Certificação Digital, Criptografia e Privacidade
Sérgio Amadeu
Diretor-Presidente do
Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI)
Vá até o um site de busca, digite o seu nome e veja quantas
informações pessoais estão disponíveis na internet. À medida que as
empresas e o governo se informatizam e colocam um número cada vez
maior de informações a vida dos cidadãos fica exposta a apenas alguns
toques de um teclado de computador. Até que ponto as pessoas querem
ter seus dados tão disponíveis? Será que ao procurar um emprego a
pessoa quer fornecer todas as informações disponíveis na rede?
Dados sensíveis como ações na justiça trabalhista e informações
ligadas à saúde e à previdência já começaram a transitar na rede. O
próprio governo federal tem um projeto de unificar todos os números
sociais em um cadastro único. Essa medida irá simplificar o controle e
a identificação do beneficiário. No entanto, sem a garantia da
privacidade dos indivíduos, corre-se o risco de exposição dessas
informações.
A preocupação de George Orwell, no livro 1984, era com o Grande Irmão que com seu olhar
onipresente conhece todos os passos de cada indivíduo. A internet está demonstrando ser mais do
que isso, não um estado totalitarista que detém essas informações, mas qualquer indivíduo que
possua uma conexão com o mundo virtual.
É, no mínimo, incômodo imaginar que poderemos ter detalhes de nossas vidas desvendados,
bastando a digitação de nosso nome ou de um número em uma tela de computador. Diante disso,
não há como deixar de demandar por soluções que permitam que a inserção digital do cidadão não o
deixe completamente desprotegido perante a cibersociedade.
A certificação digital se apresenta como uma dessas alternativas. Ao garantir que determinados
dados sejam acessados apenas pelo próprio interessado ou ao possibilitar que informações sensíveis
trafeguem criptografadas pela rede conquista-se um grau mínimo de privacidade e segurança das
informações digitalizadas.
A internet é algo novo para um número significativo da população brasileira. As pessoas ainda têm
receio ao se relacionarem com o mundo mediado por computadores, medo este decorrente do
desconhecimento das ferramentas e do universo virtual uma relação de poder. De um lado um
indivíduo do outro uma rede de informações.
O poder público tem o dever de participar desse debate de forma a identificar soluções que
garantam a privacidade e a segurança no trâmite de informações na rede. A preocupação não é
apenas quando existem recursos financeiros envolvidos nas transações, mas quando há informações
sensíveis que possam atingir o cidadão.
Brasília, 01 de março de 2004