
12
Diante desses problemas que acarretam sofrimento, a apatia parece estar se tornando a
resposta mais costumeira. Já não nos sensibiliza a extinção de tantas espécies naturais e nem o
sofrimento dos pobres, que são as maiores vítimas. Quem não é, diariamente, espectador da
progressiva violência humana e degradação ecológica de nosso planeta, e permanece
impotente? Como cristão e frade capuchinho, pertencente a uma ordem religiosa inspirada em
São Francisco de Assis, patrono da ecologia e defensor dos pobres, nos sobreveio a
preocupação com essa postura impassível e de descaso face ao futuro. Junto a isso, outros
questionamentos pessoais foram surgindo, tais como: onde está Deus nessa realidade gritante?
Como ser autenticamente cristão diante desse sofrimento? Qual a nossa postura cristã frente a
esses desafios?
Perguntas desse nível tornaram-se nosso mais novo “sofrimento”. Até que, como
estudante de teologia, tivemos acesso à obra de Jürgem Moltmann
3
O caminho de Jesus
Cristo
. No contato com esta obra, sobretudo a partir do capítulo IV (Os sofrimentos
3
Jürgen Moltmann nasceu no dia 18 de abril de 1926, em Hamburgo, no norte protestante da Alemanha. Seu avô
pertencia à maçonaria livre. Teve o início de sua vida até sua juventude marcada por uma educação bastante
secular. Ainda quando adolescente, como admirador de Max Planck e Albert Einstein, pensou estudar física e
matemática. Porém, em vista de seu alistamento militar aos 17 anos de idade, em 1943, interrompeu seus
estudos. Em julho do mesmo ano o jovem Moltmann viu sua cidade natal ser bombardeada na
Gomorrah
Operation pela Royal Air Force
. Nesse bombardeio presenciou a mortandade de muitos compatriotas, cerca de
40.000 pessoas. Viu, diante de seus olhos, a morte de seus amigos e companheiros militares. Nessa terrível
experiência noturna, na qual, somente ele sobreviveu, Moltmann chorou e, pela primeira vez, clamou por
Deus: “meu Deus, onde estás?”. Durante seis meses serviu o exército alemão no Reichwald na Bélgica. No ano
seguinte, foi feito prisioneiro pelos ingleses e levado ao campo de concentração de Northon-Camp, na
Inglaterra. Aí, por três anos viveu confinado como prisioneiro de guerra em vários campos. Através de um
capelão americano, Moltmann e seus companheiros tiveram acesso a uma pequena cópia do Novo Testamento
e dos Salmos. O sonho de ser futuro físico ou matemático começa a ser mudado. Progressivamente encontrou a
fé cristã chegando, posteriormente, a afirmar que não era ele quem tinha encontrado Cristo, mas Cristo o havia
encontrado. Entre os prisioneiros encontravam-se também alguns professores de teologia. Aí descobriu e leu
sua primeira obra teológica “
A natureza e o destino do homem
”, de Reinhold Niebuhr. Ao regressar para a
Alemanha, em 1948, encontrou seu país em ruínas. Em Göttingen, tendo como professores O. Weber, H. J.
Iwande e E. Wolf, prosseguiu seus estudos teológicos até concluir, em 1952, seu doutorado. De 1953 a 1958
em Bremen, desenvolveu a atividade pastoral como pastor reformado, ao qual foi ordenado em Leer na Frísia
oriental. Conseguiu livre docência em História dos Dogmas e Teologia Sistemática em 1957. Desde 1957 é
professor de Teologia Sistemática na Universidade de Tübingem. Em sua carreira acadêmica Moltmann
orientou cinqüenta estudantes doutorandos e oito agregações. Por oito vezes recebeu o doutoramento
honoris
causa
. À convite da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista, Moltmann já esteve no Brasil em setembro de
1977 e proferiu conferências em diversas faculdades de teologia desde São Leopoldo, no Rio Grande do Sul,
até o Recife. Dessa visita originou a obra
Paixão pela vida,
publicada pela ASTE em 1978. Agora, 31 anos
depois, dos dias 29 a 31 de outubro de 2008, Moltmann retornou ao Brasil, proferindo palestras nas
Universidades Metodistas do Rio de Janeiro (Centro Universitário Bennett) e São Paulo (Universidade
Metodista de São Paulo). Dessa sua última vinda ao Brasil, Moltmann novamente nos presenteou com outra
obra intitulada
Vida, Esperança e Justiça: um testamento teológico para a América Latina.
Essa obra não está
citada no corpo deste trabalho, pois somente tivemos acesso à mesma após a defesa da dissertação. O teólogo
da esperança é casado com a teóloga Elisabeth Wendel e tem quatro filhos. Cf. MOLTMANN, J.
Experiências
de reflexão teológica,
p. 9-22. Cf. também: MONDIN, Batista. Jügen Moltmann e as teologias da cruz e da
esperança, p. 283-303. Notas Biográficas sobre Jürgen Moltmann, p. 51- 65. Como nos sugere Mondin, para
uma bibliografia mais completa, cf. também GIBELLINI, R.
La Teologia de J. Moltmann
, 1975.