(PIETRAFIESA DE GODOI, 1998: 110) Moinho e como ele influencia na organização
do conhecimento sobre plantas e seus usos locais.
Seu Zé Lapixa foi-me apontado como um conhecedor de plantas no Povoado.
Durante a tarde em que conversamos, ele relatou que caminhou durante trinta e dois
dias de Barreiras, na Bahia, até a região de Alto Paraíso, onde se casou com Ineide, que
já vivia na região do Moinho. Em sua família, ele é o mais idoso e sua bisneta de um
ano é a mais jovem. Ele e a esposa vivem em uma humilde casa de alvenaria, com
poucos móveis, dois quartos e uma cozinha. Conta que, quando chegou ao Povoado, as
casas eram feitas de adobe e cobertas de palha de palmeira indaiá, facilmente
encontradas nas redondezas. Para ele, apesar de a antiga estrutura ser mais frágil, era
mais fresca em comparação ao material das telhas “ternite” que cobrem sua casa atual.
A substituição das moradas no Moinho foi obra da prefeitura municipal de Alto Paraíso,
no ano de 2000, como medida preventiva à doença de Chagas. Independentemente do
tamanho das famílias, as casas de alvenaria doadas seguem um padrão único: dois
quartos, uma sala, uma cozinha e um banheiro.
Zé Lapixa é aposentado, assim como outros moradores da comunidade, e afirma
que o trabalho “antigamente” era mais duro, com uma jornada mais longa e menor
remuneração. Em sua visão, para a mulher a vida também estaria melhor, pois antes era
seu serviço cozinhar, fiar e lavar, e, para tanto, precisava buscar água no rio.
Atualmente, o bombeamento de água para as casas, a diminuição da jornada de trabalho
masculina, além do dinheiro que recebe como aposentado fazem com que acredite que a
vida está melhor, por precisar trabalhar menos. Nesse tempo de atividades de trabalho
árduas, passava todo o seu dia na roça, fazia a maior parte de suas refeições no lugar de
trabalho. Hoje, ele retorna para casa para o almoço e o dinheiro que recebe da
aposentadoria parece permitir-lhe uma jornada mais curta de trabalho.
Seu Zezinho, como é chamado Seu Zé Lapixa na comunidade, não se considera
um raizeiro, tal qual Dona Flor, apesar de conhecer muitas plantas curativas do Cerrado.
Para ele, todas as árvores são remédios, ainda que afirme desconhecer muitas plantas.
Segundo ele, no Povoado, todos sabem um pouco e se ajudam, trocando experiências
sobre suas descobertas e recomendando um remédio ao enfermo quando o sabem. Na
conversa que tivemos, ele citou plantas que não foram citadas por Dona Flor e seu
esposo, Seu Donato, o que aponta que, apesar de fazer largo uso de “remédio de pau” -