
185
forma nos negligenciam..., muito violentos, com salários baixos, falta possibilidade de fazer
um curso, por exemplo, eu queria fazer um mestrado, mas, e aí, como? Como? Eu quero fazer
uma pesquisa aqui, eu acho que tem muito campo aqui, mas, e aí, a instituição vai deixar ou é
só para alguns? Sabe, então, é, é,é..., a gente luta viu.
Pesquisadora – Quantas horas você trabalha?
Maria – Oito horas por dia, quarenta por semana. É muito trabalho, é relatório, é correção de
testes, mesmo essas questões..., assim o teste psicológico, muita coisa eu questiono, então a
gente precisa buscar uma supervisão, mas não se tem, então, vai muito pela subjetividade do
psicólogo e é complicado, por que e aí? A gente não está livre de ser neurótico. Todo mundo
aqui é..., não é..., mas, então a gente tem que ter essa clareza. A gente tem que fazer terapia,
mas como vai fazer? É tudo caro. Então, eu acho que a gente é violentado também, e a gente
também é violento. Eu percebo isso, às vezes..., eu, às vezes, me percebo violenta. Uma
violência meio branca, né [risos]. Uma violência meio... [risos], vedada, sabe? A gente se faz
do tipo, assim, de uma pessoa boa, né, mas não é bem isso, entendeu? A gente acaba também
se misturando um pouco com tudo isso, e tem um monte de..., e a gente não consegue, então,
sei lá, às vezes eu fico cansada. Às vezes, eu fico cansada, eu acho que a violência doméstica
cansa, mas é tão importante, eu acho, tão importante que se tivessem outros [nome da
instituição], por exemplo, na cidade de São Paulo..., e só tem aqui no ABC. Eu acho um
trabalho muito importante, fundamental, de educação, de acolhimento desses pais. Eu tento, a
todo o momento, me policiar para não julgar as pessoas, eu tento, mas não é fácil isso, não é
fácil, mas eu tento; eu tento. Chegou uma mãe aqui que quase matou o filho dela de três anos,
rasgou a orelha do moleque, machucou muito, e ela veio para mim. A gente fala: “essa
monstra.” E aí é muito interessante, porque você vai com um olhar, e, conforme a entrevista
vai rolando, eu vou..., eu vou tentando..., separar, e, aí, a gente consegue. Alguns casos eu
consigo, outros não, viu. Outros eu não consigo. Até, às vezes, eu evito conversar com a
assistente social, ler relatório, para não me contaminar, porque, se eu leio, eu fico com uma
raiva, entendeu? Sabe, assim, eu fico indignada. Falo o que é isso? Eu lembro muito da minha
filha, eu choro ao ver uma criança de três anos..., eu fico imaginando a minha filha..., que é
um doce de criança, se ela tivesse uma mãe tão violenta assim. Como ela seria? Como seria
essa criança? Eu lembro muito da minha filha, engraçado isso. Eu fico pensando, será que um
dia eu vou ser assim, será que um dia [risos] eu vou ter a capacidade..., sabe, é terrível. Por
que a gente tem um ladinho, eu acho..., eu percebo..., às vezes, em mim, eu pareço ser uma
bruxa com a minha filha, e eu sou uma fada, às vezes, mas tem hora que eu sou uma bruxa,