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NARCELI PIUCCO
Corinne ou l’Italie de Mme de Staël: da adaptação
à retradução estrangeirizante
Florianópolis, 2008
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NARCELI PIUCCO
Corinne ou l’Italie de Mme de Staël: da adaptação
à retradução estrangeirizante
Dissertação apresentada ao curso de Pós-graduação em
Estudos da Tradução da Universidade Federal de Santa
Catarina, como parte dos requisitos para a obtenção do
título de Mestre.
Área de concentração: Processos de retextualização
Linha de pesquisa: Teoria, história e crítica da tradução.
Orientadora: Prof. Drª.Marie-Hélène C.Torres
Florianópolis, 2008
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AGRADECIMENTOS
Ao CNPQ - Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico, por possibilitar essa
pesquisa ;
À minha orientadora Marie-Hélène C. Torres ;
Ao programa de Pós-Graduação em Estudos da
Tradução ;
À minha família; em especial minha irmã Tatiane e
meu namorado Thiago.
Ao Jonas e também a todos meus outros amigos que, de
algum modo, contribram para a realização deste
trabalho.
« Chaque littérature finit par s’ennuyer en elle-même, si elle n’est pas régénérée par une
participation étrangère », (Goethe)
PIUCCO, Narceli. Corinne ou l’Italie de Mme de Staël: da adaptação à retradução
estrangeirizante. Florianópolis, 2008. 225 f. Dissertação de Mestrado (Pós-graduação em Estudos
da Tradução), UFSC, 2008.
RESUMO
Vinculada à linha de pesquisa da Teoria, crítica e história da tradução”, este trabalho de
mestrado objetiva a análise comentada do original, da primeira tradução e a retradução dos três
primeiros livros da obra Corinne ou l’Italie, da escritora Madame de Staël. Na introdução a este
trabalho, disserta-se sobre a literatura de Madame de Staël, sua vida, suas obras e o contexto da
sua época. O primeiro capítulo analisa a obra de estudo original Corinne ou l’Italie e a primeira
tradução para o português do Brasil Corina ou a Itália (1945, Edições Cultura), a partir do
percurso proposto por Berman em Pour une critique des traductions: Jonh Donne (1995,) em
busca das zonas problemáticas, dos traços estilísticos, das palavras-chave e do tradutor a fim de
conhecer a sua posição tradutiva, seu horizonte e projeto de tradução. Em seguida, são
verificados os proveis processos de adaptação na primeira tradução, de acordo com as teorias
de Bastin (2001) e Gambier (1992), entre outros. A partir dessas análises, propõe-se no capítulo 2
a retradução dos três primeiros livros da obra. Referenciam-se, entre outras, as teorias de Venuti
(1986) sobre a visibilidade do tradutor, de Berman (1999) sobre a tradução da letra e a ética da
tradução. Após a reflexão apoiada nessas teorias, optou-se como projeto realizar uma retradução
estrangeirizante que propõe acolher o estrangeiro, com o objetivo de realizar uma prática
tradutória que evidencie a letra da obra, mostrando assim o trabalho do tradutor. No capítulo 3,
apresentam-se os aspectos semânticos, culturais, estilísticos e outros, verificados no original e
comentados com os respectivos exemplos da retradução e da primeira tradução. Seguindo as
considerações finais, o Apêndice é apresentado em forma de coluna com o texto original, a
retradução e a primeira tradução Corina ou a Itália dos três primeiros livros propostos para esta
pesquisa.
Palavras-chave: História da Tradução. Tradução Literária e Comentada. Madame de Staël
Corinne ou l’Italie.
RÉSUMÉ
Ce travail, qui est là la ligne de recherche «Théorie, critique et histoire de la traduction », a
pour but l’analyse commentée de l’original, de la première traduction et de la retraduction des
trois premiers livres de l’oeuvre Corinne ou l’Italie, de lécrivain Madame de Staël. La littérature,
la vie, les oeuvres de Staël et le contexte de son époque sont abordés en introduction. Le premier
chapitre analyse l’oeuvre originale Corinne ou l’Italie et la première traduction en portugais du
Brésil Corina ou a Itália (1945, Edições Cultura), ayant pour base le parcours proposé par
Berman dans Pour une critique des traductions: Jonh Donne (1995), afin de chercher les zones
signifiantes, les traits stylistiques, les mots-clés, ainsi que le traducteur, sa position traductive,
son horizon et projet de traduction. Ensuite, sont verifiées les probables procédures d’adaptation
dans la première traduction, selon les théories de Bastin (2001) et Gambier (1992), entre autres.
A partir de ces analyses, dans le chapitre 2, est proposée la retraduction des trois premiers livres.
Les théories de Venuti (1986) sur la visibilité du traducteur et de Berman (1999) sur la traduction
de la lettre et l’éthique de la traduction sont notamment férencées pour appuyer le choix du
projet de retraduction qui a pour but d’accueillir l’étranger et de réaliser un travail de traduction
qui met en évidence la lettre de l’oeuvre, ainsi que le travail du traducteur. Dans le chapitre 3, les
traits sémantiques, culturels, stylistiques et d’autres traits sont verifiés à partir de l’original et
commentés avec les respectifs exemples de la retraduction et de la première traduction. Après les
considérations finales, l’Appendice est présenté sous forme de colonne avec le texte original, la
retraduction et la première traduction Corina ou a Itália des trois premiers livres proposés pour
cette recherche.
Mots-clés: Histoire de la Traduction. Traduction Littéraire et Commentée. Madame de Staël
Corinne ou l’Italie.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 8
1 A OBRA ORIGINAL CORINNE OU L’ITALIE.............................................................................. 18
1.1 CORINA OU A ITÁLIA: A ANÁLISE DA PRIMEIRA TRADUÇÃO EM PORTUGUÊS ............ 26
1.2 PROCESSOS DE ADAPTAÇÃO NA PRIMEIRA TRADUÇÃO ................................................ 31
2 PROPOSTA DE RETRADUÇÃO: CORINNE OU A ITÁLIA......................................................... 38
2.1 POR QUE RETRADUZIR?......................................................................................................... 38
2.2 APRESENTAÇÃO DO PROJETO DE RETRADUÇÃO ............................................................. 40
3 TRADUÇÃO COMENTADA........................................................................................................... 50
3.1 ASPECTOS SEMÂNTICOS........................................................................................................ 51
3.2 ASPECTOS DE ESTILO E FIGURAS DE LINGUAGEM .......................................................... 59
3.3 ASPECTOS CULTURAIS........................................................................................................... 74
3.4 OUTROS ASPECTOS LINGÜÍSTICOS DE TRADUÇÃO ......................................................... 77
3.5 O TRATAMENTO.................................................................................................................... 802
3.6 AS NOTAS.................................................................................................................................. 86
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................... 88
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................................ 92
ANEXOS....................................................................................................................................................100
ANEXO A – Traduções da obra Corinne ou l’Italie..................................................................................101
ANEXO B – Capa da 1ª edição de Corinne ou l’Italie...............................................................................104
ANEXO C – Capa e contracapa da primeira tradução Corina ou a Itália..........................................105-107
ANEXO D ANEXO D - Dados biobibliográficos da tradutora...............................................................108
APÊNDICE E NOTAS*
APÊNDICE – Texto original, retradução e primeira tradução ..................................................................001
NOTAS DA TRADUTORA.......................................................................................................................111
NOTAS DA EDITORA .............................................................................................................................112
NOTAS DA EDITORA SOBRE AS NOTAS DA AUTORA...................................................................115
*A partir do Apêndice, o número de páginas reinicia em 01, para facilitar a indicação de páginas dos exemplos ao
longo do trabalho.
8
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa, vinculada à linha da “Teoria, crítica e história da tradução” objetiva em
primeiro lugar a análise da primeira tradução existente em português e, em segundo lugar, a
retradução nossa com os comentários teóricos e críticos dos três primeiros livros da obra Corinne ou
l’Italie, da escritora Madame de Staël.
Optou-se analisar e retraduzir os livros primeiro, II e III, dos XX livros que compõem a obra.
O recorte dos três primeiros livros se justifica pela extensão da obra, aproximadamente 560 páginas, o
que demanda muito tempo para ser traduzida na íntegra. Pode-se ter uma amostra significativa da
obra a partir desses três primeiros livros e, conseqüentemente, da escrita de Staël, seu estilo e sua
abordagem filosófica, moral, religiosa e política por meio do romance. Nesses três livros constam a
descrição dos personagens principais, Corinne e Oswald, e o improviso de Corinne no Capitólio. O
original utilizado nesta pesquisa é o da editora Gallimard, apresentado e anotado por Simone Bala.
Esta edição de 1985 tem como base o texto da 3ª edição de 1807, com as particularidades ortográficas
revisadas e corrigidas pela autora.
A escolha do texto a ser traduzido foi feita a partir de dois critérios fundamentais que são
trabalhar com o francês língua estrangeira e por esse texto ser pertencente ao gênero literário, ao qual
são aplicadas as teorias de tradução utilizadas neste trabalho. Por ser uma escritora influente da época
do início do Romantismo, não só na França, como na Itália, Alemanha e Inglaterra, justifica-se a
retradução em português dessa escritora, visto que Mme de Staël, e sua literatura em geral, é pouco
conhecida e traduzida no Brasil. A obra Corinne ou l’Italie tem considevel importância no sistema
literário, já que foi traduzida e retraduzida em outras línguas, principalmente para o inglês, italiano,
alemão e espanhol.
No capítulo I deste trabalho, apresenta-se a obra de estudo Corinne ou l’Italie, a fim de
conhecer as características da obra e da escrita de Staël. A primeira tradução da obra em português,
Corina ou a Itália, é analisada a partir do percurso proposto por Berman (1995) para buscar as zonas
problemáticas, os traços estilísticos, as palavras-chave, o tradutor. Verificam-se ainda na primeira
tradução, a partir das teorias de Bastin (2001) e Gambier (1992), os prováveis processos de
adaptação.
O capítulo II justifica a proposta de retradução da obra em português e apresentam-se as
teorias que apóiam as escolhas para o projeto de retradução. Por fim, no capítulo III, apresentam-se os
aspectos referentes à obra original, à primeira tradução e à retradução proposta para este trabalho.
9
Madame de Staël foi uma personalidade brilhante; escritora, poeta, ativista política e
feminista, é também conhecida como uma heroína do Romantismo que conservou ao romantismo o
gosto do Século das Luzes e divulgou com suas obras um conceito amplo de literatura. Corinne ou
l’Italie, obra escolhida para este trabalho de estudo e retradução, apresenta uma descrição complexa
da Itália e seus costumes, unida à trama do romance entre os personagens Corinne e Oswald. A
recepção da obra foi marcada pelo sucesso e causou impacto em países como Inglaterra, Alemanha e
França, levando os principais jornais da época a escreverem artigos críticos.
Segundo a biografia que consta na página oficial da Société des études staëliennes
1
www.staël.org (Simone Balayé, 30 set 2003), Anne Louise Germaine Necker, conhecida como
Madame de Staël, nasceu em 22 de abril de 1766, em Paris. Ela foi educada em um meio social
parisiense repleto de interesses sociais e políticos, pois pertencia a uma falia marcante da sociedade
da época; seu pai Jacques Necker (1732-1804) foi um célebre banqueiro genebrino e ministro das
finanças de Louis XVI e sua mãe, a suíça Suzanne Curchod, possuía um dos maiores salões literários
de Paris.
Desde pequena, ela conviveu com pessoas influentes no meio literário como Diderot,
D’Alembert, Mme Geoffrin, Buffon que freqüentavam o salão literário de sua mãe. A celebridade de
seu pai permitiu a Mme de Staël uma precoce abertura ao mundo político da aristocracia. Teve uma
educação com influência da cultura britânica e do protestantismo e herdou dos pais o gosto por
Shakespeare. Emilia Pardo Bazán disserta sobre a biografia de Staël em seu livro La literatura
francesa moderna. El Romanticismo (2.ed.1911, p. 64-65). Mme de Staël foi casada duas vezes, a
primeira com um diplomata, o barão de Staël Holstein de quem ela se separou, e a segunda com um
jovem doente chamado Rocca, de quem cuidou assiduamente. Foi mãe apaixonada e as dores e
preocupações maternais contribuíram talvez para abreviar sua vida. Esses dados o conhecidos,
assim como o episódio afetuoso com Benjamin Constant, autor do romance indiscreto Adolfo; mas a
vida privada é um elemento secundário na biografia de Staël. Os dados significativos e que importam
são de domínio público: a história intelectual e política de uma mulher que permaneceu de
enquanto os outros se prostravam e que resistiu enquanto os outros se abatiam. A combinação de
todos esses traços caracteriza sua vida e seu trabalho. Seu gênio natural e seu entusiasmo em relação à
1
A Société des études staëliennes é uma associação regida pela lei de 1 de julho de 1901. Criada em 25 de janeiro de
1929, ela conta atualmente com mais de 200 membros, divididos em membros aderentes e membros de honra. Essa
associação tem por objetivo divulgar a vida, a obra e o pensamento de Mme de Staël e dos outros escritores do grupo
de Coppet, de organizar todas as manifestações e de suscitar todas as publicações para promover esses objetivos.
10
liberdade vai diferenciá-la do tipo de mulher tradicionalmente admitida pela sociedade da época e,
dessa forma, desconcertar seus contemporâneos, o que lhe dará alegrias intelectuais e sofrimentos
íntimos.
Pinheiro [s.d] menciona que a partir de 1650 multiplicaram-se os salões, fazendo com que no
século XVIII os salões ganhassem aspecto mais político, onde as mulheres ocupavam lugar
importante, que cabia aos homens o poder da palavra escrita. No século XIX, Mme de Staël,
célebre por seu brilhante salão, como outros escritores, opôs-se aos que pensavam salvar a arte
preservando as regras. Em suas obras há um protesto eloqüente em favor da mulher, vítima de
opressão social, ideologia que reviverá nos tempos do Romantismo em Corinne. Em geral, os salões
eram um ambiente favorável ao Romantismo. Os salões representavam sempre a opinião das
mulheres e entre elas perseverava o culto a Rousseau, essencialmente lírico.
No início do culo XIX, a França viveu um período de acontecimentos políticos sob o
comando do Imperador Napolo Iº. O período de 1789-1870 foi de agitação e de mudanças de
regimes, marcado pelo triunfo da burguesia que se instalava no poder e pela Revolução Francesa. Sob
o comando do Imperador, a literatura era objeto de uma supervisão rigorosa e a liberdade de
expressão era freada, pois a censura regulava as publicações e limitava o número de teatros e de
jornais. Esse período de agitação provocou, assim como no culo precedente, o engajamento dos
escritores na política. Madame de Staël fizera críticas à política de então. Ela via na Inglaterra a
melhor expressão da democracia, acolheu favoravelmente a Revolução, mas a partir de 1792, sua
situação se tornou difícil. Sustentando a idéia da monarquia constitucional, ela se dividiu entre
republicanos e aristocratas e teve que se exilar na Inglaterra em 1793. Quando retornou à França, ela
pulicou Réflexions sur le procès de la Reine, defendendo Marie-Antoinette que foi humilhada e
acusada.
Emilia Pardo Bazán menciona, na sua obra El lirismo en la poesía francesa ([s.d], p.179), que
Napolo teve sempre desfavorável dois elementos inestimáveis: os grandes escritores e a Sociedade,
representada pelos salões que haviam ressuscitado e recobrado a inflncia que desde Luis XIV
ostentaram sempre na França. Pardo Bazán (2.ed.1911, p. 66) cita a restauração literária que
Napolo fomentava na época, irmã da restauração religiosa da forma que ele entendia e das demais
restaurações de todos os tipos que iam se produzindo como mera conseqüência da política imperial.
Disse Chateaubriand: “toda a liberdade sucumbe e a moral consiste em escrever o que agrada ao
soberano”. Didier (1999, p.120) aborda a tirania do imperador e sua reação ao romance Corinne. A
autora afirma que as reações de Napoleão surpreendem, pois a trama trata de um amor impossível
entre um inglês e uma italiana. Ele julgou o romance anti-francês e manteve a ordem de exílio contra
11
Staël, afirmou que o nome do Imperador não é pronunciado no romance, que se pode ler em Corinne
elogios ao governo inglês, na época em que a França estava em guerra com a Inglaterra e ainda, que
se percebe o encorajamento para a Itália consquistar sua liberdade. Segundo Madame Necker de
Saussure (1943, p. 59), parente e amiga de Staël, Corinne é talvez o único livro da autora que é
estranho à política. Entretanto, o espírito do livro não agradou a um “dominador sombrio” que só
perdoava o talento quando obtivera dele a palavra do elogio. Conforme a autora, louvar o despotismo
e o que serve dos meios mais odiosos para obter o louvor era impossível a uma alma altiva. A
melancolia presente no romance é mal vista pelo Imperador porque ela não incitava a coragem
militar, mas também porque ela se afastava do modelo antigo, desse neoclasicismo que a arte e a
literatura do Império honram. Didier (1999, p.135) afirma que, finalmente, o que é perigoso em
Corinne é o seu romantismo. Embora o Imperador a tivesse perseguido e condenado ao exílio, ele
chegou a confessar “É necessário reconhecer, depois de tudo, que se trata de uma mulher de grande
talento; ela permanecerá”.
A jovem Staël escreveu entre 1781 e 1785 três romances intitulados Mirza, Adelaide et
Théodore e Pauline, que foram publicados dez anos mais tarde. Em 1986, ela se casou com o barão
suíço Eric-Magnus de Staël Holstein. Depois de escrever uma peça de teatro, Sophie ou les sentiments
secrets (1786), Mme de Staël publicou uma obra consagrada ao seu mestre espiritual Lettres sur le
caractère et les écrits de J-J Rousseau (1788), bem como um ensaio de crítica literária De la
littérature considérée dans ses rapports avec les institutions sociales (1800), no qual ela define uma
nova estética literária. De acordo com Torres (2005), Staël buscou, no seu ensaio De la littérature,
leis que determinavam a história da literatura sem reduzi-la às obras que ela chamava de obras da
imaginação (poesia, teatro, romance), incluiu nela (na literatura) a filosofia, a política, a moral, as
ciências e a religião. Segundo Rodríguez (no prelo), a autora deixou claro no precio à segunda
edição da obra que não pretendia escrever uma obra de crítica literária ou de poética. Ela destacava
que queria mostrar a relação que existia entre a literatura e as instituições sociais de cada século e de
cada país e esse trabalho o tinha sido feito em nenhum livro existente. Staël queria provar que a
razão e a filosofia têm sempre edquirido novas forças através das desgraças sem número da espécie
humana. Nos anos seguintes, ela escreveu dois romances, Delphine (1802) e Corinne ou l’Italie
(1807), que foi considerado pelos autores românticos o livro do ideal e do amor.
Segundo Pardo Bazán ([18-?], p.185), Delphine é um romance de paixão e análise e tem,
como todos os documentos pessoais que foram publicados nessa época, a influência das idéias de
Rousseau. Os sucessos e os incidentes da personagem, a trama é simples, mesmo se o final é trágico,
em que a personagem acaba se suicidando, como tantos heróis de romances. Delphine que enviuvou e
12
respeita a memória de seu primeiro marido, apaixona-se por um estrangeiro, Leoncio. Há entre
Delphine e seu amado um forte contraste, ela não respeita as convenções sociais e a sua consciência
está tranqüila; ele é capaz de sacrificar a paixão em nome do respeito humano. Nesta heroína, que
deprecia a opinião e as convenções da sociedade e que não reconhece outra lei, senão a própria
consciência, não é difícil de ver, antecipadamente, Jorge Sand. Neste romance, Staël mistura as
questões políticas e sociais de seu tempo, a superioridade do protestantismo sobre o catolicismo, o
divórcio e manifesta abertamente que a Revolução fez regressar a condição feminina, denunciando as
infelicidades das mulheres às quais sua posição no seio da família patriarcal as condena.
No início de 1803, ela foi desterrada e viajou para a Alemanha com Benjamin Constant, onde
ela foi muito bem recebida, aprendeu alemão e encontrou Schiller e Goethe entre outros artistas
alemães. Ela descobriu uma literatura desconhecida para a Fraa e que ela fez conhecer aos
franceses com sua obra De l’Allemagne (1813), em que faz uma introdução do Romantismo e que foi
censurada por conter uma crítica implícita à política de Napoleão. Em 1805 ela fez uma curta viagem
à Itália, de onde teve de retornar rapidamente a Coppet, na Suíça, em razão da morte de seu pai.
Escreveu outros ensaios: Essai sur les fictions (1795), De l’influence des passions sur le
bonheur des individus (1796) e Réflexion sur le suicide (1812), Du caractère de M. Necker et de sa
vie privée (1804) no qual ela faz uma biografia de seu pai e Dix années d’exil (1821), obra póstuma
em que ela critica fortemente Napolo. Necker, personagem de crucial importância na sua vida,
representa para Staël um ideal político e pessoal. De acordo com Bader (1980, p.24-25), Mme de
Staël se mostrava bastante flexível no que diz respeito ao ideal de sua constituição política, não partia
de uma forma definida e sim de princípios universais que devem ser reconhecidos em cada Estado: a
divisão do corpo legislativo, a indepedência do poder executivo, e antes de tudo, a condição de
propriedade. Com essas categorias ela persegue um modelo para introduzí-lo na França, baseado nos
modelos da Inglaterra e da América; seu ideal é a monarquia constitucional, como se dava na
Inglaterra. Na época de 1795, ela captou a necessidade de um governo militar que protagonizasse a
transição de uma república a uma monarquia constitucional. A constituição inglesa servia como
critério para valorizar as diferentes constituições da Revolução francesa e a descrição da Inglaterra é
amplamente abordada na sua obra, Considérations sur la Révolution française (1818), como um país
importante pela sua prosperidade econômica conseqüente das suas instituições. De acordo com
Wilhelm (2004, p.3), quando os grandes representantes da filosofia das Luzes desapareceram, entre
seus herdeiros, dois clans se tornaram atores e testemunhas da Revolução e defenderam o ideal
revolucionário e a idéia de “perfeição do gênero humano”: os Ideologistas do grupo Cabanis e o
grupo de Coppet, do qual faziam parte Mme de Staël, Schlegel, Benjamin Constant, entre outros,
13
marcado pelo protestantismo e cuja originalidade é o cosmopolitismo. Mme de Staël, filha de Jacques
Necker, diretor geral das finaas no governo de Luis XVI, foi testemunha privilegiada dos
acontecimentos da Revolução como o sinal ou o momento essencial de uma história rumo à
“perfeição da espécie humana” e atravessada pela tendência à igualdade”. Pardo Bazán (2.ed.1911,
p. 71) comenta que os dez anos de desterro foram, sem dúvida, difíceis para aquela natureza mais
expansiva que sonhadora, que não podia viver sem trato e sociedade, que entre os afetos humanos,
preferia a amizade fundada no intelectualismo. Contudo, o desterro amadureceu seu talento e ampliou
o horizonte de Staël: prova disso é a diferença entre seus dois livros capitais, De la Littérature e De
l’Allemagne. O segundo, livro do exílio, é a sua obra mestra. No primeiro, predomina a influência do
século XVIII e as reminiscencias do salão de Necker; no segundo um ambiente universal e o tem
pela primeira vez na França. É o evangelho da estética nova, deste livro hão de derivar-se as ideáis
críticas e o gosto de todo o século, o apenas na revolução romântica, mas também nas fases
sucessivas do movimento literário.
Tieghem (1946, p.157) afirma que Mme de Staël predomina no primeiro período da doutrina
romântica, com a preferência pelos modelos modernos estrangeiros e franceses como Rousseau. O
período romântico marca o recuo da noção de doutrina literária e de lei estética, a liberdade artística e
a revolução contra o gosto cssico. Para Staël (apud Tieghem, p.161) alguns princípios de gosto o
universais e é preciso expandi-los além dos modelos antigos, pois uma literatura inspirada nas
emoções espontâneas de uma alma moderna encontrará naturalmente nela as regras.
Segundo Lagarde et Michard (1969, p. 9), o Romantismo surge como um movimento
europeu, a França sofreu influências da literatura inglesa e alemã. As viagens e o seu contato com os
escritores alemães Goethe e Schlegel permitiram a Staël o gosto pela literatura alemã. Simon (2001)
afirma que a fronteira entre a França e a Alemanha está marcada pela inflncia que Mme de Staël
exerceu no desenvolvimento dos estudos literários. Juntamente com Goethe, ela colocou em prática a
iia da Weltliteratur (Literatura Universal) e da literatura comparada com a sua obra De la
littérature considérée dans ses rapports avec les institutions sociales (1800). Bader (1980, p.7)
aborda o pensamento político e a contribuição de Mme de Staël à história da literatura comparada
que, com suas obras, originou impulsos e modelos significativos ahoje, considerando o espírito
cosmopolita como o fundamento, tanto lógico como histórico da literatura comparada.
Tieghem (1946, p.160-163) elenca os princípios literários que Staël propõe em suas obras. Em
De la littérature (1800) ela considera que o espírito de um povo é influenciado e criado pela natureza
da vida social que depende do clima, das instituições políticas, da religião, das leis e se esse conjunto
muda, a literatura, que depende da mentalidade do público e das classes dirigentes, deve também
14
evoluir. É preciso então que os franceses conheçam e apreciem as literaturas estrangeiras, sobretudo a
alee se abram ao cosmopolitismo e à livre circulação de iias. De acordo com Rodriguéz (no
prelo), a idéia central da obra consiste na fé da escritora no progresso do espírito humano. A
perfectibilidade humana era entendida por Staël num sentido liberal, o aperfeiçoamento dos seres
humanos, não exclusivo de uma classe, mas alargado a todas as camadas sociais; esse
aperfeiçoamento deveria, para ser autêntico, implicar o exercício da liberdade intelectual e sua
consolidação num regime que a respeitasse e que ela denominava de república. Para Staël, o sistema
da perfectibilidade compreede o progresso das ciências, da razão humana, da moral e da política das
nações e ela afirmava que o grande inimigo da Humanidade é a superstição.
Na sua obra, De l’Allemagne, ela escreve :
Les nations doivent se servir de guide les unes aux autres, et toutes auraient tort de
se priver des lumières qu’elles peuvent mutuellement se prêter. Il y a quelque chose
de très singulier dans la différence d’un peuple à un autre : le climat, l’aspect de la
nature, la langue, le gouvernement, enfin surtout les événements de l’histoire,
puissance plus extraordinaire encore que toutes les autres, contribuent à ces
diversités [... ].
2
Vechi (1992) afirma que foi pelas mãos de Mme de Staël, que o movimento romântico entrou
na Itália, em 1816. Assim, o movimento romântico que unia as preocupações sociais com as doutrinas
literárias, representa a renovação política e moral da qual o mesmo era parte integrante. Expressa a
nova ordem de idéias e de sentimentos que se elaboravam e se preocupavam mais com o fundo que
com a forma, apesar das aparências.
De acordo com Pardo Bazán ([s.d], p.300-302), Mme de Staël encarna a época de transição:
chamada a iniciar a sua pátria no romantismo, pertencente por sua filiação ao século XVIII e deste
século ela se apoiou no que mais preparou o romantismo, em Rousseau de quem era discípula
fervente. Deve-se reconhecer, segundo Pardo, que alguns princípios fundamentais do lirismo
moderno se encontram enunciados no livro De la littérature, e desde 1810 revelou o mundo novo
das literaturas do Norte da Europa, o pensamento e a poesia alemã. Pardo Bazán (2.ed.1911, p. 72)
menciona uma lista de idéias, hoje generalizadas, que pertencem a Mme de Staël: o caráter próprio
2
As nações devem se servir de guia umas às outras, e todas não teriam razão de se privar das luzes que elas podem
mutuamente se emprestar. Há algo muito singular na diferença de um povo a outro: o clima, o aspecto da natureza, a
língua, o governo, enfim, sobretudo os acontecimentos da história, força mais extraordinária ainda que todas as
outras, contribuem para essas diversidades [...] (Tradução nossa)
15
das literaturas, a reabilitação histórica da Idade Média, o valor de Shakespeare e dos humoristas
ingleses, a influência das instituições e dos costumes na literatura, a distinção entre o espírito da
sociedade antiga e da moderna, a superioridade das instituições políticas inglesas, o valor psicológico
do misticismo, a influência do espírito cavalheiresco sobre o amor e a honra, a instabilidade e a
universalidade da poesia, a distinção entre a poesia clássica e a romântica, palavra que por primeira
vez escreveu Staël em língua francesa, e a discussão sobre a influência da evolução científica nas
artes.
Didier (1999, p.135) afirma que a palavra romantismo não designava ainda uma escola
literária que ainda não estava constituída, porém uma tendência, uma rede de temas, uma certa recusa
das convenções, a busca da intensidade na expressão. Encontram-se na obra Corinne elementos do
classicismo, a variedade de registros se presta à superposição de vários estilos. Os improvisos
fortemente marcados pela cultura antiga, as reflexões morais do pai de Oswald que são ligadas ao
estilo moralista do Grande século, pertenceriam ao neoclacissimo. Mas Corinne é uma grande obra
romântica e que vai provar seu caráter pioneiro na literatura francesa.
Tieghem (1946 p.164) agrupa as idéias particulares de Mme de Staël sobre as tendêcias
românticas dos diferentes gêneros literários. Segundo o autor, ela critica a tragédia clássica fundada
na idéia relativa do gosto que representava as paixões e afirma que a tendência do século XIX é a
tragédia histórica, marcada pela ação política e pela representação dos caracteres. A comédia terá
como matéria os cios da alma que prejudicam o bem geral; a poesia terá como objeto o enigma do
destino humano e o melhor poeta será aquele que tiver a sensibilidade mais viva e representar seu
estado íntimo do coração, por meio de versos ou prosa. A crítica literária partirá das obras e extrai
delas as belezas sem se preocupar em saber se elas estão de acordo com as leis da arte. O romance
deve ser moral e a sua moral deve partir do estado sentimental dos personagens que farão parte de um
mundo próximo do leitor, para que ele sinta as circunstâncias da vida que são evocadas no romance.
Além de abordar a literatura, Mme de Staël descreveu teorias sobre a tradução no seu tratado
De l’esprit de la traduction (1820). Ela nomeia a tradução de “comércio intelectual”, que é um fator
do dinamismo social e deve estar relacionada à “perfeição das letras” e do “espírito humano”, pois
Il n’y a pas de plus éminent service à rendre à la littérature, que de transporter d’une
langue à l’autre les chefs-d’oeuvre de l’esprit humain. [...]. D’ailleurs, la circulation
des idées est, de tous les genres de commerce, celui dont les avantages sont les plus
certains. (2004, p.141 )
3
3
Não há mais eminente serviço que se possa prestar à literatura do que transportar de uma língua para outra as obras
primas do espírito humano. [...] Alias, a circulação das idéias é, de todos os tipos de comércio, o que apresenta as
mais seguras vantagens. (Tradução de Marie-Hélène C. Torres.)
16
Staël afirma que para favorecer os progressos das Luzes e do pensamento e garantir assim a
liberdade, convém não imitar, mas “tomar emprestado” a fim de conhecer e de libertar-se de certas
formas concebidas que vão banir toda a “verdade natural” da literatura. As transferências culturais
facilitam a passagem do singular ao universal no seio da rede de trocas da cultura do cosmopolitismo.
Na sua visão de perfeição, a tradução contribui ao desenvolvimento das letras, pelo conhecimento de
outras culturas européias, e ao renascimento das fontes de inspiração graças à mediação do
estrangeiro. Dessa forma, Staël anuncia uma nova sensibilidade estética em tradução cuja condição
essencial é o espírito de liberdade; é conhecendo a riqueza de outros povos que a literatura nacional
pode se renovar e a prática de tradução permite a uma nação de se tornar ela mesma.
Luppé (1969) aborda as idéias literárias de Mme de Staël, situando-a entre a passagem das
“luzes” ao romantismo. O autor a chama de “teórica” devido a importância da escritora na abordagem
de teorias literárias em sua obra De la littérature (1800), em que se observa a tentativa de teoria com
a classificação que ordena as obras. Ela marca o romance digno desse termo com uma tripla marca: o
“natural”, a “moral” e a “pintura dos caracteres” e opõe o “romance moderno” a alguns outros
gêneros como o drama e a tragédia, pois, segundo Stl, o romance é feito de dois elementos
contraditórios; ele está ligado ao natural”, mas ao mesmo tempo é fruto de um “arranjo”, de uma
organização. Segundo o autor, (Ibid, p.23-37), Staël declara que o romance deve “animar a virtude” e
que no bom romance, a moral é extraída da narrativa, como um efeito de sua causa. Mme de Staël
à melancolia, como sentimento literário, sua nobreza. Ela sublinha que a literatura melancólica o
nasceu por acaso na Inglaterra, onde reina a liberdade, onde a razão se entrega a ela mesma, pois a
melancolia é uma herança das luzes.
De acordo com Luppé (1969, p.160), para Staël, é pela pintura dos vícios e dos ridículos que a
“alta comédia” de Molière possui um valor eterno, diferente da comédia de costumes que é local e
momentânea. Da mesma forma a tragédia de Racine é eterna, pois substitui o “sistema de fatalidade”
da tragédia grega pelo “sistema de paixões” em que o interior do homem é enfim explorado, é “o
teatro do mundo”. Staël parece querer renovar o método de conhecimento das paixões, ela reclama
uma análise em que o moralista, transformado em sábio, observa com exatidão os movimentos da
alma. Segundo Luppé (1969, p.159), melhor que seus predecessores, Mme de Staël soube utilizar a
filosofia para dar um dinamismo novo à história da literatura “desde Homero até aos dias de hoje”.
Para ela, os escritores do século de Luis XIV representam o gosto na sua “perfeição”, Molière,
Racine, La Fontaine, La Bruyère são os “mestres” e os “grandes modelos”, pois a literatura clássica
convém a todos os tempos e a todos os países, ela tem um valor universal. Para concluir, Luppé
(1969, p.162) resume no que consite essa passagem das luzes ao romantismo por Mme de Staël: ela
17
consiste em um conjunto de iias literárias ligadas entre elas, mas em que se misturam os valores
diversos, o valor racional da perfeição do espírito, o valor clássico da pintura do coração humano, o
valor de sentimentos, em que a busca da nuance concede lugar à melancolia.
O grande mérito de Staël foi de propor a renovação das tendências literárias gerais e dos
diferentes gêneros, apoiando-se em princípios novos e se inspirando das literaturas inglesa e alemã.
Assim, com suas idéias gerais, Staël abre para a literatura um caminho novo, pois apresenta e analisa
o estado da alma romântica e laa as palavras de ordem que inspirarão a poesia: o mal do século, em
que discerne as características românticas, a melancolia e a depressão inquieta, do entusiasmo lírico
da sua narrativa que se exprime por meio da personagem. Ela apresenta também a renovação poética,
traçando uma nova poesia inspirada em Homero, Virgílio e Shakespeare que será moderna,
nacionalista, pagã e representa a alma e o enigma do destino humano: a morte. As obras de Mme de
Staël são ligadas às circunstâncias políticas e às circunstâncias de sua vida e divulgam “um conceito
de literatura amplo” (TORRES, 2005), uma mistura entre o político e o literário. Ela morreu jovem,
aos cinqüenta e um anos, em 1817.
Madame Necker de Saussure (1820, p. viij), nos seus escritos sobre Staël, afirma que a
posterioridade verá nela um autor que marcou uma nova época na literatura e talvez nas ciências
políticas; uma mulher extraordinária, senão única, pelas suas faculdades e enfim, uma pessoa que
exerceu uma influência imediata e no período mais fecundo em grandes resultados.
Como se trata de pesquisa na área dos Estudos da Tradução, foi dada maior ênfase aos
conceitos teóricos utilizados na realização da retradução e da análise da primeira tradução em
português. Dessa forma, os aspectos literários e os aspectos históricos e culturais por estarem ligados
à concepção de tradução das teorias abordadas, não deixaram de ser considerados.
18
1 A OBRA ORIGINAL CORINNE OU L’ITALIE
Corinne ou l’Italie, obra dividida em XX livros, subdivididos de 03 a 05 capítulos, escrita em
1805, foi publicada em Paris em 1807 pela Editora Nicolle (ver ANEXO B). O título Corinne ressalta
a característica de romance e o subtítulo L’Italie remete ao guia de viagem ou a um tratado sobre a
Itália, representando a arte de Staël em unir os dois temas em um livro. A obra foi traduzida para o
inglês (Corinne, or Italy) e para o alemão (Corinna oder Italien) em 1807, no mesmo ano de sua
primeira publicação em francês e para o italiano no ano seguinte 1808 (La Corinna ossia l’Italia) (ver
ANEXO A). O romance se tornou rapidamente um sucesso, teve quatorze edições entre 1807 e 1810
e circulou além da Europa.
Staël buscou inspirações na ópera alemã La Saalnix, La Nymphe de la Saale que assitiu em
fevereiro de 1804 no teatro de Weimar, na sua viagem à Alemanha. Essa ópera representa, segundo
Staël, a imaginação e o estilo “conto de fadas” marcante do romantismo alemão. Trata-se de uma
peça em que a ninfa das águas ama um cavaleiro que, ao descobrir sua imortalidade, a deixa para ficar
com uma simples mortal. Enfim, foi nessa peça que Staël encontrou fontes para o tema da mulher
superior, à qual um homem indeciso prefere uma mulher comum. Em seguida, ela viaja para a Itália,
país que ela admira pela sua arte, cultura e literatura. Na época em que escreveu Corinne, Staël estava
apaixonada pelo jovem português Dom Pedro de Souza que não correspondia da mesma forma o
amor que ela demonstrava a ele nas suas correspondências que foram publicadas em 1979.
A obra Corinne ou l’Italie relata a história de uma poetisa e artista que guia o Lorde escocês
Oswald pela Itália. Corinne é uma mulher extraordinária, entusiasta das artes, música, literatura e
poesia. Seu destino é envolvido em mistérios, pois ninguém sabe onde nasceu, ela fala rias línguas
e reúne todos os atrativos referentes aos países França, Inglaterra e Itália.
Oswald é uma mistura de timidez e orgulho, de sensibilidade e indecisão, de gosto pelas artes
e do amor pela vida regrada. A tese silogística do romance é a melancolia do amor inglês de Corinne,
Oswald, que sofre com a morte do pai, a culpabilidade e o racionalismo. O entusiasmo italiano de
Corinne serve como uma antítese ao feminismo, liberação e espontaneidade. Ele é a estética e a
religião de Corinne, a base da moral, da subjetividade e identidade. Mas Corinne é eventualmente
seduzida pela visão suicida de Oswald, aceitando sua melancolia frustrante e romântica como um
elitismo cultural e autoridade moral.
19
Madame Necker de Saussure (1820, p. cxxij) afirma que Staël se dividiu, por assim dizer,
entre os dois personagens de seu romance. Ela deu a um suas tristezas eternas e a outro sua nova
admiração (a Itália). Corinne e Oswald são o entusiasmo e a dor e os dois são a autora mesma.
O livro primeiro, intitulado Oswald, concentra a descrição do personagem Lorde Oswald
Nelvil durante a sua viagem à Itália no inverno de 1794 a 1795. O psicológico de Oswald é relatado
de forma a ligar os acontecimentos passados, principalmente a morte do pai, à sua maneira de sentir e
agir no presente. A descrição do personagem é minuciosa, os detalhes das características o
mostrados por meio de exemplos de algumas cenas que se passam no navio em que viajava à Itália.
Ele se encontra de fato mergulhado nas suas incertezas que traduzem a lenta progressão da intriga.
No capítulo 2 continua a descrição de Oswald em viagem à Itália, de seu estado de saúde frágil e de
sua tristeza que aumentava ainda mais. No capítulo 3, Oswald conhece o Conde de Erfeuil e
prossegue com ele a viagem até Roma. O Conde, com sua cortesia, sua jovialidade, faz a viagem sem
prestar atenção na Itália e deixa Oswald mido diante do seu caráter. Inicia-se uma relação amigável
e contrastante entre os dois. O capítulo 4 relata um imprevisto durante a viagem, devido à saúde de
Oswald, eles param em Ancona, mas um incêndio na cidade faz com que Oswald e o Conde de
Erfeuil se unam em prol dos habitantes para extinguir o fogo. A coragem de Oswald se manifesta de
forma intensa ao continuar sua boa ação e salvar os judeus presos no gueto e os loucos do hospital em
chamas. No capítulo 5, os dois percorrem Roma, Oswald sem se interessar por nada e o Conde
julgando tudo que via. De acordo com Simone Balayé, no prefácio à obra Corinne ou l’Italie, Staël
faz uma caricatura do francês que freqüentava os salões parisienses, que ao viajar se contentava de
seu orgulho e se sentia superior aos outros. Ao longo dos capítulos, acompanha-se a detalhada
descrição dos personagens e dos lugares que os dois visitam. Durante os diálogos, a inserção de
certas críticas à sociedade e ao povo alemão, francês, inglês e italiano. No episódio do incêndio,
capítulo IV, pode-se perceber a crítica da autora aos preconceitos da sociedade, ao comportamento
humano e à religião.
No livro II Corinne no Capitólio, a personagem Corinne é coroada no Capitólio e Oswald,
curioso de tanto ouvir falar de seus talentos e de sua fama, sai para vê-la. A celebridade da coroação é
descrita em meio à descrição dos sentimentos provados por Oswald durante todos os momentos, do
discurso do príncipe Castel-Forte ao improviso feito pela poetisa e sua posterior coroação. Oswald,
encantado com todas as qualidades de Corinne, segue-a no cortejo, quando recolhe a sua coroa e lhe
fala algumas palavras em italiano.
No livro III Corinne, Lorde Nelvil escreve a Corinne pedindo permissão para visitá-la com
Oswald, que acaba aceitando a proposta do amigo. A casa de Corinne é descrita, assim como a
20
personagem. Ela fala algumas frases em italiano com Oswald, em francês com Conde de Erfeuil que a
questiona sobre o seu sotaque inglês. Oswald se encanta cada vez mais com o charme de Corinne e
incomoda-se com os sentimentos que alimenta por ela que, mesmo tendo sido convidado por Corinne
a retornar vê-la, passa o outro dia sem ir a sua casa. Em um segundo encontro, Oswald fica a sós com
Corinne, até que cheguem Castel-Forte e os amigos dela, que falam sobre o seu talento para
improvisar.
A questão da linguagem dos personagens é intrigante, pois o narrador onisciente utiliza o
francês para relatar as falas que pertencem a domínios lingüísticos diferentes. Sabe-se que o Conde de
Erfeuil é o único que se recusa a falar em outras línguas, apenas em francês. Corinne fala italiano,
inglês e francês e a perfeição do seu sotaque inglês constitui um enigma em uma parte do romance.
Mas Staël não deixa claro, de modo geral, em qual língua o feitos os diálogos entre Oswald e
Corinne. Ao contrário, uma diferença entre dois tipos de diálogos, os diálogos de idéias e aqueles
ligados diretamente à intriga.
O romance tem como paisagem principal a Itália e a passagem da personagem pelas cidades
de Roma, Veneza, Florença. A obra Corinne faz a ligação dos elementos do romance aos de uma
narração de viagem, situando a Itália e seus costumes, sua literatura e arte. De acordo com Hovsepian
[20-?], celebrando a glória, a arte e o pensamento da Itália, a persongem simboliza a alegria, a
felicidade e a força desse país. O itinerário descrito ao longo do livro se inicia com a vinda de Oswald
da Escócia e continua com a passagem pela Alemanha, Innsbruck, quando ele chega à Ancona e vai a
Roma, onde encontra Corinne. Os livros IV e V são consagrados à visita de Roma com Corinne como
guia: Panthéon, castelo Santo Ângelo, São Pedro, Capitólio, as tumbas, as igrejas. Os livros VI e VII
são sobre os costumes e a literatura dos italianos, o livro VIII descreve a visita do museu do Vaticano
e uma expedição a Tivoli. O livro IX evoca o carnaval romano, o livro X a semana santa e a capela
Sistina. O livro XI se passa em Nápoles, onde Corinne decide acompanhar Lorde Nelvil. Nos livros
seguintes o itinerário é interrompido com a história de Lorde Nelvil no livro XII e de Corinne no livro
XIV e depois do retorno de Corinne da Escócia, ela se hospeda em Florença para completar o
itinerário. Didier (1999, p.20) afirma que a descrição da Itália tem um lugar considerável na obra o
que justifica o subtítulo ou l’Italie. Como guia da Itália, as informações de Corinne permitem chamar
a atenção para o que o “turista” Oswald não percebe, por exemplo, a construção do Panthéon que é
feita de forma com que o monumento pareça maior. Para Hovsepian [20-?], Corinne retraça a história
da humanidade pela descrição da Itália, o paganismo, o despotismo, o cristianismo; mas Oswald
via nos lugares que ela descrevia “o luxo do mestre e o sangue dos escravos e se sentia prevenido
contra as belas artes” (Livro IV, cap. IV). Corinne tenta em vão combater essa atitude fechada e,
2
1
apesar de sua eloqüência, “ele procura em tudo o que via um sentimento moral e toda a magia das
artes o lhe bastava jamais” (Ibid). Dessa forma, desgostando essa arte, Oswald vai contra os
pensamentos de Corinne e, implicitamente, contra a sua personalidade. Corinne gosta do que é belo,
enquanto Oswald aprecia o que é útil, o que constitui sua filosofia de vida.
Quando a descrição da Itália o é feita pela voz de Corinne, é o narrador quem toma o seu
lugar de guia, esse narrador onisciente que tende a se aproximar do ponto de vista de Corinne. Por
meio da voz do narrador, o leitor descobre pouco a pouco os personagens, assim como pela variedade
de vozes dos outros personagens. Didier (1999, p.83) comenta sobre a voz narrativa adotada por Mme
de Staël no romance. Ao contrário dos romancistas de seu tempo, ela preferiu não apresentar esse
narrador e a ausência de texto prefacial sublinha esse apagamento. O único paratexto que se tem são
as notas do autor, de dois tipos, as notas de rodapé e de fim de volume, mas essas notas não podem
pertencer a um narrador. Esse narrador intervém na narrativa, que a sua voz é presente de forma
sutil no romance.
De acordo com Didier (1999, p. 17), tanto a leitura dos escritores clássicos como Dante,
Tasso, Petrarca, Virgílio e os amigos influentes Sismondi, Goethe, Humboldt, Schlegel, contribuíram
na construção do romance. Estão inclusos na obra as composições e os poemas em prosa
improvisados que essas paisagens e os poetas antigos como Ovídio, Virgilio e também
contemporâneo, como Goethe, inspiraram a escritora Staël, manifestando seu lirismo pessoal
romântico. Os dois improvisos são escritos em um estilo particular que evoca o lirismo da poesia
italiana. O único poema não improvisado pela personagem Corinne é seu último canto, em que faz
seu adeus à vida, no final do romance.
Mesmo transpondo a realidade italiana ao seu livro, ela colocou também muito dela mesma e
de sua vida. O itinerário da viagem à Itália, foi, em parte, o de Staël de dezembro à junho de 1804-
1805. Didier (1999, p.13) afirma que os itinerários da personagem e da autora não são exatamente os
mesmos, mas as impressões anotadas nos seus carnets de viagem foram reutilizadas no romance. Os
remorsos de Oswald são os que ela ainda sente pela morte do pai e outras lembranças pessoais, que
remetem a algumas de suas relações amorosas, enriquecem a narrativa. Na época em que escreveu
Corinne, Staël, assim como o personagem Oswald, não estava perto de seu pai no momento de sua
morte. De acordo com Madame Necker de Saussure (1943, p.50), nessa época Staël sente então o
desejo de se tornar para os filhos o que ele fora para ela e começa a ler com eles belas páginas de
moral e religião, as leis sagradas pareciam impostas por um pai com a dupla autoridade de sua vida e
de sua morte. Tudo produzia sobre ela uma impressão solene e profunda, o própria a imprimir um
curso benéfico aos seus pensamentos e um grande caráter aos seus escritos. Então, Staël viaja para a
22
Itália, mas, ainda absorvida pela dor, não esperava dessa viagem nada de agradável, pois estava
convencida de que sofreria em qualquer parte. Mas, como afirma Simone Balayé, no prefácio à obra,
(1985, p.22) procurar onde se situa a autora nos personagens exige certa precaução, pois Mme de
Staël não está jamais em apenas um ou outro personagem, pode-se percebê-la em todos, mesmo em
Conde de Erfeuil. Ele, Corinne e Oswald em suas diferenças representam momentos de Staël,
correspondem às suas primeiras impressões, às reflexões.
Outra característica que surpreende na obra de Staël é a mescla de outros gêneros no romance.
A poesia é marcada pelos improvisos que são, segundo Didier (1999, p.75), um estilo à parte, estilo
lírico que gostaria de imitar aqueles das odes antigas. Eles se situam claramente em um registro
antigo, com uma linguagem diferente daquele empregado pelo narrador em terceira pessoa, ou
mesmo pelos personagens quando conversam. Os improvisos possuem o estilo muito particular de
traduções em prosa de textos antigos. Mas o estranho é que se trata de tradução falsa, uma ficção de
tradução, pois é representada por personagens fictícios para os quais ela não representa uma tradução,
que tudo leva a crer que Corinne as fez em italiano. Ela improvisa utilizando uma cultura que
possui perfeitamente; ela se recusa à oposição simplista entre rao e imaginação. Suas improvisações
são notáveis e ricas de uma cultura muito clássica. Corinne é poetisa e musicista e no improviso ela
reconstitui a unidade entre a poesia e a música. No entanto, nos improvisos de Corinne a palavra é
determinante, ao menos o leitor tem os textos, enquanto ele é reduzido a imaginar a música. Os textos
que o leitor são traduções em prosa francesa de versos italianos, mas lhes falta o acompanhamento
musical (Ibid, p.117). Didier (1999, p.125) menciona que Corinne pensa ter um papel a cumprir na
ressurreição da Itália que ela espera próxima. Seu improviso no Capitólio é ditado pelo amor de seu
país. A história da Itália que ela retraça, mostrando seu poder passado, anuncia um renascimento
possível.
Uma forma de expressar a palavra dos personagens são as cartas. Didier (1999, p.79) afirma
que a escolha do romance na terceira pessoa pode parecer simbólica da passagem de um século a
outro, pois o romance por cartas convinha ao século XVIII. Contudo, o romance na terceira pessoa
não exclui o uso da carta que é feito por Corinne para se dirigir a Oswald e por Oswald a Corinne
quando ele estava na Escócia e também a Castel-Forte quando Corinne retorna à Itália. As cartas
representam momentos de timidez ou de constrangimento em que o personagem se questiona em falar
diretamente ao seu parceiro, momentos onde há ruptura ou distância.
Segundo Didier (1999, p. 54), a noção de gênero literário depende do horizonte do leitor e da
intervenção do autor, fatores que podem variar de acordo com o país e a época. Corinne estaria mais
próxima da concepção de romance exposta na época pelo romantismo alemão. A mistura de trama
23
amorosa, tratado de viagem e poesia marca a renovação romântica. A moral exposta por meio do
romance guarda ainda alguns aspectos do classicismo, mas é apresentada pela realidade da vida social
e não pela invenção de fatos. Didier (1999, p.86) sublinha que uma das dificuldades que se tem ao ler
Corinne é que se quer classificar a obra como “romance” e este gênero é marcado por toda uma
tradição realista desde o século XVIII e Corinne não tem nada de realista, pois os personagens
ignoram as preocupações com dinheiro e seus sofrimentos estão ligados ao drama psicológico e não
ao corpo. A melancolia é um mal essencialmente moderno e presente na obra.
Didier (1999, p.26) afirma que em Corinne, o paralelo é a herança de uma reflexão filosófica
do século anterior. Staël utiliza paralelos entre as formas de arte, a religião, as línguas e o triplo
paralelo feito entre três países, a Itália, representada pela personagem Corinne, a França, pelo Conde
de Erfeuil e a Inglaterra, por Oswald. Staël usou o Conde de Erfeuil para expor o efeito perturbante
do chauvinismo cultural francês, fazendo o personagem completamente blasé para a sociedade e
cultura italiana; uma forma de reconhecer que a literatura francesa permanecia em perigo de
ossificação. A Alemanha também está presente, mas não está representada por nenhum personagem.
Segundo Torres (2005), Staël sempre teve a França, antes de Gênova, como sua segunda pátria, mas
sempre considerou a nacionalidade como um limite e um empobrecimento, quando se torna
exclusiva.
Além do paralelo entre as nações, Mme de Staël faz o paralelo homem/mulher e discute a
condição da mulher na época, de forma que situa uma heroína vítima da indecio do homem, de
certa fraqueza de caráter que o impede de se opor à sociedade, como o fizera em Delphine. No
entanto, é essa fraqueza que a deixa apaixonada, ela se interessa por um homem que não a faz feliz,
pois se mantém fechado numa imagem tradicional da mulher. Uma mulher independente que vive sua
vida como artista não pode ser vista aos olhos da sociedade como ideal feminino de esposa e mesmo
assim, ela sacrifica tudo em nome do seu amor enquanto ele hesita, submetido aos imperativos da
sociedade, e se casa com Lucile.
Pardo Bazán ([18-?], p.187-189) afirma que Corinne é também, assim como Delphine, um
legado contra as convenções sociais. Corinne reúne quantas perfeições e ritos se podem sonhar:
canta, pinta, improvisa, compõe versos preciosos e é, além disso, um prodígio de beleza e de
juventude. Com tantas qualidades, não é de se estranhar que a conduzam ao triúnfo no Capitólio e ali
a coroem, prestando tributo a seu nio. Mas Corinne não é a mulher que pode dar a felicidade
doméstica” e o homem a quem ama terá que buscá-la em uma mulher simples, modesta e doce e
Corinne será a mais infeliz das criaturas. aqui um conceito lírico: o da incompatibilidade da
paixão e do sentimentalismo individualista com a sorte tranquila e obscura do lar. A antítese é então
24
construída entre Corinne e sua irmã Lucile: Lucile é o oposto, pois representa o ideal feminino de
esposa perfeita.
De acordo com Bordoni (In: Corwey CW3 Journal, site), o caráter e o comportamento de
Corinne seriam inapropriados na Inglaterra. A singularidade de Corinne, a extravagância do seu gênio
e a peculiaridade de sua conduta faz dela uma heroína “não-Inglesa”. A polaridade de Staël entre uma
imaginária Itália, onde a mulher pode obter sucesso sem colocar em risco sua integridade moral e
uma Inglaterra provinciana, onde a mulher é idealizada a ser doméstica sem desejo de popularidade.
Bordoni (In: Corwey CW3 Journal, site) afirma que no seu tratado De la littérature (1800),
Staël teorizou sua abordagem filosófica, em que argumenta como a literatura européia e
conseqüentemente a cultura e a sociedade podem ser divididas entre norte e sul. Pelo
desenvolvimento da teoria dos Climas de Montesquieu, Staël foca na relação entre geografia e povo.
O paralelo entre norte e sul é construído principalmente através das diferenças de climas. Staël
argumenta que esse fator tem inevitáveis repercussões na cultura, literatura e sociedade. Inserida
nesse mapa geográfico e cultural, a Itália aparece como um país quente, sensual e afeminado,
enquanto a Inglaterra aparece como um país frio, conservador e masculino. Durante sua viagem à
Europa, Staël observou como a mulher sustentava diferentes posições nos dois países. A autora
comenta que a mulher na Inglaterra tinha um pequeno espaço na vida social e estava acostumada a
permanecer em silêncio na companhia do homem. Além disso, a mulher o tinha existência pessoal,
enquanto o homem podia ter uma vida ativa. Durante a sua jornada na Itália, Staël ficou
impressionada pela calorosa recepção. Como a filha de Necker, ela foi recebida com entusiasmo pela
população e pela aristocracia da Itália. Neste país, ela tinha liberdade para expressar suas idéias e
sentimentos, ela encontrou mulheres charmosas, educadas, inteligentes e apaixonadas, as quais eram
poetas, professoras, tradutoras e improvisadoras. Essas mulheres e sua experiência na Itália
inspiraram Staël a escrever Corinne ou l’Italie. Como resultado disso, Corinne é um produto do sul e
a dimensão pública do seu gênio, sua extravagância e seu entusiasmo foram influenciados pelo
conjunto italiano do romance.
O caráter sofredor de Corinne, pelo qual a mulher começa a afirmar sua liberdade sentimental
nos romances de Mme de Staël, não é senão o reflexo e a expressão da alma da autora, isenta de
hipocrisia, franca e clara. Esta alma se transparece melhor no capítulo do livro De la littérature que
trata das mulheres que cultivam as letras. Mas Staël, ao protestar de um modo mensurado, sentido,
contra a sociedade no que diz respeito à mulher, ao encontrar nesse mesmo sentimento de protesto a
inspiração lírica de Delphine e de Corinne, o aspira destruir a sociedade, nem suas bases e seus
laços dos quais se forma e deriva a opinião. Madame de Staël é uma mulher eminentemente sociável,
25
acostumada a ter seu salão, a freqüentar os dos outros, sua sociabilidade tem, é certo, uma cor mais
intelectual que aristocrática, mas também no intelectual existem aristocracias e ela estava muito
acostumada a discerní-las.
De acordo com Madame Necker de Saussure (1943, p.54) tudo o que Corinne diz é
arrebatador, no círculo de amigos dos quais se rodeia, todos esperam ansiosos pelos seus discursos e
suas palavras cheias de entusiamo suscitam sempre os mais justos aplausos. É surpreendente, segundo
a autora, perceber que Staël anuncia no início do livro a personagem fantástica e cumpre o que
anunciou. Outra característica de Staël descrita por Madame Necker (1943, p. 55) é a fecundidade de
gradações para refletir as impressões tristes em que se vê primeiramente na obra um declínio da
felicidade, depois uma dor vaga e passageira que toma a cada instante um caráter mais preciso, depois
o infortúnio na sua força mais cruel, e por fim o desespero com a sua aparência mais calma. O mais
surpreendente é que, apesar dessa tristeza tão marcada no romance, há sempre uma harmonia em cada
cena, tanto nos discursos eloentes de Corinne, na descrição de Roma e do caráter pscicológico dos
personagens.
Madame Necker (p. 57) afirma não saber se censuraram Staël por ter se retratado em Corinne,
mas que talvez tivesse querido mostrar, fundada na sua própria existência, uma mulher que une a
necessidade do êxito à sensibilidade profunda, a mobilidade da imaginação à constância do coração, o
abandono à conversação à dignidade da alma. A figura que a escritora concebera, realizou-a com tal
perfeição, deu-lhe aos olhos de todos uma forma tão pronunciada, que a ficção serviu de prova à
verdade: e Corinne revelou, finalmente, Madame de Staël.
Didier (1999, p. 136) comenta a recepção da obra Corinne em 1807. Segundo a autora, o
sucesso foi imenso e a importância da obra levou a maior parte dos jornais a escrever artigos. A obra
foi melhor compreendida na Inglaterra e na Alemanha. Na França, as críticas vão reagir com os
códigos que o aqueles de um classicismo findante; os artigos dos jornais oficiais são hostis e os dos
jornais de oposição são favoráveis. A compreensão de Corinne será mais profunda alguns anos mais
tarde, justamente porque as idéias, os temas, a estética inaugurados por Mme de Staël foram
assimilados pelo público e pelos escritores da nova geração.
26
1.1 CORINA OU A ITÁLIA: A ANÁLISE DA PRIMEIRA TRADUÇÃO EM PORTUGUÊS
Com o objetivo de buscar traduções em português, feitas no Brasil, da obra Corinne ou l’Italie
de Mme de Staël, foi feita uma pesquisa detalhada em bibliotecas e na internet, sem sucesso. Uma
tradução foi encontrada mais tarde por coincidência em um site de sebo, na seção “escritores
alemães”, onde o nome da escritora foi registrado com grafia incorreta Mme. de STAËL-Holestein,
sendo que o nome correto é Anne-Louise-Germaine Necker, ou Mme de Staël-Holstein. O título
Corinne ou l’Italie foi traduzido como Corina ou a Itália. A obra pertence às Edições Cultura, série
“Novelas Universais” e é composta de dois tomos. Sabe-se que Corina ou a Itália foi revista por
Oliveira Ribeiro Neto e publicada em 1945, mas não se tem nenhuma informação a respeito do
tradutor e por isso não se sabe se é uma tradução ou uma reedição de tradução. Não nenhum
prefácio, posfácio ou algum paratexto sobre a autora e a obra. Apenas no verso da capa há algumas
menções críticas da Academia Brasileira de Letras e de escritores como Afrânio Peixoto, entre outros.
(ver ANEXO C).
A tradução não apresenta notas da edição original, apenas as notas da autora e não acrescenta
notas próprias do tradutor. As notas da autora são indicadas por um asterisco no rodapé da página.
Não nenhuma informação a respeito dessas notas, não se sabe ao certo, ao ler o texto, qual a sua
procedência.
A obra é dividida em livros e capítulos, como a divio feita no original. A divisão dos
parágrafos na tradução foi, em geral, reproduzida da mesma forma que no original, mas encontram-se
parágrafos divididos de maneira diversa da que consta no original.
Para analisar mais detalhadamente a tradução, será utilizado o método de análise proposto por
Berman em Pour une critique des traductions: John Donne.
Analisar a primeira tradução em português da obra de estudo em questão, Corinne ou l’Italie,
permite obter as bases para uma confrontação com o original e para propor uma retradução da obra.
No entanto, será seguido o percurso de análise proposto por Berman sem objetivar a crítica da
tradução, apenas analisá-la na condição de tradutora da mesma obra.
Na sua obra póstuma Pour une critique des traductions: Jonh Donne (1995), Antoine Berman
apresenta um projeto analítico possível ao estudo de traduções, direcionado aos tradutores e aos
críticos de tradução. Esse percurso de análise é apresentado no capítulo Esquisse d’une méthode, que
27
levanta uma série de pressupostos acerca de um método de análise que busca precisar e sistematizar
os procedimentos adotados durante o processo de uma tradução, com base na experiência e reflexão.
Assim, ele define a leitura da tradução como fator primordial para o trabalho de análise. A
postura de uma atitude crítica para a leitura da tradução é a receptiva, pois rias leituras e releituras
da tradução, deixando de lado original, vão permitir ao crítico descobrir as “zonas textuais”
problemáticas ou não e de avaliar a coerência do conjunto. o essas importantes impressões” que
vão orientar o trabalho analítico, porém Berman reitera que é preciso, em seguida, retornar ao texto
original, deixando de lado a tradução. O analista, ou o tradutor, no momento da leitura, fará uma “pré-
tradução”, uma interpretação dos “traços individualizantes” da obra:
La première lecture reste encore, inévitablement, celle d’une œuvre étrangère” en
français. La seconde la lit comme une traduction, ce qui implique une conversion du
regard. Car, comme il a été dit, on n’est pas naturellement lecteur de traductions, on
le devient. (1995, p. 65)
4
De acordo com Berman (Ibid), essa primeira leitura, indispensável para conduzir o trabalho de
análise da tradução, é seguida da leitura do original, lugar de uma pré-análise textual baseada na
recuperação das zonas problemáticas, dos traços estilísticos, dos ritmos, das palavras-chave.
Partindo em seguida da pré-análise e das leituras, começa o trabalho de “seleção de exemplos
estilísticos” para a futura confrontação. Mas antes de efetuar a confrontação é preciso entender a
lógica do como e porque do sistema, a lógica do texto traduzido, e para isso é preciso ir ao tradutor: é
preciso saber sobre ele, assim como quer se saber sobre o autor. Mas o que importa saber sobre o
tradutor é sua nacionalidade, se é somente tradutor ou se exerce outra profissão, se é autor, em quais
línguas ele traduz e qual a sua relação com elas, os tipos de obras que traduz, seus domínios
lingüísticos e literários, quais suas traduções principais, se ele escreve sobre as obras que traduz, se
escreve sobre a sua prática de tradução, sobre os princípios que norteiam sua tradução e sobre a
tradução em geral. Esses dados vão determinar a posição do tradutor na tradução, o seu projeto de
tradução e o seu horizonte tradutivo.
A posição tradutiva é “o que o tradutor se impõe em vista da tradução” e ela pode se
manifestar em representações que nem sempre exprimem a verdadeira posição do tradutor
4
A primeira leitura permanece ainda, inevitavelmente, aquela de uma “obra estrangeira” em frans. A segunda a
obra como uma tradução, o que implica em uma conversão do olhar. Porque, como foi dito, não se é naturalmente
leitor de traduções, torna-se um.” (Tradução nossa)
28
considerando a sua subjetividade. No entanto, a posição tradutiva pode ser reconstituída
implicitamente a partir da tradução em si.
Berman (Ibid) afirma ainda que toda tradução é conduzida por um projeto ou finalidade
articulada que são determinados pela posição tradutiva e pelas exigências da obra. Assim, o projeto
de tradução define a maneira pela qual o tradutor vai efetuar a tradução, na escolha de uma maneira
de traduzir”. O horizonte do tradutor diz respeito ao “conjunto de parâmetros lingüísticos, literários,
culturais e históricos que determinam o sentir, o agir e o pensar de um tradutor.”
Definidas as três etapas concernentes ao tradutor, passa-se eno à etapa concreta de análise
da tradução, ao processo de confrontação do original e da sua tradução. O processo de confrontação
se opera, por conseguinte, em quatro fases: a confrontação dos elementos e das passagens
selecionadas no original com as passagens correspondentes na tradução; a confrontação inversa das
zonas textuais julgadas problemáticas com as zonas textuais correspondentes do original; a
confrontação da tradução com seu projeto.
Apresentam-se algumas análises da tradução Corina ou a Itália que puderam ser feitas a partir
da proposta de Berman. Após a primeira e a segunda leitura da tradução e a busca das zonas textuais
problemáticas, dos traços estilísticos, dos ritmos, enfim, dos aspectos característicos da obra
traduzida; foi feita novamente a leitura do original com objetivo de buscar esses mesmos aspectos.
Não se tem os dados sobre o tradutor que possibilitam determinar a sua posição tradutiva,
tampouco o seu horizonte tradutivo. Dessa forma, na análise da primeira tradução, a posição tradutiva
foi delineada a partir do texto em si. É possível que essa tradução tenha sido reeditada em 1945 a
partir de uma tradução feita em uma outra época, por um tradutor que não é mencionado. O que se
sabe é que a obra traduzida faz parte da coleção “Novelas Universais”, que parece ser a reedição de
antigas traduções feitas pelas Edições Cultura (ver comentários no verso da capa no ANEXO C). Ou
seja, a obra faz parte de um projeto de reedão de traduções para uma coleção com obras clássicas da
literatura universal.
O processo de confrontação será apresentado no capítulo 3 deste trabalho, “Tradução
comentada”, em que constam os exemplos de diferentes aspectos analisados no original e na primeira
tradução. o será feita a confrontação da primeira tradução com o seu projeto, por não se ter
informações sobre o mesmo.
Berman afirma que, uma vez terminada a análise, deve-se proceder ao estudo de recepção da
tradução. Trata-se de um caso particular de recepção, sendo que os comentários raramente são sobre a
maneira como o texto foi traduzido, sendo a obra geralmente lida pelos críticos como “uma obra
estrangeira” e não como uma tradução. É necessário primeiro saber se a tradução foi percebida. Se foi
29
percebida, é necessário saber se ela foi avaliada, analisada, ou seja, como apareceu à crítica, aos
críticos e, em função deste aparecimento, foi julgada e apresentada ao “público”.
O que se tem de informações a respeito da recepção da possível “tradução/reedição de
tradução” Corina ou a Itália provêm da contracapa (ver ANEXO C), onde constam alguns
comentários críticos dos escritores Aggripino Grieco, Eloi Pontes, Afrânio Peixoto e da Academia
Brasileria de Letras “consagrando o êxito da coleção”, aplaudindo a editora, elogiando a tradução e as
reedições de tradução. As informações sobrea crítica do país inteiro” fornecidas pela Editora,
apresentam ao público uma “coleção magnífica”. Pouco se sabe sobre a recepção dessa tradução, pois
não foram encontradas outras informações relevantes à respeito.
Enfim, Berman sugere como última etapa do percurso elaborar uma crítica produtiva da
tradução, com objetivo de determinar alguns princípios que guiem uma eventual retradução do texto,
pois para ele, a crítica das traduções não tem por objetivo propor uma nova versão do texto, mas de
dar elementos de reflexão para efetuar uma tradução mais adequada que as precedentes. A análise da
tradução Corina ou a Itália, com base no percurso proposto por Berman, não teve o objetivo posterior
de elaborar a crítica da tradução, mas apenas a sua análise que permitirá efetuar a retradução do
mesmo texto, seguindo alguns dos métodos determinados pelo autor.
Berman (1995) afirma que para entender as deformações que o original sofreu, para
reconstituir o percurso interpretativo do tradutor, é importante levar em consideração o contexto
literário no qual a tradução foi efetuada, os modos de tradução predominantes da época. Não se trata
apenas de compreender como tal obra foi recebida na época de sua publicação, mas de avaliar o papel
do contexto cultural na elaboração da tradução, de identificar certos princípios interpretativos que
guiaram os tradutores no seu trabalho sobre o texto. Com o intuito de entender mais sobre o contexo
da época (1945) em que essa tradução foi feita ou reeditada, pois não se sabe isso ao certo, buscaram-
se algumas informações sobre a literatura no Brasil nesta época e sobre o perfil da tradução.
De acordo com Abdala Jr. e Campedelli (1987, p.195-278), o peodo de 1930 à 1945
corresponde ao período de concretização do projeto ideológico modernista, com duas tendências
significativas, a vida social e a introspectiva. Esse período pós-modernista de 1930 a 1945 na
literatura brasileira corresponde ao Neo-Realismo, fase da literatura brasileira na qual os escritores
retomam as críticas e as denúncias aos grandes problemas sociais do Brasil. Os assuntos místicos,
religiosos e urbanos também são retomados. Destacam-se as seguintes obras: Vidas Secas de
Graciliano Ramos, Fogo Morto de José Lins do Rego, O Quinze de Raquel de Queiróz e O País do
Carnaval de Jorge Amado. Os principais poetas desta época o: Vinícius de Moraes, Carlos
Drummond de Andrade e Cecilia Meireles. O Brasil, após a Segunda Guerra Mundial, inicia um novo
30
período de sua história, marcado pelo desenvolvimento econômico, pela democratização política e
pelo surgimento de novas tendências artísticas e culturais. A geração de 45 marca essa mudança, com
o objetivo de dar um novo aspecto aos meios de expressão a partir de uma pesquisa sobre a
linguagem. O traço formalizante caracteriza essa geração de poetas, várias obras foram publicadas
nessa época, na prosa os gêneros conto e romance tiveram destaque. O regionalismo recuperou seu
espaço, a sondagem psicológica foi desenvolvida, o espaço urbano foi, também, objeto de enfoque.
Conforme Lya Wyler (2003) tudo que se refere à Era Vargas (1930-53), marco fundador da
tradução industrial brasileira, inclusive a censura e suas conseqüências, tem grande pertinência para
se entender o que foi, que transformações sofreu e o que é hoje a tradução em nosso país. Nesse
período, a censura estatal interferiu na produção de livros; e ocorreu uma intensa atividade tradutória,
principalmente de escritores perseguidos ou cerceados pelo governo, pois muitos recorreram à
tradução como fonte alternativa de rendimentos e veículo de suas idéias. Na década de 40, havia a
prática de se queimar livros ditos “perniciosos ou subversivos”. Wyler afirma que esses fatores
políticos e históricos influenciam ao analisar uma tradução brasileira, na qual se pode encontrar um
pequeno ou um grande número de discrepâncias no cotejo dos textos de chegada e partida. A autora
sugere que ao analisarmos uma tradução, seria necessário tomar alguns cuidados como verificar se a
edição de partida utilizada na análise é a mesma usada pelo tradutor. Wyler conclui que todas essas
manifestações podem interferir direta, indireta, negativa e positivamente nas circunstâncias em que
foi produzida uma tradução e, portanto, na avaliação e na história que sobre ela escrevemos.
Foi possível observar na análise da primeira tradução que não há discrepâncias com o texto
original utilizado pelo tradutor da obra e para este trabaho de análise e retradução, Corinne ou l’Italie
(1985, baseado na ed. de 1807). No entanto, a primeira tradução não apresenta nenhum paratexto com
informações sobre a edição do original que foi utilizada, se foi a edição de 1820 das Oeuvres
complètes, corrigida pelo filho da autora August de Staël ou a edição de 1807, corrigida pela autora.
No que diz respeito à censura da década de 40, época em que a tradução foi editada, não foram
observadas alterações, supressões ou aspectos que indicassem algum tipo de censura.
31
1.2 PROCESSOS DE ADAPTAÇÃO NA PRIMEIRA TRADUÇÃO
Após a leitura e análise da primeira tradução conforme o percurso proposto por Berman (1995),
considerou-se importante verificar as prováveis caractesticas de adaptação na tradução, antes de propor a
retradão da obra.
Foz (2003) retoma o paradigma da discuso sobre a tradução-introdão, introduzido por
Meschonnic, de que a primeira tradução de um trabalho pode ser um suplemento para as seguintes e afirma que
a primeira tradução tende a aclimar o estrangeiro, a deixá-lo “apresenvel a um público não iniciado. Partindo
dessa conceão de tradução-introdão” e continuando a análise da tradução, verifica-se a hitese de que a
primeira tradução apresenta características de adaptação.
Gambier (1992, p. 421) afirma que os limites entre a tradão e a adaptação não o estabelecidos
claramente, o que se tem como idéia geral é que a adaptão está ligada a certos tipos de textos (teatro,
publicidade, por exemplo) e implica em certa liberdade do tradutor, a quem seriam permitidas modificações,
ajustes, acréscimos, omissões no texto de partida para melhor o dobrar aos receptores, aos seus hábitos e suas
normas de receão. Implicitamente, a “tradão se definiria como um esfoo literal, uma mímesis do
original.
Adaptação, segundo Bastin (In: Routledge Encyclopedia of Translation Studies, 2001, p.5), pode ser
entendida como um conjunto de operações tradutivas que resultam em um texto não aceito como tradão, mas
reconhecido como representante de um texto fonte com aproximadamente a mesma exteno. O conceito de
adaptação requer a recognição de tradução como não-adaptação. Em outro artigo (Meta, 1990, p. 470), Bastin
afirma que, por adaptação, entende-se uma tradão preocupada com a maior adequação possível às aspirações
do leitor, relacionada com os grandes afastamentos que implicam duas realidades sóciolinísticas diferentes. É
o conjunto e a amplitude desses afastamentos que o à tradução o cater de adaptação. De acordo com a
amplitude desse afastamento, a tradução se adaptação, mas é difícil de imaginar que nenhuma tradão tenha
atingido uma distância temporal, espacial ou sócio-lingstica considerável.
Segundo o autor (2001), comparando adaptações com os textos nos quais elas se basearam, é posvel
elaborar uma lista de formas ou modos nos quais adaptações o feitas, as motivões ou condições que
levaram a adaptar e os limites e restrições no trabalho do adaptador. Um dos objetivos desta análise é verificar
prováveis processos de adaptação na primeira tradão, pois a adaptação parte de operações tradutivas ligadas
ao original, mas sem considerar que todas as operações utilizadas na tradução o adaptões. Dessa forma,
32
busca-se avaliar o conjunto e a amplitude dos afastamentos”, considerando a distância temporal e
sóciolinística da tradução.
Bastin (2001) classifica os processos adotados pelo adaptador. A transcrição do original é a
reprodão palavra por palavra de parte do texto na língua original, acompanhada de tradão literal, a omiso
é a eliminão ou redão de parte do texto, a expansão consiste em deixar explícitas as informações que estão
implícitas no original, no corpo do texto, assim como em notas de rodapé ou glosrios. O processo do
exoticismo substitui as gírias, os dialetos, as palavras nonsense no texto original por equivalentes aproximados
na língua alvo, algumas vezes marcados por ilico ou sublinhado; a atualização é a substituição de uma
informação desatualizada ou obscura por equivalentes modernos; a equivalência situacional é a inseão de um
contexto mais familiar que aquele usado no original; a criação é uma substituição global do texto original por
um texto que preserva apenas a mensagem, iia, função essenciais do texto original.
De acordo com Klaudi (2001, p. 80) em artigo para a Routledge Encyclopedia of Translation Studies,
explicitão é a técnica de tornar explícito no texto alvo a informão que está implícita no texto fonte. As
estratégias de explicitação o geralmente discutidas juntamente com as estratégias de adição e omiso. O
conceito de explicitação foi primeiramente introduzido por Vinay e Darbelnet (1958) como o processo de
introdução de informação na língua alvo que está presente apenas implicitamente na língua fonte. Pode-se
considerar que a explicitão, definida por Klaudi, e a expansão descrita por Bastin como processos de
adaptação de mesma ordem. Neste trabalho são considerados os conceitos dos dois autores para analisar a
primeira tradão.
A explicitação se torna necessária e até obrigaria em algumas situações de estruturas sintáticas e
semânticas diferentes entre línguas como russo e búlgaro, exemplos citados pela autora. Outro exemplo é a
tradão do inglês para o francês que pode deixar o texto em francês mais explícito que o inglês. Isso pode ser
explicado, segundo Séguinot (1988, apud Klaudi, 2001, p. 82) pela diferença estilística entre as duas línguas. A
explicitação pragmática de informações culturais implícitas é ditada por diferentes culturas, pois os membros
da comunidade cultural alvo podem não compartilhar aspectos queo considerados de conhecimento geral e
neste caso os tradutores geralmente incluem explanações nas tradões.
No ponto de vista da autora, o termo explicitação deveria ser reservado para adições que não podem
ser explicadas pela diferenças de estrutura, estilística ou retórica entre as duas línguas. No entanto, segundo a
autora, a explicitação ocorre não apenas quando algo é expresso na tradução que o era no original, mas
tamm em casos onde algo que estava sugerido ou entendido por meio da pressuposição no texto fonte é
abertamente expresso na tradão, ou a tradução dá maior importância a um elemento no texto fonte, por meio
do foco, da ênfase ou da escolha lexical.
33
A explicitação pode ser opcional quando ditada pelas diferenças de estratégias de construção do texto e
prefencias estilísticas entre as línguas. Um exemplo é a adição de elementos conectivos de sentenças ou
oração inicial para fortalecer as ligações coesivas, o uso de orações relativas ao invés de longas, deixar
constrões nominais ramificadas e a adição de elementos enfáticos para a clarificação da perspectiva da
sentença, entre outros. Berman considera que, apesar das características adaptadoras parecerem nimas, há
uma distância entre literarizão e literalidade. Para o autor, existe um contrato entre tradão e original que
estipula que a criatividade exigida pela tradução deve colocar-se inteiramente ao serviço da reescrita do original
na outra língua, e nunca produzir umasobre-tradução determinada pela poética pessoal do tradutor. (2007, p.
39).
Com base nos processos de adaptação descritos por Bastin (2001) e a explicitação descrita por Klaudi
(2001), verificou-se a primeira tradão Corina ou a Itália após a sua leitura e a leitura do original. Neste
exemplo 1, a primeira tradução clarifica o contexto que é conhecido do leitor. O personagem Lord
Nelvil viajava com o Conde de Erfeuil para a Itália, e sua saúde debilitada os fez parar em Ancona.
Essa informação é mencionada no início do capítulo IV e não é retomada a seguir como no exemplo
1. A primeira tradução explicita os contextos e, por vezes, interpreta-os ao leitor.
Ex.1, p. 24 Ex.1Original
Lord Nelvil avait fixé son départ pour Rome au
lendemain, lorsquil entendit pendant la nuit des cris
affreux dans la ville : il se hâta de sortir de son
auberge pour en savoir la cause, [...]
Primeira tradução
quase restabelecido da indisposição que motivara a
sua demora, Lorde Nelvil estava na véspera de partir
para Roma, quando gritos aflitos, repetidos em da a
cidade, o despertaram no maior silêncio da noite,
obrigando o a sair para saber-lhes a origem.
No exemplo 2 a primeira tradução expande a narrativa acrescentando ao contexto frases
intensificadoras.
Ex. 2, p.33 Original
Lord Nelvil voyant alors que les flammes gagnaient
toujours plus la maison, et qu’il était impossible de
décider cet insensé à se sauver lui-même, le saisit
dans ses bras, malgré les efforts du malheureux qui
luttait contre son bienfaiteur. Il l’emporta sans savoir
où il mettait les pieds, tant la fumée obscurcissait sa
vue ; il sauta les derniers échelons au hasard, et remit
l’infortuné, qui l’injuriait encore, à quelques
personnes, en leur faisant promettre d’avoir soin de
lui.
Primeira tradução
O perigo aumentava de momento a momento. Vendo
que as chamas o ameaçavam de muito perto e que
era impossível àquele insensato salvar-se a si mesmo,
Lorde Nelvil o tomou nos braços com uma fôrça que
parecia sobrenatural. Apesar dos esforços com que o
pobre homem lutava com seu benfeitor este conseguiu
sair pela mesma janela que lhe dera entrada, e sem
saber bem onde punha os pés, pois o fumo lhe
obscurecia a vista, saltou os últimos degraus ao acaso
e entregou o infeliz, que o injuriava às pessoas que o
rodeavam, fazendo-lhes prometer que tomariam
cuidado com êle.
34
Nos exemplos 4, 5 e 6, a primeira tradução acrescenta frases que descrevem o estado de
espírito do personagem Oswald. No entanto, essas descrições não são feitas no original. Pode-se
qualificar como um processo de adaptação denominado por Bastin de expansão e por Klaudi de
explicitação.
Ex.3, p. 42 Original
Oswald sortit pour aller sur la place publique ; il y
entendit parler de Corinne, de son talent, de son génie.
Primeira tradução
Desejoso de presenciar tão extraordinário
acontecimento, Oswald saiu e encaminhou-se à praça
pública. Em todo o caminho não ouviu falar senão de
Corina, do seu talento e do seu gênio
Ex.4, p. 45 Original
Oswald regarda l’homme qui parlait ainsi, et tout
désignait en lui le rang le plus obscur de la société [...]
Primeira tradução
Pasmado ante tal linguagem, Oswald não podia voltar
a si do espanto que lhe causava ouvir falar dêsse
modo homens que pareciam pertencer à classe mais
obscura da sociedade.
Ex.5, p.41 Original
Il fit quelques questions sur cette cérémonie [...]
Primeira tradução
Extraordinariamente admirado, Oswald fez logo uma
porção de perguntas sôbre esta cerimônia [...]
Assim como os exemplos comentados acima, foram encontrados aproximadamente 20 outros
exemplos de clarificação na primeira tradução mostra que ela tende a adaptar o original, inscrevendo
na tradução uma individualidade estilística. A análise mostrou que a maioria dos processos de adaptão
encontrada na primeira tradução ocorre por escolha do tradutor de construção do texto e estilística, mas não em
função da diferença das línguas, devido à semelhança entre o francês e o portugs. Nestes termos, a
explicitão, quando opcional, gera conseqüências adaptadoras como a clarificão e a expansão. Quando
ditada pelas estruturas das línguas, a explicitação torna-se necessária ao equilíbrio e legibilidade do texto. o
há processo de expano por meio de notas, pois na primeira tradução não há notas de roda explicativas,
apenas aquelas feitas no original pela autora da obra, e nenhum tipo de glossário ou prefácio. Foram
encontrados ao longo da primeira tradão outros processos de adaptação descritos por Bastin como a omissão
e a atualização.
Outra tendência descrita por Berman (1999, p. 57), o ennoblissement, consiste no
embelezamento do discurso por meio de frases elegantes, utilizando o original como matéria prima.
Berman inclui o “embelezamento” entre as categorias que compõem aquilo que ele chama de
“sistemática da destruição” da tradução. Os tradutores que utilizam essa sistemática recorrem a
recursos de embelezamento do texto a fim de tentar alcançar um efeito equivalente, que, porém, não
se iguala àquilo que potencialmente expressa o original. Encontrou-se na primeira tradução exemplos
35
de embelezamento do original, clarificação e adaptação ao modo do tradutor. A primeira tradução
introduz elementos que não estão presentes na narrativa do original, utilizando a explicitação opcional
que tem por conseqüência alongar o texto.
Ex.1, p.50 Original
Dès que Corinne fut assise,
Primeira tradução
Apenas Corina tomou o lugar que lhe fora
destinado,
Ex.2, p. 56. Original
Corinne est le lien de ses amis entre eux ;
Primeira tradução
Corina é como um laço que liga entre si todos os que
m ventura de se aproximarem dela.
Ex.3, p.67 Original
“Ainsi, toujours elle répare, et sa main
secourable guérit toutes les blessures.
Primeira tradução
“É dêsse modo que a Itália acode a tudo, e que a sua
mão benfeitora derrama em tôdas as chagas um
bálsamo consolador.
Outro exemplo de processo de adaptação é a omissão ou redução de trechos do original.
Encontraram-se vários outros exemplos de omissão de alguns trechos na primeira tradução. No livro
II, página 65 do apêndice, foi encontrada a omissão de um parágrafo inteiro.
Além de omissões e reduções de trechos originais, foram encontradas na primeira tradução
inclusões de trechos, como no exemplo abaixo.
Ex.1, p.29 Original
[...] et ils se répandirent à l’instant dans la ville,
courant à leurs marchandises, au milieu des flammes,
avec cette avidité de fortune qui a quelque chose de
bien sombre quand elle fait braver la mort.
Primeira tradução
No mesmo instante os infelizes se espalharam pela
cidade, correndo por entre as chamas para salvar as
suas mercadorias, com essa avidez que traz consigo
não sei quê de sombrio e é capaz de fazer afrontar a
própria morte. Dir-se-ia até que no estado atual da
sociedade o homem quase nada tem a fazer do simples
dom da vida.
Um exemplo de adaptação necessária foi a troca da palavra actuel pronunciada pelo narrador,
referindo-se a época em que se passa o romance. Não é possível manter na tradução esse itico
temporal, pois não pode ser recuperado pelo leitor, o que torna a leitura confusa. De acordo com
Bastin, esse tipo de adaptação se chama atualização, que consiste em substituir uma informação
desatualizada ou obscura por equivalentes modernos.
Ex.1, p.57 Original
[...] et quoiqu’il y eût dans la fin de son discours un
blâme indirect de l’état actuel des italiens [...]
Primeira tradução
[...] e apesar de houvesse em seu discurso uma
repreensão indireta ao estados dos italianos na
ocasião, [...]
36
Ex.2, p.43 Original
Dans l’état actuel des italiens, la gloire des beaux arts
est l’unique qui leur soit permise [...]
Primeira tradução
Na época, a glória das belas artes era a única
permitida aos italianos, [...]
A primeira tradução atualiza a citação da autora sobre o poeta italiano Monti. Há certa
incoerência, pois o tradutor mistura os tempos verbais Pretérito e Presente e não se pode recuperar a
informação se Monti estava vivo ou morto, na época em que a obra foi escrita. No original, todas as
informações sobre o poeta o dadas no presente, por isso, com se trata de uma citação da autora,
traduziu-se no presente e não atualizarm-se as informações. Vincenzo Monti nasceu em 1754 e
morreu em 13 de outubro de 1828, ou seja, na época em que Staël escreveu Corinne, ele era um poeta
ativo e célebre na Europa.
Original
p.71 3 ll faut excepter de ce blâme, sur la manière de
déclamer des Italiens, d’abord le célèbre Monti, qui
dit les vers comme il les fait. C’est véritablement un
des plus grands plaisirs dramatiques que l’on puisse
éprouver, que de l’entendre citer l’Episode
d’Ugolin, de Francesca di Rimini, la mort de
Clorinde, etc.
Primeira tradução
* Desta crítica sôbre a maneira de declarar dos
italianos deve ser poupado o célebre Monti, que dizia
tão bem seus versos como os fazia: um dos prazeres
dramáticos que se pode gozar é o de ouvi-lo recitar o
episódio de Ugolin, de Francesca di Rimini, a morte
de Clorinda, etc.
Os fatores mais comuns que levam os tradutores a recorrerem à adaptão são a falta na língua alvo de
equivalentes lexicais e de contexto referido no texto original, a mudança de um tipo de discurso para outro e a
necessidade de dirigir-se a um tipo diferente de leitor em uma nova época.
O sincretismo é típico da tradução adaptadora, e se vale, em geral, de exigências ao mesmo
tempo literias (elegância, etc.) e puramente lingüísticas, em que a não-correspondência das
estruturas formais das duas línguas obriga, segundo ele [Voltaire], todo um trabalho de
reformulão. É na base dessas exigências que a hipertextualidade discreta se revela.
(Berman, 1999, p.38)
5
A partir da leitura, pode-se perceber que o tradutor utiliza determinadas escolhas na primeira tradão
em função do leitor e da época em que a obra foi traduzida. Isso se explica pelas deformões descritas por
Berman: a clarificação e enobrecimento, encontradas ao longo da primeira tradão.
5
A tradução das citações diretas de Berman é extraída de A tradução e a letra, ou, O albergue longínquo. Tradução
de Marie-Hélène Catherine Torres, Mauri Furlan, Andréia Guerini. Rio de Janeiro, 7Letras/PGET, 2007, p.36.
37
Como cita Bastin (Ibid, p.7), a adaptão pode ser aplicada a um texto de uma maneira global,
estratégia que o tradutor utiliza para reconstruir o prosito, a função ou o impacto do texto original. Essa
estratégia pode ser decidida pelo próprio tradutor ou pode ser imposta por forças externas, por exemplo,
normas da editora. A intervenção do tradutor é sistemática e ele pode sacrificar elementos formais e também
semânticos a fim de reproduzir a função do original. Como não se tem informações a respeito do tradutor da
tradão Corina ou a Itália, não se pode saber com certeza se a intervenção do tradutor e o seu projeto de
tradão deram-se a partir de uma estragia decidida por ele ou pela editora. Dessa forma, as hipóteses feitas
sobre a adaptação são a partir da tradão em si, do corpo do texto. Embora formas de adaptação sutis sejam
observadas na primeira tradução, por meio do processo de expano e do direcionamento ao leitor e à época, o
estilo do discurso aplicado na língua alvo é coerente, mantém certa unidade.
A adaptação tamm pode ser local, quando é aplicada a partes isoladas do texto para lidar com as
diferenças específicas entre a língua ou cultura do texto fonte e do texto alvo. Neste caso, o uso da adaptação
como uma técnica terá um efeito limitado no texto em geral. Outro aspecto que representa uma forma de
adaptação é a divio dos pagrafos, a pontuão e a forma de apresentação dos diálogos. Observou-se que a
primeira tradução não manm a forma de apresentação, ao longo dos ts livros, na maioria dos diálogos; a
pontuação e os parágrafos também sofreram alterações.
Contudo, deve-se considerar que as limitações entre tradução e adaptão o confusas e não são
estritamente delimitadas. Como afirma Bastin (Ibid, p.8) os poucos estudiosos que tentaram uma análise mais
detalhada do fenômeno da adaptação e a sua relão com a tradão insistem em uma natureza sutil dos limites
que separam os dois conceitos.
38
2 PROPOSTA DE RETRADUÇÃO: CORINNE OU A ITÁLIA
O embasamento teórico apresentado neste capítulo se constitui das referências e das
discussões das teorias dos dois principais autores que serviram de base para este trabalho, Antoine
Berman sobre a letra e a ética da tradução e Lawrence Venuti a sobre a tradução estrangeirizante e a
visibilidade textual do tradutor, para apoiarem as escolhas dos aspectos referentes à retradução.
Outros autores também são mencionados ao longo da exposição das teorias como Pym, Gambier e
Schleiermacher.
Antes mesmo de propor uma retradução dos três primeiros livros da obra Corinne ou l’Italie
para o português do Brasil, é necessário justificar por que retraduzir essa obra. Em seguida, para que
se dê início a essa retradução, na posição de tradutora do texto, deve-se pensar no papel do tradutor ao
fazer esse trabalho. Será abordada a teoria de Berman sobre a letra e o que ela implica para a proposta
de retradução. Os conceitos de tradução estrangeirizante e domesticadora referenciados por Venuti
apóiam as escolhas para a proposta de retradução. Por fim, é apresentado e explicitado o meu projeto
de retradução, com base nas teorias abordadas neste capítulo.
2.1 POR QUE RETRADUZIR?
A fim de justificar a retradução dos três primeiros livros da obra Corinne ou l’Italie, o
apresentadas algumas considerações teóricas de Berman e Gambier.
Gambier (1994, p. 413) menciona que se deve questionar sobre as relações entre adaptação,
retradução e revisão de uma obra: não haveria entre as três apenas uma diferença de grau de
retoques/transformações trazidas no texto traduzido?”. Essas transformações visam uma comunicação
mais “efetiva”, mas dentre as três, apenas a retradução conjuga essa dimensão sócio-cultural à
dimensão histórica, pois traz mudanças ao texto traduzido porque os tempos mudaram; existe uma
lacuna de tempo entre a primeira tradução e as retraduções.
Para Gambier (p. 413),
39
[...] la retraduction serait une nouvelle traduction, dans une même langue, d’un texte
déjà traduit, en entier ou en partie. Elle serait liée à la notion de réactualisation de
textes, determinée par l’évolution des recepteurs, de leurs goûts, de leurs besoins, de
leurs compétences...
6
De acordo com Gambier (1994, p. 414), “une première traduction a toujours tendance à être
plutôt assimilatrice, à reduire l’alterité au nom d’impératifs culturels, éditoriaux [...] La retraduction
dans ce conditions consisterait en un retour au texte-source.”
7
Berman distingue dois espaços e dois tempos de tradução : “celui des premières traductions et
celui des re-traductions(1999, p.104). Depois que o trabalho foi introduzido na cultura estrangeira,
retraduções serão mais “aproximativas” do texto fonte. Berman menciona a necessidade de
retraduções: “toute traduction est appelée a vieillir, et c’est le destin de toutes les traductions des
« classiques » de la littérature universelle que d’être tôt ou tard retraduites.” (1985, apud TORRES,
2003, p. 233).
8
Milton e Torres (1996), na apresentação do Cadernos de Tradução n.11, Tradução,
Retradução e Adaptação, mencionam algumas razões para retradução: ela pode ser um suplemento
para as seguintes traduções e assim compreender o “mosaico” do original, uma estratégia comercial
que oferece um novo produto, supostamente “mais próximo do original” e “mais acurado” do que
todos os outros, um desejo para a emulação pessoal ou uma produção específica em um certo lugar e
tempo.
Berman (1995, p. 84) afirma que a análise de uma primeira tradução é uma análise limitada,
pois a primeira tradução, como sugere Derrida é imperfeita e impura; imperfeita porque a imperfeição
tradutiva e o impacto das “normas” manifestam-se freqüentemente de forma maciça, impura porque é
ao mesmo tempo introdução e tradução. É por isso que qualquer “primeira tradução” clama por uma
retradução, que não visaria “corrigir”, nem dar uma melhor “solução”. (Ibid, p.88) O autor cita que a
consulta a outras traduções é frutífera para a análise da tradução, que se torna, assim, a análise de uma
“re-tradução” (1995, p.84). Dessa forma, pode-se dizer que as retraduções possuem um horizonte
tríplice: as traduções anteriores a outras traduções contemporâneas e as traduções estrangeiras. Para o
6
[...] a retradução seria uma nova tradução, em uma mesma língua, de um texto já traduzido, na íntegra ou em parte.
Ela estaria ligada à noção de reatualização de textos, determinada pela evolução dos receptores, de seus gostos, de
suas necessidades, de suas competências... (Tradução nossa)
7
[...] uma primeira tradução tende sempre a ser de preferência assimilativa, a reduzir a diferença em nome dos
imperativos culturais, editoriais [...] a retradução nessas condições consistiria em um retorno ao texto fonte.
(Tradução nossa)
8
“[...] toda tradução é chamada a envelhecer e é o destino de todas as traduções dos “clássicos” da literatura
universal, ser cedo ou tarde retraduzidas.” (Tradução nossa)
40
autor, quando uma tradução é uma retradução, ela é implicitamente ou não crítica” de traduções
precedentes no sentido que ela revela, no sentido fotográfico, como elas são (a tradução de uma certa
época, de um certo estado da literatura, da língua, da cultura, etc.) (Ibid, p.40).
A obra Corinne ou l’Italie tem apenas uma primeira tradução no Brasil, que é considerada
uma tradução-introdução. Assim, toda primeira tradução pede uma retradução, que tende a se
aproximar do original, pois a retradução permite dar continuidade à dimensão sócio-cultural e
expandir a dimensão histórica da obra na literatura receptora, pois ela é a transformação do texto
traduzido através do tempo. Como afirma Berman, de fato, é a obra que muda e que adquire novas
perspectivas e representações por meio das traduções e retraduções. A retradução também serve de
fonte aos estudos da tradução, à crítica de tradução e aos estudos literários.
Reitera-se a importância que Mme de Staël exerceu na literatura, não francesa, mas na
literatura clássica mundial. Os estudos de suas obras, seja por qualquer meio, crítica, comentário ou
tradução é uma forma de conhecer e fazer conhecer mais sobre ela.
2.2 APRESENTAÇÃO DO PROJETO DE RETRADUÇÃO
Antes de apresentar as bases teóricas para o projeto de retradução, é necessário pensar no
papel do tradutor. O ato de tomar consciência desse papel e de conhecer as posições que ele pode
tomar diante de um texto a ser traduzido influencia certamente o tradutor nas suas escolhas para o seu
projeto de tradução. Serão abordadas as teorias de Pym (1998) e Venuti (1995) a fim de ilustrarem o
papel do tradutor.
Em seu texto, Method in translation History (1998) Anthony Pym expõe sua opinião sobre os
tradutores e a relação deles com a história da tradução. Pym diferencia o tradutor, sujeito implícito
dentro de um discurso, dos tradutores, modificadores da história. O que deve ser considerado a fim de
romper com o anonimato abstrato é que esse tradutor tem um corpo material, uma unidade biológica
móvel, um corpo que pode mover-se de uma cultura para outra. Esses aspectos são definidos por Pym
como pertinentes e que podem ajudar na história da tradução. O tradutor, na condição de profissional
anônimo, não tem um poder ativo de transformação. Antoine Berman assinala que antes de efetuar a
confrontação entre o texto traduzido e o original, é preciso entender a lógica do como e do porque do
sistema, a lógica do texto traduzido. Para isso é preciso ir ao tradutor, é preciso saber sobre ele, assim
41
como quer se saber sobre o autor. Como parte do projeto de retradução que considera o tradutor e sua
presença o textual, mas também física, foram colocados à diposição o leitor da retradução
Corinne ou a Itália, no Anexo D, os dados bio-bibliográficos da tradutora.
O autor suscita questionamentos pertinentes sobre o papel do tradutor. Ora, se o tradutor é um
“modificador da história da tradução”, ele deve ser conhecido, percebido para que cumpra também
esse papel. O tradutor é responsável, de certa forma, pelo conhecimento da obra estrangeira na
literatura receptora, ou seja, ele também exerce um papel importante na evolução da literatura. Se o
leitor não está consciente de que uma tradução, ele não se conscientiza do trabalho do tradutor. São
os tradutores eles mesmos que devem manifestar a sua resistência às formas dominantes.
Venuti desenvolve seu trabalho sobre um projeto político amplamente democrático (VENUTI,
2002: 26) de resistência às normas hegemônicas impostas por nações política e economicamente mais
poderosas, no caso pelas nações de língua inglesa, e de reconhecimento e valorização das diferenças
lingüístico-culturais. Lawrence Venuti é tradutor e autor de inúmeros trabalhos, dentre os quais se
destacam Escândalos da Tradução (The scandals of translation - 1998 ), A invisibilidade da tradução
(The translator’s invisibility - 1995), Rethinking translation: discourse, subjectivity, ideology (1992
Venuti contraria a idéia de que o processo tradutório é uma substituição ou transferência
ingênua de significados estáveis de um texto para outro e de uma língua para outra. Ele procura
demonstrar em seu texto The translator’s invisibility (1986) a concepção de visibilidade do tradutor
na tradução como uma inevitável interferência; cada tradutor tem uma experiência de vida e
conseqüentemente, uma visão de mundo, um conjunto de valores e ideologias que influenciará,
inevitavelmente nos resultados das suas traduções. O processo tradutório compreende a figura central
do tradutor que é visto como[...] um sujeito inserido num certo contexto cultural, ideológico,
político e psicológico.” (BOHUNOVSKY, 2001).
Para Venuti (2002), a noção contemporânea de fluência e facilidade de leitura relaciona-se
com a ideologia burguesa de consumo que a flncia na tradução gera um efeito de transparência
ao texto traduzido, pressupondo que ele represente a personalidade do autor estrangeiro. Ele coloca a
culpa da causa da invisibilidade do tradutor na fluência cobrada pelos críticos, autores e leitores. Para
ele, a fluência torna a tradução transparente e, conseqüentemente, provoca a invisibilidade do
tradutor. Partindo deste pressuposto, Venuti (1986), propõe uma prática tradutória que resista à
fluência, a visibilidade intencional, afirmando:
42
A tradução deve ser vista como um tertium datum que soe estrangeiro” ao leitor e
que apresente uma opacidade que o impeça de parecer uma janela transparente
aberta para o autor ou para o texto original: é essa opacidade - um uso da linguagem
que resiste à leitura fácil de acordo com os padrões contemporâneos - que tornará
visível a intervenção do tradutor, seu confronto com a natureza alienígena de um
texto estrangeiro. (Tradução nossa. p.190.)
Venuti esclarece que, mesmo combatendo a invisibilidade do tradutor com a idéia de que a
tradução é uma prática social que envolve um trabalho de transformação, ele não eleva o status do
tradutor como um outro autor. Para ele, o trabalho do tradutor, assim como o do autor, é moldado por
determinações sociais, materiais lingüísticos, literários e históricos que constituem seus textos e
podem provocar significações além de suas intenções. O processo transformacional envolve um
conjunto de determinações ideológicas e escolhas feitas pelo tradutor em um determinado contexto
social, portanto, esse processo pode ser inevitavelmente percebido na tradução.
Pym (1998) afirma que a posição tradutiva do tradutor pode ser reconstituída implicitamente a
partir da tradução em si. Mas a importância em manifestar também essa posição tradutiva está no fato
de tornar o tradutor mais aparente em seu trabalho e tem o intuito de divulgar traduções que possam
desvelar ao leitor o processo do qual ele também faz parte. Dessa forma, assim como propõe Venuti
(1995), o objetivo é realizar uma prática tradutória que resista à fluência, mostrando assim o trabalho
do tradutor por meio do seu texto e sua conseqüente visibilidade intencional.
Nas discussões teóricas, predomina a invisibilidade textual, a questão da inevitável
invisibilidade ou das tentativas de apagamento com as traduções fluentes. Mas não se pode esquecer
que esse apagamento é conseqüência do baixo status do trabalho do tradutor. O condicionamento da
editoração, a falta de tempo, a remuneração insatisfatória, a noção de fluência que prevalece na
recepção das obras, resultam neste apagamento. Assim, para este projeto de retradução, o papel do
tradutor é levado em consideração, a posição tradutiva, bem como o projeto de retradução é
manifestado, a fim de conscientizar o leitor da leitura de um texto literário traduzido, escrito por Mme
de Staël em 1805.
Para propor uma retradução que resista à fluência” descrita por Venuti e que faça com que o
tradutor seja percebido no texto, realizando um trabalho textual que demanda “o uso da linguagem
que resiste à leitura fácil de acordo com os padrões contemporâneos”, para realizar este trabalho serão
utilizados os conceitos de Berman sobre a letra, de Venuti sobre a tradução domesticadora e
estrangeirizante e de Schleiermacher sobre os diferentes métodos de tradução.
Segundo Venuti, em artigo para a Encyclopedia of Translation Studies (2001), as estratégias
de tradução envolvem a escolha do texto estrangeiro a ser traduzido e o desenvolvimento de um
43
método para traduzi-lo. Um projeto de tradução pode, de acordo com os valores dominantes na língua
e cultura alvo, utilizar uma abordagem conservadora e assimiladora para apoiar os cânones
domésticos, tendências de publicação e ligações políticas. Esta estratégia de tradução é definida como
domesticadora. Em resposta a essa estratégia, foi formulada na Alemanha durante o período clássico
e Romântico, a tradução estrangerizante, motivada pelo impulso de preservar as diferenças culturais e
lingüísticas, desviando-se dos valores domésticos predominantes.
Berman em seu livro La traduction et la lettre (1999) opõe a tradução da letra do original, a
qual ele chama de não-etnocêntrica” ou literal”, à tradução etnocêntrica e hipertextual que tem
como axioma principal “traduzir a obra estrangeira de modo que não se “sinta” a tradução, [...] de
modo a dar a impressão de que é isso que o autor teria se ele tivesse escrito na língua para a qual se
traduz” (2007, p.33).
No entanto, Berman afirma em A prova do estrangeiro (2002) que ao escolher por patrão
exclusivo o autor, a obra e a língua estrangeira, ambicionando ditá-los em sua pura estranheza a seu
próprio espaço cultural, ele [o tradutor] se arrisca a surgir como um estrangeiro, um traidor aos olhos
dos seus.
Definida por Venuti (2001, p. 241) como tradução estrangeirizante, essa estratégia foi
primeiramente formulada na Alemanha por Schleirmacher em 1813. É no aspecto da tradução
estrangeirizante de Schleirmacher, tradução non-ethnocentrique, que Berman uma ética da
tradução que consiste em fazer do texto traduzido um lugar onde a cultura do outro não é apagada,
mas manifestada.
No livro L’auberge du lointain (1999), Berman aborda a ética da tradução no capítulo
L’éthique de la traduction. Ele cita os textos técnicos e literários na questão de uma metodologia para
a tradução, que é possível se a tradução for simplesmente um processo de comunicação. O texto
técnico transmite uma quantidade uvoca de informações, mas uma obra literária abre à experiência
do mundo e não transmite uma certa comunicação. Assim, quando o tradutor tem como objetivo de
tradução a comunicação, a introdução da mensagem, ele faz concessão ao público, o seu horizonte de
tradução é o público. Isso acarretaria facilitar o acesso à obra e manipular a obra. Então o tradutor
estaria traindo o original e também o público, que ele apresenta uma obra arranjada, desfigurada. A
ética descrita por Berman reside em um certo respeito ao original, evitando qualquer forma de
manipulação do original que tem por objetivo único satisfazer as exigências da língua e da cultura
alvo. Logo, é preciso uma “educação à estrangeiridade”. Ele retoma os questionamentos de Benjamin
no seu ensaio A tarefa do tradutor, sobre a recepção da tradução, como uma obra de arte, pois para
ele a obra de arte não comunica e toda tradução que pretende comunicar visando o leitor será uma
44
“transmissão inexata de um conteúdo inessencial”. Venuti em Escândalos da tradução (2002) discute
a ética da tradução estrangeirizante que não impede a assimilação do texto estrangeiro, mas objetiva
ressaltar a existência autônoma daquele texto por trás (no entanto, por meio) do processo assimilativo
da tradução.
Gambier, (1994, p.415-416), discute a questão da retradução e do “envelhecimento” das
traduções e cita que a grande tradução “[...] deixaria manifestas as diferenças entre língua-texto de
partida e língua texto de chegada: no lugar de ocultar o trabalho de transferência, ela o mostraria, o
faria ler mesmo nas tensões do contato interlingüístico. Ela se definiria pela colocação da
estrangeiridade no texto”.
Friedrich Schleiermacher em sua obra Sobre os diferentes métodos de tradução, analisa a
atividade de traduzir. Os “métodos de traduzir” referidos por Schleiermacher (In: HEIDERMANN,
2001, p. 43) são dois e só dois, com explícita exclusão da possibilidade de qualquer terceiro. Segundo
ele, o tradutor estabelece uma mediação entre o autor do texto original e o leitor da tradução. Assim
sendo, ou o tradutor move o leitor tanto quanto possível até o autor, ou move o autor até ao leitor. No
primeiro caso, a atividade de traduzir tem em vista a restituição do específico no seu máximo
estranhamento possível. No segundo caso, ela tem em vista a anulação do estranho, a nacionalização
do estrangeiro.
Schleiermacher o tem qualquer dúvida em defender as virtudes e as vantagens do primeiro
método, apesar de todas as dificuldades e prejuízos, como também não hesita em afirmar que o
objetivo do segundo método é não “inalcançável” como negativo”. (2001, p. 165). Nas palavras
do autor, os métodos de traduzir são “[...] dois caminhos tão diferentes que é necessário seguir
exclusivamente um deles, com tanto rigor quanto possível, pois que qualquer mistura entre ambos
dará um resultado altamente insatisfatório e é de recear que entre escritor e leitor se o desencontro
total.” (2001, p. 61). Realizar uma tradução de acordo com o primeiro método, levar o leitor até o
autor, significa transmitir ao leitor um texto que não é próprio de sua cultura, sem negar-lhe o caráter
estrangeiro da obra. Assim, quando escolhe o primeiro método,
[...] o tradutor está empenhado em substituir, através de seu trabalho, a compreensão
da ngua de origem que falta ao leitor. Ele tenta transmitir aos leitores a mesma
imagem, a mesma impressão que ele próprio teve através do conhecimento da língua
de origem da obra, de como ela é, e tenta, pois, levá-los à posição dela, na verdade
estranha para eles. (Ibid., p. 43; 45).
45
Para isso, o autor sugere que o tradutor “deve também traduzir o que se sobressai nesse
sentido ao atento leitor do original como próprio, como intencional, como efeito para o tom e a
afinação da alma, como diferencial para o acompanhamento mico e musical do discurso.” (Ibid, p.
53).
Contudo, o autor questiona como, pois, o tradutor deve fazê-lo para transplantar também em
seus leitores, a quem ele apresenta a tradução na língua materna dos mesmos, aquela sensação de que
eles têm algo estrangeiro à sua frente. (Ibid, p. 55). A solução que ele propõe é quanto mais a
tradução se associar de forma exata às expressões da língua original, tanto mais estranha ela será para
o leitor; e fazer isso com arte e com medida, sem desvantagem para a língua. Dessa forma, o tradutor
estará se associando às expressões do que o estilo do escritor manifesta na obra. Trata-se de trazer
algumas combinações que pareçam novidades e insinuem ao leitor a presença do estranho, do
estrangeiro em sua língua materna. Mas esse tipo de tradução exige duas condições: que a
compreensão de obras estrangeiras seja uma condição conhecida e desejada e que seja concedida uma
determinada flexibilidade à língua pátria. (p.63)
Antoine Berman conceitua o segundo método de Schleiermacher de levar o autor até o leitor
de etnontrico, hipertextual, platônico, que capta o sentido desvinculado da lettre (letra). O primeiro,
ao contrário, que é privilegiado pelo romantismo alemão, cultiva a língua materna e abre o
estrangeiro ao seu espaço na língua receptora.
Berman (1999, p.77-78) propõe uma abertura ao estrangeiro no espaço da língua que é mais
que comunicar, é manifestar, a manifestação de uma manifestação de obras. Para o autor, o objetivo
ético da tradução consiste em manifestar na sua ngua esta pura novidade, preservando sua face de
novidade. Isso implica em tradução da letra, ou seja, acolher a obra estrangeira com a sua robe, casca,
sua corporeidade (a letra viva da obra) a partir da qual a obra se manifesta. O autor explica que
traduzir a letra de um texto não significa absolutamente traduzir palavra por palavra, nem reproduzir
de forma problemática o original, mas ter a atenção voltada para o jogo dos significantes” (1999,
p.14). Dessa forma, para traduzir a letra do texto “é preciso também traduzir o seu ritmo, o seu
comprimento (ou sua concisão), suas eventuais aliterações etc.” (Ibid, p. 14)
O fato de privilegiar o trabalho sobre a letra do texto conduz ao mesmo tempo revalorizar o
“sujeito tradutor”, pois
[...] o tradutor é ao mesmo tempo escritor, gênio criador, erudito e crítico, deve
captar a unicidade do original, ela ppria definida como sua “expressão”, seu
tom”, sua particularidade”, seu gênio e sua natureza. [...] a fidelidade à
individualidade da obra é imediatamente produtora de alargamento lingüístico e
cultural. (BERMAN, 2002, p.76-77).
46
Berman define as “zonas textuais” como “uma escrita de tradução, uma escrita que nenhum
escritor francês teria podido escrever, uma escrita de estrangeiro harmoniosamente passada para o
francês.” (1995, p. 66). Estas “zonas textuais” nas quais o tradutor escreveu estrangeiro em francês e
assim produziu um francês novo, são as zonas de graça e riqueza do texto traduzido, ou seja, as zonas
de escrita estrangeira. Ele afirma que, para causar a “estranheza” na tradução, é preciso colocar em
evidência as palavras-chave, as redes significantes subjacentes, o ritmo obtido pelas repetições, etc.
(1995).
Para realizar a crítica positiva sobre a qual Berman redige o capítulo Esquisse d’une méthode
(1995), é preciso observar um duplo critério de avaliação: de ordem ética e poética. Ptica, se o
tradutor realizou de fato um trabalho textual que corresponde com a textualidade do original. Ética,
no respeito ao original que estabelece um “diálogo” com o original. O tradutor tem todos os direitos,
contudo que ele jogue um jogo limpo. Assim, o respeito pelo original também inclui a explicitação
dos procedimentos adotados para a tradução, pois
[...] se o tradutor não fosse responsável, se ele não tivesse que aceitar a
responsabilidade por nenhuma de suas escolhas, não haveria nenhum problema de
ordem ética e logo nenhuma demanda de princípios suscetíveis de guiar a sua
prática. (PYM, 1997, p.67).
Aqui fica implícita a idéia do projeto de tradução. A ética e a poética garantem que haja, de
uma maneira ou outra, correspondência com o original e sua língua. Berman utiliza a palavra
correspondência na sua pluralidade de significações (correspondência referente ao respeito à letra, ao
projeto, à obra, enfim...). Ele afirma que essa correspondência garante um faire-oeuvre na língua
traduzida e que a tarefa maior do tradutor é faire oeuvre-en correspondence.
Em um artigo publicado na revista Po&sie, Berman (1986) examina os três modos de discurso
metatextuais que são a crítica, o comentário e a tradução, para sublinhar a proximidade do comentário
e da tradução e para lamentar a distância entre crítica e tradução. Seu artigo estabelece a comunidade
íntima do traduzir com o comentar, marcando as fronteiras do discurso crítico e enunciando neste
artigo uma idéia que permanecerá em todos os seus escritos: le travail comparatif lui-même qui est,
par définition, une analyse de la traduction, de l’original et des modes de réalisation du projet (1995,
p.83)”.
9
9
[...] O trabalho comparativo ele mesmo que é, por definição, uma análise da tradução, do original e dos modos de
realização do projeto. (Tradução nossa)
47
O trabalho de análise da primeira tradução foi feito com base no percurso de Berman em Pour
une critique des traductions : John Donne (1995) para verificar os traços fundamentais de uma
tradução, do projeto que a fez surgir e do horizonte no qual ela surgiu e da posição do tradutor. Mas
Berman o dissocia análise detalhada e objetivo global, ele insiste na necessidade de unir a
microanálise a um olhar geral e sublinha que sua crítica não se pretende negativa, mas produtiva. O
papel dessa crítica é de preparar o caminho à tradução da obra e de preparar o espaço epistemológico
e estético de uma retradução.
Embora os métodos elaborados por Berman sejam direcionados à crítica da tradução, que o
tradutor dificilmente os enuncia, eles podem ser aplicados a uma determinada tradução e utilizados
em um projeto real de tradução, e sua orientação em vista de um horizonte maior de tradução são
viáveis ao tradutor para que ele não intua acerca de sua prática, mas reflita acerca das implicações
do processo pelo qual ele passa.
Depois de efetuar a análise da tradução existente da obra Corinne ou l’Italie que permitiu a
confrontação com o original e após a reflexão apoiada nas teorias de Schleiermacher, Venuti e
Berman o que se propõe é a retradução dos três primeiros capítulos da obra de Mme de Staël. A
posão tradutiva assumida para este projeto consiste em realizar a retradução dos três primeiros
livros de Corinne ou l’Italie com base nas reflexões dos teóricos mencionados. O projeto de tradução
da obra se formou a partir do desejo de retraduzir os três primeiros livros de Corinne ou l’Italie por
meio de um projeto estrangeirizante e de traduzir a letra do texto, como propõe Berman. Diante do
antagonismo exposto por Schleiermacher entre as duas maneiras de traduzir, optou-se pela primeira
forma, ou seja, deixar o escritor tranqüilo e fazer com que o leitor ao seu encontro. Essa escolha
prioriza fazer com que esse leitor reconheça as características da obra estrangeira. A intenção é
produzir um texto level para a cultura alvo sem apagar a alteridade, a qualidade de estrangeiro, do
texto fonte. A retradução da obra Corinne no Brasil representa a busca da literalidade e, assim, a
“relação amadurecida com a língua materna, capaz de aceitar a língua estrangeira(BERMAN, 2007,
p.98).
O projeto de retradução estrangeirizante buscará mostrar os traços culturais da obra
estrangeira, os traços lingüísticos característicos da língua estrangeira e os traços de estilo do autor, a
fim de chamar a atenção para o fato de que o trabalho se trata de uma tradução, que foi feita por um
tradutor a partir de uma obra estrangeira de uma determinada ngua, época e cultura. O enfoque em
mostrar esse trabalho de tranferência é também uma forma de mostrar o tradutor na tradução. É
importante considerar que a tradução estrangeirizante requer do leitor o seu desejo de compreensão da
obra estrangeira e a percepção de que se trata de uma tradução de uma obra estrangeira, assim, o
48
leitor se conscientizará do trabalho textual do tradutor antes mesmo de iniciar a leitura. De certa
forma, esse tipo de tradução, para que suas finalidades sejam mais bem percebidas, dirige-se a um
leitor habituado à leitura de traduções, conhecedor da língua e obra original em questão.
Venuti (1986, 2002), por exemplo, busca minimizar a oposição binária entre tradução
estrangeirizante (foreignizing translation) e tradução domesticadora (domesticating translation), a
fim de evitar o obstáculo da fidelidade. Para Venuti, a realização de toda tradução passa
necessariamente pela utilização de duas estratégias. Por outro lado, considerando as exigências
lingüísticas et culturais do ato de traduzir, o sujeito traduzinte não tem sempre a possibilidade de
escolher entre uma abordagem puramente estrangeirizante ou domesticadora, mesmo se é evidente
que, por diversas razões de base de seu projeto tradutivo, ele pode dirigir sua tradução em direção a
um ou outro destes pólos. sempre algo de estrangeirizante em uma tradução domesticadora e vice-
versa. Serão consideradas as reflexões de Venuti no que diz respeito à escolha do projeto ser uma
tradução “puramente” estrangeirizante. A retradução de Corinne ou l’Italie será conduzida por um
projeto estrangeirizante, mas isso não significa que a retradução não apresentará nenhuma
característica domesticadora. Schleiermacher também considera, apesar de sugerir que apenas um dos
métodos deva ser seguido a rigor, que a tradução estrangeirizante exige duas condições, uma delas
que seja concedida uma flexibilidade à língua pátria.
A tradução da letra se associa as expressões da língua original e mostra as características
presentes no original que por vezes podem parecer estranhas ao leitor da língua de chegada. O
tradutor está consciente dessa estranheza proposital que se associa às expressões do que o estilo do
escritor manifesta na obra. Dessa forma, o tradutor não procura ocultar essas expressões presentes na
obra como objetivo de facilitar a leitura. Ou seja, de acordo com Berman (1999, p. 14) traduzir a letra
é restituir na língua de chegada todo o conjunto que compõe a literalidade do texto de partida:
“Fidelidade e exatidão se reportam à literalidade carnal do texto. O fim da tradução, enquanto
objetivo ético, é acolher na língua materna esta literalidade (2007, p.71).” É também traduzir sua
forma e sentido de forma detalhada e que eleva o texto traduzido à mesma altura do original, sem
realizar uma adaptação ou uma imitação. A retradução objetiva se associar às expressões da língua
original, procurando fazê-lo com arte e medida, sempre concedendo flexibilidade à língua pátria e
trazer algumas combinações que pareçam novidade a língua de chegada e mostrem ao leitor a
presença do estilo da escritora na obra. Para causar a “estranheza” na tradução, são colocadas em
evidência as palavras-chave, as redes significantes subjacentes, o ritmo obtido pelas repetições, os
aspectos culturais, entre outros.
49
Consideram-se para a escolha desse projeto as exigências da obra, ou seja, a época em que foi
escrita, o seu conteúdo, a linguagem e estilo de Staël. Dessa forma, a retradução buscará priorizar a
riqueza presente na obra original, que se optar pela cil compreensão do conteúdo, o resultado
poderá perder a beleza e grandiosidade da obra de partida. Com a inteão de deixar na retradução
dos três primeiros livros de Corinne de Mme de Staël traços que evidenciassem sua condição de
tradução e, conseqüentemente, expressassem a presença do tradutor, as considerações sobre a
invisibilidade textual do tradutor feitas por Venuti foram tomadas como fundamentais.
Partindo da premissa de que tudo que um tradutor pode dizer e escrever a propósito de seu
projeto tem realidade apenas na tradução, serão considerados os aspectos de estilo do original e a
forma como foram traduzidos na retradução, juntamente com a explicitação da tradução das figuras
de linguagem, no capítulo seguinte, onde se apresentam os aspectos da retradução comentada, do
original e da primeira tradução.
50
3 TRADUÇÃO COMENTADA
Após a primeira e a segunda leitura da tradução e a busca das zonas textuais problemáticas,
dos traços estilísticos, dos ritmos, enfim, dos aspectos característicos do original, da primeira
tradução e da retradução, a partir do projeto de retradução estabelecido e das reflexões teóricas,
comentam-se alguns desses aspectos semânticos, lingüísticos, das figuras de linguagem nos três
primeiros livros da obra de estudo.
A nossa retradução foi feita a partir da Edição de 1985, Gallimard. Esta edição apresenta um
prefácio de Simone Balayé sobre a autora e suas obras e, ao final, a biografia datada de Mme de Staël.
A obra foi organizada a partir da 3ª edição de 1807, corrigida pela autora.
A tradução dos três primeiros livros fornece um corpus considerável para esta pesquisa, pois o
livro primeiro (Oswald) e segundo (Corinne au Capitole) apresentam os personagens principais da
trama, Oswald, Corinne, Conde de Erfeuil e o príncipe Castel-Forte, bem como suas características;
além de uma descrição de Roma, o paralelo entre o povo, inglês, francês e italiano e o paralelo entre
homem e mulher. Consta também no livro II o “Improviso de Corinne no Capitólio”, ou seja, os
versos que mostram a genialidade artística da personagem. Portanto, pode-se ter uma amostra
significativa da obra a partir desses três primeiros livros e, conseqüentemente, da escrita de Staël, seu
estilo e sua abordagem filosófica, moral, religiosa e política por meio do romance.
As colunas do apêndice apresentam o texto original, a nossa proposta de retradução e a
primeira tradução Corina ou a Itália dos três livros iniciais escolhidos para a pesquisa. Os exemplos
selecionados são indicados pelo número da página em que constam nos três primeiros livros no
apêndice. Toda a consulta mencionada sobre as acepções das palavras comentadas abaixo foi feita
nos dicionários referenciados na bibliografia de apoio.
Os comentários sobre a primeira tradução são feitos concomitantemente com aqueles sobre o
original e a retradução. A primeira tradução servirá de exemplo na comparação e na confrontação
com a nossa retradução. Não se procura de modo algum julgar a tradução existente, mas fazer os
comentários pertinentes sobre a nossa proposta de retradução, confrontando com ao original e
utilizando exemplos da primeira tradução.
Portanto, os aspectos semânticos, culturais, estilísticos bem como outros aspectos foram
verificados a partir do original e o comentados com os respectivos exemplos da nossa retradução e
da primeira tradução.
51
Como proposto por Berman, partindo em seguida da pré-análise e das leituras, do original, da
primeira tradução e da nossa retradução começa o trabalho de “seleção de exemplos estilísticos” para
a futura confrontação com o projeto estabelecido.
3.1 ASPECTOS SEMÂNTICOS
A seleção de exemplos semânticos permite observar, a partir do texto original, o vocabulário
característico da autora e as palavras que de alguma forma o “problemáticas e representativas” e
originaram comentários sobre a maneira como foram traduzidas na primeira tradução e/ou na
retradução. Assim como os outros aspectos, eles representam o estilo da autora e justificam as
escolhas feitas na retradução.
No que se refere aos aspectos semânticos, uma das escolhas foi utilizar os cognatos latinos de
maneira a traduzir à letra da obra, sem interferir, no entanto, no registro do texto.
Manteve-se o antigo “postilhões” para a tradução de postillons, ao invés de traduzir por
“mensageiro”, o que seria “atualizar” o texto, uma forma de adaptação descrita por Bastin (2001).
p.38 Original
En approchant de Rome, les
postillons s’ecrièrent avec
transport [...]
Retradução
Aproximando-se de Roma, os
postilhões gritaram com transporte
[...]
Primeira tradução
E os postilhões gritaram
imediatamente com entusiasmo
[...]
Na tradução de caravansérail, optou-se por manter o cognato latino existente em português
“caravançará”, ao invés de utilizar “hospedaria”. Essa escolha mostra uma forma de conservar a letra
do original e causar certa estranheza no leitor.
p.39 Original
Dans le vaste caravansérail
de Rome.
Retradução
Na vasta caravançará de Roma.
Primeira tradução
Na vasta hospedaria de Roma.
Traduziu-se l’air du midi por os ares meridionais”, mantendo-se assim “ares”, no sentido de
“condição climática”. A primeira tradução explicita a palavra, traduzindo-a por “clima meridional”
52
p.1 Original
[...] et les médecins, craignant
que sa poitrine ne fût attaquée, lui
avaient ordonné l’air du midi.
Retradução
[...] e os médicos, temendo que seu
peito fora atingido, haviam-lhe
recomendado os ares meridionais.
Primeira trad.
[...] e os médicos, receando alguma
coisa no peito, lhe haviam
aconselhado um clima meridional.
O verbo captiver foi traduzido por “cativar” nesta construção, no sentido de fascinar”. A
primeira tradução altera a construção por “que se pode imaginar”. Como parte do projeto de
retradução, a tradução da letra sugere que seja preservada, na medida do possível, a construção da
frase, não só o sentido.
p.43 Original
[...] la réunion de tous les talens
qui captivent l’imagination.
Retradução
[...] a reunião de todos os talentos
que cativam a imaginação.
Primeira tradução
[...] a reunião de todos os talentos
que se pode imaginar.
No exemplo abaixo, manteve-se “singular” que, assim como em francês, tem o sentido de
“bizarro, esquisito”. A primeira tradução, pela escolha semântica, explicita este trecho.
p.108 Original
C’est pourtant singulier d’être
timide avec une italienne, un
artiste, un poëte, enfin tout ce
qui doit mettre à l’aise.
Retradução
No entanto, é singular ser tímido
com uma italiana, uma artista, uma
poetisa, enfim, tudo o que deveria
deixar à vontade.
Primeira tradução
Não há nada mais esquisito do que
essa timidez da minha parte diante
de uma italiana, de uma artista, de
uma poetisa, enfim, duma pessoa
com quem se deveria ter tôda a
liberdade?
Por algumas vezes, foi necessário utilizar outras palavras ao invés daquelas cognatas em
português, pois essas comprometem o entendimento do texto, ou ainda não correspondem aos
cognatos em francês. São casos em que a adaptação semântica se torna necessária ou mesmo
obrigatória. Neste exemplo, figure, em francês não pode ser mantido por figura” em português, por
não ter a mesma carga semântica de aparência, personalidade de uma pessoa. Optou-se por “porte”,
por abranger mais as características de modo de proceder; comportamento, aspecto do corpo humano,
quanto à altura, harmonia, elegância; presea, postura, aspecto. A primeira tradução mantém o
sentido de figure, mas altera a construção.
Original p.1. Retradução Primeira tradução
Il avait une figure noble et belle ; Tinha um porte nobre e belo, Homem de bela estampa,
Algumas palavras que se repetem no texto podem ser consideradas palavras-chave e, na
medida do possível, foram traduzidas pelas mesmas palavras em português. O efeito que a repetição
53
dessas palavras causa no texto original faz com que elas adquiram importância no momento da leitura
e se destaquem a cada vez que são repetidas. Esse efeito foi mantido com o uso de uma mesma
palavra em português quando possível, pois em alguns contextos a palavra escolhida em português
não se adequava semanticamente tão bem quanto a palavra usado no original. Seguem alguns
exemplos de palavras chaves encontradas nos livros I, II e III.
A palavra peine(s), consta 29 vezes foi traduzida na maioria das vezes por “tristeza (s)” e
“sofrimento na retradução. Na primeira tradução, a palavra peine foi traduzida por “desgostos”,
“dor” e, na maioria das ocorrências, por “pena(s)”. Assim, peine, considerada uma palavra-chave no
texto, não pode ser mantida em todos os contextos na tradução, por ter nuances de significados em
português.
Nos contextos abaixo, a palavra peine foi traduzida por “trabalho” no exemplo 1 e por
“sofrimentos” no exemplo 2 da retradução.
Original
Ex.1, p.87 [...] mais ils jouissent
avec transport de ce qui leur vient
sans peine.
Ex.2, p. 95 [...] mais les femmes
aiment la peine, pourvu qu’elle
soit bien romanesque : ainsi vous
lui convenez.
Retradução
[...] mas eles gozam com
transporte do que se lhes oferece
sem trabalho.
[...] mas as mulheres gostam do
sofrimento, desde que ele seja bem
romanesco, dessa forma você lhe
convém.
Primeira trad.
Contentavam-se em gozar com
entusiasmo as coisas que se lhe
oferecem sem trabalho.
p. 92. Mas as mulheres amam os
trabalhos, contanto que sejam
romanescos. E por isso vós lhes
convindes mais do que eu...
No exemplo 3, a palavra peine em, éprouver de la peine, foi traduzida por “sentir-se triste”. A
primeira tradução explicita e altera o sentido da frase, traduzindo por “se arrependeu de ter ido o
cedo”.
Original
Ex. 3, p.96 Il vit qu’elle était seule,
et il en éprouva presque de la
peine ; [...]
Retradução
Ele viu que ela estava sozinha e se
sentiu triste, [...]
Primeira tradução
Ao entrar na sala de Corina, onde a
encontrou só, Oswald estava mais
tímido do que nunca, e quase se
arrependeu de ter idoo cedo.
No exemplo 4, na retradução e na primeira tradução, peine foi traduzida por ter dificuldade
de”. Neste exemplo se concede certa liberdade à língua de chegada, pois não foi possível traduzir a
expressão com o mesmo correspondente semântico.
54
Original
Ex.4, p.107 On le dit, reprit le
comte d’Erfeuil, mais j’ai de la
peine à le croire.
Retradução
Dizem, respondeu Conde de
Erfeuil, mas eu tenho dificuldade
em acreditar nisso.
Primeira tradução
– É o que dizem. Mas eu tenho
alguma dificuldade em acreditar
nisso.
A palavra esprit aparece 33 vezes nos três primeiros livros analisados. Pode ser considerada
uma palavra-chave do romance que marca a descrição psicológica ou o estado emocional dos
personagens. Na retradução, foi mantida na maioria das ocorrências em português por “espírito”, com
a acepção de inteligência, pessoa inteligente, espirituosa, sem acarretar problemas semânticos à
tradução. Na primeira tradução, a palavra esprit foi da mesma forma traduzida por “espírito”. Neste
exemplo, a palavra esprit é explicitada na retradução por “estado de espíritoe na primeira tradução
por “desalento”.
p.2 Original
À vingt-cinq ans il était découra
de la vie ; son esprit jugeait tout
d’avance, et sa sensibilité blessée
ne goûtait plus les illusions du
coeur.
Retradução
Aos vinte e cinco anos ele estava
desencorajado da vida; seu estado
de espírito julgava tudo
antecipadamente e a sua
sensibilidade ferida não apreciava
mais as ilusões do coração.
Primeira tradução
Aborrecido da vida aos vinte cinco
anos, o seu desalento o levava a
julgar tudo antecipadamente, e a
sua sensibilidade profundamente
ferida se o prestava às doces
ilusões do coração.
A palavra éclat em francês, além de outros significados, tem a acepção de “intensidade de
uma luz viva e brilhante”. Em francês, existe a palavra splendeur de uso literário, que significa “uma
grande intensidade de luz”. No entanto, o substantivo éclat e o adjetivo éclatant são utilizados
diversas vezes nos livros II e III, ao passo que splendeur, splendide não são usados nenhuma vez. A
ocorrência da palavra é intensa no início do livro II, na descrição da chegada de Corinne ao Capitólio.
Dessa forma, pode-se considerar éclat uma palavra-chave na obra, de relevância característica. Os
exemplos abaixos correspondem ao original, a retradução e a primeira tradução. Na maioria dos
casos, quando possível em português, traduziu-se por “esplendor”, para manter a mesma palavra e
insistir na sua característica ao longo do texto pela sua repetição, causando esse efeito presente no
original. A primeira tradução não mantém a palavra-chave, traduzindo mais livremente éclat por
brilho, brilhante ou esplendor”. Já no exemplo 2, traduziu-se por “retumbante”, pois éclatante
também pode significar “que faz um grande barulho” e no exemplo 11, em francês, rire aux éclats, rir
fazendo barulho, em português, gargalhar.
55
Original
Ex.1, p. 41 - Un soleil éclatant, um
soleil d’Italie
Retradução
Um sol resplandecente, um sol da
Itália
Primeira tradução
O sol resplandecente da Itália
Ex.2, p. 45 - Une musique très-
belle et très-éclatante /
Uma música muito bela e muito
retumbante/
A música, bela e brilhante,
Ex.3, p. 47 - Ses bras étaient d’une
beauté éclatante /
Seus braços eram de uma
espndida beleza /
Os seus braços eram de uma
beleza admirável.
Ex.4, p. 47 - [...] une sorte de
naturel qui relevait l’éclat de la
situation extraordinaire dans
laquelle elle se trouvait /
[...] um tipo natural que realçava o
esplendor da situação
extraordinária na qual ela se
encontrava. /
[...]um tipo natural que realçava o
brilho da situação
Ex.5, p. 49 - La musique se fit
entendre avec un nouvel éclat au
moment de l’arrivée de Corinne
A música se fez escutar com um
novo esplendor no momento da
chegada de Corinne,
No momento de sua chegada, a
música se fêz ouvir com mais
força e brilho.
Ex.6, p. 49 - mais au milieu de tout
cet éclat, de tous ces succès,
[...] mas no meio de todo esse
esplendor, de todo esse sucesso,
[...] porém, que em meio daquele
esplendor, daquele brilhante
sucesso,
Ex.7, p. 53 - l’éclat aussi-bien que
l’obscurité peut empêcher de les
reconnaître,
[...] e o esplendor assim como a
obscuridade podem impedir de
reconhecê-las
[...] e tanto o esplendor como a
obscuridade, podem impedir que
se as conheçam
Ex.8, p. 69 - nos destinées
obscures relèvent l’éclat de nos
ancêtres
[...] nossos destinos obscuros
revelam o esplendor de nossos
ancestrais
Nossos destinos obscuros fazem
sobressair o esplendor dos nossos
antepassados.
Ex.9, p. 72 - [...] quand ces
paroles, encore tout empreintes des
joies qu’un beau climat répand
dans tous les coeurs, sont
prononcées par une voix émue,
leur éclat adouci, leur force
concentrée, [...]
[...] quando essas palavras, ainda
todas impressas das alegrias que
um belo clima espalha em todos os
corações, o pronunciadas por
uma voz emocionada, seu
esplendor suavizado, sua força
concentrada [...]
[...] quando esse idioma, animado
pela alegria que um belo clima
derrama em todos os corações é
pronunciado por uma voz
comovida, o seu esplendor
mitigado, a sua força concentrada.
Ex.10, p.98 - Et rassuré, au même
instant, par l’expression de bonté
qui voilait l’éclat de ses regards
[...]
E seguro, no mesmo instante, pela
expressão de bondade que velava o
esplendor de seus olhares [...]
E quem poderia contemplá-la sem
se sentir possuído pela inspiração
divina que lhe brilhava nos olhos.
Ex.11, p.109 - [...] en riant aux
éclats, oh, cette idée-là ne me
serait jamais venue !
[...] rindo às gargalhadas, oh, essa
idéia não me viria jamais à cabeça!
O Conde de Erfeuil interrompeu,
rindo às gargalhadas:
A tradução de coqueterie por “coqueteria” marca o uso intencional de um galicismo para
ressaltar a estrangeiridade da obra. A primeira tradução explicita os galicismos correspondentes na
língua portuguesa.
56
p. 88 Original
[...] à la coquetterie d’une femme
qui cherche à plaire et veut
captiver ; mais il y avait dans cette
coquetterie une noblesse si
parfaite, qu’elle imposait autant de
respect que la réserve la plus
sévère.
Retradução
[...] à coqueteria de uma mulher
que busca agradar e que quer
cativar. Mas havia nessa
coqueteria uma nobreza tão
perfeita à qual ela impunha tanto
respeito quanto a mais severa
reserva.
Primeira tradução
[...] às maneiras galantes duma
mulher que deseja agradar,
maneiras que apesar de galantes,
eram cheias de nobreza que
impunham respeito e reserva.
A expressão francesa laisser-aller foi mantida na retradução, neste contexto com a acepção de
abandono, deselvoltura. Além de manter a característica de estrangerismo, é uma expressão usada em
português.
p. 108 Original
Enfin, croiriez-vous que je la
trouve imposante, malgré son
naturel et le laisser-aller de sa
conversation.
Retradução
Enfim, acreditaria que eu a acho
respeitável, apesar de seu natural e
o laisser-aller de sua conversa.
Primeira tradução
Acreditareis vós que eu a acho
respeitável, apesar das suas
maneiras e da extrema franqueza
da sua conversação?
Da mesma forma, a palavra francesa nuance foi mantida, ao invés de ser traduzida por
“nuança”.
p. 52 Original
[...] sans que jamais aucune nuance
d’affectation pût altérer un genre
de charme non-seulement naturel,
mais involontaire.
Retradução
[...] sem que jamais nenhuma
nuance de afetação pudesse alterar
esse gênero de charme não apenas
natural, mas involuntário.
Primeira tradução
[...] sem que jamais uma leve
tintura de afetação pudesse alterar
o seu gênio de encanto, não
natural, mas involuntário.
Manteve-se também em francês blasé, ao invés de traduzir a palavra por algum
correspondente.
p. 70 Original
“Ainsi la pointe de la douleur est
émoussée, non que le coeur soit
blasé, non que l’ame soit aride,
[...]
Retradução
Dessa forma, a ponta da dor é
diminuída, não por que o coração
esteja blasé e nem a alma seja
árida, [...]
Primeira tradução
“Desse modo se mitiga a fôrça da
dor, não porque esteja o coração
degenerado ou a alma seja dura,
[...]
A palavra onde (do latim unda) é arcaica e utilizada em registro literário, que corresponde em
português à vaga”, por sua vez derivada do francês vague. a palavra vague é usada
frequentemente em francês, como é o caso de onda” em português. Traduziu-se de acordo com os
equivalentes mencionados. Também, sinônimo de vague, traduziu-se flot por “onda” ou ainda por
“águas” (ex.3) e ondes por águas” (ex.2). Neste exemplo, também se verifica a tradução da
57
expressão prêter l’oreille, que pode ser traduzida por “prestar ouvido” e não é usada com freqüência
em português, ao contrário do francês. Traduziu-se por “ouvir com atenção”. Pode-se considerar esse
exemplo como adaptação local que trata de diferenças específicas entre as línguas.
Neste exemplo, pode-se observar nas palavras sublinhadas a alteração que é feita na primeira
tradução. Além disso, a expressão de distance en distance foi traduzida por “de espaço a espaço” que
não mantém a idéia de “diferentes lugares” e sim de “diferentes espaços de tempo”, devido também
ao uso de “continuados”. Optou-se na retradução pela expressão ora num lugar, ora noutro” que
mantém o sentido de “diferentes lugares” expresso no original.
p. 41 Original
Il entendit résonner les cloches des
nombreuses églises de la ville ; des
coups de canon, de distance en
distance, annonçaient quelque
grande solennité :
Retradução
Ele ouviu ressoar os sinos das
numerosas igrejas da cidade e tiros
de canhão, ora num lugar, ora
noutro, anunciavam alguma grande
solenidade.
Primeira tradução
Ouviam-se bater todos os sinos das
numerosas igrejas da cidade e
continuados tiros de artilharia,
repetidos de espaço a espaço,
pareciam anunciar alguma grande
festividade.
Nos exemplos abaixo, as expressões foram traduzidas de forma que a carga semântica e a
estrutura da expressão não fossem alteradas. No exemplo 1, ao invés de explicitar a expressão por “o
Ex.1, p.18
Original
Oswald prêtait l’oreille autant qu’il
le pouvait au bruit du vent, au
murmure des vagues; [...]
Retradução
Oswald ouvia com atenção tanto
quanto podia o barulho do vento, o
murmúrio das ondas, [...].
Primeira tradução
Era em vão que Oswald prestava,
quanto podia, ouvido ao ruído do
vento, ao sussuro das vagas, [...]
Ex.2, p.23
[...] mais si les vaisseaux sillonnent
un moment les ondes, la vague
vient effacer aussitôt cette légère
marque de servitude, et la mer
reparaît telle qu’elle fut au premier
jour de la création.
[...] mas se os navios cortam por
um momento as águas, a onda vem
apagar logo essa ligeira marca de
servidão e o mar reaparece tal
como ele era no primeiro dia da
criação.
Pom os navios, se, por um
momento, cortam as águas, as
ondas vêm imediatamente apagar o
mais ligeiro sinal de vassalagem, e
o mar torna a aparecer tal qual
apareceu no primeiro dia da
criação.
Ex. 3, p.24
[...] agitait aussi leur image dans
les flots, et les vagues soulevées
réfléchissaient de mille manières
les traits sanglans dun feu sombre.
[...] agitava tamm a sua imagem
nas águas e as ondas revoltosas
refletiam de mil maneiras os traços
sanguinários de um fogo sombrio.
[...] agitava igualmente a sua
imagem nas águas, e as ondas,
furiosamente inquietas,
apresentavam à vista, de mil
maneiras diversas, o medonho
reflexo de um fogo sombrio.
58
ponto forte da dor é amenizado” ou, como na primeira tradução “se mitiga a força da dor”, manteve-
se a carga semântica de “ponta”.
Ex.1, p. 70 “Ainsi la pointe de la
douleur est émoussée,
Dessa forma, a ponta da dor é
diminuída,
“Desse modo se mitiga a fôrça da
dor,
No exemplo 2, a primeira tradução altera a expressão, ocasionando o embelezamento com
“calou fundo”.
Ex.2, p.107 Original
Lord Nelvil fut blessé de cette
réflexion.
Retradução
– Lorde Nelvil ficou ofendido com
essa reflexão.
Primeira tradução
Essa reflexão calou fundo em
Oswald.
No exemplo 3, a primeira tradução explicita a expressão.
Ex.3, p.80 Original
Vous finissez comme j’ai
commencé ; mais il fallait bien
vous laisser l’honneur d’être plus
réservé que moi, pourvu toutefois
que vous n’y perdissiez rien
Retradução
Você acaba como comecei, mas
era preciso deixar-lhe a honra de
ser mais reservado que eu, desde
que você não perdesse nada com
isso.
Primeira tradução
Acabastes concordando comigo, e
eu, sem vos causar nenhum
prejuízo, vos pus fazendo um
papel mais honroso e reservado
que o meu.
O exemplo 4 mostra que a primeira tradução reduz a expressão, o que acaba enfraquecendo o
sentido e a construção da frase.
Ex.3, p.108 Original
[...] c’était de ces mots qui
deviennent ce qu’ils peuvent ; si
on les écoute, à la bonne heure ; si
on ne les écoute pas, à la bonne
heure encore ;
Retradução
[...] dessas palavras que se
transformam no que podem, se as
ouço, que bom, se não as ouço,
melhor ainda.
Primeira tradução
[...] dessas palavras que são o que
podem ser quando não se lhes dá
importância.
Assim, conforme a proposta de retradução, as expressões foram traduzidas de forma mais
próxima do original, mostrando o estrangeiro, enquanto a primeira tradução revela características de
adaptação.
59
3.2 ASPECTOS DE ESTILO E FIGURAS DE LINGUAGEM
O conceito de estilo literário é considerado pelos teóricos difícil de definir, pois é múltiplo. O
fenômeno estistico tem sido analisado na literatura sob diferentes enfoques. O estilo pode ser examinado
considerando-se um indiduo, um grupo, um país ou uma época, e pode igualmente ser definido
considerando-se o autor, o leitor, ou o texto.
Otto Maria Carpeaux (1960) uma definição de estilo: "Escolha de palavras, escolha de
constrões sinticas, escolha de ritmos dos fatos, escolha dos próprios fatos, para conseguir uma
composição perfeitamente pessoal. (...) Estilo é escolha entre o que deve ficar na gina escrita e o que
deve ser omitido; entre o que deve perecer e o que deve sobreviver".
Deste ponto de vista, o estilo é a manifestão da individualidade. O "estilo é o homem", disse no
culo XVIII o francês Buffon, “o estilo é a definição de uma personalidade em termos lingüísticos”
segundo Câmara nior (1978, p. 13). Ele é intransferível, podendo ser imitado apenas como cópia servil.
Bakhtine (1984, p. 268) afirma que o estilo está ligado ao enunciado e a formas típicas de enunciados, ou
seja, aos gêneros do discurso. Para o autor, o enunciado é individual e possui assim um estilo individual; o
estilo está associado aos neros de discurso e a unidades temáticas.
No entanto, o escritor não existe isoladamente do mundo. Ele está condicionado pelo sistema
cultural de seu tempo, por sua visão de classe, pelo debate artístico, pelas ideologias em confronto, pelos
valores pessoais e sociais consagrados no período histórico em que vive e cria a sua obra. Existe, portanto,
um outro tipo de estilo, o Estilo de época que ocorre quando certos procedimentos artísticos individuais se
reproduzem e se tornam repetitivos e constantes entre uma ou mais gerações de escritores favorecidos e
influenciados pelas coordenadas da época.
Mme de Staël, em seu livro De la litrature dans ses rapports avec les institutions sociales, no
capítulo Du Style des Écrivains et de celui des Magistrats, define estilo como :
[...] a gradação de termos, a conveniência e a escolha das palavras, a rapidez das
formas, o desenvolvimento de alguns motivos, o estilo enfim que se insinua na
persuasão dos homens. Uma expressão que não muda nada no essencial das idéias,
mas cuja aplicação não é natural, deve se tornar o objeto principal para a maior parte
dos leitores. Um epíteto forte demais pode destruir completamente um argumento
verdadeiro, a mais leve nuance confunde completamente a imaginação pronta para
lhe seguir; uma obscuridade de redação que a refleo penetraria facilmente cansa
de repente o interesse que voinspiraria, enfim, o estilo exige algumas qualidades
necessárias para conduzir os homens. [Tradução nossa] (In: STAËL. Oeuvres
completes, 1954, p.322-323.)
60
Mme de Staël, na segunda parte de De l’Allemagne, La Littérature et les Arts descreve o
estilo perfeitamente eficaz e adaptado à emoção das sensibilidades cerebrais que caracterizam a
transição do século XVII ao XIX.
No entanto, a beleza do estilo não é, é preciso convir, uma vantagem puramente
exterior, pois os sentimentos verdadeiros inpiram quase sempre as expressões mais
nobres e mais justas e se é permitido de ser indulgente para o estilo de um escrito
filosófico, não se deve -lo para aquele de uma composição literária, na esfera das
belas artes a forma pertence tanto à alma quanto o assunto. [Tradução nossa]
O que funda o estudo estilístico de um texto é a convicção que cada texto literário veicula
uma visão subjetiva, quer dizer uma visão não neutra. Buffon em Discours sur le style (1753) afirma
que o estilo é apenas a ordem e o movimento que se ao pensamento; as qualidades de um bom
estilo são luminosidade, precisão, simplicidade, clareza.
Saint-Gérand (1999) afirma que Staël sustenta a idéia de que o estilo não consiste apenas em
desvios gramaticais, pois ela luta a favor de uma prática de linguagem contínua e gradativa contra
uma estética do descontínuo, do exagero e dos contrastes excessivos. Como a forma mais exterior
pela qual se apreende o conteúdo de um texto é aquela de seu léxico, Saint-Gérand (Ibid) precisa nas
palavras analisadas a relação entre a língua e a linguagem utilizada pelo escritor, pelo narrador e
pelos personagens de Corinne. O autor analisa os termos que se referem diretamente às práticas da
palavra, à atividade da linguagem e aos reflexos que a escrita literária faz espelhar quando ela se
difrata no prisma do estilo: estilo de época, estilo genérico, estilo do autor. Seguem os termos com o
número de ocorrência no singular e no plural. Essas ocorrências se referem à obra completa.
Accent(s) [31 + 6]
Dialecte(s) [4 + 2]
Expression(s) [68 + 21]
Harmonie [29]
Langage(s) [27 + 2]
Langue(s) [25 + 10]
Mot(s) [84 + 88] Nom(s) [99 + 12]
Parole(s) [33 + 100]
Phrase(s) [4 + 4]
Signe(s) [16 + 4]
Silence [79]
Style [8]
O que implica observar, a partir da análise feita por Saint-Gérard, é como esses termos foram
traduzidos nos livros I, II e III, de forma a manter o estilo da autora. Essa análise permite verificar o
léxico da obra e a relação desse léxico com o estilo de Staël, que a análise estilística de um texto se
baseia geralmente no estudo do vocabulário, das figuras de estilo, da sintaxe, conciliando a forma e o
sentido. Apresentam-se os exemplos das ocorrências encontradas nos três livros.
61
Accent Foram encontradas 5 ocorrências para accent nos livros I, II e III. Na retradução, foram
traduzidos 4 por “acento que mantém o galicismo e 1 por entonação” devido ao contexto. A
primeira tradução traduz accent por “sotaque”, “acento”, “pronúncia”, “entonação” e uma ocorrência
por “tom da voz”, enquanto que a retradução mantém “acento”. A primeira tradução omite a repetição
do termo nestas duas ocorrências:
Original
Ex.1, p. 75 [...] mais cet accent
anglais lui rappelait tous les
souvenirs de sa patrie, cet accent
naturalisait pour lui tous les
charmes de Corinne.
Retradução
[...] mas esse acento inglês lhe
trazia à memória todas as
recordações de sua pátria, esse
acento naturalizava para ele todos
os charmes de Corinne.
Primeira tradução
Pom a pronúncia do seu inglês
lhe recordava tôdas as memórias da
sua pátria e naturalizava a seus
olhos todos os encantos de Corina.
Ex.2, p. 75 Corinne remercia lord
Nelvil, en anglais, avec ce pur
accent national, ce pur accent
insulaire qui presque jamais ne
peut être imité sur le continent.
Corinne agradeceu Lorde Nelvil,
em inglês, com esse puro acento
nacional, este acento insular que
quase nunca pode ser imitado no
continente.
Corina agradeceu em inglês a
Lorde Nelvil, com êsse puro acento
insulano que é quase impossível
imitar-se no continente.
Pode-se concluir que a retradução busca manter a palavra accent por “acento”, cognato latino
correspondente e assim segue o seu projeto de retradução da letra.
Expression(s) Foram encontradas 11 ocorrências para expression(s), todas traduzidas por
“expressão” ou “expressões”. Suas oitenta e oito ocorrências no total da obra marcam a importância
do termo, seu conteúdo denotativo e conotativo, tanto no que diz respeito à linguagem verbal quanto
aquela da pintura e da música. Em uma das ocorrências, a primeira tradução não mantém a repetição:
Original
p. 52. Il releva l’originali des
expressions de Corinne, de ces
expressions qui naissaient toutes de
son caractère et de sa manière de
sentir,
Retradução
Ressaltou a originalidade das
expressões de Corinne, dessas
expressões que nascem todas de
seu caráter e de sua maneira de
sentir, [...]
Primeira Tradução
Exaltava a originalidade das
expressões de Corina, nascidas
tôdas da sua maneira de sentir,
Harmonie Foram encontradas 9 ocorrências, entre elas 3 para o adjetivo harmonieux e 1 para
harmonieuse. Em uma delas, sons harmonieux foi traduzido na primeira tradução por “doces
músicas” e harmonie por igualdade”, mas nas demais foram traduzidas por “harmonia” e
“harmonioso”. A retradução mantém a tradução de “harmonia”, o que resulta em um tipo de reforço
62
ao emprego de harmonie e seu valor na estética geral sustentada pela autora, no seu estilo gradual e
harmonioso.
Langage(s) Foram encontradas 5 ocorrências, todas traduzidas por “linguagem ou linguagens” na
retradução e na primeira tradução.
Langue(s) Esse vocábulo evoca um dos principais objetos de reflexão na obra. A primeira tradução
traduziu langue por “voz” em uma ocorrência nas 10 encontradas.
Original
p.72 Le son de voix touchant et
sensible de Corinne, en faisant
entendre cette langue italienne si
pompeuse et si sonore,
Retradução
O som da voz tocante e sensível de
Corinne, fazendo ouvir essa língua
italiana tão pomposa e tão sonora,
Primeira tradução
O som tocante e sensível da voz de
Corina, fazendo-se ouvir essa voz
italiana tão sonora e pomposa,
Mot(s) - Esse termo essencial na construção do estilo de Corinne é empregado diversas vezes, o que
marca uma multiplicidade de efeitos de sentidos, que são reduzidos pelas condições de determinação
contextual do vocábulo. Foram localizadas 19 ocorrências e entre elas, a primeira tradução omite uma
e altera outra. No exemplo 1, a perífrase “não acrescentou mais nenhuma palavra” é mantida como no
original; a primeira tradução não reproduz a figura de linguagem.
Ex.1, p.109 Original
[...] et il n’ajouta pas un mot de
plus.
Retradução
[...] e ele não acrescentou mais
nenhuma palavra.
Primeira tradução
[...] Essa foi a sua única resposta.
No exemplo 2, a primeira tradução omite mot. O emprego do demonstrativo ce, ces, esse(s),
essa(s)” em 6 das 19 ocorrências articula a relação do vocábulo mot com o seu ambiente contextual
que remete às palavras pronunciadas anteriormente.
Ex.2, p.15 Original
En achevant ces mots, le comte
d’Erfeuil salua lord Nelvil de la
meilleure grâce du monde, convint
de l’heure du départ pour le jour
suivant, et s’en alla.
Retradução
Dizendo essas palavras, o Conde
de Erfeuil saudou Lorde Nelvil
com a melhor cortesia do mundo,
combinou a hora da partida para o
dia seguinte e saiu.
Primeira tradução
Assim dizendo, o Conde de Erfeuil
cumprimentou Lorde Nelvil com a
maior cortesia e saiu, depois de
terem ajustado a hora em que
deviam viajar, no dia seguinte.
Nom(s) Foram encontradas 15 ocorrências para nom nos três primeiros livros. Este termo é
empregado como nome próprio ou de família dos personagens de Corinne ou referindo-se a figuras
63
históricas como Petrarca e Tasso. um parágrafo com três ocorrências de nom; a primeira tradução
omite a terceira.
Nesse exemplo, o narrador reforça no nome de família desconhecido da poetisa Corinne. A
repetição de nom é omitida na primeira tradução, reduzindo o efeito repetitivo.
Ex.2, p.43-44 Original
Son nom de famille était ignoré.
Son premier ouvrage avait paru
cinq ans auparavant, et portait
seulement le nom de Corinne. [...]
cette femme dont tout le monde
parlait, et dont on ne connaissait
pas le véritable nom, [...]
Retradução
Seu nome de família era
desconhecido. Sua primeira obra
havia aparecido cinco anos antes e
levava somente o nome de
Corinne. [...] Esse mistério e essa
publicidade a um mesmo tempo,
essa mulher de quem todo mundo
falava e de quem não se conhecia o
verdadeiro nome [...]
Primeira tradução
Ignorava-se igualmente o seu nome
de família, pois a sua primeira
obra, que aparecera cinco anos
antes, tinha apenas o nome de
Corina. [...[ Este mistério e esta
publicidade a um mesmo tempo,
essa mulher de quem todo mundo
falava sem que verdadeiramente a
conhecesse, [...]
Parole(s) - O grande mero de ocorrências desse termo confirma a importância do processo
elocutório na obra Corinne ou l’Italie. Corinne declama ou conduz com Oswald os raciocínios
firmemente argumentados e articulados, os outros personagens dialogam trocando com freqüência
verdadeiros discursos, enquanto que a narração tende a dissertar.
No primeiro caso, parole remete principalmente ao ato de falar enquanto tal, no segundo caso,
parole remete aos elementos da linguagem falada antes, evocados sob a forma de palavras ou
seqüência de palavras que servem para exprimir o pensamento. Graças a essa valorização, o poder
eficaz da palavra é novamente afirmado em Corinne. Buscou-se manter esse poder e traduzir parole
por “palavra”. Entre as 14 ocorrências encontradas, algumas alterações puderam ser percebidas na
primeira tradução. No exemplo 1, a primeira tradução explicita o contexto, o que representa um
processo de adaptação.
Original
Ex.1, p.8 Mais les gens du peuple,
à qui leurs supérieurs se confient
rarement, s’habituent à découvrir
les sentiments autrement que par la
parole [...]
Retradução
Mas as pessoas do povo, as
quais seus superiores raramente se
confiam, acostumam-se a descobrir
os sentimentos de outra maneira,
não só pela palavra [...]
Primeira tradução
É que a gente do povo, a
qual os seus superiores raramente
se confiam, habitua-se a descobrir
nas fisionomias os sentimentos de
cada um.
No exemplo 2, a primeira tradução não mantém a perífrase.
Ex.2, p.51 Original
Le prince Castel-Forte prit la
parole, [...]
Retradução
O príncipe Castel-Forte tomou a
palavra [...]
Primeira tradução
O Príncipe de Castel-Forte
comou a falar.
64
No exemplo 3, o enfoque no original é direcionado à língua italiana e também às palavras que
Corinne pronunciava, palavras em italiano. A primeira tradução transfere o enfoque todo ao idioma, à
língua italiana e não traduz parole.
Ex.3, p.72 Original
[...] mais quand ces paroles
italiennes, brillantes comme un
jour de fête, retentissantes comme
les instrumens de victoire que l’on
a comparés à l’écarlate parmi les
couleurs ; quand ces paroles,
encore tout empreintes des joies
qu’un beau climat répand dans tous
les coeurs [...]
Retradução
Mas quando essas palavras
italianas, brilhantes como um dia
de festa, retumbantes como os
instrumentos de vitória que se
compararam com o escarlate entre
as cores, quando essas palavras,
ainda todas impressas das alegrias
que um belo clima espalha em
todos os corações [...]
Primeira tradução
Pom quando a língua italiana,
brilhante como um dia de festa,
retumbante como um instrumento
de vitória, a língua a qual se deu a
primazia entre das, como ao
escarlate na lista das côres, quando
esse idioma, animado pela alegria
que um belo clima derrama em
todos os corações [...]
Phrase(s) Nas duas ocorrências encontradas para phrase pode-se perceber a alteração na primeira
tradução.
Ex.1, p. 15 Original
Oswald, après les premières
phrases de politesse, fut plusieurs
heures sans dire un mot ;
Retradução
Oswald, depois das primeiras
frases de formalidade, permaneceu
várias horas sem dizer uma
palavra.
Primeira tradução
Depois das primeiras expressões
de civilidade, Oswald conservou-
se, conforme o seu costume, sem
dizer uma palavra durante largas
horas.
Ex.2, p.17 Il jouait avec les mots,
avec les phrases, d’une façon très-
ingénieuse [...]
Ele jogava com as palavras, com
as frases, de maneira muito
engenhosa, [...]
Êle jogava, por assim dizer, com
as palavras, de maneira a mais
engenhosa [...]
Silence - Foram encontradas 6 ocorrências.
Style - Foi encontrada uma ocorrência.
O estilo não consiste somente no léxico e nos desvios gramaticais. Esses elementos compõem
o conjunto da obra e devem ser observados constantemente no processo de tradução. A primeira
tradução por vezes omite ou altera o léxico analisado. A retradução manteve os mesmos
correspondentes lexicais em português, por não haver a necessidade de omiti-los ou explicitá-los e
buscando manter esse léxico característico usado pela autora que é seu estilo e a letra da obra.
O estilo de Staël em Corinne se concentra na gradação dos termos, na nuance e na escolha
pontual das palavras. Para analisar os aspectos referentes ao estilo, buscaram-se reparar todos os
traços estilísticos, quaisquer que sejam, que singularizam a escritura e a língua do original e os fazem
uma rede de correlações sistemáticas.
65
As figuras de linguagem também chamadas figuras de estilo - figures de style (França), são
estratégias literárias que conferem ao texto um caráter literário ou poético que o escritor pode aplicar
no texto para conseguir um efeito determinado na interpretação do leitor. São formas de expressão
mais localizadas em comparação às funções da linguagem, que são características globais do texto.
Podem relacionar-se com aspectos semânticos, fonológicos ou sintáticos das palavras afetadas. As
figuras de linguagem são usadas também na linguagem quotidiana. De acordo com Marpeau (2005,
p.6), buscar no texto as figuras de estilo permite operar uma leitura aprofundada desse texto, que pode
ser chamada de uma leitura estilística, a fim de descobrir o seu sentido profundo e de explicitar a sua
estética. Com esse objetivo, voltado para a a análise e comparação entre o texto original, a primeira
tradução e a retradução nossa, foram selecionados apenas os exemplos de figuras de linguagem que
apresentam aspectos a serem comentados a partir da primeira tradução e a proposta de retradução
nossa, baseada no projeto de tradução. Essa análise permitirá verificar mais sobre o estilo da autora na
obra.
Seguem os exemplos de figuras de estilo encontrados a partir do original e os respectivos
comentários. São comentadas também as figuras de linguagens que não constam no original, mas que
foram construídas pela primeira tradução. As definições sobre as figuras de linguagem foram feitas
baseadas nas leituras de Cunha (1985 p.602-616), Cherubim (1989) e Marpeau (2005).
1- Anadiplose
Anadiplose é a figura de linguagem que consiste na repetição de palavra ou expressão de fim
de um membro de frase ou começo de outro membro de frase. No exemplo 1, essa repetição é
utilizada para reforçar a infinitude do mar que evoca o pensamento de forma incessante. Nesse
exemplo 1, na primeira tradução, observa-se que a repetição de “sem cessar” não é mantida e alterada
pela expressão “de contínuo”.
Original
Ex.1, p.5 D’ailleurs le spectacle de
la mer fait toujours une impression
profonde ; elle est l’image de cet
infini qui attire sans cesse la
pensée, et dans lequel sans cesse
elle va se perdre.
Retradução
Além disso, o espetáculo do mar
causa sempre uma impressão
profunda: ele é a imagem desse
infinito que evoca incessantemente
o pensamento, e no qual
incessantemente vai perder-se.
Primeira tradução
Além disso, o espetáculo do mar
causa sempre uma profunda
impressão, pois êle é a imagem do
infinito que atrai sem cessar nosso
pensamento e no qual o nosso
pensamento de contínuo vai
perder-se.
66
O exemplo 2 mostra que a anadiplose é mantida pela primeira tradução pela inclusão da
conjunção ora” na primeira tradução para alternar as ações realizadas por Lord Nelvil e a repetição
de “tanta” para enfatizar “destreza e força”. A retradução mantém a figura de linguagem com a
repetição de “quando” e “uma”, como no original.
Ex.2 p. 7 Original
Deux ou trois fois, dans le
passage de Harwich à Embden, la
mer menaça d’être orageuse ; lord
Nelvil conseillait les matelots,
rassurait les passagers, et quand il
servait lui-même à la manoeuvre,
quand il prenait pour un moment la
place du pilote, il y avait, dans tout
ce qu’il faisait, une adresse et une
force [...]
Retradução
Duas ou três vezes, na
passagem de Harwich a Emden Ι, o
mar ameaçou tornar-se
tempestuoso; Lord Nelvil
aconselhava os marinheiros,
acalmava os passageiros e quando
ele mesmo executava a manobra,
quando ele assumia por um
momento o lugar do piloto, havia
em tudo o que fazia uma destreza e
uma força [...]
Primeira tradução
Durante a passagem de
Harwich e Embden, por duas ou
três vêzes o mar se tornou
tempestuoso, e Lorde Nelvil ora
aconselhando a tripulação, ora
animando os passageiros e
ajudando, êle mesmo, as manobras,
ora tomando por momentos o lugar
do pilôto, deixava claramente
perceber que alma é que dirige
calmamente as nossas ações, pois
em tudo que êle fazia havia tanta
destreza e tanta fôrça [...]
No exemplo 3, a repetição é mantida na primeira tradução com a palavra “nenhuma” do lugar
de “ausência”.
Ex.3,p.110 Absence
d’enthousiasme, absence
d’opinion, absence de sensibilité,
un peu d’esprit combiné avec ce
trésor négatif
Auncia de entusiasmo, ausência
de opinião, ausência de
sensibilidade, um pouco de espírito
combinado com esse tesouro
negativo,
Nenhum entusiasmo, nenhuma
opinião, nenhuma sensibilidade.
Qualquer espírito combinado com
êsse tesouro negativo
Pode-se observar também que a primeira tradução constrói uma anadiplose. No exemplo 4, na
primeira tradução repetição de “quem sabe” e a tradução “dizia consigo mesmo” que reforçam
além do original.
Ex. 4, p. 4 Original
Qui sait, se disait-il, si les ombres
des morts peuvent suivre partout
les objets de leur affection ?
Retradução
Quem sabe, dizia-se, se as sombras
dos mortos podem seguir por toda
parte os objetos de sua afeição?
Primeira tradução
“Quem sabe”, dizia consigo
mesmo, - quem sabe se as
sombras dos mortos não podem
seguir por tôda a parte os objetos
da sua afeição?
Neste exemplo, repete-se o advébio très na retradução, enquanto a primeira tradução não
reproduz a figura de linguagem.
67
Ex. 5, p. 45 Original
Une musique très-belle et très-
éclatante précéda l’arrivée de la
marche triomphale.
Retradução
Uma música muito bela e muito
retumbante precedeu a chegada da
marcha triunfal.
Primeira tradução
A música, bela e brilhante,
anunciou, por fim, a marcha
triunfal.
A escolha em não omitir o pronome nós em português é justificada pela reprodução da
anadiplose.
Ex. 6, p. 2 Original
Quand on souffre, on se persuade
aisément que l’on est coupable, et
les violens chagrins portent le
trouble jusque dans la conscience.
Retradução
Quando nós sofremos, persuadimo-
nos facilmente de que nós somos
culpados, e os violentos pesares
levam o desassossego até a
consciência.
Primeira tradução
Quando o espírito sofre, a mais
leve falta se nos afigura um crime,
e em geral os desgostos violentos
levam o desassossego até à
consciência.
Nestes exemplos, a primeira tradução não reproduz a anadiplose do original.
Ex. 7, p. 41 Original
Oswald se réveilla dans Rome. Un
soleil éclatant, un soleil d’Italie
frappa ses premiers regards [...]
Retradução
Oswald despertou em Roma. Um
sol resplandecente, um sol da Itália
atingiu seus primeiros olhares [...]
Primeira tradução
Oswald despertou finalmente em
Roma. O sol resplandecente da
Itália, ferindo-lhe os olhos, [...]
Ex.8, p.87 Oswald trouvait
Corinne pleine de grâce et d’une
grâce qui lui était toute nouvelle.
Oswald achava Corinne cheia de
graça e de uma graça que lhe era
toda nova.
Oswald achava Corina um modêlo
de graça para êle inteiramente
nova.
A retradução, como parte de seu projeto, considerou os conceitos mencionados por Berman
(1995) que para causar a estranheza” na tradução, é preciso colocar em evidência o ritmo obtido
pelas repetições, entre outros.
2- Antítese
A antítese é um recurso estilístico literário que consiste na exposição de idéias opostas e
ocorre quando uma aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos. Esse recurso foi
especialmente utilizado pelos autores do período Barroco. O contraste que se estabelece serve,
essencialmente, para dar uma ênfase aos conceitos envolvidos que não se conseguiria com a
exposição isolada dos mesmos. No exemplo 1, a oposição entre “ausência” e “encontrada” não foi
mantida na primeira tradução.
68
Ex.1, p.8 Original
Une telle absence de personnalité
ne s’était peut-être jamais
rencontrée ; sa journée se passait
sans qu’il en prît aucun moment
pour lui-même : il l’abandonnait
aux autres par mélancolie et par
bienveillance.
Retradução
Talvez não tenha sido jamais
encontrada tal ausência de si; sua
jornada se passava sem que ele
dedicasse um momento para si
mesmo, pois ele se dedicava aos
outros por melancolia e por
benevolência.
Primeira tradução
Talvez não se tenha ainda visto um
tal esquecimento de si mesmo. O
seu tempo era inteiramente
distribuído pelos outros, e, ou
fôsse por melancolia, ou por
benevolência, passaram-se os dias
sem que êle tivesse um momento
para si.
Nestre trecho 2, o original não apresenta este recurso, mas na primeira tradução o contexto foi
aproveitado e a antítese foi introduzida.
Ex. 2, p.4. Original
Quelque chose d’aride s’empara de
son coeur ; il n’était plus le maître
de verser des larmes quand il
souffrait [...]
Retradução
Alguma coisa árida invadiu seu
coração: não era mais o mestre em
derramar lágrimas quando sofria,
[...]
Primeira tradução
Apossou-se do seu coração uma
espécie de aridez, que nem ao
menos lhe permitia adoçar com
lágrimas os seus sofrimentos, [...]
No exemplo 3, o deslocamento das frases na primeira tradução faz com que a antítese do
original entre “o frio e o isolamento” e “belo céu” também fique deslocada, atenuando o contraste.
Ex. 3, p.70. Original
“Le froid et l’isolement du
sépulcre sous ce beau ciel, à côté
de tant d’urnes funéraires,
poursuivent moins les esprits
effrayés.
Retradução
“O frio e o isolamento do sepulcro
sob esse belo céu, ao lado de tantas
urnas funerárias, perseguem menos
os espíritos aterrorizados.
Primeira tradução
Debaixo dêsse belo céu os
espíritos aterrados, mesmo ao lado
de tantos mulos, são menos
perseguidos pela fria solidão do
sepulcro.
3-Apóstrofe
Apóstrofe é uma figura de estilo caracterizada pela invocação de determinadas entidades,
consoante o objetivo do discurso, que pode ser poético, sagrado ou profano. Caracteriza-se pelo
chamamento do receptor, imaginário ou não, da mensagem. Em síntese, é a colocação de um vocativo
numa oração. É uma característica do discurso direto. No exemplo 1, a primeira tradução não
reproduz a apóstrofe. Para enfatizar, foi colocado vocativo na proposta de retradução.
p.16 Original
Mon Dieu, répondit le comte
d’Erfeuil, je sais ce qu’il faut croire
de ce pays-là, je ne m’attends pas du
tout à m’y amuser.
Retradução
Ó Meu Deus, respondeu o Conde
de Erfeuil, eu sei o que é preciso
pensar desse ps, eu não espero de
maneira alguma me divertir.
Primeira tradução
Bem! Respondeu o Conde. Isso
poderia acontecer se eu não tivesse
ainda a idéia formada a respeito
daquele ps.
69
3- Eufemismo
Eufemismo figura de estilo que consiste em suavizar a expressão de uma idéia modesta,
substituindo o termo contundente por palavras ou circunlocuções menos desagradáveis ou mais
polidas. No trecho 1, a primeira tradução usa um comparativo de superioridade, alterando o seu
sentido. Percebe-se que a primeira tradução usa o comparativo de superioridade com o objetivo de
suavizar a descrição do Conde de Erfeuil feita pelo narrador e a nossa retradução manteve o
comparativo de inferioridade, como no original.
Ex.1, p.13 Original
[...] et il avait dans sa conversation
une gèreté vraiment admirable,
quand il parlait de ses propres
revers, mais moins admirable, il
faut en convenir, quand elle
s’étendait à d’autres sujets.
Retradução
[...] e tinha em sua conversa uma
leveza verdadeiramente admirável
quando falava de seus próprios
reveses, mas menos admirável, é
preciso concordar, quando ela se
estendia a outros assuntos.
Primeira tradução
[...] e havia até na sua narrativa
uma leveza verdadeiramente
admirável quando falava de seus
próprios reveses, ao passo que,
tratando de outros assuntos, a sua
conversação era a mais sisuda e
mais interessante.
No exemplo 2, o eufemismo é apagado na primeira tradução.
Ex2, p. 69 Original
Tous nos chefs-d’oeuvre sont
l’ouvrage de ceux qui ne sont plus,
et le génie lui-même est compté
parmi les illustres morts.
Retradução
Todas nossas obras-primas são
trabalhos daqueles que não
existem mais e o próprio gênio é
considerado entre os ilustres
mortos.
Primeira tradução
Tôdas as nossas obras primas são
produções de gente que morreu, e
o próprio gênio reluz no meio
dos mortos.
4- Inversão
A inversão é o rompimento da ordem direta dos termos da oração (sujeito, verbo,
complementos, adjuntos) ou de nomes e seus determinantes. Esses termos invertidos o postos em
relevo por meio desse processo. Nos exemplos 1 e 2, observa-se que a primeira tradução faz uso
desse recurso de linguagem que não consta no original. No exemplo 3, a primeira tradução o
mantém a inversão do original.
Ex.1, p.31 Original
Un frissonnement inexprimable
s’empara d’Oswald à ce spectacle
[...]
Retradução
Um arrepio inexprimível tomou
conta de Oswald diante desse
espetáculo; [...]
Primeira tradução
Ante êste espetáculo, que lhe
despertava penosas idéias, um
terrível estremecimento se apossou
de Oswald.
70
Ex.2, p.36 Son goût pour les arts
ne s’était point encore développé ;
il n’avait vécu qu’en France, où la
société est tout, et à Londres, où
les intérêts politiques absorbent
presque tous les autres : [...]
Seu gosto pelas artes não estava
absolutamente ainda bem
desenvolvido; vivera apenas na
França, onde a sociedade é tudo, e
em Londres, onde os interesses
políticos absorvem quase todos os
outros.
Tendo vivido ùnicamente em
França, onde a sociedade é tudo, e
em Londres, onde os interêsses
políticos absorvem quase todos os
outros, não tinha ainda o gosto
bem desenvolvido [...]
No exemplo 3, a primeira tradução não mantém a inversão do original.
Ex.3, p.42 Original
mais l’enthousiasme qu’inspirent
aux italiens tous les talens de
l’imagination [...]
Retradução
Mas o entusiasmo que inspiram
nos italianos todos os talentos da
imaginação [...]
Primeira tradução
Mas o entusiasmo que os talentos
da imaginação inspiram aos
italianos [...]
5- Ironia
Ocorre ironia quando, pelo contexto, pela entonação, ou pela contradição de termos, sugere-se
o contrário do que as palavras ou orações parecem exprimir. A intenção é, geralmente, depreciativa
ou sarcástica, embora o sarcasmo tenha um tom mais agressivo. Esta figura, que se caracteriza pelo
emprego inteligente de contrastes, usados literariamente para criar ou ressaltar certos efeitos
humorísticos.
Neste exemplo, o texto original ressalta a fala irônica do Conde de Erfeuil por meio do
emprego de itálico. A primeira tradução atenua a ironia, alterando completamente a maneira
sarcástica dita pelo Conde. A retradução reproduz a ironia, inclusive com a marca do itálico no texto.
p.79 Original
Ah, mon cher comte, dit en riant
M. d’Erfeuil, vous vous adoucissez
donc depuis que vous savez que
Corinne m’a répondu ; mais enfin
je vous aime et tout est pardonné.
Retradução
Ah, meu caro conde, disse rindo
o Senhor de Erfeuil. Você ficou
amável depois que soube que
Corinne me respondeu, mas enfim,
eu o amo e tudo está perdoado.
Primeira tradução
– Ah ! Meu querido conde ! repetiu
de Erfeuil, sorrindo, como ficastes
doce só de saber que Corina me
respondeu! Enfim, eu sou vosso
amigo e vos perdoo tudo [...]
6- Personificação
A personificação ou prosopopéia, é a figura pela qual o orador ou escritor empresta
sentimentos humanos e palavras a seres inanimados, a animais, a mortos ou a ausentes. No trecho 1,
71
observa-se que a primeira tradução modifica a personificação e o exemplo 2 trata-se de
personificação que não consta no original:
Original
Ex1, p.1[...] des remords inspirés
par des scrupules délicats
aigrissaient encore ses regrets, [...]
Retradução
[...] circunstâncias cruéis,
remorsos inspirados por
escrúpulos delicados amargavam
ainda mais seus desgostos [...]
Primeira tradução
[...] e algumas circunstâncias
cruéis, incessantes remorsos
inspirados pela delicadeza dos seus
escrúpulos, amargavam-lhe cada
vez mais os desgostos [...]
Ex.2, p.28 Ce n’étaient point de
méchantes femmes, mais des
imaginations superstitieuses
vivement frappées par un grand
malheur.
Não eram de modo algum
mulheres más, pom imaginações
supersticiosas vivamente atingidas
por uma grande desgraça.
Essas palavras cruéis não eram,
contudo, ditadas por maus
corações, mas por imaginações
supersticiosas e vivamente feridas
pelo desastre.
Neste exemplo 3, mesmo que de uma outra forma, a personificação foi mantida na retradução.
Original Retradução Primeira tradução
Ex.5, p. 43 On se disputait pour
savoir quelle ville d’Italie lui avait
donné la naissance, [...]
Disputavam-se para saber qual
cidade da Itália lhe havia visto
nascer [...]
Ignorava-se absolutamente em que
cidade italiana ela nascera [...]
7 - Perífrase
Em termos gerais, perífrase significa qualquer sintagma ou expressão idiomática mais
desenvolvida e mais ou menos óbvia ou direta que substitui outra. Contudo, o termo é mais utilizado
para identificar uma figura de linguagem que também substitui uma expressão curta e direta por outra
mais extensa e carregada de maior ou menor simbolismo, estando, neste caso, intimamente
relacionada com a antonomásia. O seu uso pode justificar-se por diversas razões, como a não
repetição da mesma palavra em frases próximas ou na mesma frase; para engrandecer o assunto
tratado (neste caso, ligada à hipérbole) ou, pelo contrário, para não lhe darmos demasiado
importância.
Neste exemplo, a perífrase é utilizada no diálogo pelo Conde de Erfeuil com o intuito de
enfatizar e exagerar a narração. A primeira tradução mantém a figura de linguagem, porém com
modificações. A retradução conserva a figura de linguagem da mesma forma apresentada no original,
pois o efeito em português é o mesmo, não há necessidade de alterar a forma.
72
Ex.1, p.88 Original
Oui, madame, lui répondis-je,
c’est lui ; et Corinne alors fondit
en larmes. Elle n’avait pas pleu
pendant l’histoire
Retradução
Sim, senhora, é ele, respondi-lhe.
E Corinne então se derreteu em
lágrimas. Ela não havia chorado
durante a história
Primeira tradução
Sim, senhora, é êle mesmo,
respondi. Os olhos dela se
inundaram de pranto. Enquanto
durara a narração, ela não
derramou uma só lágrima.
8- Zeugma
O zeugma, figura de linguagem abordada nos exemplos abaixo, liga sintaticamente duas ou
várias palavras ou grupo de palavras, subordinando-os a uma mesma palavra, geralmente um verbo,
sem que ela seja repetida. Quando um termo da frase é omitido, a posição do constituinte elido é, na
língua escrita, assinalada por uma rgula. Nem sempre a forma suprimida pode coincidir
morfologiamente com o seu antecedente, podendo ser uma forma “cognata” ou “semelhante”. A
nuância de significação dessa figura é importante: manifesta um conjunto de características do
personagem Oswald, sem explicitar e repetir o verbo avoir, conferindo assim um caráter gradativo e
enfático à construção da frase. No exemplo 1, a primeira tradução não mantém esse caráter gradativo,
pois inclui “além disso” ao final.
Original
Ex.1, p.1. Il avait une figure noble
et belle, beaucoup d’esprit, un
grand nom, une fortune
indépendante; [.. .]
Retradução
Tinha um porte nobre e belo,
muito espírito, um grande nome,
uma fortuna independente; [...]
Primeira tradução
Homem de bela estampa, era
dotado de muito espírito e possuía,
além disso, um grande nome e
uma fortuna independente.
No exemplo 2, a primeira tradução não refaz a figura de linguagem com a omissão de
“incapaz” na comparação, pois acrescenta “inimitável” no lugar de “incapaz de imitar”.
Original
Ex.2, p. 90 [...] et que son esprit
était aussi incapable d’imiter, que
son caractère de feindre.
Retradução
[...] e que seu espírito era o
incapaz de imitar quanto seu
caráter de fingir.
Primeira tradução
[...] e que o seu espírito era tão
inimitável quanto o seu caráter era
incapaz de fingimento.
Pode-se reconhecer a personalidade do autor, graças a tal traço que lhe é particular. Trata-se
da utilização individual feita pelo autor de processos estilísticos universais, por meio da estilística de
sua língua. O léxico, o tipo de discurso, a descrição e algumas figuras de linguagem do original foram
analisados com o objetivo de verificar a maneira como esses aspectos de estilo foram traduzidos e, no
73
que diz respeito aos problemas de tradução, verificar os efeitos da tradução na integridade estilística e
semântica da obra original.
O estudo e a análise dos aspectos de estilo, a partir do original, permitiram verificar na
primeira tradução casos de modificação desses aspectos próprios da autora. Mesmo se no geral a
tradução respeita a estética do original, pode-se perceber um descentramento, pois a primeira
tradução adapta o original, modificando os elementos estilísticos na busca de lhes impor uma nova
individualidade.
A análise das figuras de linguagem permitiu perceber que a primeira tradução, apesar de
preservar em sua maioria as figuras de linguagem tal como elas são apresentadas no original, por
vezes constrói novas figuras de linguagem ou omite algumas delas, com relação ao texto original. A
nossa retradução mantém as figuras de estilo do original, preservando assim seu estilo, ritmo, enfim a
sua letra.
A descrição, outro aspecto característico da obra, interrompe a narração e no texto romanesco
ela raramente tem um valor documentário, ela dá preferencialmente um quadro à narração. No
romance do século XIX a descrição se tornou importante, ela é sempre uma passagem virtuosa na
medida em que ela faz aparecer a riqueza do xico. Ao longo da obra a descrição é feita, na maioria
das vezes, por esse narrador onisciente que muitas vezes assume o papel de guia, assim como Corinne
descreve a Itália. É por meio da voz do narrador que o leitor conhece também os personagens. No
livro I, a cena do incêndio de Ancona é descrita pelo narrador com o uso da hipotipose, figura de
estilo que consiste em descrever uma cena de maneira o chocante, que cria um efeito real e faz o
leitor tenha a sensação de que as presencia pessoalmente. Nos exemplos 1 e 2, a primeira tradução
fortifica a descrição por meio da inclusão de advérbios, adjetivos e explicitações. Pôde-se perceber
também que a maioria das explicitações encontradas ao longo da tradução dos três primeiros livros
são feitas no momento de descrição do narrador.
Ex.1, p. 47 Original
[...] on apercevait bien qu’elle était
contente d’être admirée [...]
Retradução
[...] percebia-se bem que ela estava
contente de ser admirada, [...]
Primeira tradução
Percebia-se claramente a viva
alegria de que ela estava possuída,
vendo-se tão admirada.
Ex. 2, p.33 Original
Lord Nelvil voyant alors que les
flammes gagnaient toujours plus la
maison, et qu’il était impossible de
décider cet insenà se sauver lui-
même, le saisit dans ses bras, [...]
Retradução
Lorde Nelvil, vendo então que as
chamas ganhavam cada vez mais a
casa e que era impossível de
decidir aquele insensato a salvar-se
a si mesmo, apanhou-o em seus
braços, [...]
Primeira tradução
O perigo aumentava de momento a
momento. Vendo que as chamas o
ameaçavam de muito perto e
que era impossível àquele
insensato salvar-se a si mesmo,
Lorde Nelvil o tomou nos braços
com uma fôrça que parecia
sobrenatural.
74
Neste exemplo, pode-se perceber a alternância entre o discurso narrativisado e o discurso
direto, marcado pelas aspas e pela expressão continua-t-il. Na primeira tradução, esses marcadores
são omitidos e o discurso se torna apenas indireto. Como este exemplo, foram verificados ao longo da
tradução outros exemplos de modificação da forma do discurso.
p. 53 Original
Il s’étendit sur son talent
d’improviser, qui ne ressemblait
en rien à ce qu’on est convenu
d’appeler de ce nom en Italie. Ce
n’est pas seulement, continua-t-il,
à la fécondité de son esprit qu’il
faut l’attribuer, mais à l’émotion
profonde qu’excitent en elle toutes
les penes généreuses ;
Retradução
Fez ouvir sobre o seu talento de
improvisar que não se parecia em
nada ao que se convém chamar por
esse nome na Itália. “Não é
somente, continuou ele, à
fecundidade de seu espírito que é
preciso atribuí-lo, mas à emão
profunda que excita nela todos os
pensamentos generosos;
Primeira tradução
Quanto ao seu talento de
improvisar, afirmou êle que em
nada se assemelhava ao que até
eno assim se chamara na Itália.
Não é somente à fecundidade do
seu espírito que se deve atribuir ao
seu dom de improviso, mas à
profunda emoção que excitam na
sua alma todos os pensamentos
generosos.
3.3 ASPECTOS CULTURAIS
O comentário sobre os aspectos culturais, assim como sobre os outros aspectos, caracteriza a
análise do processo tradutório. Os traços culturais da obra devem ser mantidos como parte da
proposta de retradução estrangeirizante. Essas marcas culturais também caracterizam a obra traduzida
como estrangeira e transmissora de uma cultura, a cultura do “outro”.
Os aspectos culturais mantidos pela nossa retradução são demonstrados pela escolha em
manter os nomes dos personagens na forma apresentada no original Corinne, Oswald, Conde de
Erfeuil, enquanto a primeira tradução apresenta os nomes Corina, Oswald, Conde de Erfeuil. Os
títulos de nobreza, pair, lord, comte e mylord foram traduzidos e mantidos com letra maiúscula para
dar destaque, apesar de estarem em minúscula no original: Lorde Nelvil, Conde de Erfeuil, Milorde.
Segundo a definição do Le Robert - pair: nas Constituições de 1814 e 1830, membro da Assembléia
legislativa ou Chambre des pairs. ex:. pair de France; pair d’Écosse. De acordo com Houaiss,
milorde - milord, do inglês, my lord ‘meu senhor’, tratamento que se na Inglaterra aos lordes ou
pares, quando se lhes dirige a palavra. Senhor Conde, meu senhor, foi mantido com minúscula na
retradução. Os títulos de nobreza foram traduzidos, pois existem equivalentes e são conhecidos dessa
forma em português. A primeira tradução apresenta os títulos de nobreza traduzidos em português,
em maiúsculo “Par, Lorde, Conde e Milorde”.
75
Os nomes de lugares, cidades, países, entre outros; foram traduzidos pelos equivalentes em
português, quando possível, como Édimbourg/Edimburgo, Rhin/Reno, Ancone/Ancona,
Levant/Levante, mer Adriatique/mar Adriático, État écclésiastique/Estado eclesiástico, Tyrol/Tirol.
Em alguns nomes, manteve-se o nome original, por ser conhecido em português dessa forma como A
colonne Antoine, traduziu-se por “Coluna Antonine” e le dôme des Invalides, por “o domo dos
Invalides”, na primeira tradução consta “coluna Antonia” e “o zimbório dos Inválidos”.
O nome da catedral S. Ciariaco, foi traduzido por “S. Ciríaco”, com abreviação de Saint, São,
la porte du Peuple por “a Porta do Povo” e acrescentou-se breve nota explicativa e la Marche
d’Ancone por A região de Ancona”, com uma nota explicativa (N.d.T). O Corso, (do it. curso,
percurso, viagem por mar), não foi traduzido, manteve-se o original em italiano, com uma breve nota
explicativa. O nome do bairro onde se situa a casa de Corinne, em francês Transtéverins, foi mantido
pela forma em italiano, “Transtevere”, por ser mais conhecida. No original consta o nome antigo da
cidade, Embden, mas traduziu-se pelo nome atual da cidade “Emden” e acrescentou-se nota
explicativa. A primeira tradução mantém o nome Embden. O nome da cidade austríaca Innsbruck foi
mantido por Innsbruck e foi acrescentada nota da tradutora, pois consta no original a grafia Inspruck e
na primeira tradução Inspruk.
No exemplo 1, optou-se em traduzir por “portas” e não por “barreiras”, pois nas cidades
antigas e medievais, “porta” era a grande abertura na muralha que protegia a cidade, por onde
passavam pessoas, carros de guerra, cavaleiros etc. Na Idade Média, o bairro dos judeus era cercado
por muralhas e fechado por portas durante a noite para defesa dos católicos que o recusavam.
Original
p.28. [...] on lui dit qu’ils partaient
du quartier des Juifs : l’officier de
police avait coutume de fermer les
barrières de ce quartier le soir [...]
Retradução nossa
[...] disseram-lhe que eles saíam do
bairro dos judeus. O oficial de
polícia tinha o costume de fechar
as portas desse bairro à noite [...]
Primeira tradução
[...] soube que era do bairro dos
judeus. O oficial da polícia
costumava fechar tôdas as noites
as portas daquele distrito [...].
No livro II, traduziu-se Sybille du Dominiquin por Sibila de Domenico. A primeira tradução
mantém Sibila de Dominiquin. Domenico Zampieri, conhecido como Domenichino, foi um pintor
italiano do século XVII.
Appartement foi traduzido por “aposentos”, pois em português “apartamento” é datado do fim
do século XIX e em francês é usado desde o século XVI. A primeira tradução omitiu a palavra
appartement.
76
Original
p.82. Corinne n’était point encore
dans son cabinet lorsqu’Oswald
arriva ; en l’attendant, il se promenait
avec anxté dans son appartement ; il
y remarquait, dans chaque détail, [...]
Retradução
Corinne não estava ainda na sua sala
quando Oswald chegou. Esperando-a,
ele andava com ansiedade de um lado
a outro pelos aposentos e percebia,
em cada detalhe que via, [...]
Primeira tradução
Quando eles chegaram Corina ainda
não estava nessa sala. Enquanto a
esperavam, Oswald esperava,
inquieto, notando cada detalhe, [...]
Outro aspecto é a tradução de midi. O midi é mencionado no texto para opor o norte e o sul do
continente europeu, ou seja, Inglaterra e Itália. Em francês é corrente dizer le peuple du midi, mas em
português o uso de “meio-dia” no sentido de sul de um território, é raramente usado. Dessa forma,
optou-se por traduzir os povos do sul, a região do sul”, no lugar de meio-dia, ao contrário de
algumas ocorrências na primeira tradução:
Original Retradução Primeira tradução
[...] la vie brillante du midi / a vida brilhante do sul / a vida brilhante do meio-dia.
Algumas “estranhezas” como a tradução de midi para “meio-dia” não foram mantidas, pois
não são elementos característicos da obra original. A tradução precisa considerar e conciliar a relação
lingüística e histórica, o contexto, entre outros fatores que estão relacionados às duas línguas em
questão. Conforme afirma Berman (1995), o tradutor deve realizar um trabalho textual que
corresponde com a textualidade do original.
77
3.4 OUTROS ASPECTOS LINGÜÍSTICOS DE TRADUÇÃO
Além dos aspectos semânticos, culturais e de estilo, comentam-se outros aspectos referentes à
primeira tradução e à retradução. Reiterando os conceitos de Berman sobre a tradução da letra, busca-
se associar a tradução às expressões da língua original, de forma que essa aproximação do original
não traga desvantagens para a língua de chegada. Assim, procura-se associar às formas de estilo
manifestas pelo escrito na obra original.
Quanto à sintaxe das frases, procurou-se reproduzir sempre que possível a ordem apresentada
no original, o que não é problemático na maioria das vezes, devido à semelhança entre o francês e o
português. Manteve-se a pontuação do texto original (ex.1), por vezes ela foi modificada quando
necessário ao ritmo do período. Em muitos casos, os dois pontos no original, no sentido de causa,
conseqüência, oposição, foram substituídos por ponto final, ou ponto e vírgula, ou ainda pela
conjunção “pois” (ex.2).
Ex. 1, p.7 Original
Deux ou trois fois, dans le
passage de Harwich à Embden, la
mer menaça d’être orageuse ; lord
Nelvil conseillait les matelots,
rassurait les passagers, et quand il
servait lui-même à la manoeuvre,
quand il prenait pour un moment la
place du pilote, il y avait, dans tout
ce qu’il faisait, une adresse et une
force qui ne devaient pas être
considérées comme le simple effet
de la souplesse et de l’agilité du
corps, car l’ame se mêle à tout.
Retradução
Duas ou três vezes, na
passagem de Harwich a Emden Ι,
o mar ameaçou tornar-se
tempestuoso; Lord Nelvil
aconselhava os marinheiros,
acalmava os passageiros e quando
ele mesmo executava a manobra,
quando ele assumia por um
momento o lugar do piloto, havia
em tudo o que ele fazia uma
destreza e uma força que não
deviam ser consideradas como o
simples efeito da leveza e da
agilidade do corpo, pois a alma se
mistura a tudo.
Primeira tradução
Durante a passagem de Harwich
e Embden, por duas ou três vêzes o
mar se tornou tempestuoso, e
Lorde Nelvil ora aconselhando a
tripulação, ora animando os
passageiros e ajudando, êle
mesmo, as manobras, ora tomando
por momentos o lugar do pilôto,
deixava claramente perceber que
alma é que dirige calmamente as
nossas ações, pois em tudo que êle
fazia havia tanta destreza e tanta
fôrça que essas não poderiam ser
consideradas ùnicamente como o
simples efeito do desembaraço e
da agilidade do corpo.
Ex.2, p.11 Original
Oswald aimait assez l’émotion du
danger : elle soulève le poids de la
douleur, elle réconcilie un moment
avec cette vie qu’on a reconquise,
et qu’il est si facile de perdre.
Retradução
Oswald gostava bastante da
emoção do perigo, pois ela retira o
peso da dor e nos reconcilia um
momento com esta vida que
reconquistamos e que é tão fácil de
perder.
Primeira tradução
Oswald gostava da emoção
causada pelo perigo. Êsse
sentimento costumava aliviar em
parte o pêso da dor e nos reconcilia
um momento com uma vida que nos
parece reconquistada e que é tãocil
de perder.
78
A divisão dos parágrafos na primeira tradução foi reproduzida da mesma forma que no
original. Na primeira tradução, encontram-se parágrafos divididos de maneira diversa da que consta
no original. O tempo verbal francês Passé Simple foi traduzido para o Pretérito Perfeito simples, pois
não em português um tempo verbal da mesma ordem. O Passé Simple é utilizado em Francês, na
linguagem escrita e em textos literários, para narrar o passado. O locutor apaga-se diante da narrativa
e considera os acontecimentos que narra como vistos de fora, pois estão desvinculados do momento
da enunciação. O Plus-que-parfait foi traduzido na maioria das vezes para Pretérito-mais-que-perfeito
simples, usado na linguagem formal, no lugar do Pretérito-mais-que-perfeito composto.
p.24. Original
Lord Nelvil avait fixé son
départ pour Rome au lendemain,
lorsqu’il entendit pendant la nuit
des cris affreux dans la ville [...]
Retradução nossa
Lorde Nelvil fixara sua
partida para Roma no dia
seguinte, quando ele ouviu,
durante a noite, gritos horríveis
na cidade.
Primeira trad.
Lorde Nelvil estava na véspera de
partir para Roma, quando gritos
aflitos, repetidos em tôda a cidade, o
despertaram no maior silêncio da
noite, [...]
O texto original apresenta os diálogos dos personagens principais indicados pelo travessão, de
forma contínua no texto, com inclusões do narrador no meio das falas, ou seja, sem acrescentar
parágrafos. Os diálogos dos personagens principais na primeira tradução se apresentam ora no corpo
do parágrafo que segue, ora separados do parágrafo.
p.79-80 Original
Vous viendrez avec moi, dit le
comte d’Erfeuil. Hé bien oui,
répondit lord Nelvil avec un
embaras très-visible. Pourquoi
donc, continua le comte d’Erfeuil,
pourquoi s’être tant plaint de ce
que j’ai fait ?
Retradução
– Você virá comigo, disse o Conde
de Erfeuil. Pois sim, respondeu
Lorde Nelvil com um visível
embaraço. Por que então,
continuou o Conde de Erfeuil, por
que se queixou tanto do que fiz?
Primeira tradução
– Então, ireis comigo?
– Sim, respondeu Lorde Nelvil,
visívelmente embaraçado.
Mas então por que motivos
levastes tanto a mal o que eu fiz?
O original apresenta as falas dos personagens secundários em itálico. Na primeira tradução,
encontraram-se falas dos personagens secundários da narrativa iniciadas pelo travessão ou colocadas
entre aspas. Optou-se para este projeto de retradução manter a forma como é apresentada no original,
com os dois pontos e itálico, como no exemplo.
79
p.26 Original
Les habitans qui le virent entrer
dans la chaloupe lui criaient : Ah !
Vous faites bien, vous autres
étrangers, de quitter notre
malheureuse ville.
Retradução
Os habitantes que o viram entrar
no bote gritaram-lhe: Ah! Vocês
fazem bem, vocês estrangeiros, em
deixar nossa infeliz cidade.
Primeira tradução
Os habitantes apavorados, que o viram
embarcar, exclamaram quase em
desespero: Vós é que fazeis bem, vós,
estrangeiros, que nada perdeis em
deixar a nossa infeliz cidade!
O pronome demonstrativo neutro cela, de acordo com Bescherelle (1997), é utilizado em
francês na linguagem escrita, substitui um nome, um infinitivo ou uma toda uma proposição. No
exemplo 1, a primeira tradução acrescentou a frase explicativa que retoma a proposição anterior de
“ocupar-se dele” e no exemplo 2 o pronome é também traduzido de forma explicativa. Percebe-se
neste exemplo um dos processos da adaptação chamado de expansão.
Ex.1, p. 14 Original
[...] quand il fallait moccuper de
lui, cela remplissait ma journée, à
présent les vingt-quatre heures me
pèsent beaucoup.
Retradução
Quando era preciso me ocupar
dele, isso preenchia meu dia, mas
agora, as vinte e quatro horas me
pesam muito.
Primeira tradução
Enquanto ele vivia, os cuidados
que eu era obrigado a dispensar-
lhe bastavam para preencher meus
dias. Mas agora, as vinte e quatro
horas me custam muito.
Ex.2, p.16 Vous n’avez pas été
tenté d’apprendre l’italien,
interrompit Oswald. Non, du tout,
reprit le comte d’Erfeuil, cela
n’entrait pas dans le plan de mes
études. Et il prit en disant cela un
air si rieux, qu’on aurait pu
croire que c’était une résolution
fondée sur de graves motifs.
Nunca se sentiu tentado a
aprender o italiano? interrompeu
Oswald. Não, jamais, retomou o
Conde de Erfeuil, isso nunca
entrou no plano de meus estudos.
E ele adquiriu, dizendo isso, um ar
tão sério que se poderia ter
acreditado que era uma resolução
fundada em graves motivos.
Nunca procurastes aprender o
italiano? indagou Lorde Nelvil.
Nunca. Jamais isso entrou nos
meus planos de estudo, respondeu
o Conde. E o tom rio e decidido
da resposta parecia mostrar que
essa resolução era fundada em
graves motivos.
A locução adverbial à peine, traduzida por “apenas” ou “mal”. Na primeira tradução, em
algumas ocorrências, traduziu-se à peine por “apenas” (exemplo 1) e, na maioria, omitiu-se a locução
adverbial (exemplos 2 e 3).
Original
Ex.1, p.9 [...] mais traverser des
pays inconnus, entendre parler un
langage que vous comprenez à
peine, [...]
Retradução
Atravessar cidades desconhecidas,
ouvir continuadamente uma
linguagem que apenas se
compreende, [...]
Primeira tradução
Atravessar países desconhecidos,
escutar falar uma língua que
apenas se compreende, [...]
Ex.2, p.26 [...] les habitans
d’Ancone restaient immobiles,
comprenant à peine ce que ces
étrangers voulaient faire [...]
[...] os habitantes de Ancona
ficaram imóveis, mal entendendo o
que esses estrangeiros pretendiam
fazer [...]
[...] os habitantes da cidade se
conservaram imóveis, não
compreendendo o que êsses
estrangeiros tencionavam fazer
[...].
80
Original
Ex.3, p.28 Oswald contenait à
peine son indignation en entendant
ces étranges prières.
Retradução
Oswald mal continha sua
indignação ao escutar essas
estranhas preces.
Primeira tradução
Oswald ouviu-as, com indignação
e mandou [...]
Neste exemplo, manteve-se a relação comparativa de inferioridade, como no francês. Essa
escolha prioriza um aspecto da língua francesa que pode ser reproduzido em português e causa
“estranheza” ao leitor.
p.19. Original
La tristesse qui consumait Oswald
eût mis moins d’obstacles au
plaisir qu’il pouvait goûter par
l’Italie, que la gaie même du
comte d’Erfeuil ; [...]
Retradução
A tristeza que consumia Oswald
colocara menos obstáculos ao
prazer que ele podia experimentar
pela Itália, que a própria
jovialidade do Conde de Erfeuil.
Primeira tradução
A jovialidade do Conde de Erfeuil
opunha ainda maiores obstáculos
ao prazer que Lorde Nelvil poderia
gozar na Itália, do que sua própria
tristeza.
Os pronomes complemento franceses (pronoms compléments) en e y, que não possuem
equivalentes em português, foram retomados de outras maneiras, com outras expressões, apenas
quando necessário em português. De acordo com Grevisse (1993), o pronome y pode substituir um
objeto indireto introduzido pela preposição à
p.1 Original
[...] des circonstances cruelles,
des remords inspirés par des
scrupules délicats aigrissaient
encore ses regrets, et
l’imagination y mêlait ses
fantômes.
Retradução
[...] circunstâncias cruéis e
remorsos inspirados por
escrúpulos delicados amargavam
ainda mais seus desgostos, aos
quais a imaginação misturava
seus fantasmas.
Primeira tradução
[...] e algumas circunstâncias cruéis,
incessantes remorsos inspirados pela
delicadeza dos seus escrúpulos,
amargavam-lhe cada vez mais os
desgostos a que a imaginação
acrescentava ainda os seus fantasmas.
O pronome y pode substituir todas as expressões que indicam localização, direção e lugar
introduzidas pelas preposões: chez, dans, devant, derrière, en , sous, sur, au dessous de, au dessus
de.
p. 29 Original
Il ne restait plus qu’une maison au
haut de la ville, que les flammes
entouraient tellement qu’il était
impossible de les éteindre, et plus
impossible encore d’y pénétrer.
Retradução
Restava apenas uma casa no alto
da cidade, as chamas cercavam-na
de tal modo que era impossível
apagá-las e mais impossível ainda
nela penetrar.
Primeira tradução
Apenas restava uma casa no alto
da cidade, tão cercada pelas
chamas que era impossível apagá-
las e mesmo penetrar até lá.
81
O pronome En pode substituir um objeto indireto introduzido pela preposição de. Pode se
tratar de uma coisa, de um lugar ou de toda uma proposição. No exemplo 1, a primeira tradução
retoma o pronome com a repetição de “penas” e “desgostos” e esclarece a frase. O galicismo “estar ao
abrigo” foi mantido para causar no leitor a “estranheza”. No exemplo 2, o pronome en é novamente
explicitado.
Ex.1, p.3 Original
[....] ce qu’il avait éprouvé lui
faisait peur, et rien ne lui paraissait
valoir dans ce monde la chance de
ces peines : mais quand on est
capable de les ressentir, quel est le
genre de vie qui peut en mettre à
l’abri?
Retradução nossa
O que experimentara causava-lhe
medo e nada lhe parecia
compensar nesse mundo a sorte
desses pesares, mas quando somos
capazes de ressenti-los, qual é o
gênero de vida que pode estar ao
abrigo deles?
Primeira tradução
Enchia-se de horror com a
lembrança de quanto sofrera, e
nada lhe parecia que no mundo
pudesse compensar-lhe essas
penas. Que gênero de vida pode
preservar de desgostos um coração
senvel?
Ex.2, p.3 Il y avait dans cette
habitation des chambres, des
places dont il ne pouvait approcher
sans frémir : et cependant quand il
se résolut à s’en éloigner, il se
sentit plus seul encore.
Havia nessa casa quartos e lugares
dos quais ele não podia se
aproximar sem tremer, e, no
entanto, quando resolveu afastar-se
deles, sentiu-se ainda mais só.
Nessa habitação havia quartos,
móveis e recantos, enfim, de que
ele não podia aproximar-se sem
estremecer ante a solidão que o
rodeava. No entanto, quando se
decidiu a partir, quando se
ausentou dêsses mesmos lugares,
como lhe pareceu estar
verdadeiramente só!
No exemplo 3, a explicitação é necessária e utilizada pela retradução e pela primeira tradução,
pois apenas um outro pronome o poderia substituir toda a proposição que é expressa pelo pronome
em francês.
Ex.3, p.8 Original
Oswald n’avait pas exprimé
cependant une seule fois sa peine,
et les hommes d’une autre classe
qui avaient fait le trajet avec lui ne
lui en avaient pas dit un mot.
Retradução
No entanto, Oswald não exprimira
uma única vez sua tristeza e os
homens de uma outra classe que
fizeram o trajeto com ele não lhe
disseram uma palavra a respeito.
Primeira tradução
Entretanto, os homens de outra
classe, que tinham igualmente
feito a viagem com êle, não lhe
disseram sobre isto uma palavra!
Em português, o pronome pode ser retomado, mas nem sempre isso é necessário, como o caso
do exemplo abaixo, na expressão s’en aller que significa “partir de um lugar onde se está”. Se fosse
necessário substituir o pronome, poderia-se traduzir “e saiu dali”.
82
Ex.1, p.15 Original
En achevant ces mots, le comte
d’Erfeuil salua lord Nelvil de la
meilleure grâce du monde, convint
de l’heure du part pour le jour
suivant, et s’en alla.
Retradução
Dizendo essas palavras, o Conde
de Erfeuil saudou Lorde Nelvil
com a melhor cortesia do mundo,
combinou a hora da partida para o
dia seguinte e saiu.
Primeira tradução
Assim dizendo, o Conde de Erfeuil
cumprimentou Lorde Nelvil com a
maior cortesia e saiu, depois de
terem ajustado a hora em que
deviam viajar convosco.
No exemplo 2, observa-se, da mesma forma que no exemplo 1, que a tradução do en não é
necessária.
Ex.2, p.9 Original
Voyager est, quoi qu’on en puisse
dire, un des plus tristes plaisirs de
la vie.
Retradução
Viajar é, apesar do que se possa
dizer, um dos mais tristes prazeres
da vida.
Primeira tradução
Apesar de tudo o que se possa
dizer, viajar é sempre um dos mais
tristes prazeres da vida.
Conforme os exemplos e comentários sobre a tradução dos pronoms compléments franceses y
e en, percebeu-se que a retradução os substitui por outros pronomes em português quando necessário.
Seguindo as regras da língua portuguesa, não necessidade de explicitar tais pronomes em alguns
contextos. O que caracteriza a primeira tradução é a explicitação desses pronomes em contextos
desnecessários (exemplos 2 e 3).
3.5 O TRATAMENTO
O pronome vous e a tradução para a pessoa do plural “nós”. O narrador é heterodiegético,
não é personagem da narrativa, mas por vezes interage com o leitor, mantendo uma relação dialógica
indireta entre narrador e leitor. Dessa forma, optou-se por adaptar e traduzir essa relação utilizando a
primeira pessoa “nós”, assim como na primeira tradução.
Ex.1, p. 6 Original
Mais cette mort qui vient sans que
le courage l’ait cherchée ; cette
mort des ténèbres qui vous enlève
dans la nuit ce que vous avez de
plus cher, qui méprise vos regrets,
repousse votre bras, et vous
oppose sans pitié les éternelles lois
du temps et de la nature ; [...]
Retradução
Mas essa morte que vem sem que
a coragem a tivesse procurado,
essa morte das trevas que nos tira à
noite o que temos de mais
estimado, que despreza nossos
arrependimentos, retem nossos
braços e nos opõe sem piedade às
eternas leis do tempo e da
natureza; [...]
Primeira tradução
Essa morte lenta, que vem sem que
um gesto de bravura a tenha
procurado, essa morte que vem
dissimuladamente roubar-nos tudo
que temos de mais caro, e que,
desprezando os nossos pezares,
repelindo os nossos braços, nos
impõe sem piedade as leis eternas
do tempo e da natureza, [...]
8
3
Original
Ex.2, p.9 [...] mais traverser des
pays inconnus, entendre parler un
langage que vous comprenez à
peine, voir des visages humains
sans relation avec votre passé ni
avec votre avenir, c’est de la
solitude et de l’isolement sans
repos et sans dignité ; car cet
empressement, cette hâte pour
arriver personne ne vous
attend, cette agitation dont la
curiosité est la seule cause, vous
inspire peu d’estime pour vous-
même, jusqu’au moment les
objets nouveaux deviennent un peu
anciens, et créent autour de vous
quelques doux liens de sentiment
et dhabitude.
Retradução
Atravessar países desconhecidos,
escutar falar uma língua que
apenas se compreende, ver
semblantes humanos sem relação
com o nosso passado nem com
nosso futuro é solidão e
isolamento, sem descanso e sem
dignidade, pois essa diligência,
essa pressa para chegar onde
nenhuma pessoa nos espera, essa
agitação da qual a curiosidade é a
única causa, inspira-nos pouca
estima por nós mesmos, até o
momento em que os objetos novos
tornam-se um pouco antigos e
criam em torno de nós alguns
doces laços de sentimento e de
hábito.
Primeira tradução
Atravessar cidades desconhecidas,
ouvir continuadamente uma
linguagem que apenas se
compreende, ver a cada passo
figuras humanas que nada têm a
ver com o nosso passado ou com
nosso futuro, - a isto é se chama
viver só, isolado, sem repouso e
sem dignidade, porque êsse desejo,
essa agitação que tem a
curiosidade por motivo, inspira-
nos pouca estima por nós mesmos,
até o momento em que os objetos
novos que nos rodeiam se tornam
mais antigos pelo decurso do
tempo e principiam a criar em
tôrno de s alguns doces laços de
sentimento e de costume.
Durante os diálogos entre os personagens Conde de Erfeuil, Lorde Nelvil, Corinne e príncipe
de Castel-Forte, traduziu-se vous para você ou senhor, mantendo a relação formal estabelecida entre
eles também pelos títulos de nobreza. A primeira tradução utiliza o vós na segunda pessoa do singular
e os títulos de nobreza para marcar a formalidade entre os dois personagens.
Segundo Grevisse (1977) em francês uma rígida distinção entre os pronomes tu e vous.
Vous como segunda pessoa do singular é usado para abordar pessoas desconhecidas em
circunstâncias normais, pessoas que têm status sociais ou hierárquicos diferentes, como aluno e
professor, chefe e empregado e também para pessoas mais velhas. Em geral, adolescentes e crianças
usam tu para falar entre si. O pronome vous é usado também para a segunda pessoa do plural em
todas as situações.
De acordo com Cunha e Cintra (1985, p. 277), na língua portuguesa o pronome pessoal vós de
cerimônia, que corresponde à pessoa do plural, funciona como sujeito do verbo e serve para se
dirigir a duas ou mais pessoas. O pronome vós praticamente desapareceu da linguagem corrente do
Brasil e de Portugal. Mas em discursos enfáticos alguns oradores ainda se servem da pessoa do
plural para se dirigirem cerimoniosamente a um auditório qualificado. O uso de vós como referência a
uma só pessoa é normal como tratamento de cerimônia em português antigo e clássico e emprega-se
ainda, por vezes, na linguagem literária de tom arcaizante para expressar distância, apreço social. Vós
foi usado durante muito tempo como a forma normal por que os católicos portugueses e brasileiros se
dirigiam a Deus, tratamento que ainda prevalece.
84
Para Ferreira (2007) o pronome vós é encontrado em traduções de peças, em que aparecem
reis e rainhas para tratar personagens clássicos, ou de certa forma anteriores a Revolução Francesa e a
Revolução Industrial, marcos de uma mudança social no Ocidente, a impressão no Brasil de um
formalismo extremo, no entanto, ele não é absolutamente formal em Portugal, quando se refere a mais
de uma pessoa ainda que seu uso como tratamento cerimonioso esteja diminuindo. O uso de vós com
o mesmo grau de formalismo de tu, referindo-se a mais de uma pessoa é pouco utilizado em Portugal,
hoje se usa muito você, vocês, enquanto que no Brasil vamos encontrar vós apenas em textos do
passado, referindo-se a uma pessoa, indicando tratamento dado à aristocracia e não exista na língua
oral, referindo-se a mais de uma pessoa. Teyssier (1997, p. 107) afirma que o português do Brasil
simplificou o código de tratamento, o vós desapareceu, sendo substituído por você que é usado no
tratamento familiar e senhor ou senhora que é mais reverente.
Segundo Cintra (1986), existiam entre o final do culo XIII e a primeira metade do século
XIV duas únicas maneiras de se dirigir a um interlocutor tu e vós, este para tratamento deferente e
aquele e aquele para o trato familiar, desconhecendo-se, assim, formas que levassem o verbo para a
terceira pessoa. Cabia, dessa maneira, à forma vós, o papel de exercer o tratamento cerimonioso
predileto da realeza portuguesa. No entanto, já nos séculos XIV e XV, Cintra (1986) consegue
identificar, nas Crônicas de Fernão Lopes, ocorrências de algumas formas nominais de tratamento
como vossa mercê, Vossa Alteza e Vossa Senhoria. A introdução dessas formas indiretas de
tratamento, além de Vossa Excelência, conduziu a uma sensível mudança nas estratégias de
tratamento da ngua portuguesa uma vez que surgiram formas para evocar a segunda pessoa do
discurso, que levavam o verbo para a terceira pessoa do singular. No período dos séculos XIV e
XVIII, mudou-se o sistema de tratamento, substituindo o tu/vós do latim tardio por um sistema de
formas de tratamento que se combinava com verbos na 3ª pessoa. Para Cintra (1986), essas mudanças
nos séculos XV e XVI devem ser entendidas a partir do contexto histórico-social português, uma vez
que se buscavam novas formas de demonstração de polidez para com a realeza. O vós foi então
substituído por Vossa mercê que por volta de 1460 se dirigia ao rei de Portugal; mais tarde a alguns
membros da nobreza e no século XVI à burguesia e por volta do século XVII e XVIII foi substituído
por vocês. É importante mencionar brevemente a situação do Brasil em relação à introdução de vossa
mercê no sistema pronominal. Faraco (1996, p.64) lembra que, no final do século XV, o uso de
vossa mercê (e suas variantes) era generalizado na população não aristocrática, pertencendo a ela boa
parte dos primeiros colonizadores do Brasil. Durante a colonização (século XVI), dois processos de
mudança estavam bastante avançados: a arcaização do vós e a simplificação fonética de vossa
mercê. Por esse motivo, o autor argumenta que “desde o início da ocupação européia do Brasil, as
85
formas predominantes de tratamento do interlocutor eram as diferentes variantes de vossa mercê.”
(FARACO, 1996, p.65).
Portanto, a partir das informações históricas sobre o uso dos pronomes no português do
Brasil, pode-se justificar a escolha em utilizar o pronome você na retradução, já que no final do
século XVII, conforme Faraco, o vós já era considerado arcaico. Considerou-se essa época, pois a
narrativa se passa entre 1794 e 1795. O uso do vós causaria ao leitor uma impressão de
distanciamento na época em que se passa o texto que não corrresponde em português à época em que
a narrativa se passa em francês.
Quando na obra o pronome em francês vous é usado para indicar a segunda pessoa do plural,
traduziu-se por vocês como nos exemplos 2 e 3. A primeira tradução manteve o uso do s” neste
contexto.
Original
Ex.1, p.14 Je vous ai beaucoup
d’obligation, mylord, dit le comte
d’Erfeuil, de me tirer de cette
Allemagne où je m’ennuyais à
périr.
Retradução
Eu lhe devo muita obrigação,
Milorde, disse o Conde de Erfeuil,
por me tirar daqui dessa Alemanha
onde eu morria de tédio.
Primeira tradução
Grande reconhecimento vos
devo, Milorde, disse o Conde de
Erfeuil, por me ajudardes a sair
desta Alemanha que me aborrece
de morte.
Ex.2, p.26 Les habitans qui le
virent entrer dans la chaloupe lui
criaient : Ah ! Vous faites bien,
vous autres étrangers, de quitter
notre malheureuse ville.
Os habitantes que o viram entrar
no bote gritaram-lhe: Ah! Vocês
fazem bem, vocês estrangeiros, em
deixar nossa infeliz cidade.
Os habitantes apavorados, que o
viram embarcar, exclamavam
quase em desespero: Vós é que
fazeis bem, vós, estrangeiros, que
nada perdeis em deixar a nossa
infeliz cidade!
Ex.3, p.38 En approchant de
Rome, les postillons s’écrièrent
avec transport : Voyez, voyez, c’est
la coupole de Saint-Pierre ! Les
Napolitains montrent ainsi le
Vésuve ; et la mer fait de même
l’orgueil des habitans des côtes.
Aproximando-se de Roma, os
postilhões gritaram com
entusiasmo: Vejam, vejam, ali
está a cúpula de São Pedro! Os
napolitanos mostram da mesma
forma o Vesúvio e o mar causa o
mesmo orgulho dos habitantes da
costa.
De repente avistaram Roma. E os
postilhões gritaram imediatamente,
com entusiasmo: Olhai ! Olhai,
ali está a cúpula da Igreja de S.
Pedro! Da mesma forma os
napolitanos mostraram o Vesúvio
e o mar constitui o orgulho dos
que habitam na sua vizinhança.
Na retradução, para marcar a formalidade ao primeiro encontro entre os personagens, nos
diálogos iniciais foi utilizado o senhor, o senhor lorde/conde, a senhora. Em seguida, depois de
haverem dialogado um pouco mais, os personagens se tratam por “você”. O exemplo mostra o
primeiro encontro de Lorde Nelvil e Corinne em sua casa.
86
p.84 Original
Sûrement, dit Oswald, l’anglais
est votre langue naturelle, celle
que vous parlez à vos amis, celle...
Je suis Italienne, interrompit
Corinne, pardonnez-moi, milord,
mais il me semble que je retrouve
en vous cet orgueil national qui
caractérise souvent vos
compatriotes.
Retradução
– Certamente, o inglês é sua língua
natural, aquela que a senhora fala
com os seus amigos, aquela....
- Eu sou italiana, interrompeu
Corinne, perdoe-me, Milorde, mas
parece que encontro no senhor
esse orgulho nacional que
caracteriza seus compatriotas.
Primeira tradução
Com certeza o inglês é a vossa
língua natural, a que falais aos
vossos maiores amigos, a que...
Mas sou italiana, interrompeu
Corina. Perdoai, Milorde, parece-
me que tendes êsse mesmo
orgulho nacional que caracteriza
sempre os vossos compatriotas.
O projeto de retradução considera a época em que a obra foi escrita, baseando-se na evolução
do pronome você em português, para as escolhas relacionadas à tradução de vous em francês.
3.6 AS NOTAS
Na versão original do romance, Gallimard (1985), as notas da editora são indicadas por letras
minúsculas em itálico, iniciadas a cada capítulo que são quatro ou cinco por livro; as notas de Mme
de Staël no texto original o indicadas por algarismos arábicos e se encontram reunidas no fim da
obra, assim como as notas da editora. Apenas as notas da autora que são indicadas por asterisco
remetem ao fim da página. uma explicação da página anterior ao início da obra original sobre as
notas que seguem. As notas da autora que estão no rodadas páginas são referências de trechos que
ela cita e aquelas apresentadas no final da obra são mais longas e constituem o julgamento e o
comentário pessoal, onde aparece, segundo Didier (1999, p.84) a personalidade de Staël.
Para a nossa proposta de retradução, foram mantidos os mesmos indicadores de notas do
original, ou seja, letras minúsculas para as notas da editora, números e asteriscos para as notas da
autora. Optamos não utilizar uma quantidade excessiva de notas explicativas (N.d.T), além daquelas
feitas pela editora e pela escritora. As nossas notas (N.d.T) estão indicadas por algarismos romanos e,
egundo Klaudi (2001), são explicitações pragmáticas de informações culturais de alguns nomes de
cidades e monumentos mencionados no texto.
Ι No original consta o nome antigo da cidade, Embden, mas atualmente o nome da cidade alemã é
Emden. (N.d.T.)
ΙΙ No original consta Inspruck, mas o nome da cidade austríaca é Innsbruck. (N.d.T.)
ΙΙΙ Marche d’Ancone - Antiga província do Estado eclesiástico, que corresponde atualmente à
província de Ancona, na região des Marches (pt. Marcas, it. Le Marche), na Itália. (N.d.T.)
ΙV Em italiano, Porta del Popolo, é uma das portas da Muralha Aureliana (Mura Aureliane). (N.d.T.)
87
V Em Italiano, Corso é nome que se dá às estradas urbanas relevantes na fisionomia de uma cidade e
significativas do ponto de vista histórico e territorial. (N.d.T.)
Todas as notas da autora que estão no original, as de roda e de fim de volume, foram
disponibilizadas no rodapé da página para facilitar a leitura, visto que não um número exagerado
delas ao longo do texto; as notas da editora, as nossas (N.d.T.) e as notas da editora sobre as notas da
autora foram agrupadas no final do apêndice.
A escolha em manter as notas da autora e as notas da editora mostra que a obra original
utilizada na retradução está apresentada na íntegra ao leitor. As notas da editora o consideradas
relevantes para este projeto de retradução, pois apresentam ao leitor informações culturais e históricas
que nem sempre são previamente conhecidas por ele.
88
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As obras de Mme de Staël são pouco conhecidas e estudadas no Brasil. Uma escritora da sua
importância para a literatura, não francesa, como universal, é merecedora de um espaço de estudo
na área da literatura e dos estudos da tradução. O conhecimento de sua obra por meio das traduções
no Brasil ainda é muito restrito, devido à quase inexistência de obras suas traduzidas e em circulação,
ao contrário da Inglaterra, Alemanha, Itália e mesmo Espanha que possuem um número considerável
de traduções das obras de Staël.
Esta pesquisa objetivou em primeiro lugar a análise do original, da primeira tradução
existente em português e, em segundo lugar, a retradução nossa com os comentários teóricos e
críticos dos três primeiros livros da obra Corinne ou l’Italie, da escritora Madame de Staël. A
introdução apresentou a literatura de Madame de Staël, sua vida, suas obras e o contexto em que
foram publicadas. No primeiro capítulo foi analisada a obra original de estudo: Corinne ou l’Italie e a
primeira tradução Corina ou a Itália (Edições Cultura, série Novelas Universais), o que permitiu
obter as bases para propor uma retradução. O percurso de análise da primeira tradução foi baseado
naquele proposto por Berman em Pour une critique des traductions: Jonh Donne (1995), sem
objetivar a crítica da tradução, apenas analisá-la na condição de tradutora da mesma obra. Como não
se tem os dados sobre o tradutor, não foi possível determinar a posição tradutiva e o horizonte
tradutivo, sabe-se apenas que a obra faz parte de um projeto de reedição de traduções das Edições
Cultura, para uma coleção com um determinado tipo de obra.
A partir dos conceitos referenciados por Bastin, verificaram-se os prováveis os processos de
adaptação na primeira tradução, mas sem considerar que todas as operações utilizadas na tradução são
adaptações. Foi possível perceber que a primeira tradução tende de certa forma a adaptar utilizando o
processo de expansão, pois no corpo do texto foram encontrados exemplos de inclusões e
explicitações de trechos que não constam no original, o que ocasiona a deformação denominada por
Berman de clarificação. o foram encontrados ao longo da primeira tradução outros processos de
adaptação descritos por Bastin, apenas expansão, omissão e atualização. A análise mostrou que a
maioria dos processos de adaptação encontrada na primeira tradução acontece por escolha do
tradutor, em função da construção do texto e da estilística própria, mas não em função da diferença
das línguas, devido à semelhança entre o francês e o português, pois casos onde algo que estava
sugerido ou subentendido no texto fonte é abertamente expresso na tradução. Devido às diferenças
89
estruturais entre as línguas, a explicitação algumas vezes se tornou necessária ao equilíbrio e à
legibilidade do texto. Para isso, em alguns pontos que ficam obscuros e que não correspondem com o
português, seja na pontuação, no léxico, na regência dos verbos, foi necessário respeitar o espírito da
língua de chegada. Schleirmacher (2001, p.53) afirma que devido à diversidade das línguas, é
impossível que a linguagem do tradutor possa ter a mesma estrutura da de seu autor o tempo todo.
A justificativa para a retradução e a proposta de retradução, apresentadas no capítulo 2,
basearam-se no conceito de Gambier de que uma primeira tradução tende sempre a ser de preferência
assimilativa e a retradução consistiria em um retorno ao texto fonte. Partindo da leitura do original, da
análise da primeira tradução, das teorias de Berman e Venuti e do projeto de retradução estabelecido,
a retradução da obra foi feita baseada no projeto estrangeirizante. Ao longo dos aspectos do original,
retradução e primeira tradução exemplificados no capítulo IV, expuseram-se as soluções propostas
que podem reconstituir o projeto estrangeirizante e suas limitações. Essas soluções visam o objetivo
de tradução da letra de fazer obra em correspondência, de causar a mesma impressão, de manter suas
particularidades, sem ferir as “estranhezas” lexicais e sintáticas” (BERMAN, 1999, p.35). Ou seja,
buscou-se retraduzir os três primeiros capítulos da obra com mesmo nível de linguagem, de
formalidade, a seleção do léxico utilizado, a forma de apresentação do texto, as notas explicativas,
enfim, as particularidades da obra. Ao privilegiar o trabalho sobre a letra do texto, revaloriza-se ao
mesmo tempo o “sujeito tradutor”, pois ele passa a ser percebido por meio do trabalho textual
realizado.
Quanto aos aspectos semânticos, escolheu-se utilizar quando possível os cognatos latinos de
maneira a manter a estrangeiridade da obra, sem interferir, no entanto, no registro do texto. Observou-
se que a primeira tradução o tenta de maneira geral manter os mesmos cognatos existentes em
português. A retradução procurou manter, quando possível, os mesmos correspondentes lexicais em
português e as palavras-chave, por o haver a necessidade de omiti-los ou explicitá-los, mantendo
esse léxico característico usado pela autora que reflete seu estilo e a letra da obra. Os nomes dos
personagens foram mantidos da mesma forma apresentada no original.
Além do léxico, as figuras de linguagem também foram consideradas e comentadas, no intuito
de realizar uma leitura mais aprofundada do texto e de verificar a sua estética e o estilo da autora
presente na obra, com esse objetivo voltado para a análise e comparação entre o texto original, a
retradução nossa e a primeira tradução. As oito figuras de linguagem relevantes verificadas no
original mostraram que a primeira tradução, apesar de mantê-las da mesma forma como elas são
apresentadas no original, por vezes constrói novas figuras de linguagem, altera ou omite algumas
90
delas. A nossa retradução mantém as figuras de estilo presentes no original, preservando assim seu
estilo, ritmo, enfim a letra da obra.
Encontraram-se, por meio do léxico, das figuras de linguagem e da descrição, uma das forças
discretas da estética literária graças às quais Mme de Staël transforma invisivelmente a relação do
tema com a linguagem. A tradução literária se torna também a tradução da forma, da marca distinta
do texto. O estilo torna-se um elemento consciente e se insere no processo de tradução e de
significação literária. Convém considerar que o estilo é a forma dominante do texto, condicionada
pela sua inspiração e sua destinação, o todo subordinado ao espaço e ao tempo de produção do texto.
Dessa maneira, a tradução literária visa o sentido e a forma e a estilística se torna então uma parte
integrante dessa tentativa forçada de restituir em uma língua segunda as formas que implicam, no
sistema lingüístico de partida, efeitos e sentidos. A tradução literária se dirige a um público distinto
que está habituado a ler obras de diferentes estilos literários e o tradutor deve ter consciência desse
público sensível à leitura. O conteúdo cultural, a mensagem, os dominantes lingüísticos e os aspectos
de estilo são indispensáveis na análise e realização da tradução.
No que diz respeito aos outros aspectos lingüísticos, procurou-se reproduzir sempre que
possível a sintaxe das frases apresentada no original, o que não é problemático na maioria das vezes,
devido à semelhança entre o francês e o português. A divisão dos parágrafos na nossa retradução foi
reproduzida da mesma forma que no original. Na primeira tradução, encontram-se parágrafos
divididos de maneira diversa da que consta no original. Optou-se para meu projeto de retradução
manter os diálogos da maneira como são apresentados no original, ou seja, indicados pelo travessão,
de forma contínua no texto, com inclusões do narrador no meio das falas e as falas dos personagens
secundários em itálico. Os diálogos dos personagens principais na primeira tradução se apresentam
ora no corpo do parágrafo que segue, ora separados do parágrafo. Na primeira tradução, encontraram-
se falas dos personagens secundários da narrativa iniciadas pelo travessão ou colocadas entre aspas. A
partir das pesquisas históricas sobre o uso dos pronomes no português do Brasil, justificou-se a
escolha em utilizar o pronome vona retradução, já que no final do século XVII, conforme Faraco, o
vós já era considerado arcaico. Considerou-se essa época, pois a narrativa se passa entre 1794 e 1795.
A nossa proposta de retradução manteve os mesmos indicadores de notas do original. Foram
traduzidas as notas da editora, apresentadas no final do volume, e as notas da autora, apresentadas no
rodapé das páginas e no final do volume. Optou-se por não utilizar uma quantidade excessiva de
notas explicativas, além daquelas feitas pela editora e pela escritora. Foram incluídas notas indicadas
por algarismos romanos e pela abreviação de Nota do Tradutor (N.d.T.), apenas para explicar a
tradução de alguns nomes de cidades e monumentos mencionados no texto.
91
Assim, traduzir é, em sua essência, escrever e transmitir, mas o verdadeiro sentido dessa
escrita e transmissão depende da perspectiva ética que as rege. É importante levar em consideração a
existência de valores ideológicos e literários que podem desviar a tradução do seu alvo. Contudo,
muitas vezes a dificuldade em escolher entre a literalidade e a liberdade, o sentido e a letra, a
predominância da língua de origem ou da língua de chegada, não significa um deslizamento
metodológico, mas a percepção de contradições e dificuldades fundamentais da tradução e a intuição
do que é possível e necessário fazer em um dado momento. A ética da tradução estrangeirizante não
impede a assimilação do texto estrangeiro, mas objetiva ressaltar a existência autônoma daquele texto
por trás (no entanto, por meio) do processo assimilativo da tradução.
A escolha de retraduzir a obra por meio de um projeto de tradução estrangeirizante não
pressupõe uma forma absoluta de traduzir. Pode-se, por aproximativas sucessivas, aproximar-se do
original na tradução e isso em todos os níveis, semântico, estilístico, cultural, estético, pessoal. Um
aspecto importante é afastar-se da adaptação para preservar certas qualidades fundamentais do
original. A análise do processo tradutório e sua reflexão permitem uma troca cultural e literária
fecunda que merece ser acessível ao público, visando à divulgação e aprofundamento dos estudos
literários e tradutológicos. Reitera-se o papel da tradução comentada no enriquecimento do cânone da
literatura traduzida e conseqüente enriquecimento cultural e literário brasileiro com o conhecimento e
estudo da obra de Madame de Staël.
92
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HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss eletrônico da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Editora
Objetiva, Versão integral 1.0.5a, novembro de 2002. CD-ROM
HOUAISS, Antonio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisco Manoel de Mello. Dicionário
Houaiss de sinônimos e antônimos. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003. 953p.
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Leuven, KUL, Bélgica. 2001.
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Carolina Alfaro. Rio de Janeiro, 1995. Tradução de: The translator invisibility: In: Criticism. V
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http://www.erudit.org/revue/meta/2004/v49/n3/009387ar.html. Acesso em: 11set. 07.
Sites consultados
Biblioteca del Congreso de la Nación Argentina – www.bcnbib.gov.ar
Biblioteca do Canadá - Bibliothèque et Archives Canadá - www.collectionscanada.gc.ca
Biblioteca Nacional da Espanha - www.bne.es
Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes - http://www.cervantesvirtual.com
Britsh library - http://www.bl.uk/
Biblioteca Nacional da França. Gallica - Bibliothèque numérique - http://gallica.bnf.fr
Biblioteca Nacional de Firenze - http://www.bncf.firenze.sbn.it/
Biblioteca Nacional de Portugal - www.bn.pt
Nupill - Núcleo de pesquisa em informática e literatura. http://alecrim.inf.ufsc.br/bdnupill/
Sebo onde foi encontrada a tradução Corina ou a Itália -
http://www.espacodolivro.com.br/produtos.asp?produto=188297
100
ANEXOS
101
ANEXO A – Traduções da obra Corinne ou l’Italie
Após pesquisar nos sites de busca da internet, da página da Biblioteca del Congreso de la
Nación Argentina, Biblioteca Nacional da Espanha, Biblioteca virtual Miguel de Cervantes,
Biblioteca Nacional de Londres, da Itália, de Portugal e do Canadá foram encontradas traduções em
inglês, italiano, alemão e espanhol da obra Corinne ou l’Italie de Mme de Staël, apesar de nem
todos os dados bibliográficos referentes às traduções estarem completos.
Emma Francis (In: Corwey CW3 Journal), no seu ensaio, aborda alguns detalhes da recepção
inglesa, fonte das traduções, do romance Corinne ao longo do século XIX. Segundo a autora, o grau
com que poetas britânicas do culo XIX se inspiraram e se legitimaram em Corinne, tornou-se
aparente com o tempo. A tradução da obra publicada por Samuel Tipper, proveu uma versão inglesa
do texto simplesmente sem qualquer material introdutório ou outro comentário. a tradução editada
por D. Lawler, incluiu um prefácio que está pobre em detalhes biográficos e críticos, mas certamente
deixa claro ao leitor a importância da chegada da heroína de Staël na Inglaterra. Ambas as traduções
de 1807 foram substituídas pela edição de Isabel Colina de 1833 que incluíram traduções métricas
feitas por Letitia Landon dos poemas que Corinne improvisa ao longo do texto. Esta edição era
dominante na metade do século XIX. Surgiu em 1883 outra versão, também traduzida por duas
mulheres, Emily Baldwin e Paulina Driver. Porém, ambas essas traduções foram abandonadas em
1894 pela edição de George Saintsbury que reverte à versão de Lawler.
- Traduções em inglês
- STAËL-HOLSTEIN, Anne-Louise. Corinna, Or, Italy. Londres: Samuel Tipper, 1807. Tradutor
desconhecido. 3 v.
- STAËL, Germaine de. Corinna, Or Italy. Londres: Colburn. 1807. Tradução de Dennis Lawler, 5 v.
- STAËL-HOLSTEIN, Anne-Louise. Corinna, Or, Italy. Filadélfia: Hopkins and Earle, 1808. Vol.1
(de 2), 343 p. Tradutor desconhecido.
- STAËL-HOLSTEIN, Anne-Louise Germaine (Necker), baronne de. Corinna; or Italy. Nova Iorque:
D. Longworth [and others], 1808. Tradutor desconhecido.
102
- STAËL, Germaine de. Corinne or Italy. London: Richard Bentley and Co., 1833. Tradução de
Isabel Hill, com versão métrica das odes por Letitia Elizabeth Landon.
- STAËL, Germaine de. Corinne, Or Italy: A New Translation. Londres: Warne and Co., 1883.
Tradução de Emily Baldwin e Paulin Driver.
- STAËL, Germaine de. Corinne, or Italy. Londres: Rutgers University Press, 1981 e 1987. 490 p.
Tradução de Avriel Goldberger.
- STAËL, Germaine de. Corinne. Londres: J. M Dent and Co., 1894. Editor George Saintsbury.
- STAËL, Germaine de. Corinne, or Italy. (Oxford World's Classics), 1998 e 1999, 464 p. Tradução
de Sylvia Raphael, introdução de John Isbell.
- Traduções em italiano
- STAËL-HOLSTEIN, Anne Louise Germaine. La Corinna ossia l'Italia. 10 tomos em 3 volumes.
(Primeira edição italiana depois da edição original de Paris, do ano precedente 1807). Florença:
Guglielmo Piatti, 1808. Tradutor desconhecido. Florença: Guglielmo Piatti., 1820-1821.
- STAËL-HOLSTEIN, Anne Louise Germaine. La Corinna ossia l'Italia. Milão: Oreste Ferrario,
18.?, 4 v. Tradutor desconhecido.
- STAËL-HOLSTEIN, Anne Louise Germaine. Corinna ovvero l'Italia. Turim: UTET, 1951 e 1961,
549 p. Colão: I grandi scrittori stranieri. Tradução de Gilda Fontanella Sappa.
- STAËL-HOLSTEIN, Anne Louise Germaine. Corinna o l'Italia. Roma: Casini, 1961, 586 p.
Coleção: I grandi maestri. Tradução de Luigi Pompilj.
- STAËL-HOLSTEIN, Anne Louise Germaine. Corinna o l'Italia. Roma: Casa del Libro, 1989, 586
p. Coleção: I grandi maestri. Tradução de Luigi Pompilj.
- STAËL-HOLSTEIN, Anne Louise Germaine. Corinna o l'Italia. Milão: Mondadori, 2006, 668 p.
Coleção: Oscar classici. Tradução de Anna Eleanor Signorini.
- Traduções em alemão
- STAËL, Germaine de. Corinna oder Italien. Berlim: Joh. Fr. Unger, 1807. Tradução de Friedrich
Schlegel.
Reedição - STAËL, Germaine de. Corinna oder Italien. Munique: Winkler, 1979. Tradução de
Dorothea Schlegel. Organizado por Arno Kappler. (Cena literária suíssa.)
- STAËL, Germaine de. Corinna oder Italien. Leipzig: Bibliographisches Institut, 1880, 539 p.
Tradução de M. Bock. Precio de Friedrich Spielhagen.
103
- STAËL, Germaine de. Corinna oder Italien. Munique: Winkler-Verl, 1985. 616 p. Tradutor
desconhecido.
- Traduções em espanhol
- Traduções de Corinne ou l’Italie
Staël-Holstein, Germaine de (1766-1817). Corina o la Italia / feita a partir da tradução em francês de
obra escrita por Madame de Staël Holstein. Madrid : Ibarra, 1818-1819, 3 v. ; 14 cm.
Staël-Holstein, Germaine de (1766-1817). Corina ó Italia / trad. da 8.ed. por D. Juan Ángel
Caamaño. Valencia : Estován, 1820, 4 v. ; 12º mlla. Notas: O tomo 4º é da 4ª edição.
Staël-Holstein, Germaine de (1766-1817). Autores Secun:val, Paul (1816-1887). Corina o la Italia
/ por Madama Stael. El banquero de cera / novela por Pablo Feval. Madrid : Ediciones Populares,
1852, 106 p. : il. ; 31 cm. Colección: Biblioteca universal. Notas: Texto a dos col.
- Traduções em Português (Portugal)
Mme. de Staël-Holstein. Corina ou a Itália. Trad. da sétima edição por Francisca de Paula Possolo da
Costa. Lisboa : Impr. nacional, 1834. 4 vol.
Mme. de Staël. Corina. Tradução de Mercedes Blasco. pseud., trad. Lisboa : Argo, 1945, 548 p.
104
ANEXO B – Capa da 1ª edição de Corinne ou l’Italie
Transcrição – ............... ... .... .... Udrallo il bel paese,
Ch’Apeninn parte, e’l mar circonda; e l’Alpe.
Pétrarque, Canzoniere, sonnet CXLVI.
105
ANEXO C – Capa e contracapa da primeira tradução Corina ou a Itália
106
107
Contracapa da tradução Corina ou a Itália
108
ANEXO D - Dados biobibliográficos da tradutora
Narceli Piucco nasceu em Urubici, estado de Santa Catarina, em 08 de julho de 1984.
Graduou-se em Letras/Francês pela Universidade Federal de Santa Catarina no ano de 2006. Durante
a graduação, trabalhou como bolsista Pibic no projeto “O perfil do tradutor literário de língua
Francesa”, um Projeto integrado do Grupo de Pesquisa Literatura Traduzida, que tem como objetivo
fazer um levantamento dos tradutores literários no Brasil e traçar o seu perfil, disponibilizando-os no
sítio www.dicionariodetradutores.ufsc.br. Foi monitora do curso de Letras/Francês e professora por 1
ano e seis meses do Curso extracurricular de línguas estrangeiras da UFSC. Concluiu o mestrado em
Estudos da Tradução na UFSC com a dissertaçãoCorinne ou l’Italie de Mme de Staël : da adaptação
à retradução estrangeirizante.” Participa da comissão editorial da revista eletrônica Scientia
traductionis. Traduziu, para o francês e para o português, textos técnicos na área da Educação,
Medicina, Engenharia e Sociologia. Trabalhou como revisora de textos em português e francês. Além
do francês, fala inglês e italiano.
Produção bibliográfica
Comunicações e Resumos Publicados em Anais de Congressos ou Periódicos (resumo)
1. PIUCCO, Narceli.
As diferentes práticas de avaliação: uma investigação com professores e alunos. In: VI Seminário de
Línguas Estrangeiras, 2005, Goiânia.
VI Seminário de Línguas Estrangeiras - Artigo completo em CD ROOM. , 2005.
2. PIUCCO, Narceli.
Journée Française 2005 In: V SEPEX, 2005, Florianópolis.
Anais da V SEPEX - Semana de Ensino, Pesquisa e Extensão (5. : 2005 : Florianópolis (SC) Anais
[Recurso eletrônico] / 5. Semana de Ensino, Pesquisa e Extensão, SEPEX. Florianópolis : UFSC :
2005. 1 CD-ROM. , 2005.
3. PIUCCO, Narceli.
O perfil do tradutor literio do francês no Brasil (1970-2002) In: XV Seminário de Iniciação Científica,
2005, Florianópolis.
Anais do XV SIC. , 2005.
4. PIUCCO, Narceli.
"Observação participante" nas aulas de Língua Francesa no Colégio de Aplicação: um caso de parceria In:
V Semana de Pesquisa e Exteno, 2005, Florianópolis.
Anais da V SEPEX - Semana de Ensino, Pesquisa e Extensão (5. : 2005 : Florianópolis (SC) Anais
[Recurso eletrônico] / 5. Semana de Ensino, Pesquisa e Extensão, SEPEX. Florianópolis : UFSC :
2005. 1 CD-ROM. , 2005.
109
6. PIUCCO, Narceli.
Comissão do Arquivo Histórico e do site da moradia estudantil da UFSC In: Semana de Ensino,
Pesquisa e Extensão, 2004, Florianópolis.
Anais da 4ª Semana de Ensino, Pesquisa e Extensão.. , 2004.
Demais produções bibliográficas
Verbetes do site www.dicionariodetradutores.ufsc.br
1. PIUCCO, Narceli., TORRES, M.H
Ana Maria Machado. Verbete. , 2007. (Outra produção bibliogfica)
2. PIUCCO, Narceli., TORRES, M.H
Ângela Leite Lopes. Verbete. , 2006. (Outra produção bibliográfica)
3. PIUCCO, Narceli., TORRES, M.H
Carlos Eduardo Lima Machado. Verbete. , 2006. (Outra produção bibliográfica)
4. PIUCCO, Narceli., TORRES, M.H
Dorothée de Bruchard. Verbete. , 2006. (Outra produção bibliográfica)
5. PIUCCO, Narceli., TORRES, M.H
Flávio Moreira da Costa. Verbete. , 2006. (Outra produção bibliogfica)
6. PIUCCO, Narceli., TORRES, M.H
José Lino Grunewald. Verbete. , 2006. (Outra produção bibliogfica)
7. PIUCCO, Narceli., TORRES, M.H
Juremir Machado da Silva. Verbete. , 2006. (Outra produção bibliográfica)
8. PIUCCO, Narceli., TORRES, M.H
Ligia Vassallo. Verbete. , 2006. (Outra produção bibliogfica)
9. PIUCCO, Narceli., TORRES, M.H
Milton Hatoum. Verbete. , 2006. (Outra produção bibliográfica)
10. PIUCCO, Narceli., TORRES, M.H
Olinda Maria Rodrigues Prata. Verbete. , 2006. (Outra produção bibliográfica)
11. PIUCCO, Narceli., LENTZ, G., TORRES, M.H
Rubens Figueiredo. Verbete. , 2006. (Outra produção bibliográfica)
12. PIUCCO, Narceli., TORRES, M.H
Yara Frateschi Vieira. Verbete. , 2006. (Outra produção bibliográfica)
13. PIUCCO, Narceli., TORRES, M.H
Ana Montoia. Verbete. , 2005. (Outra produção bibliográfica)
14. PIUCCO, Narceli., TORRES, M.H
Claudio Jorge Willer. Verbete. , 2005. (Outra produção bibliogfica)
110
15. PIUCCO, Narceli., TORRES, M.H
Eclair Antonio Almeida. Verbete. , 2005. (Outra produção bibliogfica)
16. PIUCCO, Narceli., TORRES, M.H
Estela dos Santos Abreu. Verbete. , 2005. (Outra produção bibliográfica)
17. PIUCCO, Narceli., TORRES, M.H
bio Lucas. Verbete. , 2005. (Outra produção bibliográfica)
18. PIUCCO, Narceli., TORRES, M.H
Fernando Py. Verbete. Floriapolis: NUT, 2005. (Outra produção bibliográfica)
19. PIUCCO, Narceli., TORRES, M.H
Flávia Nascimento. Verbete. , 2005. (Outra produção bibliogfica)
20. PIUCCO, Narceli., TORRES, M.H
Francisco Balthar Peixoto. Verbete. , 2005. (Outra produção bibliogfica)
21. PIUCCO, Narceli., TORRES, M.H
Janice Caiafa. Verbete. , 2005. (Outra produção bibliográfica)
22. PIUCCO, Narceli., TORRES, M.H, LENTZ, G.
José Paulo Paes. Verbete. , 2005. (Outra produção bibliográfica)
23. PIUCCO, Narceli., TORRES, M.H
Leda Tenório da Motta. Verbete. , 2005. (Outra produção bibliográfica)
24. PIUCCO, Narceli., TORRES, M.H
Leonor Scliar-Cabral. Verbete. , 2005. (Outra produção bibliogfica)
25. PIUCCO, Narceli., TORRES, M.H
Luiz Paulo Rouanet. Verbete. , 2005. (Outra produção bibliográfica)
26. PIUCCO, Narceli., TORRES, M.H
Marcos Araújo Bagno. Verbete. , 2005. (Outra produção bibliográfica)
27. PIUCCO, Narceli., TORRES, M.H
Rena Signer. Verbete. , 2005. (Outra produção bibliográfica)
28. PIUCCO, Narceli., TORRES, M.H
Roberto Gomes. Verbete. , 2005. (Outra produção bibliogfica)
29. PIUCCO, Narceli., TORRES, M.H
Sieni Maria Campos. Verbete. Florianópolis: NUT, 2005. (Outra produção bibliográfica)
.
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