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escapar da punição. Este argumento é empregado para justificar a posição deste
grupo que visa a declarar todo tipo de trabalho sexual comercial como tráfico,
independentemente dos meios (ex. engano, decepção, coação etc.) utilizados.
165
Assim, por exemplo, a co-diretora da CATW, Dorchen Leidholdt, escreve:
“The sexual exploitation of women and children by local and global sex
industries violates the human rights of all women and children whose
bodies are reduced to sexual commodities in this brutal and dehumanising
marketplace.”
166
O uso intercambiável da prostituição e do tráfico é fortemente contestado
pelo grupo Human Rights Caucus, que alberga também representantes dos
direitos das trabalhadoras do sexo (sex worker rights movement).
167
O objetivo
deste grupo é uma descriminalização das trabalhadoras do sexo.
168
Portanto,
reivindica uma clara distinção entre a prostituição “voluntária” - que deveria ser
reconhecida como trabalho - e a prostituição “forçada”. Somente esta última
deveria ser entendida como tráfico. Assim, para este grupo de pressão o
elemento da força e, respectivamente, do consentimento, adquirem uma
importância indispensável na definição do tráfico.
“Obviously, by definition, no one consents to abduction or forced labour, but
an adult woman is able to consent to engage in an illicit activity (such as
prostitution, where this is illegal or illegal for migrants). If no one is forcing
her to engage in such an activity, then trafficking does not exist.”
169
Por serem as posições epistemológicas tão distintas entre os dois grupos,
chegar a um acordo parecia difícil, senão impossível. Ao longo das negociações,
os dois grupos aumentaram a pressão para influenciar o protocolo em vários
encontros informais com as delegações de Estado. Enquanto, por exemplo, o
Vaticano, a Bélgica, a Suécia, a França, a Noruega, a Finlândia, o Marrocos, a
Argélia, o Egito, junto com as Filipinas, o Paquistão, a Índia, a China, os
Emirados Árabes, a Síria, o México, a Venezuela, a Colômbia e a Argentina
lutam para implementar a posição da CATW; os Países Baixos, a Holanda, a
Alemanha, a Dinamarca, a Irlanda, a Suíça, a Espanha, a Grã-Bretanha, junto
165
Cfr. Ditmore e Wijers (2003), p. 83.
166
Leidholdt (2000) apud Doezema (2005), p. 67.
167
De acordo com Doezema, a origem deste movimento remonta aos anos 70,
nos quais em alguns países se uniram as trabalhadoras do sexo, reivindicando o
reconhecimento da prostituição como trabalho. Cfr. Doezema (2005), p. 68.
168
Cfr. Doezema (2005), p. 76.
169
Human Rights Caucus (1999) apud Ditmore e Wijers (2003), p. 83.
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