Download PDF
ads:
CATEDRAL METROPOLITANA DE FLORIANÓPOLIS:
RETROSPECTIVA HISTÓRICA DAS INTERVENÇÕES
ARQUITETÔNICAS
Márcia Regina Escorteganha Laner (1); Ângela do Valle (2);
Sérgio Castello Branco Nappi ( 3)
(1) Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo – PósARQ, Universidade Federal de
Santa Catarina - UFSC, Brasil - e-mail: [email protected]
(2) Departamento de Engenharia Civil - Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Brasil -
(3) Departamento de Arquitetura e Urbanismo - Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC,
Brasil - e-mail: [email protected]
RESUMO
A Catedral Metropolitana de Florianópolis constitui-se patrimônio arquitetônico cultural com
referências significativas do século XVIII. É o marco zero da fundação da Póvoa de Nossa Senhora do
Desterro. Durante seus 230 anos de existência sofreu muitas alterações arquitetônicas e hoje apresenta
um aspecto diferenciado daquele concebido pelo engenheiro militar e o primeiro governador da
província de Santa Catharina, José da Silva Paes. Com o objetivo de identificar e analisar tais
modificações foi feito o levantamento das intervenções arquitetônicas por meio de pesquisa
bibliográfica, gráfica e oral; além de trazer a público as informações coletadas nos Livros Tombo da
Cúria Metropolitana de Florianópolis, comprovando datas e intervenções desconhecidas até então.
Com base nos dados coletados foi possível analisar os fatos e visualizar cronologicamente as
alterações no sistema construtivo tradicional da edificação que aconteceram ao longo desses três
séculos de existência. A reconstituição inicia com a história da Capelinha de pau-a-pique, edificada
pelo bandeirante Francisco Dias Velho em 1651 e passa pela Capela de “pedra e barro”, com data
provável de 1721. Após, a nova Matriz é projetada pelo Brigadeiro José da Silva Paes em 1748. Na
virada do século XX transforma-se em Catedral, em 1922, o projeto concebido no séc. XVIII é
alterado e a estrutura parietal da nave é literalmente “rasgada” para a construção do transcepto, além
da elevação das torres sineiras e dos aditamentos decorativos. A partir da reconstituição cronológica
das intervenções, são possíveis as visualizações das alterações da edificação com uma sobreposição de
imagens do monumento sacro em três diferentes épocas. O resultado desta pesquisa é o levantamento
estratigráfico de suas etapas construtivas e das relações com seu entorno e com a comunidade na qual
está inserida. A contribuição desta pesquisa está na produção de conhecimento e informações sobre
este monumento arquitetônico de grande significado patrimonial, material e imaterial.
Palavras-chave: patrimônio histórico; retrospectiva histórica; arquitetura religiosa.
ABSTRACT
The Metropolitan Cathedral of Florianopolis is considered a cultural architectural heritage with
significant references from century XVIII. This monument is known as the zero mark of the
foundation of the village of Nossa Senhora do Desterro. The Cathedral suffered many architectural
alterations over the 230 years of existence. Today it presents a different aspect of that was imagined by
the military Engineer and the first Governor of Santa Catharina's province, Eng. José of Silva Paes.
With the aim to identify and analyze the architectural modifications related with the period when they
were made it was search the interventions through bibliographical, graph and oral research; besides
this it was possible to divulgate the information collected from the Tumble Book of the Metropolitan
Curia of Florianopolis, proving dates and facts ignored until then. With this collected information it
was possible to analyze the facts and to organize the building alterations in chronological order. The
research starts with the history of the wattle and daub Chapel, built by the pioneer Francisco Dias
Velho in 1651. Refers the "stone and mud" Chapel with probable date of 1721. The Jose da Silva Paes
Brigadier General projected the New Main Church in 1748. In the beginning of the century XX the
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
Church became Cathedral. In 1922 the century XVIII project was modified and the parietal structure
of the Church received a "rip" for building the transept, besides the bell towers elevation and the
ornamental additions. Starting from the chronological organizing of the interventions, it is possible to
visualize the alterations in the construction superposing the image of the sacred monument in three
different ages. The result of this research is the stratigraphical planning of constructive stages and of
the relationships with its neighborhood. The contribution of this research is related with the production
of knowledge and information on this great architectural monument of material and incorporeal
patrimonial meaning especially for Santa Catarina.
Keywords: historical heritage; historical retrospective; religious architecture.
1 INTRODUÇÃO
A preservação do patrimônio edificado exige a realização de uma análise e da compreensão das
modificações ocorridas durante a existência da edificação, com os diferentes acréscimos, construindo
assim sua história e sua identidade. As diferentes linguagens manifestas na edificação também se
constituem em um elo e uma continuidade entre os significados agregados ao longo do tempo. O
monumento transforma-se em testemunho histórico para a comunidade na qual está inserido.
A retrospectiva histórica é uma forma de contribuir para a preservação do patrimônio edificado por
meio da investigação das alterações arquitetônicas e dos fatos e ao colocá-los em uma ordem
cronológica é possível visualizar o desenrolar dos acontecimentos para assim analisar como ocorreram
as ações dentro do contexto político-social. Como resultado obtém-se a revelação do patrimônio
estudado como símbolo de identidade e do registro histórico de uma comunidade, enaltecendo-a como
um símbolo de orgulho e representatividade.
“Entendemos que a memória arquitetônica é a mais completa de todas, na medida em
que nos permite, de maneira mais ampla e profunda, um mergulho no passado e no
como viviam os nossos ancestrais. Ela não termina, porém, na contemplação do
artefato arquitetônico em si, mas revela pela investigação documental, construtiva e
arqueológica do edifício, e que nos ensejará conhecer melhor a verdade da sua
história, fazendo o seu testemunho muito mais significativo”. (OLIVEIRA, 2001, p.
02).
A investigação e a organização das alterações ocorridas com a Catedral permitiram a compreensão e o
aprofundamento das análises dos fatos em relação às intervenções arquitetônicas que aconteceram
nesses quase três séculos de existência da edificação. É uma edificação repleta de referências e ao
mesmo tempo de alterações no seu traçado original. Devido a esta multiplicidade de alterações, só foi
reconhecida e tombada oficialmente como patrimônio municipal e estadual após 1986.
2 OBJETIVO E METODOLOGIA
2.1 Objetivo
O objetivo deste artigo é apresentar as diferentes alterações arquitetônicas pelas quais a Catedral
Metropolitana de Florianópolis passou desde o primeiro projeto, organizando as informações sob
ordem cronológica e forma gráfica.
2.2 Metodologia
Não havia uma linha cronológica que elucidasse as alterações na Catedral desde a fundação da “Povoa
de Nossa Senhora do Desterro” no século XVII até os dias atuais. Portanto, foi necessária uma
investigação nos arquivos da Cúria Metropolitana de Florianópolis e da Catedral, nos registros
jornalísticos e documentais dos órgãos de preservação e ainda coletar depoimentos. As pesquisas
trouxeram ao público o esclarecimento de datas e temas inéditos. Este trabalho trouxe novos indícios
sobre as intervenções e algumas confirmações, por meio das entrevistas e dos registros inéditos dos
Livros Tombo, que é a parcela mais importante e fundamental da pesquisa.
ads:
3 RESUMO HISTÓRICO DAS INTERVENÇÕES
A pesquisa da reconstituição histórica da Catedral começa com a Capelinha de pau-a-pique edificada
pelo bandeirante Francisco Dias Velho em 1651, ao edificar a primeira Igreja dedicada a Nossa
Senhora do Desterro (LIVRO tombo I, 1727-1871, p. 8). Passou à Capela de “pedra e barro e de mui
pequena capacidade e cimitria” (CABRAL, 1979, p. 48) na data provável de 1721. Em 1748, o
engenheiro militar Brigadeiro José da Silva Paes solicita permissão ao Rei de Portugal para construir
uma igreja Matriz, projetando a nova Matriz do Desterro que deveria substituir a “velha igreja”
levantada pelo fundador, justificando que a igreja existente tinha “pouca capacidade para acomodar os
fiéis e pouca simetria (CABRAL, 1979, p. 25). A construção foi iniciada em 1753 utilizando parte da
estrutura da antiga edificação, como consta no desenho da Capela que indica fundações mais
estruturadas, provavelmente de pedra e cal, pois era a técnica construtiva da época. No desenho da
planta que faz a passagem da Capela para a Matriz, há o rebatimento dos espaços de usos. Supõe-se
então que tenham sido usadas, ao menos em parte, as fundações da Capela para edificar a Matriz.
A construção da Matriz foi concluída em 1773, constituindo-se em um marco para a Vila de Nossa
Senhora do Desterro. Foi um exemplar de construção luso-brasileira que deu notoriedade à Capitania
de Santa Catharina no século XVIII, situando-se na pequena colina central do vilarejo próxima à praça
central, fazendo conjunto com a Casa de Governo e demais edificações que representavam o poder
social e político, e para a qual convergiam todas as ruas do centro histórico (Figura 1).
Figura 1 - Igreja Matriz de Nossa Senhora do Desterro
A) Fotografia do início do séc. XX .Fonte: Casa da Memória- Acervo documental
B)
Planta do Patrimônio da Câmara do Desterro, levantada em 1823”.
Autor desenho: Tenente
Coelho Peniche. Planta da área central da Cidade de Desterro-séc. XIX.
Posição da Catedral em relação ao traçado e o relevo. Fonte: Peluso,1991, p. 359
A configuração da Igreja Matriz permanece a mesma até meados do século XX, com suas linhas
arquitetônicas e seu conjunto edificado, o frontão principal, a portada em cantaria, as torres sineiras, as
capelas laterais e o anexo do Império do Divino (VEIGA, 2004, p.95). Durante este período ocorreram
apenas obras de manutenção ou alterações pontuais no entorno como o ajardinamento, a retirada do
cemitério e a alteração do adro e das escadarias.
Na virada do século XX, em 1922, ocorre a grande alteração estrutural do projeto concebido no século
XVIII, com intervenções internas e externas. As estruturas parietais da nave são literalmente
“rasgadas”, ficando um vão aberto onde foi feita a ampliação do corpo da nave central, configurando
assim o “transepto”. Também ocorrem mudanças com a elevação e ampliação das torres sineiras e os
acréscimos decorativos (aditamentos), mesclando a arquitetura de aspecto colonial português com
elementos arquitetônicos neoclássicos (VEIGA, 1993, p.146). Assim, configura-se a passagem de
Matriz à Catedral, permanecendo assim até hoje (Figura 2).
A) B)
Figura 2 - Análise comparativa das alterações na fachada
A) Matriz de Nossa Senhora do Desterro- início do séc. XX
B) Catedral Metropolitana de Florianópolis, década de 1940
Fonte: Casa da Memória- Acervo Documental
3.1 O século XX e a modernização da cidade
É possível supor-se que o motivo da mudança arquitetônica e estrutural que a Matriz sofreu ao ser
transformada em Catedral seja decorrente da necessidade de uma nova configuração estética que, além
de suprir a necessidade de mais espaço físico para as celebrações, contribuiria para conferir um novo
aspecto à Vila de Desterro mais condizente ao desejo de modernidade e de progresso da população.
As mudanças implantadas na cidade, presentes no estilo das edificações da época, são conseqüências
das influências vindas da Europa e dos Estados Unidos com a Revolução Industrial (século XIX).
Exemplo disso é a construção da ponte Hercílio Luz fazendo a ligação ilha-continente e facilitando o
acesso e o transporte de materiais, o que também trouxe um maior contingente de moradores para a
Ilha, na sua maioria, estrangeiros.
As modificações ocorridas na virada do século XX acabam influenciando as atitudes político-sociais
que, associadas aos novos conceitos trazidos pelos imigrantes que se fixaram na região, propiciaram
uma visibilidade política à Florianópolis, que saiu do anonimato de uma “ilha esquecida e
abandonada” no sul do Brasil. Um dos políticos que mais contribuiu para a nova imagem da Ilha de
Santa Catarina foi o Governador Hercílio Luz que trouxe novas concepções estéticas para a
arquitetura, para as artes e para o traçado urbano, alterando e renovando os traçados de algumas ruas e
aplicando medidas estruturais que visavam ao crescimento da cidade.
Todas essas novidades que atingiram a cidade também transpareceram nas obras inauguradas em
1924, transformando a Matriz em Catedral. Essas intervenções não pararam por aí, também
compreendiam os aditamentos (acréscimos) de elementos arquitetônicos e decorativos que se
estenderam por vários anos e que modificaram radicalmente o aspecto estético e físico da edificação,
tais como: a alteração do adro e das escadarias, em 1934, a pintura mural interna com medalhões
sacros, arabescos e pinturas decorativas em todo interior da edificação, em 1938 e os vitrais artísticos
da Casa Conrado de São Paulo, em 1948.
Com as pinturas murais de 1938 ocorreu um impacto visual de requinte e ostentação (Figura 3). Mas,
em 1974, elas são recobertas por repintura monocromática, com tinta a óleo em tom azul claro fosco,
ocultando assim, por 31 anos, a existência dessas pinturas decorativas. Na reforma de 1974 ocorrem
obras devido ao péssimo estado de conservação da edificação (Figura 4), que vão além da repintura
geral, com a troca do piso de ladrilho hidráulico, as obras no forro de estuque e o madeiramento da
cobertura, a substituição do telhado, os acréscimos de anexos como: a Casa Paroquial, as salas nas
laterais da capela-mor sobre as sacristias e outras obras de manutenção, mudando mais o aspecto
estético interno do que as estruturas edificadas.
A)
B
)
Elevação das torres
Construção do pontilhão
Relógio
Retirada da cruz
Óculo
Falsos nichos
A
lpendre externo
Cruz
Relógio
Figura 3- Pinturas murais internas (1938), com localização em planta
Fonte: Acervo do Pe. Pedro José Koehler-1974
Figura 4 - Aspecto externo e interno da Catedral durante a reforma de 1974.
Fonte: Acervo Prosul, 2005 e Acervo do Pe. Pedro José Koehler-1974
Após as obras de 1974, a configuração da Catedral permanece a mesma ficando evidente apenas
pequenas obras pontuais de manutenção e repintura externa como paliativos perante os processos de
degradação temporal.
3.2 A cobertura como agente principal no processo de degradação da edificação
No período entre 1975 até 2005 acontecem mais obras pontuais, que não provocam alterações radicais
na estrutura edificada. No entanto, o principal fato causador dos problemas patológicos está ligado ao
dimensionamento incorreto das calhas e dutos que ocasionam o escoamento indevido das águas
pluviais. Como o subdimensionamento das calhas é agravado pela inexistência de rufos ao longo das
linhas de escoamento das águas, amplia-se a umidade transmitida para as paredes, provocando
vazamentos para o interior do edifício. A cobertura sempre apresentou problemas, desde a sua
concepção. Nas ocasiões em que as falhas manifestavam-se eram feitos consertos dos danos causados
sem a devida investigação das causas que provocavam as infiltrações.
Com as obras realizadas ao longo do tempo, a cobertura sofreu intervenções que por vezes ampliavam
a degradação. Algumas delas foram referidas de forma direta no relatório de 2000, tais como: a
colocação de um tabuado entre o telhado e a cobertura; o depósito de restos dos entulhos nas bordas
internas do forro de estuque, forçando a estrutura, principalmente nos rincões; a falta de manutenção e
outras complicações. Isso fez com que o forro de estuque da nave central fosse irreversivelmente
afetado. Estes motivos contribuíram para agravar o estado de conservação do forro, chegando a
romper parte da estrutura nos cantos da entrada da nave, próximo aos pilares laterais. Os primeiros
indícios de agravamento dos problemas são o aparecimento das fissuras em 2003, progredindo até o
desprendimento de pequenos fragmentos do estuque, colocando em risco a estrutura da edificação e
também a segurança dos fiéis que freqüentavam a igreja. No final de 2004 a Catedral é interditada à
visitação pública e começa um processo prolongado com obras em todo o complexo edificado. Estas
intervenções ainda estão em andamento, fazendo parte de um projeto global de recuperação da
Catedral (Figura 5).
Figura 5 - Trabalhos de limpeza do forro de estuque com a remoção das peças de madeira da estrutura da
cobertura (peças danificadas). Fonte: Acervo da autora-2006
4 ANÁLISES
Durante todas as etapas construtivas desta edificação, cujas fundações e estruturas parietais possuem
materiais construtivos tradicionais do século XVII, constatou-se que este monumento arquitetônico foi
sempre objeto de construção e reconstrução, de aditamentos, de modificações e de adaptação de usos.
Estas intervenções deixaram registros fiéis da marca do tempo, guardando em suas paredes um pouco
da história e da cultura local, admirada e respeitada em sua grandiosidade e representatividade do
acervo material e imaterial sedimentado ao longo do tempo, absorvendo e interiorizando as
modificações no seu aspecto arquitetônico e estético.
A Catedral é um templo no qual seu espaço físico já transcendeu a função religiosa. É um patrimônio
material e imaterial e pode ser vista também como um espaço museológico, pois é visitada por todos
os tipos de pessoas, independente de credos, que ali reverenciam a sua grandiosidade como marco da
Cidade. Muitos adentram suas portas para admirar seu conjunto arquitetônico, seus bens integrados e
móveis, mesmo sem possuírem vinculação religiosa, constituindo-se assim um ponto turístico em
Florianópolis.
As etapas de intervenções analisadas aconteceram dentro de um contexto social que se modificavam à
medida que eram introduzidos novos costumes e hábitos culturais. Desta maneira, uma mesma
edificação pode, ao longo de sua existência, adquirir diferentes acréscimos passando a agregar ao seu
valor arquitetônico as modificações ocorridas. Assim, foi levantando a historicidade e as
características do ambiente em que a edificação está inserida, somada aos períodos históricos pelos
quais passou que se construiu a retrospectiva arquitetônica.
Como resultado desta pesquisa, baseado nos dados coletados, foi elaborada uma leitura das estruturas
parietais e dos pisos através da localização em planta baixa dos elementos construtivos nas diversas
intervenções arquitetônicas (Figura 6), bem como uma cronologia das etapas construtivas da Catedral
(Figura 7).
É impossível dizer a que estilo arquitetônico pertence ou quais elementos acrescidos devem ser
removidos, pois são as marcas do tempo e a construção de sua história que estão neles impregnados.
Como salienta a Carta de Brasília, de 1995, onde a “autenticidade passa pelo da identidade, que é
mutável, dinâmica e pode adaptar-se e valorizar, desvalorizar e revalorizar os aspectos formais e os
conteúdos simbólicos de nossos patrimônios” (INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E
ARTÍSTICO NACIONAL, 2006).
LEITURA CRONOLÓGICA DOS PISOS E
ESTRUTURAS PARIETAIS DA CATEDRAL
Figura 6 - Leitura cronológica dos pisos e das estruturas parietais
Autora: Márcia Regina Escorteganha Laner- março/2007
Editor da imagem: Luiz Antônio Pollo
1922- substitui
ão do reboco
até 1954- assoalho
1954-Ladrilhos hidráulicos
década de 1990
-
lajota cerâmica
1995-de
g
raus de mármore
A
ssoalho em marchetaria-1927
A
l
p
endres- constru
ç
ão a
p
ós 1922
1922-paredes novas-reforma e
ampliação
1773- assoalho
1922- ladrilho hidráulico
1974
-
piso de marmorite
Tijoleiras até 1927
A
ssoalho a
p
ós 1927
A
ssoalho de madeira-1851
1927-degraus de mármore
Batistério e coro-1773
1773
CRONOLOGIA DAS ETAPAS CONSTRUTIVAS DA CATEDRAL
Figura 7 – Cronologia das etapas construtivas da Catedral
Autora: Márcia Regina Escorteganha Laner- setembro/2007
Editor da imagem: Luiz Antônio Pollo e Roberta Nocetti
As profundas alterações que ocorreram na edificação, fruto dos séculos em que se mantém como o
principal edifício religioso da cidade, não podem ser ignoradas. Da sua composição original ficaram
fragmentos somados a outros que foram agregados. Hoje é um mosaico de interferências, mas que
possui uma identidade significativa de Florianópolis, pelo seu patrimônio arquitetônico, material e
principalmente imaterial. É considerada o coração da cidade desde a fundação da “Villa” pelos
bandeirantes até os dias atuais. A vida gira em torno dela. A população possui uma ligação com esta
edificação um tanto maternal, pois nos momentos de necessidade a ela recorre, buscando algo que
aconchega e protege; aos seus pés, tudo acontece, das comemorações aos protestos.
Na Catedral houve e haverá muitas obras de intervenção, pois os materiais têm sua degradação natural,
necessitando, portanto, da conservação preventiva através de manutenção periódica, medida que
prolonga a vida do monumento diminuindo a degradação dos materiais. Às vezes, o fator que mais
afeta as edificações não é a degradação natural, e sim a interferência humana, reconstruindo áreas sem
sondar suas estruturas de base, fazendo aditamentos, descaracterizando elementos arquitetônicos e
decorativos por julgamento de gosto estético pessoal, utilizando produtos químicos que produzem um
efeito visual e depois envelhecem resultando em degradações irreversíveis, substituindo materiais
construtivos tradicionais por outros materiais novos incompatíveis, optando por projetos de baixo
custo devido à falta de recursos, mas de qualidade duvidosa.
A deterioração é um processo natural na estrutura física e nos objetos, pois, com o passar do tempo, os
materiais construtivos vão sofrendo com a ação da umidade, o acúmulo de sujidades e com o ataque de
insetos e acabam deteriorando a estrutura física dos materiais, necessitando assim de manutenção e
intervenções periódicas. As Cartas patrimoniais recomendam ações de manutenção periódicas como
conservação preventiva das estruturas físicas, preservando assim os bens patrimoniais; é o caso da
Carta de Veneza, Cracóvia, de Burra, bem como as recomendações dos teóricos do restauro (CURY,
2000). À medida que se agravam as deteriorações, necessidade de intervenções e reformas, sejam
elas, superficiais ou mais incisivas, requerendo custo maior na conservação do monumento, além do
risco de perdas sistemáticas, que deixam lacunas na historia do patrimônio.
A falta de detalhamento e o desconhecimento prático percebido em alguns projetos desta edificação
são algumas das falhas freqüentes nos processos de preservação patrimonial. Isso poderia ser reduzido,
se a elaboração do projeto de restauro não fosse feita pela empresa executora; se o projeto de restauro
fosse executado exatamente como está prescrito, em seus materiais e procedimentos de “restauração”,
conforme é exigido pelos órgãos de preservação e recomendados pelas Cartas Patrimoniais. Pois são
utilizados materiais, que nem sempre são os mais apropriados, prevalecendo muitas vezes, por serem
mais facilmente encontrados no mercado e de menor custo. Esta prática só pode ser barrada se, o
detalhamento do projeto for minucioso e coerente, com a indicação detalhada de cada material e
procedimentos a serem utilizados, devendo passar necessariamente pela avaliação de técnicos com
formação e experiência comprovadas, normalmente ligadas às instituições públicas fiscalizadoras.
5 CONCLUSÕES
A contribuição desta reconstituição cronológica das etapas históricas e suas intervenções
arquitetônicas na Catedral Metropolitana de Florianópolis, desde a sua concepção até hoje, é uma
forma de contribuir para a preservação deste monumento de grande significado patrimonial, material e
imaterial para todos os catarinenses e também ressaltar a importância da pesquisa histórica dos
materiais e das técnicas tradicionais utilizados nos sistemas construtivos, segundo Oliveira (2001) ao
resgatar a memória do “fazer”, permite conhecer os materiais constitutivos do patrimônio herdado,
podendo assim “intervir” no edificado e seu entorno. A importância da pesquisa no conhecimento das
formas e a funcionalidade das edificações, com suas técnicas e materiais, configuram um contexto que
só adquire sentido e valor quando percebido como patrimônio vivo e atuante. O resultado desta
pesquisa é compreendido como um resultado estratigráfico dos seus elementos construtivos e das
relações com seu entorno e com a comunidade em que está inserido, evidenciando e valorizando a
cultura de um povo que se espelha e se orgulha de sua história.
Uma das formas de preservar um patrimônio é conhecer sua história, para assim compreender os fatos
e as mudanças ocorridas e, conseqüentemente, formar uma base para as medidas de proteção do bem.
Este foi o objetivo desta pesquisa, investigar as modificações arquitetônicas na Catedral, identificando
as várias etapas de intervenção dos elementos arquitetônicos, localizando-as no espaço e no tempo,
contribuindo assim, para a história da edificação.
O resultado obtido nesta reconstituição histórica proporciona a visualização cronológica das
intervenções arquitetônicas, fornecendo subsídios para a preservação do edificado, e contribuindo para
a perpetuação da linguagem e da significância deste patrimônio. Reconhecendo-o como testemunho de
valores sócio-culturais e como parte significativa do processo de identidade e da história de
Florianópolis.
6 REFERÊNCIAS
CABRAL, Oswaldo Rodrigues. Nossa senhora do desterro. Florianópolis: Lunardelli, 1979. 2 v.
CURY, Isabelle (Org.). Cartas patrimoniais. 2. ed. Rio de Janeiro: IPHAN, 2000.
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Cartas patrimoniais.
Disponível em: <http://portal.INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO
NACIONAL.gov.br/portal/paginainstitucional>. Acesso em: 18 jul. 2006, 19:42.
LIVRO tombo I. Florianópolis, 1727-1871. Francisco Justo Santiago (et. al.). Manuscrito.
OLIVEIRA, Mário Mendonça de. Restauro estrutural: intuição e cálculo. Historical Constructions:
proceedings of 3rd - International Seminar of Historical Constructions. Guimarães - Portugal, 2001.
PELUSO Júnior, Victor Antônio. Estudo da geografia urbana de Santa Catarina. Florianópolis:
Editora UFSC, Secretaria de Estado da Cultura e Esporte, 1991.
VEIGA, Eliane Veras. Florianópolis: memória urbana. Florianópolis: Editora UFSC, FFC Edições,
1993.
______; BASTOS, Maria das Dores de Almeida (Coord.). Atlas do Município de Florianópolis:
ocupação humana e paisagem. Florianópolis: IPUF, 2004.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo