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Richard, o país estava diante de uma Revolução e de duas Repúblicas. Uma liderada por
Ernest Meyer e Karl Liebknecht, apoiados pelo operariado, e outra, liderada pelos
Social-Democratas, que se antecipam contra o levante espartaquista:
Enquanto a multidão de grevistas desfilava, os deputados social-
democratas tinham decidido reunir-se no parlamento. Duas
imagens ricas de sentido. Os berlinenses que puderam, com duas
horas de intervalo, ir a dois lugares, foram testemunhas da
concorrência entre esses dois poderes. Era um pouco mais de duas
horas da tarde quando, do parlamento, Scheidemann proclamava a
República alemã. Sabendo das intenções de Liebknecht, ele se
adiantara, sem qualquer discussão anterior com seus colegas
social-democratas, pondo Ebert em má situação. Quando, duas
horas mais tarde, Liebknecht pede diante do Castelo Real a criação
de uma República [Camaradas, proclamo a República socialista
livre da Alemanha, uma República em que todas as categorias
sociais se encontrarão reunidas, onde todo o operário,
impactou a Europa da segunda metade do século XIX, tanto econômica como politicamente. A Primeira e
a Segunda Grande Guerra, as quais tiveram a Alemanha como um palco fundamental, guardam uma
notável relação com o advento de 1871, onde a Prússia da “Real Politik” de Bismarck pariu a Alemanha
moderna, um país que já nasceu como uma potência, e sob a supremacia da velha Prússia! A “Real
Politik” foi uma prática política liderada por Bismarck e dirigida por um sentido prático, a concretização
da unidade dos Estados alemães. A idéia de unidade claramente se sobrepunha à da liberdade. Quando
fosse conveniente, a Prússia se opunha aos “aliados”, ou ainda, deles se utilizava contra o particularismo
prussiano. A concretização tardia da Alemanha, segundo o paradigma romântico de nação, ou seja, um
“povo”, uma língua, um Estado, gerou nas forças políticas lideradas por Bismarck e pela casa real
prussiana - que tomaram para si a tarefa política (e militar) de unir os Estados alemães – um pragmatismo
sem precedente, onde os “fins justificariam os meios”, em que as conveniências teriam primazia sobre os
princípios. A conquista da unidade nacional seria revestida de tal urgência, que qualquer coisa para atingi-
la parecia legítima. A associação entre a “força” e “êxito” gerariam os fins desejados, formando na
Alemanha uma crença singular numa “racionalidade meio mística”. Mais do que a espontânea união dos
Estados alemães, a unidade nacional alemã deu-se sob a batuta militarista da Prússia. Guilherme I tornou-
se, além de soberano da Prússia, Imperador da Alemanha unificada. Segundo a Constituição, proclamada
em 16 de abril de 1871, no Artigo 2: “O Império exerce o poder legislativo na extensão do território
federal, nos limites indicados da presente Constituição. Dentro desses limites as leis do Império
prevalecem sobre as leis de cada Estado...” (Anuário da Legislação Estrangeira, 1872). Como se pode
ver, o poder central se sobrepõe ao local. Apesar das funções do parlamento (Reichtag), em última
instância o poder está sob a tutela do Imperador (Kaisereich), que detinha, segundo a referida
Constituição, o poder de dissolver o próprio parlamento, como atesta o Artigo 12: “O Imperador
convoca, abre, prorroga e dissolve o conselho federal e o Reichtag...”. Além do parlamento, também as
forças militares se encontram submetidas constitucionalmente ao Imperador: Diz o Artigo 63: “O
conjunto das forças terrestres do Império constitui uma única força armada, colocada, em tempo de
guerra e de paz, sob as ordens do Imperador...”. A arquitetura política desenhada por Bismarck, o que
outros chamaram de “Real Politik”, levou a Prússia a liderar, impor a unidade política aos Estados
alemães, de maneira que o monarca prussiano personificasse a recém surgida Alemanha, que passaria a
exercer uma forte influência no destino da Europa a partir de 18 de janeiro de 1871.