
Capítulo III: Shopping-Center: o consumo do hábito de ir ao cinema
108
No caso dos shopping-centers, centros multifuncionais, o “impulso de
sociabilidade” permeia o motivo da ida de milhares de usuários a
esses locais, mesmo de muitos daqueles que afirmam utilizar o espaço
apenas para as compras. Neste sentido, a pesquisa volta-se para essa
região social marcada pela busca do encontro, numa esfera que se
relaciona mas também transcende a dimensão do consumo.
Retomando a questão da elaboração simbólica das diferenças, é como
se os shoppings produzissem um cenário urbano no campo da
sociabilidade onde variados grupos entram em contato e “jogam”
socialmente suas relações e onde, se aparentemente determinadas
origens sociais estariam suspensas e diluídas, novos pactos seletivos
são assumidos e demarcados.
175
Há grande dose de coerência em afirmar que a disponibilidade de diversos
setores econômicos no interior dos shopping centers – lojas, restaurantes, farmácias,
livrarias, correio, bancos, lotéricas, cinemas, entre outras – num mesmo espaço vai ao
encontro das necessidades atuais de praticidade, conforto, segurança e rapidez. Segundo
Padilha
176
, os shopping centers são entendidos “como importante fenômeno da
sociedade capitalista”, sendo considerados em muitas cidades, como atração turística.
“É uma segunda cidade construída dentro de uma cidade maior”. Como tal, deve-se
constituir como entidade autônoma e auto-suficiente, numa composição e estrutura
aclimática, atemporal e idealizada. Essa perspectiva não se restringe aos grandes países
capitalistas. Em temporalidades diferentes, é um processo de dimensão global.
Não é difícil perceber que um centro feito para compras de bens
materiais foi sendo transformado – concomitantemente ao
desenvolvimento do capitalismo mundializado – em um centro que
alia estrategicamente mercadorias (alimentos, roupas e acessórios,
perfumes, discos, livros, etc.), serviços (correio, agências de viagens,
bancos, salões de beleza, postos de gasolina, etc.), lazer (cinemas,
jogos eletrônicos, praças de alimentação, academias de ginástica, etc.)
e “cultura” (exposições, apresentações musicais ou teatrais, etc.). A
estratégia dessa aliança está na busca do aumento do lucro de
empresários e comerciantes, mas o discurso que se faz em paralelo
para os cidadãos do meio urbano desenvolvido propaga a ideologia da
melhor qualidade de vida.
177
A obra de Padilha é particularmente interessante a este trabalho. A autora faz
um retrospecto aludindo aos caminhos que levaram ao processo de construção de
legitimidade do shopping como espaço, do consumo e da apropriação do lazer. Os
shopping-centers, tais como estruturados hoje em dia, seguem o padrão norte-
175
SIMMEL apud FRÚGOLI, Heitor Jr. Os shopping-centers de São Paulo e as formas de
sociabilidade no contexto urbano. 1989. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Departamento de
Antropologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1989, f. 57.
176
PADILHA, Valquíria. Shopping Center: a catedral das mercadorias. São Paulo: Boitempo, 2006.
177
Ibid., p. 25.