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A FESTA DA LAVADEIRA
Ao lutar contra o mito do nordestino ridículo, ignorante
e incapaz, Chico, de certa forma, desconstruiu um discurso das
regiões Sul e Sudeste, que sempre viram o Nordeste ou como um
problema ou um “celeiro cultural”. Se Josué de Castro (1908-
1973) denunciou a fome como fator agravante para nosso “atraso”
cultural, Chico produziu frutos notáveis com sua proposta-mangue
comprovando o gênio inventivo de nossa raça a lutar contra as
adversidades.
A “Festa da Lavadeira” é um evento que tem todos os
ingredientes contidos no movimento mangue e poderíamos nele
também encontrar o mesmo apoio que a mídia ofereceu aos
mangueboys. A festa acontece todo Primeiro de Maio na Praia
do Paiva, município do Cabo, Pernambuco, e tem como mote
homenagear uma lavadeira, simbolizada por escultura. Vejamos
o que diz um dos seus organizadores, o artista plástico e escritor
Eduardo MeIo, em carta-manifesto:
“É em breve o dia primeiro de maio, o dia do encontro
das magias, histórias, caráter estilos e personalidades de um
povo, é dia de encontro de guras, ritmos e personagens se
confundirem com ares do mar entre ares da mata, uma cópula onde
nós seremos os instrumentos xamânicos, construindo uma ilusão
temporal de fatos históricos, história, serão mais de 20 grupos
da nossa cultura popular; 600 artistas populares, costurando
de hora em hora entradas e saídas de manifestações junto e ao
lado de pessoas felizes, brincando, pulando e sorrindo, é Festa da
Lavadeira. Brincadeira que se tornou prazerosa missão, amigos
e trabalhadores que são cultura, resistentes, núcleo, semente de
comportamentos, temperos, gestos, linguagem e sangue. Brincantes,
numa sociedade austera e ignorante em relação às suas origens,
todos nós cafuzos, mamelucos, negros, mulatos, pardos, caboclos
e dicilmente brancos leiteiros. É verdadeiro e mais que certo que
fomos também fundamentalmente colonizados e concebidos pelos
negros, fubá, milho, mandioca, frevo, capoeira, ciranda, tapioca,
coco, munguzá, cocada, chambaril, feijoada, cachaça, maracatu,