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Aléxia Teles Duchowny
DE MAGIA (Ms. Laud Or. 282, Bodleian Library):
EDIÇÃO E ESTUDO
Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em
Estudos Lingüísticos da Faculdade de Letras da
Universidade Federal de Minas Gerais, como
requisito parcial à obtenção do grau de Doutor em
Lingüística
Linha de pesquisa: Variação e mudança lingüística
Orientadora: Dra. Maria Antonieta Amarante de
Mendonça Cohen
Co-orientador: Dr. César Nardelli Cambraia
Belo Horizonte
Faculdade de Letras
Universidade Federal de Minas Gerais
fevereiro/2007
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Duchowny, Aléxia Teles.
D832d De magia (Ms. Laud Or. 282, Bodleian Library) [manuscrito] : edição
e estudo / Aléxia Teles Duchowny. – 2007.
323 f., enc. : il. fots., tabs., grafs., fac-sims. ; 30 cm
Orientadora: Profa. Dra. Maria Antonieta de A. M. Cohen.
Co-orientador: Prof. Dr. César Nardelli Cambraia.
Área de concentração: Lingüística.
Linha de Pesquisa: Variação e Mudança Lingüística.
Tese (doutorado) – Universidade Federal de Minas Gerais,
Faculdade de Letras.
Bibliografia: f. 287-291.
Anexos: f. 304-323.
1. Lingüística histórica portuguesa – Teses. 2. Língua portuguesa –
Até 1500 – Teses. 3. Filologia portuguesa – Teses. 4. Crítica textual –
Teses. 5. Manuscritos medievais – Fac-símiles – Teses. 6. Aljamia –
Teses. 7. Escrita – Idade Média – Teses. 8. Judaísmo – Idade Média –
Teses. 9. Astrologia – Idade Média – Teses. 10. Língua portuguesa –
Variação – Teses. 11. Mudanças lingüísticas – Teses. I. Cohen, Maria
Antonieta A. de Mendonça. II. Cambraia, César Nardelli. III. Universidade
Federal de Minas Gerais. Faculdade de Letras. IV. Título.
CDD : 469.09
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Tese intitulada DE MAGIA (Ms. Laud Or. 282, Bodleian Library): EDIÇÃO E ESTUDO,
de autoria da doutoranda Aléxia Teles Duchowny, aprovada pela banca examinadora
constituída pelos seguintes professores:
_________________________________________________
Profa. Dra. Maria Antonieta A. de M. Cohen – Fale/UFMG – Orientadora
_________________________________________________
Prof. Dr. César Nardelli Cambraia – Fale/UFMG – Co-orientador
_________________________________________________
Profa. Dra. Célia Marques Telles – Universidade Federal da Bahia
_________________________________________________
Prof. Dr. Newton Sabbá Guimarães - Unicentro - Irati - PR
_________________________________________________
Profa. Dra. Evelyne Jeanne A. A. Madeleine Dogliani – Fale/UFMG
_________________________________________________
Prof. Dr. Jacyntho José Lins Brandão – Fale/UFMG
Belo Horizonte, 8 de fevereiro de 2007
AGRADECIMENTOS
À Tila e ao César, pela orientação e por terem acreditado no meu trabalho desde o início;
à Stefania, cujos carinho, presença, dedicação e interesse me permitiram chegar até o fim;
à Profa. Aldina Quintana, sempre disponível, tão acessível;
à Profa. Célia Telles, tão generosa, pelas críticas e sugestões;
aos meus pais Cleusa e Marcos, ao Jimmy e à minha família;
ao meu sogro Roger, pela adorável moradia em Jerusalém;
à UFMG, pela oportunidade de desenvolver o trabalho;
à Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Ca, se as scripturas non fossem, qual sabedoria ou engenho d’homen
se poderia recordar de todalas cousas passadas, ainda que as no~
achasse de novo que he ja cousa muy mais grave? Certo nenhu~u~.
Crónica Geral de Espanha, cap. 1, fól. 1b (1344)
RESUMO
A presente tese consiste na edição e no estudo da obra inédita De Magia (Ms. Laud
Or. 282), que se encontra na Seção Oriental da Bodleian Library, em Oxford, Inglaterra. Esse
guia astrológico, da primeira metade do século XV, é um manuscrito aljamiado: os caracteres
são hebraicos semicursivos e a língua o português arcaico. Os objetivos gerais da tese são a
edição paleográfica do De Magia e a análise de características do português arcaico
aljamiado. Foi dada ênfase à compreensão dos grafemas bet, vet e vav, equivalentes ao <b> e
<v> do português não-aljamiado. Na Introdução, apresentam-se os objetivos e justifica-se a
edição da referida obra e a análise de bet, vet e vav; no Capítulo 1, apontam-se, de modo
detalhado e atualizado, os aspectos codicológicos e paleográficos e a datação do códice; no
Capítulo 2, estuda-se a representação grafemática do De Magia e indicam-se os critérios
utilizados para a transcrição dos grafemas hebraicos em latinos. Para a transcrição, foi
utilizada como base a Crónica Geral de Espanha (1344), através do programa de tratamento
de dados WordSmith Tools; no Capítulo 3, justifica-se a opção pela edição paleográfica,
descrevem-se as normas de transcrição adotadas e apresenta-se a edição do De Magia; no
Capítulo 4, analisam-se os grafemas bet, vet e vav, comparados entre si e com os grafemas
correspondentes no latim e no português arcaico não-aljamiado. A partir da interpretação dos
dados, foi possível verificar o uso de três grafemas (bet, vet, vav) ao invés de dois (<v> e <b>)
para representar os mesmos sons, levando a repensar as opiniões vigentes principais relativas
ao <b> e ao <v> do português. O Apêndice é composto da transcrição paleográfica dos três
primeiros fólios do manuscrito inédito 5-2-32 da Biblioteca Colombina, dos três primeiros
fólios do manuscrito inédito Ms. Laud Or. 310, da Bodleian Library, do último fólio do ms.
282. O De Magia foi o primeiro texto aljamiado em português editado e analisado com rigor e
detalhamento. Este estudo pioneiro contribui para uma visão mais próxima da realidade fônica
do português arcaico da primeira metade do século XV e para uma melhor compreensão dos
fatores codicológicos e paleográficos dos manuscritos medievais, devendo servir de estímulo
para a continuidade dos estudos das aljamias portuguesas, mantidas inéditas nas estantes das
bibliotecas.
ABSTRACT
This thesis consists of the edition and the study of the unedited manuscript De Magia (Ms.
Laud Or. 282), kept in the Oriental Section of the Bodleian Library, in Oxford, England. De
Magia is an astrological guide written in the first half of the fifteenth century and it is an
aljamiado manuscript: the characters are in semicursive Hebrew and the language is Old
Portuguese. The general goals of the thesis are to produce a semidiplomatic edition of De
Magia and to make an analysis some characteristics of the aljamiado Old Portuguese.
Emphasis has been given to the understanding of the graphemes bet, vet and vav, equivalent to
<v> and <b> of non-aljamiado Portuguese. In the Introduction, the objectives are presented
and the edition of the manuscript and the analysis of bet, vet and vav are justified; in Chapter
1, the codicological and paleographic aspects of De Magia are detailed and the manuscript is
dated; in Chapter 2, its graphematic representation is studied and the criteria used for the
transcription of the Hebrew graphemes into Latin ones are described. The basis for the
transcription was the Crónica Geral de Espanha (1344). Its data was handled through the
computer program WordSmith Tools; in Chapter 3, the option for the semidiplomatic edition
is justified, and the adopted norms of the transcription are described, before the presentation
of the first 168 folios of De Magia; in Chapter 4, the graphemes bet, vet and vav are analyzed
and compared between themselves and with the corresponding graphemes in the Latin and the
non-aljamiado Old Portuguese. The interpretation of the data made it possible to conclude that
three graphemes (bet, vet and vav) are being used instead of two (<b> and <v>) to represent
the same sounds, bringing better understanding to the subject. The Appendix is composed of
the transcription of some folios of the unedited manuscript 5-2-32, of the Colombina Library,
in Sevilla, Spain, of some folios of the unedited manuscript Ms. Laud Or. 310, of the
Bodleian Library, and the last folio of ms. 282. De Magia was the first aljamiado text in
Portuguese edited and analyzed with strictness to explicit norms and attention to details. This
pioneering study contributes to a more realistic phonic perspective of Old Portuguese and for
a better comprehension of the codicological and paleographical aspects of medieval
manuscripts. Hopefully, it will stimulate more studies of the Portuguese aljamias, kept
unknown in library bookshelves.
LISTAS
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
BK -
Bava Kama (em aramaico A primeira porta)
BM -
Bava Metsia (em aramaico A porta do meio)
C -
consoante
ca. -
circa (cerca)
cap. -
capítulo
cf. -
conforme
CGE -
Crónica Geral de Espanha
CIPM -
Corpus Informatizado do Português Medieval
cl. -
clássico
Cod. -
códice
corresp. -
correspondente
d.C. -
depois de Cristo (Era Comum)
DM -
De Magia
fól.; fol. - fólio
JE -
Jewish Encyclopedia
lat. -
lat. - latim
MK -
Moed Katan (em aramaico O tempo pequeno)
Ms.; ms. -
manuscrito
N. -
número
Ned. -
Nedarim (em aramaico Votos ou Promessas)
Or. -
oriental
p.; pág. -
página
part. pas. -
particípio passado
PE
português europeu
port. -
português
r -
recto
RAE -
Real Academia Española
séc. -
século
v -
verso
V -
vogal
vol. -
volume
VPM -
Vocabulário do Português Medieval
[ ] -
alofone
/ -
limite de linha
/ / - fonema
< -
originado de
> -
deu origem a
< > -
grafema, na tese; inserção por conjectura, na transcrição do manuscrito
* -
forma reconstituída, hipotética
~ -
varia com
ILUSTRAÇÕES - QUADROS E FIGURAS
FIGURAS
Figura 1 - Brasão do Arcebispo Laud .......................................................................... 27
Figura 2 - Desenho presente no fólio iv........................................................................ 29
Figura 3 - Filigrana do Ms. Laud Or. 282..................................................................... 33
Anexos
Figuras 4a e 4b - Fac-símile da transcrição de González Llubera (1952) ................... 304
Figura 5 - Fac-símile da transcrição de Strolovitch (2000) ......................................... 305
Figura 6 - Capa de frente em couro do Ms. Laud Or. 282 ........................................... 306
Figura 7 - Interior da capa de frente e fólio ir em pergaminho do Ms. Laud Or. 282 . 307
Figura 8 - Fólios iv-iir do Ms. Laud Or. 282 ............................................................... 308
Figura 9 - Fólios iiv - iiir do Ms. Laud Or. 282 .......................................................... 309
Figura 10 - Fólios iiiv-ivr do Ms. Laud Or. 282 .......................................................... 310
Figura 11 - Fólios ivv - vr do Ms. Laud Or. 282 ......................................................... 311
Figura 12 - Fólios vv e 1r do Ms. Laud Or. 282 .......................................................... 312
Figura 13 - Fólios 84v e 85r do Ms. Laud Or. 282 ...................................................... 313
Figura 14 - Fólios 416v e 417r do Ms. Laud Or. 282 .................................................. 314
Figura 15 - Fólios 417v e 418r do Ms. Laud Or. 282 .................................................. 315
Figura 16 - Fólios 418v e 419r do Ms. Laud Or. 282 .................................................. 316
Figura 17 - Fólios 419v, 420 (cortado) e 421r do Ms. Laud Or. 282 .......................... 317
Figura 18 - Interior da capa de trás e fólio 421v do Ms. Laud Or. 282 ....................... 318
Figura 19 - Capa de trás em couro do Ms. Laud Or. 282 ............................................ 319
Figura 20 - Fólio 1r do
Ms. Laud Or. 310 ................................................................... 320
Figura 21 - Fólios 183r e 182v do Ms. Laud Or. 310 .................................................. 321
Figura 22 - Fólios 242r e 243v do Ms. Laud Or. 310 .................................................. 322
Figura 23 - Fólio 1v do Códice 5-2-32 da Biblioteca Colombina ............................... 323
QUADROS
Quadro 1 -
Grafemas simples ............................................................................................. Encarte
Quadro 2 -
Nexo .................................................................................................................. Encarte
Quadro 3 -
Dígrafos e trígrafos ........................................................................................... Encarte
Quadro 4 -
Numerais ........................................................................................................... 49
Quadro 5 -
Grafemas que representam exclusivamente numerais ...................................... 50
Quadro 6 - Obras citadas para a datação da linguagem ...................................................... 59
Quadro 7 - Vogal temática do particípio passado dos verbos da 2ª conjugação ................. 59
Quadro 8 - Pronomes possessivos minha, tua, sua ............................................................. 60
Quadro 9 - Síntese sobre a datação da linguagem do De Magia ........................................ 61
Quadro 10 - Recursos utilizados para a transcrição .............................................................. 87
Quadro 11 - Evolução de /b/, /v/ e /ß/ no português ............................................................. 261
Quadro 12 -
Representações grafemáticas dos sons derivados de [u̯-] latino .......................
265
Quadro 13 -
Vocábulos em variação iniciados por grafemas derivados de [u̯-] latino .........
266
Quadro 14 -
Vocábulos com bet inicial categórico derivado de [u̯-] latino .........................
266
Quadro 15 -
Vocábulos com vet inicial categórico derivados de [u̯-] latino ........................
267
Quadro 16 -
Vocábulos com vav inicial categórico derivados de [u̯-] latino ........................
267
Quadro 17 -
Representações grafemáticas dos sons derivados de [-u̯-] latino .....................
269
Quadro 18 -
Vocábulos em variação iniciados por grafema derivados de [-u̯
-] latino ........
269
Quadro 19 -
Vocábulos com bet medial categórico derivado de [-u̯-] latino .......................
271
Quadro 20 -
Vocábulos com vet medial categórico derivados de [-u̯-] latino ......................
271
Quadro 21 -
Vocábulos com vav medial categórico derivados de [-u̯-] latino .....................
272
Quadro 22 - Representações grafemáticas dos sons derivados de [b-] latino ....................... 273
Quadro 23 - Vocábulos com bet inicial categórico derivado de [b-] latino ......................... 273
Quadro 24 - Vocábulos em variação iniciados por grafemas derivados de [b-] latino ......... 274
Quadro 25 - Representações grafemáticas dos sons derivados de V[-b-]V latino ................ 275
Quadro 26 - Vocábulos com bet inicial categórico derivados de V[-b-]V latino ................. 275
Quadro 27 - Vocábulos com vet inicial categórico derivado de V[-b-]V latino .................. 276
Quadro 28 - Vocábulos em variação iniciados por grafemas derivados de V[b]V latino .... 276
Quadro 29 - Vocábulos com bet inicial categórico derivado de C[-b-] latino ...................... 278
Quadro 30 - Representações grafemáticas dos sons derivados de [-b-]r latino .................... 279
Quadro 31 - Representações grafemáticas dos sons derivados de V[-p-]V latino ................ 279
Quadro 32 - Vocábulos com bet inicial categórico derivado de V[-p-]V latino .................. 280
Quadro 33 - Vocábulos em variação iniciados por grafemas derivados de V[-p-]V ............ 281
Quadro 34 -
Representações grafemáticas dos sons derivados de [-f-] latino ...................... 282
Quadro 35 - Vocábulos em variação iniciados por grafemas derivados de [-f-] latino ....... 282
Quadro 36 - Comparação entre o português aljamiado e o não-aljamiado ........................... 283
SUMÁRIO
Introdução .......................................................................................................................... 14
1 Descrição do códice Laud Or. 282 da Bodleian Library
1.1 Astrologia e Judaísmo na Idade Média .............................................................. 18
1.2 De Magia: a obra e sua tradição textual ............................................................. 21
1.3 Identificação e descrições prévias ...................................................................... 24
1.4 Descrição codicológica ...................................................................................... 25
1.4.1 Suporte material ................................................................................................. 26
1.4.2 Cadernos ............................................................................................................. 32
1.4.3 Foliação .............................................................................................................. 32
1.4.4 Filigranas ............................................................................................................ 32
1.4.5 Ilustrações ........................................................................................................... 33
1.5 Autoria da cópia ................................................................................................. 33
1.6 Escrita ................................................................................................................. 42
1.6.1 Classificação........................................................................................................ 45
1.6.2 Aspectos paleográficos ....................................................................................... 46
1.6.2.1 Grafemas ............................................................................................................ 47
1.6.2.2 Abreviaturas ....................................................................................................... 47
1.6.2.3 Sinais diacríticos ................................................................................................ 47
1.6.2.4 Sinais de valor numérico .................................................................................... 48
1.6.2.5 Sinais de pontuação ............................................................................................ 50
1.6.2.6 Separação intra e intervocabular ........................................................................ 50
1.6.2.7 Gerenciamento de linha ...................................................................................... 50
1.6.2.8 Sinais de correção e anulação ............................................................................. 53
1.6.2.9 Rubricação e decoração ...................................................................................... 53
1.6.2.10 Reclamos ............................................................................................................ 54
1.6.2.11 Notas marginais e interpolações dos leitores do De Magia ............................... 54
1.7 História do códice ............................................................................................... 56
1.8 Datação do códice .............................................................................................. 57
1.9 Datação da linguagem do texto .......................................................................... 58
1.9.1 Vogal temática do particípio passado dos verbos da 2ª conjugação .................. 59
1.9.2 Pronomes possessivos minha, tua, sua ............................................................... 60
1.9.3 Conjugações ca, pois e variantes ........................................................................ 60
1.10 Conteúdo ............................................................................................................ 61
2 A representação grafemática do De Magia
2.1 O hebraico .......................................................................................................... 64
2.2 A aljamia ............................................................................................................ 66
2.3 Grafemas simples ............................................................................................... 69
2.3.1 Grafemas que representam vogais ..................................................................... 70
2.3.1.1 Álef ..................................................................................................................... 70
2.3.1.2 Hei ...................................................................................................................... 71
2.3.1.2 Vav vocálico ....................................................................................................... 71
2.3.1.4 Yud simples ........................................................................................................ 72
2.3.2 Grafemas que representam consoantes .............................................................. 72
2.3.2.1 Bet ...................................................................................................................... 72
2.3.2.2 Bet com diacrítico (Vet) ..................................................................................... 73
2.3.2.3 Guímel ................................................................................................................ 73
2.3.2.4 Guímel com diacrítico ........................................................................................ 74
2.3.2.5 Dálet .................................................................................................................. 74
2.3.2.6 Dálet com diacrítico .......................................................................................... 75
2.3.2.7 Vav consonantal ................................................................................................. 75
2.3.2.8 Zain .................................................................................................................... 75
2.3.2.9 Het com diacrítico .............................................................................................. 75
2.3.2.10 Tet ...................................................................................................................... 75
2.3.2.11 Kaf com diacrítico .............................................................................................. 76
2.3.2.12 Lámed ................................................................................................................ 76
2.3.2.13 Mem ................................................................................................................... 76
2.3.2.14 Nun e nun final ................................................................................................... 76
2.3.2.15 Samech ............................................................................................................... 77
2.3.2.16 Ain ...................................................................................................................... 77
2.3.2.17 Pei ...................................................................................................................... 77
2.3.2.18 Pei com diacrítico (Fei) ..................................................................................... 78
2.3.2.19 Tsadik ................................................................................................................. 78
2.3.2.20 Kuf ...................................................................................................................... 78
2.3.2.21 Resh .................................................................................................................... 79
2.3.2.22 Sin ...................................................................................................................... 79
2.4 Álef e lámed em nexo ......................................................................................... 80
2.5 Dígrafos e trígrafos ............................................................................................ 80
2.5.1 Yud duplo ........................................................................................................... 80
2.5.2 Lámed seguido de yud duplo ............................................................................. 81
2.5.3 Nun seguido de yud duplo .................................................................................. 81
2.5.4 Álef e lámed em nexo seguido de yud duplo ...................................................... 82
3 Edição do De Magia
3.1 A escolha do tipo de edição ................................................................................ 83
3.2 Normas de transcrição adotadas ......................................................................... 84
3.3 Texto da edição paleográfica .............................................................................. 87
4 Estudo lingüístico: análise comparativa entre bet, vet e vav
4.1 [b] e [
u̯] no latim vulgar ..................................................................................... 256
4.1.1 [b] ....................................................................................................................... 256
4.1.2 [
u̯] ....................................................................................................................... 257
4.2 [b] e [v] no português arcaico ............................................................................ 258
4.2.1 [b] ....................................................................................................................... 258
4.2.2 [v] ....................................................................................................................... 259
4.2.3 Evolução dos valores fônicos dos grafemas <b> e <v> no português ............... 260
4.3 Análise de vav, bet e vet ..................................................................................... 262
4.3.1
[u̯-] latino ...........................................................................................................
264
4.3.2
[-u̯-] latino ..........................................................................................................
269
4.3.3 [b-] latino ........................................................................................................... 273
4.3.4 V[-b-]V latino .................................................................................................... 274
4.3.5 C[-b-] latino ....................................................................................................... 278
4.3.6 [-bb-] latino ........................................................................................................ 278
4.3.7 [-b-]r latino ......................................................................................................... 278
4.3.8 V[-p-]V latino .................................................................................................... 279
4.3.9 [-f-] latino ........................................................................................................... 281
4.4 Considerações finais .......................................................................................... 283
Conclusão .......................................................................................................................... 285
Referências ........................................................................................................................ 287
Apêndice
1 Adebdar e adebdamento ........................................................................................ 292
2 Transcrição dos três primeiros fólios do códice 5-2-32 da Biblioteca Colombina 293
3 Transcrição do fólio 416 do De Magia, contendo colofão .................................... 295
4 Transcrição dos três primeiros fólios do Ms. Laud Or. 310 .................................. 296
Anexos ................................................................................................................................ 304
14
INTRODUÇÃO
A presente pesquisa é constituída de duas partes interligadas:
i) a edição paleográfica dos 84 fólios iniciais do texto inédito em português arcaico,
em caracteres hebraicos, De Magia, manuscrito encontrado na Bodleian Library, Oxford,
Inglaterra, notação Ms. Laud Or. 282. Para a apresentação desta edição, propõe-se,
principalmente, a transcrição dos caracteres hebraicos para os latinos, a partir da criação de
um corpo de normas. Uma pesquisa complementar sobre sua tradição e uma descrição
codicológica e paleográfica do manuscrito também são apresentadas, servindo como suporte
para a transcrição. Ademais, será feita uma análise da escrita do texto sob o ponto de vista da
grafemática, em que se analisa detalhadamente a relação entre os grafemas, verificando as
conseqüências do uso de um alfabeto semítico para a expressão do português arcaico, língua
românica. A escolha de se analisarem apenas os 84 primeiros fólios se deve ao fato de haver
mudança de punho a partir do fólio 85r, o que implicaria em diferentes estudos codicológicos,
paleográficos e grafemáticos.
ii) a análise comparativa entre os grafemas bet, vet e vav, para a identificação das suas
representações fônicas. Ao se fazer a transcrição do De Magia, observa-se a existência de três
grafemas equivalentes a apenas dois grafemas em um texto não aljamiado.
Conseqüentemente, impôs-se saber quais seriam as representações fônicas dos grafemas bet,
transcrito como <b>, vet, transcrito como <ß>, e vav, transcrito como <v> do texto
aljamiado. A hipótese proposta é de que, se há três grafemas na aljamia, então há três sons no
português coetâneo ao texto: bet seria a representação grafemática de [b]; vav seria a
representação grafemática de [v]; vet seria a representação grafemática de [ß].
A realização desses estudos se justifica por várias razões. Os manuscritos medievais
judaicos, devido às circunstâncias históricas que espalharam as comunidades judaicas por
toda a bacia do Mediterrâneo e mesmo além dela, foram colocados em contato com culturas,
sociedades e tradições diversificadas. “As a result, Hebrew manuscripts are cross-cultural
agents and significant artifacts for studying the history of handwritten book in all other
civilizations around the Mediterranean, predominantly those of Islam and Christianity.”
1
1
Tradução nossa: “Como resultado, os manuscritos hebraicos são agentes transculturais e artefatos significativos
para o estudo da história do livro manuscrito em todas as civilizações do Mediterrâneo, principalmente as
islâmicas e as cristãs.”
15
(BEIT-ARIÉ, 2003, p.14). Ao se compreender um manuscrito hebraico, como o De Magia,
entende-se também a história dos manuscritos de um modo geral.
Além do mais, o conteúdo do De Magia oferece informações tanto aos Estudos
Judaicos, quanto à História, Sociologia, Astrologia, Geografia e Medicina, pois a obra
abrange temas relacionados a todas essas áreas. Como afirma Carvalho (1949:128), o Ms.
Laud Or. 282 “É um dos textos que desejaríamos publicar (ou ver publicado), pelo subsídio
que prestará à história dos conhecimentos científicos da grande geração dos ‘altos Infantes’ ”.
Ao se abrir qualquer obra relativa à lingüística histórica portuguesa, nota-se que os
textos aljamiados são literalmente ignorados, sendo os textos de Lopes (1897) e Teyssier
(1977) exceções. Hegyi (1981) também cita as aljamias portuguesas, mas sem entrar em
detalhes de interesse a este estudo. Mesmo assim, tratam de textos em caracteres árabes e em
língua portuguesa. Apenas Strolovitch (2000) estuda especificamente as aljamias em
caracteres hebraicos e língua portuguesa. Esse mesmo autor publicou também sua tese de
doutorado Portuguese language, Hebrew script: convention, contact and convivência (2005),
que inclui a transcrição dos 27 primeiros fólios do De Magia. No entanto, os critérios do autor
não estão explicitados, além de serem difíceis de serem inferidos.
Na medida em que se quer sanar estes pontos fracos dos estudos lingüísticos, esse
trabalho de edição e estudo da escrita do De Magia se justifica.
Os estudos relativos às línguas judaicas - e o De Magia é aqui definido como um texto
em língua judaica lato sensu - no Brasil, especificamente, mantiveram-se extremamente
restritos até os dias de hoje. Há grupos de Estudos Judaicos em Minas Gerais (UFMG), São
Paulo (USP) e no Rio de Janeiro (UERJ e UFRJ), que tratam dos vários aspectos do judaísmo
(Literatura, História, Sociologia, etc.). Mais recentemente, a partir de 1996, pesquisadores da
UFMG, encabeçados por Maria Antonieta Cohen, desenvolveram pesquisas relacionadas às
línguas judaicas
2
.
No De Magia, os elementos fônicos do português arcaico são representados por sinais
distintos dos empregados na escrita latina. Isso pode ser uma desvantagem em alguns aspectos
– regras para uma língua semítica misturam-se com regras para uma língua românica, as
normas de transcrição acabam se tornando bem mais complexas –, mas, por outro lado, e esta
é a hipótese central do Capítulo 4, a compreensão da representação gráfica da aljamia pode
2
O estudo pioneiro foi a pesquisa de Iniciação Científica da autora desta tese sobre o judeu-espanhol na cidade
de Belo Horizonte, em 1996 (COHEN; GUIMARÃES; MENACHE, 1998). Após essa pesquisa, houve uma tese
de Doutorado (GUIMARÃES, 1998), duas dissertações de Mestrado (GUIMARÃES, 2000 e SCHEINBEIN,
2006) e mais uma Iniciação Científica em 2001 que trataram de línguas judaicas.
16
oferecer importantes contribuições para os estudos fônicos e ortográficos do português
arcaico, muitas vezes obscurecidos pelo sistema de escrita latina. Teyssier (1997, p.60), por
exemplo, em relação à evolução do sistema de sibilantes, verificou que, ao contrário do
sistema latino tradicional, “nos textos aljamiados escritos no Marrocos em 1517 a
transposição das palavras portuguesas em grafia árabe não deixa transparecer nenhuma
confusão entre as duas séries [de sibilantes].”
Finalizando, estudar um texto de judeus portugueses preencheria a distância que há
entre a quantidade de estudos sobre os judeus espanhóis. Metzger (1977, p.3) tenta entender:
La vie juive fut aussi ancienne et aussi continue quen Espagne; les communautés y
prospérèrent et y souffrirent de la même façon. Les penseurs, les savants, les
hommes politiques les illustrèrent et les fidèles pieux en maintinrent les structures
comme en Espagne. La demande en copies bibliques, en livres de prières et en
ouvrages d‘éthique, de mystique, em traités juridiques, etc., devait s
y faire sortir
comme em Espagne. Pourquoi ne reste-t-il donc par comparaison avec les
manuscripts d‘origine espagnole assurée, qu’un nombre si restreint de manuscripts
copiés sûrement au Portugal? On en connaît en effet seulement vingt-trois (...)
3
A autora não consegue achar uma resposta satisfatória para a pergunta proposta, mas sugere
que a raridade dos documentos conservados – não é demais lembrar que, em 1496, o Rei
Manuel mandou destruir todos os livros hebraicos do reino (KAYSERLING, 1971, p.114) –
poderia explicar a falta de estudos sobre os manuscritos portugueses. Os judeus portugueses
são praticamente ignorados, e essa pesquisa sanaria essa lacuna nos Estudos Judaicos como
um todo, mesmo não sendo prioridade da tese.
Em síntese, a pesquisa teve como objetivos gerais: (a) Edição paleográfica do De
Magia, texto português da primeira metade do século XV, tendo como público-alvo o
lingüista diacronista desconhecedor do alfabeto hebraico (lingüistas em geral, historiadores,
sociólogos, antropólogos, astrólogos, entre outros, também se beneficiarão do estudo como
um todo); (b) Compreensão e análise das características da língua portuguesa do De Magia e
das suas idiossincrasias decorrentes da aljamia para que, através de um sistema gráfico
diferente do usual, se possa caracterizar melhor, futuramente, fenômenos grafemáticos e
fônicos do português arcaico, aumentando-se o escopo da variação e podendo-se até mesmo
chegar a variantes ainda desconhecidas.
3
Tradução nossa: [Em Portugal] “a vida judaica foi tão antiga e tão contínua quanto na Espanha; as
comunidades ali prosperaram e sofreram do mesmo modo. Os pensadores, os sábios, os políticos as ilustraram os
piedosos fiéis mantiveram suas estruturas como na Espanha. A demanda por cópias bíblicas, por livros de
orações, por obras de ética e de mística e por tratados judicos, etc., deveria acontecer como na Espanha. Então,
por que há um número tão restrito de manuscritos copiados seguramente em Portugal, em comparação com os
manuscritos seguramente escritos na Espanha? Conhecemos, na verdade, apenas 23 deles (...).”
17
Os objetivos específicos, em relação à edição paleográfica são: (1) desenvolvimento
de critérios de transcrição dos caracteres hebraicos para os latinos; (2) análise dos encontros
vocálicos; (3) análise dos grafemas da aljamia sem correspondência direta e inequívoca com
os grafemas latinos; (4) compreensão dos processos de representação dos grafemas do
português arcaico a partir do paradigma da aljamia. Em relação ao estudo lingüístico em si:
(1) análise dos grafemas bet, vet e vav; (2) levantamento dos estudos relativos a [b, v, ß] do
latim vulgar e do português arcaico e (3) estudo do bet, vet e vav do português arcaico
aljamiado.
Assim, no primeiro capítulo, são feitas as análises codicológica e paleográfica do
manuscrito. No segundo, as vogais e as consoantes do testemunho são analisadas sob o
aspecto grafemático. No terceiro capítulo, é apresentada a edição paleográfica do texto,
antecedida de seu corpo de normas. O capítulo final compreende o estudo dos grafemas bet,
vet e vav.
18
1 DESCRIÇÃO DO CÓDICE LAUD OR. 282 DA BODLEIAN LIBRARY
1.1 ASTROLOGIA E JUDAÍSMO NA IDADE MÉDIA
O objeto de estudo desta tese, o guia astrológico De Magia, insere-se no contexto
cultural esboçado a seguir.
O interesse em desvelar as mensagens dos astros está presente em vários manuscritos
medievais. Esses textos astrológicos são compostos por ferramentas e princípios da
Astrologia, quadros e textos relativos à influência e à natureza dos planetas, assim como
horóscopos, isto é, mapas dos céus que fornecem respostas a problemas dos mais variados
tipos. Ao contrário da Astrologia atual, a medieval permeava vários níveis da sociedade,
fazendo parte da visão de mundo dos indivíduos: previsões, tipos de personalidade, destinos
individuais, amor, poder, negócios, teoria cosmológica, alquimia, agricultura e medicina
(PAGE, 2002, p.5).
Na Idade Média, a Astrologia e a Astronomia chegam da Grécia ao Ocidente de forma
fragmentada, através de textos tecnicamente pouco refinados e sempre condenados pela Igreja
católica, conforme Page (2002). No Oriente, a Astrologia grega foi transmitida ao mundo
árabe, chegando, através dele, à Península Ibérica, por volta do final do século X. No século
XII, a Astrologia adquire grande ímpeto com a redescoberta e tradução para o latim, do grego,
de textos preservados pelos árabes e de textos árabes relacionados a ela, e também à
Astronomia e à Filosofia. Segundo Page (2002, p.9),
Scholars from across Europe travelled to centres in Spain, Sicily and the Middle
East where – often in collaboration with Jews – they translated works from Arabic
into Latin and returned home in possession of a body of scientific knowledge which
included astrological, alchemical and magical texts
4
(Grifo nosso).
Em muitas cortes da Europa Medieval, os governantes recebiam aconselhamento
astrológico de médicos e membros da corte. Apesar de regularmente condenada pelos
teólogos, o uso freqüente da Astrologia pode ser evidenciado por vários manuscritos
medievais que chegaram até os dias de hoje.
A arte da Astrologia era dividida em duas partes principais: a mundana (também
chamada de geral ou natural) e a judicial. A primeira concernia às influências celestes sobre
4
Tradução nossa: “Acadêmicos de toda a Europa viajaram para centros na Espanha, Sicília e no Oriente Médio
onde – geralmente em colaboração com judeus – traduziram trabalhos do árabe para o latim e voltaram para
casa de posse de um conhecimento científico que incluía textos astrológicos, mágicos e relacionados à alquimia.”
19
os fenômenos naturais, tais como o tempo e a previsão de acontecimentos em geral. A
segunda preocupava-se com a vida do indivíduo e o momento certo para realizar alguma ação,
vista com suspeita pela Igreja católica e pelo Judaísmo tradicional, já que poderia ameaçar o
conceito de livre arbítrio da divina providência de Deus. Uma resposta comum a essa crítica,
por parte dos astrólogos, era a de que a Astrologia preparava os seres humanos para eventuais
desastres, dimimuindo seu impacto. Ademais, apenas os corpos, paixões e multidões eram
regidos pelas estrelas, e não a razão, as almas e o livre arbítrio dos indivíduos. Segundo Page
(2002, p.49), é difícil saber o quão abrangente era a disseminação das idéias astrológicas. O
hábito usual de leitura em voz alta teria aumentado a transmissão das crenças e práticas
astrológicas, mas o mais provável é que a prática da medicina astrológica tenha sido a forma
mais comum de exposição a essa área do conhecimento.
Ao longo de toda a Idade Média, a Astrologia foi praticada pelos judeus, tanto
profissional quanto cientificamente. De acordo com a Encyclopaedia Judaica (1971, v. 3,
p.787-807), a Astrologia não é mencionada explicitamente na Bíblia, mas os profetas tinham
consciência das práticas dos “observadores de estrelas”. Vários textos judaicos criticam a
crença dos judeus na Astrologia, afirmando que se trata de uma ilusão (Os Oráculos sibilinos,
o primeiro Livro de Enoch, o Livro dos Jubileus). Maimônides
5
também rejeitava a
Astrologia, referindo-se às crenças astrológicas como superstições vãs e indignas de serem
chamadas de ciência, mesmo que o Talmud
6
e os Textos Midráshicos
7
indiquem a influência
das estrelas sobre os seres humanos: apesar do prestígio de Maimônides, suas palavras não
influenciaram todos os escritores subseqüentes a ele.
Condenada, acreditava-se, no entanto, que a Astrologia tinha origem celestial, tendo
sido revelada à Humanidade por anjos rebeldes. A maioria dos sábios talmúdicos acreditava
no papel decisivo dos corpos celestiais na determinação dos eventos humanos, no mundo
sublunar. Em vários pontos do Talmud, afirma-se que todo ser humano tem um corpo celestial
(mazzal), em especial uma estrela-guia da concepção e do nascimento (Shabat, 53b; BK 2b).
“Not only human beings are influenced by the stars; but there is not a blade of grass that has
5
Moises Ben Maimon (1135-1204) foi uma autoridade rabínica de grande prestígio para os judeus (BEL
BRAVO, 1995).
6
Um dos livros básicos da religião judaica (séc. III-IV), que contém a lei oral, a doutrina, a moral e as tradições
(ROSENBERG, 1992).
7
Gênero da literatura rabínica constituído por uma antologia e uma compilação de homilias.
20
not its star in the heavens to strike it and say to it: grow!”
8
(Ned. 39b; BM 30b), conforme a
Encyclopaedia Judaica (1971, v; 3, p.789).
A divisão do zodíaco
9
em doze é mencionada no Judaísmo no antigo texto Sefer
Yetsirah
10
, no qual as constelações correspondem aos signos do zodíaco e aos doze meses do
ano. Os signos eram designados, também, de acordo com certas partes do corpo e as doze
constelações representariam as doze tribos judaicas.
Pode-se encontrar uma descrição detalhada da influência dos planetas e das
constelações em obras judaicas (no Tsedah la Derek de Menahem ibn Zerah e no ‘Abbi‘ah
Hidot de Abraham Hamawi). No entanto, conforme a Encyclopaedia Judaica (1971, v.16,
p.689), entende-se que
the righteous Jew is above the “mazzal” (constelation or planet) and need not fear
any evil fate. In support of this teaching the passage “be not dismayed at the signs of
heaven; for the heathen are dismayed at them” (Jeremias, x, 2) is frequently quoted
and it is contrary to the Jewish religion to consult the predictions of astrologers or to
depend on them
11
(Deuteronômio, xviii, 11).
A crença de sábios como R. Akiva, R. Johanan, Mar Samuel, Rav Nahman b. Isaac de
que os judeus seriam imunes às influências planetárias pode justificar o fato de o zodíaco não
ser mencionado no Talmud (EJ, 1971, v. 16, p.1491). Na verdade, os sábios não tinham uma
opinião consensual e tem-se um problema teológico e religioso que não cabe ser resolvido
aqui
12
. Rava, por exemplo, afirmava que “Life, children and sustenance – these things depend
not on merit, but on stars”
13
(MK 28a), conforme Encyclopaedia Judaica (1971, v. 3, p. 790).
Já o Zohar
14
leva a Astrologia em consideração, empregando imagens e terminologia
astrológica. De um modo geral, no entanto, o sistema cabalístico do Zohar não dá
importância às crenças astrológicas.
8
Tradução nossa: “Não somente os seres humanos são influenciados pelas estrelas; mas não há uma única folha
de grama que não tenha sua estrela nos céus para influenciá-la e dizer-lhe: cresça!”
9
Zona imaginária celestial que contém os doze signos, que serve de caminho para os planetas principais e
através do qual o sol passa anualmente.
10
Livro da Formação: tratado rabínico, escrito em aproximadamente 200 d.C., sobre filosofia cabalística.
11
Tradução nossa: “O judeu justo está acima da sina (constelação ou planeta) e não precisa de temer nenhum
destino ruim. Para legitimar esse ensinamento, o trecho “não se desanime com os signos dos céus; porque o
descrente se enfraquece diante deles” (Jer. x. 2) é geralmente citado, sendo contrário à religião judaica consultar
as predições dos astrólogos ou de depender deles.”
12
Dan (1986) apresenta uma discussão instigante sobre Astrologia, misticismo e Ética judaicas, que foge,
entretanto, aos objetivos da tese.
13
Tradução nossa: “A vida, as crianças e a subsistência – estas coisas não dependem do mérito, mas das estrelas.
14
Livro do esplendor, em hebraico. Texto principal da literatura cabalística, composto por vários livros/seções
que incluem pequenas afirmações midráshicas, longas homilias e discussões sobre assuntos variados.”
21
1.2 DE MAGIA: A OBRA E SUA TRADIÇÃO TEXTUAL
Conforme Levi (1995, p.131), no século XI, até 1062, o muçulmano Abenragel
escreveu em árabe um trabalho astrológico em oito volumes, intitulado O excelente livro
completo sobre os decretos das estrelas, que tem hoje três exemplares: uma cópia é parte do
Código do rei Tipu-Sahib, a outra se encontra no Museu Britânico e a terceira, incompleta, no
Escorial (Cod. Escorial 918).
Em 1254, a mando de Afonso X (1252-1284), começa-se a tradução dessa obra em
castelhano
15
. Ela foi redigida por Yehuda b. Moseh Ha-Kohen e outros tradutores, com o
título de Libro conplido de los juizios de las estrellas. A tradução em castelhano conservou-se
em quatro manuscritos:
uma cópia na Biblioteca Vaticana (Codice Urbinate 510)
outra na Biblioteca Nacional de Madrid (códice 3065), datada do século XIII, editada
por Gerold Hilty em 1954 (HILTY, 1954) e composta de cinco partes apenas, faltando
as três últimas.
uma terceira na Bilioteca de Santa Cruz de Valladolid (ms. 253)
uma quarta no Arquivo da catedral de Segóvia (ms. 115)
Tendo o castelhano como base, a obra foi traduzida depois duas vezes para o latim. As
versões em latim foram feitas, uma, por um certo Alvarus e, a outra, por Egidius de Thebaldis
e Petrus de Regio, sob o título Praeclarissimus liber magnus et completus in judiciis
astrorum, quem edit Albohazen Haly filius Abenragel. Ambas as cópias se encontram na
Biblioteca do Escorial em Madrid (LEVI, 1995, p.132-133).
Da tradução latina, derivaram várias versões, dentre elas:
alemão (essa edição foi impressa por Erharrd Ratdolt e seu colofão apresenta o nome
de Bartolomeum de Alten de Nusia, germanum (LEVI, 1995, p.137).)
catalão - perdida
francês - perdida
hebraico: há duas traduções. Da primeira tradução, traduzida por Salomão Doyen,
temos dois exemplares: (i) Cod. 187 do Catálogo Kraft e Deutsch, em Viena. (ii) Cod.
1067, em Paris. Da segunda versão, de 1498, há apenas um exemplar (Cod. ebr.
Bodleiano 452), traduzido por Ishaq ben Samuel Abu’l Khair.
15
Roth (2006) sustenta que Escola de Tradutores de Afonso X nunca existiu e a atividade de tradução acontecia
por toda a Espanha.
22
holandês
Versão que se encontra na Bodleian Library, em mau estado de conservação ( O autor
não indica a notação).
inglês
Versão que se encontra na Bodleian Library, em mau estado de conservação (O autor
não indica a notação).
Levi (1995, p.137 e nota 101) também afirma que:
Do Libro conplido existem hoje duas versões em português, inéditas, ambas escritas
em caracteres hebraicos. Apesar de ser ambos completos, os MSS. não contêm a
obra inteira - isto é, livros I-VIII - porém só os livros IV-VIII. Esses códigos estão
preservados actualmente na Bodleian Library, em Oxónia, em dois volumes, o
primeiro composto por 416 e o segundo por 242 fólios. MS. Laud Or. 282 e MS.
Laud Or. 310 respectivamente.
O mesmo autor (LEVI, 1995, p.150) garante que o ms. 282 e o ms. 310 são cópias da mesma
versão em português, a partir do mesmo texto-fonte. Ademais, não contêm a obra inteira, mas
apenas os livros IV a VIII.
No entanto, não se pode concordar com Levi (1995):
(i) ao lermos os fólios 1v e 2r do ms. 282, vemos uma enumeração, com o verbo no
presente, do que será tratado nas partes do De Magia, começando pela parte I. Ora, não parece
lógico fazer-se isso na parte IV.
(ii) ao compararmos os fólios obtidos do ms. 310 (seus três primeiros se encontram
transcritos no Apêndice) com o ms. 282, não vemos semelhança de conteúdo entre eles. No
ms. 310 (1r-17 a 21), afirma-se que a primeira parte apresenta um conteúdo sem
correlação com o do ms. 282
16
:
O C<A>PITULO primeyro f<a>la na criança · e digo en este
c<a>pitulo / e en os outros c<a>pitulos deste libro as c<o>sas que
no(n) / son espldeneyds enos lib(r)os antigos e son dit<a>s por
sinaaes e encoberta / mente e lhe suas cous<a>s pldinhas e a(s) que
son p<a>recid<a>s enos libros desta / ciancią (Ms. 310)
De Magia (1v-20 a 31):
ena parte pr(im)eyra trotarey quantos son os / ceos e que ay
estrel<a>s e as propedades dos signos · e dos termi<<os>> / e dos
grados que son ena es(f)era estrelada · e das estrelas fis / as grandes
que son ena es(f)era out<a>ba que e ą es(f)era estrelada / e as
propedades das pr<a>netas e das cas<a>s e das conjunçoes e / dos
espeytos e das trasmudaçoes e dos recebimentos e dos{{c}} /
rips{{t}}es delas · e das partes que son s<a>cadas por elas · e das /
16
Sempre que for feita a citação de uma transcrição, ela virá em fonte 12, espaço simples, em itálico e margem
esquerda de 4cm.
23
propedades das estrelas nobas que parecen alguas vezes e das
com<e>ta<<s>> / e das cintildaçoes e dos arcos que parecen en da
redor dos lumeares / e sobre tera · e das propedades das crimas que
son enos sitos da / tera · e o que adebdan c<a>dą uą praneta en cada
signo <<e>> en cada c / casa · e os juizos geeraaes e as p<a>laßras
e as proßas dos / sabyos : (Ms. 282)
Hilty (1982, p.233) afirma que as versões latinas e as demais acima citadas não
derivam da espanhola. Apenas uma das portuguesas, o Ms. Laud Or. 310, derivaria dessa
versão. Esta tradução teria sido feita em 1411 e o tradutor “tinha diante de si uma versão
espanhola do Livro cunplido escrita em caracteres latinos, que traduziu para o português
directamente e por escrito” (HILTY, 1982, p.249). Ademais, Hilty (1982) não correlaciona o
ms. 310 com 282 em nenhum momento do seu texto. Tende-se a crer em G. Hilty e duvidar de
A. J. Levi.
O Manuscrito Laud Or. 310 foi analisado pela autora da presente tese na sua consulta
à Bodleian Libary, além de terem sido adquiridas as fotos digitais dos cinco primeiros e dos
cinco últimos fólios, incluindo as capas, como se pode ver no Apêndice. Efetivamente, a
semelhança entre o ms. 282 e o 310 sob os aspectos paleográficos e codicológicos é muito
impressionante. Também o primeiro punho do De Magia, até o fólio 84v, se não for o mesmo
punho do ms. 310, é muito semelhante a ele. O ms. 310 é menor do que o ms. 282,
apresentando apenas 248 fólios (ao contrário dos 416 fólios do De Magia). Devido à
semelhança citada, fica a dúvida: o ms. 282 teria parentesco com o ms. 310?
Os dados de Sá (1960) não são compatíveis com os de Levi (1995). O De Magia seria
uma tradução do século XV de uma cópia do Lybro de Magyka, este último possivelmente
em catalão, do qual se desconhece o paradeiro. Sá (1960) afirma que a Biblioteca Colombina
(Sevilha, Espanha) possui uma tradução em castelhano, do século XV, de uma parte do Lybro
de magyka de João Gil, sob a notação 5-2-32, descrita no Registrorum librorum don
Ferdinandi Colon como
N. 4162 O. 935 – Juan Gil en astronomia tercera parte en lengua castellana y de
mano. In la parte tercera del libro de Juan Gil. D. al padre y a la madre. Esta en
quarto enquadernado em pergamino con otras obras. Costo asi enquadernado en
Sevilla por Junio año de 1527 Real y medio (SÁ, 1960, p.569).
Esta parte em castelhano que se encontra na Biblioteca Colombina, já adquirida pela autora da
tese, e cuja transcrição dos três primeiros fólios se encontra no Apêndice 2, refere-se a uma
seção sem paralelo à selecionada para esta edição e não pôde ser utilizada para comparação.
24
No entanto, após a leitura das três primeiras linhas, pode-se inferir que o ms. 282 e o ms. 5-2-
32 apresentam o mesmo conteúdo e poderiam ser cópias de um mesmo manuscrito:
La parte terçera del libro de Juan gil que / fabla enlos nasçimentos
delos honbres (A) . / en sus estados (Ms. 5-2-32)
De Magia (2r-6 a 9):
e <<e>>(n)a parte terceyra trotarey das nacenças dos omees e /
das vidas e das mortes e das riquezas e d{{a}}<<o>>s estados
dos mestere<<s>> / e dos o(f)icios e das propedades deles · e das
rolaçoes que an os / uus con os outros (Ms. 282)
Levi (1995) afirma que esta tradução em castelhano da Biblioteca Colombina não tem
relação com o Libro conplido en los iuizios de las estrellas de Abenragel (ver seção 1.5) e
concorda com Silva (1924) que ela seria a terceira parte do “grande liuro de estronomia” de
João Gil de Burgos, escrivão do rei Pedro de Aragão.
Segundo Hilty (1982, p.262), em relação ao De Magia, “da obra atribuída a João Gil
não existe tradução latina e dos pouquíssimos manuscritos conservados deve deduzir-se que a
obra estava pouco divulgada.” Entende-se aqui como manuscritos conservados o ms. 282 da
Bodleian Library e o 5-2-32 da Biblioteca Colombina.
Concluindo: com as informações existentes até o momento, não se pode afirmar que o
ms. 282 tenha parentesco com o ms. 310 da Bodleian Library. No entanto, os indícios levam a
crer que ele o tenha com o ms. 5-2-32 da Biblioteca Colombina.
1.3 IDENTIFICAÇÃO E DESCRIÇÕES PRÉVIAS
O Manuscrito Laud Or. 282 da Bodleian Library em Oxford, Inglaterra, era
identificado anteriormente pelo número de chamada Hebr. Uri. 434.
González Llubera (1952, p.271) transcreveu, de modo bastante consistente, utilizando
metodologia diferente da empregada aqui e explicitada em González Llubera (1951), um
pequeno excerto do ms. que começa no fólio 2v, linha 24 (<
TODO o que e n<a>atural>...) até o
fólio 3r, linha 24 (...<out/ras vezes>), como se pode verificar nas Figuras 4a e 4b do Anexo.
Strolovitch (2005) transcreve (p.191-232) e traduz para o inglês moderno (p. 233-260) os
quatorze primeiros fólios da obra, além de fazer alguns comentários (cf. início da transcrição
25
na Figura 5 do Anexo). Concluindo, o Manuscrito Laud Or. 282 já foi descrito nas obras
abaixos:
GONZÁLEZ LLUBERA, I. Two old astrological texts in Hebrew characters.
Romance philology. 1952, p. 267-272.
MAY, R. A. (ed.) Catalogue of Hebrew manuscripts in the Bodleian Library;
supplement of addenda and corrigenda to vol.1. Oxford: Clarendon, 1994. p.
381.
NEUBAUER, A. Catalogue of Hebrew manuscripts in the Bodleian Library, v. 1.
Oxford, 1886, n. 2067, p. 706b
SÁ, A. M. de. A próxima edição de três traduções portuguesas inéditas do século XV.
Boletim internacional de bibliografia luso-brasileira. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, v.1, n.1, 1960. p. 562-585.
STROLOVITCH, D. Old Portuguese in Hebrew script: convention, contact and
convivência. (tese de doutorado em Filosofia, Cornell University, agosto/2005)
Disponível em: <
http://www.jmrg.org/strolovitch/disspage/> Acesso em: 16
março 2006.
1.4 DESCRIÇÃO CODICOLÓGICA
Para a coleta de dados resultante da consulta feita na Bodleian Library, em abril de
2006, ao original do manuscrito conhecido, partiu-se das informações obtidas em Beit-Arié
(1972) e Cambraia (2005). A descrição de González Llubera (1952) do manuscrito também
foi levada em conta. Foi possível, assim, fazer-se um levantamento geral das características
codicológicas do De Magia, para que o leitor que, se presume, não terá acesso ao original,
possa ter uma visão abrangente e realista do texto. Índices e marcas de carimbo não foram
encontrados na parte analisada, não recebendo seções para análise. Na consulta ao volume na
Bodleian Library, o regramento dos cadernos não foi analisado.
26
1.4.1 Suporte material
O testemunho observado na Bodleian Library é composto de 416 fólios de papel, com
dimensão média de 280mm de altura por 210mm de largura. Se levarmos em consideração os
fólios em branco após o texto em si, tem-se 420 fólios. O volume se encontra em excelente
estado de conservação, com poucos e pequenos orifícios feitos por traças.
Os fólios tinham, originariamente, dimensões maiores, tanto na largura quanto na
altura. O formato foi diminuído quando, no século XVII (GONZÁLEZ LLUBERA, 1952,
p.267), a encadernação original foi substituída pela de couro. Quando se diminuiu o formato
dos fólios, algumas das notas das margens externas foram mantidas, sem serem cortadas, o
que sempre está indicado nas notas de rodapé da edição. Outras, por sua vez, foram
parcialmente cortadas. Isso leva a indicar que, antes da encadernação, houve uma análise das
notas marginais feitas: as consideradas importantes foram mantidas e as sem relevância
simplesmente ignoradas.
A encadernação foi feita nos moldes dos livros em hebraico: o recto dos fólios tem
sempre a margem interior à direita do leitor. O leitor não habituado aos livros em hebraico
tem a impressão de estar lendo o manuscrito de trás para frente. O volume inicia-se com
cinco fólios em branco. Os quatro primeiros encontram-se numerados em caracteres romanos
de i a iv. A seqüência seria a seguinte (as figuras se encontram no Anexo), a partir da capa de
frente:
capa de frente - couro - Figura 6
fólio ir - pergaminho - Figura 7
fólio iv - pergaminho - Figura 8
fólio iir - papel - Figura 8
fólio iiv - papel - Figura 9
fólio iiir - papel - Figura 9
fólio iiiv - papel - Figura 10
fólio ivr - papel - Figura 10
fólio ivv - papel - Figura 11
fólio vr - papel - Figura 11
fólio vv - papel - Figura 12
Fólio cortado - Figura 12
Fólios 1 a 416 com o texto propriamente dito - papel
27
Após o fólio 416v, quando o texto termina, tem-se:
fólio 417r - papel - Figura 14
fólio 417v - papel - Figura 15
fólio 418r - papel - Figura 15
fólio 418v - papel - Figura 16
fólio 419r - papel - Figura 16
fólio 419v - pergaminho - Figura 17
Fólio cortado - Figura 17
fólio 420r - pergaminho - Figura 17
fólio 420v - pergaminho - Figura 18
capa de trás - Figura 19
A capa é de couro marrom brilhante, com algumas manchas pretas pequenas. Seus
quatro cantos encontram-se ligeiramente gastos. No meio da capa, encontra-se um brasão
dourado incrustrado, medindo 104mm por 83mm, que segundo Brassington (1891, p.xliv)
pertencia ao Arcebispo Laud
17
. Ao se comparar a figura abaixo, retirada de Brassington
(1891, p.xliv) com as Figuras 6 e 19 (Anexo), é evidente que se trata do mesmo:
Figura 1 – Brasão do Arcebispo Laud
17
William ou Guilherme Laud (1573-1645), arcebispo inglês. Em 1629 torna-se chanceler da Universidade de
Oxford, trazendo valiosas reformas à instituição. Fundou e apoiou o ensino de hebraico e árabe, além de ter
obtido mais de 1300 manuscritos para a Bodleian Library, adicionando uma nova ala para conter essas doações.
(Encyclopaedia Britannica, 1910, v. XVI, 276-278).
28
Na capa de frente, o brasão encontra-se ligeiramente inclinado para a esquerda.
O couro do lombo da capa está gasto, sendo possível visualizar, na parte superior, que,
após a camada de couro, há camadas de papel. Esse couro do lombo apresenta nervos e
relevos decorativos na horizontal. Há duas etiquetas de papel coladas no lombo: uma de
23mm por 20 mm, na qual se encontra escrito, em caracteres latinos <Laud / B/ [....]>,
aproximadamente no meio do lombo; outra de 15mm por 21mm, na qual se encontra escrito,
em caracteres arábicos <282>, encontrada na parte inferior do lombo.
O verso da capa se encontra coberto por um papel, escrito em caracteres latinos, em
língua latina. Tem-se a impressão de que há dois fólios servindo de fundo para o verso da
capa, um ao lado do outro. A tinta dos caracteres é marrom escuro, e as letras capitulares são
ermel
m). No canto superior do verso da capa, encontra-se
colado um papel amarelado e retangular, em branco. No canto superior direito do papel, há
a etiqueta aracteres latinos e arábicos, impresso em tinta
No corte de dianteira, na parte superior, encontra-se escrito em caracteres latinos, com
nta preta <Astrologia: / Hebr: / pars. j
ma·
/ M. S.>. Os cortes encontram-se pintados de
rmelho.
igura 7
Logo em seguida à capa, há um fólio em branco de pergaminho amarelado, com manchas
variadas. Devido ao contato com a borda de couro que cobre parcialmente o verso da capa,
suas bordas estão escurecidas.
fólio iv - pergaminho - Figura 8
No verso dessa folha de pergaminho, está escrito em caracteres hebraicos algo próximo a
בסס חאני o )>? (O grafema transcrito como nun pode ser um vav
e o transcrito como het pode ser um hei ou um álef.) Logo abaixo dessa seqüência de
v has. O texto é composto de cinco colunas, que podem ser visualizadas apenas
parcialmente por estarem cobertas pelas bordas de couro da capa (margem de cabeça 30mm,
margem de pé 23mm e guarda 43m
um colada com <S. C. 671> em c
preta. Na parte inferior do papel retangular, encontra-se escrito <B. 136>, em caracteres
latinos e arábicos. No canto inferior, há um outro papel amarelado e retangular em branco.
ti
ve
No corte de cabeça, o papel dos fólios encontra-se escurecido, mas pode-se verificar
que a cor original era o vermelho. Já no corte de pé, o avermelhado dos fólios se manteve e
está escrito, com tinta preta, <282>.
fólio ir - pergaminho - F
ןור u ןורבסס יואה (<(inaą ççbron
29
caracteres hebraicos, há um curioso desenho semelhante ao esboçado abaixo, de
aproximadamente 12mm por 55mm:
ura 2 – Desenho presente no fólio iv
Uri. / CCCXXXXIV.>.
Escrito a lápis, abaixo do citado antes, pode-se encontrar <N. 2067>, de outro punho. Falta
m pedaço do canto superior deste fólio de papel, mas pode-se visualizar, escrito a lápis, <ii>.
fólio iiv - papel - Figura 9
m branco.
ólio de papel amarelado. No seu canto superior, encontra-se <iii> escrito a lápis e, no seu,
centro, mais próximo à margem, há uma filigrana (ver seção 1.4.5).
fólio iiiv - papel - Figura 10
lio em branco, no centro do qual se pode visualizar a filigrana citada no fól. iiir.
ito <iv> a lápis.
Fig
fólio iir - papel - Figura 8
Fólio em papel amarelado, em cuja parte superior, ao centro, há a seguinte escrita em
caracteres latinos, tinta marrom claro: <Laud. 282. / Ms. Hebr.
u
E
fólio iiir - papel - Figura 9
F
fólio ivr - papel - Figura 10
Fólio de papel amarelado, em branco. No canto superior, está escr
fólio ivv - papel - Figura 11
Fólio de papel amarelado, em branco. No canto superior, está escrito <iv> a lápis.
30
fólio vr - p
Fólio de papel. No can
há a mesma filigrana já
la se encontra invertid etro.
seguintes dizeres:
Jacobi Armachani
These Bookes were wrytten by a Jewe in Hebrew Charactes / but in a
ccount. And
ayne Argument ~ / they be but friuolous, yet haue
primeiro fólio do texto do De Magia propriamente dito, há uma
ento.
ropriamente dito - papel
fólio 417r - papel - F
O recto deste fólio de papel 7>, escrito a lápis no canto
perior. As suas bordas encontram-se escurecidas. Encontram-se escrito em caracteres
eio do fólio, <Jaques>
<Jaques> novamente
ferior do fólio:
Joāo Gil
b Ragel
apel - Figura 11
to superior do seu recto, vê-se escrito a lápis <v (ult.)>. Aqui também
encontrada, no meio do fólio, mais próxima da margem. No entanto,
a, se se toma a anterior como parâme
fólio vv - papel - Figura 12
Neste fólio, na parte superior, encontram-se, em tinta marrom escura, os
De magiâ, Linguâ Portugallicâ, Authore Johanne Gel de Burgo
vulgar language, whereof Dr Dee did make spe= / ciall A
howsoeuer for ye m
they oftentymes some / Astronomicall obseruacons intermixed with
them, that / are quantiuis pretij. / .
Fólio cortado
Entre o fólio acima citado e o
folha cortada rente à encadernação, com apenas 15mm de comprim
Fólios 1 a 416 com o texto p
igura 14
amarelado apresenta o numeral <41
su
latinos, de tinta marrom clara:
- No m
- Logo abaixo, ligeiramente para a esquerda
- Na parte in
A
Author
Juan Gil de Burgos.
Septemlibri de Magicâ Hi
ʃ
pani(a).
<Ab Ragel> e <Juan Gil> encontram-se riscados com traços grossos e de tinta marrom escura.
punho que os fez também escreveu <Joāo Gil>. O
31
fólio 417v - papel - Figura 15
Em branco.
fólio 418r - papel - Figura 15
O recto deste fólio de papel amarelado apresenta o numeral <418>, escrito a lápis no canto
perior. As se escurecidas. No seu verso, pode-se observar a mesma
fólio 419r - Figura 16
lápis no canto superior. As suas bordas superior e de corte encontram-se escurecidas, talvez
decorrênc
fólio 419v - Figura 17
s e, na parte superior, o que poderia ser uma assinatura
su suas bordas encontram-
filigrana encontrada no fólio iiir.
O recto deste fólio de papel amarelado apresenta o numeral <(419)>, entre parênteses, escrito
a
em ia de umidade.
No seu verso, há algumas mancha
escrita em tinta marrom, provavelmente em caracteres latinos. Na parte inferior do fólio, à
direita, há escrito em tinta marrom algo parecido com <
nʔ>, isto é, um N minúsculo riscado
na horizontal seguido de um ponto de interrogação sem o ponto embaixo.
fólio 420 - cortado - Figura 17
Na parte superior deste fólio, está escrito <420>, a lápis. Ele foi cortado rente à encadernação,
com apenas 15mm de comprimento.
fólio 421r - Figura 17
manchas variadas. No seu recto, há um texto composto
é diferente do punho do texto principal, e os grafemas
medem 4mm. A língua parece ser o árabe, mas não se pode afirmar com certeza pela falta de
ento dessa língua e pela falta de precisão da imagem adquirida. No canto superior,
contra-se e res latinos, <421/(ult.)>. Na parte inferior do recto, em
Folha de pergaminho amarelado, com
de nove linhas, em caracteres hebraicos. Não foi possível fazer sua transcrição, devido à
insuficiência de legibilidade. O punho
conhecim
en scrito a lápis, em caracte
32
escrita latina e a lápis, encontramos: <Really V + 4 – 25 leaves for 211, 223, 230, 324 are
double.>.
fólio 421v - Figura 18
a frente, mas se encontra bem menos desgastada. Ademais, o
rasão encontra-se na vertical, sem inclinação. Seu verso pode ser descrito da mesma maneira
que o verso da capa de frente.
ólios, do
que poderiam indicar final de caderno. No fólio 48v, o copista teria se
squecido de usar tal estratégia.
à esquerda da margem de cabeça, encontra-se
ma numeração em algarismos arábicos. Assim, no fólio 1r tem-se o numeral <1> .
partir deste fólio, que recebe o número 1, todos os versos dos fólios encontram-se
numerados. Os números foram feitos a lápis, em algarismos arábicos, sempre à esquerda da
margem de cabeça.
1.4.4 Filigranas
No centro dos fólios, encontra-se uma filigrana, com 80mm de altura, cuja
representação é semelhante ao desenho abaixo:
Fólio em branco. Devido ao contato com a borda de couro que cobre parcialmente o verso da
capa, está com as bordas escurecidas.
capa de trás - Figura 19
A capa de trás é idêntica à capa d
b
1.4.2 Cadernos
Segundo May (1994), os cadernos do De Magia são compostos de seis bif
fólio 1 ao 84. A partir do fólio 85 até o 416, os cadernos são compostos de cinco bifólios
18
.
No entanto, os reclamos dos fólios 12v, 24v, 36v, 60v, 72v, 84v apresentam um número bem
maior de pontinhos,
e
1.4.3 Foliação
No recto de todos os fólios examinados,
u
A
18
Na consulta ao volume na Bodleian Library, os cadernos não foram analisados.
33
Figura 3 - Filigrana do Ms. Laud Or. 282
do reclamo forem entendidos como algum tipo de
mbelezamento (ver seção 1.6.2.10).
.5 AUTORIA DA CÓPIA
anto a quem seriam o autor, o
1.4.5 Ilustrações
Devido ao valor predominantemente prático dos textos relativos a princípios e
ferramentas da Astrologia, eles não eram, de modo geral, ricamente decorados (PAGE, 2002,
p.14)
19
. Ademais, o Judaísmo, assim como o Islamismo, tem uma tradição anti-icônica,
baseada na observância estrita de alguns trechos bíblicos, que proibiriam a representação,
principalmente, da figura humana (ROTH, 1971, p.71). Esta pode ser uma razão para o De
Magia não apresentar qualquer tipo de desenho, iluminura ou embelezamento feito pelo
copista, salvo se os pontinhos acima
e
1
É bastante arriscado fazer uma afirmação segura qu
tradutor e o copista do De Magia, como se verá em seguida.
19
No entanto, a própria S. Page apresenta iluminuras magníficas de textos astrológicos.
34
Na primeira metade do século XV, os judeus constituíam, em Portugal, uma população
minoritária essencialmente urbana, composta de aproximadamente 75.000 falantes de
corte de Manuel I de Portugal, de 1494 até 1497 (EJ, 1971, v. 3, p.794). A
ntários e compilações em
ade relacionada à produção de manuscritos judaicos, muitos
ue copiavam para si mesmos. Para Sirat
português. A este número, com a expulsão da Espanha em 1492, irão se juntar 100.000
falantes de castelhano (TEYSSIER, 1959, p.200).
Vários astrônomos e astrólogos judeus trabalharam nas cortes européias: Judah b.
Moses ha-Kohen na corte de Afonso X de Castilha (1252-84); Jacob Alcorsono e Crescas de
Vivers nas cortes aragonesas de Pedro IV (1336-87) e de João I (1387-89); Abraham Zacuto
(1450-1510) na
Encyclopaedia Judaica (1971, v. 3, p.806) afirma que, até 1500, mais de 250 astrônomos
foram listados.
Os judeus foram de grande importância para a Europa escolástica e no início do
Renascimento, fornecendo uma ligação entre as traduções, come
árabe de textos como o Almagesto
20
de Ptolomeu e os astrônomos cristãos, geralmente através
de traduções e comentários em hebraico ou latim (EJ, v. 3, p.799).
Em comparação à quantidade de traduções, há poucos trabalhos originais compostos
por astrônomos judeus. Os profissionais dos séc. VIII e XIX foram de grande importância
para a Astrologia e a para a Astronomia, mas poucos de seus trabalhos chegaram até nós.
Alguns foram traduzidos do árabe ou do hebraico para o latim, espanhol, francês e poucos
foram encontrados em hebraico. Em relação a livros de um modo geral, a situação é diferente:
antes da expulsão dos judeus da Península Ibérica (1492, da Espanha e 1497, de Portugal),
havia uma rica e variada ativid
levados pelos judeus expulsos, mas também perdidos, queimados, confiscados, banidos
(SCHMELZER, 1997, p.261).
De acordo com Beit-Arié (2003, p.61-63), ao contrário dos manuscritos medievais
católicos, os judaicos nunca foram produzidos em centros clericais, acadêmicos ou
comerciais. Eles eram manufaturados por iniciativa privada, sendo mantidos e utilizados por
indivíduos. Eram encomendados a um escriba independente ou, na maioria dos casos,
copiados pelo próprio futuro usuário, como se pode verificar nas informações contidas em
aproximadadmente 4200 colofões que chegaram até os dias de hoje. Poucos eram
encomendados por uma comunidade ou sinagoga. Esse autor supõe que a maioria dos
colofões que não indica a destinação do manuscrito deve ter sido copiada pelos próprios
usuários, que não sentiriam necessidade de afirmar q
20
Detalhada exposição de astronomia matemática, de grande influência no desenvolvimento da Astronomia.
35
(2002, p.214), talvez metade dos manuscritos judaicos medievais escritos por um escriba
seriam para seu próprio uso e de seus descendentes.
Os copistas de manuscritos judaicos tinham um papel mais atuante na interpretação do
texto copiado, devido ao modo de produção de textos extraordinariamente individualista nas
sociedades judaicas, ao alto número de livros copiados pelo próprio leitor e à falta de uma
autoridade oficializada sobre a reprodução e disseminação dos textos. Apesar disso, a
apresentação visual dos textos medievais não era um ato totalmente autônomo da parte do
scriba
Em relação ao D
informação encontrada
de magica que conpos jo(an) gil d(e)
e>n tam venišlam tehilá lael olam
tam v
incipal: <penso joan gil que toda veluntad
a mu
(TELLES, 2006, p. 5; LEVI,
ofão redigido pelo autor da obra.
No fólio 417r (Figura 14), existe a seguinte informação, escrita em caracteres latinos,
conforme já dito em 1.4.1:
Ab Ragel
e , que deveria levar em conta considerações materiais, sociais, econômicas, estéticas e
escolares (BEIT-ARIÉ, 2003, p.49).
e Magia, o leitor é levado a crer que João Gil é o seu autor, a partir da
no colofão do manuscrito, fólio 416 (Figura 14 do Anexo):
aqui se ac<a>ba o seteno libro
burgos lobado / s(e)j(a) dio am<
< enišlam>, em hebraico, significa feito e completo; <tehilá la‘el olam>, também em
‘hebraico, significa louvado seja o dono do universo
21
.
Ademais, na margem de corte do fólio 2v, em frente às linhas 6 e 9, está escrito em
caracteres hebraicos, de punho diferente do texto pr
er dable i variable i nengora perpetua>. Esta nota foi preservada no momento da
encadernação, ultrapassando os limites da página.
No entanto, o conceito de autor da época é bem diferente daquele usual a partir do
século XVIII. “que conpos joan gil” poderia indicar apenas que João Gil foi o organizador do
códice, seu compilador, e não necessariamente o copista
1995;144). Sirat (2002, p.209), por sua vez, alerta para o fato de os copistas medievais
copiarem ipsis litteris o col
Joāo Gil
Author
Juan Gil de Burgos.
Septemlibri de Magicâ
Hi
ʃ
pani(a).
21
Sobre cada um dos cinco últimos vocábulos, tam venišlam tehilá la’el olam, há três pontos distribuídos sob a
forma de triângulo.
36
<Ab Ragel> e <Juan Gil> encontram-se riscados com traços grossos e de tinta marrom escura.
O punho que os fez também escreveu <Joāo Gil>.
<Ab Ragel> ou Ali aben Ragel seria Abu‘l-Hasan ‘Ali b. Abi‘r-Rigal, nascido no
Magreb, por volta de 965. Entre 1016 e 1037 trava relações com a corte de al-Mu‘izz em
Quayrawan onde termina a sua principal obra, o Livro cunprido en os juizos das estrellas, por
volta de 1050 (HILTY, 1982, p.214). Já em relação a João Gil, nada de muito específico se
terceiros. Se assim for, apenas o primeiro copista
22). Assim como o De
agia,
en Jacia, originado de Lisboa, famoso jurista e médico, que viveu em
nas figuras de 20 a 22 que se encontram no Apêndice. No entanto, pensa-se que os
encontrou sobre ele; apenas se sabe que foi um escriba na corte real do rei Pedro de Aragão
(LEVI, 1995, p.144).
Sá (1960, p.579) supõe que o copista do De Magia seria o mesmo do Ms. Laud. Or.
310, cópia do Lybro conprydo en os juyzos das estrelas, de Ali aben Ragel. Levi (1995,
p.138) afirma serem os ms. 282 e 310 de mesma época, mas não de mesma mão: “têm um
mesmo estilo mas uma grafia diferente”. No entanto, o próprio autor afirma não ter tido
acesso ao ms. em si, mas apenas a dados de
do De Magia o seria (até o fólio 84v); o segundo punho pertence inquestionavelmente a outro,
como se pode ver na Figura 13 do Anexo.
No colofão do Lybro conprydo..., o ms. 310, vem a indicação do nome do copista (e
tradutor?), Joçef ben R. Gedalyah Franco e a data, 1411 (Figura
M o manuscrito Lybro conprydo foi comprado em Louvain por John Dee
22
, pertenceu a
William Laud em 1633, que o doou à Bodleian Library (Figura 20).
Gedalyah era um nome conhecido e respeitado entre os judeus ibéricos. Maimônides
tinha um sobrinho chamado Gedaliah ben R. Joseph ben Don David ben Joseph Jachia,
famoso jurista, historiador, filósofo e predicador entre as comunidades judaicas ibéricas. Há
também R. Gedaliah b
Constantinopla no século XV. O sobrenome Franco não foi encontrado em um só documento
(LEVI, 1995, p.153).
O Ms. Laud Or. 310 foi analisado pela autora da presente tese na sua visita à Bodleian
Library, além de terem sido adquiridas as fotos digitais dos 10 primeiros fólios e dos 10
últimos fólios, incluindo as capas, como se vê no Anexo. Efetivamente, a semelhança entre o
ms. 282 e o 310 sob os aspectos paleográficos e codicológicos é impressionante, como se
pode ver
22
Curioso personagem, Jonh Dee (1527-1608) foi uma matemático e astrólogo que muito viajou pelos países da
Europa. Possuiu uma biblioteca que foi parcialmente queimada pela população local, enfurecida por suas
magias. Morreu miserável, tendo tido que vender seus livros para sobreviver (Encyclopaedia Britannica, 1910,
v. 7, p. 920).
37
copistas não são os mesmos. Esta opinião é corroborada por Cambraia (2006) e Engler
(2006).
Conforme Silva (1924, p.45), Pedro III, em 24 de março de 1350, escreve carta em
que manda dar a João Gil de Castiello a Instituta, o Digesto, as Clementinas e a Suma de
Gofredo. Em outra carta de 10 de julho de 1351, o rei recomenda a Mestre Alfonso diligência
em “el comprovar e romançar aquell livro de figuras et astronomia, el qual vos levo el fiel de
o y Lluch (1921, v.1, p. 124 apud Silva (1924, p.44) e González Llubera (1952,
p.269)), citam uma car
que manda
u tesoureiro Bernardo de Ulzinellis pague 600 soldos de Barcelona ao fiel
de Castiello, fiel da escrivania do rei de Aragão, no meado do século
ubera (1952, p.269): “Juan Gil’s participation does
not appear to have g
concluindo que, em rel
safely conclude that the present Portuguese text (a) is not the a[s]trological
remonius, but does represent the Catalan
-2; and (b) that its attribution to Juan Gil
mention of the latter in the colophon of the codex copied by
Também nada s
Já Levi (1995, p
la scrivania nostra Joan Gil de Castiello”. González Llubera (1952, p.269) acredita que o
original a ser traduzido para o catalão estaria em hebraico.
Rubi
ta escrita por Pedro III, Rei de Aragão, de 9 de dezembro de 1352, em
que o se
da sua escrivania, João Gil de Castiello, pelo trabalho que este teve que escrever
dois livros, um das Ordenações da Casa real e o outro de astronomia, por seu
especial mandado. Este último é, sem dúvida, o livro citado pelo rei português D.
João I.
Para Silva (1924, p.47), não pode restar dúvida, pelo que se tem exposto, que o
‘grande livro de astronomia’, tantas vezes citado pelo rei D. João I, era o De Magia e foi
escrito por João Gil
XIV, e que dele existe ainda a terceira parte na Colombina de Sevilla (5-2-32), em cópia feita
no século imediato.
Esta não é a opinião de González Ll
one beyond the exercise of his professional skill as a copyst”
23
,
ação ao De Magia,
We can
compilation commissioned by Peter the Ce
one translated by Master Alfonso in 1351
probably arose from the
him.
24
e encontrou sobre Mestre Alfonso.
.146) assevera que
23
Tradução nossa: “A participação de Juan Gil não parece ter ido além do exercício das suas habilidades
profissionais como copista.”
24
Tradução nossa: “Podemos concluir com segurança que o presente texto português (a) não é a compilação
astrológica comissionada por Pedro, o Cerimonioso, mas representa o texto catalão traduzido por Mestre Alfonso
em 1351-2; e (b) a sua atribuição a Juan Gil provavelmente vem da menção deste último no colofão do códice
copiado por ele.”
38
po s com certeza dizer que o Liuro conplido en o[s] juizos das estrelas não é
nem o trabalho astrológico ordenado pelo rei Pedro III, o cerimonioso, rei de
Aragão e Catalunha (1336-1387), e nem a obra de a
demo
stronomia de João Gil. A
atribuição do Liuro conplido a João Gil é talvez devida ao facto do seu nome
aparecer no colofão do código por ele copiado.
orque apontando o
rologo” e autor de um “grande livro de estronomia”. João Gil é
comumente apontado
mandado escrever por
Dom João I (grifos nos
Deus, ou por
Como podemos observar então, o Libro conplido en los iudizios de las
estrellas de Abenragel e o grande liuro de estronomia de João Gil são dois trabalhos
distintos e separados, feitos por dois autores diferentes.
Hilty (1982), ao analisar notas interlineares encontradas no Livro cunprido, fruto de
uma correção do texto feita pelo “emendador”, tira algumas conclusões que poderiam
colaborar para se entender melhor as questões relacionadas à autoria do De Magia. Apesar de
no prólogo do Livro cunprido haver referência a apenas um tradutor, Yhuda fi de Mosse
Alcohen, a tradução foi feita por pelo menos dois tradutores, utilizando-se uma técnica
comum da época de Afonso, o Sábio, que reunia um tradutor judeu e outro cristão. O judeu
faria uma tradução oral do texto, e o co-tradutor cristão a anotava por escrito
25
: “A influência
que por isto tinha sobre a forma lingüística da tradução era considerável, p
que ouvia o co-tradutor cristão não podia desfazer-se, por exemplo, do próprio dialecto”
(HILTY, 1982, p.231). Ademais, o co-tradutor teria o papel de discutir o conteúdo do texto
com o tradutor judeu, devendo ser versados no assunto da obra traduzida.
Em seguida, o trabalho dos tradutores seria controlado e corrigido por um
“emendandor”, que às vezes discutiria os problemas com os tradutores. A revisão era
primeiramente de ordem técnico-astronômica e só em segundo lugar lingüístico-estilística.
De acordo com Sá (1960, p.563) e Silva Neto (1956, p.119), no manuscrito 3390 da
Biblioteca Nacional de Lisboa, fólio 163v, transcreve-se o catálogo dos livros que possuía D.
Duarte (1433-1438)
26
. Dentre as obras em português arroladas, tem-se “Livro d’Estrologia,
encadernado e cuberto de couro branco” e “Outro d’Astrologia, encadernado e cuberto de
couro preto”. Quais seriam esses livros de astrologia? Dom João I (1385-1433), no Livro da
montaria (ALMEIDA,1981), copiado entre 1415 e 1433, refere-se a um certo “Joam Gil”
como sendo um “grande est
como sendo autor de um livro intitulado De astrologia, o qual foi
Pedro III, rei de Aragão, em 1352, e que parece ser o livro citado por
sos):
Ora sabede que diz Joam Gil no seu grande liuro de estronomia, que todallas
cousas que som feitas, todas som feitas per natura naturante, que he
25
O autor não cita em quais caracteres, se hebraicos ou latinos.
26
A data que vem em seguida ao nome de rei refere-se ao seu reinado, conforme <www.casareal.co.pt>.
39
natura naturada, que Deus fez, que por elle he ordenada, segundo a ordenaçom que
lhe elle pos, a qual ordenaçom chamamos nos outros natureza, que por ella segundo
seu ordenamento fossem feitas todallas cousas, assi que nenhũa cousa nom he feita,
que nom seia por Deus, ou por este seu ordenamento, a que nos chamamos natureza,
destas cousas que naturalmente som feitas. (ALMEIDA, 1981, p.73)
[...] ca Joam Gil o grande estrologo no seu grande liuro disse que Mars he de
color uermelha, e Mercurio, e a Lua de color branca, e esso meesmo disse que o Sol,
Jupiter, e Venus som de color amrela como ouro, e Saturno fez certo que auia color
negra, e assi pos a estas pranetas accidentes, e ainda lhes deu calidades, ca deu a
Saturno frio, a Jupiter quente e humedo, e a Mercurio frio e seco, e a Lua fria e
humeda, e estas meesmas calidades pos que auiam os signos: ca destes signos disse
Joam Gil, e Albamazar no seu liuro das deferenças e dos juizos, e o author da
sphera, e da theorica das pranetas, e todos estes disserom que no ceeo octauo, a que
os estrologos dizem octava sphaera, esta sphaera partirom os sabedores em doze
falla da
e em catalão,
ulo XV, para castelhano, só nos restando a terceira parte, em
nto o hebraico quanto o português. No entanto, a tradução poderia ter sido feita
m
seguintes dizeres
igura 12 do
Anexo), que González Llubera (1952, p.268) afirma se tratar de um punho do século XVII:
partes, ca este partimento disserom os astrologos zodiaco, porque estas doze partes
comprehendem os doze signos. E disse este Joam Gil que estes signos eram
adoptados as quatro partes desta sphaera, e disse que os tres son orientaaes, e os tres
meridionaes, e os tres occidentaes, e os tres septentrionaes, e esto pollas calidades
que am [...](ALMEIDA, 1981, p.74)
ca assi o disse este Joam Gil na segunda parte do seu liuro que
tempestade, e uentos, e chuyuas, e pedriscos: ca elle diz que quando for a conjunçom
do Sol e da Lua em noue graaos de capricornio, e Saturno em quatro graaos de
sagitario, e Jupiter em sexto graao de aquario, acerca de sextil de Saturno, e de Mars
e Mercurio em dezasete graaos de capricornio, que fara grande uento dabrego, e que
non chouera com elle, e se chouer que sera pouco: (ALMEIDA, 1981, p.76)
Sá (1960, p.569) acredita, no entanto, que o códice citado – que possui vários títulos,
sendo um deles Lybro de magyka – foi escrito por Mestre Alfonso, possivelment
antes de 1532; foi copiado, nesta data, a pedido de Pedro III, por João Gil de Castiello ou de
Burgos; foi traduzido, no séc
Sevilha; foi traduzido para o português no mesmo século, da cópia por João Gil.
Já Hilty (1982, p.262) apenas afirma que o Ms. Laud Or. 282 foi “traduzido do
espanhol para o português”.
Se o De Magia é uma tradução que tem como texto de origem um texto em catalão ou
em espanhol em caracteres latinos, o tradutor só poderia ser pelo menos bilingüe, que
dominava ta
também por duas pessoas: um traduzia em voz alta do catalão ou espanhol para o português,
enquanto o outro copiava do que ouvia em português em caracteres hebraicos (HILTY, 1954,
p.xxxviii).
O Lybro de magyka recebeu, no século XVII, na tradução portuguesa o título,
provavelmente em latim, De Magia, tendo em conta a informação presente na marge
superior do verso do fólio anterior ao primeiro fólio, em que aparecem os
em caracteres latinos, tinta marrom escura, letra humanística cursiva (ver F
40
<De magiâ, Linguâ Portugallicâ, Authore Johanne Gel de Burgo>
Em caracteres hebraicos ou no corpo do texto em si, não há indicação de título.
Em seguida aos dizere
elegant Italian hand”
27
d make spe= / ciall Account. And
howsoeuer for ye mayne Argument ~ / they be but friuolous, yet haue
them, that / are quantiuis pretij. / .
s serem hebraicos,
sticos presentes na fala dos personagens judeus.
Esses traços, por sua vez, serão comparados com a linguagem do De Magia, mesmo havendo
um i
de personagens. A partir do século XVI, a língua tendia a transformar ou em oi
oiro, oiro, oitro, oivir, poico,
apresentavam-se sempre com oi na fala dos personagens
, elas aparecem da seguinte maneira:
; 2 <ou>
s acima, encontra-se em letra humanística cursiva, ou uma “clear and
(GONZÁLEZ LLUBERA, 1952, p.268):
These Bookes were wrytten by a Jewe in Hebrew Charactes / but in a
vulgar language, whereof Dr Dee di
they oftentymes some / Astronomicall obseruacons intermixed with
28
O trecho acima foi feito por um punho diferente do que escreveu <De magiâ...>, sendo a tinta
preta ou cinza escura.
A partir da seção de Teyssier (1959, p.199-226) relativa à língua dos judeus na obra de
Gil Vicente, século XVI, tentou-se verificar se, além do fato de os caractere
a língua portuguesa do texto indicaria traços da linguagem dos judeus para, assim, se poder
afirmar com mais certeza que o texto foi pelo menos escrito por um judeu.
O autor analisa alguns traços lingüí
a d stância de um século entre os textos:
Uso de oi por ou
Conforme Teyssier (1959, p.213), na boca dos personagens judeus de Anrique da
Mota (final do séc. XV) a Gil Vicente e deste a António de Lisboa existia uma tradição do
oi des Juifs” (oi dos judeus) no lugar de ou. Esta particularidade fonética seria percebida
por Gil Vicente como especificamente judaica e contituía um dos indicativos dessa
categoria
em numerosos vocábulos. Os judeus teriam feito esta evolução antes do português
comum.
As palavras afoitado, coisa, doirado, hoiver, loisa, m
repoisar, toiro, dois, açoite
judeus. No De Magia
dourado: 2 <oy>
houver: 13 <ou>
mouro: 3 <oy>
27
Tradução nossa: “Punho italiano claro e elegante.”
28
Tradução nossa: “Estes livros foram escritos por um judeu em caracteres hebraicos, mas em uma linguagem
vulgar, do qual o Dr. Dee tinha estima especial. E apesar de alguém poder argumentar que eles são sem valor, há,
freqüentemente, observações astronômicas misturadas a eles, que são de grande valia.”
41
ouro: 25 <oy>
touro: 1 <oy>; 6 <ou>
u>
ssim, há maior uso de ou do que de oi no De Magia, em relação às palavras coletadas
r
nalisada, isto é, dos fólios 1 a 168, não foi encontrada um único vocábulo em
ebraico. Apenas o colofão (fólio 416) apresentou uma fórmula de fechamento em
o DM, há 17 ocorrências de deus e apenas uma de deu. Assim mesmo, esta última
Uso de chanto, guai, guaia, guaiado, lodo, enlodar
ssencialmente no meio urbano,
apresentam arcaísm
camponeses. Teyss
s éléments les plus
conservateurs de la population portuguaise: les paysans et les Juifs. Les premiers
dois: 14 <oy>
coisa: 465 <ou>
outro: 395 <o
A
po P. Teyssier.
Hebraísmos
Na seção a
h
hebraico.
Uso de Deu por Deos/Deus
N
apresenta um <s> sobreposto (1r-21).
Chanto/s foi localizado 32 vezes no De Magia; os demais vocábulos não ocorrem.
A partir dos dados acima, não se pode afirmar com certeza, tendo como parâmetros
aqueles de Teyssier (1959), que a linguagem do De Magia, além do fato de estar em
caracteres hebraicos, apresenta características do linguajar dos judeus portugueses. O
linguajar dos judeus e cristãos-novos, que viviam e
os
29
e semelhanças com o linguajar de personagens rústicos, como os
ier (1959, p.215), porém, afirma que
il n‘est pas étonnant qu‘on les attribue à la fois à deux de
devaient conserver, au fond des campagnes, beaucoup de traits linguistiques que les
seconds maintenaient eux aussi dans leurs comunas urbaines.
30
29
Blondheim (1925, p.lxxxvii) também aponta a tendência dos dialetos judaicos ao conservadorismo.
30
Tradução nossa: “não é surpreendente que se atribuam [arcaísmos] concomitantemente aos dois elementos
mais conservadores da população portuguesa: os camponeses e os judeus. Os primeiros deviam conservar, no
interior do meio rural, muitos traços lingüísticos que os segundos mantinham também em suas comunas
urbanas.”
42
Apesar da dificuldade em definir o autor da cópia, o fato de o texto estar em caracteres
hebraicos, em uma sociedade como a portuguesa da época, torna possível inferir que o copista
ra judeu. Serão necessárias mais pesquisas para tornar o aspecto da autoria do De Magia
mais claro.
), a prática da escrita entre os judeus, na Europa
s textos hebraicos.
Segundo Sirat (2002)
romances, porém transc
idioma, sino en
vernáculo o en el idioma del país. Actualmente se escriben el ladino y el idish con
caracteres hebreos, pero hay textos en arameo, árabe, persa, griego, latín, italiano,
francés, español, portugués, inglés, turco, tártaro, y otros idiomas.
33
e
1.6 ESCRITA
De acordo com Minervini (1992, p.12
Medieval, era relativamente difusa, graças a um sistema de ensino que permitia pelo menos os
rudimentos do hebraico, para uso religioso.
Inicialmente, garante Lopes (1897, p.xii), a palavra aljamia era empregada pelos
árabes a toda língua que não fosse a sua: para os muçulmanos que viviam na Península
Ibérica, os dialetos peninsulares eram aljamias. A primeira atestação do termo é de 1348, no
poema de Afonso XI: “Bos escudero / sabedes bien la aravía / sodes bien verdadero / de
tornarla em aljamía” (MINERVINI, 1992, p.17). No dicionário da Real Academia Española
(1992), existem as seguintes definições para o termo: “1. Nombre que daban los moros a las
lenguas de los cristianos peninsulares; 2. Textos moriscos en romance, pero transcritos con
caracteres árabes; 3. Por extensión, texto judeo-español transcrito con caracteres hebreos
31
(grifo nosso). Houaiss; Villar; Franco (2001, p.160) relaciona o termo apenas com o árabe.
Escolar (1993, p.151) a define como “la transcripción en caracteres hebreos, ya sea del árabe,
del castellano o de otra lengua, costumbre universal de la diáspora judía”
32
. No presente
estudo, qualquer texto em língua diferente de seus caracteres será denominado de aljamia. O
De Magia é, então, um texto aljamiado por estar em língua portuguesa e em caracteres
hebraicos. Sua leitura deve ser feita da direita para a esquerda, como no
e a Enciclopedia Judaica Castellana (1950, p.270), textos em
ritos com caracteres hebraicos, não são incomuns:
Muchos manuscritos con caracteres hebreos no están escritos en ese
31
Tradução nossa: “1. Nome que davam os mouros às línguas dos cristãos peninsulares; 2. Textos mouriscos em
romance, porém transcritos com caracteres árabes; 3. Por extensão, texto judeu-espanhol transcrito com
caracteres hebraicos.”
32
Tradução nossa: “A transcrição em caracteres hebraicos, seja do árabe, do castelhano ou de outra língua,
costume universal da diáspora judaica.”
33
Tradução nossa: “Muitos manuscritos em caracteres hebraicos não estão escritos nesse idioma, mas sim no
vernáculo ou no idioma do país. Atualmente o ladino e o ídiche são escritos em caracteres hebraicos, mas há
43
Minervini (1992, p.14) também confirma que a “contaminação” de sistemas de escrita
diferentes uns dos outros não é exclusiva dos judeus: há tanto textos em escrita árabe e língua
românica quanto escrita tibetana em língua chinesa.
É importante tentar entender a razão pela qual um texto em português se encontra em
caracteres hebraicos. Uma hipótese é que se desejava que o seu conteúdo não fosse conhecido
pelos não-judeus. É evidente que o entendimento do texto acaba ficando extremamente
restrito dessa forma, pois apenas os alfabetizados em hebraico teriam acesso às informações
ali contidas. Um texto em caracteres hebraicos poderia ter grande importância nas mãos de
um astrólogo judeu no século XV, dando-lhe poder até sobre os reis. Um outro fator poderia
ser o do uso do hebraico como um ato de resistência em relação ao hostil ambiente cristão,
funcionando como símbolo de identidade étnica e cultural judaica. Para Hegyi (1981, p.92), o
nascimento das aljamias se dá pelo desejo de as comunidades minoritárias
34
salvarem a
memória de seu passado lingüístico e expressarem sua própria individualidade. Outra razão
poderia ser a seguinte: sendo freqüente o aprendizado pelo menos dos rudimentos do hebraico
por uma boa parte dos judeus do sexo masculino (para a manutenção divulgação das palavras
de Deus), pode-se supor que o alfabeto hebraico pudesse ser usado também pela familiaridade
que os judeus homens tinham com ele, fazendo-os entender o texto com mais fluência. Como
afirma Minervini (1992, p.13),
Quando si tratta di mettere per iscritto non la lingua sacra [...] ma la lingua d‘uso
[...], sembra naturale continuare servirsi dell‘alfabeto ebraico. Questo non vuol dire
che l‘alfabeto latino sia sconosciuto in ambito ebraico, poiché molti, funzionari,
commercianti, artigiani, intellettuali, ne fanno costantemente uso; e la stessa lingua
latina non è del tutto ignota agli Ebrei, anche se fra di essi non è chiamata a svolgere
la funzione di prestigioso superstrato linguistico tipica del mondo cristiano.
35
Até a Segunda Guerra Mundial, a despeito da existência do alfabeto latino de domínio
de todos, os judeus europeus utilizavam com freqüência os caracteres hebraicos em textos
escritos a mão e impressos, mesmo para representar línguas românicas. Isso porque, como
lembra Kohring (1991, p.133) “na Idade Média ler e escrever eram prerrogativas do clero
(cristão e islâmico): para os judeus europeus – os sefarditas e os asquenazitas – os caracteres
latinos tinham simplesmente uma conotação muito forte para que se tivesse vontade de
empregá-los”.
textos em aramaico, árabe, persa, grego, latim, italiano, francês, espanhol, português, inglês, turco, tártaro e
outras línguas.”
34
O autor se refere às comunidades judaicas e árabes da Espanha medieval, que se assemelhavam bastante com
as portuguesas.
35
Tradução nossa: “Quando se trata não de colocar por escrito a língua sagrada, mas a língua de uso, parece
natural continuar a se servir do alfabeto hebraico. Isso não quer dizer que o alfabeto latino seja desconhecido no
âmbito judaico, já que muitos, empregados, comerciantes, artesãos, intelectuais faziam uso constante dele; e a
mesma língua latina não é desconhecida pelos judeus, mesmo que entre eles não seja chamada a desenvolver a
função de prestigioso superstrato lingüístico, típica do mundo cristão.”
44
Para o uso do alfabeto hebraico em línguas românicas, fez-se uso de dois processos
para a representação das vogais, usualmente inexistentes na escrita hebraica. O processo de
vocalização linear, já existente no final do século I, no qual um grafema pode representar não
só consoantes, mas também vogais. Uma análise inicial do processo empregado pelo tradutor
de De Magia, que não difere das aljamias em romances da Península Ibérica, indica que um
mesmo grafema pode representar mais de um fonema. Exemplos: vav
36
< ו > representa / o, u ,
v/; yud < י > representa /i, e, y/. Infere-se que se o leitor do texto aljamiado não for usuário
nativo da língua ou se não a conhecê-la bem, terá grandes dificuldades de compreensão.
O outro processo é o da vocalização infralinear ou pontual, em que toda vogal da
escrita quadrada hebraica tem uma representação através de pontos colocados abaixo ou
acima da consoante. Esse processo foi usado temporariamente pelos judeus ibéricos,
principalmente nas traduções literais de textos sagrados, que tinham como resultado textos em
ladino, na Espanha. Apesar de a vocalização infralinear reproduzir as vogais das línguas
ibéricas sem ambigüidades, ela não se impôs de modo generalizado, como em romances e
jornais. As razões poderiam ser não apenas a dificuldade técnica da transcrição dos pontinhos,
mas principalmente o fato de em hebraico esse processo ser restrito aos textos sagrados
(KOHRING, 1991, p.114). Os problemas relacionados à transcrição, transliteração e
interpretação dos textos aljamiados estão distantes de soluções
37
.
Teyssier (1977, p.183) apenas analisa as aljamias em caracteres arábicos, apontando
um problema também presente nas aljamias em caracteres hebraicos: “Pour transcrire certains
phonèmes portugais l’alphabet arabe est donc d’une pauvreté désolante, alors que pour
certains autres il est surabondant.”
38
A transcrição dos caracteres hebraicos para os latinos do De Magia, como pôde ser
visto, apresenta problemas complexos que requerem análises do português da época e
comparações com este, além da análise da escrita hebraica da época. As informações
etimológicas, por exemplo, servem de apoio para a representação adequada dos sons e, em
especial, das vogais.
36
Berezin (1995) foi a referência para os nomes dados às letras hebraicas. No entanto, houve algumas pequenas
alterações na grafia.
37
Veja-se, no entanto, Busse (2003).
38
Tradução nossa: “Para transcrever certos fonemas portugueses, o alfabeto arábico é de uma pobreza
desoladora, agora que para outros ele é superabundante.”
45
1.6.1 Classificação
Havia dois tipos básicos de modo de escrita medieval judaica: a escrita quadrada e a
não-quadrada. Esta última se apresentava de duas formas: semicursiva ou média
39
. Assim, há
três gradações na escrita: a quadrada, a semicursiva e a cursiva. Beit-Arié (2003, p.68) define
modo como “not the regional or temporal style of the Hebrew script but to generic manner of
its execution selected by users of each type of script.”
40
Para Bernheimer (1924, p.19), os
tipos diferentes de escrita hebraica “non sono determinabili sulla scorta di norme precise e
stabili, il che è quanto dire che in alcuni casi il giudizio può essere incerto e quindi diverso.”
41
Este autor estabelece, em seguida, o critério da forma dos caracteres, deixando de lado a
dimensão do caractere.
Não se sabe quais os critérios utilizados para tal classificação, mas May (1994, p.381)
classifica os caracteres do De Magia como hebraicos sefarditas semicursivos. González
Llubera (1952, p.267) afirma que a escrita é semicursiva espanhola, típica do século XV.
González Llubera (1952) não faz qualquer comentário relativo à mudança de punho a partir
do fólio 85r. Não há dúvida quanto a essa mudança, como se vê claramente nos fólios 84v e
85r (Figura 13). No entanto, é provável que o autor se refira ao primeiro punho, porque o
compara com aquele do Ms. Laud Or. 310, muito próximo ao do De Magia, como se
verificou pessoalmente na Bodleian Library.
Alguns caracteres do De Magia assemelham-se mais aos caracteres que Bernheimer
(1924) aponta como cursivos do que aos caracteres denominados por ele de semicursivos.
Quando se comparam os caracteres do De Magia com os modelos apresentados nas páginas
21 a 24, a maioria dos caracteres tratados aproxima-se mais dos cursivos (álef, guímel, tet,
samech, tsadik, sin). Porém, ao se compararem os caracteres do De Magia com os caracteres
do corpus completo utilizado por Bernheimer (1924, cap. 2), começa-se a acreditar,
novamente, que a escrita do códice estudado é semicursiva. A diferença entre as duas escritas
é, na verdade, bastante tênue. O álef, por exemplo, não se assemelha a nenhum dos nove
exemplos de escrita semicursiva. Aproxima-se, no entanto, de três exemplos de cursiva
apontados por esse autor.
39
Alguns autores empregam o termo rabínico, criado pelos hebraístas cristãos no século XVI, considerado
inadequado por Beit-Arié (2003, p. 68). O termo não será utilizado aqui, sendo sempre substituído por
semicursiva, mesmo que tenha sido o empregado pelos autores citados.
40
Tradução nossa: “não o estilo regional ou temporal da escrita hebraica, mas a maneira genérica da sua
execução pelos usuários de cada tipo de escrita.”
41
Tradução nossa: [Os tipos] “não são determináveis amparados por normas precisas e estáveis, e em alguns
casos o julgamento pode ser incerto e portanto diverso.”
46
Ao se compararem os grafemas do De Magia com o Quadro de Alfabetos de Kautzsch
(1985), que apresenta as diversas formas dos grafemas do hebraico, a maioria deles está em
conformidade com o alfabeto semicursivo espanhol do século XV. No entanto, encontram-se
também algumas semelhanças com outros alfabetos, principalmente com o alfabeto cursivo
oriental.
Conclusão: apesar de ligeiras discrepâncias apontadas ao longo desta seção, o De
Magia estaria, então, redigido em escrita semicursiva do século XV, o que não é surpresa, já
que 75% dos textos medievais datados se encontram com essa escrita
42
(BEIT-ARIÉ, 2003,
p.74).
1.6.2 Aspectos paleográficos
Definir as diferenças entre os vários tipos de escrita não é tarefa simples, porque
envolve os mais variados aspectos (morfológicos, estilísticos, etc). Como dito anteriormente,
segundo Beit-Arié (1972, p.46), os livros judaicos medievais eram produto de um escriba
profissional ou de um homem culto que copiava o manuscrito para uso pessoal, ao contrário
dos livros cristãos, elaborados nos scriptoria. O mesmo autor completa:
we have no information about any kind of institutional copying and production of
Mss. These facts, together with other historical conditions, explain the absence of an
established typology of medieval Hebrew book-scripts until now, and challenge us
not only to search for synchronic and diachronic typology, but also to try to
discover non-institutional centers of copying, schools and local traditions, and to
clarify the ways in which Hebrew texts were transmitted during the Middle Ages.
43
Ademais, não se pode ignorar que a manutenção das formas da escrita em caracteres
hebraicos, ao longo da história dos judeus, foi freqüentemente interrompida pela instabilidade
dos indivíduos e das comunidades. A expulsão freqüente de comunidades ou populações
inteiras, por um lado, e o vagar dos indivíduos por outro, trouxe influências e misturas que
obscurecem a identificação das marcas dos diferentes tipos de escrita (BEIT-ARIÉ, 1972,
p.47). Bernheimer (1924, p.29) também chama a atenção para a inegável influência das
escritas não-hebraicas das várias regiões sobre a respectiva hebraica e também para a
influência de algumas escritas arábicas e da arte decorativa hispano-mourisca sobre os
caracteres semicursivos e cursivos espanhóis.
42
A cursiva foi encontrada em apenas 3% dos textos.
43
Tradução nossa: “Não temos qualquer informação sobre qualquer tipo de cópia e produção de textos
institucionais. Estes fatos, juntos com outras condições históricas, explicam a ausência de uma tipologia
estabelecida da escrita dos livros judaicos medievais até agora, e nos desafia não somente a buscar por uma
tipologia diacrônica e sincrônica, mas também para tentar descobrir centros de cópia não-institucionais, escolas e
tradições locais, e esclarecer os modos como os textos judaicos foram transmitidos durante a Idade Média.”
47
Serão feitas, em seguida, análises de alguns aspectos paleográficos considerados
relevantes, de acordo com Cambraia (2000). Apenas a parte feita pelo primeiro punho, que
vai até o fólio 84v, será analisada. O segundo punho, que vai até o final do códice, a partir do
folio 85r, deverá ser estudado e editado em outro momento. A escrita foi distribuída, ao longo
de todo o códice, em uma única coluna.
1.6.2.1 Grafemas
Os grafemas do De Magia serão analisados com detalhamento no Capítulo 2 e na
seção 1.6.4.2 dos sinais de valor numérico.
44
1.6.2.2 Abreviaturas
Não foram encontradas abreviaturas no texto principal estudado do De Magia. No
entanto, é freqüente a ausência do grafema que representa a vogal /a/, e bem mais raramente a
ausência dos demais grafemas representantes de vogais. Apenas o colofão, escrito pelo
segundo punho, que não é objeto deste estudo, apresenta abreviaturas nos vocábulos hebraicos
que foram desfeitas mas não serão aqui analisadas, por fugirem ao escopo do estudo.
1.6.2.3 Sinais diacríticos
Vários são os sinais e marcas encontrados no De Magia. Em muitos dos casos, mesmo
com o manuscrito original em mãos, é difícil identificar com segurança se foram feitos pelo
copista ou por outro punho. Ademais, o uso dos sinais é irregular, como já observado por
Huber (1986, p.43) em relação aos manuscritos antigos de um modo geral. Os sinais
diacríticos encontrados na seção analisada do De Magia que poderiam ter sido feitos pelo
próprio copista, seriam os seguintes (há outros em 1.6.2.8):
um ponto acima do grafema
Diacrítico que aparece acima de grafemas variados, em contextos variados. Assim,
não foi possível chegar a alguma conclusão em relação ao seu significado.
dois pontos paralelos acima do vocábulo
Diacrítico que aparece acima de grafemas e vocábulos variados, em contextos também
variados. Teriam sido eles feitos por um punho diferente do copista? Não foi possível chegar
44
A partir daqui, o leitor deverá ter o Encarte sempre em mãos, para melhor compreensão da pesquisa, e não se
esquecer de fazer a identificação dos grafemas da direita para a esquerda.
48
a alguma conclusão em relação ao seu significado, mas alguns casos pareciam indicar
anulação do vocábulo.
1.6.2.4 Sinais de valor numérico
Os valores numéricos dos grafemas do alfabeto hebraico nos textos aljamiados em
judeu-espanhol são (BUNIS, 1999, p.223):
א álef = 1 ה hei = 5 ט tet = 9
ב bet = 2 ו vav = 6 י yud = 10
ג guímel = 3 ז zain = 7
ד dálet = 4 ח het = 8
As formas compostas são:
11 = אי 14 = די 17 = זי
12 = בי 15 = וט 18 = חי
13 = גי 16 = זט 19 = טי
O numeral 15 é representado através de 9 + 6 e o 16 através de 9 + 7, para se evitar a escrita
de uma das abreviaturas do tetragrama YHVH, que se refere ao nome de Deus, formado pelas
consoantes yud
י hei ה vav ו hei ה (Encyclopaedia Judaica, 1971, v. 2, p. 743).
Em seguida:
כ kaf = 20 נ nun = 50 פ pei = 80 קי = 110
ל lámed = 30 ס samech = 60 צ tsadik = 90 etc.
מ mem = 40 ע ain = 70 ק kuf = 100
No De Magia, fazendo-se um paralelo com o citado acima, encontraram-se os
seguintes números escritos com sinais de valor numérico (e não por extenso):
49
Quadro 4 - Numerais
Valor numérico
e transcrição
Escrita
quadrada
Localização (fólio, face-linha)
1
א
21r-30
2
ב
21r-30
3
ג
21r-11; 21r-23; 21r-23; 21r-24
4
ד
8v-13; 8v-17; 21r-6; 21r-11; 21r-17; 21r-30; 21v-
6; 21v-9; 21v-19
5
ה
21r-17; 21r-25
6
ו
20v-5; 21r-11; 21r-25; 21r-30; 33r-14
7
ז
21r-26; 33r-14; 33r-14
8
ח
21r-17; 21r-26
9
ט
20v-10; 21r-11; 21r-26
10
י
21r-27
11
אי
20v-18; 21r-27; 21v-27; 21v-29
12
בי
8v-5; 8v-12; 14v-8; 21r-11; 21r-27; 46r-6; 46r-6
1(3)
(גי)
5v-13
15
וט
9r-24; 9r-27
16
וי
10r-27; 10v-9
19
טי
9r-25
21
אכ
33r-10; 33r-11; 34r-31; 35v-3; 46r-8
(27)
זכ
9r-26
28
חכ
9r-25
35
הל
33r-12; 33r-13; 46r-20; 47v-13
41
אמ
50v-17
42
במ
33r-11; 33r-13
45
המ
48v-7
112
ביק
33r-14; 33r-15
120
כק
33r-9; 33r-15; 33r-16; 46r-5; 48v-9
1(3)<<5>>
הלק
48v-9
150
נק
48v-10
172
בעק
5r-30
180
פק
48v-11
Em todos os casos, os grafemas com valor numérico apresentam-se com um ponto ou
mais pontos ou um traço sobreposto, em geral na horizontal.
Het e kaf são os dois únicos grafemas que representam exclusivamente sinais de valor
numérico, não compondo vocábulos:
50
Quadro 5 - Grafemas que representam exclusivamente numerais
Nome Escrita
quadrada
Grafema no
De Magia
Transcrição Exemplos
Het com diacrítico
׳ח
<8>
<8> (21r-26)
Kaf com diacrítico
׳כ
<20>
<21> (33r-10)
1.6.2.5 Sinais de pontuação
Os sinais de pontuação empregados pelo copista do De Magia são o ponto medial
(61v-6), transcrito como < · >, e os dois pontos verticais (84v-8), transcritos como
< : >. Será necessária, no futuro, uma análise sobre suas funções.
1.6.2.6 Separação intra e intervocabular
Em final de linha, o critério principal utilizado pelo copista para separar as partes de
uma palavra é o respeito ao limite da mancha. Assim, é bastante comum encontrar um
vocábulo partido, sem se levar em conta os limites das sílabas. Alguns exemplos: <eng /
anos<a>s> (46v-6); <ade / bdan> (66r-12); <quere / nças> (80r-4).
A separação entre as palavras é a regra geral, seguindo, basicamente, o critério
fonológico, e não o mórfico como no português moderno. Exemplos: (i) vocábulos
morfologicamente distintos, mas apresentados em uma única seqüência gráfica: <oceo> (1v-
15); (ii) um único vocábulo, com elementos separados: <jus ticias> (55v-20).
1.6.2.7 Gerenciamento de linha
1
As estratégias utilizadas pelo copista do De Magia relacionadas ao gerenciamento das
linhas nos manuscritos hebraicos, para se alcançar a margem esquerda, são as seguintes
(adaptado de BEIT-ARIÉ, 2003, cap. 2):
1) Alongamento ou compactação da última e/ou antepenúltima letras
Exemplo: No final das linhas 18 e 20 do fólio 52r, a haste horizontal do hei de <luą> alonga-
se até alcançar o final da mancha, à esquerda:
1
Gestione della riga, termo cunhado por Maniaci (1997) como informa Beit-Arié (2003, p.33).
51
2) Flexibilização do espaçamento das palavras em uma linha: aumento ou diminuição do
espaço antes da palavra final, para que ela se mantenha alinhada
Exemplo de aumento do espaço (24v-13):
3) Inserção de
(til medial) (22r-24)
As vinte ocorrências do sinal que aqui está sendo chamado de til medial aparecem sempre em
final de linha e foram transcritas por <~> na edição. A sua principal função é a de fazer com
actere que o
inte. Exemplo abaixo (fólio
31r): como sobrou espaço no final da linha 9, e a próxima palavra era <casa>, que não caberia
por inteiro na linha, o copista escreve kuf (transcrito como <c>) com um traço em cima e, na
linha seguinte escreve a palavra inteira começada por essa letra.
que a linha alcance a mancha. De um modo geral, há um espaço entre ele e o car
antecede. O seu uso é bastante restrito porque o copista utiliza outras estratégias para a
manutenção da mancha.
4) Preenchimento da linha com o(s) primeiro(s) grafema(s) do próximo vocábulo
Como o hebraico não possui lexemas de um único grafema, não há possibilidade de confundir
o leitor. O lexema, no entanto, é escrito por inteiro na linha segu
5) Escrita da última e/ou últimas letras acima ou abaixo da linha
xemplo: ao final das linhas 26 e 27 do fólio 51v, <mo> de <prestamo> e <s> de <moed<a>s
encontram-se acima da linha.
E
52
6) Escrita das letras excedentes diagonalmente para cima, ao longo da linha da margem
plo (15r-31): Exem
ponto
cima do sin:
7) Omissão da última letra e inscrição de um ponto acima do penúltimo grafema do
vocábulo. Exemplo 43r-15, no qual o álef final de <casa> foi omitido e colocou-se um
a
8) Lexitomia: divisão do vocábulo, escrevendo-se um segmento no final da linha e o
restante da palavra na linha seguinte. Exemplo em 31r-5, <en / contramentos>:
Estas escolhas para a manutenção da integridade da mancha demandavam do escriba
um estado de atenção e previsão, ao se aproximar da margem esquerda, demonstrando
e da praticidade do texto. “It also clearly preocupação com o aumento da legibilidade
53
demonstrates the preference for fluency of reading over rapidity of copying, resulting in
higher costs of production.”
2
(BEIT-ARIÉ, 1993, p.37).
1.6.2.8 Sinais de correção e anulação
Os sinais encontrados na seção analisada do De Magia que poderiam ter sido feitos
os seguintes:
a e outro abaixo dele indica sua
m que, além dos pontos, o grafema se encontre também riscado.
Exemplo:
pelo próprio copista, seriam
ponto acima e abaixo do grafema
De uma maneira geral, um grafema com um ponto acim
anulação. É freqüente també
(52r-27)
Os parênteses < ( ) > são utilizados para suprimir um vocábulo ou um conjunto
deles, considerados erros pelo próprio copista. Exemplo:
(84v-2)
eça em uma linha e termina na outra, é comum não haver o parêntese
) >, que fecha os primeiros parênteses. Exemplo: <e se o sol for en boon espeyto deles
debdan (roubos / (e perdid<a>s e perdimento)> (62v-4,5).
Como os parênteses também foram utilizados para indicar leitura duvidosa, letra mal-
açada e modificação por conjectura, sempre que aparecerem no texto original, feitos pelo
opista, haverá indicação em nota de rodapé.
.6.2.9 Rubricação e decoração
Quando o trecho com
<
a
tr
c
1
2
Tradução nossa: “Isso também demonstra claramente a preferência por fluência da leitura em detrimento da
rapidez em copiar, resultando em maiores custos de produção.”
54
Inexistem rubricação e decoração no De Magia. As possíveis causas já foram
explicadas em 1.4.5.
a
uatro ou cinco linhas da mancha do texto. Eles indicam o(s) primeiro(s) vocábulo(s) do recto
a separação intra e
1.6.2.10 Reclamos
Os reclamos aparecem no verso de todos os fólios, a uma distância equivalente
q
do fólio seguinte. Algumas vezes, há variação na ortografia ou n
intervocabular entre o vocábulo do reclamo e o vocábulo ao qual ele se refere no fólio
seguinte. Apenas o reclamo do fólio 79v <oytab<<o>>> não remete a vocábulo(s) idêntico(s)
no fólio 80r (<ou eno dozeno>).
Acima dos reclamos, há sempre pontos - de quantidade variável - distribuídos em
forma de pirâmide, composta de 4 a 6 linhas horizontais. Exemplo (32v):
55
Nos fólios 12v, 24v, 36v, 60v, 72v, 84v há um número bem maior de pontos, que poderiam
indicar final de caderno. No fólio 48v, teria o copista se esquecido de usar tal estratégia? A
dúvida surge porque esperava-se um número maior de pontinhos e a quantidade é regular.
1.6.2.11 Notas marginais e interpolações dos leitores do De Magia
sa por si só. Eles não só fazem correções de vocábulos, como
bém
a, gótica). González Llubera (1952, p.268) afirma ter encontrado, na análise das
aleográfica.
b.com/dictionary.htm) e especificamente do século XVII
(
VALENTINE, 1671). No entanto, é muito freqüente o leitor indicar por um sinal no ponto do
texto ao qual a nota marginal se refere através de alguns destes símbolos da alquimia também:
Três pontos em forma de pirâmide
, que muitas vezes se repetem à frente da nota
ara espíritos na Alquimia
(VALENTINE, 1671).
. O traço
antecedido por uma circunferência é o símbolo do sal de amoníaco na Alquimia
(VALENTINE, 1671).
Essa variedade de formas de indicações de notas poderia indicar que pessoas
São tantas as interferências escritas feitas por outros punhos que não o do copista que
elas mereceriam uma pesqui
tam redigem anotações nas várias margens, mais freqüentemente na interior e na de corte.
As línguas variam: português, latim, espanhol, assim como o tipo de escrita: hebraica, latina
(humanístic
primeiras cinqüenta fólios do De Magia, pelo menos oito punhos diferentes, de leitores ou
revisores que poderiam ir do século XV ao XVII. Todas essas interferências se encontram
apontadas nas notas de rodapé da presente edição p
Foram feitos também símbolos muito semelhantes aos utilizados por alquimistas em
geral (
http://www.sacredspiral.com/Database/alchemy/alky10.html e
http://www.alchemyla
na margem. Este sinal é um símbolo para espíritos na Alquimia (VALENTINE, 1671).
Três circunferências em forma de pirâmide, que também podem se repetir na frente da
ota que se encontra na margem. Este sinal é também um símbolo pn
Um traço horizontal seguido e/ou antecedido por uma circunferência:
diferentes as fizeram ou que a passagem do texto se relaciona com elementos distintos da
Alquimia.
56
No recto de todos os fólios, à esque rgem de cabeça, foi escrito um vocábulo
o, eles serão transcritos na nota de rodapé.
Além de vocábulos e símbolos, observa-se também, na parte analisada, poucos
or usuários do manuscrito. Um é o desenho de um vaso de
ojo ovalado (8r-26):
rda da ma
em caracteres latinos e tinta marrom claro. Alguns foram cortados pela encadernação. Caso
contrári
desenhos feitos provavelmente p
b
O outro desenho (14r-18) é uma cabeça de um animal com língua para fora, representando um
dragão (<a c<a>beça er outro animal referido do dragon do sol e da lua> (14r-18)) ou qualqu
nas linhas seguintes (<e acrecenta en<a>s suas naturas · boas das pr<a>netas que foren
enela e adebda sobre ą c<a>beça de todo / animal> (14r-20 e 21)):
:
Há também desenhos de luas, indicados nas notas de rodapé. Um exemplo (13v-24):
Um leitor do De Magia utiliza 19 vezes uma outra forma de kuf, que foi transcrita como <ċ>,
para diferenciá-la da forma de kuf mais freqüente. Exemplo:
(1v-26)
Esta forma aproxima-se de uma forma também semicursiva, conforme Bernheimer (1924,
3
.
p.81)
3
As 19 ocorrências são as seguintes, seguidas das linhas às quais os vocábulos estão sobrepostos:
<(ċ)rips{{t}}es> (1v-26); <(ċ)onveniencias> (3v-31); <ċomo; ċorocion; ċonpąsion; ċonposicion; ċonvenen> (4r-
5); <ċonveniencias> (4r-6); <escentąċo> (5r-23); <ċonċod> (17v-9); <(ċ)on> (20v-8); <ċon(j)un(s)ion de / ċen
(q)> (58r-22) ; <ċon(j)ucion de [.]> (59r-28); <ċon(j)uncion de ċen (q)> (60r-12 e 30); <ċon(j)uncion da cen (y)>
(61r-24).
57
foi comprado em Louvain
Dee 1562 Louanij emit./ Januarij .8.
John Dee foi um
ue ten a com
ara a Holanda,
nde se ocupa da aquisição de obras raras. Entre elas, encontrava-se o Livro cumplido
TY lmente, o De Magia. Supõe-se que o De Magia foi
roduzido em Portugal, mas que teria sido levado até a Bélgica. Sabe-se que, em 1497, o rei
anuel decretou que nenhum judeu poderia possuir livros judaicos, que deveriam ser
lsão e tantas outras fugas e exílios podem ter levado o códice para
fora de Portugal.
arço de 1625,
eado arcebispo. Apesar de Ussher saber hebraico, Hilty (1982, p.266) infere
Das mãos de Ussher, o De Magia passou para as do seu conhecido William Laud, que
se encontrava na Grã-Bretanha, antes ou em 1633, conforme informação encontrada na
1.7 HISTÓRIA DO CÓDICE
Até 8 de janeiro de 1562, o manuscrito em questão
(Bélgica) pelo matemático John Dee, se forem verdadeiras as informações escritas na margem
de cabeça, em tinta marrom, mas mais fraca do que a utilizada no texto, com letra humanística
cursiva (Figura 12 do Anexo):
Joannes
estudioso inglês, com grande vocação para línguas. É muito provável
q h prado o manuscrito em questão com a intenção de lê-lo. Entre 1548 e 1550,
estudou em Louvain, após passagem pela Holanda em 1547. Em 1562 volta p
o
(HIL , 1982, p.265) e, provave
p
M
depositados nas sinagogas. No entanto, os exilados tentaram levar consigo seus valiosos livros
(SCHMELZER, 1997, p.262). Os relatos da época das perdas, dos roubos e trajetórias dos
livros e dos próprios exilados são comoventes, demonstrando o valor desses livros para os
judeus medievais. Esta expu
Em seguida, o manuscrito teria passado para as mãos de James Ussher (1581-1656),
arcebispo de Armagh, Irlanda, quando esteve na Inglaterra, conforme a informação presente
na margem superior do verso do fólio anterior ao primeiro fólio, em que aparecem os
seguintes dizeres (Figura 12 do Anexo):
Jacobi Armachani
James Ussher só pode ter comprado o De Magia depois de 22 de m
quando foi nom
que o manuscrito foi adquirido apenas por interesse bibliófilo, quando John Dee foi obrigado
a se desfazer de sua biblioteca devido a dificuldades financeiras.
58
margem de pé do fólio 1r, escrita em tinta preta ou cinza escura, com letra humanística
cursiva (Figura 12 do Anexo):
Liber Guilielmi Laud Archiepi Cantuãr./ et Cancellarij Vniuersitatis
Oxõn / 1633.
Finalmente, o Arcebispo Laud doa o manuscrito à Bodleian Library, em cuja
Seção Oriental o mesmo se encontra até o presente momento (HILTY, 1982).
1.8 DATAÇÃO DO CÓDICE
O texto principal do De Magia não apresenta, na parte analisada, informações
explícitas relativas à data em que foi copiado. Presume-se que a cópia seja anterior a 8 de
.
ulo XV,
com maiores proba lo.
ÃO DA LINGUAGEM DO TEXTO
enta ne datação as todos os autores
e a língua do De M eria o po a primeira metade do
60, p.579, por exemplo). Mesmo havendo consenso, faz-se necessário
erção e melhor precisar a história do De Magia. Além do
e, nesta tese, não se estar es lecendo o icum, espera-se dar
janeiro de 1562, data que figura na nota escrita por John Dee na margem de cabeça do fólio 1r
(ver Figura 12 do Anexo).
May (1994, p.381) afirma que a cópia seja de circa 1400, porque as filigranas
presentes no texto, dos grupos Ancre, Trois monts e Tête de boeuf, são similares às expostas
por Briquet, datadas entre 1397 e 1402. A autora da presente tese, porém, encontrou apenas
uma filigrana, se se considerar que uma delas estaria apenas de cabeça para baixo.
González Llubera (1952, p.267) afirma que se trata de uma tradução do século XV
Assim, pode-se afirmar que, provavelmente, o códice tem como datação o séc
bilidades de estar inserido na primeira metade desse sécu
1.9 DATAÇ
O códice De Magia não apres nhuma explícita, m
consultados afirmam qu agia s rtuguês d
século XV (SÁ, 19
verificar a veracidade de tal ass
mais, apesar tabe stemma codd
continuidade aos estudos relacionados ao ms. 282 e, eventualmente, identificar cópias e
unhostestem . Assim, será identificada a que época o manuscrito pertenceria, através de uma
análise da sua linguagem. Será tomado como base, principalmente, o trabalho de Cambraia
59
(2003), que codificou os dados, permitindo seu uso. Este autor, por sua vez, baseou-se em
Bechara (1985), Mattos e Silva (1984) e Cambraia (2000), também consultados pela autora
a tese, os quais delimitam as fases do português através de critérios intralingüísticos.
do De
ática do particípio passado dos ação; (iii) pronomes
v) conjunçõe .
is traços lingüísticos selecionados pelos autores citados foram evitados pela
lise dos dados/cont üístico em que eles se encontram, o que poderia
a de rigor e criteriosid aço representa ica dos hiatos com vogais
bertura versus de crase foi deixado de lado, pela dade de analisar com mais
s encontros vocálicos d agia e pela própria opacidade do sistema.
bras utilizadas para a a os foram , 2003, p.55):
Quadro 6 – Obras citadas para a datação da linguagem
d
Foram selecionados apenas os seguintes traços lingüísticos para a análise
Magia: (i) vogal tem verbos da 2ª conjug
possessivos ma, ta e sa; ( s ca e pois
Os dema
dificuldade de aná exto ling
ocasionar perd ade. O tr ção gráf
de mesma a necessi
profundidade o o MDe
As o nálise dos fat (CAMBRAIA
Título Sigla Data da linguagem do
texto
Livro das Aves LA
séc. XIV
Diálogos de São Gregório - versão A DSGA
anterior a 1375
Barlaão e Josafat BJ
1370-1400
Horto do Esposo HE
1385-1400
Diálogo de Robim e de um Teólogo DRT
1400-1425
Diálogos de São Gregório - versão C DSGC
1416
Crónica de Dom Pedro CDP
1430-40
Leal Conselheiro LC
1435
Imitação de Cristo IC
1468
Carta de Pero Vaz de Caminha CPVC
1500
Os Lusíadas LU
1572
1.9.1 Vogal temática do particípio passado dos verbos da 2ª conjugação
volução do , ocorreu um a substituiçã temática /u/
pela /i/ nos part ssa res d erbos da 2ª conjugação (WIL
SILVA 993, p CARDEIRA, 2005, p.204). A partir de
-se:
adro 7 - ogal tem partic o pass s verbo a 2ª conj
ática /u/ V al tem
Na e português a progressiv o da vogal
icípios pa dos regula os v LIAMS, 1975,
188-190; MATT
Cambraia (2003, p.59), tem
OS E , 1 .42-44,
Qu V ática do ípi ado do s d ugação
Texto Vogal tem og ática /i/
LA - séc. XIV 100% -
DSGA - anterior a 1375 100% -
BJ - 1370-1400 50% 50%
HE - 1385-1400 51,9% 48,1%
60
D 400-1425 47,4% 52,6% RT - 1
DSGC - 1416 17,7% 82,3%
LC - 1435 7,8% 92,2%
IC - 1468 4,3% 95,7%
CPVC - 1500 - 100%
De Magia 17,6% (46) 82,4% (216)
Foram encontradas 46 ocorrências de particípios passados dos verbos da 2ª conjugação
co
com vogal temática -i-
5
A análise dos particípios
ês, os pronomes possessivos proclíticos diferenciavam as formas átonas
ro 8 - Pronomes possessivos minha, tua, sua
m vogal temática -u-
4
e 216 ocorrências
passados indica que o De Magia seria posterior ao DRT (1400-1425) e anterior ao LC (1435),
colocando na mesma época do DSGC (1416).
1.9.2 Pronomes possessivos minha, tua, sua
No portugu
das tônicas. As formas proclíticas, paulatinamente, foram sendo substituídas pelas tônicas
(WILLIAMS, 1991, p.159-160; MATTOS E SILVA, 1993, p.27-29, CARDEIRA, 2005,
p.247). Em relação a este fato, e a partir de Cambraia (2003, p.59), no De Magia tem-se:
Quad
Pronomes
1ª pessoa 2ª pessoa 3ª pessoa
Tex
m/h/a/s minha/s ta/s tua/s sa/s sua/s
tos
DSGA -
anterior a
100% - 100% - 100% -
1375
DSGC - 1416 - 100% - 0,1100% 3 % 69,9%
LC - 1435 - ?%100% re 50% % gular 50
IC - 1468 - 100% - - 100% 100%
De Magia - 100% (2) - % ( )- 0,5 1) 99,5% (195
Das 198 ocorrências de pronomes possessivos femininos (exceto de 1ª e 2ª pessoa do
plural), apenas uma é proclítica (sa), equivalente a 0,5%. As demais foram minha/s (1% - 2) e
sua/a/s (98,5% - 195), equivalentes a 99,5%. Depreende-se, assim, que o De Magia seria
posterior ao DSGC, isto é, a 1416 e anterior ao Imitação de Cristo, de 1468, quando os
proclíticos já não existiam.
1.9.3
Conjunções ca, pois e variantes
Entendudo, escondudo/a/s, recebudo/a, sabudo/a/s, vençudos, venduda.
5
Conhecida, devida/o, escondido, nacido/s, parecido, perdido/a/s, roidos, tangido, tolhida, vencido/s,
vendido/a/s.
4
61
Segundo Olinda (1991, p.78 apud MATTOS E SILVA, 1994, p.262), ca explicativo
presenta alta freqüência nos séculos XIII e XIV, ao contrário do pois explicativo. Nesse
esmo período, pois temporal era freqüente. No século XV, o uso de ca e pois se equilibra
6
.
ys e 7 de pois, todas explicativas também. Estes fatos encaixariam o
ulo XV. No entanto, não se verificou o equilíbrio de ca (23 ocorrências) e
agora analisados podem ser organizados do
a
m
Ademais, pois temporal desaparece, sendo substituído por depois que temporal. No século
XVI, ca inexiste.
No De Magia, foram encontradas 23 ocorrências de ca, todas explicativas, e 47
ocorrências de po
testemunho no séc
pois/poys (54 ocorrências).
À guisa de conclusão, os dados até
seguinte modo:
Quadro 9 - Síntese sobre a datação da linguagem do De Magia
Fato lingüístico
Terminus a quo Terminus ad quem
Vogal temática do part. pas. da 2ª conjugação 1400 1435
Pronomes possessivos minha, tua e sua 1416 1468
Conjunções ca, pois e variantes posterior a 1399 anterior a 1500
Dois fatos que não
foram o morfema da 2ª pe
códice (verbo acharedes),
apenas uma ocorrência co
nenhuma com ter. Ambos
como parâmetro.
Os dados analisado
posicionamento dos autore
1.10 CONTEÚDO
De Magia é um guia astrológico em prosa dividido em sete partes, que tratam dos
seguintes assuntos (SÁ, 19
Parte I: número de esferas
cometas e climas;
fazem parte do quadro devido ao restrito número de ocorrências
ssoa do plural, que ocorre apenas duas vezes na parte analisada do
e a concordância entre objeto direto e particípio passado, com
nstituída pelos verbo haver - <avendo visto partida> (1r-1) - e
inserem o De Magia antes de 1435, tendo-se o Leal Conselheiro
s nesta seção inserem o De Magia no século XV, corroborando o
s pesquisados.
60, p.569):
celestes, estrelas, signos, planetas e suas influências, conjunções,
6
Esse equilíbrio não se verificou no De Magia, como se verá em seguida.
62
Parte II: o tempo
Parte III: o nascimento dos
Parte IV: a influência do so
Parte V: as mudanças e tum
Parte VI: escolha do tempo
Parte VII: meios de se trata s astrais
A descrição das par
2r-31:
es(f)era
obas que parecen alguas vezes e das com<e>ta<<s>>
os · e enos adebdamentos dos cri(p)ses e das
conjunçoes e dos ofigoçoes e dos outros espeytos das
estere<<s>> e dos o(f)icios e das propedades deles · e das
e en ą parte quarta trotarey enos adebdamentos das rebolaçoes
dosol sobre cada omen e das venturas que lhes an de veer en cada
tenpo e os enderençamentos e dos casa mentos e das gueras e das
lides o bralhas e das pa{{(c)}} <<z>>es e das avenças e das
gan<a>nças e das doenç<a>s e dos gozos e dos panos e das
armas e dos gados · e dos b<a>salos · e dos tenpos e que se an de
conprir os adebdamentos que adebdaron as pranetas en<a>s
nacenç<a>s aos omees por seus enderençamentos ·
e ena parte quinta trotarey das tremudaçoes dos reygnos e das
le<<y>>s e de outros estebelicimentos geeraaes e as
seres humanos e seus estados
l na vida humana
ultos nos reinos, guerras e outras calamidades
favorável para se realizarem certas ações
doenças, epidemias e pestes causadas pelas influênciar
tes se encontra no fólio 1v do próprio texto, a partir da linha 20, até
e quero fazer este lißro sete p<a>rtes ·· ena parte pr(im)eyra
trotarey quantos son osceos e que ay estrel<a>s e as propedades
os signos · e dos termi<<os>>e dos grados que son enad
estrelada · e das estrelas fisas grandes que son ena es(f)era
out<a>ba que e ą es(f)era estreladae as propedades das
pr<a>netas e das cas<a>s e das conjunçoes edos espeytos e das
trasmudaçoes e dos recebimentos e dos{{c}}rips{{t}}es delas · e
das partes que son s<a>cadas por elas · e das propedades das
strelas ne
e das cintildaçoes e dos arcos que parecen en da redor dos
lumeares e sobre tera · e das propedades das crimas que son enos
sitos da tera · e o que adebdan c<a>dą uą praneta en cada signo
<<e>> en cada ccasa · e os juizos geeraaes e as p<a>laßras e as
proßas dos sabyos :
e ena parte segunda trotarey enos tenporaaes dos anos e en<a>s
rebolaçoes dos an
pr<a>net<a>s enos tenporaes de cada tenpo do ano · e das
tenpestas e das pr<a>netas en c<a>da ano e en c<a>da tera · e
en<a>s rebolaçoes dos reis ·
e <<e>>(n)a parte terceyra trotarey das nacenças dos omees e
das vidas e das mortes e das riquezas e d{{a}}<<o>>s estados
dos m
rolaçoes que an os uus con os outros
63
pobramentos das vilas e das estroiçoes dest<a>s cous<a>s de
das gueras (j)ereaaes e dos estiramentos e os pelegançoes e se
eredan os (f)ilhos dos reys · o se ~seran dese{{ree}}redados e as
doenç<a>s celestriaaes
asi como febres e as doenç<a>s lunaticas e outra<<s>>doenças
e pera avenças de mal querenças · e pera tolher as sanhas ernias
os poderosos e pera abonegar as conpresoes dos omee<<s>> e
era tolheras tenpestas do ayre e pera m<a>tar ą lagosta e as
outras serpentes danosas ou (f)azer as (f)u(j)ir do logar que
quigermo<<s>>
rebolaçoes deles e os boos e os malesque veen en deles ·
e ena p<a>rte sesena trotarey en terogaçoes e enos escolhimentos
das oras pera fazer as obras e as cous<a>s fisicales e en<a>s
sabedorias das cous<a>s se son verdade o<<u>>mentira e o que
pode seer obrado e o que se seguira das cous<a>s queson en
dubida
e ena parte setena trotarey p(o)ra tolher
ą
p
O códice não é dividido em capítulos e não há nenhuma indicação, ao longo do texto,
das partes acima citadas. Ademais, esta tese abarca apenas o primeiro punho, equivalente aos
168 primeiros fólios. Assim, não é possível afirmar a qual ou quais partes se refere o primeiro
punho e se as sete partes citadas integram, efetivamente, o ms. 282. A seção transcrita, com
certeza, abarca a primeira parte.
64
2 A REPRESENTAÇÃO GRAFEMÁTICA DO DE MAGIA
Os textos ibérico-românicos escritos em caracteres hebraicos representam sistemas
estudo, para logo em seguida se exporem
2.1 O HEBRAICO
sivo e
o se
s indo-européias, é
independentes, e não meros calcos do sistema românico. Revelam uma estrutura própria, além
de um individualismo tipológico. Para sua compreensão, é necessário partir de suas
características de origem, tal como se apresentam para textos hebraicos (HEGYI, 1981, p.99).
Assim, serão apresentadas algumas características do hebraico, de interesse imediato para este
os grafemas do De Magia.
O hebraico é uma língua semítica, cujo alfabeto é composto de 22 consoantes
7
, sempre
escritas da direita para a esquerda. Kaf (כ), mem (מ), nun(נ), pei (פ) e tsadik (צ) apresentam
formas diferentes em final de palavra (ך ם, ן , , ף ,ץ, respectivamente). Com exceção do mem,
as demais letras apresentam uma cauda descendente, ao invés de terminar na horizontal. As
letras bet (ב), guímel (ג), dálet (ד), kaf (כ), pei (פ) e tet (ט) representam dois sons, o oclu
o aspirado. Na escrita, o som oclusivo é representado por um ponto, o daguesh qal:
(GREENBERG, 1965). Estes sons se tornam aspirados, geralmente, depois de uma vogal.
Sampson (1996, p.80) pensa que a mais importante característica estrutural das línguas
semíticas é a existência de grafes para as consoantes, mas nenhum para as vogais. Pressupõe-
se que os grafes semíticos foram criados de acordo com o princípio acrofônico: atribuição ao
desenho ou ao ideograma de um objeto do valor fonético da letra ou da sílaba inicial do nome
desse objeto. Todas as palavras das línguas semíticas começam por consoantes. As palavras
iniciadas por sons que soam como vogal são percebidas pelos falantes nativos com
estivessem iniciando por uma oclusiva glotal.
No hebraico bíblico, as consoantes oclusivas simples /p, t, k, b, d, g/ são representadas
por grafemas que representam fones fricativos [f, θ, x, v, δ,
γ] quando ocorrem depois de uma
vogal. Esta distinção entre oclusiva e fricativa, contrastiva nas língua
meramente alofônica no hebraico bíblico.
7
Álef, bet, guímel, dálet, hei, vav, zain, het, tet, yud, kaf, lámed, mem, nun, samech, ain, pei, tsadik, kuf, resh,
sin, tav.
65
De um modo geral, quando uma consoante ocorre entre duas vogais, das quais a
primeira é breve e átona, ela será geminada. No entanto, a escrita hebraica registra as
aico: poucas
e quanto às vogais do hebraico e de outras línguas semíticas,
ipal razão pela qual é menos útil marcá-las na escrita dessas
T, 1946, p.11).
línguas semíticas atribuindo-se a certas
tras representando consoantes uma função dupla, o que as faz indicar também as vogais. As
forma são chamadas de matres lectionis, “mães da leitura”.
O uso das matres, no hebraico, foi evoluindo lentamente, à medida que os textos
íblicos eram registrados por diferentes escribas, de modo que é possível encontrar exceções a
- Regra 1: As vogais breves e reduzidas são ignoradas
- Regra 2: Entre as vogais longas, /
I, u/ são obrigatoriamente escritas com yud e vav,
respectivamente
consoantes geminadas e simples da mesma forma, com letras únicas.
A distinção entre vogais reduzidas e plenas quase nunca é contrastiva. As alternâncias
entre as vogais dependem do acento tônico. Esta é uma das razões pelas quais um sistema
gráfico que incluísse as vogais seria relativamente pouco atraente para o hebr
famílias de palavras manteriam uma forma ortográfica constante. Para Sampson (1996, p.89),
o fato mais important
bem como a princ
línguas do que nas indo-européias, é que, em grande parte, os contrastes lingüísticos
realizados pelas vogais são mais gramaticais que lexicais. Isto significa que, mesmo
se os contrastes não forem registrados pela escrita, eles poderão, em sua maioria, ser
determinados a partir do contexto, e significa também que tendem a ser menos
decisivos para os objetivos práticos da comunicação.
Grande parte do vocabulário de uma língua semítica como o hebraico consiste de
palavras derivadas de uma raiz (com significado de verbo ou adjetivo) que é formada apenas
por consoantes (normalmente três), entre as quais diferentes padrões de vogais, representando
diferentes flexões gramaticais, são interpostos; também podem ocorrer prefixos ou sufixos. As
palavras são compostas de, no mínimo, duas consoantes. Havendo uma partícula de apenas
uma consoante, ela se junta à palavra precedente ou seguinte (LAMBER
Tendo em vista o papel limitado das vogais como elementos distintivos nas línguas
semíticas, uma escrita que indica apenas as consoantes não é, na prática, exorbitantemente
ambígua para um usuário nativo da língua. Nos inícios do hebraico como língua escrita, não
havia qualquer indicação das vogais. Entretanto, existem desvantagens quando as vogais são
completamente ignoradas pela escrita, mesmo para uma língua semítica. Problemas
decorrentes desse fator foram resolvidos em algumas
le
letras que funcionam dessa
b
quase todas as afirmativas feitas sobre o assunto. No entanto, é possível estabelecer regras que
são válidas para a grande maioria das palavras (SAMPSON, 1996, p.92):
66
- Regra 3: As vogais longas /e, o/ podem ser opcionalmente escritas com yud e vav,
respectivamente
- Regra 4: Como a co
funciona de maneira in
longa não indicada po
palavra, como <h> é obrigatória, constitui-se em caso especial da regra seguinte
a mater. Esta regra anula
a Regra 1. Como é muito comum que uma palavra termine em consoante, sem a Regra 5 o
leitor poderá não notar
O sistema de m
utras.
informações fornecidas pelas consoantes, sua compreensão do
s da língua. Já
empo que
ostra a necessidade do leitor de reconhecer os padrões das palavras.
mais
cuidadosa; o leitor tem que examinar fisicamente partes do contexto; 2) A idéia de que se
pode ler a partir de part
distribuição das palavra
2.2 A ALJAMIA
Tendo como núcleo da tese a transposição dos caracteres hebraicos em latinos do De
Magia, surgiu a questão se o resultado deveria ser denominado uma transcrição ou uma
transliteração. O termo preferido foi transcrição, pelos motivos que se seguem.
nsoante /h/ quase nunca ocorre em final de palavra no hebraico, ela
equívoca como mater nessa posição, sendo usada para indicar a vogal
r yud ou vav, ou seja, /a/ longa. A escrita de /a/ longa, em final de
- Regra 5: As vogais em final de palavra devem ser indicadas por um
toda uma sílaba
atres só resolve algumas ambigüidades gráficas com a introdução de
o No geral, a chamada escrita plena – a escrita com matres – é menos opaca, em termos
fonológicos, que a escrita sem matres, mais ainda conserva muitas ambigüidades. Entretanto,
os usuários da escrita hebraica nunca sentiram a necessidade de adotar um sistema
fonográfico mais completo para seus objetivos ordinários
8
. O leitor da prosa hebraica comum
identifica as palavras usando as
assunto e seu conhecimento dos padrões morfológicos e sintáticos característico
nos primeiros t s da escrita hebraica, eram deixados espaços entre as palavras, o
m
Em contraste com o sistema gráfico das línguas européias, a escrita hebraica é
incrivelmente desprovida de redundâncias. Sampson (1996, p.98) contrasta a escrita hebraica
com a inglesa: 1) Em hebraico, o leitor é forçado a examinar o contexto de maneira
es selecionadas e predizer o todo provavelmente não se aplica apenas à
s, mas também a seu interior.
8
Os textos sagrados, os livros infantis e a poesia são os únicos materiais escritos normalmente com o sistema de
pontuação, estabelecido nos séculos IX e X.
67
Busse (2005, p.97), em referência a textos em judeu-espanhol e em caracteres
hebraicos rashi, afirma:
En princípio, la distinción entre transcripción y transliteración parece muy sencilla:
la transcripción consiste en representar, en nuestro caso por medio de caracteres
latinos, la fonología del texto escrito en caracteres hebreos. Por el contrário, en una
transliteración, se trata de representar exactamente la manera de grafiar um texto,
de representar la esencia gráfica del mismo.
9
Já Lázaro Carreter (1990, p.397) define transliteração como
Transcripción de las palabras escritas en un alfabeto, con letras de otro alfabeto más
familiar al lector. La transliteración se efectúa letra a letra, según la
correspondencia de los sonidos por ella representados. Cuando dicha
correspondencia no es exacta suelen emplearse diacríticos auxiliares.
10
(Grifo nosso)
Assim, se fôssemos denominar o que se propõe aqui no Capítulo 3, segundo Busse
(2005) e Lázaro Carreter (1990), dever-se-ia utilizar o termo transcrição, pois não se está
´n qādā´ûnû šû wā´šû ´î la´bên lāš mā´nôš ´ê dîrā´n [...]
estructura propia que determina sus potencialidades inherentes, y predestina, en
cierto modo, su desarollo en nuevas aplicaciones. En la transposición a otra lengua,
las idiosincrasias del modelo original imprimen su sello al nuevo sistema
grafemático, pese a los reajustes inevitables y las originalidades innovadoras de los
adaptadores.
12
fazendo uma representação letra por letra, o que seria o caso na transliteração. Veja-se
exemplo retirado de Minervini (1992)
11
, que também serviu de incentivo para denominar a
edição como uma transcrição:
Transcrição: i bebran cada unu su vasu i laben las manos e diran [...]
Transliteração: î bêbĕrā
A transcrição criteriosa do texto aljamiado é uma árdua tarefa para o mais paciente dos
lingüistas. Também a leitura é outro grande desafio para qualquer usuário de outra língua que
não seja o português arcaico coetâneo ao De Magia. Como afirma Hegyi (1981, p.93),
(...) los sistemas alfabéticos no parecen intentar la transcripción fiel y completa del
sistema fonológico de una determinada lengua, sino que más bien se limitan a
representar subsistemas seleccionados del sistema fonológico completo. Así, en vez
de transcripciones exactas, sería más acertado hablar de diversas interpretaciones
grafemáticas de la lengua. Cada sistema de escritura tiene, por conseguiente, una
o nossa: “Em princípio, a distinção entre transcrição e transliteração parece muito simples: a
anscrição consiste em representar, no nosso caso por meio de caracteres latinos, a fonologia do texto escrito em
hebraicos. Ao contrário, em uma transliteração, trata-se de representar exatamente a maneira de grafar
um texto, de representar a essência gráfica do mesmo.”
10
Tradução nossa: “Transcrição das palavras escritas em um alfabeto, com letras de outro alfabeto mais familiar
ao leitor. A transliteração se efetua letra por letra, segundo a correspondência dos sons por ela representados.
Quando tal correspondência não é exata, costumam empregar-se diacríticos auxiliares.”
11
Texto número 5, p. 156, v. I e p. 19, v. II.
12
Tradução nossa: “os sistemas alfabéticos não parecem objetivar a transcrição fiel e completa do sistema
fonológico de uma determinada língua, mas sim se limitam a representar subsistemas selecionados do sistema
9
Traduçã
tr
caracteres
68
A edição da Crónica Geral de Espanha, de 1344, foi utilizada como referência de base
este estudo, para a transformação em caracteres latinos de cada vocábulo. Esse texto do
culo XIV em português arcaico tem Lisboa como origem e é composto de 857 capítulos.
encontrava na CGE, foram utilizados o Vocabulário do Português
Quando, na CGE, havia duas ou mais variantes de um mesmo vocábulo, a mais
ferramenta utilizada para extrair e sistematizar as informações do texto foi a versão
3.0 do program Wor publicado
pela Oxford University Press desde 1996
. Trata-se de um conjunto de programas para
manipulação e nális
concordância, a a
ferramenta Concord,
busca, uma listagem
devidos contex
n
Originalmente em castelhano, a tradução da CGE é uma encomenda feita por Dom Dinis,
podendo ser encontrada no site <
http://cipm.fcsh.unl.pt>, sob a responsabilidade de uma
equipe do
Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa. O texto da Crónica Geral
de Espanha do CIPM tem Cintra (1951) como fonte. Maia (1986) também foi referencial
constante para a transcrição do códice, assim como Mattos e Silva (1991) e Teyssier (1997).
Quando o vocábulo não se
Medieval (VPM), Cunha (2001) e Houaiss; Villar; Franco (2001), nessa ordem. Os
dicionários de espanhol da RAE (1992) e o de Moliner (1984) também foram consultados, já
que alguns vocábulos estão em espanhol.
freqüente era a selecionada para servir como modelo para a reconstituição dos vocábulos do
De Magia. Em nenhum momento, no entanto, as características dos vocábulos do De Magia
foram anuladas. Assim, caso a grafia do De Magia diferisse daquela da CGE, a forma desse
último servia apenas de guia.
A
a dSmith Tools, disponível na Faculdade de Letras da UFMG,
13
a e de textos que gera listas de palavras de um texto. O programa faz
localiza e identifica qualquer palavra ou parte de uma. Aqui, foi utilizad
que faz busca de vocábulos ou partes deles, apresentando, ao final da
em ordem alfabética de todas as ocorrências encontradas, em seus
tos.
nológico completo. Assim, ao invés de transcrições exatas, seria melhor falar de diversas interpretações
grafemáticas da língua. Cada sistema de escrita tem, conseqüentemente, uma estrutura própria que determina
as potencialidades inerentes.”
O programa apresentou várias limitações, em especial as relativas aos diacríticos, sendo recomendado com
restrições para trabalhos similares.
fo
su
13
69
2.3 GRAFEMAS SIMPLES
A exemplificação dos grafemas será feita através da forma reconstituída, conforme
explicado acima, do vocábulo do De Magia em caracteres latinos, seguida da(s) forma(s) do
vocábulo na CGE. Será dada a localização apenas da primeira ocorrência do vocábulo na
uma ocorrência no De Magia. Após cada exemplo da CGE, aparecerá,
eminadas. A ausência destas últimas trará
ento r par do leitor que, se pressupõe, não
conhece o alfabeto hebraico, apresentam-se, sob a forma de Encarte, quadros que resumem a
1 é a do alfabeto hebraico
spanhol, é chamado de varika (‘varinha’).
o ervem apenas para representar números (cf. Quadro 4).
fina de
eceu,
além da forma padrão, sob a forma final; as demais letras apresentam-se
. O grafema que se apresenta à direita, quando em
CGE, e apenas de
entre parênteses, o capítulo seguido do fólio onde ele se encontra. No caso do De Magia, virá
o fólio seguido da linha.
Deve ser observado que, assim como no hebraico, no De Magia não existe a oposição
grafema maiúsculo/minúsculo e nem letras g
conseqüências para a análise que se fará no Capítulo 4.
Para facilitar o entendim da transcrição po te
representação e a transcrição dos grafemas, para depois se fazer uma explicação detalhada de
cada um deles. Algumas observações se fazem necessárias, em relação ao conteúdo do
Encarte:
A ordem dos grafemas no Quadro
O diacrítico sobreposto às letras, em hebraico, é chamado de gueresh
(plural guershayim); em judeu-e
D is grafemas s
No alfabeto hebraico, cinco letras têm formas diferentes em l
palavra: kaf, mem, nun, pei e tsadik. No De Magia, apenas o nun apar
apenas sob a forma comum
pares, é o nun final.
70
2 Grafemas que representam vogais
O que está sendo chamado aqui de vogais são, na verdade, grafemas consonantais na
sua origem (cf. seção 2.1), empregados também como vogais no texto aljamiado.
.3.1
2.3.1.1 Álef
No De Magia, o grafema álef aparece de duas maneiras. A primeira forma é a mais
que as duas hastes inferiores se aproximam e se tocam:
freqüente delas; a segunda parece ser apenas uma forma mais arredondada da primeira, em
Tem-se, assim, a impressão de
ulo r um traço. que se trata de um círc atravessado po
A transcrição do álef é feita de dois modos: <a> ou sem representação grafemática alguma:
- Álef transcrito como <a>. Exemplo:
CGE as (8-6d) DM
14
<as> (84v-2)
- Álef sem transcrição na edição
Álef pode não ter representação fônica, sendo denominado aqui de silencioso. Kohring
(1991, p.107) prefere o termo “álef portador de vogal”, que aparece no texto aljamiado nos
guintes casos:
o bulo para introduzir as vogais
CGE os (1-1ª) DM
se
(I) em início de v
O álef está sempre presente diante de vav e yud simples em início de vocábulo e, de
um modo geral, diante de hei final. Exemplo:
<os> (5r-3)
No caso de um vocábulo iniciado por um único álef, o álef silencioso não se aplica.
ons de um encontro vocálico. Exemplo: (II) estiver com a função de separar os dois s
CGE roubado (352-132d) DM
<roubado> (84v-28)
A maioria dos encontros vocálicos apresenta um álef silencioso entre as vogais e as
semivogais. No entanto, se a segunda vogal de um encontro vocálico for um álef, não haverá
um outro para separá-lo, já que não há álef silencioso diante de outro álef.
(III) antes de vogal antecedida pelo prefixo des-
15
.
14
Atenção: toda seqüência de letras em hebraico deve ser lida da direita para a esquerda.
71
Haverá, na edição, em nota de rodapé, a indicação da presença do álef, que não será
transcrito, caso não apareça na CGE. muita falta de consistência no uso do álef silencioso,
não sendo possível transcrever este grafema com certeza absoluta, mesmo com a ajuda da
CGE. Quando álef é silencioso, funciona diferentemente em relação a cada vogal e cada
contexto. Nas Normas de transcrição adotadas (seção 3.1), haverá indicação dos critérios
empregados.
2.3.1.2 Hei
O grafema hei aparece, na grande maioria dos casos, em final de vocábulo e
tecedan ido por álef silencioso. Sua transcrição será sempre <ą>. Exemplo:
CGE a (1-1ª) DM
<ą> (84v-24)
Foram encontrados poucas ocorrências de vocábulo com hei no meio ou iniciado por
ia de hei no meio de vocábulo poderia levar a pensar que a única
ária, espera-se, em poder fazê-
lo.
.3.1.3 Vav vocálico
ele. Essa baixa freqüênc
diferença entre álef e hei seria a posição no vocábulo. No entanto, alguns vocábulos que em
português terminam em a apresentaram duas possíveis grafias, com hei e com álef. Assim,
preferiu-se manter a diferenciação entre hei e álef. Apesar de o fenômeno não ter sido
analisado com a profundidade que parece necess outra ocasião,
2
Nas a jal mias hebraicas e no hebraico, o grafema vav pode ser tanto consonantal
vav é vocálico, virá
antecedido por álef e será transcrito como <u> ou <o>. Exemplo:
GE con (1-1ª) DM
quanto vocálico. No De Magia, na grande maioria dos casos, quando
<con> (84v-5)
C
As ocorrências foram: <desejad<a>s> (11r-31); <des
15
ejar> (63r-8); <desentendemos> (58r-25); <deseredado>
(15v-14); <desigual> (42v-21); <desonra> (14r-26; 22r-20; 26v-27; 36r-20; 49r-15; 76r-6); <desonradas> (58v-10)
(2 ocorrências, trecho repetido); <desonrad<a>s> (58v-10); <desonrado> (76r-4); <desonras> (26v-6; 34v-13; 36r-
20; 36v-4; 49r-15; 51r-25; 53v-14; 55v-15; 58r-24; 58v-9; 60v-28; 66v-2; 67v-23; 81v-9); <desonr<a>s> (74v-31;
77v-3); <desußelde(z)as> (70v-11). Kohring (1991, p.108) aponta a presença do álef nesse contexto, também nas
aljamias em judeu-espanhol.
72
Foram encontradas algumas ocorrências de dois vavs em início de vocábulo
16
.
i representado por <u>, mesmo
c dido por álef silencioso (o que é indicado em nota de rodapé): <causa> (1r-
lham-se, nesse aspecto, às formas
encontradas por Maia (1997, p. 425) na Galícia. No entanto, tal fenômeno grafemático não se
<u>.
regado tanto > quanto <o> é um
rande problema da vocalização linear. Como afirma Kohring (1991, p.8), “o processo de
vocalização linear nada mais oferece do que uma indicação para a vogal longa
onheça o vocábulo específico com vav, não tem pistas
> ou <u>.
Também foram encontradas três ocorrências de vav que fo
não estando ante e
11); <causara> (6r-20; 7v-1). Esses vocábulos asseme
encontra representado na CGE, levando a transcrever estes vocábulos com
A possibilidade de o vav ser emp para representar <u
g
correspondente.” Um leitor que não c
grafemáticas que indiquem se se deve entender o vav como <o
Assim, em relação à aljamia, é difícil de se fazer qualquer afirmação categórica em
relação a esse aspecto: há que se conhecer a palavra, o que não era um problema para um
usuário nativo do português do texto, mas o é para os usuários do português do século XXI.
2.3.1.4 Yud simples
Yud simples apresenta o mesmo problema do vav, conforme a seção anterior: nos
textos aljamiados, pode ser transcrito tanto como <i> quanto como <e> (BUNIS, 1975, p.5,
KOHRING, 1991, p.8, MINERVINI, 1992, p.15). O leitor necessita conhecer o vocábulo.
Ex lo: CGE perdidas (81-32d) <perdidas>emp
(52r-7)
2.3.2 Grafemas que representam consoantes
2.3.2.1 Bet
No De Magia, bet será se re representado por <b>. Exemmp plo:
CGE boas (8-6d) DM
<boas> (52r-10)
16
As ocorrências foram: <vontade> (2v-5; 2v-10; 75r-29; 77v-16); <voan> (2v-27); <desvontarados> (9v-29);
<voontade> (12v-13); <voluntayr<a>s> (12v-19); <vosalos> (52r-10); <vodas> (52r-12); <avorença> (60r-18);
<(voy)> (79v-18); <voazamento> (80v-9); <vuazios> (9v-29).
73
Bet, bet com diacrítico (vet) e vav serão estudados detalhamente no Capítulo 4.
2.3.2.2 Vet (Bet com diacrítico)
No De Magia, bet com um diacrítico sobreposto, que pode ser um risco ou um ponto,
plo: será sempre representado por <β>. Exem
CGE varon (197-78b) DM
< βaron> (51v-18)
2 Guímel .3.2.3
Guímel será transcrito de duas formas diferen es:t
< (álef), <o, u> (vav vocálico) e <r> (resh) - <g> diante de a>
Exemplo: CGE segunda (3-2b) DM <segunda> (69v-4)
yud simples)
xemplo: CGE guerras (4-3c) DM
- <gu> diante de <e, i> (
E
<gueras> (62r-29)
Ao contrário dos textos não aljamiados em português, o grafema vav, no De Magia,
p no fonológico, não sendo um grafema vazio, como em
, e nunca um dígrafo, como é o caso do
gu diante de e e i
e, i, decidiu-se pela mesma regra
para a transcrição do De Magia (Atente-se para a ausência do vav depois de guímel nos
<preguamentos> (68r-17); <guançar> (15v-14) e todos os seus derivados (<guanço> (44r-4),
sempre tem representação no la
palavras como preguiça e cheguem (CGE, 1-1ª). Isso porque o fonema /g/ é sempre
representado por um único grafema, guímel
português, tanto medieval quanto moderno, em que pode ser empregado
17
(MAIA, 1997, p.437)
. Porém, para não causar estranhamento ao leitor do português, já
habituado com o uso de g diante de a, o, u e gu diante de
exemplos da aljamia).
Foram encontrados, contudo, alguns casos em que o <u> não “deveria” existir,
podendo se tratar de um fenômeno de ultracorreção gráfica
18
: <guados> (22v-12);
17
Não há diferença no caso de /k/: é sempre representado por um único grafema, kuf, e nunca por un dígrafo
como qu diante de e e i (Ver seção 2.3.2.20 referente ao kuf.)
18
Fenômeno semelhante foi verificado por Maia (1986, p.437) nos documentos em galego-português por ela
estudados.
74
<guançoso> (59v-5), etc); <guanhar> (12v-17, etc) e todos os seus derivados
(<guanhadores> (79r-24); <guanhado> (80v-6), etc.)
2.3.2.4 Guímel com diacrítico
No De a M gia, o grafema guímel com diacrítico será transcrito de três modos, tendo-se
omo pc arâmetro de transcrição a CGE:
- <ch>
Exemplo: CGE acharon (1-1ª) DM
<acharon> (9r-20)
- <j> diante de <a , o, u> (álef e vav vocálico)
xempE lo: CGE jogos (7-6c) DM
<jogos> (6v-5)
simples)
xemplo: CGE gentes (22-13b) DM
- <g> diante de <e, i> (yud
<gentes> (52r-9)
Em relação a estes grafemas, o sistema da aljamia é bastante opaco, por apresentar três
a um único grafema
19
.
E
possibilidades de transcrição p ra
2.3.2.5 Dálet
O grafema dálet será sempre transcrito como <d>. Exemplo:
(1-1ª)CGE de DM
<de> (31r-9)
O prob escrita. Kohring (1991, p.121) afirma,
em relação ao guímel com diacrítico do judeu-espanhol, que “é impossível saber (...) se ג´ deve ser lido como
extos mais antigos, nos quais ג´ representa também o
som [
ʒ]”.
19
lema é típico de toda aljamia, ou melhor, de qualquer sistema de
[
ʧ] ou [ʤ], sendo a questão ainda mais complicada em t
75
2.3.2.6 Dálet com diacrítico
Dálet aparece também com um traço transversal para a direita ou um ponto acima
ele. Ele será transcrito como <đ>. Exemplo:
M
d
CGE desave~tuira (422-173ª) D
< đesaventuras> (70r-4)
t
tal
De um modo geral, os vocábulos em que o dálet aparece com um diacrítico sobrepos o
também existem no texto sem a presença do diacrítico.
2.3.2.7 Vav consonan
Vav consonantal no De Magia será sempre representado por <v>. Grafematicamente,
não apresenta nenhuma diferença em relação ao vocálico. Entretanto, distingui-los é muito
vocálico, nesse contexto, sempre vem antecedido por um
lef silencioso, ao contrário do consonantal. Exemplo:
cer (
simples em início de palavra: o vav
á
CGE ven 7-6c) DM
<vencer> (51v-24)
2.3.2.8 Zain
Zain será transcrito como <z>. Exemplo:
CGE razon (251-96ª) DM
<razon> (5r-12)
2.3.2.9 Het com diacrítico
O ma hetgrafe ocorre no texto apenas duas vezes, com um ponto sobreposto, ambas
2.3.2.10 Tet
representando o número oito (21r-17 e 21r-26). Assim, sua transcrição será <8>.
Tet será transcrito como <t>. Exemplo:
CGE artes (1-1b) DM
<artes> (51v-28)
76
2.3.2.11 Kaf com diacrítico
O grafema kaf ocorre no texto sempre com um ponto sobreposto, representando o
eral dois que inicia os números de 20 a 29 (ver exemplo na seção dos numerais 1.6.2.4).
a tran ão s á sempre <2>.
num
Assim, su scriç er
2.3.2.12 Lámed
Lámed será sempre transcrito como <l> (quando não for seguido por yud duplo; ver
seção 2.5.2). Exemplo:
CGE aquela (3-2b) DM
<aquela> (33r-2)
2.3.2.13 Mem
M erá sempre representado por <mem s >. Exemplo:
CGE mares (3-2c) DM
<mares> (51v-3)
O texto não apresentou nenhum vocábulo terminado em <m>, inexistindo,
conseqüentemente, o mem na sua forma final.
2.3.2.14 Nun
e nun final
apresenta-se sob duas formas: , geralmente no início e no meio dos vocábulos e Nun ,
geralmente no final de vocábulos. nun foi o único grafema que apresentou o alógrafo de final de
vocábulo. Não será indicado, na transcrição, se se trata de nun comum ou final, ambos serão
rep esenta
a) DM
r dos por <n>.
Exemplo: CGE non (1-1
<non> (69v-4)
77
2.3.2.15 Samech
Samech será sempre transcrito de duas formas:
- <c>, d
ira (11-8b) DM
iante de <y>, <i> e <e> (yud duplo e simples). Exemplo:
CGE terce
<terceyra> (9r-1)
o. Exemplo: - <ç>, nos demais contextos, inclusive em final absoluto de sílaba ou vocábul
CGE força (3-2c) DM
<força> (5r-23)
2.3.2.16 Ain
O grafema ain foi encontrado apenas uma vez, tendo sido transcrito como álef, isto é,
nome próprio <ali ab<e>n ravdan>: <ali> <a>, iniciando o
(21v-9).
e spanhol, que o ain é empregado
s, encontrou uma única
corrência de ain no vocábulo al´[a]nb[a]r, transcrito pela autora como <´>.
Bunis (1975, p.9) afirma, m relação ao judeu-e
apenas em vocábulos de origem hebraico-aramaica ou em empréstimos do árabe e do turco, o
que justifica a única ocorrência no De Magia. Usualmente sem representação fônica em
hebraico moderno, é primariamente um som gutural. Minervini (1992, p.26), nos 26 textos
aljamiados (judeu-espanhol
20
em caracteres hebraicos) estudado
o
2.3.2.17 Pei
Pei será transcrito como <p>. Exemplo:
CGE prestar (162-61c) DM
<prestar> (51v-22)
No entanto, há vocábulos em que, no ponto em que se esperava um pei, há um fei (pei com
como <(p)>, sem indicação em nota de que
se trata de um fei.
diacrítico, ver próxima seção). Ele será transcrito
20
“varietà linguistiche parlate dagli Ebrei durante il medioevo in Castiglia e Aragona” (p. 9). (Tradução nossa:
“variedade lingüística falada pelos judeus durante a Idade Média em Castela e Aragão.”)
78
2.3.2.18 Pei com diacrítico (Fei)
Fei, transcrito como <f>, aparece, geralmente, com um diacrítico sobreposto, que pode
raço transversal quanto um ponto. Não é incomum o diacrítico encontrar-se
sobre a letra seguinte ao fei, o que não será indicado na transcrição. Exemplo:
CGE for (193-76b) DM
ser tanto um t
<for> (31r-20)
No entanto, há vocábulos em que, no lugar em que se esperava um fei, há um pei. Em
outros termos, a letra aparece sem diacrítico sobrescrito. Todos os vocábulos que aparecem
com fei sem diacrítico também apresentaram ocorrência(s) de fei com diacrítico, o que
justifica a decisão de transcrever fei sem diacrítico como <(f)>. Os parênteses, em todo caso,
representam leitura duvidosa ou letra mal-traçada, estando conforme as normas (seção 3.2).
2.3.2.19 Tsadik
Grafema de baixíssima freqüência, cuja transcricão é <Ç>. As dez ocorrências foram:
<eÇtorlab> (14v-20; 15r-3); <justiÇas> (58r-11) e <justiÇa> (29v-2; 31r-26; 44v-21; 54v-8;
57v-18; 58v-17; 61v-29)
Exemplo: CGE justiça (10-8ª) DM
<justiÇa> (31r-26)
2.3.2.20 Kuf
O kuf feito pelo copista do texto principal do De Magia será transcrito de três
maneiras:
- <c> diante de <a, o, u, r, c> (álef, vav vocálico, resh e samech). Exemplo:
CGE cobrar (1-2ª) DM
<cobrar> (61v-31)
- <q> diante da seqüência <ua>, em que estes dois os grafemas constam do texto aljamiado
original. Exemplo:
CGE quaaes (1-1b) DM
<quaaes> (52r-7)
79
- < dia ue o grafema <u> não consta do texto aljamiado
original. Exemplo:
GE q
qu> nte de <e, i> (yud simples), em q
C uerença (186-71d) DM
<querencia> (37v-9)
Kuf representa o fonema /k/. Este é sempre representado por esse único grafema e
nunca um dígrafo, como é o caso do português, tanto medieval quanto moderno, em que se
emprega qu diante de e e i. Mais uma vez, para diminuir o o estranhamento que poderia ser
sentido pelo leitor, optou-se pela transcrição <qu> diante de <e, i>.
2.3.2.21 Resh
Resh aparece apenas sob a forma simples, não tendo sido encontrado nenhum caso de
eminação gráfica
21
. Na grafia hebraica, nunca ocorre a geminação do resh. Assim, o escriba
e ição hebraica. Resh será transcrito apenas por <r>.
xemplo:
mares DM
g
do D Magia estaria seguindo a trad
E
CGE (3-2c)
<mares> (51v-31)
2.3.2.22 Sin
Sin, que nunca aparece geminado, será transcrito de duas maneiras, de acordo com a
grafia encontrada na CGE:
- <s>. Exemplo:
<molheres
CGE molheres (2-2ª) DM
> (52r-3)
- <x>. Exemplo:
baixas
CGE (420-172a) DM
<baixas> (8v-25)
21
Também nas aljamias em judeu-espanhol, resh é sempre grafado em sua forma simples (KOHRING, 1991,
p.128). Apenas no século XX é que se encontrará a grafia רר.
80
2.4 ÁLEF E LÁMED EM NEXO
Segundo Lambert (1946, p.8), este é o único nexo encontrado no hebraico da Idade
édia
22
e uso entre eles. Em um mesmo contexto, o copista utiliza tanto um grafema
quanto outro, mas preferencialmente o nexo. O <a> do nexo pode fazer ou não parte da
esma sílaba que <l>. E
M
. O nexo acima será transcrito como <al>, da mesma maneira que se transcreve álef
seguido de lámed, não havendo especificação em nota de rodapé: verificou-se que não há
diferenças d
m xemplo:
CGE alegrias (11-9a) DM
<alegrias> (52r-13)
2.5 DÍGRAFOS E TRÍGRAFOS
2.5.1 Yud duplo
O yud duplo é um dígrafo bastante problemático, pois pode ser transcrito de quatro
Exemplos:
transcrito como <ey>:
f
modos: < y, ey, ye, ee>, sempre de acordo com a forma mais freqüente encontrada na CGE.
Nos casos de <ey> e <ye>, a vogal e não é representada graficamente no texto aljamiado. Por
essa razão, nesses contextos, aparecerá sempre em itálico.
- yud
CGE eyto (5-4c) DM
<feyto> (31r-27)
- yud transcrito como <y>:
CGE rey (1-1d) DM
<rey> (8v-1)
Yud duplo transcrito como <ee> é muito pouco freqüente, aparecendo apenas nos
seguintes vocábulos:
22
Bernheimer (1924, p.92-95) indica outros nexos de menor freqüência.
81
<deeron> (9r-7, 8 (2), 9)
dee> (82v-21)
a co undindo com a seqüência
duplo e o vav ou o álef que o precede ou
que vem depois dele. Os casos que não seguirem a tendência geral, serão indicados em nota
de rodapé.
Por outro lado, há sempre um álef silencioso entre o yud duplo e o yud simples, entre o
yud duplo e outro yud duplo e entre o yud simples e o yud duplo. Evita-se, dessa forma, a
seqüência de três ou quatro yuds seguidos: “on évite d‘accumuler le י [yud] dans um même
mot [...]; on ne met pas à la suite [...] deux י
23
(LAMBERT, 1946, p.17).
Nos casos em que um yud duplo fizer parte de um encontro vocálico com álef ou vav,
geralmente não haverá álef silencioso entre eles. Sempre haverá um álef entre o grafema yud
simples e o dígrafo yud duplo, para evitar a seqüência de três yuds.
2.5.2 Lámed seguido de yud duplo
<baldameento> (26v-7)
<queer> (48r-28)
<meetade> (48v-11)
<
Para que o leitor saiba que se tr ta de um yud duplo, não nf
yud simples + álef + yud simples, será indicado em nota de rodapé.
Em geral, não há álef silencioso entre o yud
Trígrafo também problemático, por apresentar seis possíveis transcrições - <lh, lhe,
lhi, lhei, ly, ley> -, com a possibilidade de <i, e, y> não serem grafados. Há que saber o
vocábulo porque não há pistas grafemáticas que ajudem o leitor a decidir pelas várias
possibilidades de interpretação do trígrafo. Exemplo:
CGE leitos (371-144ª) DM
<leytos> (31r-4)
2.5.3 Nun seguido de duplo
Nun seguido imediatamente por yud duplo é um trígrafo polivalente como o lámed
seguido de yud duplo. Suas representações grafemáticas na transliteração são <nh, nhe, ney,
23
Tradução nossa: [Em hebraico,] “evita-se acumular o yud em uma mesma palavra; não se coloca seguidamente
dois yuds.”
82
nhei, ny>. Mais uma vez, não há qualquer tipo de pista grafemática para auxiliar o leitor na
ecodificação do vocábulo, sendo a CGE o guia para reconstruir o vocábulo.
xemplo: CGE senhorio (6-5c) DM
d
E
<senhorio> (52r-9)
2.5.4 Álef e lámed em nexo seguidos de yud duplo
A seqüência de grafemas composta de álef e lámed em nexo (ver seção 2.4) seguidos
de yud duplo, será transcrita de três maneiras: <alh, alhe, alhei>. Exemplo:
CGE trabalhador (691-190v) DM
<trabalhador> (7r-30)
Não haverá diferenciação entre a transcrição deste trígafo e álef seguido de lámed e yud
diferenças de uso entre eles. duplo, já que não há
83
3 EDIÇÃO DO DE MAGIA
3.1 A ESCOLHA DO TIPO DE EDIÇÃO
a e indireta, e à sua escrita, tendo em vista a busca da sua genuidade.
mecânicos (fotografia, fototipia, xerografia). Apesar de
produzir o texto com muita fidelidade, exige, em geral, interpretação paleográfica.
baixo grau de mediação feita pelo
rítico textual, sem alteração na grafia, nas abreviações, nas ligaduras e nem mesmo nos erros.
plica em uma interpretação do texto nas suas características paleográficas.
(1c) P ou diplomático-interpretativa): interpretação do
ras, desdobramento
grau máximo de mediação admissível, na
forma genuína.
(2)
mas da Crítica Textual. Há
em geral apógrafos. É o mais complexo e completo
tipo
A Crítica Textual reconstitui um texto e esclarece aspectos relevantes à sua tradição
manuscrita e impressa, diret
Assim, levam-se em conta questões como autoria, datação, autenticidade e linguagem do texto. O
uso de disciplinas auxiliares como a literatura, a métrica, a mitologia, a história, a gramática, a
geografia, a arqueologia para bem explicar um texto é imprescindível (SPINA, 1977, p.75-76).
Conforme Cambraia (2005, 91-107), de acordo com a forma de estabelecimento do texto, as
edições podem ser:
(1) Monotestemunhais
(1a) Fac-similar: reprodução do texto com grau zero de mediação por parte do editor crítico,
feita por procedimentos
re
(1b) Diplomática: reprodução tipográfica do texto, com
c
Im
aleográfica (ou semidiplomática
original, eliminando as dificuldades paleográficas. Há divisão das palav
das abreviaturas e mesmo pontuação. Há um grau médio de mediação pelo crítico textual: são
realizadas mudanças que tornam o texto mais acessível para um público sem condições de
decodificar certas características originais.
(1d) Interpretativa: além das operações desenvolvidas na edição paleográfica, o texto sofre
uniformização gráfica e o editor intervém com
tentativa de aproximar o texto da sua
Politestemunhais
(2a) crítica: reprodução com o objetivo de alcançar, com a maior fidelidade possível, a última
forma desejada pelo seu autor, estabelecida segundo as leis e as nor
um confronto de mais de um testemunho,
de edição.
84
(2b
idiógra re as redações de um texto e a sua
form
Além d xto, o outro ponto de chegada desta pesquisa é uma
edição jo
deseja ter a razão, decidiu-se por uma edição
paleogr c
A ediçã o máximo as características do original,
mas co p
com o objetivo de ampliar o espectro de possíveis leitores do texto. Em razão de suas
caracte ti
mecânica o ria: enquanto estas parecem ter como público fundamental os
paleógr
abreviatura ermite ter acesso ao texto os lingüistas, que, como outros
interess o
(CAMBRA
3.2 SCRIÇÃO ADOTADAS
do original.
Português Medieval (VPM), Cunha (2001) e Houaiss; Villar; Franco (2001),
os, no caso de vocábulos em espanhol.
es alfabéticos:
o de alongamento ou diminuição do tamanho de letras, recursos
Quando יאא for transcrito como <ae> ou <ai>, haverá indicação em nota (em geral, é
transcrito como <aae>).
) Genética: comparação entre mais de um testemunho, geralmente autógrafos e/ou
fos. O objetivo é registrar todas as diferenças ent
a final, dada pelo autor.
o estudo fônico e grafemático do te
cu público-alvo é o lingüista diacronista desconhecedor dos caracteres hebraicos, que
condições de estudar o De Magia. Por ess
áfi a conservadora.
o paleográfica tem como vantagem respeitar a
m equenas intervenções – como o desenvolvimento de abreviaturas, sempre assinaladas,
rís cas, a edição paleográfica contempla um público-leitor mais amplo do que a edição
u a diplomática atingi
afos e filólogos (estudiosos capazes de lidar com a complexa questão da escrita e das
s), aquela também p
ad s, não estão habituados a lidar com questões paleográficas e codicológicas
IA, 2000, p.149).
NORMAS DE TRAN
1) A transcrição será conservadora.
2) A escrita será da esquerda para a direita, ao contrário
3) O critério para recomposição do sistema gráfico de vocábulos será conforme o texto
da Crónica Geral de Espanha. Caso o vocábulo não se encontre na CGE, serão utilizados o
Vocabulário do
nessa ordem. Os dicionários de espanhol da RAE e o de Moliner (1984) também foram
consultad
4) Caracter
4.1) Não serão utilizadas letras maiúsculas, porque no original a capitalização inexiste.
4.2) Não haverá indicaçã
comuns no final das linhas, para que a linha chegue até a mancha.
4.3) Transcrição dos encontros vocálicos:
85
Quando os vocábulos <ainda, mais, sair> apresentarem a seqüência יא, haverá
indicação em nota (em geral, a seqüência é יאא).
Quando <au> e <ao> forem a representação de וא, haverá indicação em nota (em
geral, são a representação de ואא).
Quando <ao, cercao> estiverem com álef silencioso, haverá indicação em nota (em
es, -eaaos>.
presentação de הי, haverá indicação em nota (em geral, é a
ndo <ąi> for a representação de יה, haverá indicação em nota (em geral, é a
ee> for a representação de יי, haverá indicação em nota (em geral, é a
rem a representação de יו, haverá indicação em nota (em geral,
que se encontram em final de linha para indicar o primeiro grafema da linha
o este grafema for um
dentificável, não haverá
sência de
icos:
os diacríticos de guímel, fei e
vet aparecerem em letra posterior a eles, não
egundo numeral, mas não haverá indicação desse fato na edição.
geral, são mais freqüentes sem álef silencioso).
A seqüência אאי será transcrita como <eaa> ou <iaa> apenas nos contextos de
terminações do tipo <-eaaes, -iaa
Quando <ią> for a re
representação de האי).
Qua
representação de יאה).
Quando <
representação de יאי).
Quando <oi> e <oe> fo
são a representação de יאו).
Quando <io> for a representação de וי, haverá indicação em nota (em geral, é a
representação de יוא ).
4.4) Grafemas
seguinte serão transcritos, mas não serão indicadas as eventuais alterações neles ocorridas
(caudas, diacríticos sobrepostos, alongamento, etc). No entanto, quand
álef silencioso, ele será apenas indicado em nota de rodapé.
4.5) Quando o álef silencioso estiver manchado ou mal traçado, mas i
indicação do problema, já que, pela própria forma arredondada do álef, o fato tende a ser
muito comum.
5) Acentuação: as palavras não serão acentuadas, já que no original há au
acentos.
6) Diacrít
6.1) Quando
haverá indicação do fato.
6.2) Freqüentemente, em um número composto por dois numerais, os dois pontos recaem
sobre o s
86
6.3) O grafema que for transcrito como fei que não apresentar diacrítico no original será
ctura.
separando o sinal de pontuação dos vocábulos que o circundam,
o
eparados de um só vocábulo serão
antidos.
8.2) Os espaços in que o padrão, não
serão indicados.
palavr entanto, haverá
o em
amo não serão indicados. O reclamo aparece
almente a iação de alguns
tros. N em seguida à mancha, sem
ent
11) Quando ntro vocálico for partido pelo final da linha, não será indicado na
anscrição em que linha o álef silencioso se encontra, caso ele exista.
ais)
dos grafemas do texto principal.
{{ }}.
14) Eventuais erros do copista serão mantidos; caso contrário, haverá indicação da correção
em nota.
15) Linhas:
15.1) A divisão das linhas do documento original será preservada. No caso de linha
totalmente em branco ou apagada, esta não será mantida, mas será indicada em nota de
rodapé.
15.2) Não haverá indicação de linhas que terminem antes de se alcancar o final da mancha.
15.3) A linha do original que não couber na linha da transcrição será condensada.
apresentado na edição entre parênteses, já que se trata de uma conje
6.4) O grafema que for transcrito como pei que apresentar diacrítico será apresentado na
edição entre parênteses, já que se trata de uma conjectura.
7) Pontuação:
7.1) Os sinais de pontuação presentes no manuscrito serão transcritos.
7.2) Haverá um espaço
mesm que isso não ocorra no original.
8) Separação vocabular:
8.1) Os vocábulos conglomerados e os elementos s
m
tervalares entre os vocábulos, maiores ou menores do
9) As as grifadas no original não estarão grifadas na edição. No
indicaçã nota de rodapé.
10) Os pontos que aparecem antecedendo o recl
ger uns 20 mm do final da mancha do texto, podendo haver var
milíme a transcrição, no entanto, será colocado logo
espaçam o.
um enco
tr
12) Quando se indicar em nota de rodapé sobre qualquer signo ou anotação “de traço (m
fino”, o ponto de referência é o traço
13) Quando a correção de vocábulo ou grafema for feita através de pontos ou traços acima ou
abaixo deles, haverá o uso de {{ }} no corpo da edição, mas também indicação em nota de
rodapé. Caso o vocábulo também tenha sido riscado, apenas se fará o uso de
87
16) Fólios:
16.1) A divisão dos fólios do documento original será preservada.
, foi escrito um vocábulo
ábulo não tiver sido cortado pela
.
entre colchetes e em itálico,
ilitar a localização de
erda da mancha.
:
nscrição
16.2) No recto de todos os fólios, à esquerda da margem de cabeça
em caracteres latinos e tinta marrom claro. Quando esse voc
encadernação, ele será indicado na nota de rodapé (cf. seção 1.6.2.11)
17) A numeração dos fólios aparecerá na margem de cabeça
com a indicação da face.
18) As linhas serão numeradas de 5 em 5, página por página, para fac
palavras e passagens às linhas. Essa numeração será encontrada à esqu
19) Os recursos especiais utilizados serão os seguintes
Quadro 10 - Recursos utilizados para a tra
Recurso Valor
[[ ]] supressão homeotelêutica: repetições a serem desconsideradas
< > inserção por conjectura
<{ }> texto na margem: letras ou palavras escritas fora da mancha pelo próprio
copista
( ) leitura duvidosa, letra mal-traçada
[.] trecho ilegível (número de pontos = número estimado de letras)
{{ }} texto riscado e/ou corrigido pelo próprio copista
VERSALETE letras de 4 mm de altura
<< >> texto na entrelinha: letras e palavras sobrescritas ou subscritas pelo próprio
copista
3.3 TEXTO DA EDIÇÃO PALEOGRÁFICA
Na versão digitalizada, tem-se apenas parte da edição paleográfica, correspondente aos
5 primeiros fólios do manuscrito transcrito. O trecho referente às páginas 98 a 255 foi
suprimido, encontrando-se a edição completa na versão impressa desta tese.
88
AVENDO VISTO P<A>RTIDA dos libros dos sabedores que trotan
1
enos juizos dos adebdamentos que
3
2
adebdan as pranteas
e as outras estrelas fisas sobre os
omees e sobre os tenperoes e das cous<a>s enque se poden os omees
4
aprobeytar da estrologią
per razon que eu non falhei uun libro
5
5
6
os
f)eyto en
10
rule 15
de
10
20
12
s
ue os
<<s>> 25
alhar
mos por
30
s almaas
17
que nenhun dos <<o>>utros que trotasen
conprida mente sobre todas as
u(ni)bersidades das in(f)ulaicias que conprenden sobre todas estas
cous<a>s · acomecei de conpoer este libro dos ditos dos outr
e das cous<a>s que eu sobe e prob(e)y por razon e por proba de (
todos os juizos unibersaaes de aquesta ci<<a>>nça e conhecendo e c
7
crey<<e>>ndo que e deus uun verdadeyro · e causa
primeyra e que el[.]
pos virtudes naturaes en<a>s pranet<a>s e en<a>s outras estrelas
8
(f)isas
virtudes obradeyras enos alimentos e en todas cousas
criadas e conpostas delas · e autro se que pos virtudes n<a>turaaes
in(f)enos alimentos e en<a>s cous<a>s criad<a>s delas pera receber as
ncias das pranetas e das outras (e)strelas e que pos virtudes
obradores de suas calidades dos alimentos que obran os uus enos
a>s outros · e que pos virtudes obradores enos alimentos que obran en<
e ocous<a>s conpostas delas e autro se creendo que e en (s)u poder
9
(f)azer milagres quando el por been tever (f)ora
das razoes de toda es
11
ees
tas cousas · e asi se segue que deu
fez cous<a>s enque os om
podesen saber e entender algo de seus ordenamentos e dos seus po
derios segundo natura · e que retebe en si poderios escondudos de
13
q
no
p{{o}}<<e>>ra
fazer obras de milagres fora de todas as razoes
omees podesen alc<a>nçar por seus sentidos nen enos entendimento
14
deles caber · e en(p)ero por que os omees avemos almas
da razon
nos tr<a>be po<<e>>r petuas do que non an as <<o>>utras animalias devemos
e)repor entender n<a>s obr<a>s da natura quanto nos ma<<i>>s p(od
15
razon umanal
por as cous<a>s que alcançan os cinco sisos que son
on enos omees segundo ą graça que de deus nos for enßiada e c
eremos algo
16
đas obras de deus e faremos (on)r<a>
esto sab
1
No final da linha, há um álef silencioso com um traço horizontal sobreposto. Na margem de cabeça, encontra-se
escrito em letra humanística cursiva: <Joannes Dee 1562 Louanij emit. / Januarij ·8·>. <J> e <L> foram cortados no
topo no momento da encadernação. Apenas neste fólio, à direita do número <1> escrito à esquerda da margem de
cabeça, há um signo semelhante a um H maiúsculo, com um círculo entre as suas hastes verticais inferiores.
2
<juizos dos adebdamentos> encontra-se grifado com tinta preta e traço fino.
3
O contexto demanda pranetas.
4
Há uma rasura abaixo do tet.
5
Há um traço horizontal acima do resh.
6
No final da linha, há um álef silencioso com um traço horizontal acima dele.
7
Não há álef silencioso entre o álef e o vav.
8
Há um ponto forte acima do pei, que parece ter sido riscado diagonalmente para a direita (traço fino).
9
Há um traço horizontal acima do pei e do vav.
10
Está grafado <=> logo após o sin, fora da mancha.
11
Após o vav, há um sin sobrescrito, cuja mão pode não ser a mesma que a do texto principal.
12
Está grafado <=> logo após o vav, fora da mancha.
13
Há um ponto acima e outro abaixo do vav.
14
<al>, um nexo, encontra-se grifado com traço fino.
15
<al>, um nexo, encontra-se grifado com traço fino.
16
<al>, um nexo, encontra-se grifado com traço fino.
17
Na margem de pé, encontra-se escrito em letra humanística redonda: <Liber Guilielmi Laud Archiepi Cantuãr: / et
Cancellarij Vniuersitatis Oxõn: / 1633·>
[fól. 1r]
89
cerca as dos angios que saben alguas cous<a>s das obras de deus e as
s e por o que
yre 5
e ą
10
s
a e
15
sol · e
s
ue nos vemos e
os 20
>>
ra estrelada
25
>ta<<s>>
s
en cada c 30
sabios
obras da natura poderl(a)s emos entender por as estrelas que vemos
que an colores divers<a>s e cursos diversos e alturas diversa
veemos que as pranet<a>s an conjunçoes diversas ou espeytos diver
sos segundo jom<e>trią que obran demudamento enos tenpor<<a>>es e eno a
enque se demudan os estabelicimentos e os estados dos omees
sinalada mente que por o curso do sol soo avemos veraaos e inße<r>nos
e estios e autonos e avemos os frutos da tera en tenpos s
sabudos e os dias grandes e pequenos en tenpos sabudos
friura e ą caentura en tenpos sabudos · e enos dias pequenos ave
mos ą (f)riurą por que mora o sol pocas or<a>s sobre tera · e enos dia
grandes avemos ą caentura por que mora o sol muyt<a>s oras sobre tera
18
enpero que aas vezes veemos
19
enos dias grandes mui
20
grande (f)riur
en os dias pequenos muy grande caentura poy[.] d(e)sto entendemos
que outras son en oceo que anh<<a>>den ena caentura da luz do sol e
21
que ay outr<a>s estrelas que enbargan ą caentura da luz do
pera
22
esto saber devemos seguir as careyras dos sabyos antigos da
[[das]] cous<a>s que eles viron e proßaron e das cous<a>s q
podemos proßar por vista de nosos olhos · e quero fazer este lißro
sete p<a>rtes ··
23
ena parte pr(im)eyra
24
trotarey quantos son
ceos e que ay estrel<a>s e as propedades dos signos · e dos termi<<os
e dos grados que son ena es(f)era estrelada · e das estrelas fis
25
as grandes que son ena es(f)era out<a>ba que e ą es(f)e
e as propedades das pr<a>netas e das cas<a>s e das conjunçoes e
dos espeytos e das trasmudaçoes e dos recebimentos e dos{{c}}
rips{{t}}es
26
delas · e das partes que son s<a>cadas por elas · e das
propedades das estrelas nobas que parecen alguas vezes e das com<e
e das cintildaçoes e dos arcos que parecen en da redor dos lumeare
e sobre tera · e das propedades das crimas que son enos sitos da
tera · e o que adebdan c<a>dą uą praneta en cada signo <<e>>
casa · e os juizos geeraaes e as p<a>laßras e as proßas dos
27
18
Entre as linhas 12 e 22, na margem de corte, está escrito em letra gótica cursiva, em latim <
ć mjiã dū / comodo cū /
auget
ūl / Tpedi(tú) tg / solís aba(b) / pla (ne)t [.] [.]st / cū (h)abe(at) / tā(t)a [....] / ( ĉ ) ĝi ata (o) / [.](s)etibilit pa[.] /
abeís /
·
·
/ {{[....]}} p˚ma (p)>. Esta nota foi preservada no momento da encadernação, ultrapassando os limites da
página.
19
Há <
> acima do vav.
20
Não há álef silencioso entre o vav e o yud simples.
21
Entre as linhas 16 e 19, na margem interior, está escrito em letra gótica cursiva, em latim <
[.]eto / (J) · po Ramos /
[..] · c / (cl)usicis / ćieç(ia) / (salesti .)>. O punho é o mesmo que o da margem de corte.
22
Há <
> acima do pei e do yud.
23
Há algo escrito acima de <sete partes>, que também se encontra grifado de tinta preta. Depois dos pontos, está
grafado <>, com traço fino.
24
Acima deste vocábulo, está escrito <primera>, em letra gótica cursiva, em espanhol.
25
Está grafado <=> logo após o sin, fora da mancha.
26
Em frente ao resh, encontra-se <(ċ)>, mas fora da mancha. Conjectura-se que ele pode ter sido adicionado por outra
mão, já que o kuf não aparece no texto principal com essa forma, apenas nas margens (ver seção 2.3.2.20). Há um ponto
abaixo e outro acima do possível tet, que se encontra riscado.
27
Não há álef silencioso entre o yud simples e o vav. Na margem de pé, está escrito em letra gótica cursiva, em latim <
radý solís f (ù)tuo solís ňo mĵń(g) máifestant’ q’ opant’ sal[.......] / caliditate sr (so) alÿ pla(e)
p oppo[.]tū (qīū) cor[.] [.]
radÿ luðe (n[.]f[.]nis) / [...] (rot) [..] gpat[.]e cor (effecto)>. O punho é diferente que o das demais notas. Parte da nota
foi cortada no momento da encadernação.
[f
ól. 1v
]
90
sabyos :
28
e ena parte segunda trotarey enos tenporaaes dos
29
anos e en<a>s rebolaçoes dos anos · e enos adebdamentos dos cri(p)ses
30
e das conjunçoes e dos ofigoçoes e dos outros espeytos das
pr<a>net<a>s enos tenporaes de cada tenpo do ano · e das tenpestas e das
pr<a>netas en c<a>da ano e en c<a>da tera · e en<a>s rebolaçoes dos reis · 5
tere<<s>>
10
s
s 15
20
<u>>
ue 25
s e outra<<s>>
as
30
<<s>>
e <<e>>(n)a parte terceyra trotarey das nacenças dos omees e
das vidas e das mortes e das riquezas e d{{a}}<<o>>s
31
estados dos mes
e dos o(f)icios e das propedades deles · e das rolaçoes que an os
uus con os outros
32
e en ą parte quarta trotarey enos ade
bdamentos das rebolaçoes dosol sobre cada omen e das venturas
que lhes an de veer en cada tenpo e os enderençamentos e dos casa
33
mentos e das gueras e das
34
lides o bralhas e das pa{{(c)}}
35
<<z>>es e da
avenças e das gan<a>nças e das doenç<a>s e dos gozos e dos panos
e das armas e dos gados · e dos b<a>salos · e dos tenpos e que se an
de conprir os adebdamentos que adebdaron as pranetas en<a>s nacenç<a>
aos omees por seus enderençamentos · e ena parte quinta
trotarey das tremudaçoes dos reygnos e das le<<y>>s e de outros
estebelicimentos geeraaes e as pobramentos das vilas e das
estroiçoes dest<a>s cous<a>s de das gueras (j)ereaaes e dos estiramen
tos e os pelegançoes e se eredan os (f)ilhos dos reys · o se ~
seran dese{{ree}}redados e as rebolaçoes deles e os boos e os males
que veen en deles ·
36
e ena p<a>rte sesena trotarey en terogaçoes
e enos escolhimentos das oras pera fazer as obras e as
cous<a>s fisicales e en<a>s sabedorias das cous<a>s se son verdade o<
mentira e o que pode seer obrado e o que se seguira das cous<a>s q
son en dubida ·
37
e ena parte setena trotarey p(o)ra tolher doenç<a>s
celestriaaes asi como febres e as doenç<a>s lunatica
doenças e pera avenças de mal querenças · e pera tolher as sanh
ernias ą os poderosos e pera abonegar as conpresoes dos omee<<s>>
e pera tolheras tenpestas do ayre e pera m<a>tar ą lagosta e as
outras serpentes danosas ou (f)azer as (f)u(j)ir
38
do logar que quigermo
28
Logo após os dois pontos, está grafado <> com traço fino.
29
Na margem interior, diante das linhas 1, 6 e 9, encontram-se escritos os algarismos arábicos <·2·>, 3 e 4,
respectivamente.
30
Na margem de corte, em frente a esta linha, há um vocábulo ininteligível em caracteres latinos, de tinta marrom claro.
31
Há um ponto acima e outro abaixo do álef.
32
Logo após este vocábulo, está grafado <> com traço fino.
33
Há um ponto acima do sin.
34
Há um traço acima do álef.
35
Há um ponto acima do samech e outro abaixo dele.
36
Logo após o ponto, está grafado <> com traço fino.
37
Logo após o ponto, está grafado <> com traço fino.
38
Há um traço horizontal, fino, acima dos quatro primeiros grafemas do vocábulo.
[f
ól. 2r
]
91
e poys
39
que eu porpus de trotar das virtudes n<a>turaaes que deu<<s>>
pos en<a>s pernet<a>s
40
e en<a>s outras estrelas conben primeyra mente
<s>>
5
<tos>>
10
os
ficamos n{e}os
r ·· se 15
ue son sobre
mente<<s>>
>>
50
20
que non caere
ç<a><<s>>
ç)tçn}}
51
l<e>s con
25
a>turaae<<s>>
a 30
das
de saber de cousa ou quaaes cous<a>s son n<a>tura · e desi
41
trotarey
das propedades ecenciales que deus pos en<a>s pr<a>netas e en<a>s autr<a><
estrelas segundo as naturas delas · e non segundo vontade nen enten
dimento que ajan elas fazanos senon tan sola mente por virtudes
42
naturaaes que ay enelas as quaaes virtudes obedecen os elemen<
e as cous<a>s conpost<a>s deles asicomo e ob<e>dente o fero pera alegar
se ala pedra adiam<a>nte sen que o fero nen ą pedra diam<a>nte avian en
temento nenhun que se as pr<a>net<a>s obrasen por vontade e non por n<a>tura
neseçarya poys nos non poderemos seer certos de (s)eus adebdamentos
que non saberemos se queren obrar o que nos por elas cuydamos que obr
46
an por
43
natura
44
[.] ou se [.] non · mais
45
porque todos somos cert
que obran · por natura e non por bo<<o>>ndade
47
poys acerti
que seus adebdamentos son necesarios
48
e que non (p)oden
49
falece
gundo ą natura sabuda · salbo por os milagres de deus q
aquestes adebdamentos naturaes · poys conbe<<e>>n que tenhamos
e entendamos as propedades e as naturas dest<a>s pranet<a>s e des
t<a>s estrel<a>s fisas e das outras cous<a>s sobre ditas · e mai<<s
conprida mente que nos pudermos que se nos non caermos en ero de parte
das o<<b>>ras minguadas dos nosos entendimentos certoe
mos en ero por parte de demudamentos que acaeçan en<a>s sustan
das pr<a>netas o das outr<a>s estrelas fisas · que en<a>s {{u(
de seus corpos non acaecen
52
nenhuus demudamentos mais e
suas propedades n<a>turaaes e con suas conjunçoes e con suus es
peytos e con suas tremudaçoes e con seus mobimentos que se {{e velhen}}
53
de uas estrelas fisas e voan ą outras e con seu estar
en cer(t)os sobre ą tera eo sobre aguą demudan os alimentos e
as cous<a>s criad<a>s del<e>s · e fazen geraçon es e coronpiçoes n<
eneles :
TODO o que e n<a>tural e en duas maneyras · ą primeyr
n<a>tura n<a>turante e aquesta n<a>tura e deus oqueda o see<<r>>
39
Há um álef silencioso entre o vav e o yud duplo.
40
O contexto demanda pranetas.
41
Há um álef silencioso antes do yud final.
42
Na margem de corte, em frente às linhas 6 e 9, está escrito em caracteres hebraicos, de punho diferente da do texto
principal, <penso joan gil que toda veluntad era mudable i variable i nengora perpetua>. O kuf de <que> não é o
utilizado no texto principal (ver seção 2.3.2.20). Esta nota foi preservada no momento da encadernação, ultrapassando
os limites da página.
43
Pode haver um vav antes do pei. Há <
> acima do pei.
44
Há <
>
acima do tet.
45
Não há álef silencioso entre o álef e o yud simples.
46
Na margem de corte, em frente à linha 13, está escrito em caracteres hebraicos, provavelmente de punho diferente da
do texto principal: <n nolo so>. O primeiro vocábulo foi cortado no momento da encadernação.
47
<<o>> pode ter sido inserido por um leitor. A tinta é mais fraca, de cor marrom claro.
48
Não há álef silencioso entre o yud simples e o vav.
49
Há um traço diagonal para a direita, fino porém forte, acima do pei.
50
Não há álef silencioso entre o álef e o yud simples.
51
Outro punho sobrescreveu a este vocábulo <sustanç(u)as>.
52
Não há álef silencioso entre o álef e o yud simples.
53
Outro punho sobrescreveu a este vocábulo <par(ten)>.
[f
ól. 2v
]
92
das
54
cous<a>s : ą natura segunda e n<a>tura n<a>turada e eos ceo<<s>>
tural segundo
o<<u>>
a asi como ą 5
os en c<a>da
· e <<o>>utro se
e que poden dizer 10
na n<a>tura
15
que
e
20
25
s pr<a>net<a><<s>>
conpre<<so>>
do as n<a>tura<<s>>
30
omo que as
e as estrel<a>s e as pr<a>net<a>s e os alimentos e as cous<a>s cria
d<a>s deles · e todo o que e obrado e e n<a>tural · ou e n<a>
os secretos da n<a>tura n<a>turante · asi como os milagres de deus
e n<a>tural segundo o que e mani(f)esto ena natura n<a>turad
gerenaçon e ą coronpiçon e as <<o>>utras cous<a>s que veem
dią onde non ay cousa nen obra que seja fora de natura ca ou se
ra ena n<a>tura n<a>turante ou sera ena n<a>tura n<a>turada
non ay cousa que seja contra n<a>tura n<a>turante · porque nenhun non pode
dizer que ay cousa que seja contra n<a>tura {{[.]}}alb<<o>> end
que ay cous<a>s que son ą o contrayro do que nos sabemos e
n<a>turada · mais
55
non ay cousa que seja contra ą n<a>tura n<a>turante · ca
deus o poderoso non ą contrayro e se contrayro oubese non serią
poderoso eno que el fose contreyrado el e o poderoso e todo
e enel sen nenhun contr<<a>>yrador · el e criador e autor e dador
del seer todo oquee · e el crio os ceos e as estrelas eas
pr<a>netas que nos veemos e entendemos seus moßimentos e suas
obras por que chegamos ą entender algo das cous<a>s geeraaes
son de veer · e el crio os alimentos enque nos veemos demudam
ntos por as infulencias destes corpos celestri aaes quando
eles son en conjunçoes ou en espeytos certos por jometrią
e que entendemos o que ą de acaecer
56
enos alimentos quando as
pr<a>netas foren en semelhaßeis conjunçoes ou espeytos out
ras vezes · esta verdadeyra sabedorią dos estrolegos que sa
bemos algo en<a>s cous<a>s que son de veer sabemolo por tres razoes ·
por quanto de irism<a>tica dos moßimentos dos ceos e da
ą segunda por medidas de jometrią das feguras dos ceos edo<<s>>
espeytos das pr<a>net<a>s · ą t<<e>>rceyra razon sabemos o por as
es das pr<a>n(e)tas e das outras estrelas segun
de suus colores segundo que as veemos porą vista do olho e se
gundo o probaron de (f)eyto dos saßios que son p<a>sados c
54
Há um ponto acima e outro abaixo do dálet.
55
Não há álef silencioso entre o álef e o yud simples.
56
Não há álef silencioso entre o álef e o yud simples.
[f
ól. 3r
]
93
estrelas que son vermelias de color entenderon que eran caentes e
secas de n<a>tura · asi como mares e entenderon por suą color que ade
5
te
57
10
os
r 15
upiçon 20
·
praça
63
25
30
estrelas
bda sobre as cous<a>s fugaaes e sobre os termios e sobre as
s<a>ngres e o que semelia ą esto e acharon o asi por proßa de feyto
e autro se entenderon os sabios que as estrelas br<a>ncas asi
como mercurio ou ą luą que eran frias e que adebdan aguas e
neßes e todos achegamentos de uas cous<a>s con outr<a>s · e ou
tro se entenderan os sabyos que as estrelas amarelas de color
de oyro asi como o sol ou jupiter <<o>>u venus queson de n<a>tura caen
con umidade e que adebdan sobre os metaaes e sobre o ayre · e o
tro se entenderon os sabyos que as estrelas negras asi como
s<a>turno que son frias e secas e que adebdan sobre ą tera e os
outros estercos e as cous<a>s mort<a>s asi
58
que por est<a>s quat<<ro>>
59
colores p<a>saron ą entender e que adebdan as pr<a>netas sobre
alimentos e sobre as cous<<a>>s criadas d(e)les e
60
acharono asi po
proßa de feyto (·) e ainda entenderon que as pr<a>netas que son de n<a>tura
de ayre e de aguą que adebdan gobernaçon asi como jupiter ou sol
o venus e mercurio e ą luą ·
61
e ainda vemos o asi que todos
62
os animales son enos logares do ayre e da aguą · e entenderon
que as pr<a>netas que son de n<a>tura de fogo ou de tera que adebdan cor
asi como s<a>turno e mares e ainda vemos o asi enos logares da
tera onde non entera ayre nen aguą nen se crią e ningun animal · e
segundo esto asi eno fogo · e por taaes razoes como est<a>s
p<a>saron ą entender os sabyos algo das cous<a>s que son de veer
ende digo eu que todas as cous<a>s da n<a>tura n<a>turada son a
d<a>s e an apra
64
çamento as uas con as outras por uą de
quatro cous<a>s ou por as duas delas ou por as tres delas o<<u>>
por todas quatro :
Ą COUSA primeyra e propo{{[.]}}<<(r)>>çon · ą
65
cousa segunda e ą relaçon · ą cousa terceyra
e conposiçon · ą cousa quarta e conpreson · e digo que os alimento<<s>>
e as cous<a>s criadas deles en estes apraçamentos
66
con as
67
57
Na margem de corte, em frente às linhas 9 e 10, está escrito em letra gótica cursiva, <ñ q q q su[......]>.
58
Há <
>
acima do sin.
59
Na margem de corte, em frente às linhas 13 a 15, está escrito em letra gótica cursiva, em latim <sate d(e)bdis / noticīā
ć (q) / (h)abet¨d(e) [..]ba / (fatū) (p) colona>. A nota ultrapassa o corte feito pela encadernação.
60
Há <
> entre o yud e o próximo vocábulo. Na margem interior, o mesmo sinal encontra-se acima do vocábulo
escrito em caracteres hebraicos, <dubito>, aparentemente de punho diferente do texto original.
61
Acima do ponto medial, há três ° em forma de triângulo.
62
Na margem de corte, em frente às linhas 18 a 21, está escrito em letra gótica cursiva, em latim <
sate d(e)bilía /
p•ncipīā (sūt) / (i)sta se(q)ciā / ad gelud[.]d[.] / futura·>. O punho é o mesmo da nota em frente às linhas 13 a 15 e a
nota ultrapassa o corte feito pela encadernação.
63
Há um fino traço vertical acima do álef que vem depois do resh.
64
Parece haver um fino traço vertical acima do álef que vem depois do resh.
65
Na margem de corte, a partir da linha 28 até a linha 31, há duas serpentinas, de traço fino, em seqüência.
66
Abaixo deste vocábulo, em caracteres hebraicos e de punho diferente daquele do texto principal, está escrito
<(ċ)onveniencias>.
67
Na margem de pé, à direita do reclamo, encontra-se escrito em letra gótica cursiva, em latim <(guinīcá[.]) / (ūlsigrico)
/ ulco[.] / pporcío 2 / relacío 1 / conpōīcío 3 / [.]plexio 4 / ī (minio) ul (q)[.]titat(e) ul duraci(one) / ūl d(e)spusi[...] /
actione / ūl pasion(e)>. O punho é o mesmo da nota em frente às linhas 13 a 15 e a nota foi preservada no momento da
encadernação, ultrapassando os limites da página.
[f
ól. 3v
]
94
estrelas moor mente con as pr<a>netas por que elas son mais cer
68
caas ą os alimentos moor mente ą luą que e mais cercaą ą
os alimentos como vemos que as conjunçoes e as opogiçoes e ą
os quartos das lunaçoes que se demudan os tenporaaes e que se reno
ßan ventos e chubias e neßes e yelos e solanos · e
69
asi e entendudo que
70
5
ente<<s>>
alimentos son recebedo
<<s>>
que qualquer
ou en ela seer 10
as quatro
conpre
so
an 15
quen os ali
e 20
cous<a>s
<<s>>
cousa e
en eles 25
>>
<s>>
ende digo que toda
a>s suas 30
omees receber
os alimentos an apraçamentos
71
con as pr<a>net<a>s e que {{(e len)}} son obed
ą elas por as quatro cous<a>s ditas · e que os
res das in(f)ulunecias das estrelas e aquelas estrel<a>s con sua
infulebenças son obradores enos alimentos · onde se segue
dest<a>s cous<a>s desta n<a>tura n<a>turada pode fazer
feyta demostraçon das cous<a>s que an de veer per qualquer d
cous<a>s sobre dit<a>s por as quantias das propooes que an uas
cous<a>s con as outr<a>s en suas conpogici{{o}}<<e>>s
72
o en suas
soes e por as conpresoes que an en propeçooes de suas conpre
es moor mente podemos tomar demostraçoes das cous<a>s que
de veer en<a>s cous<a>s desta n<a>tura n<a>turada en aquelas a
mentos obedecen per n<a>tura asi como e dito do fero que e mobido e so
ntraido
73
per ą virtude da pedra diam<a>nte e por as quatro cous<a>s
dit<a>s en aquelas que son ą cousa primeyra segundo ą vista do olho
e cousa terceyra sucedente ą n<a>tura n<a>turante e que por ela<<s>> s
demudan segundo n<a>tura · quero dizer os alimentos e todas as
criadas deles ca por certo veemos que as in(f)<u>lnecias das estre<<l>><a>
e das pr<a>net<a>s que demudan os alimentos por necesayra
que en algo demuden as animalias que son conpostas e criadas dos
alimentos moor mente enos corpos dos omees por que ay
mais
74
virtudes relatibas aas virtudes das pr<a>netas que en nenhuu<<s
das outras animalias e por razon que os omees son ap<a>relhado<
pora receßer demudamentos mas aginha que outr<a>s animalias por
quaaes quer das muyt<a>s virtudes que son enos omees ·
cousa necesarya cous<a>s leys adebdan segundo as n<a>turas del<
in(f)ulnecias e segundo as n<a>turas de aquil(o) que poden os
68
Na margem de corte, a partir da linha 1 até a linha 4, há duas serpentinas em seqüência.
69
Há <
> acima do álef.
70
Entre as linhas 5 e 17, está escrito na margem de corte, em caracteres hebraicos e de punho diferente daquele do texto
principal: <
no entendo / ċomo tan / alongada relaço / e tan penenya / propor(ç)ion / ċomo son antre / las cosas /
alimentales / ecelentes / sean causa / del generacion / i ċorocion / pues en / ċonpąsion ni / en ċonposicion / no
ċonvenen>.
71
Acima deste vocábulo, com punho diferente daquele do texto principal e em caracteres hebraicos está escrito
<ċonveniencias>.
72
Há um ponto acima e um abaixo do último vav.
73
Não há álef silencioso entre o álef e o yud simples.
74
Não há álef silencioso entre o álef e o yud simples.
[f
ól. 4r
]
95
das in(f)ulnecias e ende en<a>s pernet<a>s e en<a>s outr<a>s estrel<a>s
a>s
n enos
a>s so<<bre>> 5
e das
10
as e e so 15
da
s de orien<<te>>
s>>
a><<s>>
20
>>
e ceos no bib
25
<s>>
>s · e
30
craros
podemos tomar demostraçoes dos demudamentos que acaecen enos
corpos conpostos dos alimentos por que as pr<a>net<a>s e as outr<
estrel<a>s causan renoßamentos e demuđamentos que acaece
alimentos por as p<a>r cerias que an en uun por as quatro cous<
dit<a>s ou por qualquer delas poys que asi e trot<<a>>rey dos ceos
outr<a>s cous<a>s que perimeyro per pos :
DEZ son os ceos en que achamos virtudes · o primeyro ceo eo
da luą · por que e o mais
75
cercao
76
ą nos · o segundo ceo
e o de mercurio e e sobre o ceo da luą · o terceyro ceo eo
de venus e e sobre ceo de mercurio : o quarto ceo e o dosol e
sobre o ceo de venus : o quinto ceo e o de mares e e sobre ceo do
sol · o seysto ceo e o de jupiter e e sobre ceo de mares · o sete<<no>>
ceo e o de s<a>turno e e sobre ceo de jupiter · o oytabo ceo e
o da es(f)era estrel<a>da en que estan as estrel<a>s fis
bre o ceo de s<a>turno · o noßio ceo e ą es(f)era que e nomea
primeyra mobibel e e aque traze tod<a>s as es(f)eras dit<a>
ata occidente · e faze amanecer e anoytecer en<a>s sete querema<<
e ao entendimento de todos os sabyos e crara e sen estrel<
ou con suas estrel<a>s non sus vistas e nos non podemos traut<<ar>>
77
se non de aquil(o) que alcançamos por ą vista de nosos olhos ou
por razon n<a>tural · e o dezeno ceo e ą es(f)era fisa en que son fiso<<s
os
ayses da es(f)era primeyra nobre en cuujo centro desta es
(f)era dezena e fiso o centro da tera e c<a>da uun dos nob
les en outros ceos craros en que eles son encetrentos e os
ceos en que ay estrel<a>s · e os ceos enque ay estrel<a>s teen o<
aysos diversados dos aysos dos ceos en que non ay estrel<a
os ceos en que non ay estrel<a>s os mais
78
deles moben se ą o contr
ayro que os ceos estrelados · e os ceos estrelados que an
<<o>>utros ceos craros mui
79
mobibles son ą es(f)era oytaba e ą
es(f)era de mercurio e ą es(f)era da luą que an outros ceos cr
75
Não há álef silencioso entre o álef e o yud simples.
76
Há um álef silencioso entre o álef e o vav.
77
Não há álef silencioso entre o álef e o vav.
78
Não há álef silencioso entre o álef e o yud simples.
79
Não há álef silencioso entre o vav e o yud simples.
[f
ól. 4v
]
96
craros que se moben deles ą o contrayro que os ceos estrelados e
del<e>s se moben asi como os ceos estrelados · e ą es(f)era nobena
e os outros ceos sen os tres que disemos todos an ceos craro<<s>>
[...]centros enos
5
ą 10
s
<<be>>
ayre por
83
15
20
e
25
eu<<s>>
30
de suą redondeza e que ą aguą ą mayor supor(f)iiçi(o)n
que ą
que non ay estrelas e os ceos estrelados son
ceos craros · e ą es(f)era noßią e encent<a>da do centro da tera
que e eno centro da es(f)era dezena · e ena es(f)era nobią e ą es(f)e
ra oyt<a>ba estrelada outro si encentra do centro da es(f)era
dezena e do centro da tera · e porque ą tera e alimento muy
80
espeso
e duro e derebolverse mantense cerca de en suas propias virtudes e
centro da es(f)era dezena afirme fisa infinida · e por que ą agu
e alimento mais
81
cra ro que ą tera e e (f)rią e umida en sua
propias calidades conpresionales e por razon que toda luz e caente e~
por que ą aguą se manteen en suą forma con ą friura e se desol
con ą caentura
82
e perde suą forma e <<se>> torna en forma de
todas est<a>s razoes ą de fugir ą aguą [.] o logar mas
alongado de todas as luzes das estrelas fisas e o logar mais
84
alongado delas e o centro da esfera nobena asi esta ą aguą
eno centro da es(f)era nobena porque esta igual mente alongada de
todas as estrelas fisas queson ena es(f)era oyt<a>ba · e ą
es(f)era oyt<a>ba e ą nobią son encentras ena es(f)era dezena fis<<a>>
e ą tera esta eno centro da es(f)era dezena por que e ą tera de t<<al>>
propedade que non lhe tolhe muyto ą caentura
85
suą forma e
86
asi ą d
seer por força encentro da aguą do encentro
87
da tera · e por que
ą tera e ą aguą an os centros diversos e ą tera descuberta
de aguą de uą parte · e ą tera cuberta da aguą da p<a>rte que e se<<u>>
{{(en)}}centro fora do centro da tera · casi ą tera e ą aguą anbos
oubesen uun centro ou cercarią ą aguą enos ßales da tera ·
e se ą aguą chobese enos ßales da tera po<<y>>s
88
ą tod<a>s p<a>rtes da
89
redondeza da tera acharan aislas descubert<a>s e serią ą aguą m
da tera e e
90
falado por certo que non e escuberto de tera mais
91
de 172
92
93
graaos
80
Na margem interior, a partir da linha 8 até a linha 12, há uma serpentina. Em frente às linhas 9 e 10 está escrito em
letra gótica cursiva, em latim <ñ d(e)céť / teŕe>.
81
Não há álef silencioso entre o álef e o yud simples.
82
Não há álef silencioso entre o álef e o yud simples.
83
Na margem interior, a partir da linha 14 até a linha 17, há uma serpentina e está escrito em letra gótica cursiva, em
espanhol(?) <ń lacansa / del d(e)stu[.](ti) / to dela tier / del (céť) de / sp(er)a d(e)lag>
.
84
Não há álef silencioso entre o álef e o yud simples.
85
Não há álef silencioso entre o álef e o yud simples.
86
Há três círculos distribuídos sob a forma de triângulo acima do álef e do yud.
87
Acima deste vocábulo, está escrito em caracteres hebraicos, mas com de punho diferente daquele do texto principal,
<escentąċo>.
88
Um dos yud do yud duplo encontra-se acima do vocábulo.
89
Há um traço horizontal seguido de um círculo () acima do vocábulo <meus>. Na margem de corte, está escrito em
letra gótica cursiva <[...] lo(me)o>. O início do vocábulo foi cortado no momento da encadernação.
90
Há um círculo seguido de um traço horizontal acima deste vocábulo.
91
Não há um álef silencioso entre o álef e o yud simples.
92
Na margem interior, em frente à esta linha e à próxima, pode haver dois vocábulos, mas estes se encontram
ininteligíveis.
93
Logo depois deste vocábulo, está inserido <<a>> com punho diferente daquele do texto principal. <i(o)n> foi borrado
pela mão que escreveu o <<a>>.
[f
ól. 5r
]
97
tera · asi entendi que o centro da aguą e fora do centro da tera como
[f
ól. 5v
]
probarey eno libro das es(f)eras e non e aqui pera que alongar en esto :
94
E Ą ES )ERA oytaba e estrelada de muytas estrelas
fisas q
peque5
son ce
s pequen<a>s que son alongad denos eno gordo desta
es(f)era · e outros ouberon ou peninhon que cada estrela fisa
e en seu ceo ap<a>rtado e que seu mobim
asi como son
mos d10
toda estevesen en uun ceo e sequer seja o uun verdade ou
outra
esta e
is en suas im
e nom raron le zod(i)aco e veeron en cada uą dest<a>s doze partes 15
estrel doas as uas con as outr<a><<s>>
en cada u omeara
acada parte segund{{a}}<<o>>
100
o nome das animalias ou cous<a>s que en elas
imaginaron · e tuberon mentes en suas naturas e en suas propedade<<s>>
e acharon que aquelas feguras ce(l)<e>st<<r>>inaaes que eles imaginaron que 20
avian virtude sobre as animalias que son semelhabes ą aquelas (f)eguras
onde
tidas aas car<a>s celes
signo
de sen25
tauro gem
acayro picis ·
e en p ue en
os otros e probaron que eran de
asi
102
o 30
(f)ogo
(F
ue alguas parecen grandes e alg(u)as
nas ą vista do olho e alguus sabyos diseron que as grandes que
rcaos
95
anos e a as
ento de cada uą e tan poco
alongadas de nos toda vią meus que en longos tenpos non vee
iversidade nenhuą ou poca en elas e anos e asi como se
que poco demudamento nos pode nacer dos pequenos mobimento · e
96
s(f)era oytaba
97
partirona os sabios
98
en 1(3) partes igua
aginaçoes (f)orao
99
cerco enque coren as pranetas
b
as diversas colores e ajuntan
ą dest<<a>>s doze partes fazen feguras diversas e n
dise tolomeu eno centilogeu · as caras deste mundo son · some
triaaes e nomearon ą est<a>s doze partes
s
101
e começaron acontar des da rooda oquinçal contra parte
trenteon doze p<a>rtes iguaaes eno zodiaco e nomearon asi ayres
ini cancer leon virgo libra escorpion sa(j)yt<a>rio c<a>picornio
e probaron en estes signos propedades ap<a>rtad<a>s
elenças diversas que dividan as pr<a>net<a>s e nos uus signos q
tres en tres como de uą natura ·
· com que ayr<e>s e leon e sagitayro
103
que son caentes de natura de
ma linha em branco logo após esta.
m álef silencioso entre o álef e o vav.
encontra-se separado por um sinal semelhante a < >, de traço fino.
94
Há u
95
Há u
96
<· e>
97
Ape um yud do yud duplo encontra-se sobrescrito.
98
Não álef silencioso entre o vav e o yud simples.
99
A se ência é de apenas um álef e um vav.
100
Há um ponto abaixo e outro acima do álef.
101
Há um traço fino em forma de cruz entre este vocábulo e o próximo.
102
Há < >, feito com traço fino, antes deste vocábulo.
103
Há um ponto acima do resh.
nas
256
4 ESTUDO LINGÜÍSTICO: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE BET,
VET VAV
Antes do estudo de bet, vet e vav no De Magia, será feita uma exposição sobre o
posicionamento dos autores consultados em relação aos valores fônicos de <b> e <v> no
latim e no português arcaico não-aljamiado, e em relação à evolução dos sons representados
por esses grafemas. Análises às opiniões arroladas serão feitas apenas na seção 4.4.
E
4.1 [b] E [u̯] NO LATIM
.1.1 [b]
iniciais se confundiam entre si com
4
Para Grandgent
1029
(1928, p.200-202), no latim vulgar, quando [b] não era
intervocálico, mantinha-se regularmente inalterado. Diante de [s] ou [t], [b] se transformava
em [p], apesar de se escrever regularmente <b>: absens ~ apsens; scribtum ~ scriptum...
Especialmente no século II, <b-> e <v->
freqüência nas inscrições: botu, vene; Baleria, Bictor; bivere...
Depois das líqüidas também havia nas transcrições certa confusão entre <b> e <v>,
sendo <v> substituído por <b> com mais freqüência do que o contrário: salbum, serbus,
solvere... Como grande probabilidade, [v] se transformou em [b] depois de líqüidas e [b] se
manteve.
[b] intervocálico converteu-se em [ß]:
latim [VbV] > [VßV]
A evolução parece ter começado no século I, consolidando-se no II e completando-se no III.
o também <v> representava [ß], o resultado foi uma confusão na escrita, como o uso de
ente: ivvente = jubente, cabia = cavea, habe = ave... Quando [ß]
a consoante seguinte, vocaliza-se em [u]: *faula, *paraula...
Com
<b> e de <v> indistintam
torna-se contíguo a um
29
Faria (1957) também foi consultado, o qual nada teve a acrescentar ao estudo.
10
257
4.1.2 ̯] [u
De acordo com Grandgent (1928, p.203-206), o grafema <v> representava, sem
úvida, originariamente [u̯]. No entanto, ao perder seu elemento velar, seu som se reduziu,
e no princípio do Império, a [ß]. Durante o Império, as inscrições redigidas em
rafem
sultou em uma confusão gráfica de <b> e <v> iniciais nas inscrições:
iginti, bixit, botu... Mais tarde, na maior parte do Império, [ß] se converte em [v]:
latim [-u̯-] > [-ß-] > [-v-]
d
provavelment
g as gregas apresentam <ου> ou <ß> por <v>. < ß> no lugar de <v> é comum a partir do
século I. Daí aparece uma completa confusão entre <b> e <v> intervocálicos: cvrabit,
ivbentvtis... Isto re
b
O som [ß] depois de líqüida parece ter se convertido regularmente em [b] (romeno).
Porém, em algumas partes, o som [ß] ou [v] foi reestabelecido pela influência das escolas:
cerbvs, cvrbati, vervex > *verbex > berbex... Daí provém uma incerteza na escrita e uma
desigualdade dos resultados nas línguas românicas.
Lausberg (1981, p.165) confirma: a semivogal [u̯], num período mais antigo
pronunciada arredondada, [u̯], era desde o séc. I d.C. [ß] - fundindo-se com o resultado do -b-
O mesmo autor afirma (p. 166) que, dependendo da região, verifica-se em latim vulgar
a tendência, em início de [ß] em som oclusivo [b]
(betacismo). Este fenômeno leva a uma coincidência fonológica total entre os fonemas [b] e
interior de palavras pela mutação [-b-] > [-v-].
latino -, que evoluiu para [v]. “Assim, o latim vulgar já não conhece qualquer diferença entre -
v- e -b- latinos, que se pronunciam ambos [ß]” (LAUSBERG, 1981, p.191). <v> mantém-se
como [u̯] apenas nos grupos <qu> e <gu>.
palavra, da transformação de <v->
[v], já realizada em
258
4 [b] E [v] NO PORTUGUÊS ARCAICO
.2
para o português,
assim como as demais consoantes iniciais (LAUSBERG, 1981, p.165, GRANDGENT, 1928,
1
rt. [b-]
4.2.1 [b]
[b] inicial, em geral, não sofre modificação na passagem do latim
p.200)
030
. Assim:
lat. [b-] > po
A confusão gráfica entre [b] e [v] deveu-se à pronúncia de <b> e <v> intervocálicos.
A troca de [v] inicial por [b] se encontra no espanhol, no português do norte, em gascão, em
italiano meridional e em romeno antigo. O sardo, o italiano do sul, o espanhol, o catalão e o
pressupõe para o <v-> latino [ß]. As áreas que apresentam a pronúncia [v] para o <v-> latino,
evitando a confusão dos dois sons n são: centro e norte da Itália, reto-
mano, franco-provençal, francês, provençal, português do sul, romeno. Exemplos do
as consoantes mediais surdas latinas, quando intervocálicas, sonorizam-se em português nas
lat. [-p-]; [-bb-]; C[b] > port.[-b-]
gascão não diferenciam <b-> e <v-> em início de palavra. Essa coincidência fonológica
o começo de palavra
ro
português: bodo < votum; vaca < vacca, verde < vir(i)de, vinho < vinu.
As consoantes mediais estão sujeitas a freqüentes quedas ou modificações. Em geral,
suas homorgânicas, e as vozeadas geralmente caem. Assim,
O [-b-] latino também se mantém depois de consoante (exceto <r> e <l>) e no grupo
<br->, depois do acento tônico (HUBER, 1986, p.101).
Em português europeu, o [-b-] derivado do [-p-] latino tende para o afrouxamento da
clusão, permanecendo, no entanto, distinto de [v], este último derivado de [-b-] e [-v-]
tinos.
o
la
Bueno (1958) e Câmara Jr. (1976) foram consultados, sem nada a acrescentarem ao estudo.
1030
259
A presença do [-b-], grafado <-b->, em português justifica-se de três maneiras: ter sido
a a vernácula refeita segundo o latim; ser a palavra de introdução culta; influência do
espanhol (COUTINHO, 1984, p.73 e 111).
No português arcaico e no galego-português, <b> e <bb> são a transcrição de /b/,
oclusiva bilabial vozeada (MAIA, 1986, p.431; TEYSSIER, 1997, p.32).
Para Lausberg (1981, p.189), o [-b-] latino confundiu-se na pronúncia, como fricativa,
form
com o [-v-] latino, já muito cedo, o mais tardar no início do ano I d.C. Por isso, nas línguas
mâni
podia representar os sons vocálicos /u/ e /u̯/, ou não ter
lat. [u̯-] > port. [v-]
ro cas, [-b-] e [-v-] acabam se encontrando.
4.2.2 [v]
No galego-português, <v>
qualquer equivalência no plano fonológico (MAIA, 1986, p.425). Aqui, o interesse se voltará
para <v> com referência consonantal.
<v> inicial, em geral, não sofre modificação na passagem do latim para o português:
A nova consoante /v/ inicial provém da consonatização da semivogal posterior /u/,
pelo fenômeno de intensificação ou de maior tensão articulatória (MATTOS E SILVA, 1991).
No caso de [v] intervocálico, observa-se o que já foi citado na seção anterior. Em
geral,
lat. [-u̯-; -f-; VbV] > lat. [-ß-] > port. [-v-]
Segundo Maia (1986, p.473), no galego-português, o uso de <u> é mais freqüente do
que o de <v> para representar /ß/, fricativa bilabial vozeada. Já Teyssier (1997) afirma que
<v, u> consonantais se
discutido na próxima se
riam a representação de /v/, fricativa labiodental vozeada, o que será
ção.
260
4.2.3 Evolução dos v
a língua comum é esse galego-português nascido no norte. Por volta de 1350, o eixo Lisboa-
oimbr
as entre duas bilabiais, /b/ e /ß/. A oposição fonológica seria um traço
trem ente
plicar a inexistência de /v/ no norte de Portugal. Segundo ela, a neutralização
dos fonemas represen lego-português, fato
anteri quist mov s e a R ão se
propagou com ritmos diferentes, não atingindo o
confusão entre /b/ e /ß/ poderia ser resu ariação que o ntaria, a
partir de determinado nto: quando precedido de vogal; (ii)
realizava-se como [ß] ção inter (1962, p.207) também aponta que
una serie de indicios que parecen asegurar para to ula
ólo para el castellano) el desconocimiento de la labiodental desde época
e era así en edia sale de los testimon áticos del siglo
puestos eso os en contacto con los los documentos
alores fônicos dos grafemas <b> e <v> no português
1031
De acordo com Teyssier (1997)
, a língua galego-portuguesa vai ser levada do norte
em direção ao sul, através da Reconquista
1032
. Com a mudança da corte para Lisboa, essa
língua se espalha pelo sul, que até então falava dialetos moçárabes. Até meados do séc. XIV,
C a passa a formar o centro do domínio da língua portuguesa. É a partir daí que o
português moderno vai se constituir, de onde partirão as inovações e onde se situará a norma.
No galego-português, /b/ e /v/ eram então fonemas distintos (TEYSSIER, 1997, p.32),
o que foi mantido na pronúncia atual do centro-sul de Portugal. No entanto, no centro-norte
do país, hoje, há um único fonema /b/, como em espanhol. Ele é realizado de duas formas, [b]
e [ß], conforme as suas posições.
Para a maior parte dos estudiosos, toda a Península teria conhecido primeiro a
distinção entre um /b/, oclusiva bilabial vozeada, e um /v/, fricativa labiodental vozeada.
Depois a confusão entre os dois teria se generalizado e atingido todas as regiões, com exceção
do centro-sul de Portugal.
Essa não é a opinião de Maia (1986, p.472). A distinção primitiva não teria sido entre
/b/ e /v/, m
ex am frágil; na maior parte da Península, esse traço acabaria por desaparecer. A
autora tenta ex
tados por <b> e <v> já se verificaria na época do ga
or à Recon a. Com os imentos demográfico econquista, essa igualaç
sul de Portugal. Para Maia (1986, p.481), a
ltado da v fonema /b/ aprese
mome (i) realizava-se como [b],
vocálica. Alonso em posi
Hay [...]
(y no s
do el N. de la Peníns
antigua; qu
XVI [...],
la Edad M
s testimoni
ios de gram
datos de
1031
Ali (2001) e Melo (1967) foram consultados e não forneceram informações diretamente ligadas ao estudo
proposto.
1032
Movimento cristão com início no século VIII que visava à recuperação das terras perdidas para os árabes
durante a
invasão da Península Ibérica. A reconquista de todo o território peninsular vai durar cerca de oito
séculos. Em
Portugal, terminaria com a conquista definitiva de Silves pelas forças de D. Afonso III, em 1253.
261
medievales; refuerza el contraste con el N., el mismo hecho de que sólo el SE., el S.
y el E. (sin el NE.) de la Península nos conserven de v.
1033
Por que o fenômeno da perda da distinção entre /b/ e /ß/ não se propagou no sul de
ortugal? Ali, haveria distinção entre /b/ e /v/, antes mesmo da Reconquista. Como /b/ era
pre realizado com
o que poderia indicar uma neutralização dos fonemas
apresentados:
P
sem o [b], e nunca como [ß], a confusão não era possível.
Maia (1986, p.474) e Teyssier (1997, p.33) citam a hesitação existente entre <u, v> e
<b> no galego-português (baron/varon, por exemplo), que seria resultante de infiltrações da
língua falada no texto escrito. Palavras que deveriam apresentar apenas <v, u> revelam, às
vezes, a presença de <b> e vice-versa,
que esses grafemas originariamente representavam (MAIA, 1986, p.476). Coutinho (1984,
p.73) também comenta o fato em relação ao português arcaico: nos antigos manuscritos, <v>
era substituído por <u> (liurar = livrar) e vice-versa (lauorados = lavorados).
Teyssier (1997, p.48) afirma que, em 1576, Duarte Nunes de Leão (no seu
Ortographia) menciona a confusão do b e do v entre os galegos e os portugueses do norte.
Maia (1986, p.431) faz a seguinte pergunta: A partir do século XV, palavras com [b-] ( < [b-])
ou [-b-] (< [-p-]) aparecem grafadas com <u>. Por sua vez, /b/ e /ß/ - Teyssier (1997) diria /v/
- estariam perdendo a oposição fonológica ou se estaria diante de uma ultracorreção das
pronúncias?
Pode-se fazer a seguinte esquematização dos dois principais posicionamentos
Quadro 11 - Evolução de /b/, /v/ e /ß/ no português
Portugal Autor Galego-português Evolução ao longo do
período arcaico
Distinção entre os
fonemas
Neutralização da oposição
entre os fonemas
Maia
(1986)
/b/ e /ß/, já com tendência
à neutralização
/b/
Norte
Teyssier /b/ e /v/ /b/
(1997)
Centro-
sul
Maia (1986)
e Teyssier
(1997)
/b/ e /v/
/b/ e /v/
ma série de indícios que parecem assegurar para todo o Norte da Península (e não
1033
Tradução nossa: “Há u
somente para o castelhano) o desconhecimento da labiodental desde época antiga; que era assim na Idade Média
sai dos testemunhos dos gramáticos do século XVI, colocados estes testemunhos em contato com os dados dos
documentos medievais; reforça o contraste com o Norte, o mesmo fato de que apenas o Sudeste, o Sul e o Leste
(sem o Nordeste) da Península nos conservem resquícios de v.”
262
4.3 ANÁLISE DE VA
do texto conhecer os vocábulos. Para tal distinção, a
fazer a transcrição do De Magia, entre outros estranhamentos, observou-se,
aljamia, então há três sons no português coetâneo ao texto: bet
V, BET E VET
Conforme visto em 2.3, vav é transcrito aqui como a consoante <v> e as vogais <o> e
<u>. Exceto nos casos em que ele for o segundo elemento de um encontro vocálico, vindo
assim antecedido por um álef silencioso, não há marcação gráfica que distinga o vocálico do
consonantal, sendo necessário ao leitor
CGE serviu de base, como já explicado. Na mesma seção, convencionou-se que bet é sempre
transcrito como <b> e vet como <ß> .
Ao se
nesse texto aljamiado, a existência de três grafemas equivalentes a apenas dois grafemas em
um texto não-aljamiado. Trata-se do bet (cf. 2.3.2.1), vet (cf. 2.3.2.2) e vav consonantal (cf.
2.3.2.7) sendo empregados pelo copista em posições equivalentes às de <b> e <v> de um
texto em português arcaico em caracteres latinos. Assim, surge o problema que guiará esta
análise: Quais são as representações fônicas dos grafemas aljamiados bet, vet e vav,
transcritos aqui, respectivamente, como <b>, < ß> e <v> (cf. convenções apontadas no
Capítulo 2)? De fato, a questão do b e do v perpassa toda a Península Ibérica
1034
, mas aqui
apenas o português será analisado.
Face ao problema exposto, a hipótese de trabalho é a seguinte: se há três grafemas na
transcrito como <b> seria a
representação grafemática de [b]; vet
transcrito como <ß> seria a representação
grafemática de [ß]; vav
transcrito como <v> seria a representação grafemática de [v]. Bet,
t e va
ustificativa o fato de não ser possível se fazer a identificação das
representações fônicas de <b> e <v> no português não-aljamiado, que apresenta dois
grafemas, <b> e <v>, para três sons. Segundo Quintana (2006),
mientras que todos los hombres cultos cristianos y algunos de sus escribanos sabían
latín, y muchas veces no escribían de acuerdo con la pronunciación de su tiempo,
sino que respetaban la grafía etimológica latina, los judíos no sabían latín y entonces
ve v foram assim transcritos levando-se em conta as transcrições de aljamia já existentes.
Em judeu-espanhol, principalmente, é esta a relação gráfica. Assim, o objetivo que se impõe
é o de identificar as representações fônicas dos grafemas <b>, <v> e <ß> no De Magia.
O estudo tem como j
1034
Entre outros, veja-se, por exemplo, para o espanhol, Entwistle (1982), Menéndez Pidal (1994) e Lleal (1990).
263
solían escribir como pronunciaban. Es decir, que en la manera de escribir una misma
palabra entre un cristiano y un judío medieval, se pueden dar diferencias.
1035
Já Huber (1986, p.43) i
uma
irmam que nas línguas
ânicas, existem
ui.
gráfica relativa à caracterização,
timologia e evolução fônica de <b> e <v> no latim e no português t, vet e vav
am localizados,
ontado e org nizado em ordem al bética és da ferramenta Concord do WordSmith.
ologia foi
ábulo não fosse encontrado no autor citado, consultava-
da para que se
ação grafemática de bet, vet e vav nos vocábulos em latim dos
l e latim), os de etimologia
uvidosa, ou aqueles derivados de outra língua que não o latim – todos os três casos restritos
e quantitativa e
Em relação ao geral, seu número é reduzido.
stificativa para o critério da localização do grafema no vocábulo é que, para se
lução dos sons, há que levar em conta sua posição e seu ambiente fônico:
, interior de palavra, final de palavra (LAUSBERG, 1981, p.165). Como
firma
nforma que “muitas vezes são precisamente as variantes (orto)gráficas
de e da mesma palavra que permitem determinadas conclusões acerca da pronúncia.”
Ademais, a questão ainda não apresenta explicações definitivas dos especialistas do tema,
como se verá em seguida. Autores como Grandgent (1928, p.201) af
rom poucos vestígios gráfemáticos, ou talvez nenhum, da confusão primitiva
entre [b] e [v], o que será revisto aq
Iniciou-se o estudo através de uma pesquisa biblio
e arcaico, e de be
no hebraico.
A partir do De Magia já transcrito, os vocábulos com bet, vet e vav for
c s a s fa , atrav
Em seguida, as variantes de um mesmo vocábulo foram agrupadas e sua etim
buscada em Cunha (2001). Caso o voc
se Houaiss; Villar; Franco (2000). A etimologia dos vocábulos foi coleta
pudesse saber qual a represent
quais derivaram. Os vocábulos em língua estrangeira (espanho
d
– foram arrolados mas não levados em consideração no momento da anális
nem aqui apresentados.
Em um segundo momento, os vocábulos arrolados foram distribuídos em sublistas,
utilizando-se dois critérios principais: localização no vocábulo dos grafemas em questão – vav
inicial e medial, bet inicial e medial, vet inicial e medial – e sua etimologia. Vet e vav final
inexistem no texto
1036
.
A ju
entender a evo
começo de palavra
a Huber (1986, p.98),
35
Tradução nossa: “enquanto todos os homens cultos cristãos e alguns de seus escrivães sabiam latim, e não
creviam de acordo com a pronúncia do seu tempo, mas sim respeitavam a grafia etimológica latina, os judeus
ão sabiam latim e então costumavam escrever como pronunciavam. Isto é, pode haver diferenças entre a
aneira de escrever o mesmo vocábulo entre um cristão e um judeu medieval.”
36
Bet final foi encontrado apenas no vocábulo <eÇtorlab>, que possui apenas duas ocorrências (14v-20 e 15r-
), que deriva de um b medial (latim astrolabium). Ele não foi levado em consideração para este estudo.
10
es
n
m
10
3
264
No início de palavra as consoantes não são tratadas da mesma forma que n
caso em que se deve ter em conta se se encontram entre vogais, antes de, de
o interior,
pois de
tes, ação co semic u. É ainda outra a
tes no final de palavra.
Em m feitas análises tanto grafem
qualitativa, de bet, vet e vav. Essas análises am com , também e um paralelo entre
os grafem os ão-aljamiados.
A hipótese que guia as análises que guem é a seguinte, e elação guês
da primei do século XV:
-aljami Aljamiado
<b>
s não-
ljamia sistema grafemático ternário
a aljamia, será flagrada a co-ocorrência de [b], [v] e [ß] no português arcaico, impossível de
r apontada no sistema binário tradicional dos textos não-aljamiados, que apresenta apenas
b> e <v>.
.3.1 [u̯-] latino
Os sons derivados do [u̯-] latino são representados grafematicamente na aljamia da
guinte maneira:
ou entre consoan
sorte das consoan
ou em lig m as onsoantes i e
seguida, fora ática e fônica, quanto quantitativa e
for postas , d
as aljamiados e n
ese s m r a tuo por
ra metade
Não ado
[v]----------------------------------------------------------vav
<v>
[ß]----------------------------------------------------------vet
[b]----------------------------------------------------------bet
A seguir, serão analisados os grafemas equivalentes ao <b> e ao <v> dos texto
a dos do português arcaico. Em outras palavras, através do
d
se
<
4
se
265
Quadro ões grafemáticas dos sons derivados do [u̯-] latin
as % Lexemas %
12 - Representaç o
Grafema inicial categórico e
grafema inicial e variante(s)
Lexi
Bet categór
13 1,46 4 5,55
ico
V
19 2,29 12,5 9
et categórico
Vav ca
697 84,28 70,83 51
tegórico
Bet ~ vet ~
64 7,74
vav
4 5,55
Bet ~ vet
28 3,38 4,13 3
Be
0 0 0 0
t ~ vav
Vet ~ vav
7 0,85 1 1,38
Total 827 100 72 100
O fonema resultante do [u̯-] latino é, na grande maioria dos casos, representado por
vav (84,28% do número total de ocorrências e 70,83% dos lexemas). A porcentagem aumenta
quando se leva em conta apenas os grafemas categóricos (79,68% dos itens lexicais e 95,75%
as ocorrências). Esta alta ocorrência de [u̯-] latino sendo representado por vav era de se
esperar, j ̯-] em 9
lexemas (12,5%) com 19 ocorrê ndices são baixos, ovando a estabilidade
maior dos sons em início de vocábu
Os sons derivados do [u̯-] lat sentam-se em vocábulos com grafemas iniciais
que variam entre si em apenas 11,14% dos lexemas e 11,97% das lexias. Nestes casos,
bserva-se que há maior variação entre bet ~ vet ~ vav (4 lexemas, 64 lexias). Não há
d
á que, geralmente, latim [u̯-] > português [v-]. Vet inicial representa [u
ncias (2,29%). Os í pr
lo.
ino apre
o
nenhuma ocorrência de vav ~ bet, o que era de se esperar, pois bet- < [b-] e vav < [u̯].
O quadro acima pode ser desmembrado em subquadros:
266
Quadro 13 - Lexias em var por grafemas derivados do [u̯-] latino
Bet, vet e vav iniciais e v Bet Vet Vav Total
iação iniciadas
ariante(s)
Bet ~ vet ~ vav
basala, basalos; ßasalo/s; vosa 7 10 18 los 1
bazamentos; ßazamento/s, vu 2 7 10 azamentos 1
bodas; ßodas; vodas 12 4 17 1
bontade/s, bondade/s; ßontade
voontade
12 2 19 /s; vontade, 5
Bet ~ vet
bagarosas, ßagarosos 1 1 2 -
balentią; (ß)alentią, ßalentias 3 5 - 8
bazan; ßazar, ßazan 1 3 - 4
Bet ~ vav 0 - 0 0
Vet ~ vav
ßą, ßaą, ßan; vay (verbo ir) -
6 1 7
Total 38 38 9 85
As lexias bodas e vontade apresentam bet derivando de [u̯-] na maioria dos casos (12
ocorrências), tendo ambas um <o> (vav) como segunda letra. O bet pode ter sido aí
empregad tornar a
leitura do texto men
Quadro 14 - Vocábulos ial categórico derivad e [u̯-] latino
Vocábulos
1037
inicial categórico Lexias
o (e o vet também) para se evitar uma seqüência de dois vav, que poderiam
os clara.
com bet inic os d
com bet
banos, baas (vão) 2
barią 1
boamentos 1
boz/es 9
Total 13
Bet inicial categórico é a e [b-] que, por sua vez, seria a evolução mais
comum do <b-> latino, mas foi e bém em vocábulos derivados de [u̯-]. De fato,
as ocorrências de bet derivadas de < o são apenas 13 (5,55% e com poucos lexemas
cada (4 ou 1,46% - vão, varia que poderia faz rer que se trata de um
erro do copista. No entanto, boz/e ou 9 ocorrências, não podendo se tratar de um
erro. Esse fato não enfraquece a hi s poderia indicar a confusão recorrente entre [b]
e [v], até mesmo em início de vocábulo, no latim, no português e nas línguas românicas em
geral.
representação d
ncontrado tam
u̯-> latin )
r, voamento, voz), o er c
s apresent
p aótese, m
1037
Por economia, não serão indicado transcrição, tais como espaços, grafemas duvidosos,
sobrepostos ou inseridos, etc.
s detalhes da
267
Quadro 15 - Vocábulos co ̯-] latino
Vocábulo co ial categórico Lexias
m vet inicial categórico derivados de [u
m vet inic
ßodos (votos) 1
ß 4 aao, ßaas (vão)
ßalentes 2
ßales 2
ß lias alią, ßa 4
ßasos 1
ß o/s aziament 3
ßißo 1
ßozerią 1
Total 19
A presença, ainda que baixa, de [ß-] não é surpreendente, já que a evolução latim [u̯-]
> [ß-] > português [v-] pode não ter chegado até [v] em alguns lexem bém
se [ß-] não estaria sendo condicionado pelo contexto fônico do vocábulo anterior a ele, o que
não se confirmou. Os sons anter -] são os mesmos que precedem [b-] e [v-],
representados pelos graf
Quadro 16 - Vocábulos co ̯-] latino
Vocábulos c l categórico Lexias
as. Verificou-se tam
iores a [ß
emas <a, ą, e, n, o, s, y>.
m vav inicial categórico derivados de [u
om vav inicia
v azia zioss, vua 2
vender 1
vestidura/s 23
veados 2
vedada 5
veen, vieran, venhan, vinha, vira, viran 34
( verbo vir)
veer (verbo ver) 61
velho/s, velha/s 9
velhice 4
vencedores 1
vencer, vence 17
vencido/s, vençudos 16
vencimento/s 18
venda/s 3
vender, vendere 28
vendida/s, venduda 27
venenos 1
venereles 1
vento/s 6
ventre 2
ventura/s 17
venus 185
veraaos 1
268
verdade/s 5
verdadeyro 2
verde 1
vergonça 1
ve vermel rmelha/s, ias 5
vertimentos 1
vezes 31
vią 10
vida/s 9
viingança 1
vilaaos 1
vilas, vilyas 14
vileesos 1
viles, vilys 1
vileza 1
vingan 2
vinho/s 22
vinte 1
virgo 26
virilias 1
virtude/s 61
virtuosa/s, virturosa, virturosos, 19
virturasas, virtosas, virtudosas
visißles 2
visoes 2
visto, vista/s 7
viubo, viuba 2
voan 2
voluntayras 2
Total 697
Enquanto vav não se assemelha quanto à forma nem com bet e nem com vet, bet e vet
são um
risco na diagonal p obre o grafema. Há, então, alguma possibilidade de o
diacrítico não ser colocado pelo copista ou não ser visualizado pelo leitor. Sabe-se que, em
15% o pei - idên na f a ao
indi % de vet sem diacrítico, que estão sendo
analisa
Conclusão: o [u que geralmente gera no p guês eprese o na
aljamia por bet, vet e e maioria dos casos, represe ado po
de bet o
idênticos. A única diferença entre os dois é a presença de um diacrítico - um ponto ou
ara a direita - s
dos casos, o copista omite o diacrítico sobre
car que se trata de um fei. Assim, pode existir 15
tico orm fei - para
dos aqui como bet.
̯-] latino, [v-] ortu , é r ntad
vav. Na grand é nt r vav, sendo o uso
menos freqüente de todos.
269
4.3.2 [-u̯-] latino
gui maneira:
Quadro 17 - emáticas dos s deriv s do [ latino
Variantes Lexias % Lexemas %
O [-u̯-] latino é representado, na aljamia, da se nte
Representações graf ons ado -u̯-]
Bet categórico
72 13,17 26 29,55
Vet categórico
30 5,48 21 23,86
Vav cate
68 12,43
górico
13 14,77
Bet ~ vet ~
17,18 3 3,41
vav
94
B
49,73 22 25
et ~ vet
272
B
0 0 0
et ~ vav
0
V
2,01 3 3,41
et ~ vav
11
Total 547 100 88 100
A representaçã derivados de [-u̯-] latino é feita, na sua ioria (69,17%),
por grafemas e estes, observa-se que a maior variação acontece
entre erênci os graf as que variam e e si, e
não os categóricos)
Os grafemas categóricos correspondem a apenas 30,82% do total. Em relação aos
grafemas categóricos, bet é o mais recorrente (41,67% das ocorrências e 42,37% dos
xema
subquadros:
Quadro 18 - Vocábulos em variação iniciados por grafemas derivados de [-u̯-] latino
Vav medial e variante(s) Bet Vet Vav Total
o dos sons ma
que variam entre si. Dentr
bet e vet, com 78,58% (tomando-se como ref a em ntr
.
le s). Se se tomam as lexias como parâmetro, verifica-se grande semelhança entre vav
(68) e bet (70), contra apenas 30 ocorrências de vet. No entanto, se o parâmetro for os
lexemas, há paralelo entre bet (25) e vet (21), contra 13 itens com vav.
O quadro acima pode ser desmembrado em
Bet ~ vet ~ vav
abeença; aßeenças; avenças, aveencia,
avenecias, avenença
1 3 30 34
conber, conbeen, conben, conbyen, conbyen;
conßeen, con ßeen, conßyen, conßyene, conven
8 6 1 15
serbenta, serbentes, serßenentes, serßenta,
serßentes; servente/s
13 30 2 45
Subtotal 22 39 33 94
Bet ~ vet
cabar; caßar 1 1 - 2
270
catibidades; catißidade/s, cati(ß)idades 2 5 - 7
catibo; catißo/s 1 2 - 3
grabes, graßes 1 2 - 3
lebantar, lebanta, lebantaran; leßantar, leßantan,
lebantran
4 7 - 11
mob - 6 en; moße/n 2 4
mobimento/s; moßi 4 9 - 13 mentos
mobibel/es;
moßißles
2 1 - 3
nobas, noßa 10 6 - 16 s
nobio, nobią; noßio, n 33 20 - 53 oßia, noßią
nabes; naße 3 8 - 11 /s
nobena; noßeno, n 5 4 - 9 oßena
oytabo, oytaba, outaba, oytabos; oytaßo, oytaßa 53 5 - 58
pabores; (p)aßor 4 2 - 6 , paßores
pribados; pr 4 2 - 6 ißados
pribança/s, pribenç 6 14 - 20 a; prißança/s
remobe; remoße 1 1 - 2
remobimentos; remoßim 1 2 - 3 ento/s
renoba; renoßa/n 1 3 - 4
salbo; s 5 7 - 12 alßo
serbas, serb 12 - 20 o/s; serßa/s, serßo/s 8
aboo; aßoo/s 1 3 - 4
Bet ~ vav
0 - 0 0
Vet ~ vav
conßenentes; c - 2 1 3 onvenentes
dißinaßles; divinales, divinhales, diviniales,
divinhaaes
- 1 5 6
serßiços; serviços - 1 1 2
Total 174 163 40 377
Dos 22 lexemas de bet ~ vet, há 152 ocorrências de bet e 120 de vet. Em 13 lexemas,
há maior ocorrência de vet, contra corrência de bet e apenas dois itens em que o
número de ocorrências de bet é ig de ocorrências de v ão há nenhum caso,
assim como ocorreu com [u̯-], de bet
o7 com maior
ual ao número et. N
~ vav.
271
Quadro 19 - Vocábulos c ̯-] latino
Vocábulos com ial categórico Lexias
om bet medial categórico derivado de [-u
bet med
catibado 1
ca tibeyro 1
chobese 1
chubias 10
cibdades 2
conb o) 3 ersa, conberso (convertid
derebolverse 1
dibinhar 1
desolbe 1
enbiar, enbia 3
enbiamentos 1
enbiußamento 2
viubo, viuba 2
freboor (fervor) 1
inbejas, inbegias 3
jubentut, jubentud 4
lebia as) 1 as (levian
lobinhos 1
mobido 1
nobe 1
paborosos, poborosas 2
rebolaçon, rebolaçoes, rebolaoes 24
reboltas 1
relatibas 1
serbiçaaes 1
serbidome, serbidobre 2
Total 72
Quadro 20 - Vocábulos com vet medial categórico derivado de [-u̯-] latino
Vocábulos com vet categórico Lexias
aßoricią 1
breßes 1
conßenißle 1
coßos, coßa/s 4
desolßimento 1
enßiada 1
leßantamento/s 2
oßinos 1
noßenta 1
noßiceaaes 1
noßo/s 2
prißaçoes 1
renoßamento/s 3
reßersion 1
rebolßen 1
272
rebolßimentos 2
selßas 1
serßir 2
silßestres 1
solßer 1
ußas 1
Total 30
Vocábulos com vav medial categórico derivados de [-u̯-] latino
Vav media ategórico xias
Quadro 21 -
l c Le
a(v)ersarios, aversarios, aversayros,
avesarios, aveseyros
7
averiguą 3
aver ades 1 sid
aves, avees 3
avilta ntos 2 me
derebolverse 1
desaventura/s, desventura 9
divinhaçoes 3
desviar 1
diversidade/s 2
diversos, diversas 33
dividan 2
divinos 1
Total 68
preende.
O vav poderia estar sendo evitado e os quais ele aparece antes ou depois de <o,
u>, ambos representados por vav. N s com bet ~ vet, em 15, <o, u> se encontra
antes ou depois de bet e vav. Nos 2 que bet é categórico, em 12 <o, u> aparece
logo em seguida ou logo antes dele. No caso de categórico, há 8 lexemas dos 21 em que
<o, u> se encontram contíguos a vet. Poderia-se supor que bet e vet acabam mascarando a real
representação fônica derivada do [-u̯-] latino, ficando difícil afirmar com certeza como era a
sua pronúncia.
Conclusão: os dados lev ] latino teria gerado principalmente bet,
representação de [b], de acordo c de trabalho, contrariando a tradição, que
afirma que [-u̯-] latino >[-v-
A primazia esultado latino surde bet para a representação do r de [-u̯-]
m vocábulos n
o as 22 lexem
6 lexemas em
vet
am a crer que [-u̯-
om a hipótese
].
273
4.3.3 [b-] latino
Os sons deriva mia, da seguinte maneira:
Quadro 22 - Represen s sons derivados do [b-] latino
Grafema inicial categórico
e grafema inicial e
variante(s)
Lexemas %
dos do [b-] l tados na aljaatino são represen
tações grafemáticas do
Lexias %
Bet categórico
546 96,13 21 87,5
Vet categórico
0 0 0 0
Vav categórico
0 0 0 0
Bet ~ vet ~
0 0 0
vav
0
Bet ~ vet
22 3,87 12,5 3
Bet ~ vav
0 0 0 0
Vet ~ vav
0 0 0 0
Total 568 100 24 100
Os dados relativos ao [b-] latino são bastante transparentes. Em relação aos grafemas
categóricos, é sempre, sem exceção, representado por bet categórico (96,13% das ocorrências
ação.
quadro acima pode ser desmembrado em subquadros:
Vocábulos com bet categórico Lexias
e 87,5% dos lexemas), isto é, gerou [b-]. Quando há variação, ela existe entre [b] (bet) e [ß]
(vet), com 3,87% das ocorrências e 12,5% dos lexemas. Assim, é seguro afirmar que o [b-]
latino gerou uma grande maioria de [b], representado por bet, com muito pouca vari
O
Quadro 23 - Vocábulos com bet inicial categórico derivado de [b-] latino
abastamento 5
abaxamento 1
barqueyros 1
baesta (arma) 1
baixas 1
banios (banho) 1
barcas 2
bastecen 1
batedores 1
been, bees, ben, beyn, beys 47
(contrário de mal)
bees, ben, been, beyn, beys 47
274
(propriedade)
been, bees, bein, beyn, beys
( ientem
52
conven ente)
benaficio/s, beneficio/s 7
bendiz, bendize/s 5
benignidad 1 es
besta/s (anim 41 al)
boą, boaas, bon, bo on, boo 318 b s,oa o )on, (b s
boca, bocą 2
bondade/s, boondade 10
braços 1
breßes (breve) 1
Total 546
Quadro 24 - Vocábulos em variação iniciados por grafemas derivados de [b-] latino
Vav, vet e bet iniciais e variante(s) Bet Vet Vav Total
Bet ~ vet ~ vav
0
- -
0
Bet ~ vav
0
- -
0
Bet ~ vet
0 - - 0
Vet ~ vav
0
- -
0
beesteyro/s; ßaesteyros 2 1 - 3
bandos, ßandos 15 1 - 16
beninas; ßeninas 1 2 - 3
Total 18 4 - 22
Apenas três l enign dro 24). Os dois
primeiros apresentam maioria de be o benigna tem maioria de vet. Essa presença
pouco significativa de vet nesse contexto poderia ser indicação da confusão sempre presente,
ao longo de toda a evolução do latim uês, entre três sons m os semelhantes.
Conclusão: [b-] latino é representado na aljamia, na grande m ria dos casos, por um
bet. Não foi encontrada nenhuma ocorrência de vav representando som erivado de [b-] latino
e poucas ocorrências de vet re de [b-] latino no português.
4.3.4 V[-b-]V latino
Os sons derivados de V[-b resentados, na alja
maneira:
exemas variam: besteiros, bandos e b as (Qua
t, enquant
e do portug uit
aio
d
presentando o resultado
-]V latino são rep mia, da seguinte
275
Quadro 25 - Representações grafemáticas dos sons derivados do V[-b-]V latino
Variantes Lexias % Lexemas %
Bet categórico
64 7,47 34 52,25
Vet categórico
11 1,25 6 8,95
Vav categórico
108 12,22 1 1,49
Bet ~ vet ~ vav
373 42,19 4 5,97
Bet ~ vet
261 29,52 18 26,87
Bet ~ vav
4 0,45 1 1,49
Vet ~ vav
61 6,9 2 2,98
Total 882 100 66 100
V[-b-]V latino gerou represe rafemáticas bastante diversificadas na aljamia,
com 63,78% dos lexemas representados por grafemas categóricos e os demais 36,22% pelas
quatro possíveis combinações de variações entre os três grafemas. A situação se inverte se se
tomar como parâmetro o número de lexias: 22,76% delas são representadas por grafemas
categóricos e os demais 77,24% por variações entre eles. Em relação aos grafemas
et medial óric Lex
ntações g
categóricos, bet corresponde a 81,08% dos lexemas e 31,21% das ocorrências.
O quadro acima pode ser desmembrado em subquadros:
Quadro 26 - Vocábulos com bet medial categórico derivados do V[-b-]V latino
Vocábulos com b categ o ias
achaban 1
anublador 1
cataba 1
começaban 1
contaba 1
daba 1
dubida/s 4
dubidosas 1
ennobrece, ennoblec 2 e
estaban 1
trabutos 4
estabelecer, estabelece, esbe eron 5 lec
estabelecedores 1
estabilidades 1
gobernaçon 1
labores 5
276
liberaaes 1
liberdade/s 2
labradios 1
labradores 4
labrados 1
librar 1
nobreza/s 5
nomeaba 1
obedente 2
obedecen 2
pertubaçoes, (p)ortubaçoes 2
poboados 1
poboar 1
sobidos 1
sobir, sooben 2
subitadas 1
tablas, taboas 4
tomaba 1
Total 64
Quadro 27 - Vocábulos com vet medial categórico derivado do V[-b-]V
Vocábulos com vet categórico Lexias
inßernos 1
lißre 1
proßa/s 4
reßelias 2
soßente 1
taßernas 2
Total 11
Vet categórico corresponde a apenas 6 lexemas (16,22%) e 11 lexias (6,36%). Sua
presença se justifica pelo fato de, no latim, V[-b-]V > V[-ß-]. Estes lexemas ainda não teriam
sofrido a mudança de [-ß-] para [-v].
Quadro 28 - Vocábulos em variação iniciados por grafemas derivados de V[-b-]V latino
Vav medial e variante(s) Bet Vet Vav Total
Bet ~ vet ~ vav
adebda, adebdan, adebdaron, adeßdan, 254 49 2 305
ade(ß)da, ade(ß)dan, adeßdaran; adevida
adebdamentos, adebidamentos,
adeßdamentos, adevidamentos
27 2 1 30
debido, deßido, devido/a 1 2 2 5
dibidas; dißido, dißida/s; dividas 2 5 26 33
Bet ~ vet
cabalerias, cabaleryas; caßalerias 4 1 - 5
cabaleyros, cabalheyros; caßalheiros 8 1 - 9
cabalgar; caßalgar 2 1 - 3
277
chamaban; chamaßan 1 1 - 2
diabros, diaßros 2 1 - 3
esc - 5 ribaao, escribaaes, escribaes; escrißaao 4 1
escribania, escribanią, escribanyas;
es
8 17 - 25
crißania/s, escrißanią, escrißanya/s
escreber; escreßer 6 4 - 10
estabelicimen 19 tos; estaßelicimentos 18 1 -
gobernos; goßernos 2 9 - 11
labrar, labran; la(ß)rar 5 1 - 6
libro/s; lißro/s 46 9 - 55
nobre/s; noßres 39 4 - 43
mobles; moßeis 3 2 - 5
ouber, ober, ouberon, oubese, o
oußer, oßeren, oußeren
5 11 - 16 ubesen;
palabra/s; palaßra/s 5 3 8
probaron, probey, probarey; proßar,
proßaron
6 4 - 10
receber, recebe, recebera; receßer, receße 22 4 - 26
Bet ~ vav
marabiliosas; maraviliosa/s 1 - 3 4
Vet ~ vav
aßer; aver, avera, avem
avey
os, avendo, avian,
r
- 1 53 54
deße; deve, devemos, deven - 1 6 7
Total 469 136 90 694
O substantivo haver/es é o único item lexical com vav categórico medial derivado de
um V[-b-]V latino (2,70%). No entanto, seu número de ocorrência é alto (108), equivalendo a
62,43%. Assim, o grafema derivado de V[-b-]V latino em haver era pronunciado [v].
tender, aqui, a presença de bet e vet representando o som derivado de V[-
-]V la tar sendo evitado antes
/ou depois de vav vocálico, para se evitar uma seqüência de dois grafemas iguais, mas com
presentações fônicas diferentes. Em outras palavras, os grafemas vet e bet poderiam estar
ndo usados no lugar do grafema vav, quando próximo de <o> e <u>, mascarando a real
presentação fônica dos grafemas derivados de [-b-] entre vogais. Dos 35 lexemas com bet
edial categórico, em 16 há <o, u> antes ou depois de bet. No caso de vet categórico, há 2
xemas em 6 com <o, u> contíguos a vet. Quando bet ~ vet, há 5 casos em 18 com <o, u>.
Mas, de [b].
Conclusão: epre o resultado de V[-b-
]V latino. Esse fato contraria a tradição, que afirma que, em geral, V[-b-]V latino > [-v-] no
Tenta-se en
b tino. Existe a possibilidade de o grafema vav consonantal es
e
re
se
re
m
le
um modo geral, a maioria dos grafemas derivados de V[-b-] latino representam
encontrou-se na maioria dos casos, bet r sentando
278
português. Sabe-se que houve iária V[ß]V, que justifica a presença de vet,
mas não de bet.
.3.5 C[-b-] latino
a etapa intermed
4
O C[-b-] latino é representado na aljamia, da seguinte maneira:
Quadro 29 - Vocábulos com bet inicial categórico derivado do C[-b-] latino
Vocábulos com bet medial categórico Lexias
canbar 1
chunbo 1
enbargan 2
enbargo/s 18
enbargamento 1
lonbos 1
Total 24
uma
vogal. Como se pode ver, o núme xemas e exias de derivado e C[-b-]
na aljamia é pequeno, em relação aos demais contextos. Não foi encontrado C[-b-]
represen a e nem p mediais categóricos; ele é sempre repr do por
bet, se e-se afirmar, então, que o som derivado de n[-b-]V latino é sempre [b],
de acor .
4.3.6 [-bb-]
Ape cábulo foi enc trado: abarca/n < latim [-bb-], com três ocorrências,
sempre com rico. Pode-se afirm e o som derivado de [-bb-] latino do
m le
A consoante que antecede [-b-] é sempre <n>. [-b-] vem sempre seguido por
ro de le de l grafemas s d
tado nem por v v or et v e asent
m exceção. Pod
do com a aljamia
latino
nas um vo on
bet medial categó ar qu
ite xical abarcar era [b], de acordo com a aljamia.
4.3.7 [-b]r latino
O [b-]r latino é representado na aljamia, da seguinte maneira:
279
Quadro 30 - Representações grafemáticas dos sons derivados do [b-]r latino
Vocábulos com egórico Lexia b atet medial c s
celebro 1
sobrinho 1
teebr 2 as ( ) tênebra
Bet ~ vet
f 22 ebres (20); feßres (2)
libra (26); lißra (1) 27
Total 53
Como se pode observar, tanto o número de ocorrências quanto o número de lexemas é
baixo, em comparação com os demais esar de haver uma maioria de casos com bet ~
vet (92,45%), a ocorrência de vet m febres, há 20 casos com bet e apenas 2
com vet; em libra, há 26 casos como um com vet. Concluindo, os dados mostram
que o principal som derivado de [-b-]r latino era [b] (bet), mas tam avia vocábulos com
[ß] (vet).
4.3.8 V[-p-]V latino
O V[-p-]V latino é representa ia, da seguinte manei
Quadro 31 - Representações grafemáticas dos sons derivados do V[-p-]V latino
Variantes
mediais
Lexemas %
casos. Ap
é muito baixa: e
bet e apenas
m h
d mo na alja ra :
Lexias %
Bet categórico
212 20
,76 40 67,8
Vet categórico
2 0,2 1 1,7
Vav categórico
0 0
0 0
Bet ~ vet ~ vav
0 0 0 0
Bet ~ vet
9,04 18 30,5 807 7
Bet ~ vav
0 0 0 0
Vet ~ vav
0 0 0 0
Total 1021 100 59 100
Os sons derivados de V[-p-]V latino, em relação aos grafemas categóricos são [b]
(b o
derivado de V[-p nto/s (2 oc.). E ,06% categó V[- erou
um bet, evidenciando que os grafemas derivados do [-p-] latino, nesse contexto, eram
pronunciados [b], em sua grande maioria, e [ß] em restritos lexemas.
et) e [ß] (vet), jamais [v] (vav). Apenas um item lexical apresenta um vet categóric
-]V ame: despoßo m 99 dos ricos, p-]V g
280
O quadro acima pode ser desmembrado em subquadros:
Quadro 32 - Vocábulos com bet inicial categórico derivados do V[-p]V latino
Vocábulos com bet medial categórico Lexias
cabecelarią, cabecelarias 2
cabeçoso 1
caber 1
cobiçadas 1
cobiça, cobicia 3
cobiçadeyras 1
cobiçara 1
cobrar; cobro 25
cubas (vasilhas grandes) 1
cuberta 2
deribados 1
deribamentos 1
descuberta/s, descuberto 3
descobrimentos 2
encobrir 3
encubertamente 1
escuberto 1
obradeyra/s 1
obradoras, obradores 8
obrar, obran, obrasen 39
obrado/s 4
pobrados 1
pobre/s 7
pobreza/s 19
quebra 1
quebrantar, quebranta 6
quebrantadas 1
quebrantador 1
quebrantamento/s 9
quebranto/s 17
recebudo, recebuda 3
recebudoras 1
recobramentos 1
saber, sabe, sabemo/s, saben, saberemos,
soube, sobe, sabades
26
sabedorią, sabedorias 6
sabencias 1
sabuda, sabudos 7
sobrado 1
trabalhar 1
trabalhooso 1
Total 212
281
Quadro 33 - Vocábulos em variação iniciados por grafemas derivados de V[-p-]V latino
Bet ~ vet Bet Vet Vav Total
cabeça/s; caßeças 12 1 - 13
cabido/s; caßido 6 1 - 7
deribar, deriban; derißar 2 1 - 3
encubertas; encußertos 4 1 - 5
sobre, soßre 623 6 - 629
manceba, mancebos; manceßa, manceßos 3 4 - 7
mancebia, mancebią; manceßią 3 1 - 4
pobo, poboo/s, pobos, poßo; poßoo/s,
pooßo
19 16 - 35
poblamentos, pobramentos, poßoamentos 3 1 - 4
obras; oßras 28 2 - 30
pobreco/s, pobreca/s; preco/s, poßreca/s 11 5 - 16
sabedores; saßedor 1 1 - 2
sabios, sabyos; saßios 22 1 - 23
sabor; saßor 4 1 - 5
soberbią; soberßią, soberßas, soberßias,
sorbeßią, soßerßias
1 9 10
trabalhador, trebelhador; traßaliador 3 1 - 4
trabalho/s, trebelhos; traßalho/s, treßelhos 4 4 - 8
abeturias, aßerturas 1 1 - 2
Total 750 57 - 807
A variação entre os grafemas derivados de V[-p-]V apenas ocorre entre vet e bet. Dos
18 lexemas, 13 têm predominância de bet e 10 apresentam uma única ocorrência de vet.
Conclusão: na aljamia, o resultado de V[-p]V latino é representado por bet, na maioria
dos casos, em alguns poucos casos por vet e nunca por vav.
4.3.9 [-f-] latino
O [-f-] latino é representado na aljamia, da seguinte maneira:
282
Quadro 34 - Representações grafemáticas dos sons derivados do [-f-] latino
Variantes
mediais
Lexias % Lexemas %
Bet categórico
2 11,11 1 14,28
Vet categórico
1 5,56 1 14,28
Vav categórico
0 0 0 0
Bet ~ vet ~ vav
0 0 0 0
Bet ~ vet
15 83,33 5 71,44
Bet ~ vav
0 0 0 0
Vet ~ vav
0 0 0 0
Total 18 100 7 100
Todos os lexemas com grafemas derivados do [-f-] latino apresentam <o, u> em seu
entorno, o que pode ter feito o copista evitar o uso de vav. Assim, a real pronúncia destes
lexemas é difícil de ser percebida, porque os sons derivados do [-f-] latino nunca são
representados por vav. Em relação aos grafemas categóricos, há apenas um item lexical com
vet categórico, orißez (1 oc.) e dois lexemas com bet medial categórico: orobezią (1 oc.),
oribezerias (1 oc.).
Em 83,33% das ocorrências, bet e vet variam para representar [-f-] latino, que por sua
vez nunca apresenta variação entre bet ~ vet ~ vav, bet ~ vav e vet ~ vav.
O quadro acima pode ser desmembrado no subquadro abaixo:
Quadro 35 - Vocábulos em variação iniciados por grafemas derivados de [-f-] latino
Bet ~ vet Bet Vet Vav Subt.
probeyto; proßeytos 3 4 - 7
probeytoso, probeytosas; proßeytosa/s 2 2 - 4
aprobeytar, aprobeytan; aproßeyta 2 2 - 4
Total 7 8 - 15
Há bastante equilíbrio entre o número de ocorrências e de lexemas de bet e de vet
quando bet ~ vet e também quando são categóricos.
Conclusão: O resultado de [-f-] latino no português nunca é representado por vav, na
maioria das vezes por bet e pouco por vet.
283
4.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As informações acima podem ser resumidas da seguinte maneira, em que + = mais
freqüente; - = pouco freqüente; -- = muito pouco freqüente; Ø = inexistente:
Quadro 36 - Comparação entre o português aljamiado e o não-aljamiado
Português aljamiado
Latim
[b] - Bet
[ß] - Vet
[v] - Vav
Português conforme os
autores até então
[u̯-]
- - - +
[v-]
[-u̯-]
+ - -
[-v-]
[b-]
+ - -
Ø [b-]
V[-b-]V
+ - - -
[-v-]
C[-b-]
+
Ø Ø [-b-]
[-bb-]
+
Ø Ø [-b-]
[-b]r
+ -
Ø [-b-]
V[-p-]V
+ --
Ø [-b-]
[-f-]
+ -
Ø [-v-]
O quadro acima permite fazer as seguintes afirmações, em relação ao português
arcaico do século XV representado pela aljamia do De Magia:
(i) [u̯-] latino, de um modo geral, é representado por vav, confirmando o que afirma a tradição
(ii) [-u̯-] latino, de um modo geral, é representado por bet, o que contraria a tradição que
afirma [-u̯-] > [-v-]
(iii) [b-] latino, de um modo geral, é representado por bet, confirmando o que afirma a
tradição
(iv) V[-b-]V latino, de um modo geral, é representado por bet, o que contraria a tradição que
afirma V[-b-]V > V[-v-]V
(v) C[-b-] latino é sempre, sem exceção, representado por bet, confirmando o que afirma a
tradição
(vi) [-bb-] é sempre, sem exceção, representado por bet, confirmando o que afirma a tradição
284
(vii) [-b]r latino, de um modo geral, é representado por bet, confirmando o que afirma a
tradição
(viii) V[-p-]V latino, de um modo geral, é representado por bet, confirmando o que afirma a
tradição
(ix) [-f-] latino, de um modo geral, é representado por bet, o que contraria a tradição que
afirma [-f-] > [-v-]
A partir da análise feita, foi possível confirmar a hipótese inicial de que vav = [v],
fricativa labiodental vozeada, bet = [b], oclusiva bilabial vozeada e vet = [ß], fricativa bilabial
vozeada. As análises anteriores, como as de Maia (1986) e Teyssier (1997), que levaram em
conta apenas textos não-aljamiados, não permitiam perceber a existência de três sons nos
contextos analisados, já que havia apenas dois grafemas para representá-los, <b> e <v>.
Alguns fatos dificultaram a comprovação da hipótese, no entanto, mas sem
enfraquecê-la: (i) já no latim, [v], [b] e [ß] serem representados, como no português não-
aljamiado, por apenas dois grafemas, causa confusão no momento da representação
grafemática; (ii) vav representar, além de <v>, <o> e <u> faz com que se evite o uso “natural”
de vav, para não se escrever dois grafemas iguais consecutivos; (iii) o copista se esquecer de
marcar o diacrítico sobre o vet pode ter colaborado para dificultar a diferenciação entre bet e
vet; (iv) a influência da fala sobre a escrita.
Este estudo contribuiu, assim, para uma visão mais próxima da realidade fônica do português
arcaico da primeira metade do século XV. Como este foi o primeiro texto aljamiado em
português editado e analisado, a continuidade dos estudos das aljamias portuguesas, desta e de
tantas outras mantidas inéditas nas estantes das bibliotecas, se faz necessária.
285
CONCLUSÃO
Esta tese teve vários resultados decorrentes dos dois objetivos gerais propostos e
alcançados: a edição do De Magia e a análise dos grafemas bet ,vet e vav.
Realizou-se a edição paleográfica dos 84 fólios iniciais do outrora inédito Ms. Laud
Or. 282, cujo original se encontra na Bodleian Library, chamado aqui de De Magia. Esta parte
do códice foi transcrita dos caracteres hebraicos para os latinos, assim como as notas
marginais e interpolações feitas por outros punhos ao longo dos séculos. As descrições
codicológica e paleográfica detalhadas permitiram inserir a linguagem do texto no século XV,
provavelmente na sua primeira metade. Verificou-se que o texto está em português arcaico e
que seus caracteres são o hebraico semicursivo do século XV. Não foi possível fazer-se uma
afirmação segura quanto à sua autoria: mesmo com a citação do nome de Juan Gil de Burgos
como copista em seu colofão, não foram encontrados dados suficientes que comprovassem tal
afirmação. Pôde-se observar, no entanto, que o copista do De Magia não é o mesmo copista
do Ms. Laud Or. 310, apesar de aparente semelhança grafemática, codicológica e
paleográfica.
Para uma consistente transcrição do texto, foi necessário sistematizar sua
representação grafemática. Separaram-se os grafemas simples dos dígrafos, trígrafos e nexo
encontrados. Distinguiram-se as vogais da consoantes, sendo permitido confirmar a presença
de todos os caracteres do alfabeto hebraico, exceto o tav. O sistema grafemático do De Magia
pouco difere das aljamias mais conhecidas, as em judeu-espanhol. Problemas típicos das
aljamias foram aqui também encontrados, tal como o uso de um grafema para a representação
de sons distintos (álef, yud simples, vav, yud duplo, etc). Em seguida, com os critérios de
transcrição organizados, fez-se um corpo de normas e justificou-se a opção pela edição
paleográfica: deseja-se, principalmente, facilitar a leitura do texto e torná-lo acessível ao
lingüista que desconhece os caracteres hebraicos e que tampouco terá acesso ao texto original
aljamiado.
A partir do De Magia transcrito, partiu-se para o estudo dos grafemas bet, vet e vav.
Para a análise comparativa de bet, vet e vav, trabalhou-se com a hipótese a seguir: bet,
transcrito como <b>, seria a representação da consoante oclusiva bilabial vozeada [b], vet,
transcrito < ß>, representaria a fricativa bilabial vozeada [ß] e vav <v> a fricativa labiodental
vozeada [v]. Os trabalhos de Teyssier (1997) e Maia (1986) serviram de ponto de partida para
286
a construção de uma nova perspectiva em relação ao <b> e <v> do português arcaico.
Concluiu-se que, enquanto os textos não-aljamiados representam os três sons [b, ß, v] através
de dois grafemas <b, v>, a aljamia do De Magia representa estes mesmos três sons através de
três grafemas: <b, ß, v>, respectivamente.
Os conhecimentos aqui sistematizados - a edição do excerto inicial do De Magia e o
estudo de bet, vet e vav - e seu ineditismo são uma real contribuição desta tese para o
progresso da Lingüística Histórica, da Filologia, da Crítica Textual e dos Estudos Judaicos e
Medievais.
287
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292
APÊNDICE
1. Adebdar e adebdamento
O verbo adebdar é um dos lexemas mais freqüentes do manuscrito, ocorrendo 1866
vezes. Em geral transitivo direto, algumas vezes seguido pela preposição sobre, descreve a
ação ou domínio dos planetas ou signos do zodíaco sobre pessoas, ações e objetos. Exemplos:
e ainda entenderon que as pr<a>netas que son de n<a>tura / de ayre
e de aguą que adebdan gobernaçon asi como jupiter ou sol / o venus e
mercurio e ą luą (3v-16)
se foren ena casa nobią adebdan vencer preyto ou / (f)azer ley ou
estabelicimento ou g<a>nança de maestra digo / ou de caminho ou
de viagen longo por mar ou por tera (39v-20)
e ą pr<a>neta que for eno signo / oytabo do sol adebda sobre ą morte
do omen e sobre os negoc(i) / os dos mortos (82v-5)
O substantivo adebdamento ocorre, por sua vez, 86 vezes. Exemplo:
e os / adebdamentos das cas<a>s son segundo os signos e as
pr<a>net<a>s que son en / elas (21v-1)
Para Strolovitch (2005:187), adebdar seria equivalente ao adeudar do espanhol que,
segundo o Dicionário da RAE (1992), significa (i) contrair um dívida, (ii) tornar alguém
devedor de uma dívida ou favor e (iii) assinalar relações de parentesco, origem comum ou
afinidade, entre outros. O Diccionario general de las obras de Gonzalo de Berceo define
adebdar como “Obligar, hacer a uno grato, ganar su amparo. (S. MilI. 424.)”.
Adebdar e adebdamento também foram encontrados em textos espanhóis datados
entre 1250 e 1491, incluindo textos de Astrologia (RAE-CORDE).
293
2. Transcrição dos três primeiros fólios do códice 5-2-32 da Biblioteca Colombina
(Sevilha, Espanha), apenas para conhecimento do conteúdo:
[fól. 1]
La parte terçera del libro de Juan gil que
fabla enlos nasçimentos delos honbres (A) .
en sus estados . A porquel honbre es mas :
virtuoso animal se señoreador detodos :
los otros animales dela trra sr ha negoçios
enla mar conviene dfazer mas mjn çion dl honbre
q dlos co tros anj males ce conviene saber suvi
da segund su natura A suestado enel mundo
se ha quello que le viene por vertud natural
delas propiedades delas estrellas cavdas
A delas cometas se delos honbres Ay ali(fn)
nos dellos que son señores cosieruos porlina
Je A . ay algunos que caen se pierden el estado
de sulinaje su desa ventura A. por yra dedios
se por pecado de aquellos donde el viene
que no qujere dios que aquel linaje ten(f)a
aquel estado delos señores del mundo A.
ay algunos honbres que son buenos por q
dios haz e milagro {{por}} <en> pujar los entes
buenos estados del mundo en d ar les vida
[fól. 2]
se salud aellos se aotros por amor dellos
A ay algunos delos honbres malos por que
dios haze maravillas endestruyi<l>los en
matarlos aellos se alos otros porlos peca
dos dellos esto faze dios sobre la Razon hu
manal se so bre la vertud dtas estrellas se de
les elementos Asicomo Aquellos Aqinen por
vio latrra se a quellos q desçiende fuego dt
çielo en tienpo claro A los mata se aquellos
que por sus malos merescimentos se levanta
Los pryes se los pueblos Contraellos co aquellos
que desesperan de dios atodos les (co)ntece
cosas queson sobre la Razon humana se sobre
Las virtuds çelestiales A . sobre las virtudes
helementales se çie(r)to njnguno no puede
sobrar elordenamjento çelestial de dyes(P)al
no por mjlagro de dios mas (bien) puede el
honbre menguar del hordenamento çeles
tial por sub ye(rr)os copor yra piedos copor
guel honbre no puedo [........] mngi[..]
294
[fól. 3]
Bien eneste m(u)ndo (s)in bevir enel tiengo
(l)uengo conviene de (ts)aer [.]rimenarente enlos
años dla vida delos nasçidos se para sabr
la vida del nasçido conviene a saberel
punto ela ora (d)l dya (o) dl año en quenas
çio el nasçido sipudiere ser sabid[...]n
astro labio esto sera cosa çierta se sino
pndiere ser tomado con asto labrio sabras
el añoyel mes yel dia en q nasçio (al) nasçi
do çierta mente cotro si sabras elo(r)a la
mas çier ta que pudieres por boca dela
madre dt nas çido codela partera enten
deras qual pudo ser Al sino Açendente
dela ora dela nas çençia que te dize (A)
sepas quel sino Açendente delnasçido
es Alguno dlos signos en que ovieron
el padre ol madre dt nascido Algunapla
neta en siro nasçiençias A primeramente
sabias senasçio La criatura con dias colino.
295
3. Transcrição do fólio 416v do De Magia, contendo o colofão
Os mesmos critérios para a edição do De Magia foram aqui empregados, com poucas
e pequenas simplificações.
[fól. 416]
infruenç<a>s non obraden cous<a>s cert<a>s · e asi auą razon destroi ą
otra · e por santo non e de quedaer ·· e se deus a prop(o)sto ordenaçon
certa sobre tod<a>s as otr<a>s co(u)s<a>s en sa boontade · e as obr<a>s de
magica aenhedense ou minguanse sobre aproposiçon de deus pois mais poder<a>n
proposiçon ordenada · mais segundo as obr<a>s que nosfizermos asi (n)os dara
obeen ou o mal · e se as obr<a>s de magica aprobeytan se ao que deus
quige m<a>tar ou estroir · pois logo poderan mais as obr<a>s de magica
e as que deus · e isto e ero e por ende non son de creer · e se deus
non ą c<a>tamento nen uun sobre as cous<a>s mndaa(s) mais que lesou en
seu (al)ßid(r)o edeles · depoys que as fezo e que fosen guesad<a>s por seus a
acendentes asi que qemo quando chegase o margarito ao fogo que se queymase
e quando se
alongase del quenon lhe enpecese pois as obr<a>s de magica non
fazen nenhuus de seus acendentes p(oys) que non chegan nen moben aas cous<a>s
moraaes epor tanto non son de cr(e)er · e por est<a>s razoes non creo
eu nenhuą dest<a>s cous<a>s en est<a>s obr<a>s · mais acheguey eu en
este meu libro alguas dest<a>s obr<a>s dos libros dos sabyos · e por~
razon que se oubese alguą podol en elo que lhe veen e sen dano nenhuun · e
por que os que veren este meu libro que non tenhan que non soußealgo en tod<a>s
as m<a>terias que f<a>lan os sabyos da estrologią · e outrosi
trautey aesta m<a>terią en este meu libro por razon que en noso
direyto manda que aqueles que en esta obra se
trąb<a>lharen en been ou en
tolher mal con boą intenç(o)n que non dira por ele pią · mais que ajan
por elo gnardon · e ainda tudo esto que soube de dotores que todo (omen)
se p(o)de tr<a>b<a>lhar desta obrą pedabeen e con itençon de been e sen fazer~
dano anenhuun tanto que non f<a>çan inbocaçon de angios de nen de diabros nen
defumeyros nen sacrifiço nen ą domentar nen adobtrią nenhuą · mais
que se est<a>s figur<a>s ouber
alguun probeyto asi senpre(n) mente que esto
non e se non been · se alguą virtude de been e ouber por razon que nos non lho
podemos entender sgundo noso entendimento um<a>nal ··
aqui se ac<a>ba o seteno libro de magica que conpos jo(an) gil de burgos lo(ß)ado
s(e)ja dio ’amen · tam venišlam tehilá la’el ‘olam
1038
1038
Tradução nossa: “feito e completo, louvado seja o dono do universo.” O trecho em hebraico foi transcrito de
acordo com os critérios usualmente empregados em hebraico, e não os criados aqui para a aljamia.
296
4. Transcrição de fólios do Ms. Laud Or. 310
Os mesmos critérios para a edição do De Magia foram aqui empregados, com poucas
e pequenas simplificações.
[fól. 1r]
EN O NOME DE DEUS AM<E>N ·· AQUI COMEÇA acurta p<a>rtida
1039
do libro conprido
en o juizos d<a>s estrel<a>s
1040
oque conpos ali (n) g rajal
1041
outro
1042
e aqui conpe(s)a
as n<a>cenças e conteen se en esta p<a>rte d<a>s n<a>cenç<a>s acriança e e elees e
alcodcode e os juizos d<a>s cinc(·) c<a>sas primeyra que son des nprimeyra ata
aquinta dise ali (n) rajal gradecido seja adeus senh(o)r do poder e do reyno
e do lume ele preça (o) verdadeyro por m<a>ni(f)est<a>s prob<a>s (c)rioas ter<a>s
e os monte se os mares e os ceus circund<a>ntes adaredor pos en
eles estrel<a>s mobentes e po(j)eas en semelh<a>nça de c<a>ndeas luzentes e pos en
el<a>s sinaaes de <<(sr)>> p<a>rtir os tenpos e outr<a>s cous<a>s (e)l seja lobado e (j)r<a>decid
EN este libro (o)a(j)untey cous<a>s estranh<a>s e nobres que (f)oron espr(j)id<a>s
pelos libros <<dos>> antigos e (f)oron dit<a>s en srada mente e por sinaaes en
tod<a>s m<a>neyras de juizos d<a>s estrel<a>s a(j)untey eu con elo cous<a>s
1043
que eu
probey e cous<a>s que eu sonsquey por meu pensamento e cous<a>s que se sero
1044
d<a>s raizes verdadeyras desta siancią e rogo adeus podero{{go}}<<so>> que me ajude e
me guie en as direyt<a>s c<a>reyr<a>s pela suą mercee e pela suą piadade
O C<A>PITULO primeyro f<a>la na criança · e digo en este c<a>pitulo
e en os outros c<a>pitulos deste libro as c<o>sas que no(n)
son espldeneyds enos lib(r)os antigos e son dit<a>s por sinaaes e encoberta
mente e lhe suas cous<a>s pldinhas e a(s) que son p<a>recid<a>s enos libros desta
ciancią · e digo quando n<a>ceren doys n<a>cidos de un p<a>rimeento de un ventre
c(t)a am<a>dre da luą e ao n<a>cido que primeyra mente sai do ventre da pr<a>neta
aque en primeyro voy aluą e ao segundo n<a>cido da pr<a>neta aquen (ch)eja aluą
depoys daquela primeyra · se for alguą d<a>s duas fortun<a>s eno acedente e
moor mente se ouber en el alguun trepe
1045
testemunho
1046
ou (f)or en suą
trepecidade segundo o tenpo diurno o noturno isto sinifica que cunprira
suą criança · o lumiar do tenpo quando for salvo d<a>senfortun<a>s e de
seus acedentes maaus sinifica que cunprira suą criança · e quando ouber
en adezena c<a>sa ou en ą onzeną pr<a>neta diurna de dią ou nocturna
de noyte sinifica que cunprira acriança ( · qu)ando os sinaaes
1047
senhores da
trepecidade do lumiar do tempo (f)or no acedente o en adezią casa o en
1039
Na margem de cabeça está escrito em caracteres latinos e em números arábicos <Joannes Dee 1562 . January
/ Louany emit>. O punho é o mesmo que escreveu o mesmo trecho no De Magia. Na parte superior do fólio, à
esquerda, há o numeral 1. Na folha anterior a este fólio está escrito em caracteres latinos <Ali Aben (R)angel.
q(
ta
) pars> e na margem de cabeça à direita está escrito, também em caracteres latinos, <Jacobi Armacha(ni)>. O
punho parece ser o mesmo que escreveu Jacobi Armachani no De Magia.
1040
<juizos d<a>s estrel<a>s> encontra-se grifado por um traço fino.
1041
<ali (n) g rajal> encontra-se grifado por um traço fino.
1042
Há um álef silencioso entre o resh e o vav.
1043
Há um ponto sobrescrito ao último sin parecido com o yud simples.
1044
Parece haver algo sobrescrito ao vav.
1045
Há um traço fino sobre o resh e outro sobre o pei.
1046
Há um traço fino sobre o sin.
1047
Há um traço fino sobre o nune outro sobre o primeiro álef.
297
ą ozią e sinificaçon de boą criançae de(j)era
1048
mente e de boą m<a>neyra
e se for na setena sinifica maą criança e lazer da e coytosa ··
quando o graao do acedente o lumiar do tempo foren d<a>nados sinifica que
non se criara se non se foren os senhores da trepecidade salvos e libre
1049
(f)irmes
1050
[fól. 1v]
en os angulos · quando an<a>cença for de dią e for o sol no ace<<n>>dente en
signo aqui o sera avida boą e tenperda ca aquel n<a>cido sera de iguaaes
conpresoes e sera conpreson de jupiter · mais se o sol for en esto enos
signos egnios e boon pera alma mais o corpo sera de ardente conpreson
e m<a>gro e de consumid<a>s c<a>rnes mais asi como era entrando en seus dias
era tenpera<<n>>do en suą conpreson ( · ) mais se o sol for en signo ayro ou
tereo e for no grado do ac<<en>>dente o antes delo depoys el (f)or tres grados
e non ouber con o sol eno grado do acendente alguą d<a>s quinze estrelas
beevenias que son desde n<a>tura
1051
<<d(l)[.]>> fortun<a>s o alguą d<a>s fortun<a>s o c<a>tare
e alguą de trino o de seestil o<<u>> raio
1052
de alguą d<a>s fortun<a>s o ap<a>rte fortun(a)
sinifica que aquel n<a>cido morera antes que recebia o comer porque o sol quando
soube aos signos ayreos non sinifica senon fogo e outro se enos signos
1053
tereos ca quando cai o fogo con oayre coronpese oayre e penetra aquela
queymaçon e non se teen · e outro si quando se ajunta ofogo con atera aju
nt<a>se suas se querades e dana se aconpreson e non sepode sofrer ·· quando
for o alpofte[.]
1054
da n<a>cença enfortun<a>do caente{{s}}
1055
dos angulos en pero que
1056
aja antre ele ą enfortuna alguus graaos sinifica que o n<a>cido dodara
quando ac<a>ntidade de aqueles grados ·· quando aluą for enfortun<a>da e
for no acendente non sinifica criança e se for na setema c<a>sa enfortu
n<a>da e sen c<a>tamento de fortuna sinifica que aquel n<a>cido non se criara
quando aluą for naquarta c<a>sa a(j)unt<a>da de corpo con e(f)ortuna ou de
codradura o de oposiçon sinifica que non se criara e am<a>dre sera en peligro
e quiça morera e se o sol for na setema casa en esta m<a>neyra {{ou[.]}} o
outro se sinifica que se non criara · quando ouber enfortuna eno acen
dente e ouber en el alguą dinidade e for c<a>t<a>da de alguą fortuna sinifi
ca que se cunprira acriança · que as enfortun<a>s
1057
quando son en suas dinidades
minguą suą m<a>licią e maior
1058
mente mares e for de noyte enos signos
1059
femininos e s<a>turno de dią m<a>sculinos mais se for ocontreyro disto (p)u(j)a
suą enfortuna ecrece suą m<a>licią e seu dano ·· mais
1060
afortuna
1061
quando for en suą dinidade puja en seu been e en suą fortuna <<e>> non seendo
1048
Há algo incompreensível sobre o guímel.
1049
Há um traço fino sobre o bet.
1050
Há um traço fino antes do fei. Na margem de pé, encontra-se escrito em caracteres latinos e em números
arábicos <Liber Guilielmi Laud Archiepĩ Cantuãr: / et Cancellarij Vniuersitatis Oxõn: / 1633· />.
1051
Há sobrescrito ao último álef algo parecido com um ‘v’ latino.
1052
Não há álef silencioso entre o yud simples e o vav.
1053
Na margem de corte, em frente a esta linha, está escrito <menos> em caracteres hebraicos.
1054
Há três pontos em forma de triângulo sobre o vav e um traço diagonal para a esquerda sobre o yud simples.
1055
Há um ponto sobre e outro abaixo do sin.
1056
Na margem de corte está escrito <vencedor> em caracteres hebraicos. Há sobrescrito entre o samech e o yud
simples três pontinhos em forma de triângulo.
1057
Há três pontos em forma de triângulo sobre o vav.
1058
Não há álef silencioso entre o álef e o yud simples e nem entre este e o vav.
1059
Na margem de corte há dois riscos verticais e entre eles há três pontos em forma de triângulo.
1060
Há três pontos em forma de triângulo sobre o álef.
1061
Há dois pontos sobre o primeiro álef.
298
en
1062
suą dinidade minguą en suą fortuna e en seu been ·· quando for
alguą minguada de luume e absisa e non ouber c<a>t<a>mento nenhun de fortu<<na>>
morara aquel n<a>cido e non se criara e quiça sera cego e outro se am<a>dre
sera en peligro e quiça morera ·· quando os senhores d<a>s trepecidades
dos cinco eleeges
1063
foren apoderad<a>ns e firmes e ouber eno acendente en
fortuna
[fól. 2r]
fortuna <<e>> o senhor da segunda casa for en fortuna sinifica que aquel n<a>cido
1064
vibera ecriar(as)a mais en mal e en coyta e en fermidades e en lazeyr<a>s ··
quando venus e mercurio foren ajuntados eno graao do acendente sinifica
que non vibera o n<a>cido que anbos son contreyros <<e>> que non se poden ajuntar en been ··
1065
o ajunt<a>mentod<a>s pr<a>net<a>s non sinifican um<a>nidade quer dizer que quando se ajun
tan quatro pr<a>netas o cinque noacendente de alguun n<a>cido que aquel n<a>cido non
vibera ( · ) dise o decrarador chamoume el rey da nosa vila e prera uą d<a>s
suas molheres un filho e foi
1066
o acendente oyto graaos de libra termio de
mercurio e foi
1067
en elo jupiter e venus e mares e mercurio e cerca
1068
certro
se e uą conp<a>nhia de estrologos e dise que c<a>da un suą openyon e eu c<a>leyme
e diseme el rey que as son que non f<a>las e diselhe dame pr<a>zo de tres dias que se
teu filho p<a>sar o terceyro dią sera del gr<a>nde m<a>r<a>vilha e quando cunpre o
o moço 24 or<a>s asentouse omoço e f<a>lou e fez sinaaes con amaao e el
rey esp<a>ntose muyto
1069
disto e dise eu que been pudera seer que de dią alguą
propicią o alguą m<a>r<a>vilha e foi
1070
el rey enos aao moço aver o que dirią
e dise o moço eu son on<a>cido desaventurado e n<a>ce por sinal de p<<e>>rdese o
reyno de as de ser e destroo<<i>>çon{{o}}
1071
da gente de almajo[.]er e logo caio o moço
e moreu ca dizen os s<a>bedores que avida dos n<a>cidos e adizer serade dos mobi
mentos non e signo por esp<a>rzimento d<a>s pr<a>net<a>s mais quando se ajuntan
e se foren seus lumes uus con otros non viben nen sinifican vida ·· as
duas lumeyr<a>s e o acendente e o seu senhor quando foren ajuntados con
asefortun<a>s de corpoo de codradura ode opogiçon e sen c<a>t<a>mento de
fortuna sinifica que non criara se non se os senhores d<a>s trepecidades foren
enfortun<a>dos e apoder da mente e been firmes enos angulos entonce
poderan viber mais maą vida el(z)irda e coytosa ·· quando (f)or aluą
en un dos angulos e actar alguą d<a>senfortun<a>s e moor mente mares de
codradura o de epogiçon e aluą non seendo recebuda daquela e fortuna
nen c<a>t<a>ra dinhe(v)ą fortuna sinifica que aquel n<a>cido non gost<a>ra neniuą cousa
e se gostar non secriara ·· quando ap<a>rte fortuna e ap<a>rte {{doscias}} <<celte>> foren
<<e>>nt<<e>>[.] menos de fortuna o en c<a>sa de fortuna o en boos lug<a>res do acendente
epor alguą con ela e ac<a>tar alguą enfortuna que arecebą
1072
sinifica que
1062
Há um ponto sobre o nun final. Na margem de corte há dois riscos verticais e entre eles há três pontos em
forma de triângulo. Próximo ao segundo risco, há horizontalmente um outro risco em zig-zag.
1063
Este vocábulo inicia-se com hei.
1064
Na parte superior do fólio, à esquerda, há o numeral 2.
1065
Na margem de corte, há dois riscos verticais e entre eles há três pontos em forma de triângulo.
1066
Não há álef silencioso entre o vav e o yud simples.
1067
Não há álef silencioso entre o vav e o yud simples.
1068
Há um traço sobre o kuf.
1069
Há um ponto sobre o mem.
1070
Não há álef silencioso entre o yud simples e o vav.
1071
Não há álef entre os dois vavs vocálicos.
1072
Não há álef silencioso entre o bet e o ain.
299
aquel n<a>cido se criara e aver(a) longa vida e sera fortunado e avera been e
gr<a>nde nomeada ·· quando o senhor do acendente for queymado non sinifica
criança moor mente se o acendente for c<a>picornio o se aquela queymaçon
for na oytaba c<a>sa ·· quando o senhor da acendente e o almobatez foren
1073
[...]
por en angulo en aquel tenpo sera aquela cousa ·· e se adem<a>nda for por creyra
ou por fugitibo ou cousa encoberta e en cilada julga que quando aquel
sinificador entrar enos caimentos de angulo(s) e quando for o sinifica
dor ena faz primeyra sinifica ligereza ena cousa e se for ena segunda
sinifica mais t<a>rdançaaese for ena faz terceyra sinifica mais t<a>rdança ··
e quando for ena estaçon primeyra sinifica que sera aginha en<a>s maas
sinificaçoes ·· e quando for ena estaçon segunda sinifica que sera aginha
en<a>s boas sinificaçoes ·· e quando for son os raios
1074
e for de pe sadumo
mobimento ou de libre ou for orental sinifica brebeza do te(npo) ·· e
quando te dem<a>ndaren por reygnadoou por c<a>samento ou outra cousa [.]o
senhor da cousa e sobre aluą e cata {{cnal}} <<[.]q[.]n>> almobate(z) enque lug<a>(r) e
1075
da
figura e que poder ą en seu lug<a>r e poon o tenpo daquela cousa quanto e
o conto de {{doys}} <<se[..]s>> anos meores dias ou meses ou anos segundo seu poder en
seu lug<a>r e acert<a>ra(s) con deus ··
1076
aqui se acaba asetima p<a>rteda que e d<a>s eleçoes e adeus gr<a>ças ··
1077
tam v
e
nišlam š
e
vah̩ l
e
bor’e ‘olam
1078
‘al yad yośef bar gedalia franco
1079
š
e
merehu ŝuro yom h̩amiši
arv‘aa
yamim l
e
h̩odeš marh̩eswan š
e
nat h̩amešet ’alafim ume’a v
e
šiv‘im uštaim
1080
šanim layeŝira
brekh d
e
yahev h̩el’a l
e
‘avde bar ’amite barukh hašem l
e‘
olam ’amen ’amen, barukh noten laya‘ef
koah̩ ul
e
en ’onim
‘oŝma yarbe z
e
man ’amen ’amen ’amen śela śela śela
1081
[...]
1073
Abaixo do nun há três pontos em forma de triângulo.
1074
Não há álef silencioso entre álef e o yud simples e nem entre este e o vav. Há um ponto sobre o vav.
1075
Há um ponto sobrescrito ao álef silencioso.
1076
Após esta linha, há um espaço em branco correspondente a uma linha.
1077
Após esta linha, há um espaço em branco correspondente a uma linha.
1078
Nesta linha, há sobre cada um dos vocábulos anteriores a esta nota três pontos em forma de triângulo.
<aol<a>m> se inicia por um ain.
1079
< yośef bar gedalia franco> encontra-se sublinhado.
1080
< ’alafim ume’a v
e
šiv‘im uštaim > encontra-se sublinhado.
1081
Tradução nossa: “Terminado e completado graças ao criador do mundo pela mão de Yosef bar Gedalia
Franco, que Deus o guarde. Quinta-feira, dia 4 do mês de marheswan, ano cinco mil cento e setenta e dois da
criação. Bendito Deus para sempre amém, amém. Bendito o que dá força ao cansado e ao que não tem energia,
vigor. Que seus dias aumentem, amém, amém.” Sobre cada um dos seis últimos vocábulos, há três pontos em
forma de triângulo. O trecho em hebraico foi transcrito de acordo com os critérios usualmente empregados em
hebraico, e não os criados aqui para a aljamia.
[fol. 182v]
300
quigeres saber o lug<a>r d<a>s duas p<a>rtes cata en que signo e saturno de grados
e de miudos e cata quanto ą docomeç<a>mento de ayr<e>s troaquel miudo
direyta mente e deco ralo anaotros [.] e depoys
1082
sacao que decoreste dos grado<<s>>
de saturno e do que decoraste dos grados de jupiter ·· e se os grados de satu
rno foren mais que os de jupiter e ([.]60) grados uą rebolaçon e minguą
de todolos grados de saturno e o que fica decora ą poredad ·· e de poys
1083
t(o)ma do começamento de ayrs troao lug<a>r da conjuçon maior
1084
enque começo
ą l(e)y ·· e for en ą ley de mat en esc(or)pion de{{(n)}} (4) grados e (12)
miudos e fazen se os grados iguaaes e segundo os sob(e)me(ntos) (214)
grados e (12) miudos ajunt<a>(r)<a>s est<a>s aaos grados que nomea[.] [.] poredade e
o que for e for s<a>cado do começamento de ayr<e>s e o (ne)gegare{{s}}
1085
ą conta
e e o lun<a>r rap<a>rte permey(ray) e se ą conta crecer mais de ([.]60) grados
scaaos delo e o que ficar saraao do começ<a>mento de ayr<e>s asi como ante
desemos e ou chegar ą conta e e ą p<a>rte primeyra e e ap<a>rte da ley ··
e de poys
1086
cata ą conjunçon enque forense quanto ą do começamento
de ayr<e>s ata o seu lug<a>r por os grados iguaaes e aquilo que for ajuntaao
aaos grados que nomeaste ą poredade e o que for se ouber mais de uą
rebolaçon minguą ą delo e o que f(o)nca s<a>caao do começ<a>mento de ayrs · e
ochegar ą cnta e e o lug<a>r da p<a>rte segunda ·· e s<a>can se de outra m<a>neyra
sabe o acendente do ano da rebolaçon do mundo enque se leb<a>ntoo el rey ··
e cata os lug<a>res d<a>s pr<a>net<a>s en aquela rebol<a>çon ·· e cata qual da quelas
pr<a>net<a>s for orental de jupiter ou de saturno · e cata quanto ą dela tro
ao grado do sol ·· e ajunta ą elo ą conta dos anos meores do senhor da
quela ley ·· e son ą ley dos moyros
1087
oyto
1088
anos · e o que for da conta saca
lo do acendente e ou chegar e e o lug<a>r da p<a>rte primeyra ·· [.]oma p<a>rte
segund(a) do
1089
grado da pr<a>neta que for <<o>> c(c)e(c)ntal d<a>s duas que disemos e o que
1090
for saca delo os grados da p<a>rte primeyra ante que lhes enhadises aconta
dos anos meores do senhor da ley e o que fica sacaao do acendente e
ou chegar ą conta e e o lug<a>r da p<a>rte segunda ··
CAPITULO TRINTA NOBE EN saber o signo do chegamento do acendente
do c<a>myame(nto) da conjuçon que sinific<<ou>>
aley dos moyros
1091
·· quando isto qui(g)eres saber toma os anos conpridos de
e(z)dagenet e ajunta deles (61) anos perseos e doys
1092
meses e (12) dias e (16)
or<a>s e oque for começa de libra dando ac<a>da ano uun signo e o signo ou
chegar aquel e o chegamento do acendente da ley dos moyros
1093
e se quigeres
1082
Não há álef silencioso entre o vav e o yud duplo.
1083
Não há álef silencioso entre o vav e o yud duplo.
1084
Não há álef entre o e o yud simples e nem entre este e o vav.
1085
Há um ponto abaixo e outro acima do sin.
1086
Não há álef silencioso entre o vav e o yud duplo.
1087
Não há álef silencioso entre o vav e o yud duplo.
1088
Não há álef silencioso entre o vav e o yud duplo.
1089
Entre o dálet e o provável álef do vocábulo anterior, há sobrescrito três pontos em forma de triângulo.
1090
Na margem de corte está escrito em caracteres hebraicos <do grado do sol>.
1091
Não há álef silencioso entre o vav e o yud duplo.
1092
Não há álef silencioso entre o vav e o yud duplo.
1093
Não há álef silencioso entre o vav e o yud duplo.
[fol. 240r]
301
(s)aber o jugamento do signo do achegamento conjuçon da ley e começa de
escorpion ·· e se quigeres o signo do achegamento da rebolaçon começa de gemini
que dizen que el acendente do ano en que foi
1094
aconjuçon que sinifica ą ley foy
1095
en gemini segundo as (t)<a>blas de tolmeu ·· mais por as t<a>blas dacen deent sa(b)<<sa>>( · )
oacendente da ley seys grados de ayrs e por as t<a>blas da mol(mo)
1096
dalmota
(nn) en e c<a>ncer · e e sta e ą verdade ·· e se quigeres saber o grado da p<a>rtiçon
começa del vinte grados de peces dando a c<a>da grado o un ano e ou chegar (o)
e o grado da (p)<a>rtiçon ·· e quando acertares en o grado da p<a>rtiçon eno
entramento do ano ( · ) ajunta ą eles ac<a>da grado que andoder o sol en o circulo
dos signos de(n) segundos e fazase ac<a>da signo cinque miudos e con isto
alc<a>nç<a>ra con rios ·· e dise alquende que o ano da conjuçon que sinific(an) ą ley
dos moyros
1097
[.] troao ano enque se aleb<a>ntou maomd foron (52) anos solares
e que oacendente daquela conjuçon que sinifican ą ley foy
1098
gemini ·· e el
chegamento do ano en que se leb<a>ntou maomd foi
1099
virgo ·· e del ano do leb<a>ntamento
de maomd troą ezdag(e)retą (36) (24) de(l<a>s) poys
1100
quando quigeres saber isto
torna os anos de eyzedageret todos dias e ajunta ą eles os dias que
son de maomd troą ezdageret ·· e o que for p<a>rte o for ([.]65) dias e
quarto de dią e o que achares da p<a>rtiçon sern anos solares e o que finca
meses e dias de ano non conprido ·· e aqueles anos solares seran os anos
que son do leb<a>ntamento de maomd tro aquel ano en obreste e da ac<a>da
ano o un signo signo começando de virgo e ou chegar ą contados signos aquel
signo e o achegamento do ano do mundo do do acendente da ley ·· e sabe que o
signo do chegamento do acendente da ley ·· e sinificador do que contecera ao
poboo de aquela ley ·· e o signo do chegamento del
1101
da ley e sinificado<<r>>
doque conte(c)era en o reygno daquela ley ·· e o signo do achegamento do lug<a>r
da conjuçon da ley e sinificador doque
1102
contece en ą ley se ą teran
been ou non ·· e o senhor deste signo sera sinificador delo que contecera
ao<<s>> m<a>nteedores daquela ley ·· e o lug<a>r da p<a>rtiçon sinificador dos
estados de todolos sabedores ·· e o chegamento do acendente da conjuçon
do mudamento sinifica o que contecera ą gente e ao p(o)boo daquela ley ··
e o chegamento da suą dezena sinifica oque contecera ą elrey daquel
mudamento ·· e o chegamento da conjuçon do mudamento sinifica o que aconte
cera ael rey que en reygnar en aquelmudamento de puxamento ou de absame
nto ·· e o senhor daquel {{l}}chegamento sinifica o que contecera aos mante
edores e aos conselheros maioraaes del rey que reygnou en aquelmudamento ··
c(o)pitulo
1094
Não há álef silencioso entre o vav e o yud simples.
1095
Não há álef silencioso entre o vav e o yud duplo.
1096
Parece haver dois traços sobre os dois mem e um traço sobre o segundo vav.
1097
Não há álef silencioso entre o vav e o yud duplo.
1098
Não há álef silencioso entre o vav e o yud duplo.
1099
Não há álef silencioso entre o vav e o yud simples.
1100
Não há álef silencioso entre o vav e o yud duplo.
1101
Há um espaço branco após este vocábulo.
1102
Há um ponto abaixo do dálet.
[ fol.240v]
302
CAPITULO CORENTA EN saber estes chegamentos e esta p<a>rtiçon
en ą ley de maomd ·· quando isto
quigeres saber toma os ano<<s>> de ayzdageret e ajunta ą eles (61) ano e torna
os solares e depoys da ac<a>da <<ano>> uun signo começ do
1103
de libra ou chegar
aquel e o chegamento que o acendente do conjunçon da ley for (11) grados de
libra ·· e sequigeres saber o chegamento do lug<a>r da conjunçon da ley dos
moyros
1104
( · ) começa de escorpion · e ou chegar aquel e o chegamento da conjuçon ··
e se quigeres ą p<a>rtiçon começa de vinte grados de peces e ou chegar ą
conta e e o achegamento ·· e se qui(g)eres o chegamento do mudamento ą s<a>jyt
ario s(aca) dos (anos) de ayzdageret ajuntados con (61) anos e todos
tornados anos solares (31) anos enos dias e o que fi(ca) de c<a>da ano ou
signo começando de leo(n) e ou chegar e e o achegamento do acendente do
mudamento ·· e
1105
se quigeres do lug<a>r do mudame(nto) ( ˙ ) comença de sajyt<a>rio e
ou chegar e e o achegmento do sig(no) da conjuço do mudamento ·· e se
quigeres o chegamento do acendente deste senhorio desta natura toma
os ano<<s>> de ayzdageret ajuntados c(on) os (61) anos e tudo tornados anos
solares saca delo (177) anos · e de(z) meses e (27) (das) tornados en anos
solares e o que fica da ac<a>da ano uun signo começando de virgo vinte <<ou>>
chegar aley e o chegamento doacendente deste reygnado ·· e o senhor deste
chegamento sinifica(dor) delo que contecera en os m<a>ntee(dores) deste reygnado ··
e pra mentes en estes feytos e en est<a>s obr<a>s e obra segundo el<a>s ·
en todos os reygnados e en tod<a>s as ley<<s>> e acert<a>d<a>s con de(us ·· )
CAPITULO CORENTA UN EN as vist<a>s d<a>s comet <a>s ·· eu non
pois
1106
en este meu libros este
capitulo · se non de poys
1107
que o probey por verdadeyro en ą morte do filho
de abenaoceyen ·· e en ą morte de [.]eer filho de [.] ąazron ·· mais ante que
(is)to probase eu non tenha nen creeą que avią sinificaçon nen aficace
nenhuą ·· poys
1108
digo que quando alguą estrela cai de ayr<e>s semelha que
finde o ceu e lhe sa {{(o)}} seu sinal ·· sinifica que m(o)rera el rey dos crista
aos e que avera m<a>t<a>nsas e guer<a>s en tera de
1109
babilonya ·· e se aquel
caiment(o) for tauro sinifica que s(e) erman muyt<a>s
1110
en ter<a>s de
cristaaos e acaecera mort<a>ldade en tera de cristaaos babilonya ·· e
se aquel caimento for de gemini sinifica que acaeceran bralhas en tera dos
cristaos e morera el rey agipto e {{segurara}} <<endeyra>> se o lug<a>r omen f<<o>>r moso
e apoesto e acaecera mort<a>ldade e en efermidades
1111
en tera de persi(ą)
1103
Há um traço horizontal abaixo do dálet.
1104
Não há álef silencioso entre o vav e o yud duplo.
1105
Há um ponto sobrescrito entre o yud simples e o sin do vocábulo seguinte.
1106
Não há álef silencioso entre o vav e o yud simples.
1107
Não há álef silencioso entre o vav e o yud duplo.
1108
Não há álef silencioso entre o vav e o yud duplo.
1109
Há um símbolo semelhante a um ‘s’ sobre o dálet.
1110
Não há álef silencioso entre o vav e o yud duplo.
1111
Há um ponto sobre o álef inicial e outro sobre o primeiro yud simples.
[fol. 241r]
303
e se aquel caimento for de cancer sinifica que acaecida en tera de meca
m<a>t<a>nç<a>s e morera o filho del rey en lode <<e>> apoco de tenpo morera el rey ·· e
se aquel caimento for de leon sinifica que el rey morera e algrarsa(n) [.] seus
inimigos e sairan da querlema de babilonya que contralhera ą el rey ·· e
nb(e)aran os bestiones e f<a>ran danos ·· e se aquel caimento for de virgo sini
fica que el rey doagipto m<a>t<a>ra asi os inimigos e acaeceran e muytosTP
1112
PT (gu)e(m)
e se (tal) caimento for de libra sinifica que o poboo f<a>ra mal ą el rey <<e>> trai
ceus encoberts ·· e se aquel caimento for de escorpion sinifica que seran
muyt<a>sTP
1113
PT queymaçoes en o ayre e en ą tera · e m[.] foiTP
1114
PT minguara(n) as aguas dos··
rios ·· e se aquel caimento for de sogit<a>rio sinifica que acaecera en tera
de babilonya e en tera b<a>ldaque epedem<a>s e mort<a>ldade e que morera rey ··
e se quel caimento for de c<a>picornio sinifica que acaecera en tera d(e) meca
e en tera de almoesTP
1115
PT al(ą)oesTP
1116
PT muytoTP
1117
PT mal por l(udeç)ai por o que se melo[.] ·· e
se aquel caimento for de ac<a>rio sinifica que se aleb<a>nt<a>ra omen fraco e apode
rasa do reygno e durara en el poco e depoysTP
1118
PT acaeç<a>ran muyTP
1119
PT osTP
1120
PT m<a>t<a>nças
e fermidades ·· e se aquel caimento for de peces sinifica que el rey [..]
en o poboo dereytors e judtiç<a>s e sinifica s<a>lbamento e minguą as
aguas ·· e deus sabeTP
1121
PT o que ą de seer ··
aqui se cunpre o libro cunprido d<o>sTP
1122
PT en os juizos d<a>s estrelas o que conpos
abul(ro)cen ali filho de abn ragealTP
1123
PT e deus seja loubado e agradecido am<e>nTP
1124
PT ··
tamTP
1125
PT vP
e
P
nišlam šP
e
P
vah̩ lP
e
P
bor’e ‘olam ‘al yad yośef barTP
1126
PT gedalia franco šP
e
P
merehu ŝuro yom
šiši šP
e
P
ne yamim miroš h̩odeš ’elul šP
e
P
nat šiv‘im ve’eh̩at lP
e
P
prat, br[ek] d[P
e
P
yahev] h̩[el’a] l[P
e
P
‘avde]
b[ar] ’a[mite] ’amen ’amenTP
1127
PT
1112
Não há álef silencioso entre o vav e o yud duplo.
1113
Não há álef silencioso entre o vav e o yud duplo.
1114
Há dois traços verticais, mas inclinados, formando um ‘v’ sobre o fei. Não álef silencioso entre o vav e o
yud simples.
1115
Há dois traços sobre o mem.
1116
Não há álef silencioso entre o provável hei e o vav.
1117
Não há álef silencioso entre o vav e o yud duplo.
1118
Não há álef silencioso entre o vav e o yud duplo.
1119
Não há álef silencioso entre o vav e o yud duplo.
1120
Não há álef antes do vav.
1121
Há um ponto sobrescrito entre o sin deste vocábulo e o sin do vocábulo anterior. Há um espaço abaixo desta
linha correspondente a uma linha.
1122
Parece haver um traço fino sobre o dálet e outro sobre o sin.
1123
<abol(ro)cen ali filho de abn rageal> encontra-se grifado.
1124
Há um espaço em branco abaixo desta linha correspondente a uma linha.
1125
Há um traço sobrescrito aos caracteres.
1126
Há um ponto sobre o resh.
1127
Tradução nossa: “Terminado e completado graças ao Criador do mundo pela mão de Yosef bar Gedalia
Franco, que Deus o guarde. Sexta-feira, dia dois do mês de elul (agosto) ano cinco mil cento e setenta e um
(1411); Bendito o que dá força a seu servo, o filho da verdade, amém, amém. O trecho em hebraico foi transcrito
de acordo com os critérios usualmente empregados em hebraico, e não os criados aqui para a aljamia. No fólio
seguinte, está escrito em caracteres latinos <Abul Ha(se)n Ali (Filius) Ab(e)n Ragel(is).>”
[fol. 241v]
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