
Outros palestrantes abordaram não só a luta da população negra pelo fim da
escravidão, mas como se organizavam, mesmo muito tempo antes de a Lei Áurea ser assinada.
Aprendi então, que o negro não fugia apenas para ficar no meio do mato esperando não ser
capturado, conforme havia estudado. Quilombos eram muito mais que um aglomerado de
fugitivos sem atividades.
Os quilombos/mocambos, definidos como agrupamento de dois a três
fugitivos (que podiam alcançar milhares) possuíam organização social e
tinham como principal característica e atividade sócio-econômica de seus
habitantes a gestação de uma economia camponesa articulada com o
restante da sociedade. Eles produziam alimentos – como farinha de
mandioca – ou mesmo, outros produtos como mel, lenha, drogas do sertão e
gado que complementavam a economia. Muitos dos habitantes dos quilombos
(reconhecidos como camponeses) além de cultivar suas próprias terras,
colocavam seus produtos excedentes nos mercados locais e acabavam se
transformando em trabalhadores rurais para outros proprietários (GOMES,
2006 p.124).
Aprendi que os libertos se associavam para comprar a liberdade de negros e negras
escravizados, para viver sua religiosidade, para ter uma vida social. E ainda que não foram
poucas as agremiações e associações que, encabeçadas por intelectuais negros, tornaram-se
espaços de reuniões, encontros, ativismos, cursos de formação, assistência médica e jurídica
entre outros departamentos para o atendimento aos associados negros. Além disso, essas
organizações buscaram formas de dialogar com as elites, propondo políticas públicas que
contribuíssem para que a população negra, como um todo, pudesse ter acesso à educação, ao
trabalho, à saúde, à moradia, à vida política e aos bens culturais.
Surgiram vários periódicos com características semelhantes, publicando
caricaturas, comunicados sociais, crônicas e poesias. Em geral, os
editoriais eram dirigidos mais à questão racial, indicando caminhos de
conscientização e mecanismos de “ascensão do negro”
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(...) Os periódicos
de tal imprensa negra constituíram-se em instrumentos de comunicação de
inúmeros intelectuais, grupos, associações e entidades negras, tanto com
seu público específico – o chamado “meio negro” - como com seus setores
sociais. Priorizando os diálogos com o “meio negro” procuravam
estimular, através dos editoriais e da publicação de determinados artigos,
temas que abordassem a autovalorização da população negra, sua visão de
mundo e suas formas políticas, culturais e religiosas de organização e
participação. (GOMES, 2005, p.30)
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Grifo do autor.
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