade com natureza,
do homem com o animal, tudo isso numa leitura totalizante do universo (DA
MATTA, 1987, p. 134).
A mobilidade no espaço assim como “diferentes conteúdos metafóricos” podem
estar implícitos entre as gravuras, posto que, em um nível mais amplo podem ser
compreendidas como “um sinal em que se reconhece a possibilidade de comunicar
algo, para uma determinada audiência” e sendo assim, “as representações rupestres
seriam compostas por signos, já que os sinais observados nestes painéis estariam
imbuídos de um significado, mesmo que permaneça obscuro” (NETTO, 1997, p. 72).
De acordo com Monzon,
118
no caso dos caçadores - coletores dos quais as origens remontam a épocas
antigas, é difícil estabelecer comparações com populações atuais.
Entretanto, em certas regiões privilegiadas onde esse tipo de vida existiu até
épocas recentes, como na Patagônia, há possibilidade de sobrevivência.
Assim, G. Musters, viajante inglês que visitou a Patagônia no século XIX,
nos anos sessenta, conta que os Tehuelches meridionais imprimem suas
mãos em tintas vermelhas sobre a pele de um jumento branco. Trata-se de
um rito para obter proteção contra doenças. Não se pode usar essa
explicação para interpretar as impressões das mãos da arte rupestre, pois
os tempos que separam os Teuelches dos primeiros ocupantes da região é
extremamente longo, mas ela dá idéia do papel que estas imagens teriam
nessas sociedades (MONZON, 1987, p. 23-24)
37
.
Em ultima análise ao se tratar de arte
38
,
quando se aplica à pré-história, encontra na beleza de uma multidão de
representações e de composições rupestres e mobiliares uma plena
justificação. O julgamento estético interessa tanto estatueta da Idade do
Bronze quanto uma estatueta em marfim gravettiana ou uma escultura
grega. Entretanto, as obras da pré-história são imersas na vida e na
natureza. São investidas de uma significação ativa que exprime as relações
dos homens entre si e com a natureza. Essa significação lhes confere um
poder que se manifesta de mil maneira, aqui os feiticeiros, lá a imagem
feminina, o bisão ou a serpente cornuda, e o seu criador, o homem que
sabe. É ele que conquista o mundo, a América, a Austrália, as ilhas, as altas
montanhas. É ele que povoa seu universo de representações capazes de
desafiar o tempo porque lhe é dada a resistência da pedra e do osso. Preso
entre o pólo de sua unidade criadora, antropológica, e o pólo de sua
diversidade provocada pela diáspora universal dos homens e das culturas, a
37
No original: “Dans le cas des chasseurs – collecteurs dont les origines remontent à des époques
reculées, il est difficile d’établir des comparaisons avec des populations actuelles. Néanmoins, dans
certaines régions privilégiées, oú ce type de vie a survécu jusqu’à des époque récentes, comme la
Patagonie, il y a des possibilités de survivances. Ainsi G. Musters, voyageur anglais Qui visita la
Patagonie au XIX si`cle, dans les années soixante, raconte que les Tehuelches méridionaux
imprimaient leurs mains teintes en rouge sur la peau d’une jument blanche. Il’s agissait d’un rite
pour obtenir la guérison d’un malade. On ne peut pas se servir de cette explications pour interpréter
les empreintes de mains de l’art rupestre, car le temps Qui sépare les Tehuelches des premiers
occupants de la région est extrêmement long, mais elle donne un aperçu du rôle que ces images
ont pu jouer dans ces sociétes” (MONZON, 1987, p. 23-24).
38
No original: La concepção d’art quand il s’aplplique à la préhistoire, trouve dans la bauté d’une
multide de representations et de compositions rupestres et mobilières une pleine justification. Lê
jugement esthétique interesse autant une figurine de l’Age du bronze qu’une statuette em ivoiredu
Gravettien ou une sculture grecque. Cependant, les oeuvres de la préhistoire sont d’abord, et
totalment, immergées dans l avie et dans la nature. Elles sont investies d’une signification active qui
exprime les relations des hommes entre eux et avec la nature. Cette signification leur confere um
pouvoirque se manifeste de Mille façons, ici les chamanes, là limage féminine, lê bisonou lê serpent
à tête cornue, et qui est bien celui de son createur, l’homme savant. C’est lui qui achéve de
conquérir lê monde. l’Amèrique, l’Australie, les iles, les hautesmontagnes. C’est lui qui peuple son
univers de représentations capables de défier lê temps parce qu’il leur a donné la résistance des
pierres et des ossements. Pris entre le póle de son unité créatrice, antropologique, et le de as
diversité provoquée par la diáspora universelle des hommes et des cultures, l’art préhistorique
déploire sans fin lê cortège ilimité de sés representations peintes, gravées et sculptées dans lê
foisomnnement de la vie (VIALOU, 1993, p. 93).
119
arte pré-histórica dispõe sem fim o cortejo ilimitado de suas representações
pintadas, gravadas e esculpidas na profusão da vida (VIALOU, 2003, p. 93).
Interpretar é tarefa difícil, e talvez, impossível, mas a quantidade de exemplos
múltiplos de suas expressões, de usos e trocas são ilimitadas entre as culturas e
seus materiais. Suas manifestações afetam e são afetadas ao mesmo tempo em que
são pensadas e postas à realizada material. Os ritos e os mitos estão empregados
da ilimitada imaginação humana mas a materialidade destes quando postos em
paredões por exemplo podem ser repetitivas, só que com significações
diferenciadas. Pensar assim é dar possibilidade a consciência da ‘imagem’ que o
próprio homem criou e que lhe é singular aos demais seres da natureza.
120
6 PROGRAMA DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO, CONSERVAÇÃO E VALORIZAÇÃO
DAS REPRESENTAÇÕES RUPESTRES
6.1 Patrimônio Arqueológico: Educação e Conservação
A educação e conservação dos bens arqueológicos são enfatizados neste
tópico bem como a valorização da arte rupestre encontrada neste Estado.
As propostas apresentadas tem por base o projeto de pesquisa que encontra-
se em andamento na Universidade da região da Campanha – Campus Universitário
de Alegrete no Núcleo de Ensino e Pesquisas Arqueológicas (NEPA) intitulado
“Ateliê de Arqueologia” para o Ensino Fundamental, no Instituto Estadual de
Educação Oswaldo Aranha – IEEOA, nos programas de preservação e conservação
de sítios arqueológicos com arte rupestre, que se desenvolvem em países sul
americanos mais especificamente na Argentina e Brasil, nas publicações
“Administracion y Conservacion de sitios con Arte Rupestre – Contribuciones al
estudio del Arte Rupestre”, n° 4 Sudamericano – Sociedade de Invetigacíon del Arte
Rupestre de Bolívia – INFRAO, 1995 e “Arte Rupestre Argentino su documentación y
preservación – Instituto Nacional de Antropología y Pensamiento Latinoamericano”,
Buenos Aires, 1997.
Nossas idéias também basearam-se nas conferências apresentadas no
Simpósio sobre Política Nacional do Meio Ambiente e Patrimônio Cultural –
Repercussões dos Dez Anos da resolução CONAMA n° 001/86 sobre a Pesquisa e
121
a Gestão dos recursos Culturais no Brasil que realizou-se em 9 e 12 de dezembro de
1996.
Não pretendemos esgotar o assunto mas introduzi-lo como mais um elemento
essencial nas propostas de estudo sobre a Arqueologia, uma vez que, estas
propostas não são inseridas na maioria dos trabalhos, como por exemplo, sobre a
arte rupestre.
6.2 Valorização das Representações Rupestres: por Uma Pedagogia Alternativa
A percepção social sobre a importância dos projetos da ciência arqueológica,
assim como o trabalho do arqueólogo e a valorização dos bens arqueológicos,
surgem ou ressurgem num primeiro momento nos meios acadêmicos e se
disseminam posteriormente entre outros segmentos sociais.
Nesse momento, os projetos arqueológicos devem nas palavras de Shanks e
Thilley
enganjar-se no presente pela consideração do passado. A arqueologia
devia ser concebida como um catalisador das transformações do presente,
pois sem enganjamento de alguém em sua própria historicidade, a disciplina
torna-se pouco mais do que uma fuga de nosso tempo e de nosso espaço
(SHANKS e THILLEY, 1988, p. 208)
39
É necessário também considerar que,
em todo trabalho que envolve o diagnóstico, avaliação e o resgate de
Patrimônios Culturais, é importante considerar, que, eles necessariamente
correspondem a todas as ‘manifestações presentes do passado humano’,
compreendendo tanto as formas materiais (pré-históricas e históricas),
quanto as ditas imateriais, normalmente relacionadas aos modos
tradicionais de vida e expressão as culturas (ATAÍDES, 1996, p. 148).
39
No original: “archaelogy must embrace a commitment to the present through a considerations of the
present’s past. Archaelogy should be conceived as acting as catalyst in the transformation of the
present, for without commitment to one’s own historicity, the discipline becomes little more than an
escape form our own time and place” (SHANKS e THILLEY, 1987, p. 208).
122
Num nível mais amplo, as reflexões voltadas para ações educativas como
para a produção e uso do conhecimento arqueológico deve, conforme Kern (1985, p.
6) “formar recursos humanos para a solução de problemas futuros. Esta formação de
elementos humanos capazes, deve ser realizada dentro de uma ótica humanística e
não meramente tecnocrática e ideológica restrita”.
Por outro lado, é evidente que, o uso que uma pessoa faz de suas
capacidades depende de suas motivações, isto é, a percepção de eventos,
formulação de juízos, resolução de problemas, desejos, carências, ambições, ódios
e medos é algo interno que dá início, dirige e integra o comportamento humano
(CORNIK e SAVOIA, 1989, p. 19) e nos acrescentaríamos também a uma dada
contingência social.
De acordo com Lowe (1982) citado por Shanks e Thiley (1988, p. 95) “a
história da percepção ou a maneira como as pessoas vêem o mundo é uma ligação
entre o conteúdo do pensamento e a estrutura da sociedade”
40
.
A partir do que foi exposto anteriormente podemos inferir duas questões: Que
comprometimento tem o profissional de arqueologia com a sociedade? O que estaria
implícito sobre a questão do porquê preservar, valorizar e proteger os bens
arqueológicos?
Para apresentar a primeira resposta, devemos primeiramente chamar atenção
para a grande importância do papel social que os arqueólogos exercem no decorrer
de sua profissão. Este papel está explícito entre os vários setores de uma
sociedade, da qual fazem parte, dentre eles podemos apontar para a educação tanto
para o público infantil como para o adulto.
O desafio de uma educação para e sobre o patrimônio, segundo Horta
é o de fazer com que pessoas – adultos e crianças – despertem para a
consciência de que por trás desses espelhos estamos nós mesmos, e de
que vale a pena nos reconhecermos nestes espelhos. E ainda, de que este
reconhecimento no passado e no tempo, tem conseqüências na nossa vida
40
No original: “Very broadly, a history of perception or the manner in which people regard the world
provides one link between the content of thought and the structuring of society” (LOWE, 1982 apud
SHANKS e THILEY, 1988, p. 95).
123
presente, e é importante para a nossa sobrevivência em algum lugar do
futuro (HORTA, 1992, p. 72).
Junto com o arqueólogo está algo de imanente sobre a sociedade na qual
atuam, como um ‘poder simbólico
41
’, “um fazer ver e fazer crer, de confirmar ou de
transformar a visão do mundo (...)” (BOURDIEU, 1989, p. 14).
De outra forma, conforme Shanks e Thiley deve-se ter presente que
a cultura material não é para ser vista como um produto da intencionalidade
individual mas como uma produção da construção social intersubjetivada da
realidade. Indivíduos estão estruturados em termos do social e,
concomitantemente, a cultura material é social, em vez de individualmente
estruturada (SHANKS e THILEY, 1988, p. 97-98)
42
.
A esse aspecto, também interliga-se outras questões relacionadas as
informações das pesquisas e ao ensino de Pré-História e de Arqueologia, em nosso
país, por exemplo, que muitas vezes ficam restritos a museus e centros de
pesquisas, como também deixam a desejar quando divulgados para
alunos/professores e para o público em geral (LEITE, 1995, p. 581).
Em uma proposta de ação educativa sobre o conhecimento arqueológico
deveria ser prioridade um ensino com ênfase
[...] na construção de um significado humano onde este, não é uma
experiência privada mas um produto de sistemas compartilhados de
significação, e o significado que um indivíduo é capaz de articular em
relação com o mundo, é dependente da construção desse mundo, através
da linguagem e da cultura material (SHANKS e THILEY, 1988, p. 98)
43
.
Sendo assim, passamos para a segunda resposta que é somente através
desta educação e reconhecimento é que podemos reforçar o conceito de Identidade
41
Conforme Bourdieu (1989, p. 14) “O poder simbólico. Poder subordinado é uma forma trasformada,
quer, dizer, irreconhecível, transfigurada e legitimada, das outras formas de poder: só se pode passar
42
No original: “Material culture is in no sense to be regarded as a product of unmediated individual
intentionality but as a production of the intersubjective social construction of reality. Individuals are
structured in terms of the social and, concomitantly, material culture is socially rather than individually
structured.” (SHANKS e TILLEY, 1988, p. 97-98).
43
No original: “[...] on the constructedness of human meaning and that meaning is not a private
experience but a product of shared systems of signication. [...] The meaning na individual is able to
articulate in relation to the word is dependent on the construction of that word through language and
material culture.” (SHANKS e THILEY, 1988, p. 98).
124
Nacional e assim explicar o “pôr que”- preservar e valorizar nossa memória -
patrimônio cultural (HORTA, 1992, p. 60).
A implantação da temática arqueológica e pré-histórica, no ensino do primeiro
grau, por exemplo, pode ser uma primeira via de acesso ao público maior, como
também contribuiria para um melhor conhecimento sobre o povoamento da América
e, por conseguinte do Brasil e assim como também uma percepção maior através
dos recursos da observação e da experimentação que algumas teorias
arqueológicas abordam.
Sem dúvida que esta implantação tem de iniciar nos meios acadêmicos que
segundo Zorteá (1995, p. 530) “as formas de acesso que a população dispõe para
chegar até o conhecimento gerado na Universidade devem pois, ser discutidos pelos
produtores desse conhecimento, ou seja, os acadêmicos.”
Entendemos que a arqueologia é uma ciência interdisciplinar pois,
conforme Zorteá no trabalho de campo da arqueologia
[...] usamos conhecimentos básicos da matemática, observamos certas
reações físico-químicas na paisagem, e buscamos informações a respeito
das fontes de abastecimento, entre outros, através do conhecimento da
flora e fauna. Também levantamos dados sobre a constituição dos solos, e
as características das formações rochosas que possam ser fontes de
matéria-prima utilizáveis pelos homens (ZORTEÁ, 1995, p. 531).
Por outro lado de acordo com a autora,
a arqueologia consegue dar um sentido integrado esses recursos, ou seja,
através da perspectiva do homem, a arqueologia interpreta os dados
observáveis, e interage conhecimentos, aparentemente, tão
compartimentalizados como a química, matemática e a história (ZORTEÁ,
1995, p. 532).
Esta ‘descoberta’ do fazer e pensar arqueologia foi, é e será sempre um dos
maiores projetos do pensamento humano. E, cabe à profissionais da arqueologia
mudar a realidade do quadro a seguir:
125
os currículos em vigor em nossas escolas representam pontos de vista de
grupos específicos que estão no poder, e que, por algum tempo,
determinam o que os professores devem ensinar a seus alunos. Mas entre
a forma pensada e a forma de ação existe, muitas vezes, um verdadeiro
abismo: é que o que se espera que os alunos aprendam nem sempre é o
que eles realmente necessitam ou desejam, até porque sua própria cultura
não é levada em consideração nos currículos oficiais (LEITE, 1994, p.
583).
Neste processo educativo e interdisciplinar apresentamos uma alternativa
inicial, para uma conscientização a curto prazo sobre a importância da valorização
dos bens arqueológicos dentre eles as gravuras rupestres remanescentes das
populações pré-cerâmicas, em nosso Estado, seria a criação, num primeiro
momento, de um documento de divulgação sobre a arte rupestre (panfleto) para ser
distribuído em escolas municipais e privadas, principalmente nos municípios onde
foram encontrados estas evidências.
No panfleto poderiam ser colocados além de algumas ilustrações e as
seguintes questões seguidas das explicações:
O que é a Arte Rupestre?
A arte rupestre (pedra, em latim) é constituída de imagens (ou
representações) materializadas sobre suportes rochosos imóveis: seja de
paredes de grês ou calcária, de abrigos sob rocha e entradas de grutas,
seja de rochedos ao ar livre, seja de solo endurecido. A arte rupestre é
fundamentalmente uma arte de luz, direta ao ar livre ou em abrigos mais ou
menos sombreados. Diferencia-se da arte das grutas, mergulhada na
obscuridade total, cuja manifestação mais ampla pré-histórica é aquela da
arte parietal (parede, em latim) paleolítica da Europa ocidental
44
. (VIALOU,
2000, p. 382).
44
No original: “L’art rupestre (du latin signifiant rocher) est cosntitué d’images (ou représentations)
matérialisées sur des supports rocheux inamovibles:soit de parois, le plus souvent gréseuse ou
calcarires, d’abris-sous-roche et de porches ou d’entrées de grottes, soit de rochers à l’air libre, soit
de sois indúres. L’art rupestre est fodamentalement uma de lumière, directe em plein air ou em abri
plus ou moins ombragé. Il se differencie em cela de l’art des grottes, plongé dans une obscurité
totale, dont la plus ample manifestation préhistorique est celle de l’art parietal (du mont latin
signifiant paroi) paléolithique de l’Europe occidentales.
126
Como são realizadas?
São feitas para durarem através de várias técnicas como as gravuras que são
elaboradas a partir do picoteamento ou raspagem sobre um suporte rochoso. A
ainda a técnica da pintura em tons variados.
Onde são encontradas as “Artes Rupestres”?
Estas expressões pré-históricas são encontradas no mundo inteiro. São
reconhecidas que a mais de trinta mil anos elas já existiam na Europa. No Brasil as
datações variam muito de lugar para outro.
Quando se realizaram?
As datações são muito variadas de região para ou região ou de um continente
para outro. Na Europa são estimadas em 30.000 no paleolítico superior aqui no
Brasil mais especificamente no Rio Grande do Sul estas manifestação parecem
terem iniciado a 5.000 anos A.P.
Quem fez a arte rupestre?
Todas as sociedades humanas desenvolvem ‘formas simbólicas’ para
representar seus rituais, seus símbolos a suas imagens sobre a sua sociedade e
natureza.
Qual a importância da Arte Rupestres?
A justificativa para o ensino que queremos ou devemos oportunizar sobre a
pré-história e a arqueologia enfatizando a preservação e valorização da arte
127
rupestre, prende-se à afirmação de B. F Skiner citado por Horta (1991, p. 61) de que
“a educação é aquilo que resta, quando tudo aquilo que foi aprendido é esquecido”
ou ainda em outras palavras “patrimônio cultural de um povo é tudo aquilo que lhe
restará, quando tudo aquilo que foi construído se desmanchar no ar!” (HORTA,
1991, p. 72).
Atualmente temos o incentivo do Ministério da Cultura para os projetos
culturais na área do patrimônio arqueológico através da Lei de Incentivo à cultura.
Os recursos para aquisição de equipamentos, palestras, cursos, bibliotecas,
pesquisas, entre outros podem ser captados, cabe-nos ativar esse apoio.
Mas, é também complexo e problemático abordar em um projeto discussões
sobre a capacitação de pessoas, agentes de preservação, orientadores universitários,
assim como também a infraestrutura dos sítios arqueológicos, informações sobre
estes e as pesquisas científicas, pois requerem por um lado recursos financeiros e por
outro lado uma organização oficial (PESSIS, 1995, p. 82-85).
Contudo, compreendemos que para estes empreendimentos educativos e
para que as discussões continuem a se desenvolver precisamos realizar em curto
espaço de tempo uma ação concreta de preservação.
Como referência temos o trabalho que se desenvolve no Parque Nacional da
Serra da Capivara no Piauí (PESSIS, 1995, p. 82-88). Este parque é dividido em
cinco zonas:
“Zona Primitiva”: é uma região que foi pouco afetada pela atividade do
homem. É fechada ao turismo e somente são permitidas investigações em
sítios arqueológicos.
“Zona de recuperação”: é uma zona muito afetada pela atividade humana
e por isso requer uma medida de recuperação.
“Zona de uso intensivo”: é um zona em parte alterada pelo homem e em
outra pouco afetada. Existe nela formações naturais única e recursos e
possibilidades para a promoção turística. Nos caminhos existentes são
instalados centros para receber os visitantes e onde são realizadas
atividades educativas.
128
“Zona de uso extensivo”: nesta zona existe uma mostra de paisagens,
formações geológicas, flora e fauna típica da área.
“Zona de uso especial”: é onde se desenvolvem as oficinas da
administração, da manutenção e dos demais serviços do parque.
Numa escala mais ampla, este mapeamento poderia ser determinado por
especialistas na área de arqueologia no Estado, onde são evidenciados os sítios
com arte rupestre, por exemplo, e com medidas diferentes para cada um dos sítios,
pois, “no se pueden medidas generales, ya que cada sitio es um caso específico que
debe ser analizado en particular” (BOLLE, 1995, p. 94).
Ainda conforme Bolle et al. (1995, p. 94) “no programa de conservação se
pude delinear dividiéndolo en cuatro fases; 1. Documentación, 2. Estudios relevantes
e internciones indirectas, 3. Manejo del sítio, y 4. Intevenciones directas sobre las
pinturas”.
Sobre o problema referente a preservação e a conservação do Patrimônio
Cultural partimos do pressuposto de que é impossível proteger aquilo que se
desconhece. As ações educativas, precisam voltar a atenção para o reconhecimento
e esclarecimento de como as populações pré-históricas deixaram sua herança
marcada no território do Rio Grande do Sul, sem no entanto, considerar que o
trabalho do arqueólogo como terapêutico ou de detive, e ainda que essas mesmas
evidências informam-nos que, são formas de comunicação, um tipo de escrita,
diferente da escrita de hoje (SHNAKS e THILEY, 1988).
E para concluir, é somente através de uma educação conscientizadora, e
portanto libertadora, que podemos ver a situação revertida, pois como insiste o Prof.
Mendonça de Souza citado por Lotufo (1994, p. 38)
enquanto a preservação do patrimônio cultural no Brasil, for tratada como
um caso de polícia, as ações estarão voltadas para remediar, jamais para
prevenir, pois a aplicação de multas e/ou prisão de infratores, não resgatam
o bem cultural destruído (MENDONÇA DE SOUZA apud LOTUFO, 1994, p.
38).
129
6.3 Apreendendo uma Memória Social: Projeto Piloto em Escolas - Aplicação
no Ensino Fundamental das Séries Iniciais
Este projeto faz parte de uma proposta mais abrangente que visa
primeiramente atender as séries iniciais do primeiro grau, para posteriormente,
incluir as demais séries do 1
0
e do 2
0
Graus.
Este trabalho foi pensado a partir de inúmeros problemas relacionados as
pesquisas e ao ensino de Pré-História e de Arqueologia, que muitas vezes ficam
restritos a museus e centros de pesquisas, como também deixam a desejar quando
divulgados para alunos/professores e para o público em geral.
Nossa proposta educativa tem por prioridade enfatizar o ensino qualitativo e
destacar a importância da informação do conhecimento histórico/cultural através da
temática pré-histórica brasileira recuperada pêlos dados arqueológicos e demais
ciências, a fim de colocar a disposição da comunidade, a produção científica, acerca
de novos espaços e de novos tempos que são descobertos.
É através desta educação e reconhecimento que podemos reforçar o conceito
de Identidade Nacional e assim explicar o “pôr que” - preservar e valorizar nossa
memória - patrimônio cultural.
A implantação da temática arqueológica e pré-histórica, no ensino do primeiro
grau, através de recursos expositivos, da observação e da experimentação, reflexiva
e interativa oportuniza um melhor conhecimento sobre o povoamento do Brasil,
considerado dentro da América e do Mundo: quando, pôr quem, como, em
que condições ambientais e culturais, como se criou a diversidade étnica,
lingüística, cultural aqui encontrada pêlos conquistadores europeus. Este
desenvolvimento, enquanto processos e etapas, é igual ao resto do mundo,
apenas com diferenças regionais e continentais, que deram a estas
populações e culturas a sua identidade, o que as torna diferentes das
populações e culturas do resto do mundo (SCHMITZ, 1994, p. 23).
O Atelier de Arqueologia é um subprojeto piloto que está sendo
desenvolvido, no Núcleo de Ensino e Pesquisas Arqueológicas, para abranger
130
atividades curriculares que incluam trabalhos específicos e adaptados a realidade
dos alunos como também a participação da comunidade em geral.
Os trabalhos do atelier objetivam auxiliar os professores nas atividades
escolares, fornecer informações precisas e reais e contribuir para o resgate da
cidadania.
O desenvolvimento das populações, os ambientes em que viveram, os
contatos com outros povos, migrações, modo de vida, habitações e alimentação,
podem ser “lembradas”, reconstituídas e estudadas através de exposições e
trabalhos cênicos
45
.
O resgate dos fatos históricos pela arqueologia, pode ser descrita, através da
simulação de uma escavação arqueológica, em uma área preparada
46
.
Os costumes e os mitos de alguns grupos indígenas que ainda sobrevivem,
assim como também os costumes, os gestos e o folclore trazidos pêlos imigrantes
europeus, tornam-se através das danças e cantos originais, fontes ricas de
informações culturais.
Os antigos métodos indígenas de coleta de alimentos, as confecções de
diferentes artefatos em pedra, ossos e madeira para a caça ou para ornamentos, a
diversidade de vasilhames em barro, assim como também a utilização destes
objetos, podem ser desenvolvidos e reconhecidos através de jogos didáticos e da
arqueologia experimental.
Cabe destacar que, dentro desta perspectiva de ensino, é muito importante
mostrar, o que enfatiza Schmitz (1994, p. 24) “como as diferentes culturas
47
que os
arqueólogos apresentam, podem ser ligadas aos indígenas históricos, encontrados
pêlos colonizadores, muitos dos quais sobrevivem até hoje, buscando criar uma
45
Através desta atividade buscamos incentivar o senso crítico, a interpretação e a expressão do aluno.
46
Para a realização desta experiência as crianças são preparadas para a atividade através de: recursos
audio-visuais, organização em grupos e divisões de tarefas, para a coleta do material, anotações,
desenhos, etc. (Nota Pessoal).
47
Os pesquisadores costumam dividir em etapas ou momentos os grupos indígenas, por exemplo: o
paleo-índio (índio do paleolítico ou do pleistoceno), que viveram num período mais frio, anterior aos
caçadores coletores do holoceno á 10.000 anos atrás e posteriormente os agricultores, que ao redor
do tempo de Cristo, vão substituir os caçadores e coletores.
131
história contínua destas populações”, através de todos os elementos que fizeram
parte do cotidiano, afim de encontrar “nas suas origens condições para o
entendimento dos tempos históricos” (SCHMITZ, 1994, p. 24) e proveito para o
tempo presente.
Durante o desenvolvimento dos trabalhos será tratado o assunto sobre as
questões relacionadas a educação patrimonial - preservação, conservação e
valorização e que implicações tem para o viver social e para o viver individual.
A realização deste projeto é de fundamental importância, pois além de tornar
o ensino interessante, estimulando o desenvolvimento cognitivo na criança, referente
a razão, à inteligência e à memória, relacionando a teoria (aspecto abstrato) com a
prática através de recursos concretos, envolve o público adulto, como os
professores, pais e a comunidade em geral.
Este ensino pedagógico é reforçado pelo fato de que dispomos em nosso
município um enorme acervo de sítios arqueológicos, onde alguns já encontram-se
em processo de destruição. Faz-se importante que se supra a lacuna deixada pela
ausência de informação através da educação, para que se estreitem os laços de
identificação com os elementos da própria cultura local, e a valorização destes pôr
conseguinte.
Conforme salienta Bruno
o estudo sobre os vestígios das sociedades ao longo do tempo e em
relação a espaços diversos, no que diz respeito ao conhecimento do
período pré-histórico, tem sido responsável pôr uma nova dimensão da
História, tendo também contribuído de forma considerável para a alteração
da concepção filosófica e biológica da humanidade (BRUNO, 1994, p. 8).
Em vários Estados do Brasil como Belo Horizonte, São Paulo, Bahia, entre
outros, desenvolvem-se múltiplas propostas e experiências sobre o que e como
ensinar a Pré-História e a Arqueologia.
Este empreendimento no Rio Grande do Sul e mais especificamente no nosso
município é pioneiro. Esta construção tem também pôr finalidade abrir o debate
sobre a reavaliação de uma nova perspectiva metodológica e historiográfica sobre o
132
currículo. Muitos manuais didáticos, conforme a avaliação de Vasconcellos (1994)
apresentam distorções, assim como também muitos currículos de História, o que nas
palavras de Siqueira
é considerado extremamente positivista, eurocentrista, e presos muitas
vezes a uma história fatual e preconceituosa. O ensino sobre a história do
Brasil nos livros privilegiam os feitos ocidentais, centrando-se a partir da
‘descoberta’ e nos valores dos colonizadores e portanto ignoram as culturas
que aqui existiram, passando um conhecimento estático-de valor questional
- conhecida como matéria ‘decoreba’ (SIQUEIRA, 1994, p. 25).
Estes problemas de defasagens e distorções acarretam para o total
desconhecimento dos elementos que compuseram o espaço brasileiro antes da
chegada do colonizador, como também estimula ao desrespeito á qualquer bem que
se queira preservar.
É somente através de uma educação conscientizadora, e portanto libertadora,
que podemos ver a situação revertida, pois como insiste o Prof. Mendonça de Souza
enquanto a preservação do patrimônio cultural no Brasil, for tratada como
um caso de polícia, as ações estarão voltadas para remediar, jamais para
prevenir, pois a aplicação de multas e/ou prisão de infratores, não resgatam
o bem cultural destruído (MENDONÇA DE SOUZA in LOTUFO, 1994, p.
38).
Este projeto fundamenta-se em alguns trabalhos como Vasconcellos (1994:
14-20); em experiências de ensino segundo Siqueira (1994: 25-26); Afonso (1994:
27-31); Souza (1994: 46-54); Prous (1994: 54-59); Morley & Rosseto (1994: 60-64),
em pesquisas arqueológicas regionais: Dias (1994: 171p); Milder (1994:87p);
Hoeltz (1995: 202p), no manual didático: Guarinello (1994: 47p), no parecer
informativo da 12
0
IPHAN - sobre a situação do Patrimônio Arqueológico do Rio
Grande do Sul e em vários livros científicos sobre a arqueologia.
Podemos começar pela seguinte indagação: Para que servem os conteúdos
arqueológicos? Responde Schmitz,
Não apenas como simples curiosidade. Mas para mulheres e homens de
hoje se sentirem parte da longa história humana; sentirem o modo de vida
133
(atual e dito moderno) como parte da diversidade do comportamento
humano; e sua luta atual dentro da busca da espécie humana pôr mais
recursos, mais justiça e melhor qualidade de vida. Os sítios arqueológicos,
que guardam a memória das gerações passadas, podem passar, então, a
receber o necessário respeito para a sua preservação e utilização
SCHMITZ, 1994, p. 21).
Servem também
para todos os cidadãos e cidadãs. De forma diferente de acordo com o
sexo, a posição social, a região em que vivem, as lutas concretas em que se
engajam. Por isso podemos pensar conteúdos para todos os níveis de
ensino. Mas trabalhados de forma diferente, p. ex. para o morador da
grande cidade litorânea que só viu material arqueológico em museu, se é
que viu, ou num sambaqui; e de maneira diferente para o ambiente do
interior, que se encontra com os índios e vive em cima, ou ao lado de um
sítio arqueológico, ou é mestiço manifesto de europeus e indígenas
(SCHMITZ, 1994, p. 22).
É dentro destas duas perspectivas citadas sobre os conteúdos arqueológicos,
que procuraremos aprofundar novos conhecimentos na área da arqueologia,
etnologia, museologia, história e sobre a cultura material através da
instrumentalização e da prática pedagógica.
Outra questão relevante á ser compreendida é referente à distinção da área
de conhecimento da pré-história que trata do processo de hominização, das rotas
migratórias, dos grupos caçadores coletores, caçadores recoletores, caçadores
pescadores, horticultores e a área de trabalho de arqueólogo — através de suas
pesquisas de campo e de laboratório.
Para o desenvolvimento dos conteúdos nos basearemos em várias
abordagens educativas para ensinar a arqueologia e a pré-história: sobre o
processo de alfabetização em Santos & Simão (1987: 176p); no livro sobre
Didática Especial de Piletti (1988, p. 195-261); nas sugestões de atividades sobre
Estudos Sociais da Coleção Quero Aprender de Souza (1996: 184p); nas
sugestões de atividades sobre Ciências da coleção Quero Aprender de Barros
(1995: 190p) em jogos dirigidos e recreativos de Fritzen (1985: 112p); no
programa desenvolvido em módulos bimestrais para alunos de 1
o
à 4
o
série do
primeiro grau pôr Lotufo (1994, p. 38-53) e nas propostas de Schmitz (1994, p. 21-
24) que divide em conteúdo geral, temas específicos e temas regionais; de
134
Beltrão et al. (1994, p. 70-73) que sugere metodologias distintas a serem
aplicadas a alunos de 1
o
à 4
o
série.
Destacamos a seguir, etapas de ensino
48
, dividas em módulos temáticos
(LOTUFO, 1994), com ênfase em textos, no auxílio de mapas (GUIZZO, 1995);
(ANTUNES, 1994), de desenhos ilustrativos, fotos, slides, filmes, saídas á campo e
material audio-visual (da coleção Aventura Visual da Ed. Globo) os conteúdos
programáticos, para a informação e a educação da arqueologia e da pré-história:
48
A orientação apresentada por Claudino Piletti (1988, p. 200-201), sobre as etapas de ensino de
Estudos Sociais, objetiva “desenvolver na criança a percepção de seu espaço familiar e escolar.
Através da observação e de um processo de localização, partindo da própria criança, pode-se
chegar à discriminação de elementos naturais e culturais aí existentes [...] a principal tarefa é
ajudar a criança a se perceber como um ser social, integrante de uma pequena comunidade”. O
autor propõe “a dilatação da noção de espaço, partindo da escola, da família e do bairro, para
encaminhar-se para a percepção do núcleo urbano. Este espaço deverá ser cuidadosamente
tratado como uma unidade social na integração homem-natureza e homem-homem”. O ensino de
Ciências visa ao “desenvolvimento do pensamento lógico e a vivência do método científico” e
através desta perspectiva destacamos em dois tópicos alguns objetivos específicos (PILETTI,
1988, p. 266-268).
1. Habilidades da utilização de método científico:
- Pesquisa objetiva como condição de validade das explicações dos fenômenos.
- Emprego do método científico: coleta de dados, formulação e verificação de hipóteses,
conclusão e aplicação.
- Observação, análise, classificação, medição, crítica, generalização, necessárias para efetivar o
processo de pesquisa científica.
- Identificação e resolução de problemas.
- Buscar informações fidedignas em publicações.
- Avaliar de informações.
- Aquisição de habilidades técnico-manuais indispensáveis ao desenvolvimento nos campos
científicos e tecnológicos.
- Domínio de teorias científicas
- Tomar de decisões, baseando-se em dados.
- Encontrar soluções novas para os problemas que se apresentam.
2. Desenvolvimento de Atitudes e de Valores
:
- Substituição de preconceitos, superstições e crendices por explicações objetivas de
fundamentações científicas.
- Respeito ao trabalho dos cientistas e valorização da sua contribuição para o bem-estar comum.
- Evitar generalizações sem dados científicos suficientes.
- Apresentar de opiniões e submetê-las a críticas.
- Trabalhar em equipe.
- Responsabilidade na realização das tarefas.
- Favorecer a conservação dos recursos naturais.
- Reconhecimento das limitações da ciência.
Estes critérios referem-se que na medida em que partimos de situações concretas
(estimulantes ao pensamento operacional concreto) e familiares ao educando, podemos ampliar o
espaço perceptivo na criança através de noções gerais e abstratas como por exemplo a formação
do nosso planeta, um ponto de início, o que facilita ao professor de arqueologia e pré-historiador
trabalhar, posteriormente, com conceitos ainda mais abstratos como cultura, descrição e
classificação de elementos da natureza e processos históricos na sua totalidade. O tema relaciona-
se com outras áreas de História, geografia e Ciências em geral.
135
Para a 1º
série:
Módulo I: O Homem na Terra
49
1. O Homem, as plantas e os animais * (Nota Pessoal)
2. Surgimento e evolução do Homem
3. Estágios paleolítico e Neolítico;
4. As civilizações do Velho Mundo.
Módulo III: Arqueologia enquanto ciência
50
1. Conceituação;
2. Histórico;
3. Os domínios da Arqueologia
4. Os materiais arqueológicos * (Nota Pessoal)
Módulo IV. Arqueologia no Brasil
1. Histórico: Os Percursores;
2. As Instituições de Pesquisa;
3. O mercado de Trabalho.
Para a 2
o
série: (na seqüência)
Módulo V: Teorias sobre o povoamento pré-histórico do continente americano
e seus primeiros estágios culturais
49
Para demonstrar esta caminhada devemos nos apropriar de formas comparativas que façam parte do
mundo infantil (op. cit., 1994, p. 71).
50
Será demonstrada através de “brincadeiras com materiais líticos, ósseos, macológicos, madeiras - a
infinidade de artefatos que o homem criou” (op. cit., 1994, p. 71), sítios oficina, exposições ou
complementadas por trabalhos cênicos.
136
Módulo VII: Teorias sobre o povoamento pré-histórico do Brasil e seus
primeiros estágios culturais
1. As teorias conhecidas e seu valor conhecido;
2. As principais tradições culturais do território brasileiro;
3. O indígena brasileiro, hoje.
Módulo VIII: Preservação do Patrimônio Cultural
1. Conceitos Fundamentais
2. O Patrimônio Cultural brasileiro na Memória Nacional: a necessidade de
sua preservação.
Para a 3
o
série:
Os módulos anteriormente apresentados, que foram desenvolvidos pôr
Lotufo, podem ser retomado novamente, utilizando-se de novos recursos e/ou
colocações mais elaboradas, permitindo assim uma maior exploração do assunto.
Para a 4
o
série:
Os módulos podem também serem retomados numa nova perspectiva, mas
destacando ainda mais a questão da necessidade de preservação e valorização.
Para as séries seguintes, de acordo com a metodologia apresentada pôr
Beltrão, temos em vista apresentar o papel da arqueologia histórica e os métodos
utilizados para o resgate do passado. Segundo a mesma autora, será a partir de
então que o aluno começará a conhecer e a familiar-se com a História do Brasil.
137
PROPOSTAS DE ATIVIDADES EDUCATIVAS E RECURSOS DIDÁTICOS:
Aulas expositivas;
Trabalhos cênicos;
Exposições audiovisuais como: fotografias, slides, retroprojetor e filmes;
Exposições Etnográficas e Etnológica;
Sítio Oficina: montagem de sítios arqueológicos pré-históricos e históricos para
os alunos;
Trabalhos de expressão corporal através de danças e cantos indígenas;
Jogos didáticos;
Arqueologia Experimental: confecção de artefatos em barro, pedra, osso,
madeira, couro, etc.;
Estudos e pesquisas sobre a Série Infantil - livros de papel e pano:
o homem pré-histórico e o céu;
o homem pré-histórico e os mamíferos;
o homem pré-histórico e os animais.
Revistas para colorir;
Decalques.
Como salienta Beltrão (1994, p. 72) “somente valorizando as culturas
históricas e pré-históricas poderemos atingir plenamente uma consciência cívica, de
respeito a tradições e identidade”.
O problema da preservação e conservação do Patrimônio Cultural do Brasil, é
uma questão de desafio. Partindo do pressuposto de que é impossível proteger
aquilo que se desconhece, as ações educativas, precisam voltar a atenção para o
reconhecimento e esclarecimento de como as populações pré-históricas deixaram
sua herança marcada no território do Rio Grande do Sul, como essas mesmas
evidências são recuperadas e conseqüentemente que valores existem na sua
preservação e proteção.
138
Em divulgação na Zero Hora pôr Eliane Brum (1991) sobre a Pré-História do
Rio Grande do Sul, a vida dos homens pré-históricos é revelada pelas evidências
que os arqueólogos salvam,
eles não tinham escrita para contar suas verdades, seus sonhos, sua lutas,
seus costumes, sua mortes, seus prazeres, suas vitórias e suas derrotas.
Deixaram as histórias de suas vidas em vasilhas de cerâmica, pontas de
flecha, boleadeiras, machados, pinhões calcinados, casas subterrâneas,
sambaquis, cerritos, esculturas, símbolos gravados em rocha e até em seus
próprios esqueletos. [...] As treze gerações que iniciaram com a dominação
arrasaram com nada menos que 600 gerações pré-históricas. Mais de 11
mil anos de história foram arrasados em apenas quatro séculos. Hoje, 90%
dos sítios arqueológicos estão destruídos. Os 10% que sobrevivem são
valiosos. Eles representam a única chance de recuperar a história dos
primeiros gaúchos.
A idéia é lembrar que existe na terra mais do que minério, minhocas, petróleo
ou nossa vã filosofia (BRUM, 1991). A velocidade em que os bens culturais são
destruídos, as pesquisas arqueológicas contribuem para mostrar uma pequena parte
da trajetória de milhares de anos, revelada em alguns sítios arqueológicos. Esta
mostra é valiosa, não somente para o município mas para o Brasil como um todo.
Destacamos ainda que, os esforços que estão sendo desprendidos para a
busca de fatos concretos e reais sobre o passado, procuram trazer á tona os
acervos culturais - materiais arqueológicos - para o proveito dos processos e ações
educativas, como objetivo prioritário, e para a integração do mesmo na construção
do presente.
Nosso interesse é também incentivar a participação da sociedade através da
comunidade escolar, buscando, de acordo com Morley e Rossetto (1994, p. 69)
“chamar a atenção para a responsabilidade consciente de cada indivíduo, enfatizado
a questão da cidadania, do orgulho que cada qual pode-e-deve ter dessa herança
cultural, e o empobrecimento causado pela perda do Patrimônio”.
Cabe destacar que abordaremos uma produção didática regionalizada
privilegiando exemplos locais. Além das propostas educativas já citadas seguiremos
também a sugestão apresentada por Prous (1994) sobre o uso de recursos
audiovisuais, para a montagem de alguns cadernos que contenham slides
comentados de diferentes regiões do Brasil e de uma “mala itinerante” contendo
139
objetos arqueológicos de coleções antigas, cujo acervo cultural pode ser pontas de
flecha, machados lascadas e polidos entre outros artefatos. tal mala pode ser
emprestada a escolas para ilustrar uma aula, pôr exemplo; não custam quase nada
e permitem que os alunos se empolguem com algo concreto.
Finalizando, esperamos que este ensino sobre arqueologia e a pré-história
leve os futuros cidadão a valorizar o seu patrimônio não escrito e entender que,
através da arqueologia, se pode dar a palavra aos “vencidos da história” (PROUS,
1994, p. 59).
140
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta tese abordamos um conjunto de idéias, opiniões, e conclusões sobre a
questão da arte rupestre.
As mãos de alguém tocaram uma pedra, e neste suporte mais do que a
materialização de gravuras e ritmos gestuais, ficou expresso um pensamento.
“Rastros” talvez, que marcaram uma história, uma esperança, um existir e aqui neste
“atual” as observamos e as misturamos com nossa história presente e pensamentos,
seja através de cópias, imagens fotográficas ou de fichas descritivas. E, num piscar
de olhos, estas gravuras, passam a ser além de um tempo passado também um
outro tempo que sempre será presente, gravuras rupestres localizadas e analisadas
no Estado do Rio Grande do Sul.
A problemática da definição doas estilos continuam ainda em aberto pois
temos duas correntes que se bifurcam entre “estilo diacrônico” e “estilo de fases”,
pois os problemas de correlação entre os sítios são diversos, podemos perceber que
em um ou em vários sítios se pode encontrar até dois estilos propostos. Na
determinação dos estilos pode acontecer que, este método somente seja válido,
para os sítios em que foram propostos.
Analisamos as gravuras rupestres de cinco sítios arqueológicos entre os
municípios de Mata, Alegrete, Rosário do Sul e Torres, ampliando assim, as
perspectivas de estudo sobre a arte rupestre e também os extremos desta
manifestação cultural no Estado. Esta pesquisa teve por base um propósito
141
tipológico estatístico no qual, ficaram reconhecidas as “variações” da produção
rupestre:
A - Tipologia para o conjunto das gravuras dos sítios - RS TO 06 – DeDavid e
RS TO 07 – Chacrinha
1. Traços retilíneos simples;
2. Traços retilíneos paralelos duplos simples e conjunto de até seis;
3. Traços retilíneos que se encontram “com forma de T” ou de cruz
perpendicularmente;
4. Traços retilíneos que se cruzam, com dois sulcos perpendiculares
paralelos;
5. Traços com formas de V ou traços que se encontram;
6. Traços de até 3 traços que convergem para um ponto – “forma de
tridígito”;
7. Traços de até treze traços convergentes para um ponto – “forma de
estrela”;
8. Traços que se cruzam perpendicularmente e aleatoriamente (formas
geométricas abstratas retangulares);
9. Traços que se cruzam perpendicularmente – forma de grade;
10. Formas de estrelas com formas de grades e círculos;
11. Formas ondulantes simples – “meia lua” e com um sulco central;
12. Formas circulares com um furo;
13. Forma de pente – “E”;
No conjunto dos 2 painéis entre os 2 sítios somaram um total de 13 tipos
subdivididos entre 56 sub-tipos no Chacrinha – 237 sub-tipos no DeDavid
totalizando 293 sub-tipos. Obtivemos no conjunto os seguintes resultados:
predominância alta dos tipos 1, 2, 8 e 9; média dos tipos 3, 4, 6, 7 e 9 e baixa dos
tipos 5, 10,11, 12 e 13.
142
B - Tipologia das gravuras do sítio - RS I 17 – Cerro do Letreiro
1. Traços retilíneos simples;
2. Traços retilíneos paralelos duplos e em conjunto de até vinte e três traços;
4. Traços de até 3 traços que convergem para um ponto – “forma de
tridígitos”;
5. Traços em forma de V;
6. Depressões que formam círculos - “pisadas de felinos”;
7. Traços retilíneos que se encontram “com forma de T” perpendicularmente
ou que se cruzam;
8. Traço em forma de X;
9. Depressão com formas com traços geométricos no interior;
10. Traços curvilíneos com até três traços perpendiculares;
11. Traços que se cruzam em forma de “grades”.
Neste sítio obtivemos 1 painel num total de 11 tipos subdivididos no total de
101 sub-tipos. A predominância alta dos tipos 2,4 e 5, média dos tipos 1, 5, 6 e 7
baixa dos tipos 8, 9,10,11.
C - Tipologia das gravuras do sítio - RS I 18 Cerro do Bugio
1. Traços retilíneos simples;
2. Traços retilíneos paralelos duplos simples ou em conjunto de até vinte e
sete traços;
3. Traços retilíneos com formas de ‘”T”, que se cruzam em forma de cruz ou
que se cruzam perpendicularmente – forma de “grade”;
4. Traços com formas de “Y”;
5. Traços em forma de “V”;
6. Traços de até 3 traços que convergem para um ponto – “forma de
tridígito”;
143
7. Formas circulares ou retangulares;
8. Depressões que formam círculos - “pisadas de felinos”;
9. Traços que tendem a se encontrar – “forma de estrela”;
10. Traços curvilíneos com até três traços perpendiculares.
Neste sítio obtivemos 1 painel um total de 10 tipos sub-divididos no total de
64 sub-tipos. A predominância alta dos tipos 2, 3 e 6; média dos tipos 4 e 7 e
baixa dos tipos 1, 5, 8, 9 e 10.
D - Tipologia das gravuras do sítio - Cerro da Panela
1. Traços retilíneos simples;
2. Traços retilíneos paralelos duplos e em conjunto de até oito traços;
3. Traços retilíneos que se encontram “com forma de T” perpendicularmente
ou que se cruzam em forma de cruz;
4. Traços retilíneos com campos em forma de círculos;
5. Formas geométricas – de sulco retilíneo e forma de meia lua;
Neste sítio obtivemos 3 painéis e no conjunto um total de 5 tipos que se
subdividiram entre 36 sub-tipos. A predominância alta do tipo 2, média dos tipos 1 e
3 e baixa dos tipos 4 e 5.
E. Para o Sítio Morro das Pedras
em Torres foi construída a seguinte tipologia:
1. Traços retilíneos e curvilíneos paralelos;
2. Traços retilíneos paralelos associados;
3. Formas elípticas com traços retilíneos paralelos em seu interior;
4. Traços retilíneos paralelos verticais unidos no ápice e na base;
5. Formas elípticas com traços retos ou curvos no centro na horizontal e
vertical;
6. Traços em forma de “V” cruzados por outros sulcos retilíneos paralelos;
144
7. Formas elípticas com um traço no meio - “possíveis peixes”;
8. “Zoomorfos” (crustáceos);
9. Forma curvilínea e retilínea que se encontram em ângulos variados.
Neste sítio obtivemos 24 painéis e no conjunto um total de 9 tipos que se
subdividiram entre 44 sub-tipos. A predominância alta do tipo 2, 3 e 6 média dos
tipos 4, 5 e 8 e baixa dos tipos 1, 7 e 9. Ficou constatado que a arte rupestre
encontrada em Torres diferencia-se das demais, conforme as gravuras identificadas
em alguns dos blocos encontrados, mas optamos por não estabelecermos uma
definição sobre um possível estilo para estas gravuras, pois os nossos dados se
encontram em um nível muito preliminar. E há ainda a questão dos outros elementos
da cultura material que necessariamente precisam ser revistos.
O ponto em comum entre as “formas representativas” ainda que redundante é
que são gravuras no geral. Estas gravuras mostram um espaço utilizado e uma
organização estabelecida para a sua representação, que percebendo que todas as
decisões tudo que existe na vida material são feitas com regras, hipóteses e
tendências socialmente compartilhadas.
As formas visuais por serem ‘partes de um comportamento humano são
simbólicas’ verificamos em um nível mais amplo que, no conjunto entre as gravuras
pesquisas neste Estado e as gravuras que pesquisamos, as similaridades e as
diferenças entre formas visuais poderiam remeter a possibilidade de uma
“mobilidade social” de uma sociedade de caçadores coletores e pescadores. E com
esta mobilidade a escolha dos suportes foram variadas assim como as formas de
representar também o foram.
Quanto a arte mobiliar a análise das peças fundamenta-se nos seguintes
resultados à predominância da escolha do suporte é o arenito. A superfície de todas
peças é preparada antes do ‘desenho’ por alisamento. Destacam-se as formas em
elipses. Estas placas estão bastante desgastadas e a técnica que predomina é o
raspado e na forma de U. A categoria representativa é a geométrica e são mais
abundantes as placas com duas faces ‘desenhadas’.
145
Sobre o item suporte, serve para o conhecimento das representações pré-
históricas, nas suas variações morfológicas e estruturais muito diversas. Os ‘planos’
ou ‘áreas’ escolhidas para a representação são muitas vezes ‘preparadas’, por
exemplo, por alisamento como é caso observado em dois blocos do sítio RS TO 02 –
Abrigo do Balc. Estes receberam este tipo de técnica, ou melhor o alisamento antes
da confecção das representações, o que não é observado nas paredes deste abrigo
nem em outros paredões que situam-se próximo deste abrigo do Balc ou seja o
Abrigo do Moura que fica distante 700 metros a leste aproximadamente e nele há
dois painéis. Um dois painéis e situa-se numa parede vertical na altura do solo ou
lado oeste situa-se também na altura do solo em uma concavidade. Os tipos são as
gravuras isoladas ou agrupadas em traços retilíneos em que distribuem-se espaças
até dois metros sem a constatação desta forma de tratamento. O que se observa é
que existe uma predominância de ‘preparação de blocos’ para a confecção das
gravuras.
Neste contexto do Rio Grande do Sul destaca-se que a maioria das
representações rupestres são encontradas em blocos de pequeno a médio porte.
Também inferimos que estas manifestações culturais podem estar implícito
um ou vários “conteúdos metafóricos” ou ainda uma “imagem comum” e
compartilhada socialmente.
A arte rupestre das populações humanas pré-históricas que aqui passaram e
viveram são dignas de respeito e de zelo. Devemos proteger e conservar estes
remanescentes do sopro do vento, de uma chuva forte, de uma erosão ou ainda o
que é pior de um ato criminoso e valorizá-los porque fazem parte da nossa
identidade cultural.
Não temos a pretensão de esgotar o assunto neste trabalho, sempre haverá
um problema a resolver, uma crítica a ser dirigida sobre uma determinada
perspectiva e uma resposta alternativa a ser buscada e ainda novos dados a serem
levantados.
Há ainda muito para ser pesquisado sobre a arte rupestre, as novas
pesquisas deverão ser desenvolvidas sobre as questões aqui tratadas, como o
146
conceito de estilo, o aspecto cronológico, o espaço entre os sítios e as gravuras,
suas dimensões e técnicas, assim como também as correlações com outros
elementos da cultura material, a busca da autoria social e a possibilidade destas
formas visuais serem elementos de comunicação.
Nosso interesse é também incentivar a participação da sociedade através da
comunidade escolar, buscando, chamar a atenção para a responsabilidade
consciente da sociedade, enfatizado a questão da cidadania, do orgulho que cada
qual pode-e-deve ter dessa herança cultural, e o empobrecimento causado pela
perda do Patrimônio”.
A justificativa para o ensino que queremos ou devemos oportunizar sobre a
pré-história e a arqueologia enfatizando a preservação e valorização da arte
rupestre, prende-se à afirmação de B. F Skiner citado por Horta (1991, p. 61) de que
“a educação é aquilo que resta, quando tudo aquilo que foi aprendido é esquecido”
ou ainda em outras palavras “patrimônio cultural de um povo é tudo aquilo que lhe
restará, quando tudo aquilo que foi construído se desmanchar no ar!” (1991, p. 72).
Finalizando, esperamos que este trabalho leve os futuros cidadãos a valorizar
o seu patrimônio não escrito e entender que, através da arqueologia, se pode dar à
palavra as populações que antecederam a nossa e nos deixaram o legado, por
exemplo, da representação rupestre.
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FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
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