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Flanar é ir por aí, de manhã, de dia, à noite, meter-se nas rodas da população
(Rio, 1997: 50).
No entrecruzamento de interesses do espaço urbano, conflitos se originaram e
foram apaziguados, contornados, esclarecidos, praticados. No dizer de Rio, “se as ruas são
entes vivos, as ruas pensam, têm idéias, filosofia e religião” (Rio, 1997: 62). Além disso,
Rio também escreve acerca do encanto e da paixão que as ruas exerciam sobre as pessoas:
eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria
revelado por mim se não julgasse, e razões não tivesse para julgar, que este
amor assim absoluto e assim exagerado é partilhado por todos vós. Nós
somos irmãos, nós nos sentimos parecidos e iguais; nas cidades, nas aldeias,
nos povoados, não porque soframos com a dor e os desprazeres, a lei e a
polícia, mas porque nos une, nivela e agremia o amor da rua. É este mesmo
o sentimento imperturbável e indissolúvel, o único que, como a própria vida,
resiste às idades e às épocas. Tudo se transforma, tudo varia – o amor, o
ódio, o egoísmo (Rio, 1997:45).
O trabalho de Pessoa (2000) contribuiu para uma maior clareza sobre alguns
aspectos referentes à questão prisional no séc. XIX. A autora lembra que a Sociedade
Defensora da Independência e Liberdade Nacional, responsável pela elaboração do projeto
de construção da Casa de Correção
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, tinha uma intenção que atendia aos propósitos da
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Pessoa lembra que a expressão Casa de Correção possui a seguinte origem: “Os açoites, o desterro e a
execução foram os principais instrumentos da política social na Inglaterra até a metade do século XIX, em
que os tempos mudaram evidentemente, para que surgisse uma experiência que se apresentou exemplar. A
petição de alguns elementos do clero inglês, alarmados com a proporção que a mendicidade havia alcançado
em Londres, o rei lhes permitiu usar o castelo de Bridewell para recolher ali os vagabundos, os ociosos, os
ladrões e os autores de delitos menores. A finalidade da instituição conduzida com mão de ferro, era a
reforma dos internos por meio do trabalho e da disciplina. Além disso, foi concebida para desanimar a outros
de vagabundearem e de ociosidade, assim como para assegurar, de modo não secundário, seu próprio
sustento. O trabalho que ali se fazia era do ramo têxtil, como o exigia à época. A experiência deve ter sido
coroada de êxito, pois em pouco tempo, houses of correction, que se chamavam indistintamente de
bridewells, surgiram em várias partes da Inglaterra” (Pessoa, 2000:57).
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