
suingue brasileiro (Coleção História do Rock Brasileiro, vol 02, novembro de 2004,
p. 28).
Quem costumava aparecer no apartamento para tocar também era o sambista
Paulinho da Viola, outro responsável pela modificação da sonoridade da banda. Mostrando
a importância dos instrumentos acústicos, ajudou a montar o conjunto regional
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dos Novos
Baianos. Pepeu declarou em entrevista que “foi o sambista da Portela a primeira pessoa a
lhe presentear com um bandolim, instrumento que o fez adotar o chorinho como uma de
suas grandes influências musicais” (Cardoso, 2000).
A partir desses encontros com músicos de estilos diferentes (bossa nova, jazz,
choro) que tinham em comum o toque e o suingue brasileiro do samba, o músico baiano
começa a descobrir e explorar outros timbres e recursos musicais utilizando o violão (com
cordas de aço ou de nylon), e principalmente o bandolim. Dessa mistura nasceu o
multiinstrumentista Pepeu Gomes, um “alquimista” de sons elétricos e acústicos.
É notável como todas essas influências ficam visíveis no segundo disco dos Novos
Baianos, o LP Acabou Chorare, de 1972. Nele estão reunidos alguns dos ideais estéticos do
movimento tropicalista de forma prática e contundente
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. Em cada faixa do disco o “rock se
mistura ao samba, ao choro e ao frevo numa usina sonora que revolucionou a música
brasileira da época e abriu caminho para outras fusões do gênero”. (
Coleção História do Rock
Brasileiro, vol 02, novembro de 2004, p. 28
)
O disco é considerado um marco importante da divulgação do choro na década de
1970 para muitos músicos do gênero, a exemplo de Henrique Cazes:
No começo dos anos 70, o sucesso do grupo Os Novos Baianos trouxe de volta o
interesse por instrumentos como o cavaquinho, o violão de sete cordas e o violão
tenor. A associação de um grupo de imagem tão contracultural com valores
tradicionais da música brasileira era algo impensável e teve efeito muito positivo de
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De acordo com Henrique Cazes, “o nome regional se originou de grupos como Turunas Pernambucanos,
Voz do Sertão e mesmo Os Oito Batutas, que na década de 1920 associavam a instrumentação de violões,
cavaquinho, percussão e algum solista à algum caráter de música regional” (Cazes, 1998, P. 83). No entanto, a
popularização deste tipo de formação se dá com o advento do rádio na década seguinte e o aparecimento dos
regionais do flautista Benedito Lacerda e do cavaquinista e violonista Canhoto.
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Marcos Napolitano argumenta que, embora haja um debate em torno das contradições ideológicas do
movimento tropicalista, é inegável que no campo musical “o tropicalismo ajudou a romper barreiras que
dificultavam a plena realização comercial da canção brasileira: uma ética de “militância cultural” fora do
mercado que ainda prevalecia em alguns artistas e a necessidade de restringir os materiais musicais àqueles
que identificassem a MPB a uma idéia de “nação” dotada de especificidade estética. Após o tropicalismo, a
“militância” cultural e o star-system praticamente se confundiam, assim como a identidade nacional da MPB
passou a ser buscada paralelamente à incorporação das tendências musicais e culturais vindas do exterior
(sobretudo da cultura de consumo anglo-americana)” (Napolitano, p. 240)