As profundas alterações que ocorreram na edificação, fruto dos séculos em que se mantém como o
principal edifício religioso da cidade, não podem ser ignoradas. Da sua composição original ficaram
fragmentos somados a outros que foram agregados. Hoje é um mosaico de interferências, mas que
possui uma identidade significativa de Florianópolis, pelo seu patrimônio arquitetônico, material e
principalmente imaterial. É considerada o coração da cidade desde a fundação da “Villa” pelos
bandeirantes até os dias atuais. A vida gira em torno dela. A população possui uma ligação com esta
edificação um tanto maternal, pois nos momentos de necessidade a ela recorre, buscando algo que
aconchega e protege; aos seus pés, tudo acontece, das comemorações aos protestos.
Na Catedral houve e haverá muitas obras de intervenção, pois os materiais têm sua degradação natural,
necessitando, portanto, da conservação preventiva através de manutenção periódica, medida que
prolonga a vida do monumento diminuindo a degradação dos materiais. Às vezes, o fator que mais
afeta as edificações não é a degradação natural, e sim a interferência humana, reconstruindo áreas sem
sondar suas estruturas de base, fazendo aditamentos, descaracterizando elementos arquitetônicos e
decorativos por julgamento de gosto estético pessoal, utilizando produtos químicos que produzem um
efeito visual e depois envelhecem resultando em degradações irreversíveis, substituindo materiais
construtivos tradicionais por outros materiais novos incompatíveis, optando por projetos de baixo
custo devido à falta de recursos, mas de qualidade duvidosa.
A deterioração é um processo natural na estrutura física e nos objetos, pois, com o passar do tempo, os
materiais construtivos vão sofrendo com a ação da umidade, o acúmulo de sujidades e com o ataque de
insetos e acabam deteriorando a estrutura física dos materiais, necessitando assim de manutenção e
intervenções periódicas. As Cartas patrimoniais recomendam ações de manutenção periódicas como
conservação preventiva das estruturas físicas, preservando assim os bens patrimoniais; é o caso da
Carta de Veneza, Cracóvia, de Burra, bem como as recomendações dos teóricos do restauro (CURY,
2000). À medida que se agravam as deteriorações, há necessidade de intervenções e reformas, sejam
elas, superficiais ou mais incisivas, requerendo custo maior na conservação do monumento, além do
risco de perdas sistemáticas, que deixam lacunas na historia do patrimônio.
A falta de detalhamento e o desconhecimento prático percebido em alguns projetos desta edificação
são algumas das falhas freqüentes nos processos de preservação patrimonial. Isso poderia ser reduzido,
se a elaboração do projeto de restauro não fosse feita pela empresa executora; se o projeto de restauro
fosse executado exatamente como está prescrito, em seus materiais e procedimentos de “restauração”,
conforme é exigido pelos órgãos de preservação e recomendados pelas Cartas Patrimoniais. Pois são
utilizados materiais, que nem sempre são os mais apropriados, prevalecendo muitas vezes, por serem
mais facilmente encontrados no mercado e de menor custo. Esta prática só pode ser barrada se, o
detalhamento do projeto for minucioso e coerente, com a indicação detalhada de cada material e
procedimentos a serem utilizados, devendo passar necessariamente pela avaliação de técnicos com
formação e experiência comprovadas, normalmente ligadas às instituições públicas fiscalizadoras.
5 CONCLUSÕES
A contribuição desta reconstituição cronológica das etapas históricas e suas intervenções
arquitetônicas na Catedral Metropolitana de Florianópolis, desde a sua concepção até hoje, é uma
forma de contribuir para a preservação deste monumento de grande significado patrimonial, material e
imaterial para todos os catarinenses e também ressaltar a importância da pesquisa histórica dos
materiais e das técnicas tradicionais utilizados nos sistemas construtivos, segundo Oliveira (2001) ao
resgatar a memória do “fazer”, permite conhecer os materiais constitutivos do patrimônio herdado,
podendo assim “intervir” no edificado e seu entorno. A importância da pesquisa no conhecimento das
formas e a funcionalidade das edificações, com suas técnicas e materiais, configuram um contexto que
só adquire sentido e valor quando percebido como patrimônio vivo e atuante. O resultado desta
pesquisa é compreendido como um resultado estratigráfico dos seus elementos construtivos e das
relações com seu entorno e com a comunidade em que está inserido, evidenciando e valorizando a
cultura de um povo que se espelha e se orgulha de sua história.
Uma das formas de preservar um patrimônio é conhecer sua história, para assim compreender os fatos
e as mudanças ocorridas e, conseqüentemente, formar uma base para as medidas de proteção do bem.