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A respeito do “elegante” idílio, ele recomenda que “com ar amável, mas com
estilo simples, deve brilhar sem pompa”, descrevendo-o por sua “forma natural e espontânea”,
que “nada tem de luxo”, visto que é um tipo de poema que “não aprecia o orgulho de um
verso presunçoso”. De modo que sua “doçura deve afagar, agradar e jamais espantar os
ouvidos com palavras grandiloqüentes”
49
.
Da ode, diz que o seu tom elevado reafirma a temática que lhe é própria, a vitória
de atletas, os prazeres da vida, o amor, já referida por Horácio:
A ode, com mais brilho e não menos energia, elevando seu ambicioso vôo
até o céu, mantém através de seus versos, relação com os deuses. Ela abre
em Pisa, a barreira aos atletas, canta um vencedor empoeirado, no final da
corrida; leva Aquiles ensangüentado às margens do Simoide ou faz Escaut
inclinar-se sob o jugo de Luís. Há pouco, como uma abelha ardente em seu
trabalho, ela se vai para despojar as margens de flores. Pinta os festins, as
danças e os risos; celebra um beijo colhido nos lábios de Íris, que resiste
debilmente e que, por um doce capricho, algumas vezes o recusa, a fim de
que lho arrebatem. Seu estilo impetuoso, com freqüência, caminha ao acaso:
nela, uma linda desordem é um efeito de arte
50
.
Da elegia, o autor, tal qual fizera Horácio, traça a sua história, desde sua origem
funérea, “a plangente elegia, com longas vestes de luto e cabelos esparsos, sabe gemer sobre
um caixão”, até a sua condição atual, mais abrangente, em que “Pinta ela a alegria e a tristeza
dos apaixonados; afaga, ameaça, irrita, acalma uma amante”
51
.
Entre os tipos de poemas mais novos, o soneto é descrito por suas “rigorosas leis”
em que “dois quartetos de medida semelhante, a rima com dois sons ferisse oito vezes os
ouvidos, e que, em seguida, seis versos artisticamente dispostos ficassem, pelo sentido,
divididos em dois tercetos”, pelo banimento da licença poética e da repetição de palavras. Do
madrigal ele comenta apenas isso: “mais simples e mais nobre em sua construção, respira a
doçura, a ternura e o amor”
52
.
Os gêneros considerados menores da Lírica são retratados por Boileau da seguinte
forma:
A égloga, por pertencer à Lírica é menor, razão pela qual não convém ao
poeta, “desvairadamente pomposo, na sua veia indiscreta”, entoar “a
trombeta no meio de uma égloga”. Mesmo pertencendo ao conjunto da lírica,
pequeno por excelência, é considerado um dos menores entre os menores,
porque canta “os campos”, “os vergéis”, “Flora” e “Pomona”, deusas ligadas
à terra, ao chão, ao mundo rural, portanto, numa escala abaixo do monte
49
BOILEAU-DESPRÉAUX, Nicolas. A arte poética. São Paulo: Perspectiva, 1979, p.29.
50
Ibid., p.30-1.
51
Ibid., p.30.
52
Ibid.,p.32.