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ESCOLAS PÚBLICAS EM SÃO PAULO (1960-1972)
A escola de Vila Brasília tem, para Paulo Bastos (informação verbal)
1
, grande importância porque inaugurou, em
sua trajetória prossional, uma maneira de conceber o espaço que depois foi desenvolvida em outros projetos e
obras: uma grande cobertura que agrega cada função com sua cobertura e estrutura independentes.
Localiza-se num terreno de acentuado declive, escolhido pelos próprios arquitetos
2
. Contrariando a forma
convencional de ocupar um sítio com essas características, os arquitetos implantaram-na no sentido perpendicular
às curvas de nível. Decisão que gerou certa dominância da escola na paisagem do bairro, sem que a construção,
ao nível da rua de acesso, destoasse muito das construções circunvizinhas pois a escola, no nível da rua São João,
tem a altura de um sobrado.
Da rua, o acesso é feito por uma escadaria. Chega-se a um pátio coberto, recreação do pré-primário, cujas salas
encontram-se ao lado esquerdo de quem entra, em volume independente. Do lado direito, paralelo ao volume
das salas de aula do pré ca o bloco administrativo. Desse lugar um jogo de rampas conduz o transeunte ao
nível mais alto, onde estão situadas as salas de aula do primário, ou então ao pátio coberto de recreação, num
nível abaixo. Dois outros volumes situam-se nesse nível e a ele estão diretamente vinculados, refeitório/cozinha e
banheiros. A comunicabilidade dos espaços por meio da utilização de rampas articuladas com níveis a meio-piso
é inuência direta de Artigas e confere uidez espacial ao edifício.
As salas de aula abrem-se para o exterior nas faces Nordeste e Sudoeste e são guarnecidas por brises verticais
(placas de argamassa armada) que as protegem da incidência direta da luz solar. As coberturas dos volumes
independentes (salas de pré-primário, administração, cozinha/banheiros) foram pensadas como tetos-jardim. O
volume das salas de pré-primário tem, além dos caixilhos do piso ao teto (que funcionam também como portas de
conexão das salas com o pátio externo de recreação e o parquinho), domus de iluminação e ventilação, que muito
contribuem para a qualidade das mesmas. As salas de aula do primário são como as dos “pequenos”, iluminadas
zenitalmente e acessadas por uma galeria de circulação central, cuja luz provém de uma janela, de onde pode-se
1 Entrevista realizada com o arquiteto Paulo Bastos em 30/03/2007.
2 Prática comum naquele momento, especialmente nos projetos desenvolvidos em São Bernardo do Campo. Segundo o arquiteto Paulo Bastos
(na mesma entrevista citada na nota acima): “ A prefeitura de São Bernardo do Campo, onde recentemente havia se instalado a indústria automobilística,
demandava muito trabalho. Lá havia um setor de Planejamento que com um ano de antecedência, pesquisava e listava as obras necessárias (escolas, creches,
postos de saúde, estádios de futebol - tudo o que fosse necessário à vida urbana) e então contratava os projetos. O programa era dado, os arquitetos escolhiam
o terreno e com rapidez uma mensagem era mandada para a Câmara, com a solicitação de desapropriação do terreno (normalmente eram terenos particulares,
comprados pela pretura). O arquiteto que estava à frente desse processo, chefe do setor de Planejamento da Prefeitura era Jorge Bonm, arquiteto que fez o
projeto para o Paço Municipal da cidade.”