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o Deus cristão em alternativa às crenças judaicas e muçulmanas. Conquistou a América e
começou uma caçada frenética a todos os mouriscos (muçulmanos convertidos) e marranos
(judeus convertidos). Neste momento a preocupação da monarquia era a de exilar por completo
aqueles que não se diziam cristãos. E mais uma vez a intolerância se fixou em bases religiosas
para obter soberania; nessa caçada, foi criado o “Consejo de la Suprema Y General Inquisición”.
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Juan Sanchez, avô de Teresa, judeu converso, um dos capturados pela inquisição, foi
sentenciado a uma penitência pública; após isso, fugiu de Toledo para Ávila. Para que seus filhos
também não passassem por essas humilhações, Juan Sanchez comprou para eles um falso
certificado de nobreza, atestando serem eles de uma família de cristãos velhos. Esse documento
os protegeria futuramente de possíveis seqüestros, encarceramentos e torturas.
É então que Dom Alonso Sanchez de Cepeda, pai de Teresa, conseguiu seu certificado de
linhagem espanhola e pôde se casar com uma jovem nobre de família cristã. Seu primeiro
casamento, em 1505, foi com doña Catarina del Peso y Henao, com quem teve dois filhos
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, Juan
e Maria. Entretanto, Catarina morreu dois anos depois e, em 1509, o jovem viúvo desposou outra
nobre cristã, que viria a ser a mãe de Teresa, a jovem de 14 anos Beatriz de Ahumada. De seu
segundo casamento nasceram nove filhos, dentre eles Teresa de Ahumada y Cepeda. Seus
irmãos desse segundo casamento eram Rodrigo – a quem ela mais tinha afeição, quatro anos
mais velho e quem compartilhou com ela, durante toda a sua infância, o fascínio pela vida dos
santos mártires – Fernando, Antônio, Pedro, Jerônimo, Augustino, Lorenzo e Juana.
A infância de Teresa é coberta de leituras de romances cavalheirescos, livros que sua mãe
lia com freqüência, todavia em segredo, pois Dom Alonso não aceitava tais leituras. Dom Alonso
era um erudito; como todo nobre de sua época, tinha uma vasta biblioteca e, talvez por isso,
Teresa tendo crescido em meio a livros e uma educação que incluía cultura em geral, tenha se
afeiçoado tanto às leituras. Durante sua vida, Teresa se apegou aos livros como condutores de sua
alma, como sustentáculos de suas dúvidas. Já aos sete anos, ela leu em Castelhano os romances
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Esse conselho tinha o propósito de prender, interrogar e torturar todos os que não fossem considerados “cristãos
velhos”, ou seja; os que não eram da “raça” espanhola católica. Antes os conversos, ou seja aqueles que não eram
cristãos, mas haviam se convertido ao cristianismo, ou casado com alguém de pura linhagem católica ainda podiam
trabalhar e ter seus negócios em terras espanholas, porém, com a intolerância gerada com o fim da guerra contra com
os mouros, até mesmo os conversos eram condenados e sentenciados.
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Na obra o “Livro da Vida” da editora Paulus (1983), atribui-se três filhos a D. Catarina, porém não se tem nenhum
documento tangível da existência do terceiro filho, não concordando os autores nem mesmo sobre o seu nome.
Então adotaremos aqui a versão de apenas dois filhos.