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aumentando a opressão sobre as camadas mais pobres da população. “Os regimes de
segurança nacional são apenas uma expressão daquilo que o imperialismo capitalista e as
classes dominantes consideraram necessário para impor suas novas condições às classes
populares e conterem as tentativas de mudança por elas iniciadas na década de 60”
199
. O
contraste entre as aspirações libertadoras e a repressão exerceu função importante no
nascimento e desenvolvimento da TdL
200
. No fim da década de 60 do século XX, o modelo
populista e a Teoria Econômica Desenvolvimentista
201
entraram em crise.
Uma séria ruptura epistemológica dá-se nas ciências sociais: a Teoria Econômica do
Desenvolvimento transforma-se em Teoria da Dependência
202
. Admitia-se que a pobreza e o
subdesenvolvimento das nações do chamado Terceiro Mundo eram o “preço a ser pago para
que o Primeiro Mundo possa desfrutar da abundância”
203
. Essa relação viciada e destrutiva
entre alguns poucos países ricos e os muitos países pobres necessariamente deveria ser
alguns dos seus subprodutos, como por exemplo, o Serviço Nacional de Informações (SNI). Essa doutrina, que
se tornou lei em 1968, com a publicação do decreto-lei nº. 314/68, tinha como objetivo principal identificar e
eliminar os “inimigos internos”, ou seja, todos aqueles (comunistas) que questionavam e criticavam o regime
estabelecido.
199 Gustavo GUTIÉRREZ. op. cit. p. 112.
200 Cf. João Batista LIBANIO. op. cit. p. 61.
201 Cf. Fernando Henrique CARDOSO; Enzo FALETTO. Dependência e desenvolvimento na América Latina.
Rio de Janeiro: Zahar, 1970, p. 138-143. Em síntese, a CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina)
começa a esboçar um modelo baseado na substituição de importações, que teria como mentor e principal
empreendedor o Estado. Para que os países periféricos superassem o atraso e amenizassem as disparidades em
relação aos países centrais, a CEPAL propôs um modelo baseado numa industrialização desses, invertendo assim
o seu caráter de produtor de matéria-prima. E, para que isso fosse possível, era preciso que o Estado entrasse em
cena como o principal empreendedor desse projeto. Assim, difundia-se uma idéia de desenvolvimento dentro do
próprio país, dando margem a um nacionalismo que se fazia necessário face ao embate travado com o
liberalismo. Porém, esse nacionalismo não excluía por completo o capital estrangeiro, hostilizando apenas o
imperialismo.
202 Cf. Celso FURTADO. O Mito do desenvolvimento econômico. 4. ed. São Paulo : Paz e Terra, 1974, p. 117-
125. “Na metade dos anos 50, os países latino-americanos e, em especial, a economia brasileira, começaram a
apresentar sinais de declínio, e entraram em um período de crise e estagnação, marcado por uma queda nas taxas
de crescimento. As políticas econômicas desenvolvidas, que até então eram dadas como o caminho para se
alcançar o tão sonhado estágio de desenvolvimento capitalista dos países centrais, haviam emperrado as
engrenagens. É, então, nesse período que surge uma nova teoria em debate, que visava explicar e indicar novos
rumos para que a economia voltasse a trilhar o caminho do desenvolvimento. Esta nova teoria, denominada
Teoria da Dependência, dominou o debate teórico na década de 60. No Brasil, os autores que se destacaram
foram Theotônio dos Santos e Rui Mauro Marini. Acreditavam que as relações econômicas entre países centrais
e periféricos era comparada à de metrópole-satélite, onde os interesses da metrópole sempre prevaleciam,
tornando assim os países periféricos dependentes, apropriando-se dessa maneira dos excedentes por eles
produzidos. Por serem economias dependentes, acreditavam que era esse o motivo pelo qual esses países
estavam fadados à estagnação, e viam como único caminho, para se alcançar um desenvolvimento independente,
uma revolução de caráter socialista” (p. 117). Mas é com os trabalhos de Fernando Henrique Cardoso e de Enzo
Faletto, que a teoria da dependência se consolida. “Eles apresentam uma metodologia inovadora ao adotar em
seus trabalhos o estudo caso a caso, por considerarem que os demais teóricos da dependência pecaram ao tomar a
América Latina como um todo. Ao analisarem através dessa metodologia chegam à conclusão de que as causas
da dependência são mais decorrência da relação de classes internas particulares a cada país, do que a relação de
domínio entre países centrais e periféricos, não renegando entretanto esse segundo fator, mais sim dando maior
importância ao primeiro” (p. 119).
203 Clodovis BOFF; Leonardo BOFF. op. cit. p. 96.