
meiro lugar, a nova identificação permite a heroína, buscar o seu
eu verdadeiro. Em segundo lugar, o jovem inexperiente (cuja
per-cepçã© nao fora ainda, deformada pelo hábito ou pelo
estereótipo) e o indivíduo capaz de descobrir, sob a máscara de
cortesa, o eu da jovem traída por um homem sem escrúpulos. Sem
essa nova iden-tificação ("tu me santificaste com o teu primeiro
olhar", diz a. heroina.), Maria, provavelmente, nao encontraria,
forças para reaparecer em lugar de Lucia. De outro lado, se
Paulo aceitasse as versões dadas pelos outros, jamais
descobriria, o eu verdadeiro / da jovem.
Na história de Alencar, Maria se perde, não porque tives-
se impulsos indesejáveis, mas porque os outros são incapazes de
ver as suas boas qualidades; mesmo seu pai se recusa a aceitar /
sua inocencia. A partir de então, esse eu verdadeiro e sufocado
ate encontrar alguém capaz de compreende-lo, ou adivinhá-lo, sob
a máscara do outro eu. A lição que o romance nos dá poderia ser
resumida; a nossa auto identificação depende dos outros, pelo
menos tanto quanto de nós mesmos.
O segundo exemplo pode ser encontrado em O FALECIDO MA-
TIAS PASCAL de Pirandello. Matias pascal e um homem
profundamen-te infeliz, mal casado, obrigado a suportar uma
sogra e uma mulher intoleráveis. Quando morrem sua mãe e sua
filha, sai deses-perado de casa. Acaba ganhando uma. pequena
fortuna no jogo, e, ao voltar para sua aldeia, le nos jornais a
notícia de sua morte Vendo-se livre, e razoavelmente rico, Matias
Pascal resolve iniciar nova vida, sob o nome de Adriano Méis.
Enfrenta então a e-norme dificuldade de construir um novo eu
produto exclusivo de sua imaginação. Deve criar a sua história,
explicar a si mesmo. Para nao perder a. liberdade, Adriano Méis
decide viajar, e nunca demorar muito tempo em um lugar, a fim de
nao se tornar CONHECIDO. Depois de algum tempo, sua vida se torna
intolerável, e, du-rante um inverno solitário, chega a imaginar
a doçura de voltar para casa, mesmo enfrentando as pessoas que
odiava. Nao o faz lo-go, no entanto. Inicialmente, procura uma
forma de estabilizar/ sua nova personalidade, o tor uma vida
como a dos outros, com os outros. Ao faze-lo, o herói volta a
ingressar em toda a trama / das relações humanas. Quando sua
situação se torna insuportável Adriano resolve simular um
suicídio, e reaparecer como Matias / Pascal. Haveria, diferentes
interpretações para o drama de Adria-no Méis, e a de Pirandello
nao parece a mais convincente. De fato, no romance, o drama
fundamental do herói é a possibilidade/