CADERNOS SECAD
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Anotações
2. MARCOS INSTITUCIONAIS
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2.1. Um breve histórico sobre
a Educação do Campo
No âmbito das políticas públicas para a educação, pensava-se - e muitos pensam
ainda - que o problema a ser resolvido para a educação das populações que vivem fora
das cidades decorria apenas da localização geográfi ca das escolas e da baixa densidade
populacional nas regiões rurais. Isso implicava, entre outras coisas, a necessidade de se-
rem percorridas grandes distâncias entre casa e escola e o atendimento de um número
reduzido de alunos, com conseqüências diretas nos gastos para a manutenção do então
denominado ensino rural.
Paralelamente, o modelo escravocrata utilizado por Portugal para colonizar o
Brasil e, mais tarde, os adotados pelos próprios brasileiros para a colonização do interior
do país - de exploração brutal pelos proprietários de terra dos trabalhadores rurais, aos
quais eram sistematicamente negados direitos sociais e trabalhistas - geraram um forte
preconceito em relação aos povos que vivem e trabalham no campo, bem como uma
enorme dívida social.
Ao mesmo tempo, a suposição de que o conhecimento “universal”, produzido
pelo mundo dito civilizado deveria ser estendido – ou imposto - a todos, de acordo
com a “capacidade” de cada um, serviu para escamotear o direito a uma educação
contextualizada, promotora do acesso à cidadania e aos bens econômicos e sociais,
que respeitasse os modos de viver, pensar e produzir dos diferentes povos do campo.
Ao invés disso, se ofereceu, a uma pequena parcela da população rural, uma educação
instrumental, reduzida ao atendimento de necessidades educacionais elementares e ao
treinamento de mão-de-obra.
Em 1932, foi lançado o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova
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, que buscava
diagnosticar e sugerir rumos às políticas públicas de educação e preconizava a organiza-
ção de uma escola democrática, que proporcionasse as mesmas oportunidades para to-
dos e que, sobre a base de uma cultura geral comum, possibilitasse especializações para
as atividades de preferência intelectual (humanidades e ciências) ou de preponderância
anual e mecânica (cursos de caráter técnico) agrupadas em: extração de matérias-pri-
mas - agricultura, minas e pesca; elaboração de matérias-primas - indústria; distribuição
de produtos elaborados - transportes e comércio. Nessa proposta, as demandas do
campo e da cidade eram igualmente consideradas e contempladas.
2 Esta seção do Caderno Temático foi baseada no Relatório da Conselheira Edla de Araújo Lira Soares, que funda-
menta as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo, aprovado em 4 de dezembro de
2001.
3 Escola Nova é um dos nomes dados a um movimento de renovação do ensino que foi especialmente forte na Euro-
pa, nos Estados Unidos e no Brasil, na primeira metade do século XX. Os primeiros grandes inspiradores do movi-
mento foram o escritor Jean-Jacques Rousseau e os pedagogos Heinrich Pestalozzi e Freidrich Fröebel. No Brasil, as
idéias da Escola Nova foram introduzidas já em 1882 por Rui Barbosa e ganharam especial força com a divulgação
do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932, quando foi apresentada uma das idéias estruturais do
movimento: as escolas deviam deixar de ser meros locais de transmissão de conhecimentos e tornar-se pequenas
comunidades, onde houvesse maior preocupação em entender e adaptar-se a cada criança do que em encaixar
todas no mesmo molde. O documento foi assinado por: Fernando de Azevedo, Afrânio Peixoto, A. de Sampaio
Doria, Anísio Spinola Teixeira, M. Bergstrom Lourenço Filho, Roquette Pinto, J. G. Frota Pessoa, Julio de Mesquita
Filho, Raul Briquet, Mario Casassanta, C. Delgado de Carvalho, A. Ferreira de Almeida Jr., J. P. Fontenelle, Roldão
Lopes de Barros, Noemy M. da Silveira, Hermes Lima, Attilio Vivacqua, Francisco Venâncio Filho, Paulo Maranhão,
Cecília Meirelles, Edgar Sussekind de Mendonça, Armanda Álvaro Alberto, Garcia de Rezende, Nóbrega da Cunha,
Paschoal Lemme e Raul Gomes.