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A idéia de que emoções, sentimentos e o contexto social podem contribuir
para a ocorrência de doença do coração não é nova. Por séculos tem sido
popular, senão científica, a associação entre o coração e as emoções. De todas
as partes do corpo, o coração ocupa um lugar especial no senso comum de
que é o lugar da emoção, empenho e mesmo da própria vida. Toda a nossa
linguagem diária torna isso claro. Nós falamos sobre coração machucado e
entristecido, sobre toda a força do amor que vem do coração, sobre fazer o
nosso trabalho com todo o coração, de indivíduos descolados que são a alma
e o coração de suas organizações. Metaforicamente, tanto quanto
psicologicamente, o coração é crucial para a identidade do sujeito e sua
função social. Por isso, reações emocionais que desenvolvem doença do
coração, freqüentemente incluem aspectos de choque, medo, raiva, culpa,
tristeza, angústia e desgosto. (ILIĆ; APOSTOLOVIĆ, 2002, p. 138, tradução
nossa
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)
Para as citadas autoras, a ocorrência de alterações psicológicas e doença
cardíaca, em muitos pacientes, exemplifica a complexidade dos efeitos psicossomáticos
e/ou somatopsíquicos em sua gênese e/ou progressão. No entanto, para Frankl (1978), a
distinção entre o que é físico e o que é psíquico, em termos humanos, não existe. De
acordo com os fundamentos antropológicos da Logoterapia de Frankl, o homem
somente pode ser considerado como um ser verdadeiramente humano a partir do
momento em que ele é capaz de se autotranscender, ou seja, a partir do momento em
que ele é capaz de projetar um sentido para sua vida, além dos limites nos quais ela se
encontra. O vazio existencial pode ser interpretado como uma incapacidade do ser
humano para realizar essa projeção, trazendo um sofrimento espiritual que pode ser
observado por condutas nocivas à saúde. Dentre elas, podemos citar vícios como o
alcoolismo e o uso de drogas ilícitas. Os próprios excessos de trabalho e preocupação
podem ser formas de escape do vazio, causando sinais e sintomas de estresse mental ou
emocional, como hostilismo, irritabilidade, ansiedade, depressão e afastamento social.
Nas palavras de Loures et al:
A cultura popular há muito associa o estresse agudo e crônico com o
desenvolvimento de doenças, corroborado por inúmeros estudos
epidemiológicos e experimentais, que demonstram uma ligação entre o
estresse mental e o aparecimento e curso de muitas doenças, desde simples
infecções virais, até úlceras gástricas e neoplasias. O sistema cardiovascular
possui ampla participação na adaptação ao estresse, sofrendo por isso as
conseqüências da sua exacerbação. (LOURES, Débora et al, 2002, p. 525)
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The idea that emotions, feelings and social contexts may contribute to the cause of heart disease is not a
new one. For centuries, there has been popular, if not scientific, association between the heart and
emotions. Of all the parts of the body, the heart holds a place of special distinction in common thinking as
the seat of emotion, effort and even of life itself. Our everyday language makes this clear. We speak of
heartbreak and heavyheartedness, of love coming straight from the heart, of putting our heart into our
work, of outstanding individuals who are "heart and soul" of their organizations. Metaphorically, as well
as physiologically, the heart is crucial to one's identity and social function. Therefore, normal emotional
reactions to the development of heart disease often include aspects of shock, fear, anger, guilt, sadness
and grief.