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trabalho com emprego: o trabalho “corresponde a um processo de transformação do mundo, a
uma intervenção operada por um trabalhador (ou por vários deles) sobre uma matéria-prima
com o auxílio de um equipamento ou de uma ferramenta”; já o emprego “consiste em prestar
serviços a um empregador, sob a dependência dele e mediante alguma forma de
remuneração”. E complementa que o segredo do processo de trabalho reside na “capacidade
de acrescentar um valor a mais, uma riqueza maior do que a necessária para reproduzir a
própria energia despendida” (SROUR, 1998, p. 132).
Dessa forma, o trabalho está sempre orientado para o aumento da produtividade do homem ou
da máquina (CASTELLS, 2003), e a preocupação de rentabilidade sobrepõe-se às demais
(CHANLAT, 1996a). Sob esse enfoque, o trabalho ocupa um lugar central na vida das
pessoas e das sociedades industrializadas (ANTUNES, 2002, 2003; ARENDT, 2003;
CASTELLS, 2003; CHANLAT, 1996a, 1996b, 1996c; DE MASI, 2000; PIMENTA, 2004;
RUSSELL, 2002; SENNETT, 2003; TRENKLE, 1998). Entretanto, outra corrente aponta para
uma desvinculação entre trabalho e renda, com a redução planejada do tempo de trabalho, o
que destituiria, também, essa centralidade do trabalho (BERGSON
6
apud THIRY-CHERQUES,
2004; GORZ, 2001; HABERMAS, 2003; LIMA, 1986, 1996; OFFE et al.
7
apud SILVA, 2002).
Alguns autores como De Masi (2000, 2003), Antunes (2003) e Russell (2002) fazem a
distinção entre trabalho material e imaterial/intelectual ou executivo e criativo. A diferença
básica é que imaterial/intelectual ou criativo refere-se mais ao pensar, ao criar, enquanto que o
material ou executivo é a execução física das tarefas. Destacam que o senso comum evidencia
a superioridade do primeiro em relação ao segundo, já que qualquer pessoa seria capaz de
desempenhar um trabalho físico, mas que nada garante que todas sejam capazes de ter idéias.
O trabalho pode ser um prazer se, justamente, for predominantemente intelectual,
inteligente e livre. Junto com o cansaço, pode provocar euforia. O cansaço psíquico
obedece a outras leis, diferentes das que se aplicam ao cansaço físico. Quando é
físico, traz prostração, impondo que se pare. Quando é psíquico, mental, se for
unido a uma grande motivação, pode até nem ser percebido: [...] um poeta pode
poetar o dia inteiro, sem adormecer. No trabalho intelectual a motivação é tudo.
O trabalho intelectual pode nos agradar a tal ponto, que nem nos damos conta de que
nos cansamos, correndo o risco de um esgotamento nervoso. Até porque o cansaço
psíquico não permite um desligamento instantâneo, como acontece com o físico. Se
eu trabalho na linha de montagem ou se aro o campo, quando paro e me jogo na
cama, desligo completamente. Mas se estou em busca de uma idéia, minha mente
continuará a trabalhar até de noite. Porém, sobre esse assunto praticamente não
existe nada escrito até o momento (DE MASI, 2000, p. 224).
6
BERGSON, Henri. L’Évolution créatice. Paris: PUF 1954.
7
OFFE, Claus; HINRICHS, K.; WIESENTHAL, H. Time, money, and welfare-state capitalism. In: KEANE, J.
(Ed.). Civil society and the State. London: Verso, 1988.