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Deus, que é um ser não contingente, portanto, necessário, só pode ser
racionalmente conhecido a partir do mundo sensível e contingente. Fraile,
resumindo uma característica comum dos teólogos escolásticos, afirma: “el
conocimiento de Dios es mediato, oscuro, más negativo que positivo, adquirido
partiendo de la realidad de los seres contingentes del mundo sensible, que
postulan un ser necessario...
790
". O Padre Bourdin, nas Septièmes Objections,
associando-se à filosofia da Escola
791
e contrapondo-se à filosofia de Descartes,
seja movido por outro, e este por outro. Ora, não se pode assim proceder até o infinito, porque não haveria
nenhum primeiro motor e, por conseqüência, outro qualquer; pois, os motores segundos não movem, senão
movidos pelo primeiro, como não move o báculo sem ser movido pela mão. Logo, é necessário chegar a um
primeiro motor, de nenhum outro movido, ao qual todos dão o nome de Deus. A segunda via procede da
natureza da causa eficiente. Pois, descobrimos que há certa ordem das causas eficientes nos seres sensíveis;
porém, não concebemos, nem é possível que uma causa seja causa eficiente de si própria, pois seria anterior a si
mesma; o que não pode ser. Mas, é impossível, nas causas eficientes, proceder-se até o infinito; pois, em todas
as causas eficientes ordenadas, a primeira é causa da média e esta, da última, sejam as médias muitas ou uma
só; e como, removido a causa, removido fica o efeito, se nas causas eficientes não houver primeira, não haverá
média nem última. Procedendo-se ao infinito, não haverá primeira causa eficiente, nem efeito último, nem
causas eficientes médias, o que evidentemente é falso. Logo, é necessário admitir uma causa eficiente primeira,
à qual todos dão o nome de Deus. A terceira via, procedente do possível e do necessário, é a seguinte. – Vemos
que certas causas podem ser e não ser, podendo ser geradas e corrompidas. Ora, impossível é existirem sempre
todos os seres de tal natureza, pois o que pode não ser, algum tempo não foi. Se, portanto, todas as causas
podem não ser, algum tempo nenhuma existia. Mas, se tal fosse verdade, ainda agora nada existiria pois, o que
não é só pode começar a existir por uma causa já existente; ora, nenhum ente existindo, é impossível que algum
comece a existir, portanto, nada existiria, o que, evidentemente, é falso. Logo, nem todos os seres são possíveis,
mas é forçoso que algum dentre eles seja necessário. Ora, tudo o que é necessário ou tem de fora a causa da sua
necessidade ou não a tem. Mas não é possível proceder ao infinito, nos seres necessários, que tem a causa da
própria necessidade, como também o não é nas causas eficientes, como já se provou. Por onde, é forçoso
admitir um ser por si necessário, não tendo de fora a causa da sua necessidade, antes, sendo a causa da
necessidade dos outros; e a tal ser, todos chamam Deus. A quarta via procede dos graus que se encontram nas
causas. Assim, nelas se encontram em proporção maior e menor o bem, a verdade, a nobreza e outros atributos
semelhantes. Ora, o mais e o menos se dizem de diversos atributos enquanto se aproximam de um máximo,
diversamente; assim, o mais cálido é o que mais se aproxima do maximamente cálido. Há, portanto, algo
verdadeiríssimo, ótimo e nobilíssimo e, por conseqüente, maximamente ser; pois, as causas maximamente
verdadeiras são maximamente seres, como diz o Filósofo. Ora, o que é maximamente tal, em um gênero, é
causa de tudo o que esse gênero compreende; assim o fogo, maximamente cálido, é causa de todos os cálidos,
como no mesmo lugar se diz. Logo, há um ser, causa do ser, e da bondade, e de qualquer perfeição em tudo
quanto existe, e chama-se Deus. A quinta via procede do governo das causas. – Pois, vemos que algumas,
como os corpos naturais, carecentes de conhecimento, operam em vista de um fim; o que se conclui de
operarem sempre frequentemente do mesmo modo, para conseguirem o que é ótimo; donde resulta, que
chegam ao fim, não pelo acaso, mas pela intenção. Mas os seres sem conhecimento não tendem ao fim sem
serem dirigidos por um ente conhecedor e inteligente, como a seta, pelo arqueiro. Logo, há um ser inteligente,
pelo qual todas as causas naturais se ordenam ao fim, e a que chamamos Deus”. Suma Teológica, Iª, q. 2, a.
III.
790
Op. Cit., III, p. 522.
791
“...dans l'École, l'affirmation de l'existence de Dieu emprunte toute sa certitude à celle des choses sensibles,
d'où l'on remonte jusqu'à lui comme d'un effet à une cause; par une voie inverse, le néoplatonisme part d'une
intuition du principe divin, pour aller de Dieu, comme cause, aux choses, comme effets de cette cause. Il semble y